Geologia Geral
Geologia Geral
Geologia Geral
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FACULDADE DE GEOLOGIA
GEOLOGIA GERAL
Módulo 1: unidades 1, 2, 3 e 4
Belém/PA
2022
SUMÁRIO
MÓDULO 1
........................................................................................................ 03
........................................................................ 09
2.1- ORIGEM DO UNIVERSO E DO SISTEMA SOLAR ............................................... 09
2.2- TERRA PRIMITIVA: Origem e diferenciação da Terra ....................................... 16
2.3- BOMBARDEAMENTO VINDO DO ESPAÇO: Meteoroides e asteroides .......... 17
2.4- FORMAÇÃO DOS CONTINENTES, OCEANOS E ATMOSFERA DA TERRA .... 20
2.5- OS SISTEMAS INTERATIVOS DA TERRA .......................................................... 21
2.6- A TERRA AO LONGO DO TEMPO GEOLÓGICO ................................................ 24
.............................................................................................. 28
3.1- INTRODUÇÃO: métodos de investigação do interior terrestre ........................ 28
3.2- TERREMOTOS ...................................................................................................... 28
3.3- ESTRUTURA INTERNA DA TERRA ..................................................................... 31
3.4- CAMPOS GRAVITACIONAL E MAGNÉTICO DA TERRA .................................... 34
3.4.1- Campo Gravitacional ......................................................................................... 34
3.4.2- Campo Magnético .............................................................................................. 36
........................................................................................ 43
4.1- INTRODUÇÃO: Teoria da deriva continental ..................................................... 43
4.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS ................................................................. 45
4.2.1- Regime divergente de placas litosféricas ........................................................ 52
4.2.2- Regime convergente de placas litosféricas ..................................................... 54
4.2.3- Regime transformante ou conservativo de placas litosféricas ..................... 58
4.3- CICLO DE WILSON E DANÇA DOS CONTINENTES ........................................... 59
4.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS ................................... 64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 64
ATIVIDADES DESTE MÓDULO PARA OS ESTUDANTES ........................................ 65
MÓDULO 2
Os materiais terrestres
5- MINERAIS
6- ROCHAS
MÓDULO 3
7- ESTRUTURAS GEOLÓGICAS
8- TEMPO GEOLÓGICO
9- RECURSOS MINERAIS, HÍDRICOS E ENERGÉTICOS
2
O presente documento é o texto de referência da disciplina “ ”
ofertada pela Faculdade de Geologia (Fageo) do Instituto de Geociências (IG) da
Universidade Federal do Pará (UFPA), tanto na modalidade presencial como à distância
(EAD). Geologia Geral é uma disciplina básica do curso de geologia, como também de
outros cursos de graduação na área de Geociências, como Geofísica, Oceanografia,
Meteorologia e Geografia. Em alguns cursos, essa disciplina denomina-se Fundamentos
de Geociências ou Geologia Introdutória, mas são variações de nomenclatura para
disciplinas semelhantes. A disciplina Geologia Geral, ofertada para os cursos de
Geologia e Geofísica do IG/UFPA, é uma disciplina de alta carga horária (90h) que
aborda de forma integrada os principais processos geológicos, como a origem dos
oceanos e continentes e da própria Terra, interior da Terra, tectônica de placas, materiais
terrestres (minerais e rochas), estruturas geológicas, o tempo geológico e os recursos
minerais, hídricos e energéticos, bem como os impactos ambientais das atividades
humanas nos ambientes geológicos. O conteúdo aqui apresentado pode ser aplicado
para qualquer curso de Geologia Introdutória, de graduação ou pós-graduação,
presencial ou à distância, podendo ser necessário alguns ajustes dependendo da
natureza e do contexto do curso.
3
Geociências e Geologia
Figura 1.1- Fotomontagem, com o planeta Figura 1.2- Geociências e seus principais
Terra, mostrando o continente americano, e a domínios: Geologia, geografia, geofísica,
Lua (NASA). geoquímica, oceanografia e meteorologia.
Assim como os outros campos das ciências, a geociências usa o método científico
com o objetivo de obter as evidências para desvendar os processos geológicos. O
método científico é um plano geral de pesquisa baseada em observações metodológicas
e experimentos para compreender e explicar os processos naturais que ocorrem na Terra
e em todo o Universo. Inicialmente, uma hipótese é formulada com base em
interpretações indutivas e dedutivas, a partir de observações e experimentos. A hipótese,
ao ser testada com novos dados, por outros cientistas, pode ser confirmada, modificada
ou descartada se, após as modificações, os resultados positivos não forem repetidos
satisfatoriamente. Uma hipótese que sobrevive a repetidas mudanças e consegue
replicar resultados positivos em diversas situações, pode ser elevada à condição de
teoria. Uma teoria também pode ser modificada, revisada, confirmada ou descartada.
Mesmo que uma teoria explique satisfatoriamente os fenômenos observados, ela
permanece em teste contínuo ao longo do tempo. Quanto mais tempo uma teoria resiste
às mudanças científicas mais confiável ela se torna, se aproximando cada vez mais da
verdade absoluta que nunca é alcançada definitivamente. Um modelo científico é a
representação de algum aspecto ou fenômeno da natureza com base em um conjunto
de hipóteses e teorias científicas (Fig. 1.3).
4
A comparação entre as previsões
de um modelo científico e as observações
feitas é uma maneira eficaz de testar se as
hipóteses e teorias utilizadas no modelo
são mutuamente consistentes com ele. Os
resultados científicos são frutos de um
trabalho conjunto de equipe de cientistas
que interagem entre si, continuando e
aperfeiçoando o trabalho cumulativo de
cientistas anteriores. Atualmente os
modelos são formulados com suporte
computacional, especialmente para
sistemas de longa duração, como os
geológicos, que nem as observações de
campos nem os experimentos
laboratoriais sozinhos podem elucidar. O
progresso dos trabalhos científicos
depende da formação contínua de
cientistas, passando o conhecimento para
as gerações seguintes.
a b c
Harry Hess
Figura 1.9- Autores da teoria da deriva continental: Frank B. Taylor (1860-1938), geólogo
americano (a) e Alfred L. Wegner (1880-19300), meteorologista alemão (b). Autor do trabalho
inicial da teoria da tectônica de placas: Harry H. Hess (1906-1969), geólogo americano (c).
8
Antes de abordar os processos geológicos e seus produtos, com os quais
convivemos no nosso planeta Terra, será apresentada uma breve síntese sobre a origem
do Sistema Solar, que hospeda o planeta Terra, e do Universo que hospeda tudo.
2.1- ORIGEM DO UNIVERSO E DO SISTEMA SOLAR
A questão da origem do Universo e de nossa própria e pequena parte nele contida
(o Sistema Solar), vem intrigando os pensadores e cientistas desde quando o homem
compreendeu que habita um dos planetas que orbita uma estrela (Sol) em um minúsculo
canto da imensidão do Cosmos. As estrelas se distribuem no Universo de maneira
ordenada, segundo hierarquias. Agrupam-se em galáxias com dimensões da ordem de
100.000 anos-luz, podendo conter mais de 100 bilhões de estrelas. Os dois tipos mais
comuns de galáxia são o tipo elíptico (Fig. 2.1) e o tipo espiral (Fig. 2.2 a). A galáxia de
Andrômeda (tipo elíptico), é a mais próxima do nosso Sistema Solar, situada há 2,4
milhões de anos-luz. O Sistema Solar está situado em um dos braços periféricos da Via
Láctea, uma galáxia do tipo espiral (Fig. 2.2 b, c). As galáxias podem conter enormes
espaços interestelares de baixa densidade, mas também regiões de densidade extrema,
com grande energia gravitacional. O núcleo das galáxias é uma dessas regiões que pode
configurar-se como buracos negros, ou que pode evoluir para tal situação, com extrema
força gravitacional que pode sugar tudo em sua volta, inclusive a luz. As galáxias também
podem formar aglomerados de algumas dezenas a milhares de galáxias, ou até
superaglomerados de dezenas de milhares de galáxias, o maior nível hierárquico do
Universo, com extensões de até centenas de milhões de anos-luz.
Figura 2.1- Galáxia tipo elíptico de Andrômeda, há 2,4 milhões de anos-luz do Sistema Solar.
Ano-luz (a.l.) = distância percorrida pela luz, com velocidade de 300.000 Km/s, durante um ano.
1
Curto período de tempo (5,4×10‾ 44 s) que a luz percorre o comprimento de planck (1,6162× 10‾ 35 m), a
menor dimensão de comprimento da física, que é 10‾ 20 vezes o diâmetro de um próton.
9
estar diminuindo, e sim a distância entre as galáxias e os aglomerados galácticos que
não estão suficientemente ligados pela atração gravitacional. Por outro lado, a constante
de Hubble (H0), a taxa de expansão do Universo, não está bem determinada e seu valor
atual é de 74 Km/s/Mpc. Isso significa que o Universo expande 74 Km/s por
megaparsec(2) de distância (3,26 milhões de anos-luz), em relação a uma determinada
galáxia. Uma das maiores evidências da expansão do Universo é o “desvio para o
vermelho” da luz proveniente da grande maioria das galáxias, devido ao efeito Doppler,
demonstrado por E. Hubble em 1929 (Fig. 2.3). Um observador de uma fonte de radiação
eletromagnética se movimentando em relação ao referencial (observador), sentirá o
efeito Doppler da seguinte maneira: se a fonte estiver se aproximando do observador, a
frequência da radiação (f) aumenta e o comprimento de onda ( ) diminui e se a fonte
estiver se afastando, diminui a (f) e aumenta o ( ), mantendo a mesma velocidade.
Portanto, uma fonte luminosa se afastando da Terra mostrará um desvio para o vermelho
(maior da luz), tal como mostrado pela luz emitida pelas galáxias que observamos.
a b Vista Frontal
100.000 a.l.
c Vista Lateral
V= f
Menor f Maior f
V = velocidade
= comprimento de onda
f = frequência
μ = 10 3 mm Figura 2.3-
afastamento de uma fonte luminosa:
Maior λ Menor λ desvio para o vermelho.
Aproximação: desvio para o azul
2
Megaparsec (Mpc) = 1 milhão de parsec (Pc). 1Pc = 3,26 anos-luz. 1Mpc = 3,26 × 106 anos-luz
10
Se o Universo for “aberto”, ele continuará se expandindo para sempre, podendo
inclusive aumentar a sua taxa de expansão. Mas se o Universo for “fechado”, a taxa de
expansão diminuirá com o tempo, até anular-se, para em seguida começar a contrair-se.
A natureza aberta ou fechada do Universo depende de sua densidade média, cujo valor
não se encontra estabelecido adequadamente, por causa da dificuldade de medir a
matéria escura, presente em todo o espaço interestelar. O valor limite da densidade para
2
anular a expansão do Universo é denominado densidade crítica (ρC = 3H0 /8πG), onde
G é a constante gravitacional (6,74×10 ‾ 11m3/Kg/s2). O valor de ρC para H0 de
74 Km/s/Mpc situa-se em torno de 10 ‾ 29 g/cm3. Estimativas recentes sugerem que a
densidade média do Universo é em torno de 100 vezes menor que a densidade crítica
(ρC) de 10 ‾ 29 g/cm3, indicando um Universo aberto.
Os cientistas acreditam que a expansão do Universo foi impulsionada pela grande
explosão original e a radiação de micro-ondas de fundo, que se propaga em todas as
direções no Universo, é remanescente da radiação emitida pela grande explosão e
constitui-se em uma das maiores evidências da teoria do Big Bang. Logo após o fim do
período planckiano, o Universo expandiu-se rapidamente, com velocidade maior que a
velocidade da luz, durante um brevíssimo intervalo de tempo, entre 10 ‾ 33 e
10 ‾ 32 segundos (fase inflacionária). A expansão e a criação contínua de espaço
favoreceram o surgimento das quatro forças fundamentais da natureza (gravidade,
nucleares forte e fraca e eletromagnética). Após a fase inflacionária, a expansão do
Universo foi governada pela constante de Hubble (H0) e sua evolução, com velocidade
de expansão igual à velocidade da luz, o levaria até o estágio atual, com raio em torno
de 13 a 14 bilhões de anos-luz. A matéria só começou a surgir com o decréscimo da
temperatura, após 10 ‾ 9 segundos, pelo processo da nucleogênese. Primeiro formaram-
se os quarks(3) e depois os prótons, nêutrons e elétrons. Os núcleos de Hidrogênio (H)
formaram-se após 10‾ 3 segundos e os de Hélio (He) após 100 segundos. A captura de
elétrons pelos núcleos, com formação dos átomos dos elementos mais leves,
principalmente H e He, só ocorreu após 800.000 anos, quando o Universo embrionário
tornou-se transparente à luz, com temperatura em torno de 3.000 K (2.726,85°C).
As estrelas e as galáxias formaram-se mais tarde, em torno de 550 milhões de
anos (Ma) após o Big Bang, quando o resfriamento generalizado permitiu o confinamento
da matéria em imensas nuvens (nebulosas), as quais, por causa da atração gravitacional,
se dividiram em nuvens menores. O progresso da contração gravitacional resultou na
hierarquia hoje reconhecida, com as galáxias formando aglomerados e
superaglomerados. A Via Láctea formou-se logo após o Big Bang, em torno de 13 Ga
atrás e o Sistema Solar há, aproximadamente, 4,7 Ga. Por causa das grandes distâncias
entre o Sistema Solar e as outras estrelas e galáxias, o céu que observamos é uma
imagem do passado, de milhares ou dezenas de milhafres de anos para as estrelas da
nossa Via Láctea e milhões ou até bilhões de anos atrás, para as estrelas fora da Via
Láctea e outras galáxias, o tempo que a luz dessas estrelas e galáxias levou para nos
atingir. Pode ser que o que estamos observando seja completamente diferente da
situação atual ou até nem exista mais, e pode haver estrelas e galáxias jovens e distantes
cuja luz ainda não nos alcançou e, portanto, não conseguimos ainda observar (Fig. 2.4).
As estrelas têm uma vida longa, de bilhões de anos. Inicialmente aumentam sua
temperatura (T) e seu tamanho, até a fase de gigante vermelha, com a superfície mais
resfriada e avermelhada. Após essa fase, as estrelas médias e pequenas começam a
resfriar e contrair até a fase de anã branca e finalmente anã negra, até sua morte. As
estrelas maiores continuam aquecendo e dilatando até a fase de supergigante vermelha
e gigante azul e depois explodem, processo denominado supernova (Fig. 2.4 b, c).
(3)
Quarks são subpartículas carregadas, componentes dos prótons e neutros. Juntamente com os
elétrons (carregados) e neutrinos (sem carga), são as menores partículas (indivisíveis) da matéria.
11
a b c
Figura 2.4-
Figura 2.5- Sistema Solar, mostrando os planetas interiores rochosos e exteriores gasosos,
separados por um cinturão de asteroides.
Qualquer teoria para explicar a origem do Sistema Solar deverá considerar as
seguintes características desse sistema:
1- Todos os planetas giram em torno do Sol no mesmo sentido, em órbitas elípticas de
pequena excentricidade, praticamente coplanares, em cujo plano (eclíptica), também
orbitam a maioria dos outros corpos menores, como cometas e asteroides.
2- Os planetas rotacionam no mesmo sentido de suas translações em torno do Sol, ou
seja, no sentido anti-horário, observando-se a Terra do polo norte para o polo sul,
exceto Vênus, Urano e Plutão que rotacionam no sentido horário (rotação retrógrada).
3- Embora a massa do sistema solar esteja quase toda concentrada no Sol (99,8%), o
momento angular do sistema está concentrado nos movimentos dos planetas,
sobretudo dos planetas maiores. Momento angular (L) é a quantidade de movimento
(m×v) de corpos em rotação, multiplicado pelo raio (r) da rotação (L = m.v.r), sendo
a massa e a velocidade do corpo em rotação.
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4- Os planetas podem ser classificados em interiores (ou terrestres ou rochosos) e
exteriores (ou jovianos ou gasosos). Os 4 planetas interiores (Mercúrio, Vênus, Terra,
Marte) possuem massa pequena e densidade média próxima à da Terra (5,5),
enquanto que os 4 planetas exteriores (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno) exibem
maior massa e densidade média próxima à do Sol (1,4). Plutão, antes considerado
como o menor e mais distante planeta do Sistema Solar, destoando dos 4 planetas
gigantes exteriores, foi recentemente reclassificado como planeta anão
transnetuniano (após a órbita de Netuno).
5- Os planetas internos possuem poucos satélites e atmosferas pouco espessas e
rarefeitas, enquanto que os planetas externos possuem normalmente mais satélites,
com atmosferas muito espessas dominadas por hidrogênio e hélio, tal como o Sol.
6- Entre os planetas internos e externos (entre Marte e Júpiter) ocorre um cinturão de
asteroides, com características semelhantes aos planetas internos (rochosos). O
maior asteroide conhecido (Ceres) deste cinturão, com diâmetro em torno de 970 km,
foi reclassificado como planeta anão, único que não é transnetuniano.
A teoria mais aceita atualmente,
entre os cientistas, para explicar a origem
do Sistema Solar, é a teoria da nebulosa,
sugerida inicialmente pelo filósofo alemão
Immanuel Kant, em 1755. De acordo com
essa teoria, a nebulosa solar inicial era
uma nuvem de gás e poeira cósmica em
lenta rotação constituída principalmente
por hidrogênio (H) e hélio (He), com
pequenas quantidades de lítio (Li) e berílio
(Be), (Fig.2.6). A nebulosa começou a
contrair-se devido a força da gravidade de
sua massa, acelerando sua rotação e
achatando-a em forma de um disco, com o
núcleo mais denso que sua periferia. A
progressão da contração gravitacional
resultou na concentração de quase toda a
matéria no centro da nebulosa, formando
uma protoestrela, envolvida por uma
periferia mais rarefeita, com alguns anéis
concêntricos de matéria. Comprimido pelo
seu próprio peso, o proto-Sol tornou-se
mais denso e quente, atingindo milhões de
graus celsius e iniciando a reação de fusão
nuclear, pela qual átomos de H, sob alta
pressão e temperatura, combinam-se para
formar He. Nessa reação, parte da massa
é convertida em energia (conforme a
equação de Einstein, E = mc2), emitida pelo
Sol principalmente na forma de luz. Após a
formação do proto-Sol, o disco nebuloso
começou seu resfriamento, iniciando a
condensação do material gasoso
Figura 2.6- Evolução do Sistema Solar.
incandescente em material líquido e sólido.
A atração gravitacional deu início ao processo de acreção planetária, por meio de
colisão e agregação de poeira e material condensado, em pequenos blocos ou
planatesimais, com diâmetro de até 1 Km (Fig. 2.7). A acreção continuou entre os
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planatesimais, formando protoplanetas
(corpos maiores com tamanho da Lua).
Finalmente, uma pequena quantidade
desses protoplanetas maiores atraiu os
outros corpos para formar os 8 (ou 9)
planetas em suas órbitas atuais em torno
do Sol, distribuídos em dois conjuntos,
separados por um cinturão de asteroides:
os planetas interiores, de menor tamanho,
e os planetas gigantes exteriores (Fig. 2.5
e 2.7). Após a formação dos planetas, a
acreção planetária continuou, embora
menos intensa, como evidenciada pelas
crateras de impacto em praticamente todos
os planetas e satélites do Sistema Solar,
inclusive a Terra. Os movimentos
harmônicos dos planetas em suas órbitas,
Figura 2.7- Mecanismo de acreção de principalmente translação em torno do Sol
planatesimais que resultou na formação dos e rotação em torno de seus eixos, foram
planetas interiores, e acreção de material herdados do movimento de rotação,
gasoso que resultou na formação dos planetas provavelmente anti-horário, da nebulosa
exteriores. original.
Também conhecidos como planetas rochosos ou terrestres
(parecidos com a Terra), situados na parte interna do Sistema Solar. Em ordem de
proximidade com o Sol, os 4 planetas interiores são: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte (Fig.
2.5). Em contraste com os planetas exteriores, os planetas rochosos são pequenos e
constituídos por rochas. A temperatura mais alta próximo do Sol favoreceu a perda
parcial dos componentes voláteis para a periferia do Sistema Solar, retendo os metais,
como o ferro, e outros elementos pesados que formam as rochas que compõem os 4
planetas interiores. As idades dos meteoritos que ocasionalmente ainda golpeiam a
Terra e são considerados como remanescentes do período pré-planetário, indicam que
os planetas interiores começaram a acrescer há cerca de 4,56 Ga e teriam crescidos até
o tamanho de planeta em um curto período de menos de 100 Ma. Os dois planetas mais
próximos do Sol (Mercúrio e Vênus) possuem períodos orbitais inferiores a um ano e
rotação lenta. A rotação de Vênus é retrógrada (horária) e muito lenta (243 dias), mais
demorada que sua translação de 224,7 dias em torno do Sol (tabela 2.1). A inversão da
rotação, denominada retrógrada (horária), ocorre quando a inclinação do eixo do planeta
é maior que 90°. Como a inclinação do eixo de Vênus é quase 180° (177,36°), o ângulo
que o eixo faz com a normal ao seu plano orbital é pequeno (suplemento de 177,36),
referido, nesse caso, como ângulo negativo (−2,64°).
Também conhecidos como planetas gasosos ou jovianos (parecidos
com Júpiter), situados na parte externa do Sistema Solar, após o cinturão de asteroides.
Maior parte do material volátil da nebulosa solar original ficou concentrada no Sol, retida
pela forte gravidade solar. Entretanto, devido à alta temperatura próximo do Sol, o
material volátil da região dos planetas interiores não condensou durante o período da
acreção planetária, e a maior parte desse material escapou para a periferia mais fria do
sistema solar, o que permitiu a formação dos 4 planetas gigantes exteriores, constituídos
principalmente de componentes voláteis (gelo e gases de H e He), embora com núcleos
rochosos. São eles, em ordem de proximidade com o Sol: Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno. (Fig. 2.5). A forte atração gravitacional dos planetas gigantes exteriores atraiu
os componentes mais leves do sistema solar, mais afastados do Sol e não
suficientemente contidos pela atração gravitacional solar.
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Mercúrio Vênus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Netuno Plutão
Raio (RE) 2.439,7 6.051,8 6.378 3.396,2 71.492 60.268 25.559 24.764 1.187
3,3011 4,8685 5,9736 6,4174 1,8986 5,6846 8,6810 1,0243 1,3050
Massa (t)
× 1020 × 1021 × 1021 × 1020 × 1024 × 1023 × 1022 × 1023 × 1019
Densidade1 5,43 5,24 5,51 3,93 1,33 0,69 1,27 1,64 2,03
N (78) CO2 (95) H (89,7) H (96,3) H (83) H (80)
Atmosfera CO2 (96) −
(%) − O (21) N (3) He (10) He (3,25) He (15) He (18,5)
N (3,5) Ar (0,9)
Ar (1,6) CH4 (0,3) CH4 (0,45) CH4 (2) CH4 (1,5)
Satélites − − 1 2 79 62 27 14 5
Distância
0,39 0,72 1 1,52 5,2 9,58 19,23 30,10 39,48
ao Sol (UA)
Período 87,97 224,70 365,25 686,97 4.332 10.760 30.681 60.190 90.613
orbital (d/a) 0,24 ano 0,615 1a+6h 1 + 322d 11+317 29+175 84+21 164+330 248+93
Período de
58,65 -243,02
0,997 1,026 0,41 0,44 -0,72 0,67
-6,39
rotação (d) 23:56h 24:37h 9:48 h 10:34 h 17:14h 16:06 h
Excen-
0,21 0,007 0,02 0,09 0,05 0,06 0,04 0,01 0,25
tricidade
Inclinação 177,36 97,77 119,59
0,01 23,44 25,19 3,13 26,73 28,32
do eixo2 (°) (-2,64) -82,64 -60,41
Gravidade3
3,7 8,87 9,78 3,7 24,79 10,44 8,69 11,15 0,658
(m/s2)
Tabela 2.1- Parâmetros físicos dos planetas do Sistema Solar: Planetas interiores (faixa azul) e
planetas exteriores (faixa vermelha) e o maior planeta anão (Plutão, na faixa cinza direita).
RE : Raio equatorial. (1) Densidade em g/cm3, (2) Ângulo que o eixo de rotação faz com a
perpendicular ao plano orbital do planeta, (3) Gravidade equatorial. UA: Unidade astronômica
(distância média entre a Terra e o Sol, igual à 149.597.870,7Km. Órbitas: dia (d) e ano (a) abaixo.
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Sistema Solar que pode ser testada pela observação do nosso sistema e pelo estudo de
outros sistemas estelares. Uma impressionante descoberta revelada pelos dados obtidos
pelas sondas espaciais americanas e russas é que em nosso Sistema Solar não existe
sequer dois corpos que podem ser considerados iguais.
Há décadas, cientistas e filósofos têm especulado sobre a existência de planetas
em outros sistemas estelares, os denominados exoplanetas, os quais só foram
finalmente descobertos em 1999, usando potentes telescópios. Até agora mais de 4 mil
exoplanetas já foram identificados em mais de 3 mil sistemas estelares. Entretanto,
devido às limitações técnicas de observação, a grande maioria dos exoplanetas já
detectados, são planetas gigantes do tamanho, ou maior, que Júpiter, em condições
inóspitas para abrigar vida tal como a conhecemos na Terra. Desse total de exoplanetas
descobertos, apenas seis são considerados possivelmente habitáveis, dos quais dois
são muito parecidos com a Terra (Teegarden b e Teegarden c), que orbitam a estrela
Teegarden, uma anã vermelha da constelação Áries, situada há 12,5 anos-luz da Terra.
Essas descobertas reacenderam a questão que intriga a humanidade: será que não
estamos sós no Universo? A perspectiva dos cientistas é que, com o aperfeiçoamento
das técnicas de observação, mais exoplanetas habitáveis possam ser descobertos,
aumentando as possibilidades de existência de vida extraterrestre.
Após posicionar o Sistema Solar no espaço e no tempo, nos deteremos, a partir
daqui, ao nosso planeta Terra, à sua origem, logo após a formação do Sistema Solar, e
aos processos geológicos e seus produtos, estudados pela Geologia, que se sucederam
e nos conduziram até um planeta vivo, com continentes, oceanos e atmosfera.
16
Figura 2.8- Simulação computadorizada da origem da Lua por meio de um grande impacto de
um corpo do tamanho de Marte que teria colidido com a Terra há 4,5 Ga.
Figura 2.9- Diferenciação da Terra primitiva resultou em um planeta zonado, com três camadas
principais: núcleo central de ferro e níquel, uma crosta de rochas leves e um manto de rochas
de densidade intermediária entre o núcleo e a crosta.
Maior parte do ferro (Fe) da Terra, seu principal componente pesado que
representa mais de um terço da sua composição global, mergulhou para o interior do
planeta durante o processo de diferenciação, acompanhado por outros elementos
pesados menores, como o níquel (Ni). Elementos mais leves, como o oxigênio (O), silício
(Si), alumínio (Al), sódio (Na) e potássio (K) se separaram da massa fundida e migraram
em direção à superfície, acompanhados por um pouco de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e
ferro também, para formar a crosta terrestre, uma delgada camada superficial. Entre o
núcleo e a crosta se acomodou a maior parte sólida da Terra, o manto, constituído por
rochas de densidade intermediária compostas por Si, O, Ca, Mg e Fe.
a b
Figura 2.11- Amostras de meteorito rochoso condrítico, Gujba, Nigéria (a) e de meteorito
acondrítico rochoso, Marília-SP (b).
Os meteoritos não condríticos (ou acondritos) podem ser de três tipos seguintes:
acondritos rochosos, metálicos (ou sideritos) e ferro-pétreos (ou siderólitos). São
derivados de corpos maiores diferenciados, nos quais a estrutura condrítica foi destruída.
Os meteoritos acondritos rochosos (Fig. 2.11 b) são constituídos por minerais silicáticos
(principalmente olivina, piroxênio e plagioclásio), sem fases metálicas significativas e, em
muitos casos, similares a composição dos basaltos terrestres. Os meteoritos sideritos
são constituídos basicamente por ligas metálicas de Fe e Ni (Fig. 2.12 a, b), enquanto
que os siderólitos são constituídos por misturas de silicatos e ligas metálicas de Fe e Ni.
Um tipo especial de siderólito são os palasitos, formados por cristais translúcidos de
olivina em matriz metálica de Fe-Ni (Fig. 2.12 c).
a b c
Figura 2.12- Amostras de meteoritos sideríticos: Sikhote-Alin, Russia (a) e siderito com
estrutura widmanstatten (b). Meteorito siderólito palasito, Fukang, China (c)
Condritos
Crosta
Manto Sideritos
21
Figura 2.15- Dinâmica externa da Terra, controlada pela energia solar, e dinâmica interna
governada pela energia térmica original e calor radioativo do interior da Terra.
22
Somente nas últimas décadas do século 20, a ciência reuniu conhecimento e
condições tecnológicas para investigar como o sistema Terra e seus geossistemas
realmente funcionam, com uma rede de satélites para coleta de dados em uma escala
global e computadores capazes de calcular a massa e energia transferidas dentro do
sistema Terra. Estudar os geossistemas terrestres e suas interconectividades é o que se
propõem as geociências.
O geossistema do clima inclui todas as propriedades e interações dos
subsistemas da dinâmica externa da Terra necessários para determinar o clima em uma
escala global e como ele muda com o tempo. O clima compreende a temperatura,
precipitação pluviométrica, nebulosidade e os ventos em um ponto ou área da superfície
terrestre. O clima depende principalmente das condições da atmosfera, mas também de
suas interações com a hidrosfera, biosfera e com a superfície sólida da Terra. A vida,
inclusive dos seres humanos, é extremamente dependente do clima, podendo favorece-
la ou dificultá-la e até inviabilizá-la. Embora os ciclos climáticos da Terra sejam bem
definidos pelas estações do ano, controladas pelo influxo da energia solar nos ciclos
sazonais, as variações mais curtas e mais longas são muito difíceis de prever com
precisão devido à complexidade da atmosfera e suas interações com outros
subsistemas. Para compreender essas interações os cientistas elaboraram modelos
numéricos (sistemas climáticos virtuais) em supercomputadores e comparam os
resultados de suas simulações com os dados observados. O objetivo desses ensaios é
poder fazer previsões climáticas de curto prazo e também as tendências de mudanças
climáticas futuras de longo prazo, com menor erro possível.
Os geossistemas das placas tectônicas e do geodínamo fazem parte da dinâmica
interna do planeta. Alguns dos mais dramáticos eventos geológicos terrestres, como as
erupções vulcânicas e terremotos, estão relacionados com o
. Esses fenômenos são controlados pelo calor interno do planeta que escapa
para a superfície por meio de circulação de material sólido dúctil (não rígido) do manto,
através de um mecanismo denominado convecção. A convecção é um mecanismo de
transferência de energia e massa causada pela diferença de temperatura em um material
que pode fluir (líquido, gás ou solido dúctil), no qual o material aquecido abaixo ascende
e o resfriado acima afunda, formando uma corrente de convecção. A convecção
mantélica é semelhante à convecção de água fervente em um recipiente (Fig. 2.17 a), no
qual material sólido dúctil aquecido do manto inferior, de menor densidade, se move para
cima pela força do empuxo, enquanto que o material mais frio e mais denso do manto
superior se move para baixo, pela força da gravidade, criando o movimento convectivo
que movimenta as placas tectônicas rígidas da litosfera (Fig. 2.17 b). As placas são
criadas nas zonas de ascensão da convecção e, após se resfriarem, mergulham de volta
para o manto nas zonas descendentes da convecção.
a b
Figura 2.17- Convecção em água fervente (a) e convecção mantélica que controla os
movimentos das placas tectônicas (b).
23
O campo magnético terrestre está relacionado com o ,
controlado pelo núcleo da Terra, constituído basicamente de ferro e subdividido em
núcleo externo (líquido) e núcleo interno (sólido). Correntes de convecção no núcleo
externo (líquido) convertem energia mecânica em energia elétrica que, por sua vez, gera
um campo magnético bipolar, semelhante a um dínamo. Além de sua importância na
orientação geográfica, o campo magnético terrestre protege a Terra, como um escudo,
dos ventos e erupções solares. Desse modo, os dois geossistemas mais importantes da
dinâmica interna da Terra estão relacionados, cada um, a um sistema convectivo: o das
placas tectônicas, relacionado a uma convecção no manto, e o do geodínamo a uma
convecção no núcleo externo da Terra.
a b
26
Nessa unidade, tratamos de posicionar o nosso planeta Terra no espaço cósmico
(no Sistema Solar e na imensidão do Universo) e também no tempo. Mostramos como
os geocientistas pensam e trabalham para desvendar a história geológica do nosso
planeta e de seus sistemas interativos. Por fim, procuramos mostrar os principais eventos
dessa longa e bela história geológica na escala do tempo geológico, desde a origem
ardente da Terra e suas mudanças ao longo desse tempo até a origem da vida que
culminou, após um longo período evolutivo, com o aparecimento dos seres humanos. Na
terceira unidade será mostrado como os geocientistas conseguiram caracterizar o
interior terrestre e suas camadas, através de métodos indiretos de pesquisa. Nas
unidades seguintes serão detalhados os processos geológicos e seus produtos que
ocorreram ao logo do tempo geológico, iniciando com os processos da dinâmica interna
do planeta e os mecanismos da tectônica de placas que resultaram na configuração atual
dos continentes e oceanos (unidade 4). O módulo 2 desse documento é dedicado aos
materiais terrestres, incluindo a caracterização dos minerais (unidade 5) e das rochas
(unidade 6), abrangendo tanto os processos endógenos (dinâmica interna), de formação
das rochas ígneas e metamórficas, como os processos exógenos (dinâmica externa), de
formação das rochas sedimentares. O terceiro e último módulo aborda as estruturas
geológicas (unidade 7), o tempo geológico e os métodos de datação geocronológicos
(unidade 8) e, finalmente, os recursos minerais, hidrológicos e energéticos, além da
questão ambiental nos meios geológicos e suas implicações globais para a civilização
humana (unidade 9).
27
3.1- INTRODUÇÃO: métodos de investigação indireta do interior terrestre
O furo de sondagem mais profundo até hoje realizado (em Kola, Rússia) atingiu
apenas 12 km, dimensão insignificante diante do raio da Terra de 6.370 km. Não é
possível, portanto, ter acesso direto às partes mais profundas da Terra devido as
limitações tecnológicas para enfrentar as altas temperaturas e pressões do interior
terrestre. Desse modo, a estrutura interna do nosso planeta só pode ser estudada de
maneira indireta, com base principalmente em dois tipos de fontes indiretas de
informações: os meteoritos e os terremotos. Os meteoritos são fragmentos do interior de
corpos espaciais da parte interna do sistema solar que podem fornecer informações
importantes sobre o interior da Terra, considerando que se os corpos do sistema solar
tiveram uma origem comum, não deve haver diferenças significativas entre os corpos de
tamanhos equivalentes da parte interna desse sistema, onde fica o planeta Terra. Por
outro lado, os terremotos são abalos sísmicos, estudados pelo ramo da geofísica
denominado sismologia, que embora causem catástrofes em diversas regiões do
planeta, fornecem informações sobre o comportamento das rochas do interior terrestre
submetidas a esforços mecânicos, como o estado físico e a composição das rochas. A
associação das informações provenientes dos terremotos e meteoritos, juntamente com
os dados do campo gravitacional e campo magnético do nosso planeta, permitiram definir
um modelo consistente da estrutura interna da Terra que é o tema central desta unidade.
3.2- TERREMOTOS
O calor interno da Terra provoca fusão de porções rochosas do interior terrestre
gerando magma que adquire mobilidade, podendo extravasar na superfície através dos
vulcões. Essa mobilidade magmática gera movimentos tectônicos que afetam não só os
continentes, mas toda a litosfera terrestre, gerando tensões que se acumulam em vários
pontos, principalmente ao longo das bordas das placas tectônicas. Quando essas
tensões atingem o limite de resistência das rochas ocorre uma ruptura repentina,
denominada falha geológica, gerando vibrações que se propagam em todas as direções,
fazendo a terra tremer. Os terremotos ocorrem mais frequentemente no limite entre as
placas litosféricas (Fig. 3.1), mas podem ocorrer também no interior das placas, sem que
a falha atinja a superfície.
Figura 3.1- Sismicidade mundial mostrada em mapa de epicentros de sismos com magnitude ≥
5,0 no período 1964 a 1995. Fonte: Serviço Geológico americano.
28
O ponto onde se inicia a ruptura do terremoto é denominado de hipocentro ou
foco, e sua projeção na superfície é o epicentro, sendo a profundidade focal a distância
hipocentro-epicentro (Fig. 3.2). O tamanho da área de ruptura é proporcional à
intensidade das vibrações e à magnitude dos terremotos que pode variar desde
pequenos abalos ou tremores de terra até os grandes eventos sísmicos destrutivos.
Quando ocorre uma ruptura na crosta terrestre, as vibrações sísmicas geradas se
propagam em todas as direções na forma de ondas. São essas ondas sísmicas que
causam danos nas proximidades do epicentro e que podem ser registradas por
sismógrafos em todo o mundo (Fig. 3.3).
a
a
b
b
Figura 3.2- Geração de um sismo por Figura 3.3- Registro na estação sismológica
acúmulo e liberação de esforços em uma de Valinhos-SP de um sismo ocorrido em
ruptura. As tensões compressivas (a) 23/11/97 na fronteira entre Argentina e
deformam as rochas (b), causando ruptura Bolívia, com magnitude 6,4 (a), mostrando o
nas mesmas que geram vibrações que se movimento do chão nas três dimensões
propagam em todas as direções (c) espaciais (b).
As vibrações são causadas por dois tipos principais de ondas sísmicas seguintes:
Ondas longitudinais ou primárias (ondas P) que vibram na mesma direção de
propagação das ondas, tal como as ondas sonoras;
Ondas transversais ou secundárias (ondas S) que vibram perpendicularmente à
direção de propagação das ondas, tal como as ondas luminosas (Fig. 3.4).
As velocidades das ondas P e S dependem essencialmente do meio por onde elas
passam. Normalmente quanto maior a densidade de uma rocha maior será a velocidade
de propagação das ondas sísmicas (Fig. 3.5), sendo que as ondas P são mais rápidas
que as ondas S, razão pela qual as ondas P são as primeiras (primárias) e as ondas S
são as segundas (secundárias) a chegar (P de primária e S de secundária). Além disso,
as ondas S não se propagam em meio líquido, somente em meio sólido, enquanto que
as ondas P se propagam tanto em meio líquido quanto sólido.
Tal como qualquer outro fenômeno ondulatório, as ondas sísmicas sofrem
reflexão e refração quando passam para um meio de densidade diferente, obedecendo
a lei de Snell, segundo a qual quando um raio passa pela interface entre dois meios com
densidades diferentes, as razões entre os senos dos ângulos que os raios (refletidos e
refratados) fazem com a normal à interface e as velocidades dos raios, se mantém
constante (Fig. 3.6 a). Como consequência da lei de Snell, quando as ondas sísmicas
29
passam para um meio de maior densidade (e maior velocidade), o raio refratado se
afasta da normal à interface entre os dois meios (Fig. 3.6 b) e, ao contrário, quando as
ondas passam para um meio de menor densidade (e menor velocidade), o raio refratado
se aproxima da normal à interface (Fig. 3.6 c).
b c
Figura 3.6- Lei de Snell: quando um raio passa por uma interface entre dois meios de
densidades diferentes, as razões dos senos dos ângulos que os raios (refletido e refratado)
fazem com a normal à interface e as velocidades dos raios, se mantém constante (a). Raio
sísmico refratado passando para um meio de maior densidade, afastando-se da normal à
interface (b), e passando para um meio de menor densidade, aproximando-se da normal (c).
30
b c
Figura 3.7- Lei de Snell em uma sucessão de camadas, com aumento progressivo da densidade
com a profundidade, implicando em aumento progressivo da velocidade e do ângulo (com a
normal à interface (a). Curva tempo-distância com a volta dos raios à superfície (b).
Descontinuidade litológica produzindo uma interrupção na curva tempo-distância denominada
“zona de sombra” entre os raios B e C (c).
3.3- ESTRUTURA INTERNA DA TERRA
Análises de milhares de terremotos durante muitas décadas permitiram construir
as curvas tempo-distância das ondas sísmicas refratadas e refletidas e deduzir as
principais propriedades físicas das rochas do interior da Terra, o que sustentou a
formulação de um modelo consistente da estrutura interna da Terra em três camadas
concêntricas (crosta, manto e núcleo), conforme as figuras 3.8 a, b. A crosta terrestre é a
camada mais externa e mais fina da Terra, havendo dois tipos de crosta: a continental e
a oceânica (Fig. 3.8 c).
b
c
Figura 3.8- Modelo da estrutura interna da Terra em três camadas (a, b), mostrando as três
descontinuidades sísmicas (Moho, Gutenberg e Lehmann), os seus descobridores e o ano da
descoberta (b). Detalhe das relações entre crosta, litosfera e astenosfera (c).
31
A espessura da crosta terrestre varia entre 5 km na crosta oceânica até 50 km nos
continentes e a velocidade das ondas P varia de 5,5 km/s na crosta superior a 7 km/s na
crosta inferior (Fig. 3.9a). A crosta continental é formada principalmente por rochas
graníticas, de densidade mais baixa (em torno de 2,7), com espessura variando de 30 a
50 Km, podendo atingir até 70 Km sob as grandes cadeias de montanhas. É constituída
principalmente pelos elementos Si e Al e, por isso, é referida, como (Fig. 3.9 b). A
crosta oceânica é formada por rochas basálticas, de maior densidade (em torno de 3,0),
que formam o fundo dos oceanos, com espessura de 5 a 7 Km. É constituída
principalmente pelos elementos Si e Mg e, por isso, é referida como (Fig. 3.9 b).
a
b
Figura 3.9- Variação da velocidade das ondas P na crosta e no manto superior, mostrando a
descontinuidade de Moho, entre a crosta e o manto litosférico, e a astenosfera no manto superior
(a). Litosfera (crosta + manto litosférico) flutuando na astenosfera pouco rígida (b).
Figura 3.10- Variações das velocidades das ondas P (VP) e S (VS) e densidade (ρ) no interior
da Terra, mostrando as descontinuidades entre manto superior e inferior, núcleo externo e
interno (a). Zona de sombra entre 103° e 142° de latitude, definida pela refração das ondas P
ao passar pela descontinuidade de Gutenberg, entre o manto e o núcleo externo (b).
33
características de velocidades sísmicas baixas e densidades altas indicam que o núcleo
da Terra é constituído predominantemente por ferro e níquel (Nife), com densidade em
torno de 12 e temperatura acima de 4.000°C, semelhante às composições de meteoritos
sideríticos, considerados como porções de núcleos de corpos diferenciados da parte
interna do sistema solar.
3.4- CAMPOS GRAVITACIONAL DA TERRA
A gravitação é uma propriedade fundamental da matéria que se manifesta em
qualquer escala de grandeza, desde a atômica até a cósmica. No final do século 17,
Isaac Newton a definiu como uma força de atração, cuja intensidade é proporcional ao
produto das massas dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado da distância
que os separa, de acordo com a seguinte equação:
m1 × m 2 Sendo m1 e m2 = massa dos corpos 1 e 2 respectivamente
F =G 2
Dd G = constante de gravitação universal, e d = distância entre 1 e 2
A gravidade é uma força fraca que só é perceptível em corpos de dimensão
planetária, como a Terra, que criam um campo gravitacional ao seu redor com
intensidade significativa (proporcional à sua massa) e igual em todas as direções
(isotrópico). Qualquer objeto na Terra está sujeito, portanto, à ação da força da gravidade
cuja aceleração (a g) aponta para o centro da Terra e sua intensidade depende apenas
da distância do objeto ao centro da Terra (igual ao raio da Terra, se o objeto estiver na
superfície) e da massa da Terra, conforme demonstrado a seguir:
m ×m F m × mOb mT
F = G T 2 Ob F = ag × mOb ag = m ag = G 2T ag = G 2
d Ob d ×m Ob d
Sendo mT = massa da Terra, e mOb = massa do objeto
A intensidade da força de atração gravitacional que afeta os objetos na Terra seria
igual ao valor acima se a Terra não tivesse movimento de rotação. Entretanto, como a
Terra está em rotação em torno de seu eixo, qualquer ponto de seu interior ou de sua
superfície sofre o efeito da aceleração centrífuga (ac), com direção perpendicular ao eixo
de rotação e intensidade diretamente proporcional à distância até este eixo. Desse modo,
os únicos locais onde não há aceleração centrífuga (a c = 0) são os polos geográficos da
Terra, pois estão situados sobre o eixo de rotação (distância para o eixo igual a zero).
Todos os outros pontos da Terra sofrem uma aceleração centrífuga, atingindo valores
máximos na linha do equador, onde a distância para o eixo de rotação é máxima, igual
ao raio equatorial da Terra (Fig. 3.11). Ou seja, enquanto a aceleração do campo
gravitacional (ag) possui intensidade aproximadamente constante e direção variável
(radial), a aceleração centrífuga (a c), ao contrário, possui direção constante
(perpendicular ao eixo de rotação) e intensidade variável, dependendo da latitude. A
soma vetorial da aceleração gravitacional (ag) e da aceleração centrífuga (a c) é
denominada gravidade (g), cujo intensidade é: g = ag + a c .
Tanto a direção como a intensidade de (g) variam conforme a posição sobre a
superfície terrestre. Como a intensidade da aceleração gravitacional (a g) é maior que da
aceleração centrífuga (ac) e os dois vetores componentes possuem sentidos opostos, a
somatória deles será igual à diferença entre os módulos de (a g) e (a c), cuja resultante
(g) é normalmente menor que (a g). Os polos geográficos são os únicos pontos da
superfície terrestre onde a gravidade ( ) aponta para o centro da Terra, com intensidade
igual a aceleração gravitacional ( = a g), já que nestes pontos a componente centrífuga
é nula (a c = 0) e possui valor máximo. A intensidade de ( ) diminui dos polos em direção
ao Equador, onde atinge o valor mínimo, acompanhando o aumento gradual da
34
intensidade de ac em direção ao Equador. Fora dos polos a gravidade (g) não aponta
para o centro da Terra (Fig. 3.11). Se a velocidade de rotação da Terra fosse aumentada
a ponto de ac ficar maior que ag ( negativa), poderíamos ser atirados para fora da Terra.
Raio equatorial
6.378 Km (RE)
g
ac
g
ag Raio polar g
g
6.357 Km
(RP)
Anomalia negativa
de gravidade
Figura 3.12- Anomalias gravimétricas: negativa, causada pelo granito Tourão, no Rio Grande
do Norte (a) e positiva, causada pelas rochas basálticas da bacia do Paraná (b).
F = (x 2 + y 2 + FV )½
2
37
O campo magnético terrestre pode ser representado como um vetor, cuja direção
e intensidade variam no espaço e no tempo (Fig. 3.15). A direção do campo magnético
é definida pela declinação (D) e inclinação (I) magnéticas e sua intensidade corresponde
ao módulo do vetor F, cujas componentes horizontal e vertical são respectivamente FH e
FV. A tangente da declinação magnética (D) pode ser determinada pela relação das
projeções da componente horizontal (FH) nas direções N-S ( ) e E-W ( ), ou seja,
tgD = y/x (Fig. 3.15). Por outro lado, a tangente da Inclinação magnética (I) pode ser
determinada pela relação das componentes vertical (FV) e horizontal (FH), ou seja,
tgI = FV /FH (Fig. 3.15). No equador magnético, onde I = 0, a componente vertical do
campo magnético é zero (FV = 0) e, portanto, F = FH, ao passo que nos polos magnéticos,
onde I = 90°, a componente horizontal é zero (FH = 0) e, portanto, F = FV.
A intensidade do campo geomagnético é baixa e varia com a localização
geográfica, sendo mínima próxima do equador magnético e aumenta em direção aos
polos magnéticos, atingindo 60.000 nT no polo magnético norte e 70.000 nT no polo
magnético sul, sendo Tesla (T) uma unidade de campo magnético e 1 nano Tesla
(nT) = 10‾ 9 T. Além disso, a intensidade do campo magnético também varia lentamente
com o tempo (variações seculares), cuja origem está relacionada aos processos
geradores do campo geomagnético no núcleo da Terra. Os polos magnéticos se
deslocam a uma velocidade média de 0,2° por ano ao redor dos polos geográficos,
percorrendo uma trajetória irregular, porém normalmente sem se afastar mais do que 30°
do polo geográfico e levam milhares de anos para dar uma volta completa de 360° ao
redor dos polos geográficos. Desse modo, tanto a declinação como a inclinação
magnética de um local varia continuamente com o tempo, aumentando ou diminuindo.
Como a declinação define a direção do campo magnético na superfície terrestre há
necessidade de correção deste valor a cada 5 anos aproximadamente.
Apesar de fraco, o campo geomagnético, denominado magnetosfera, ocupa um
volume muito grande, com suas linhas de força estendendo-se a distâncias 10 a 13 vezes
o raio da Terra. A magnetosfera exibe uma forma assimétrica em relação à Terra,
assemelhando-se a uma gota com cauda comprida (Fig. 3.16), como consequência
principalmente do movimento de partículas emitidas pelo Sol (núcleo de átomos,
sobretudo H e elétrons), denominado vento solar que flui a uma velocidade de 300 a
500 km/s. Próximo à Terra, o vento solar comprime o campo geomagnético no lado
iluminado pelo Sol, de tal modo que no lado não iluminado (noite) as linhas de força não
sofrem pressão do vento solar e estendem-se a distâncias maiores que 2.000 vezes o
raio da Terra, alcançando a lua.
O campo geomagnético exerce um papel importante de blindagem ao vento e
erupções solares, impedindo que as partículas mais energéticas atinjam a superfície
terrestre, causando danos à biosfera. Entretanto, nas regiões polares as partículas e
radiações solares penetram facilmente até a atmosfera superior (ionosfera inferior),
conduzidas pelas próprias linhas de força posicionadas verticalmente à superfície da
Terra. A ionosfera, por ser eletricamente condutora, é utilizada na radiocomunicação.
Quando esta parte da atmosfera é invadida por um fluxo de radiação solar mais intenso
(tempestades magnéticas) pode provocar interrupções ou interferências na comunicação
de rádio. Uma tempestade magnética ocorre em geral um dia após o aparecimento das
chamas solares (grandes emissões luminosas na região mais externa do Sol). Um dos
fenômenos luminosos mais intensos e fascinantes no céu, denominado de aurora boreal
e austral, observado nas regiões polares norte e sul respectivamente, pode ocorrer
durante uma tempestade magnética. A aurora aparece como uma cortina luminosa de
cor esverdeada ou rósea, com a borda inferior a cerca de 100 km de altura e a superior
em torno de 1.000 km (Fig. 3.17).
38
Figura 3.16- Representação esquemática da
magnetosfera e a ação do vento solar sobre Figura 3.17- Fotografia de uma aurora boreal.
as linhas de força do campo geomagnético.
39
As anomalias magnéticas são evidenciadas normalmente em cartas
geomagnéticas mais detalhadas que podem mostrar valores diferentes da média da
região (background), podendo ser acima (anomalia positiva) ou abaixo (anomalia
negativa) do background (Fig. 3.19). Anomalias positivas podem estar relacionadas a
concentrações de minerais magnéticos em rochas, como jazidas de ferro, ou correntes
elétricas fracas na crosta ou nos oceanos. A busca e interpretação de anomalias
magnéticas são a base do método magnético em prospecção geofísica.
A intensidade e a direção da
magnetização remanescente das rochas são
determinadas por instrumentos sensíveis
(magnetômetros) para tentar reconstruir o
passado magnético da Terra, campo de
estudo da geofísica denominado
paleomagnetismo. Com a determinação da
declinação e inclinação magnéticas
remanescentes de uma rocha pode-se
determinar a posição do polo magnético
correspondente (Fig. 3.21)
a b
42
4.1- INTRODUÇÃO: A teoria da deriva continental
Apesar da aparente quietude que normalmente sentimos, a Terra é um planeta
dinâmico. Se fosse fotografada do espaço a cada século, desde a sua formação, para
formar um filme, o que veríamos seria um planeta azul com seus continentes se
movimentando, ora colidindo, ora se afastando entre si, em uma espécie de dança dos
continentes. As ideias de que os continentes nem sempre estiveram onde estão
nasceram quando surgiram os primeiros mapas das linhas das costas atlânticas da
América do Sul e África. Em 1.620, o filósofo inglês Francis Bacon foi o pioneiro em
considerar a hipótese de que a América do Sul e África estiveram unidas no passado,
com base no quase perfeito encaixe entre suas linhas de costa.
No início do século 20, o mundo científico foi surpreendido pelas ideias sobre a
movimentação dos continentes, apresentadas independentemente pelo geólogo
americano Frank. B. Taylor, em 1908, e pelo meteorologista alemão Alfred L. Wegner,
em 1912. Ideias semelhantes já tinham sido defendidas anteriormente por outros
cientistas, como Franklin Coxworthy (entre 1848 e 1890), Roberto Mantovani (entre 1889
e 1909) e William Henry Pickering (1907). Entretanto, foi Alfred Wegner quem
estabeleceu, com bases mais científicas, a teoria da deriva continental, segundo a qual
todos os continentes estiveram unidos no passado, formando um único supercontinente,
denominado de Pangeia (Pan significa todo e Geia Terra, em grego). Poucas ideias no
meio científico foram tão fantásticas e impactantes como essa. De acordo com a teoria
de Wegner, a fragmentação da Pangeia começou por volta de 220 milhões de anos (Ma)
atrás, no período Triássico, quando a Terra era habitada por dinossauros, e teria
prosseguido até o presente tempo. A Pangeia teria iniciado sua fragmentação dividindo-
se em dois continentes, a Laurásia, no hemisfério norte, e a Gondwana, no hemisfério
sul, que ficaram separados pelo mar de Tethys (Fig. 4.1).
43
Figura 4.2 - Correlações geológicas de
unidades litológicas e morfológicas antigas
(pré-separação da Pangeia) entre América do
Norte e Europa e entre América do Sul e
África, reconhecidas por Wegner.
a b
Figura 4.3- Distribuição atual das evidências geológicas de existência de geleiras há 300 Ma,
mostrando a direção de movimento das geleiras (setas), com base nas estrias (a). Ensaio de
como seria a distribuição das geleiras se os continentes estivessem unidos, mostrando que elas
estariam reunidas em uma calota polar no hemisfério sul (b).
Em 1915, Wegner reuniu todas as evidências que encontrou para justificar a teoria
da deriva continental em um livro denominado “A origem dos continentes e oceanos”.
Wegner influenciou muitos cientistas com a sua teoria, mas não conseguiu responder
questões fundamentais formuladas principalmente pelos geofísicos, como, por exemplo:
Que forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais? Como uma crosta
continental rígida deslizaria sobre outra crosta rígida, como a oceânica, sem que fossem
fragmentadas pelo atrito? Naquela época a astenosfera plástica, sob a crosta
continental, ainda não era conhecida, o que impediu Wegner de explicar e justificar
fisicamente sua teoria que não obteve respaldo de grande parte do meio científico. Após
a morte de Wegner, em 1930, a teoria da deriva continental caiu no esquecimento, só
sendo retomada na década de 1950, com novos dados sobre o fundo dos oceanos.
44
4.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS
Ao contrário do que muitos cientistas imaginavam, a chave para explicar a
dinâmica da Terra não se encontrava nas rochas continentais, mas sim no fundo dos
oceanos. Na década de 1940, devido as necessidades militares de localizar submarinos
durante a segunda guerra mundial, foram desenvolvidos equipamentos, como os
sonares, para mapear detalhadamente o relevo do fundo oceânico. Os mapas revelaram
um relevo muito acidentado, com cadeias de montanhas, fossas e fendas muito
profundas, bem diferente da planície monótona com alguns picos e planaltos isolados
que se imaginava para o fundo dos mares.
No final da década de 1940, pesquisadores das universidades de Columbia e
Princeton (EUA) iniciaram o trabalho de mapeamento do fundo do oceano Atlântico com
sonares mais sofisticados e coletas de amostras. A conclusão do trabalho, já na década
de 1950, revelou uma enorme cadeia de montanha submarina, denominada dorsal ou
cadeia meso-oceânica, que estende-se continuamente, ao longo da parte central do
oceano Atlântico, por 84.000 Km, com largura média de 1.000 Km (Fig. 4.4). Foi
constatado que a cadeia meso-oceânica é uma zona de forte atividade sísmica e
vulcânica, com fluxo térmico mais elevado que nas rochas adjacentes da crosta
oceânica. No eixo central desta cadeia de montanha foram identificados vales, com 1 a
3 Km de profundidade, associados a sistemas de riftes, indicando um regime de forças
distensivas. A dorsal meso-oceânica divide a crosta submarina em duas partes (à leste
e à oeste da dorsal), praticamente acompanhando a direção das linhas de costas da
América (à oeste) e da África e Europa (à leste). Desse modo, o eixo central da dorsal
meso-oceânica poderia representar a ruptura ou a cicatriz produzida durante a
separação dos continentes (Fig. 4.4).
45
O advento dos métodos geocronológicos de datação absoluta, no final da década
de 1950, mostrou que, novamente, ao contrário do se imaginava, a crosta oceânica não
era constituída pelas rochas mais antigas do planeta, mas, ao contrário, é formada por
rochas muito jovens (até 200 Ma). A distribuição das idades revelou um padrão no qual
faixas de rochas de mesma idade situam-se simetricamente nos dois lados da dorsal
meso-oceânica, com as idades mais jovens mais próximas à dorsal (Fig. 4.5).
Figura 4.5- Distribuição das idades geocronológicas das rochas do fundo do oceano Atlântico
norte, mostrando as idades mais jovens próximas à dorsal meso-oceânica (linha vermelha).
46
a
b
Figura 4.6- Curvas de deriva polar para a América do Sul e África (a). Justaposição das duas
curvas indicando a divergência entre elas a partir de 200 milhões de anos atrás (b).
a b
47
continuamente pela chegada de novas erupções de lavas basálticas, formando um novo
assoalho oceânico que se expande com a continuidade do processo. Desse modo, a
força motriz da expansão do fundo oceânico e da deriva continental seriam as correntes
de convecção mantélicas.
Astenosfera
Figura 4.8- Correntes de convecção, de acordo com o modelo de Hess (1963), que atuam sob
as dorsais meso-oceânicas.
O modelo de Hess, portanto, oferecia uma explicação física aceitável tanto para a
expansão do assoalho oceânico como para a deriva continental. Nesse processo, os
continentes viajariam como passageiros, como parte de uma placa litosférica, como se
estivesse sendo levado por uma esteira rolante (a astenosfera). A geração contínua de
crosta oceânica deveria implicar na existência de outros locais onde deveria haver
consumo e destruição de crosta oceânica, caso contrário a Terra se expandiria
continuamente, o que sabemos não ser possível. Esses locais onde ocorre destruição
de crosta oceânica são denominados de zonas de subducção. Nessas zonas, a crosta
oceânica mais antiga mergulha de volta para o interior da Terra, por ser mais densa, até
atingir condições de temperatura e pressão suficientes para sofrer fusão e ser
incorporada novamente ao manto superior.
Os mecanismos de expansão do assoalho oceânico e da deriva continental fazem
parte do mesmo processo, cuja fundamentação passou a denominar-se teoria da
tectônica global ou tectônica de placas, pois o que se movimenta nesse mecanismo
são placas litosféricas ou tectônicas que são fragmentos ou pedaços da litosfera que se
movem sobre a astenosfera. A espessura da litosfera é muito variada, sendo, porém,
mais espessa sob os continentes (litosfera continental), variando entre 130 e 150 Km (30
a 50 Km de crosta + 100 Km de manto). A espessura da litosfera oceânica varia de 50 a
100 Km, maior parte pertencente ao manto (apenas 5 a 7 Km de crosta). Entretanto, a
espessura da parte mantélica da litosfera oceânica diminui progressivamente em direção
à dorsal, até praticamente desaparecer sob o eixo da dorsal, onde a espessura da
litosfera iguala-se à da crosta oceânica. A litosfera é compartimentada, por falhas e
fraturas profundas, em 13 placas tectônicas maiores e mais algumas placas menores,
cuja distribuição geográfica é mostrada na figura 4.9.
O limite inferior da litosfera é marcado pela astenosfera, uma parte do manto
superior, com espessura em torno de 150Km, que é plástica ou pouco rígida, onde as
temperaturas alcançam valores próximos do ponto de fusão das rochas. O limite superior
da astenosfera (com a litosfera) situa-se em torno de 100Km de profundidade, mas seu
limite inferior não é bem definido, admitindo-se situar-se em torno de 250Km, podendo
chegar até 350Km de profundidade. O estado plástico da astenosfera permite que a
litosfera, mais rígida, deslize sobre ela, tornando possível o deslocamento lateral das
placas tectônicas e a deriva continental. As placas tectônicas são principalmente de dois
tipos: oceânica, como a placa de Naska, e as placas constituídas por crosta continental
e oceânica, como as placas Sul-Americana, Africana e Norte Americana. A placa Pacífica
48
é quase totalmente oceânica, mas inclui uma pequena parte da Califórnia, onde fica a
cidade de Los Angeles (Fig. 4.9 e 4.10).
Figura 4.9- Distribuição geográfica das principais placas tectônicas da Terra. Os números
representam as velocidades de movimento entre as placas em cm/ano e as setas as direções
dos movimentos.
Os limites das placas tectônicas podem ser de três tipos, correspondendo a três
regimes tectônicos seguintes:
1) : caracterizados pelas dorsais meso-oceânicas, onde
predominam esforços distensivos que provocam afastamento entre as placas
tectônicas com limites divergentes e formação de nova crosta oceânica, como as
dorsais do Atlântico, Sudoeste Indiano e do Pacífico Leste (Fig. 4.9).
49
2) : onde predominam esforços compressivos que provocam a
colisão entre as placas convergentes, com a mais densa mergulhando sob a outra,
gerando uma zona de intenso magmatismo, denominada zona de subducção, com
fusão parcial da crosta subductada que passa a ser consumida. Por exemplo, as
zonas de subducção da placa Nazca sob a Sul-Americana e das placa Pacífica sob a
Norte-Americana, na costa oeste da América do Sul e do Norte (Fig. 4.9).
3) : onde as placas tectônicas se movimentam
lateralmente, uma em reação à outra, ao longo de falhas denominadas
transformantes, sem destruição ou geração de crosta. Por exemplo, a falha Santo
André na costa SW dos EUA, onda a placa Pacífica se desloca para norte em relação
à placa Norte-Americana (Fig. 4.9).
São nesses limites de placas onde se concentram as atividades geológicas mais
intensas do planeta, como terremotos, magmatismo e orogênese. Processos
magmáticos também ocorrem no interior das placas, mas em menor intensidade e
natureza diferente.
Existe considerável consenso no meio científico de que o motor que move as
placas tectônicas são as correntes de convecção da astenosfera, onde as temperaturas
estão próximas do ponto de fusão das rochas. Mas como essas correntes começam o
movimento? Elas têm força suficiente para movimentar placas litosféricas gigantescas?
Essas são questões mais complexas para responder. Entretanto, imagina-se que as
dorsais meso-oceânicas estão sobre anomalias térmicas da astenosfera, onde as rochas
atingem seus pontos de fusão, gerando magma que, por ser menos denso, ascende até
a superfície, enquanto o material mais afastado e mais frio (mais denso) tende a descer
para ocupar o lugar do magma que subiu, iniciando as correntes de convecção proposta
por Hess. Desse modo, as forças tectônicas que movimentam as placas litosféricas e
provocam a expansão do assoalho oceânico teriam sua origem nas correntes de
convecção da astenosfera. A litosfera e a astenosfera estão intrinsicamente ligadas, ou
seja, quando a astenosfera se move a litosfera também se move.
As correntes de convecção teriam força suficiente para movimentar as placas
tectônicas? A maioria dos cientistas acredita que as correntes de convecção são apenas
um dos mecanismos (a força motriz) que, em conjunto com outros, movimentam as
placas. As placas oceânicas tornam-se mais frias e mais espessas à medida que se
afastam da dorsal meso-oceânica onde foram criadas, modelando os limites entre a
litosfera e astenosfera como superfícies inclinadas. Mesmo com uma baixa inclinação
dessa superfície, o próprio peso da placa tectônica mais espessa ajuda a movimentar a
placa que acaba inclinando-se abruptamente e mergulhando sob uma crosta continental
ou mesmo sob outra crosta oceânica menos densa, puxando o resto da placa que retorna
ao manto, nas zonas de subducção (Fig. 4.11).
a
b
Figura 4.11- Correntes de convecção na astenosfera (a). Criação de crosta oceânica na dorsal
meso-oceânica que torna-se mais espessa a medida que se afasta da dorsal até mergulhar
para o interior do manto, puxando o resto da placa tectônica (b).
50
Como o material da astenosfera é muito viscoso (1018 vezes mais viscoso que a
água), o movimento é muito lento, 2 a 3 centímetros, em média, por ano, embora haja
diferenças consideráveis entre placas diferentes. Normalmente quanto maior a
porcentagem de crosta continental nas placas menor será suas velocidades. Por
exemplo, as placas Sul-Americana e Africana, com muita crosta continental, são mais
lentas que a placa Pacífica, quase que totalmente oceânica. Além disso, como as placas
não são planas e sim curvas (convexas), elas se movem sobre uma superfície esférica
em torno de um eixo de rotação e de um polo de rotação (interseção entre o eixo e a
superfície terrestre). Desse modo, para uma determinada velocidade angular da placa,
as velocidades de diferentes pontos sobre a placa aumentam à medida que se
distanciam do polo onde a velocidade é zero, pois o polo gira, mas não percorre nenhuma
distância (Fig. 4.12). Nem todas as placas necessariamente se movem em um
determinado tempo. A placa Africana parece estar estacionária atualmente por estar
delimitada quase inteiramente por limites divergentes de placas que se afastam a
velocidades similares.
51
a b
c d
Figura 4.13- Formação do arquipélago de ilhas vulcânicas do Havaí, por ação de um mesmo
hot spot, a partir de 5,6 Ma. A primeira ilha (mais antiga) se forma, com o hot spot fixo e a placa
em movimento (a). Depois de 2-3 Ma, a segunda ilha se forma em outro lugar (b), assim como
a terceira ilha, depois de mais 1 Ma (c). O mapa do arquipélago mostra o alinhamento das ilhas
e as idades, indicando o movimento da placa, da ilha mais jovem para a mais antiga.
52
a
Um dos melhores exemplos atuais de junção tríplice ocorre entre a Arábia Saudita
e o noroeste da África, onde o golfo de Aden e o mar Vermelho correspondem aos dois
riftes ativos e o rift do Leste Africano que se estende para o interior do continente africano
é o rift abortado (Fig. 4.17 a). A reconstituição da Pangeia antes de sua fragmentação
também mostra um grande sistema de junções tríplices entre América do Norte, África e
América do Sul, onde as bordas leste da América do Sul e oeste da África seriam os rifts
ativos que evoluíram para formar o oceano Atlântico, e o rio Niger e o rio Amazonas
seriam riftes abortados que se estendem para o interior dos continentes africano e sul-
americano respectivamente (Fig. 4.17 b).
53
a b
Figura 4.17- Junção tríplice
do golfo de Aden, mar
Vermelho e rift do Leste
Africano (a). Junção tríplice
entre América do Norte,
África e América do Sul no
início da fragmentação da
Pangeia (b).
a Fossa
Arco
Bacia trás-arco
b
Figura 4.18- Colisão entre duas placas oceânicas, mostrando a zona de subducção, com a
fossa, o arco de ilhas vulcânicas formadas pela fusão da placa oceânica subductada e a bacia
trás-arco (a). Zona de subducção, com a fossa, o arco de ilhas e a bacia trás-arco entre o arco
e o continente (b).
54
As ilhas japonesas são exemplos de um sistema de arco de ilhas em um regime
de subducção entre duas placas oceânicas, a placa Pacífica (subductada) e a placa
Eurasiática (Fig. 4.19 a). O conjunto de ilhas exibe forma arqueada, com a concavidade
voltada para a bacia trás-arco, situada entre o arco de ilhas e o continente. O mar do
Japão é a bacia trás-arco do sistema de arco de ilhas do Japão, (Fig. 4.19 b).
a b
Mar do
Japão
Figura 4.19- Arco de ilhas do Japão, formado pela subducção da placa Pacífica sob a placa
Eurasiana (a). Mapa das ilhas Japonesas em forma de arco e o mar do Japão (b).
Em uma colisão entre uma placa continental e outra oceânica ocorrerá a
subducção desta última sob a placa continental, pelo fato de a placa oceânica ser mais
densa que a continental (Fig. 4.20a, b). Este tipo de subducção produz intensa atividade
magmática, tanto vulcânica como plutônica, formando um arco magmático na borda do
continente, constituído por rochas vulcânicas andesíticas e dacíticas, além de rochas
plutônicas, principalmente de composição diorítica e granodiorítica. Esse processo de
subducção também provoca deformação e metamorfismo tanto nas rochas continentais
preexistentes como nas rochas do arco magmático. As feições fisiográficas mais
importantes geradas nesse processo são as grandes cordilheiras de montanhas
dobradas, como os Andes e as Montanhas Rochosas na costa ocidental da América do
Sul e América do Norte, respectivamente, formadas pelo espessamento crustal
provocado pelo magmatismo do arco magmático e pelo enrugamento da borda da placa
continental causado pela deformação (Fig. 4.20 b). Margens continentais nessas
condições, com arco magmático formado por uma subducção oceânica, são
denominadas .
Margem continental ativa Cordilheira dos Andes
a b
Figura 4.20- Colisão entre uma placa oceânica e outra continental, mostrando a subducção da
primeira e sua fusão para formar os arcos magmáticos na margem continental ativa (a). Arco
magmático e cordilheira dos Andes na margem continental oeste ativa da América do Sul,
formada pela subducção da placa Nazca sob a placa Sul-Americana (b).
Crosta oceânica
Crosta continental
Litosfera
Litosfera
Astenosfera
Figura 4.21- Principais feições geológicas de uma colisão entre uma crosta oceânica e outra
continental, mostrando a fossa, prisma de acreção, arco magmático, bacia antearco (ou pós-
arco) e bacia retroarco (ou trás-arco), situados na placa continental.
c
d
Em uma colisão entre duas placas continentais, com margens continentais ativas,
uma das duas (normalmente a menos densa) cavalga sobre a outra em subducção,
provocando um espessamento crustal e enrugamento da placa cavalgante, formando
uma cordilheira de montanha. O melhor exemplo desse tipo de colisão é a colisão das
placas Indiana (subductada) e Eurasiana que cavalgou sobre a Indiana, formando a
cordilheira do Himalaia (a mais alta do mundo) e o planalto do Tibete (Fig. 4.23). Essa
colisão iniciou-se há 70 Ma atrás e continua até hoje.
Figura 4.23- Colisão entre a placa indiana (subductada) e a placa Eurasiana que cavalgou sobre
a indiana, formando a cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete.
57
após a placa oceânica ser totalmente consumida pela subducção na margem continental
ativa (Fig. 4.24 a, b).
a
Os dois continentes colidem ao longo de um
Uma placa continental de margem passiva
converge para outra de margem ativa. b complexo sistema de falhas de empurrão.
co nti nental
m
a l
Pa n enta
Margem
con arge
Ativa
ssiv
M
ti
Figura 4.24- Convergência de duas margens continentais opostas, uma ativa com subducção
oceano-continente, e outra passiva (a), que colidem no estágio final, com subducção da crosta
continental passiva e formação de uma cadeia de montanha na crosta continental ativa (b).
Figura 4.25- Vista para o norte da falha transformante de Santo André na planície de Carrizo,
na Califórnia central, com movimento para norte da placa Pacífica, à esquerda, em relação à
placa Norte-Americana, à direita. Notar o deslocamento dos canais dos riachos.
58
Cada placa litosférica é limitada por uma combinação de limites convergentes,
divergentes e transformantes. Por exemplo, a placa Nazca, no oceano Pacífico, tem três
lados com regimes divergentes e dorsais meso-oceânicas deslocadas por falhas
transformantes, e um limite convergente com a zona de subducção Peru-Chile (Fig.
4.26). A placa Norte-Americana é limitada à leste pela dorsal meso-atlântica (zona de
divergência), à oeste pela falha de Santo André e outros limites transformantes e, à
noroeste, por zonas de subducção (limites convergentes) e limites transformantes que
se estendem desde o estado de Oregon (EUA) até a cadeia dos Aleutas (Fig. 4.26).
Figura 4.26- Mosaico atual das placas litosféricas relacionadas com o continente americano,
mostrando os tipos de limites em cada placa: convergente (azul), divergente (vermelho) e
transformante (amarelo). As setas mostram as direções de movimento das placas e os números
as velocidades relativas em mm/ano.
Figura 4.27- Ciclo de Wilson: Inicia com o rifteamento de um continente . À medida que os
esforços distensivos progridem e o oceano se abre, as margens passivas resfriam-se com
acumulação de sedimentos . Inversão dos esforços e início de uma convergência, tornando
uma das margens continentais (ou ambas) ativas com subducção e arco magmático .
Acreção de sedimentos da placa subductada ao continente e fim da expansão da crosta
oceânica . Colisão continental, com subducção do continente com margem passiva, orogenia
e formação de cadeia de montanha que espessa a crosta, formando um novo supercontinente
. Erosão do novo continente, adelgaçando e enfraquecendo a crosta continental que pode
ser rompida novamente, começando um novo ciclo .
60
Os dados geológicos disponíveis, sobretudo geocronológicos, paleomagnéticos e
geotectônicos, indicam que a fragmentação da Pangeia, há 200 milhões de anos atrás,
um processo da grande importância na história geológica de nosso planeta, corresponde
apenas a fragmentação do último supercontinente importante que se formou na Terra e
que resultou na configuração atual dos continentes. Antes da Pangeia, as massas
continentais formavam blocos de dimensões e formatos diferentes dos atuais. Os
primeiros blocos continentais formaram-se em torno de 3,96 bilhões de anos (Ga) atrás
e foram crescendo, por meio de orogêneses, com formação de nova crosta continental,
até as dimensões atuais. Há 550 milhões de anos, cerca de 95% das áreas continentais
atuais já estavam formadas.
Há 2,0 Ga (Paleoproterozoico), as massas continentais estavam reunidas em três
microcontinentes, Ártica, Antártica e Ur, com partes do que seria a futura América do Sul
fazendo parte da Antártica. Entre 2,0 e 1,3 Ga, estes três microcontinentes se
fragmentaram, por meio de rifteamento, com os fragmentos colidindo entre si para gerar
blocos continentais maiores. Entre 1,3 e 1,1 Ga atrás (Mesoproterozoico), os principais
blocos continentais se juntaram para formar o primeiro supercontinente, denominado
Rodínia, envolvido pelo oceano Miróvia, palavras de origem russa que significam,
respectivamente, mãe-pátria e paz (Fig. 3.28 a). A América do Sul fazia parte dos blocos
Amazônia, Rio da Prata e São Francisco do supercontinente Rodínia. A partir de 750 Ma
atrás, o continente Rodínia começou a se fragmentar (Fig. 4.28 b), formando a
Gondwana (que inclui a América do Sul e África) e outros três continentes menores,
Laurêntia, Báltica e Sibéria, em torno de 458 Ma, no Ordoviciano Médio (Fig. 4.28 c). A
partir de 390 Ma (Devoniano Inferior), começa um processo de aglutinação das massas
continentais (Fig. 4.28 d) que se completa com a formação do supercontinente Pangeia
há 237 Ma (Triássico Inferior).
A fragmentação da Pangeia começou há 200 Ma, no Jurássico Inferior (Fig.
4.29 a). Em torno de 150 Ma atrás (Jurássico Superior), o oceano Atlântico começou a se
formar, o oceano Tethys contraiu-se e os continentes do norte (Laurásia) já estavam
separados e, no sul, a Gondwana começava a se dividir entre Índia + Austrália +
Antártida e África + América do Sul (Fig. 4.29 b). Há cerca de 66 Ma (Cretáceo
Superior/Paleoceno Inferior), o Atlântico sul abriu-se, a contração do oceano Tethys
progrediu de modo a transformá-lo em um mar intracontinental (Mediterrâneo), a Índia
começou a derivar para norte em direção a Ásia e, após 135 Ma de deriva, os continentes
começam a adquirir a configuração atual (Fig. 4.29 c). O ponto vermelho marca o local
do impacto do asteroide que teria causado a extinção dos dinossauros e muitas formas
de vida na Terra. A configuração atual dos continentes ocorreu nos últimos 65 Ma: a Índia
colidiu com a Ásia para formar a cordilheira do Himalaia e a Austrália separou-se da
Antártida (Fig. 4.29 d). Nos próximos 50 Ma, o oceano Atlântico deve ampliar-se e o mar
Mediterrâneo deve fechar-se, por ação de uma convergência com subducção da placa
Eurasiática sob a placa Africana, formando uma cadeia de montanha (Fig. 4.29 e).
61
a
62
a
e
d
63
4.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS
Os depósitos minerais são concentrações anômalas de metais ou minerais de
minério nas rochas da crosta terrestre que ocorrem em regiões onde os processos
geológicos atuantes viabilizaram tal concentração dos metais. A tectônica de placas
representa o controle regional de maior amplitude na distribuição dos depósitos minerais
na crosta terrestre (Fig. 4.30). Os depósitos minerais se concentram preferentemente
nas regiões tectonicamente ativas, onde normalmente há incidência de processos
geológicos (magmáticos, metamórficos e sedimentares) que disponibilizam metais e
favorecem a sua concentração, tais como bordas das placas convergentes (zonas de
subducção), com depósitos porfiríticos de Cu-Mo, epitermais de Au-Ag e sulfeto maciço
vulcanogênico (SMV) de Cu-Pb-Zn, ou bordas de placas divergentes (cadeias meso-
oceânicas), com depósitos de Fe-Mn e SMV de Cu-Pb-Zn. Nas regiões cratônicas e no
interior das placas tectônicas também pode haver geração de depósitos minerais em
áreas onde houve atividade magmática anorogênica (plumas), com depósitos de Sn-W
em granitos, Cr-Pt e Ni-Cu em complexos máfico-ultramáficos acamadados, ou em áreas
onde houve atividade tectônica antes da estabilização do craton, tais como em rifts com
depósitos de Nb-Ta-TR-Zr-Ti em carbonatitos, diamantes em kimberlitos, em bordas de
cratons, e greenstone belts com depósitos auríferos, Ni-Cu em rochas ultramáficas e
SMV de Cu-Zn.
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