Drogas Vasoativas (Capítulo de Livro)
Drogas Vasoativas (Capítulo de Livro)
Drogas Vasoativas (Capítulo de Livro)
indicação clínica da
noradrenalina e uma do
nitroprussiato de sódio?
6.1 INTRODUÇÃO
As drogas vasoativas são empregadas no manuseio de várias
condições com instabilidade hemodinâmica. É fundamental para
o intensivista o conhecimento pleno de suas propriedades
farmacológicas, suas indicações principais e seus efeitos
benéficos e adversos. Essas drogas devem ser prescritas como
adjuvantes a outras medidas terapêuticas, como a reposição
volêmica, na tentativa de restaurar o estado hemodinâmico
normal do paciente. A ação dessas potentes drogas causa
mudanças drásticas na pressão arterial e na resistência periférica,
no débito cardíaco e na oferta e no consumo de oxigênio, havendo
a necessidade de rigorosa monitorização clínico-laboratorial e,
não raro, de monitorização hemodinâmica invasiva para aferir tais
modificações e ajustar de forma mais adequada suas doses. As
drogas vasoativas mais usadas em terapia intensiva são as
aminas simpatomiméticas (catecolaminas), os cardiotônicos não
digitálicos e os vasodilatadores arteriovenosos.
6.2 AMINAS SIMPATOMIMÉTICAS
(CATECOLAMINAS)
São drogas vasoativas com ação mediada por receptores
adrenérgicos e dopaminérgicos, utilizadas para tratar situações
de hipoperfusão/choque em indivíduos já ressuscitados
volemicamente. São utilizadas como vasopressores e inotrópicos
positivos.
Os receptores adrenérgicos são divididos em alfa-1, alfa-2, beta-1
e beta-2 (Figura 6.1), e os dopaminérgicos, em DA-1-like e DA-2-
like. Os receptores alfa são localizados em nível vascular e levam
a vasoconstrição tanto arterial quanto venosa. Os receptores
beta, por sua vez, levam a vasodilatação e aumentam o
inotropismo e o cronotropismo cardíacos. Os receptores
dopaminérgicos localizam-se nas vasculaturas renal,
mesentérica, coronariana e cerebral, e sua estimulação promove
vasodilatação com aumento do fluxo sanguíneo nessas áreas.
Figura 6.1 - Receptores adrenérgicos e suas respectivas ações no organismo
Fonte: elaborado pelo autor.
6.2.1 Dopamina
A dopamina é uma catecolamina de ocorrência natural no
organismo, precursora da noradrenalina e da adrenalina nas
terminações nervosas, que atua em receptores dopaminérgicos,
beta e alfa-adrenérgicos. Seus efeitos hemodinâmicos são dose-
dependentes (Quadro 6.1). Doses abaixo de 5 µg/kg/min têm ação
predominantemente dopaminérgica; doses entre 5 e 10
µg/kg/min têm ação, na maioria das vezes, beta-adrenérgica,
levando a aumento do débito cardíaco e do retorno venoso, com
queda na resistência vascular periférica; e doses acima de 10
µg/kg/min têm ação alfa-adrenérgica, causando aumento na
resistência periférica total e na pressão arterial, com diminuição
dos fluxos sanguíneos renal e mesentérico. Suas principais
indicações são os choques cardiogênico e séptico. No entanto,
em virtude da menor incidência de efeitos colaterais como
arritmias, esta droga está em desuso. Entre os pacientes com
choque séptico, aumenta a pressão arterial média por elevação
do débito cardíaco e da frequência cardíaca, com poucos efeitos
na resistência vascular sistêmica. Além disso, há aumento do
shunt pulmonar, diminuindo a resistência vascular pulmonar. Um
dos principais efeitos colaterais é a indução ou o agravamento de
arritmias cardíacas, especialmente na presença de hipoxemia e
hipopotassemia. Assim, nos casos de choque séptico, a
noradrenalina passa a ser o vasopressor de escolha.
A dopamina está disponível em ampolas com 50 mg em 10 mL,
com diluição sugerida de 5 ampolas em 200 mL de soro glicosado
(1 mg/mL de dopamina, em uma pessoa de 60 kg, 18 mL/h,
corresponde a 5 mg/kg/min). Caso se opte por diluições mais
concentradas para economia de volume, podem-se diluir 10
ampolas em 150 mL de soro glicosado: 2 mg/mL de solução.
Quadro 6.1 - Ações da dopamina
6.2.2 Dobutamina
É uma catecolamina sintética com menor efeito arritmogênico do
que a dopamina e ações alfa-1 modestas, porém com efeitos
beta-adrenérgicos potentes (beta-1 e beta-2) e cuja ação não
depende da liberação de noradrenalina. No miocárdio, atua nos
receptores beta-1 e, na parede vascular, sobre os beta-2,
causando vasodilatação. Seus efeitos são dose-dependentes.
Doses entre 5 e 15 µg/kg/min promovem aumento da
contratilidade miocárdica e do débito cardíaco, sem aumento
significativo do cronotropismo ou alterações da resistência
vascular pulmonar. Apresenta, ainda, ação broncodilatadora e
vasodilatação em território responsivo ao estímulo beta-2
(musculatura esquelética) e parece favorecer a oxigenação
tecidual em sépticos, tópico ainda controverso na literatura.
Doses acima de 30 µg/kg/min geram arritmias e aumentam a
pressão arterial. Devemos destacar que a droga pode ocasionar
diminuição da resistência arterial periférica, necessitando, muitas
vezes, ser associada a outros vasopressores, especialmente em
pacientes com estados de choque distributivo. Também, em
hipovolêmicos, a dobutamina pode causar hipotensão e
taquicardia. Não deve ser prescrita com o objetivo de elevar a
pressão arterial em casos de hipotensão severa. Suas principais
indicações concentram-se nas síndromes de baixo débito por
falência miocárdica, no pós-operatório de cirurgias cardíacas e no
pré-transplante cardíaco. Uma sugestão de administração é diluir
1 ampola em 230 mL de soro glicosado (em um indivíduo de 60
kg, 1 mg/mL de dobutamina, 18 mL/h, corresponde a 5
mg/kg/min). Pode-se lançar mão de soluções mais concentradas
para economia de volume (por exemplo, duas ampolas em 210 mL
de soro glicosado ou quatro ampolas em 170 mL correspondem,
respectivamente, a 2 e 4 mg/mL de solução de dobutamina).
#importante
A dobutamina é indicada nas condições
de choque cardiogênico ou séptico com
depressão miocárdica.
6.2.3 Noradrenalina
Trata-se de uma catecolamina de ocorrência natural no
organismo, sendo um neurotransmissor simpático e precursor
endógeno da adrenalina, com efeitos beta-1, alfa-1 e alfa-2-
adrenérgicos. Suas doses habituais de uso situam-se entre 0,05 e
2 µg/kg/min. Nas doses baixas, há predomínio dos efeitos beta-1-
adrenérgicos. Doses maiores atuam nos receptores alfa-1 e beta-
1, promovendo aumento da resistência arterial sistêmica total e
regional e aumento na contratilidade miocárdica, ocasionando o
aumento da pressão arterial e o prejuízo das perfusões renal,
mesentérica e pulmonar.
A noradrenalina é indicada, principalmente, em situações de
choque distributivo, como o choque séptico em fase
hiperdinâmica. Também é útil no choque cardiogênico e,
transitoriamente, em pacientes severamente hipovolêmicos e
hipotensos, até que se iniciem as manobras de ressuscitação
volêmica.
A sua associação a dobutamina pode ser útil para aumentar o
débito cardíaco. Deve ser administrada por via intravenosa em
infusão contínua (idealmente, por meio de bomba de infusão) nas
doses de 0,05 a 2 mg/kg/min, entretanto não há descrição de
dose máxima de infusão. Sugestão de diluição: 4 ampolas (16 mg)
em 250 mL de soro glicosado; cada mL/h corresponde a,
aproximadamente, 1 µg/min. Em situações de emergência, pode
ser infundida por via periférica de forma segura; a troca pela via
central de infusão deve ser feita assim que possível.
Quadro 6.3 - Ações da noradrenalina
#importante
A noradrenalina é indicada
principalmente nas condições de choque
distributivo e é uma precursora da
adrenalina. Pode ser usada em outras
condições de hipotensão, como no
choque distributivo, cardiogênico ou
hipovolêmico.
6.2.4 Adrenalina
Também é uma catecolamina de ocorrência natural no organismo,
com potentes efeitos beta e alfa-adrenérgicos dose-
dependentes. Hemodinamicamente, nas doses habitualmente
utilizadas, que variam de 0,05 a 2 µg/kg/ min, observa-se
consistente aumento do débito cardíaco e da pressão arterial.
Não é indicada rotineiramente na sepse por reduzir o fluxo
esplâncnico, refletido pela queda do pH intramucoso. Determina
aumento do índice cardíaco, da resistência vascular sistêmica e
da oferta de oxigênio e pode ser administrada de maneira
intravenosa sob infusão contínua (em solução por meio de bomba
de infusão) nas situações de choque com hipotensão grave não
responsiva à expansão do intravascular ou as demais aminas
vasoativas. No tratamento emergencial de uma reação
anafilática, não se deve retardar a administração de adrenalina,
oxigênio e volume. A via de administração deve ser intramuscular,
o que proporciona a sua absorção mais rápida e minimiza os
efeitos colaterais.
Pode-se usar solução para nebulização, nos casos de
broncoespasmo severo. A via intravenosa em bolus de 1 mg é
utilizada nos casos de parada cardiorrespiratória a cada 3 a 5
minutos, até o retorno da atividade contrátil cardíaca efetiva.
#importante
A infusão de adrenalina pode ser
utilizada em associação a outros
vasopressores nas situações de choque
refratário. Também pode substituir a
associação de dobutamina e
noradrenalina.
6.2.5 Isoproterenol
Trata-se de uma catecolamina sintética com potentes efeitos
beta-adrenérgicos, elevando o débito cardíaco e o consumo de
oxigênio miocárdico (por aumento da contratilidade e da
frequência cardíaca), além da redução do tônus muscular das
vasculaturas sistêmica e pulmonar, levando a queda da pressão
diastólica arterial e distúrbios de ventilação/perfusão, podendo
causar hipoxemia. Sua principal indicação é a bradicardia com
repercussão hemodinâmica, até que se realize o implante de
marca-passo cardíaco, sendo também usada no pós-operatório
de transplante cardíaco para aumento na frequência cardíaca,
condição em que o débito cardíaco é dependente desta e não
existe inervação normal do enxerto. Pode ser utilizada ainda em
situações de normovolemia com débito cardíaco baixo associado
a bradicardia e hipertensão arterial pulmonar. Suas doses de uso
podem variar de 0,05 a 2 µg/kg/min, em infusão intravenosa
contínua, e seus principais efeitos colaterais incluem hipotensão
(especialmente entre aqueles com volemia inadequadamente
corrigida) e taquiarritmias.
6.2.6 Vasopressina
A vasopressina sintética é semelhante à vasopressina secretada
pela porção posterior da hipófise (hormônio antidiurético). Tem
ação direta sobre a musculatura lisa arteriolar e pode ser utilizada
na dose de 20 unidades intravenosas em bolus na parada
cardiorrespiratória (em desuso). No choque séptico refratário, é
utilizada como droga neoadjuvante na dose de 0,01 a 0,04 U/min
por ação direta em musculatura arteriolar independente das vias
adrenérgicas.
#importante
Mais importante do que o vasopressor
escolhido, a garantia da meta pressórica
associada a melhor perfusão sistêmica é
o principal alvo da terapêutica com
vasopressores.
#importante
A nitroglicerina tem ação
preferencialmente venodilatadora,
enquanto o nitroprussiato de sódio tem
ação preferencialmente de vasodilatação
arteriolar.