Loja Maçônica em Campo de Concentração Nazista

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Lojas Maçônicas em

Campos de Concentração Nazistas


Ir. Alfredo Theodoro Mauad - [email protected]

Ir. José Roberto Pascolatti - [email protected]

Teorias conspiratórias envolvendo maçons eram muito anteriores


ao nazismo. Frequentemente essas mesmas teorias também eram
antissemitas. Para os nazistas, a maçonaria era uma poderosa
sociedade secreta que se recusava a ser controlada e que se
associava ao pacifismo e ao cosmopolitismo. Com isso, em 1935,
um decreto ordenou a dissolução das lojas maçônicas na
Alemanha. Embora não tenham sofrido perseguição sistemática
pelos nazistas, como no caso de judeus e ciganos, a maçonaria
também se tornou alvo das políticas nazistas.

Nos países ocupados pela


Alemanha nazista, lojas
maçônicas eram dissolvidas e
listas de membros confiscadas.
Os artefatos confiscados das
lojas maçônicas também eram
utilizados em exposições e
propagandas anti-maçônicas.
À medida que a Alemanha
vinha sofrendo derrotas no
campo de batalha, a
propaganda nazista acusava
judeus e maçons de estarem
por trás da guerra e
controlarem os países aliados.
Maçons que mantivessem suas atividades secretamente poderiam
ser presos ou mesmo enviados para campos de concentração. No
entanto, como boa parte dos maçons presos eram também
integrantes da oposição anti-nazista ou judeus, não há um número
preciso de quantos maçons foram enviados a campos de
concentração somente por serem maçons.

Um desses maçons era o empresário


e político belga Henri Story. Durante
a guerra, Henri ajudou prisioneiros e
recusou-se a repassar listas de seus
empregados aos nazistas. Preso, foi
um dos sete fundadores de uma loja
maçônica dentro de um campo de
concentração, até ser deportado e
morto no campo de concentração
de Gross-Rosen em 1944.

Fundada em 15 de Novembro de 1943


por guerrilheiros da Resistência Belga e
outros prisioneiros políticos no campo
de concentração de Esterwegen, a Loja
Maçônica “Liberté Chérie” (Em francês:
Liberdade Querida, nome derivado da
La Marseillaise - Hino da França) foi uma
das poucas Lojas Maçônicas fundadas
em campos de concentração nazistas
durante a Segunda Guerra Mundial.
Os sete fundadores, foram:

Paul Hanson (“Hiram”, oriente de Liège);

Luc Somerhausen (“Action et Solidarité”, oriente de Bruxelas);

Guy Hannecart (“Les Amis philanthropes”, oriente de Bruxelas);

Jean Sugg (“Les Amis philanthropes”, oriente de Bruxelles);

Joseph Degueldre (“Le Travail”, à Verviers);

Amédée Miclotte (“Les Vrais Amis de l’union et du progrès réunis”, oriente


de Bruxelas);

Franz Rochat (“Les Amis Philanthropes”, oriente de Bruxelas);

Houve também mais dois “membros” que chegaram a Esterwegen em


Fevereiro e Março de 1944: Jean-Baptiste de Schrijver (“La Liberté”,
oriente de Gand); e Henri Story (“Le Septentrion”, oriente de Gand).

Posteriormente, pouco antes da partida de Luc Somerhausen, em 22 de


Fevereiro de 1944, iniciaram e depois elevaram o Irmão Fernand Erauw ao
terceiro grau; morreu em Ottenburg, em 08.04.97. O Irmão Franz Bridoux,
um iniciado no pós-guerra, também foi prisioneiro nos mesmos quartéis de
16 de Novembro de 1943 a 15 de Abril de 1944.

Paul Hanson foi eleito como Venerável Mestre.

Funcionamento:

Aos domingos de manhã, quando os católicos se reuniram nos fundos do


dormitório para a missa com os dois padres deportados, os irmãos reuniam
a Loja no outro quarto da caserna “número 6”, em volta de uma mesa que
normalmente era usada para a classificação dos cartuchos. Os deportados,
não-maçons e não católicos, asseguravam a vigilância à entrada da barraca.
A caserna “número 6” era ocupada por prisioneiros estrangeiros (cerca de
85% de belgas, 10% de franceses)
Luc Somerhausen descreveu a iniciação de Erauw e outras cerimónias como
sendo muito simples. Estas cerimónias tiveram lugar numa das mesas
recorrendo a um ritual extremamente simplificado, no qual todos os
componentes foram explicados ao candidato para que, posteriormente, ele
pudesse participar do trabalho da Loja. Eles foram protegidos dos olhos de
outros prisioneiros e supervisores pelos poucos não-católicos e não-
maçons que foram deportados para a mesma caserna.

Os Maçons Prisioneiros eram obrigados


a usar em sua lapela, um triângulo
vermelho com a ponta invertida , afim
de marca-los. Mas usavam também a
Miosótis, esta pequena flor, que tem
em sua história as palavras “Não me
esqueças”, foi usada na lapela
disfarçadamente para os Irmãos se
reconhecerem.

Haviam mais de 100 presos na caserna “número 6”, onde ficavam


trancados quase 24 horas por dia, sendo autorizados a sair por meia hora
por dia, sob vigilância. Foram condenados a trabalhar em condições
terríveis , a comida era tão pobre que os prisioneiros perdiam em média 4
kg por mês.
Após a primeira instalação na Loja, outras reuniões temáticas foram
organizadas. Uma delas foi dedicada ao símbolo do Grande Arquiteto do
Universo, outro ao futuro da Bélgica e outro ao lugar das mulheres na
Maçonaria.

Esta Loja deixou de funcionar na Primavera de 1944, quando todos os


prisioneiros foram transferidos para outros campos na região central da
Alemanha.

Os membros da Loja:

O Venerável Mestre da loja, o juiz


Paul Hanson, nascido em Liége em
25 de Julho de 1889, era membro
da loja “Hiram” em Liège.
Participando num serviço de
“informação e ação”, foi preso em
23 de Abril de 1942. Foi
posteriormente transferido para
Essen e morreu nas ruínas da sua
prisão, destruída por um ataque
aliado em 26 de Março de 1944.

O Dr. Franz Rochat, professor


universitário, farmacêutico e
director de um grande laboratório
farmacêutico, nasceu em 10 de
Março de 1908 em Saint-Gilles.
Trabalhou clandestinamente para
o jornal da Resistência, La Voix des
Belges, até à sua prisão em 28 de
Fevereiro de 1942. Transferido
para Untermansfeld em Abril de
1944, Morreu lá em 6 de Janeiro
de 1945.
Jean Sugg nasceu em 8 de Setembro de 1897 em Gand. De ascendência
germano-suíça, ele trabalhou com Franz Rochat na imprensa de resistência,
traduzindo textos alemães e suíços, e participou em vários jornais
clandestinos, incluindo La Libre Belgique, La Légion noire, Le Petit Belge e
L’Anti Boche . Morreu em Buchenwald em 6 de Maio de 1945.

Guy Hannecart, advogado, poeta, romancista e dramaturgo, nascido em


Bruxelas em 20 de Novembro de 1903, pertencia à Loja Les Amis
Philanthropes nº 3, a Oriente Bruxelas. Membro do Conselho Nacional do
Movimento Nacional Belga, foi preso em 27 de Abril de 1942. Morreu em
Bergen-Belsen em 25 de Fevereiro de 1945.

Joseph Degueldre, Doutorado em medicina, nasceu em Grand-Rechain em


16 de Outubro de 1904 e era membro da Loja “Le Travail” em Verviers.
Membro do Exército Secreto, chefe de secção do S.A.R., foi preso em 29 de
Maio de 1943. Transferido para a prisão de Ichtershausen em Abril de 1945,
participou numa “marcha da morte”, escapou e foi então repatriado pela
Força Aérea Americana em 7 de Maio de 1945. Morreu em 19 de Abril de
1981 aos 78 anos de idade.

Amédée Miclotte, professor, nasceu em 20 de Dezembro de 1902 em La


Hamaide e pertenceu à Loja ” Les Vrais Amis de l’union et du progrès réunis
Chefe da Secção de Informação e Serviços de Acção, foi preso em 29 de
Dezembro de 1942. Foi visto pela última vez em detenção em 8 de
Fevereiro de 1945 em Gross-Rosen.

Jean De Schrijver, coronel do exército belga, nasceu em 23 de Agosto de


1893 em Aalst e era membro da Loja “La Liberté” em Gand. Em 2 de
Setembro de 1943, foi preso por espionagem e posse de armas. Morreu em
Gross-Rosen em 9 de Fevereiro de 1945.

Henry Story nasceu em 27 de Novembro de 1897 em Gand. Era membro da


loja “Le Septentrion” em Gand. Capitão dos Serviços de Informação e
Acção, foi preso em 20 de Outubro de 1943 e morreu em 5 de Dezembro
de 1944 em Gross-Rosen.
Luc Somerhausen, jornalista, nasceu em 26 de Agosto de 1903 em
Hoeilaart. Pertencia à Loja “Action et Solidarité” nº 3 e foi Grande
Secretário Assistente do Grande Oriente da Bélgica. Ajudante nos Serviços
de Informação e Acção, foi preso em 28 de Maio de 1943 em Bruxelas.
Repatriado em 21 de Maio de 1945, ele enviou em Agosto do mesmo ano
um relatório detalhado ao Grão-Mestre do Grande Oriente da Bélgica, no
qual conta a história da loja “ Liberté Chérie“. Morreu em 5 de Abril de 1982
com a idade de 79 anos.

Fernand Erauw, funcionário do Tribunal de Contas da Bélgica e oficial na


reserva de Infantaria, nasceu em 29 de Janeiro de 1914 em Wemmel. Foi
preso em 4 de Agosto de 1942 por pertencer ao Exército Secreto, onde
ocupou o posto de tenente. Evadiu-se e foi recapturado em 1943.

Erauw e Somerhausen encontram-se em 1944 no campo de concentração


de Oranienburg-Sachsenhausen e permaneceram inseparáveis depois
disso. Na Primavera de 1945, participaram numa “marcha da morte”.

Repatriado em 21 de Maio de 1945 e hospitalizado no Hospital Saint-Pierre,


em Bruxelas, Erauw pesava apenas 32kg, para 1,84m de altura. Último
sobrevivente da Loja “ Liberté Chérie “, morreu aos 83 anos, em 1997.

O Monumento:
Um monumento, criado pelo arquiteto Jean de Salle, foi construído por
Maçons belgas e alemães em 13 de novembro de 2004. Ele é agora parte
do sítio memorial do Cemitério de Esterwegen. Wim Rutten, o grão-mestre
da Federação Belga dos Direitos Humanos, disse em seu discurso:
“Estamos reunidos aqui hoje,
neste cemitério em Esterwegen,
não para lamentar, mas para
expressar publicamente um
pensamento livre: “Em memória
de nossos irmãos, os direitos
humanos nunca serão
esquecidos. »

A Respeitável Loja “Liberté Chérie” está registada sob o número 29ª no


Grande Oriente da Bélgica.
Or. de Bauru, 06 de Julho de 2023.
Ir. Alfredo Theodoro Mauad – AM
ARLS Cavaleiros de York Nº347 e ARLS Frat. Acadêmica Cavaleiros de York Nº432
GOP - Grande Oriente Paulista
COMAB – Confedereção Maçônica do Brasil
CMI – Confederação Maçônica Internacional

Fontes:

Somerhausen: Une loge belge dans um camp de concentration. In: Feuillets


d’information du Grand Orient de Belgique. Nº 73, 1975

Fernand Erauw: L’odyssée de Liberté Chérie, 1993 – Histoire de la loge Pierre


Verhas: Liberté chérie : Une loge maçonnique dans um camp de concentration.
Bruxelles, Labor, 2005.

Franz Bridoux, La Respectable Loge LIBERTE CHERIE au camp de concentration


d’Esterwegen, Logos, 2012 (ISBN 9782960109740)

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