#2 Um CEO Inesquecivel (Mansao Ero - Laurih Dias
#2 Um CEO Inesquecivel (Mansao Ero - Laurih Dias
#2 Um CEO Inesquecivel (Mansao Ero - Laurih Dias
Mansão Eros 02
UM CEO INESQUECÍVEL
1ª Edição
Equipe Editorial:
Capa:
HB Designe Editorial
Diagramação:
Laurih Dias
Revisão Ortográfica:
Luhana Andreoli
°°°
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Índice
SINOPSE
PRÓLOGO
- 01 -
- 02 -
- 03 -
- 04 -
- 05 -
- 06 -
- 07 -
- 08 -
- 09 -
- 10 -
- 11 -
- 12 -
- 13 -
- 14 -
- 15 -
- 16 -
- 17 -
- 18 -
- 19 -
- 20 -
- 21-
- 22 -
- 23 -
- 24 -
- 25 -
- 26 -
- 27 -
- 28 -
- 29 -
- 30 -
- EPÍLOGO -
AGRADECIMENTOS
PRÓXIMO LANÇAMENTO:
UM CASAMENTO PARA O BILIONÁRIO
OUTROS LIVROS DA AUTORA
UM HERDEIRO PARA O MAGNATA
Série Felizes para Sempre
Desvenda-me
Um CEO em meu Destino
SINOPSE
Um CEO amargurado...
Uma mulher magoada...
E uma menininha fofa que pode curar dois corações feridos...
momentos em que estive com ela em meus braços não fossem tão
Letícia
Minha cabeça dói. Enquanto o automóvel se desloca, eu fecho os
olhos, uma tentava de aliviar a dor.
— Chegamos, senhora — informa o motorista da van, responsável
por levar alguns dos funcionários para casa após as festas.
Eu abro os olhos e reconheço o prédio do meu irmão. Sorrio e olho
para o motorista.
— Obrigada. — Saio da van e entro no prédio.
O porteiro me cumprimenta, e eu aceno em resposta. Entro no
elevador e aperto o botão, então me encosto ao espelho, jogando a cabeça
para trás, e fecho os olhos enquanto o elevador sobe. Meu coração parece
sangrar dentro do peito, é como se minha alma estivesse adoecida. Eu
queria arrancar de dentro de mim toda a tristeza e dor que sinto, pois não
posso me dar ao luxo de ficar me lamentando.
Eu preciso focar em ofertar à minha filha, a razão da minha vida,
tudo aquilo que ela necessita. Dou um sorriso triste ao me lembrar da minha
pequena Geovanna. Ela é a minha luz. Eu sei que tudo é muito mais difícil
quando se tem uma criança que depende totalmente de você, mas ela me dá
forças para seguir em frente. E, devo admitir, muitas vezes eu pareço
precisar mais dela do que ela de mim.
O elevador apita e eu saio, tirando a chave da bolsa. Abro a porta do
apartamento bem devagar, pois certamente todos estão dormindo. Olho pela
sala, o dia praticamente amanhece. Tiro os sapatos, tranco a porta e vou
para a cozinha beber um copo d’água.
— Bom dia, minha querida! — Escuto a voz de Leandro, meu
irmão. Olho para ele, que tem cara de sono. Ele estreita o olhar. — Jesus,
Letícia! Você parece péssima. Aconteceu alguma coisa no trabalho?
Bebo minha água, coloco o copo dentro da pia e cruzo os braços,
encostando-me à bancada.
— Estou com dor de cabeça — respondo em voz baixa e olho para
meus pés. — Eu o vi — sussurro.
— O quê? Não entendi — diz, confuso.
Eu suspiro e olho para o meu irmão.
— Eu vi o... o pai da Geovanna — revelo num fio de voz.
Leandro arregala os olhos, agora parece totalmente acordado. Ele
coloca uma mão no coração.
— E como foi isso? Vocês se falaram?
Sacudo a cabeça em negativa.
— Não. Ele nem me viu. Tratei de ficar longe dele — conto, os
ombros caídos.
Meu irmão dá um sorriso triste e se aproxima, então acaricia meu
rosto.
— Ele era um dos convidados da Mansão? — Eu aceno e, apesar do
meu esforço, sinto uma lágrima passar pelo meu rosto. Leandro me abraça,
e eu encosto a cabeça em seu peito. — Minha querida, eu odeio te ver sofrer
dessa maneira. Tenho vontade de socar a cara dele por ser tão cabeça-dura
com você.
Eu tento rir. Chega a ser engraçada a imagem do Leandro socando a
cara do Heitor. No mínimo, ele teria que providenciar uma escada para
conseguir chegar tão perto.
— Eu não imaginei que vê-lo seria tão doloroso, ainda mais sabendo
o que faria naquela festa — confesso.
Deixo que Leandro me console. Foram tantas as vezes que meu
irmão me consolou que eu já perdi as contas.
— O que houve? Alguém morreu? — Aluísio, o marido de meu
irmão, entra na cozinha. Apesar de eu não estar o enxergando, posso
imaginar sua fisionomia melodramática.
Leandro, ainda me mantendo em seus braços, vira-se para ele. Então
vejo Aluísio, preocupado e com a mão no coração, observando a nós dois.
— Pior do que isso, Alu — diz Leandro, usando o apelido carinhoso
pelo qual trata seu amado. — Nossa Letícia viu o sujeito — conta, e como
Aluísio não entende, ele explica.
Eu me afasto do meu irmão e respiro fundo.
— Chega! Eu não posso ficar assim. Algo do tipo poderia acontecer
a qualquer momento. Ainda bem que eu não frequento os mesmos lugares
que ele, e com certeza não o encontrarei novamente — declaro.
Os dois me olham.
— Querida, se ele frequenta as festas da Mansão, isso pode
acontecer de novo, afinal, você trabalha lá — aponta Aluísio.
— Pensei exatamente isso — completa Leandro.
Dou um sorriso sem vontade e coloco as mãos na cintura, olhando
de um para o outro.
— Eu não trabalho no salão principal, e sim na cozinha, onde são
preparados os aperitivos. Eu só o vi hoje porque saí do meu posto, mas isso
não vai acontecer de novo — asseguro, porque eu não quero encontrá-lo de
modo algum. — E, como já disse antes, eu não vou trabalhar na Mansão por
muito tempo, estou à procura de outro emprego.
Leandro acena.
— Mas lá paga bem, e você tem como ficar com a Geovanna, já que
só precisa trabalhar uma vez no mês e comparecer às reuniões que o
mafioso, dono do puteiro, faz questão de ter com os funcionários — conclui
Aluísio.
Eu começo a rir.
— Ele não é mafioso, eu só disse que ele se parece com um. E eu
não trabalho num puteiro — digo e dou um tapa em seu braço.
— Para mim, aquilo não passa de puteiro de grã-fino — contesta
Leandro.
Eu sei que os dois estão apenas tentando me fazer rir, e conseguem.
Balanço a cabeça e olho para eles.
— Obrigada por me acolherem e tornarem minha vida menos tensa
— declaro, ficando séria, e ambos têm os olhos brilhantes. Pego a mão de
Leandro e faço o mesmo com Aluísio. — Se não fossem vocês, eu não sei
como seria a minha vida com Geovanna. E eu tenho ciência do quanto nós
duas afetamos a rotina de vocês.
— Pare de falar bobagens, vocês só nos trazem alegria! — Leandro
fala com voz quase embargada.
— Vocês são parte de nós, minha querida — Aluísio diz e beija
minha testa.
Eu arranho a garganta.
— Vamos parar com esta conversa emotiva — sugiro, dando um
passo para trás. — Agora, me digam, a Geovanna deu muito trabalho depois
que eu saí? — questiono, pois minha filha estava elétrica na noite passada.
Aluísio ri, é nítido como ele adora a minha pequena, e isso me dá
um grande alívio.
— Nós brincamos por uma hora e logo ela dormiu, te falamos
quando ligou ontem à noite — Leandro aponta.
— E você, por que não aproveita para descansar? Ela deve dormir
por mais umas horinhas — recomenda meu cunhado.
— Sim, vou tomar um banho e tentar descansar — respondo.
Sorrio para os dois e vou para o quarto que divido com Geovanna.
Percebo que um dos meninos passou a noite aqui, pois minha cama está
remexida. Olho para a minha pequena princesa, vou até sua cama e me
abaixo para dar um leve beijo em sua testa. Inspiro seu cheiro tão delicioso
com os olhos fechados.
— Mamãe te ama! — sussurro e me afasto.
Pego uma roupa e, depois de tomar meu banho, volto para o quarto e
me deito. Eu não sou capaz de dormir de imediato, pois não consigo
esquecer Heitor. Após vê-lo, as lembranças voltaram, e eu revivo o
momento em que todos os meus sonhos se desfizeram.
Heitor
Passaram-se alguns meses desde que minha mãe esteve na empresa.
Eu cheguei a vê-la duas vezes depois daquele dia, ambas no teatro de
almoço em família. Porém, da última vez, o referido almoço, que mamãe
vinha fazendo questão de se tornar uma tradição, não terminou bem, já que
meu pai não sossegou enquanto não estragou tudo.
Eu apenas saí de lá e, pedindo desculpas à minha mãe, disse que não
voltaria mais àquela casa.
Mamãe, depois disso, tentou me convencer a mudar de ideia, mas eu
não voltei atrás. Assim, todo mês ela tira um dia para almoçar comigo.
Agora mesmo terminamos nossa refeição e estamos apenas aguardando a
conta. Ela me olha e segura minha mão por cima da mesa.
— Você parece cansado, filho — comenta e me lança um sorriso
doce.
Respiro fundo e também seguro sua mão.
— Estamos trabalhando no desenvolvimento de um novo aplicativo,
e os testes costumam nos deixar tensos — respondo.
Minha mãe dá um sorriso melancólico.
— Desde o instante em que descobriu a verdade sobre aquela
garota, você mudou — diz e me observa com cuidado.
Retiro minha mão da sua e vejo o garçom se aproximar. Pago a
conta e ele se afasta, então olho para minha mãe.
— A senhora sabe que eu não gosto de falar sobre isso. É passado.
Ela balança a cabeça, negando, e tem o olhar atento.
— Será que é passado mesmo, Heitor? — indaga.
Eu me levanto e estendo a mão. Sinto-me sufocar, mas procuro agir
como se falar dela não me afetasse.
— Sim, é passado. Vamos, mamãe! Preciso voltar para a empresa.
Saímos do restaurante e paramos na calçada. Minha mãe me olha e
dá um sorriso.
— Que bom que você a superou, meu filho. Aquela família só nos
trouxe desgraça — murmura com tristeza.
Até hoje eu não sei qual é o motivo de toda essa discórdia. Mas é
alguma coisa séria, que tem a ver com o pai de Letícia e o meu pai. No
entanto, o cara também se tornou meu inimigo, é do meu conhecimento que
ele tentou muitas vezes me prejudicar, com o intuito de atingir meu pai. Mal
sabe ele que meu pai pouco se lixa para o que pode acontecer comigo.
Beijo a testa de minha mãe.
— Adorei o almoço, mamãe — pronuncio, sem dar a ela a chance
de prolongar o assunto.
Minha mãe acena, e eu a conduzo até o motorista, que a aguarda.
Deixo que se acomode no banco de trás, então ela me olha com carinho.
— Não se mate de trabalhar, meu filho — pede.
Balanço a cabeça e fecho a porta. Espero na calçada até que o carro
se afaste e respiro fundo. Verifico o relógio e lembro que devo voltar logo
para a empresa, para conseguir sair mais cedo, pois hoje é o jantar na casa
do William, em comemoração ao seu casamento com a Emilly.
Como a empresa fica a apenas alguns quarteirões, decido caminhar
um pouco, assim consigo colocar as ideias em ordem. Eu não menti para a
minha mãe quando disse que estou trabalhando bastante no
desenvolvimento de um novo aplicativo. No entanto, é um tipo de trabalho
que me dá certo prazer. Por ser um produto ainda em desenvolvimento, não
foi oferecido ao mercado, o que me dá folga para fazer tudo com muita
perfeição.
De fato, minha mãe tocou num ponto bastante relevante ao comentar
sobre o passado. Afinal, um dos motivos pelo qual eu sou tão focado no
trabalho é Letícia. Ou melhor, a decepção que eu sofri com aquela mulher.
Chego à empresa e sigo direto para o escritório. Passo por Edna, que
está digitando em sua mesa, e pergunto se está tudo sob controle. Diante de
sua afirmativa, caminho até a mesa onde trabalho e passo mais uma tarde
ocupado em meu projeto.
Letícia
Heitor
Heitor
Letícia
Heitor
Letícia
Acabo de tomar banho e escolho uma roupa para vestir. Eu não
quero parecer arrumada demais, mas também não quero passar vergonha.
Não se trata de um encontro, é somente uma reunião para tratar os
interesses de Geovanna.
Leandro e Aluísio entram no quarto. Eu olho para eles rapidamente
e volto a procurar uma roupa adequada no armário. Vejo uma calça jeans e a
pego.
— O que é isso? — pergunta Aluísio, pegando a calça da minha
mão e fazendo cara de espanto.
Dou risada.
— Uma calça jeans. Não reconhece?
Ele olha para Leandro, que revira os olhos e pega a calça das mãos
dele.
— Eu te falei, ela só não vai com um saco de batatas porque não
tem um — expressa meu irmão.
Eu franzo a testa e arrumo a toalha enrolada em meu corpo.
— Vocês vieram aqui para fiscalizar o que eu vou vestir? — indago,
cruzando os braços e olhando de um para o outro.
— É claro! Nós não podemos te deixar sair vestida com qualquer
trapo — aponta Aluísio, empurrando-me com os ombros, e eu quase me
desequilibro. Ele para em frente ao meu armário e espia lá dentro. —
Vejamos se tem algo que preste aqui.
Meu irmão me segura pelos ombros e praticamente me joga para
trás. Eu fico indignada com esses dois. Coloco as mãos na cintura e faço
uma careta. Um cochicha com o outro, mas eu só posso ver suas costas.
— Olhem aqui: eu não estou indo a um encontro amigável ou
amoroso. Não pretendo me emperiquitar para aquele lá ficar pensando que
eu me arrumei para ele — especifico, porém, eles parecem não me ouvir. —
Ei, vocês dois?!
— Calma aí, irmãzinha. Eu não vou deixar que saia como uma
adolescente desleixada.
— Eu não ia me vestir assim — defendo-me, contrariada.
— Querida, você ia vestir uma calça jeans que já sabe até o caminho
da padaria, de tanto que a usa. E eu nem quero imaginar a blusa.
Provavelmente colocaria aquela camiseta preta de Madri — responde
Aluísio, sem me olhar, ainda mexendo no armário. — Aqui está! — diz,
animado, e se vira para mim segurando meu vestido azul-bebê.
Eu não digo nada, apenas nego com a cabeça.
— Sim, esse é perfeito! — grita Leandro, batendo palmas.
— Eu não vou com esse vestido. Vou me sentir inibida! E, como já
disse, eu não quero ficar arrumada demais — declaro olhando para o
vestido.
Leandro, balançando a cabeça, estica os braços e aperta meus
ombros com suavidade.
— Querida, esse vestido não é demais. Porém, você vai arrumada
sim! Vai passar aquele perfume maravilhoso e deixar seus cabelos soltos,
sem aquele rabo de cavalo medonho. E nada de inibição! — recita, os olhos
fixos nos meus.
Aluísio também para na minha frente.
— Letícia, mostre ao Heitor o que ele está perdendo. Mostre que
você é poderosa, linda e que continua gostosa. — Ele sorri, e eu mordo o
lábio enquanto avalio o vestido. — Olha, não dê a ele o gostinho de te ver
desajeitada.
— Isso, minha irmã. E faça o nervosinho sofrer, não deixe que ele te
seduza com aqueles olhos azuis de príncipe do deserto — previne meu
irmão.
Eu dou outra risada.
— Esse risco... eu não corro. Nós não queremos nada um com o
outro — afirmo.
Aluísio e Leandro se encaram e dão uma risadinha.
— Eles estão na fase da negação — aponta Leandro.
— Do que estão falando? — questiono.
Os dois se viram para mim.
— Nada. Agora, vá se arrumar. E eu vou passar esse vestido
rapidinho. Pegue sua sandália trançadinha, afinal, nós não queremos que
fique muito aprumada, e sim chique e casual. — Leandro sai do quarto,
deixando-me de boca aberta.
Aluísio beija minha bochecha e vai atrás dele. Em seguida, Lia entra
no quarto, com Geovanna no colo. Minha irmã tem cara de riso.
— Eles não iriam sossegar enquanto não viessem aqui — conta e
senta-se na minha cama, colocando Geovanna sentada em seu joelho.
Minha filha se distrai mexendo numa caixinha de música. — E eu acho que
eles têm razão. Você não precisa ir ao encontro dele malvestida.
Solto um bufo.
— Eu não ia malvestida, só não pretendia perder tempo me
arrumando toda — revelo.
— Dá no mesmo. E os dois doidos acertaram no que disseram, o
Heitor precisa te ver ainda mais linda e se dar conta do que perdeu. Dê uma
lição nele!
— Quando vocês vão entender que eu não quero que ele perceba
nada? Por mim, ele nem chegaria perto — declaro e me viro para pegar
minha sandália.
— Continue mentindo, assim, quem sabe você possa acreditar... —
Lia responde, e eu fico calada. Ela resmunga alguma coisa e sai com
Geovanna.
Quando eu me vejo sozinha, dou um suspiro e sinto meu estômago
se agitar. Encontrar-me com Heitor me deixa muito abalada. Vê-lo interagir
com Geovanna hoje foi impressionante. Ele e minha filha se deram muito
bem, a conexão dos dois é incrível. E é só por ela que eu aceitei me
encontrar com ele. Percebi que será gratificante para a minha filha ter o pai
por perto, mesmo que, para mim, seja uma tortura. Afinal, o Heitor ainda
consegue me afetar.
Algumas horas depois, desço de elevador, muito nervosa. Passo a
palma das mãos pelo vestido, mexo no cabelo, na bolsa, e nada me acalma.
Quando o elevador para e abre as portas, eu sinto meu coração bater na
garganta. Então, fecho os olhos rapidamente e respiro fundo. Em seguida,
caminho para fora do prédio.
Logo vejo Heitor, vestido com elegância, como de costume. Ele está
encostado no carro, com as mãos nos bolsos e as pernas cruzadas.
Conforme caminho até ele, noto seu olhar viajar pelo meu corpo e sinto
toda a minha pele se arrepiar. À medida que eu me aproximo e nossos
olhares se cruzam, meu corpo reage e meu coração falha uma batida.
Paro à sua frente e espero que diga alguma coisa. Ele analisa meu
rosto, e eu sinto seu olhar intenso queimar minha pele.
— Você está muito bonita — murmura, sua voz sai rouca e baixa.
Eu me remexo.
— Obrigada. Podemos ir? Eu não quero demorar a voltar para casa
— exponho e me esforço para não ficar estremecida com seu elogio.
Heitor se desencosta do carro e abre a porta para eu entrar. Seu
perfume me envolve, trazendo-me lembranças que eu gostaria de esquecer.
Depois de fechar a porta, ele dá a volta, e quando entra no veículo, liga o
motor. Calado, põe o carro em movimento, e ficamos em total silêncio até o
nosso destino. Eu não sei o que se passa em sua cabeça, mas a minha está
uma bagunça total. Meus sentimentos conflitantes estão me deixando louca.
Eu preciso ser forte, o que senti por ele no passado deve ficar bem
onde deixei, escondido, para nunca mais se mostrar.
Heitor para o carro no meio-fio, e eu não consigo identificar onde
estamos. Quando ele abre a porta e sai, eu aproveito para dar uma olhada
enquanto destravo o cinto de segurança, então noto que estamos em frente a
um restaurante.
Ele abre a minha porta, e, sem perceber, eu aceito sua ajuda para
descer do carro. A minha reação é instantânea quando nossas mãos se
tocam. Assim que eu desço, puxo minha mão e seguro a alça da bolsa,
observando ao redor, a fim de não olhar diretamente para Heitor.
— Vamos? — diz em voz baixa, e eu tenho vontade de sair
correndo, fugir para longe, pois estar tão perto dele se prova ser uma
tortura.
Dou um passo para frente, acenando.
— Claro — respondo.
Heitor caminha ao meu lado até a entrada do restaurante, e logo
somos recebidos e conduzidos a uma mesa mais reservada. O maître, depois
de nos ajudar e verificar nossos pedidos, afasta-se, deixando-nos as sós, um
de frente para o outro.
— Eu não pensei que fôssemos jantar, você poderia ter me avisado
— comento, olhando para o lado.
— Se eu avisasse, você teria aceitado? — indaga.
— Não sei — respondo. Finalmente tomo coragem e olho para ele.
Heitor me observa, e eu só penso nas palavras do meu irmão: “Não se deixe
seduzir por aqueles olhos azuis”. Coloco uma mecha de cabelo atrás da
orelha e percebo que Heitor me acompanha com o olhar aquecido. — A
nossa conversa poderia acontecer na frente do prédio mesmo, não precisava
disso.
É quase imperceptível o movimento de sua cabeça.
— Eu não vou ter uma conversa séria na calçada, onde pessoas vêm
e vão. Aqui, teremos privacidade — responde e dá um sorriso suave. — Se
preferir, podemos ir para a minha casa.
Ele mal termina de falar e eu gesticulo.
— Não. Aqui está ótimo — digo rapidamente.
Estar aqui já está sendo difícil, eu nem quero imaginar como seria
ficar a sós com ele em sua casa.
Heitor dá uma risada.
— Foi o que eu imaginei — comenta e olha para o garçom, que se
aproxima e serve um suco para mim e água para ele. Em seguida, voltamos
a ficar sozinhos, assim, Heitor volta a me olhar. — Então... você me conta
mais sobre a Geovanna? Mas, primeiro, eu quero saber sobre o registro
dela. Por acaso o meu nome consta na certidão?
Bebo meu suco e coloco o copo de volta à mesa, observando o
líquido avermelhado.
— Não. Eu a registrei apenas no meu nome — respondo, com um
aperto no coração.
Escuto sua respiração enérgica.
— Letícia, você nunca pensou em me procurar para contar sobre
ela? — questiona. Mas, por incrível que pareça, ele não pergunta com
ressentimento.
Mexo os ombros e subo o olhar. Heitor me encara com intensidade.
— Isso passou pela minha cabeça algumas vezes, mas eu logo
procurava afastar essa ideia. Bastava eu me lembrar das suas palavras... tão
duras... — declaro. Eu sei que deixo transparecer a dor que sinto todas as
vezes que penso em tudo o que ele me disse no passado.
Heitor fixa o olhar nos meus olhos, e percebo o quanto minhas
palavras o afetaram. Ele passa a mão pelo cabelo, sua tensão é nítida.
— Eu sei que errei, Letícia. Fui duro com você, mas tente me
entender. O que queria que eu fizesse depois de descobrir a verdade sobre
você e aquele seu pai? Porra, ele a manipulou para chegar até mim!
Ouço o que diz e estreito o olhar.
— Só vou falar isto uma vez, pois eu pouco me importo com o que
você pensa de mim: eu é quem deveria desconfiar de você, afinal, você foi
atrás de mim na faculdade e insistiu em me encontrar. Eu nunca, em
nenhum momento, procurei por você. E acredito que você é homem
suficiente para não inventar desculpas esfarrapadas para se livrar de uma
mulher, pois é isso o que penso sobre você — desabafo, sustentando seu
olhar.
Ele fica atônito.
— O quê? — pergunta, chegando o corpo para frente. — Eu não
entendo o que quer dizer.
Eu dou um sorriso sínico.
— Que você queria terminar comigo e se aproveitou desse conflito
entre as nossas famílias para jogar a culpa em mim — confesso o que
estava guardado dentro de mim há muito tempo.
Heitor dá uma risada.
— Você está falando um absurdo! — comenta.
— Não estou, e você sabe bem disso — aponto e bebo mais suco,
pois minha garganta está seca. Em seguida, volto a olhar para ele. — Mas
não estamos aqui para falar de nós. Para mim, este assunto morreu.
— Mas para mim não morreu, Letícia — declara Heitor, ofegante.
Dou de ombros.
— Isso é problema seu, não meu. Vamos falar da Geovanna.
Estamos aqui para isso, não estamos? — Ele me olha, irritado. Eu suspiro e
tento me manter calma, algo que muito me custa. — Heitor, para que mexer
nisso agora? Você não acredita em mim, eu não acredito em você. Quando
eu quis falar com você, há três anos, você não quis me ouvir, e agora estou
esgotada. Eu enterrei isso.
Heitor estreita o olhar.
— Enterrou mesmo, Letícia? — questiona enquanto me encara. Eu
me sinto afetada pela maneira como me olha. — Pois, para mim, você tem
este assunto muito vivo aí dentro.
Desvio o olhar. Esforço-me para me recompor, pois ele está certo.
No fundo, eu nunca deixei que esse assunto morresse. Até hoje eu sofro as
consequências, só não digo nada por causa da minha filha. É devido ao
Heitor, suas palavras me marcaram, e eu não sei se serei capaz esquecê-las
algum dia.
Jogo meu cabelo para trás.
— Vamos falar da Geovanna, ou eu vou embora — advirto.
O garçom volta; junto a ele, o maître. Eles servem o nosso jantar, e
devem sentir o clima tenso entre nós, pois logo vão embora. Eu não estou
com apetite, apesar do cheiro da massa ser apetitoso.
— Tudo bem, Letícia, vamos falar da nossa filha hoje. Mas, um dia,
eu voltarei a esse assunto, não irei desistir — murmura.
— Só vai perder seu tempo — respondo em voz baixa.
Heitor sugere que comecemos a comer, enquanto está quente, e
mesmo sem nenhuma fome, eu consigo, pois o prato é magnífico. Iniciamos
uma conversa sobre a Geovanna. Eu conto sobre colocá-la na escolinha, e
ele diz que irá me acompanhar, já que pretende ver de perto todos os passos
da filha.
Em seguida, Heitor anuncia que amanhã se informará sobre o
registro de Geovanna, pois quer seu nome na certidão. Eu fico apavorada,
não consigo esquecer a ameaça que recebi três anos atrás. Preciso contar
isso a ele, mas então seria o mesmo que retornar ao assunto do qual eu me
neguei a falar.
Heitor continua com seus planos, e eu me sinto perdida. Pelo que
entendi, ele quer ver Geovanna todos os dias, e diz que vai assumir todas as
despesas da filha. A minha cabeça dá um nó. Peço para ele não se empolgar
e ir com calma, pois eu jamais pensei em exigir nada dele.
Eu não vou negar que sua ajuda facilitará minha vida, ainda mais
agora, que eu não trabalho mais na Mansão Eros. O dinheiro deixado pela
minha mãe está quase no fim, e eu não posso permitir que meu irmão me
sustente. Com Heitor ajudando com as despesas de Geovanna, eu poderei
respirar com mais tranquilidade e economizar, arrumar um trabalho decente
e procurar um lugar para morar com a minha filha.
Ao fim do jantar, nós ainda não chegamos a um acordo sobre suas
visitas diárias, mas Heitor reitera que não abre mão disso, eu goste ou não.
Cansada de discutir, peço para ir embora. Heitor paga a conta, e quando
estamos caminhando, já do lado de fora, eu olho para a rua e vejo alguns
táxis.
— Você não precisa me levar, eu posso ir de táxi — exprimo.
— Nem pensar. Você esqueceu os perigos desta cidade?
— E por acaso andar no seu carro vai impedir algum perigo? —
pergunto olhando para ele.
Heitor sorri, e meu coração acelera.
— Pelo menos meu carro é blindado, e eu não sou um desconhecido
— aponta, orgulhoso.
Sacudo a cabeça. Heitor continua o mesmo metido de sempre. Ele
abre a porta do carro para mim, e, sem discutir, eu entro. Alguns minutos a
mais ou a menos não me afetarão mais do que já estou afetada.
O nosso retorno é bem tranquilo, e Heitor decide ligar o rádio.
Como se não bastassem as lembranças dos meus momentos com ele, a
música que uma vez cantarolou em meu ouvido começa a tocar. Eu me
seguro para não chorar. Finjo que a música não me diz nada.
Escuto sua risada e olho para ele.
— O que foi? — pergunto.
— Esta música... Todas as vezes que eu a ouço, penso em você —
confessa com voz rouca.
Observo seu perfil e noto seu sorriso nostálgico. Uma das mãos ao
volante e a outra na perna. Os dedos em movimento, como se tocassem um
instrumento. E toda a tortura que eu sofri esta noite não se compara a este
momento, pois ele começa a cantar com o cantor, Zeca Baleiro. Como da
primeira vez, em seu apartamento.
“ De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho?
Será um atalho?
Ou um desvio?
Um rio raso?
Um passo em falso?
Um prato fundo?
Pra toda fome
Que há no mundo Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho?
Será um atalho?
Ou um desvio?
Um rio raso?
Um passo em falso?
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada De você sei quase nada... ”
Droga... droga! Por que ele está fazendo isso comigo? Heitor não
tem esse direito. Provavelmente esta música não diz nada a ele, mas, para
mim, diz muito. É sobre nós, o nosso momento. Foi o instante em que eu
percebi estar apaixonada e que jamais amaria alguém com tanta
intensidade. E tudo para quê? Para ele destruir o meu mundo.
Heitor para o carro em frente ao prédio. Ambos ficamos parados.
Agora, ele está com as duas mãos ao volante e olha para frente.
Eu inspiro com dificuldade e destravo o cinto de segurança.
— Vou subir, amanhã nos falamos — comunico e coloco a mão na
maçaneta da porta.
Heitor segura meu braço. Eu fecho os olhos apertados. Estou
angustiada.
— Espere! — pede, seu tom é aflito.
— O que você quer, Heitor? — pergunto sem olhar para ele, pois eu
não suportaria encará-lo.
— Eu... Caralho, como isso é difícil! — xinga, sem largar meu
braço. Sinto seu toque em toda a minha alma, e a sensação é de que meu
coração explodirá em questão de segundos. — Eu quero me desculpar pelas
coisas que disse no passado. E mesmo que você não queira, mesmo sendo
tarde para isso, eu vou investigar o que realmente aconteceu.
Abro os olhos. Eu não posso afirmar que fico feliz, pois não sei o
que pode acontecer e tenho medo, pela minha filha e por ele. Eu me viro
para Heitor, ele tem o olhar agoniado.
— Deixe isso para lá. Como você disse, é tarde demais para isso.
Heitor nega com um gesto.
— Não vou deixar — sussurra, então olha para a minha boca e volta
a me encarar. Escuto o barulho da porta destravando. — Agora vá, Letícia,
ou posso cometer uma loucura.
Eu não penso duas vezes, saio do carro. Bato a porta e corro para
dentro do prédio. O porteiro me vê e fala comigo, mas estou tão
desorientada que entro no elevador sem responder. Assim que as portas se
fecham, eu levo as mãos ao rosto e deixo as lágrimas jorrarem.
Por que ele teve que cantar aquela música? E por que eu não
consigo arrancar esse homem do meu coração, da minha vida? Eu tenho
que odiá-lo! E não vou deixar que me engane novamente. Nunca mais!
Nunca mais!
Eu preciso ser forte. Se não fosse a minha filha, eu sumiria. Mas
preciso pensar nela. E mesmo que me doa cada instante que Heitor estiver
ao meu lado, eu vou suportar, por ela. E não deixarei que esse homem me
machuque novamente.
- 10 -
Heitor
O dia amanhece e eu permaneço acordado, deitado em minha cama
e olhando para o teto. Assim que eu cheguei em casa, tomei uma dose de
uísque, no intuito de diminuir a tensão. Porém, de nada adiantou. Passei a
madrugada pensando em Letícia, em nosso jantar e em tudo o que nos
aconteceu no passado.
Eu busco em minha mente cada detalhe da tarde em que minha mãe
ligou para mim. Recordo as palavras de meu pai e o e-mail que havia
recebido do Ricardo Xavier. Tudo indicava que Letícia estava me
enganando. Não tinha como o Ricardo saber de algumas conversas que eu
tive com sua filha, só poderia ser ela a contar tudo para ele.
Ainda havia as fotos tiradas de nós dois no meu antigo apartamento.
Eu sabia que não tinha sido ela a tirar tais fotos, afinal, ela aparecia nas
imagens. Entretanto, assim que Letícia saiu do apartamento naquele dia, eu
interroguei dois dos meus funcionários, e um deles confessou que Letícia
havia o abordado e dado dinheiro a ele para tirar algumas fotos nossas.
Ali eu tive a certeza de que ela realmente estava me fazendo de
idiota. Logo, eu demiti todos os meus colabores, pois não conseguia mais
confiar em ninguém. No dia seguinte, eu fiz uma viagem e passei um mês
fora. Quando retornei, eu não suportava mais ficar no meu apartamento.
Assim, passei a viver num apart e comprei esta casa. E hoje todos os meus
empregados domésticos são contratados por meio de uma empresa
especializada.
Eu desisto de tentar dormir e me levanto. Ainda é cedo para ir à
empresa, nenhum dos empregados chegaram. Vou para a cozinha e preparo
um café forte. Enquanto bebo o líquido quente, que desce queimando pela
minha garganta, eu pego o telefone e vejo novamente as imagens de minha
filha, enviadas por Letícia.
Há imagens dela desde o seu nascimento, e não tem como eu não
me sentir desolado, pois perdi os primeiros passos de minha filha. Eu não
acompanhei suas primeiras palavras e gracinhas. E me dar conta disso
acaba comigo. Observo as imagens com um sorriso bobo. Geovanna é uma
menina linda.
Depois de tomar um banho longo, eu me preparo para o dia. Tenho
uma conferência agendada com um engenheiro de qualidade de software.
Em seguida, uma reunião com meu advogado, para tratar das questões
legais referentes à minha filha. Além de tudo isso, eu preciso ver com
minha assistente uma empresa que faça instalação de playgrounds. Eu tenho
um espaço extenso no meu quintal, onde pensava em construir uma área de
jogos.
Mas desde que eu voltei do encontro com Geovanna, a ideia de um
parquinho aqui em casa não me sai da cabeça. Eu já posso visualizar minha
filha se divertindo, enquanto Letícia e eu a observamos e brincamos com
ela.
É cedo quando chego ao escritório, e apenas o pessoal da limpeza
faz seu serviço. Aproveito para adiantar alguns e-mails e ler relatórios.
Ocupo minha mente, e mesmo assim penso em Letícia e no esforço que fiz
para não beijá-la no carro. Ela estava maravilhosa, e eu passei parte do
nosso jantar excitado, mesmo com a nossa conversa tão sobrecarregada.
Eu queria muito que ela contasse tudo para mim, quero ouvir sua
versão. Sei que mereço sua relutância, visto que eu não quis escutá-la no
passado. Não há desculpas para mim, e se ela for inocente, eu vou me sentir
ainda pior. Eu me odiarei e carregarei pelo resto da vida as consequências
dos meus atos.
— Senhor Pigozzi, aconteceu algo? — Olho para frente e vejo Edna
parada na porta do escritório. Intrigada, ela me observa.
Eu estava tão distraído que nem percebi sua chegada.
— Não. Tenho alguns assuntos pessoais para resolver e decidi
adiantar tudo por aqui — respondo.
Edna maneia a cabeça.
— O senhor precisa de alguma coisa? Já estou com meu computador
aberto.
Eu sorrio.
— Enviei um e-mail para você e quero urgência no assunto. Mas
também preciso de um café, por favor — peço.
— Providenciarei agora mesmo, senhor.
Ela se retira, e eu recomeço a ler meu relatório. Desta vez, eu me
esforço com mais afinco para não pensar em Letícia.
A manhã corre bem rápido, e meu advogado me passa todas as
orientações para que eu efetue o registro de Geovanna. Ele mesmo vai
providenciar tudo, só precisa estar de posse do atual registro da minha filha,
e afirma que antes do fim de semana eu já terei a nova certidão em mãos.
À tarde, Edna me entrega uma relação de empresas que realiza
instalações de área de diversão para crianças em condomínios. Todas são
especializadas e têm certificações. Após averiguar a lista, opto pela que
oferece maior diversidade nos brinquedos e mando Edna cuidar de tudo
para a montagem; inclusive, se houver necessidade de pequenas obras. Peço
a ela para acompanhar de perto e dou carta branca para contratação de
pessoal.
Assim que Edna sai de minha sala com suas anotações, pego o
celular e digito o número de Letícia. Enquanto chama, eu me levanto da
cadeira e ando até a janela. Olho para baixo e observo os carros passando na
avenida.
— Alô! — atende.
Fecho os olhos e encosto a testa no vidro da grande janela.
— Olá, Letícia. Como você está? — pergunto, a garganta seca.
— Estou bem — responde. Sua voz parece arfante.
Escuto um gritinho, seguido de uma risada, e sorrio com o som.
— Ela parece animada — comento, abrindo os olhos, e sinto uma
vontade imensa de estar com as duas.
Letícia dá uma risada, e meu coração golpeia com força dentro do
peito.
— A Geovanna está com muita energia hoje — diz, parecendo
cansada.
— Vocês estão sozinhas?
— Meu irmão foi atender um cliente, meu cunhado está de plantão,
e a Lia foi visitar uma amiga — informa, e eu escuto o barulho de alguma
coisa caindo. Fico assustado, mas logo o susto passa, pois Letícia começa a
rir. — Geovanna! Olha o que fez! — exclama, e eu imagino as duas juntas.
— Então, por que está ligando? — indaga.
Ando de volta até minha mesa e me sento novamente.
— Conversei com o advogado, eu preciso da certidão da Geovanna
para mandar confeccionar uma nova — explico.
— Okay. Vou separar e te entrego — pronuncia, então, fala alguma
coisa com Geovanna. A menina dá um gritinho. — É só isso? — Sua frieza
está de volta.
Aperto o celular com força.
— Vou passar aí hoje, pego a certidão e aproveito para ver minha
filha — declaro com voz de comando.
Ouço o suspiro alto e claro do outro lado da linha.
— Tudo bem — diz a contragosto.
— Preciso resolver algumas coisas aqui na empresa, em seguida,
vou direto para aí.
— Okay... — Tenho a impressão de que ela vai dizer mais alguma
coisa, mas, no fim, desliga sem se despedir.
Até quando vamos ficar nesse impasse? Será que um dia a Letícia
voltará a ser a mesma comigo?
Eu participo de mais uma reunião. Desta vez, com empresários
chineses que querem adquirir meu produto para suas empresas. A reunião
não chega a ser tensa, mas é bastante cansativa. Assim que termina e os
empresários vão embora, eu deixo com Edna a incumbência de preparar
uma ata para enviar a todos os que estavam presentes.
Na minha sala, desligo o notebook e afrouxo a gravata. Vejo o
grande embrulho que chegou nesta tarde e abro um sorriso, empolgado e ao
mesmo tempo ansioso, pois é meu primeiro presente para Geovanna e não
sei se ela vai gostar.
Pego o pacote, que é quase do tamanho da minha filha, passo por
Edna e noto seu olhar um tanto curioso, porém discreto.
— Até manhã, Edna. Se ficar muito tarde, deixe para terminar de
digitar a ata amanhã — comunico, sem olhar para ela e caminhando rumo
ao elevador.
— Sim, senhor. — Ouço sua resposta e pego o elevador.
Olho para o pacote mais uma vez e anseio que o presente agrade
minha filha.
Chegando ao prédio onde Letícia mora, a minha entrada é liberada
depois de o porteiro falar com ela. No elevador, conforme vai subindo, eu
fico mais nervoso, sentindo-me um adolescente que está indo visitar pela
primeira vez a garota que gosta.
Desço no andar de Letícia e, ao olhar para o lado, vejo-a parada
numa das portas do corredor, com Geovanna no colo. A menina tem a
cabeça deitada no ombro da mãe.
Aproximo-me devagar, com um sorriso incerto.
— Olá — cumprimento. Letícia olha para o pacote que carrego e
franze a testa.
Geovanna levanta a cabeça e me olha. Ela parece estar com sono,
mas, como a mãe, é atraída pelo pacote.
— Que isso? — pergunta, sonolenta.
— Geovanna?!
Eu dou uma risada e estendo o presente.
— Isso é para você, minha querida — declaro. Ela arregala os olhos
e abre a boca, pegando o pacote.
Letícia revira os olhos e ajuda a filha.
— Entre. A Geovanna não dormiu durante o dia, então eu precisei
mantê-la acordada para você poder vê-la — conta, dando passagem para eu
entrar.
Depois que fecha a porta, eu olho para ela.
— Obrigado — falo, e ela acena. Volto a olhar para Geovanna, nem
seu sono a impede de tentar abrir o embrulho.
Letícia sugere que eu me sente e coloca Geovanna sentada ao meu
lado.
— Vou pegar o que veio buscar. Aproveite e fique um pouco com
ela — propõe e se retira.
Eu ajudo Geovanna a abrir seu presente. Para o meu alívio, ela ama
o grande urso de pelúcia.
— Ele é muito bonito! — exclama e abraça seu novo amigo.
O sorriso que se desenha em seu rosto é gratificante, e eu respiro
aliviado. Sei que um simples urso não é lá grande coisa, mas pelo menos ela
se lembrará de mim quando o vir todos os dias.
Geovanna tagarela com o urso e comigo, então me surpreende ao se
ajoelhar no sofá e me dar um beijo. Aqui, eu me apaixono de vez por essa
garotinha. A minha garotinha. Em seguida, ela volta a sentar, abraçada ao
urso, e sustenta seu pequeno corpo em meu braço. Não demora nem um
minuto e seus olhos se fecham. Com um sorriso bobo, eu admiro seu
rostinho e passo a mão por sua pele.
— Ela finalmente dormiu — sussurra Letícia, chegando à sala. Em
sua mão, um envelope pardo.
Presto atenção nela e observo sua camiseta branca um pouco
amassada, mas que fica muito sexy em seu corpo. Ela nem percebe que eu a
como com os olhos, pois coloca o envelope sobre a mesa de jantar e se
aproxima para pegar nossa filha.
Antes que Letícia se abaixe, eu pego Geovanna com cuidado. Ela
abraça o urso com força, e eu sorrio.
— Fale onde eu posso deixá-la.
Letícia hesita, mas, não tendo saída, vira-se e me pede para segui-la.
Entro num quarto muito pequeno e reparo em duas camas, uma de
madeira branca, de solteiro, e outra infantil, onde deduzo ser a cama de
Geovanna, pois tem alguns bichinhos e bonecas.
Eu beijo sua testa e a acomodo, então Letícia a cobre e acende o
abajur. Dou uma última olhada no ambiente e não acho justo minha
garotinha e sua mãe dormirem num cômodo tão pequeno. É visível que uma
adaptação foi feita para acomodar as duas. Não é um quarto feio, ao
contrário, é até bonito e aconchegante, além de cheirar bem. Mas não é
adequado para elas.
Já na sala, Letícia pega o envelope e me entrega.
— Aqui está a certidão dela, como me pediu — informa.
— Letícia, eu não quero ser grosseiro, mas acho que você e minha
filha poderiam morar em outro lugar. Eu posso arranjar isso para vocês.
Letícia cruza os braços, parece zangada. E, porra, ela está linda!
— Sim, você está sendo grosseiro. E estamos muito bem aqui,
obrigada — responde, mal-humorada.
Coloco o envelope de volta à mesa e passo a mão pelo cabelo.
— Poxa, Letícia, não é justo com a minha filha viver em um lugar
tão apertado quando eu posso proporcionar o melhor para ela — aponto.
Letícia fecha os olhos e inclina a cabeça para trás. Eu olho para o
seu pescoço e só penso em passar minha língua em sua garganta.
Ela volta a abrir os olhos.
— Heitor, eu nunca deixei nada faltar para a minha filha, e nesta
casa ela tem muito amor. Ela ama os tios, e agora a Lia...
— E onde a Lia está dormindo? Lá no quarto, com vocês? —
pergunto, pois reparei em duas malas no quarto, além de um colchonete.
Ela me olha como se de seus olhos saíssem farpas, sua face está
rosada. Eu sei que sua vontade é de me esbofetear. E eu não tiro sua razão,
pois sou um filho da puta que merece toda a sua raiva, mas sei que tenho
meu ponto, não há necessidade de Geovanna viver num espaço tão limitado.
Letícia passa por mim e abre a porta.
— Não temos mais nada para falar. Pegue a certidão e saia. Eu tenho
mais o que fazer do que ficar aqui ouvindo seus insultos — diz, irada.
Eu me aproximo, então fecho a porta com força, e ela me fita com
olhos estreitos. Porra, ela é tão linda! E com essa expressão zangada,
consegue ficar ainda mais sexy. Eu não resisto e inclino a cabeça, quase
tocando meu nariz no seu. Sinto sua respiração tocar minha pele e meu
sangue ferve, pois eu me encontro no ápice do meu desejo por essa mulher.
— Eu não tive a intenção de insultá-la — sussurro olhando para sua
boca.
Letícia dá um passo para trás e, sem notar, encosta-se à parede.
Sua respiração está agitada, e sua boca de lábios carnudos me deixa
totalmente descontrolado.
— Pois, para mim, parece um insulto — responde num fio de voz.
Elevo minhas mãos e ponho as palmas na parede, cercando-a, então
meus olhos viajam até os seus e eu noto o quanto está abalada com a minha
proximidade.
— Letícia... — sopro, com a voz rouca e o coração pulando em meu
peito.
Seus olhos castanhos parecem derreter, e eu não consigo mais
controlar a vontade de beijá-la. A dura verdade é que eu não quero mais me
controlar.
Sem pedir licença, eu tomo sua boca. Sugo seus lábios com fome e
esmago seu corpo entre mim e a parede. Letícia deixa escapar um suspiro,
entregando-se ao beijo, e eu a devoro. O calor toma conta do meu corpo e
sinto como se eu finalmente voltasse a viver.
Nunca um beijo foi tão estimulante e tão cheio de desejo. Desço
uma das mãos e aperto sua cintura. Letícia geme. Sinto meu pau empurrar
dentro das calças e fricciono em sua barriga.
Eu não tinha ideia do quanto sentia saudade do seu cheiro, do seu
gosto, da sua proximidade. Posso sentir todas as partes do meu corpo se
aquecerem. Aprofundo o beijo, e suas mãos seguram meus ombros.
Jesus! Eu quero ter essa mulher novamente. Eu necessito dela. Eu
tenho ânsia por ela.
De repente, Letícia morde minha boca e me empurra, então vai para
o meio da sala, totalmente descontrolada.
— Vá embora, Heitor, e nunca mais me toque. Eu odeio você! —
sopra, a voz trêmula.
Eu a observo e passo a ponta do dedo onde ela mordeu. Caminho até
a mesa e pego o envelope. Aproximo-me de Letícia, que me olha com
receio. Percebo sua respiração acelerada, sua bochecha está vermelha e seus
olhos têm um brilho de desejo.
— Por muito tempo eu acreditei que odiava você, Letícia. Mas a
dura verdade é que eu me ressentia por não ser capaz de te odiar, e esse
beijo só provou que você também não me odeia — aponto, e ela me encara,
abalada.
— Você não sabe o que sinto, Heitor. Você não faz ideia de nada —
retruca, enrouquecida.
Dou um sorriso entristecido.
— Você pode estar certa, eu não sei. Mas tenho certeza de uma
coisa: não nos odiamos. E ainda sentimos o mesmo desejo que sentíamos no
passado, ou até mais.
Ela me dá as costas.
— Desejo? Confesso que há três anos eu fui dominada pelos meus
hormônios, e olha no que deu, eu fui tratada como um trapo. E isso não se
esquece facilmente, Heitor. Você continuou com sua vida, como o solteiro
rico, e não se importou nem um pouco com os meus sentimentos. Você foi
cruel, pois eu confiava em você. Eu não vou mais cair em seu jogo de
sedução. Então, não perca seu tempo, vá embora. O único assunto que
temos se chama Geovanna — desabafa, e sei que evita me olhar.
Dou um passo para frente. Eu não toco em seu corpo, mas posso
sentir seu calor. Então, inclino a cabeça e beijo sua cabeça, inspirando seu
aroma delicioso.
— Estou perdido quanto ao que aconteceu, Letícia. Mas, desta vez,
eu não vou recuar. Vou a fundo nessa história, e prometo que concertarei as
coisas — afirmo.
Eu me afasto, pego o envelope e caminho para a porta. Antes de
sair, olho para trás. Letícia continua na mesma posição, de costas para mim,
e sei, pela tensão em seus ombros, que está chorando. Dói em meu coração
vê-la assim, eu me encho de culpa. Mas não posso fazer nada agora.
Primeiro, eu preciso ir atrás da verdade.
Saio do apartamento e caminho até o elevador, que está chegando ao
andar. Quando a porta se abre, sai um rapaz empurrando uma mala de
rodinhas. Nós nos encaramos, e eu o reconheço do dia em que encontrei
Letícia com minha filha na Mansão Eros.
Ele franze a testa, com certeza também me reconhece. Eu aceno.
— Você é o irmão da Letícia — afirmo.
Ele gesticula e sai de vez do elevador.
— Sim, eu sou. E você é o pai da Geovanna — aponta, muito sério.
Acho que eu não sou muito bem-vindo por aqui. Ele olha para a porta de
seu apartamento e se volta para mim. — Minha irmã jamais faria mal a
quem quer que fosse. Ela é uma pessoa boa, preferiria a morte a se sujeitar a
qualquer coisa que o nosso pai tramasse.
A princípio, eu fico sem ação, então, sacudo a cabeça.
— Você está dizendo...?
Ele começa a andar.
— Nada, eu já falei demais — resmunga. Abre a porta e entra no
apartamento, sem sequer olhar para trás.
A porta do elevador começa a se fechar, então eu entro com rapidez.
Olho para cima e quero gritar, pois alguma coisa martela na minha cabeça
dizendo que eu fiz uma merda colossal, mas eu não tenho ideia de como
concertar isso.
- 11 -
na minha cabeça. Ele não tinha o direito de me beijar. Foi tão repentino que
não tive defesa, eu não fui capaz de resistir. Meu desejo era me agarrar a ele
Okay.
Acabei de estacionar.
Heitor
Letícia entra no apartamento e eu a acompanho. Estou muito
perturbado com o que ela me contou. Agora tenho o sentimento de
impotência, além de culpa. Porém de todos os sentimentos o que mais me
abala é o arrependimento, este sim, está acabando com minhas forças.
— Olá pessoal! — Escuto ela dizer e olho por cima da sua cabeça.
Seu irmão está sentado no sofá, ao seu lado vejo outro rapaz e
acredito ser o seu companheiro. Sentadas no chão, está minha filha e uma
moça que brinca com ela. Todos me olham, curiosos, e Geovanna dá um
sorriso lindo. Só mesmo ela para trazer um pouco de paz para o meu
coração.
Vou para o lado da Letícia, ponho as mãos nos bolsos, dou um
sorriso, amigável.
— Boa noite, espero não estar atrapalhando — expresso. Letícia
anda até Geovanna, abaixa-se e abraça a nossa filha.
Sinto uma dor no coração, por não poder fazer o mesmo, não apenas
com Geovanna, mas com sua mãe também.
— Fique a vontade — diz o rapaz ao lado do irmão da Letícia. — A
propósito eu sou o Aluísio, cunhado da Letícia.
Ele se levanta e se aproxima, eu noto Letícia cochichando com
Geovanna e reparo que a moça com minha filha, dá um sorriso ao observar
os duas.
Desvio o olhar para o cunhado da Letícia, que me estende a mão e
me encara com riso no olhar.
— Desculpe-me, eu sou o Heitor — apresento-me apertando sua
mão.
— Sim eu te conheço por nome, você é o pai da princesa Geovanna
— diz e puxa uma das cadeiras da mesa de jantar. — Sente-se, você está
com cara de quem acabou de se perder no deserto, e lembrou-se de que
esqueceu a garrafinha de água no acampamento.
Dou uma risada, afinal o que acaba de dizer faz todo o sentido. Eu
faço como ele sugere e me sento, fico um pouco deslocado, pois pelo que
entendi eles são unidos e sabem de tudo o que houve entre nós. É como se
eu estivesse sendo julgado, apesar de nenhum deles terem falado nada, mas
o olhar diz mais que mil palavras.
Aluísio me oferece um café, é o mais acolhedor, porém recuso.
Letícia volta para perto de mim segurando a mãozinha da Geovanna,
que me olha com um sorriso fofo. Ela é muito lindinha.
— Fala com ele, filha — incentiva Letícia e a menina apenas me
olha.
Reparo que o irmão da Letícia se aproxima, a moça que estava
sentada com Geovanna também caminha até nós e me dou conta de que ela
é a irmã da Letícia que vivia no exterior. Todos observam em expectativa,
eu fico desconfiado com a maneira que me olham.
Geovanna dá um passinho para frente, sem tirar os olhos de mim,
parece um pouco tímida. Eu sorrio para ela.
— Oi, papai! — Nada na vida me preparou para o turbilhão de
emoção que enche meu peito.
Minha garganta se fecha, me sinto enaltecido. Eu seguro sua
pequena mãozinha e não resisto, caio de joelho na sua frente e a encaro.
— Oi, minha filha! — Minha voz sai arrastada, pois a forte emoção
me deixa instável.
Eu subo o olhar, direto em direção a Letícia, ela nos assiste, noto em
seus olhos que também está emocionada. Ela tem um sorriso delicado
enquanto morde o lábio inferior.
Meu coração se estreita, pois como pude ser tão idiota de perder
essa mulher? Como em algum momento eu pude desconfiar de seu caráter?
Passei todo esse tempo com raiva dessa mulher, pensando o pior dela. E
agora a olhando, vejo que eu não a mereço. Mas sou um egoísta filho da
puta e não só a quero, mas farei tudo para tê-la de volta.
— Papai... papai, vem comigo — Geovanna, nem tem noção do que
se passa a sua volta e me puxa.
Eu me levanto, a fim de segui-la e reparo que a conexão que tive
com Letícia não passou despercebido.
— Acho que sou a única que você não conhece, sou a Lia —
exprime a moça com o cabelo azul e piercing no nariz. Ela é bonita, e seu
sorriso caloroso, mostra que talvez nem todas estejam contra mim.
Eu aperto sua mão.
— Prazer em te conhecer, Lia.
Ela me olha com atenção, com olhar especulador. Então abre o
sorriso.
A Geovanna me puxa, e nós todos rimos.
— Ela é um pouco ansiosa — conta Lia, dou uma risada.
Vou com Geovanna para o meio da sala e ela pede que eu sente, pois
vai fazer café para mim. Eu brinco com ela, e me distraio.
Letícia nos deixa a vontade, e fica de longe nos observando. Ela está
sentada na cadeira em que eu ocupava, e seu cunhado está de frente para
ela. Os dois conversam. Já a Lia e o Leandro estão cada um em um sofá e
Geovanna serve os dois também. Ela é uma criança muito dinâmica e
envolve a todos nós.
As horas passam e me perco ali, brincando com minha pequena. E
cada vez que ela se refere a mim como papai fico exultante e tenho certeza
que nunca me cansarei disso. A noite é agradável, a única coisa que me
incomoda é a Letícia se manter afastada. É como se ela estivesse me
evitando.
Quando vou embora Lia me surpreende, dizendo que adorou me
conhecer. Eu também me simpatizo muito com ela, e em alguns momentos
tenho a impressão de que já a conhecia, porém é impossível. Quanto a
Letícia... ela me leva até a porta e segura Geovanna no colo.
Deixá-las faz com que um vazio se forme dentro de mim.
Alguns dias se passam, e eu não consigo progredir com Letícia. Ela
está me deixando louco. E todos os dias quando vou ver a Geovanna ela
inventa alguma coisa e vai para o quarto. Eu gostaria de estar com ela a sós,
para poder conversarmos sobre nós. Entretanto ela me evita todos os dias.
Nunca na minha vida tive tanto trabalho com uma mulher.
Quanto ao Leandro, aos poucos ele vai se soltando mais, e sinto que
ele, nas vezes em que está presente nas visitas à minha filha, me observa e
presta atenção em todos os meus atos. Já a Lia é outra história. Ela faz
questão de conversar comigo e uma vez em que ficamos apenas eu, ela e a
Geovanna na sala, ela confessou que torce para Letícia e eu nos
entendermos.
Vi ali que tenho uma aliada.
Minha mãe aparece na empresa, me pegando de surpresa, pois todo
mês almoçamos juntos, e o nosso próximo encontro será dali a uma semana.
Edna a deixa na minha sala e assim que se retira eu abraço minha mãe, com
carinho.
— Meu filho, não vou demorar. Só dei uma passada para te dar um
beijo — revela com um sorriso doce.
Ela é uma mulher que passa por tantas coisas em seu casamento, e
mesmo assim consegue ser gentil.
— Eu gosto das suas visitas, mamãe. Mas é bom sempre dar uma
ligada antes, pois acontece de eu viajar, às vezes — conto e a conduzo até a
poltrona no canto da sala.
Depois de se acomodar, faço o mesmo me sentando a sua frente. Ela
sorri.
— Antes de subir eu perguntei. Estava aqui perto. Vou ao shopping
comprar o presente de aniversário do seu pai — menciona. Eu faço uma
careta. Minha mãe fica séria. — Você vai no jantar de aniversário dele, não
vai? Eu te enviei o convite.
Se mamãe soubesse como estou com mais raiva ainda do papai, nem
tocaria em seu nome.
— A senhora sabe que não faço o tipo de fingir que está tudo bem,
só pelas aparências.
Ela fica triste com minhas palavras. Eu não gosto de deixar minha
mãe assim.
— Você poderia ir, meu filho. Se não por seu pai, por mim — pede.
Ainda não estou preparado para encará-lo. Ele foi o culpado por eu
não ter conhecimento da minha filha. E ele mandou ameaçar Letícia. Ainda
não o confrontei porque preciso ter provas. E é só por isso que escondo da
minha mãe que ela tem uma neta.
Se eu soubesse que ela manteria segredo, eu contaria. Mas preciso
de um tempo para averiguar as coisas, mamãe tem que entender que o seu
marido, o meu pai, é um crápula que manipula e é cruel. E depois quem
sabe, minha mãe conhecendo a Geovanna fique tão feliz que esqueça tudo o
que sofreu em suas mãos.
Peço a ela que não conte com minha presença, e se ela quiser, me
manterei recolhido, assim ela pode dizer que fiz uma viagem a trabalho e
não cheguei a tempo. Mamãe sorri com minha ideia, mas não diz nada. Ela
se levanta e me olha com atenção, analisa meu rosto.
— O que foi? — questiono.
— Tem alguma coisa diferente em você — comenta.
Eu rio com discrição.
— Tem nada de diferente.
Ela balança a cabeça.
— Tem sim. Hoje você não foi tão agressivo quando se referiu ao
seu pai — declara e dá um sorriso esperançoso. — Será que finalmente irão
se entender?
Sem dizer nada eu a abraço. Depois do que descobri, essa chance é
nula. E apesar dele se dizer inimigo do Ricardo, acredito que os dois
combinaram de separar eu e Letícia. Afinal as mentiras contadas por ambos
ocorreram no mesmo dia, é lógico que um sabia que o outro agiria.
Minha mãe vai embora. Eu volto ao trabalho, olho a hora e percebo
que falta muito para ver minha filha e Letícia. Pego o celular e abro as
imagens da Geovanna, fico olhando, um sorriso bobo nos lábios, como se
não tivesse nada para fazer.
Enquanto vejo a foto o aparelho toca com o nome do William. Eu
fiquei tão envolvido em meus problemas que não conversei com nenhum
dos meus amigos. Eu cheguei a identificar algumas chamadas do
Alexander, mas não retornei nenhuma.
— Fala, meu camarada — atendo.
— Finalmente! — exalta, fazendo chacota. — Você sabia que o
Alexander me ligou? Ele quer falar com você — avisa e tenho certeza de
que meu amigo contou o ocorrido na Mansão.
Inspiro com força e exalo o ar dos pulmões.
— Ele contou o que aconteceu? — inquiro.
William se mantém em silêncio por alguns instantes.
— É verdade? Sobre a criança? — pergunta.
— Sim, eu tenho uma filha. Ela tem quase três anos, e é a garotinha
mais linda que já vi — confesso com orgulho.
— Puta merda! Então é verdade — comenta parecendo
surpreendido. — E você está bem com isso? E a mãe da menina? Alexander
contou que você saiu com a moça da Mansão e estava muito nervoso.
Eu coço a cabeça.
— É uma longa história. Mas posso afirmar que não estou bem. Eu
estou radiante... porra cara, a Geovanna é minha cópia, só que muito mais
linda... minha filha é perfeita — finalizo.
— Nossa! Nem sei o que dizer — declara.
— Nós vamos conversar pessoalmente e te conto tudo — prometo,
pois estou louco para mostrar a minha filha ao mundo. Quero que todos
saibam dela. E só não fiz isso ainda, por conta dessa situação tão
complicada. — Mas me diz, como está o Théo? E a Emilly? Recuperou-se
bem?
William está feliz, isso é certo. Ele fala do filho e da esposa com
muito carinho. A Emilly fez muito bem ao meu amigo. Eles tiveram um
começo meio fora do comum, mas deu certo no final. Pensar no meu amigo,
tão feliz com a sua mulher e filho, faz eu me lembrar da Letícia. Será que
um dia teremos a chance de ter uma vida em comum? E será que ela vai me
perdoar? São perguntas que me faço todos os dias. E fico impotente, pois
tenho medo de que ela nunca possa me desculpar.
Depois de conversar com William, passo uma mensagem para
Alexander, aviso que preciso falar com ele, e pergunto quando estará livre.
Sua resposta não demora a chegar e ele informa que posso ir à Mansão Eros
em dois dias, que ele estará lá, pois hoje está fora, numa viagem a negócios.
Jogo o telefone em cima da mesa, então ele apita com outra
mensagem, é um número desconhecido, então vejo do que se trata.
Olá Heitor, Lia aqui. Se por acaso quiser encontrar a Letícia, ela
estará sozinha nesta tarde, pois todos estarão fora e eu estou saindo agora
com a pequena Geovanna para passear no shopping.
puxo ar para os meus pulmões. Cada partícula do meu corpo está sensível.
encontro não acontece por conta dos nossos compromissos ou ainda, algum
contratempo.
Assim que chego, José, o garçom que sempre nos atende vem me
receber sorridente.
— Apenas o Alexander chegou, já está tomando sua bebida, vou
providenciar um copo para você — avisa.
— Então vou logo para a mesa, antes de começar a reclamar, sabe
como ele é carente — brinco, e José ri.
Alexander bebe a cerveja e sua cara de poucos amigos, me dá
vontade de cair na gargalhada. Ele, usualmente carrega essa expressão, de
estar com raiva. Paro em sua frente, isto posto, seu olhar se ergue e quando
me reconhece dá um sorriso, cínico.
— O papai do ano chegou — dispara, ao beber sua cerveja.
Eu me sento e o encaro.
— Pensei que o papai do ano fosse o William — acentuo.
José traz meu copo e se retira, me sirvo de cerveja e brindo com
Alexander.
— Então... aos dois papais do ano — caçoa.
Dou um bom gole na minha cerveja e coloco o copo sobre a mesa.
— Quem diria, eu pai — comento e sacudo a cabeça.
Alexander presta atenção em mim.
— Espero que você tenha conseguido resolver as coisas com a
moça, percebi que você estava muito enfurecido, cheguei a ficar com medo
por ela — ressalta.
Ergo as sobrancelhas.
— Eu fui pego de surpresa e não soube lidar com a situação, mas
nós conversamos e esclarecemos tudo — conto de maneira muito resumida.
Alexander me analisa com a sombra de um sorriso.
— Você, por um acaso, a proibiu de trabalhar ma Mansão? —
inquire, com olhar especulativo.
Eu o encaro, confuso.
— Claro que não, você me conhece bem, e sabe que prezo pela
liberdade feminina, embora... — começo e não termino, olhando para meu
copo em cima da mesa.
— Embora...? — Quer saber Alexander.
Deixo que um bufo, forte, escape da minha garganta.
— Por mim ela não voltaria a trabalhar na Mansão Eros, não há
necessidade disso, mas Letícia é tinhosa.
Alexander dá uma gargalhada.
— Você está mudado, muito mudado. Porém andei pensado, desde
que liguei para William e pedi que te desse um recado. — Ele bebe o
restante da cerveja em seu copo, depois pega uma das garrafas do balde e
volta a enchê-lo, para em seguida completar o meu copo. Eu espero,
pacientemente, até que volte a falar. Então põe a garrafa no balde e me olha.
— É de conhecimento de vocês que existem muitas normas na Mansão, e
muitas dessas se refere aos funcionários.
— Sim, sei como você adora uma regra — chio, balançando a
cabeça.
Ele ri.
— Assim, uma das regras é que nenhum dos colaboradores podem
se relacionar entre si, e menos ainda com qualquer convidado.
Eu o encaro, perplexo.
— Alexander, você está contradizendo um pormenor que vem no
contrato que recebemos todas as vezes que a festa da Mansão acontece —
lembro-o.
Meu amigo faz um pequeno gesto afirmativo com a cabeça.
— Sei do que fala, mas os homens e as mulheres que servem no
salão estão aptos aos jogos. Inclusive, esses colaboradores não são
funcionários comuns, eles são pessoas ricas e que servem os outros
convidados, por puro fetiche, inclusive eles me pagam bem para fazerem
isso — conta e pisca um olho.
Passo a mão pela cabeça.
— É, você uma vez comentou sobre isso, esse é o motivo das
máscaras deles cobrirem todo o rosto.
— Sim, para que não pensem que aqui fora eles são subalternos.
Como disse: é um fetiche — complementa, sorridente.
Eu olho Alexander e fico pensativo. Pelo que entendi, a Letícia não
poderá mais trabalhar na Mansão.
— Assim, com essa norma, a Letícia está fora?
— Sim, e mesmo que vocês não tenham mais nada, existe a menina.
Além do mais ela causou um reboliço na última reunião. Ficou discutindo
na frente do meu pessoal, eu não vou querer uma encrenqueira trabalhando
para mim.
Fico sério, e fecho as mãos em punhos. Alexander observa o meu
gesto com um sorriso, debochado.
— A Letícia não causou nada daquilo, eu sou o responsável por
aquele reboliço, eu fui para cima dela já a acusando, em nenhum momento,
ela sequer alterou a voz para mim, muito pelo contrário — defendo, afinal
Letícia não é culpada de nada. — Se tiver que castigar alguém, esse alguém
tem que ser eu.
Ele revira os olhos.
— Você é meu amigo e não meu funcionário. E você sempre
frequentou a Mansão sem causar confusão alguma.
Fico indignado com suas palavras.
— Não é meu desejo que a Letícia volte a trabalhar na Mansão, só
pelo fato dela não precisar mais, pois estou disposto a assumir todas as
despesas dela, porém é injusto que a julgue de forma errada, para isso basta
eu, que fui um idiota no passado e a afastei por deduções ridículas —
desabafo e bebo minha cerveja.
Alexander tem seus olhos cravados em mim, e sua testa franzida.
— Ela é o motivo por você ser tão melancólico em alguns
momentos — aponta e eu não respondo, mesmo porque não é uma
pergunta.
— Vocês já acabaram com duas garrafas? — Caio chega, sem que
tenhamos percebido e ao seu lado está William.
— As duas mocinhas estão atrasadas, o que foi? O batom não
combinava com a roupa? — Alexander caçoa e nós rimos.
Os dois se sentam e ficamos zoando um ao outro, José traz o copo
deles e mais cerveja para abastecer nosso balde. Caio conta da sua última
viagem e de como fodeu a comissária de bordo em pleno voo. Ele é de
longe, o mais libertino, e suas aventuras sexuais é de deixar um santo
pagando penitência, só de ouvi-lo falar.
— O papo sobre a vida sexual do Caio, muito ativa por sinal, está
ótimo, porém gostaria de saber de você, Heitor: Sua pele está boa? Ou tem
coçado muito? — pergunta William e eu olho para ele intrigado.
Eu solto uma risada.
— Que porra você está falando? — questiono e olho para os outros
dois, que têm uma expressão de riso.
— Sua alergia a crianças, como está sendo isso? Depois de ter
contato com a sua filha — diverte-se William.
Claro, eles não perderiam a oportunidade de fazerem chacota.
— Vocês são uns filhos da puta — resmungo.
— Cara, pena não ter gravado esse seu discurso — aponta
Alexander.
— Mas eu tenho uma ótima memória, lembro a maneira como
falava sobre ser pai, ou melhor: a maneira em que dizia que nunca seria pai
— William exprime, gesticulando com a mão.
— E agora ta aí. Todo derretido pela filha, você era meu ídolo, cara
— declara Caio, também querendo rir.
— E acho que tá derretido pela mãe da garotinha, também! — Desta
vez é Alexander que acentua e me olha com atenção.
— Vocês parecem um bando de fofoqueiros — resmungo, bebendo
a cerveja.
Os três caem na gargalhada e continuam zombando comigo, sei que
não fazem por mal, eu no lugar deles faria o mesmo, tanto que quando
William engravidou uma mulher, hoje a sua esposa, e se mostrou todo
apaixonado, eu não perdia a oportunidade de lembra-lo de como ele vivia se
vangloriando por ser solteiro e livre.
Hoje eu o entendo perfeitamente. No coração e no destino nós não
mandamos, tudo acontece do jeito que deve acontecer. E tirando o fato da
Letícia, ainda, não ter me perdoado e se rendido, eu estou muito feliz com a
descoberta da minha filha, assim como pela segunda oportunidade que a
vida está me dando para poder consertar as burradas que fiz no passado.
Somos os últimos a sair, porém como clientes fieis e muito
generosos nenhum dos funcionários reclamam.
Já do lado de fora, cada um aguarda por seu motorista. Então
Alexander toca em meu ombro.
— Não tive oportunidade de falar, mas a sua filha é uma graça.
Parabéns! — saúda meu amigo e dou um sorriso, orgulhoso.
— E eu quero conhecê-la — William dispara.
— Sim, será ótimo. Podemos marcar alguma coisa na minha casa.
Mandei fazer um mini playground na parte dos fundos da casa. E quando
Théo tiver maior vai se divertir bastante lá.
— Eu não estou ouvindo isso. Você o que? — Caio se mete na
conversa.
— Deixe ele, Caio. Não tá vendo que assim como o William, Heitor
é um homem transformado? — caçoa Alexander.
— Nem vou responder... — Olho para Alexander e mudo de
assunto. — Você conseguiu descobrir alguma coisa sobre aquela ameaça?
Há alguns meses Alexander recebeu uma ameaça, e pelo visto a
pessoa sabia dos seus passos, pois conseguiu se infiltrar até mesmo na
Mansão.
Alexander solta um grunhido, e seu olhar é letal, percebo que
William e Caio ficam sério a fim de ouvir o que ele tem a dizer.
— Nada desse filho da puta dos infernos. Mas eu sei que ele está por
perto, posso sentir isso em meus poros. E ele vai pagar, pois não tenho
piedade dos meus inimigos — assevera com a voz fria.
Eu tenho é pena de seja lá quem for que mexeu com meu amigo.
Alexander tem um ar de perigo que o envolve, ele é um homem justo, não
admite erros. Além de ser muito controlador. Sua lealdade, como amigo,
não se discute, entretanto seu outro lado, o que desconhecemos, é
assustador.
Os nossos carros chegam praticamente juntos.
— Mas com certeza você não vai ficar parado, a espera que ele dê o
próximo passo — William chega a comentar.
Alexander dá um riso sinistro.
— Deixe que pense que estou vulnerável — expõe com ar de
vitória. Ele arruma a lapela da sua camisa social preta, e nos encara. —
Próxima festa daqui um mês. Enviarei o convite aos três.
William coça a nunca e franze a testa.
— Vou passar essa, Théo está muito novinho. Nem eu e muito
menos Emilly o deixaremos. Teremos outras oportunidades — responde.
Alexander me olha, com seu sorriso cínico, com uma pergunta
silenciosa.
— Não sei. Minha vida está uma confusão e preciso resolver tudo
com Letícia. — E só vou se ela for, penso comigo mesmo.
Caio ri.
— Puta que pariu! Vocês são patéticos — diz. Eu e William olhamos
para ele, que mexe os ombros. — Porém, como bom amigo eu desejo que
vocês sejam felizes nessa vida de prisioneiro que escolheram.
— Vou deixar vocês, tenho coisas a resolver — declara Alexander e
se afasta a medida que seu motorista sai do carro e abre a porta traseira para
ele entrar. Não passa despercebido como o homem olha desconfiado para
todos os lados, antes de voltar ao volante.
— Resolver coisas a essa hora? E o que seria? — pergunto curioso.
Afinal passa da meia-noite.
Caio aperta meu ombro.
— Melhor não sabermos amigo. É o Alexander — cochicha e
William concorda ao acenar com a cabeça.
Eu mexo os ombros.
— Amigos, foi muito bom vê-los. Mas estou cansado pra caralho.
— E olha que sua filha nem mora com você — fala William com
uma risada.
Eu dou um sorriso.
— Ainda... Estou trabalhando para mudar isso.
Aperto a mão do Caio e simulo um soco em seu ombro.
— Vê se não some, seu imbecil. Você é um cretino, mas gostamos
de você — brinco e ele dá uma gargalhada.
De repente fica sério, e como fiz, finge um soco em meu ombro.
— Olha, eu falo essas bobagens para sacanear vocês, mas no fundo
fico muito satisfeito que estejam felizes — comenta e olha de William para
mim. — Embora para você as coisas não funcionam como o que espera,
mas tenho certeza que logo vai resolver essa pendência. Afinal somos os
quatro mosqueteiros e tudo o que queremos, nós conseguimos — completa.
William e eu rimos.
— Sim, você está certo. Eu sou a prova disso — William aponta.
Eu vejo meu amigo tão apaixonado e feliz. E quando conheci a
Emilly eu percebi como eles fazem bem um para o outro. Eles dois têm uma
conectividade incrível. Eu quero ter isso com a Letícia, mas a mulher é
difícil.
Despeço-me dos meus amigos com a promessa de levá-los a um
passeio na nova lancha que adquiri e entro no meu carro, no banco do
carona.
— Direto para casa, senhor? — pergunta Tião, o motorista.
— Sim, meu caro. Preciso dormir um pouco — respondo.
Depois me deixar na garagem, entro na minha casa, tão grande e
silencioso que me sinto melancólico. Onde Letícia mora com minha filha, é
um apartamento muito pequeno, mas lá tem vida. Coisa que falta na minha
casa. Penso se ela vai aceitar passar o final de semana aqui. Pois agora que
o pequeno play está pronto, e preparei um quarto para Geovanna, não vejo a
hora de recebê-las.
Quero as duas aqui. Basta, agora ver o que Letícia vai dizer disso.
trás, ao lado da Geovanna, que está bem segura em sua cadeirinha. Não
posso dizer que ele não está se esforçando, pois, como um pai responsável
tratou logo de providenciar para que a filha viajasse em seu carro com total
segurança e comodidade.
Ele conduz o carro e finjo não notar como me olha pelo retrovisor.
Não vou mentir e dizer que estou tranquila em passar um final de semana
em sua casa, pois não estou. Pensei em não aceitar o convite. Mas não seria
justo nem com ele, nem com Geovanna. Ambos precisam desse tempo
juntos.
Minha filha carrega o urso que ganhou do pai e noto sua felicidade.
Eu sei que essa felicidade é por causa dele, é como se ela soubesse da
importância do Heitor em sua vida. Eu me sinto muito feliz por eles estarem
se dando bem. Foi como Lia comentou, a maneira que Heitor olha para
Geovanna e o carinho e paciência que tem com ela mostra como ama a
filha.
Noto que ele passa por lugares diferentes, até que sobe uma rua
arborizada e bem iluminada. Heitor para o carro num portão imenso e o
mesmo se abre. Ele deve ter se mudado, lembro que ele comentou comigo,
algumas vezes, sobre morar em uma casa, ele tinha esse projeto em mente,
pois não gostava muito de viver confinado. Como se o seu apartamento
fosse minúsculo.
Depois de parar o carro na garagem coberta ele se vira para trás e
sorri.
— Chegamos — comunica.
Geovanna tenta se soltar do cinto de segurança, eu olho para ela e
sorrio.
— Calma, filha! Nós já vamos tirá-la daí — falo e tento soltar o seu
cinto.
Heitor sai do carro, dá a volta com passos rápidos e abre a porta
traseira, ao lado da nossa filha.
Ele acaricia seu cabelo, com fisionomia de felicidade e com
habilidade solta o seu cinto e a pega no colo. Então me olha, com olhos
brilhantes.
— Espere só pouquinho — pede, pisca um olho para mim e fecha a
porta.
Não entendo o porquê de ficar esperando aqui dentro, mas cato
alguns brinquedos que Geovanna trouxe e coloco na sacola, e minha porta
se abre. Eu olho, e Heitor com nossa pequena no colo me estende a mão.
Disso eu não posso falar dele. Heitor sempre foi muito cavalheiro. No
passado quando estávamos juntos, ele sempre fazia questão de ser gentil
comigo.
Dou um sorriso sem graça e seguro sua mão estendida. O calor da
sua pele aquece todo o meu corpo.
— Não precisava se preocupar, você sabe que me viro sozinha —
comento enquanto saio. Então olho a casa, magnífica, por sinal. — Então
você realizou seu sonho — comento.
Ele também olha para casa, pensativo.
— Não chega ser um sonho, mas nada impede que chegue a ser —
analisa contemplativo.
— É sua casa? — Geovanna pergunta, e o tira de sua reflexão.
Ele olha, com carinho para nossa filha.
— É sua também, filha — diz e se vira para mim, com olhar intenso.
— Ela é nossa, na verdade — completa e sinto um arrepio permear minha
pele.
Noto uma senhora sair da casa, ela usa um uniforme, e deve ser sua
governanta.
Heitor nos apresenta, e ela é muito gentil. Então olha Geovanna e dá
um sorriso, sincero.
— Mas essa menininha é muito linda! — exclama.
Geovanna fica tímida e dá um sorrisinho suave.
Heitor dá um cheiro em seus cabelos e tem uma expressão
orgulhosa.
— Essa é a minha filha, dona Sueli — diz com um sorriso.
Depois das apresentações iniciais, nós entramos e o bom gosto é
indiscutível. É tudo muito limpo e luxuoso, e me bate uma ansiedade.
Então quando a dona Sueli se afasta, eu olho Heitor, com
preocupação.
— Heitor, a Geovanna não é uma criança muito levada, costuma ser
obediente, porém, nem sempre consigo controlar essa menina.
Ele me encara, ainda com ela em seu colo e se mostra confuso.
— O que você quer dizer?
Olho a sala, as plantas ornamentais, o sofá branco e o tapete
felpudo. Mostro o lugar para ele com a mão.
— Tenho medo que ela possa sujar suas coisas. Aqui é tudo tão
perfeito — aponto.
Ele dá uma risada.
— Você está enganada, Letícia. Essa casa está longe de ser perfeita,
e ela pode fazer o que bem entender. Não me importo com nada disso.
Quero minha filha à vontade, assim como você. Portanto, deixe essa
preocupação de lado — declara com franqueza e sorri. — Venha comigo.
Vou levá-la até o quarto dela, e enquanto vai se adaptando, volto para
buscar as coisas de vocês no carro e verificar se o jantar está pronto.
Eu aceno e o sigo. Heitor começa a falar com Geovanna, conta que
tem uma surpresa para ela, mas que só no dia seguinte poderá mostrar, pois
já é noite. Lógico, a menina ainda não tem três anos e não entende o que ele
diz, mas fica o tempo todo perguntando “cadê a surpresa”.
Sua casa é muito grande, e conforme o sigo noto quatro portas, bem
espaçadas no corredor, e na parede de frente uma porta dupla a qual deduzo
ser a sua suíte. Ele abre uma das portas e acende a luz. Eu estou atrás dele e
não posso ver nada, mas minha filha se mexe querendo descer e ele rir
enquanto a põe no chão.
Então sou capaz de ver o belíssimo quarto que ele montou. É um
sonho! Pintado num tom rosa muito clarinho, e alguns desenhos de ursinhos
em uma das paredes. A caminha dela é montessoriana em forma de casa e
tem luzes de led em volta.
Minha filha corre até um grande urso e se joga nele.
— Olha, mamãe. Ele é muito grande! — exclama, toda empolgada,
de tanta felicidade.
Eu sorrio para ela.
— Gostou? — Heitor sopra, ao meu lado.
Olho para ele, que me observa com cautela.
— É lindo? Quando você fez esse quarto? — questiono, curiosa.
Ele coça a nuca, se vira para Geovanna que agora brinca em uma
mesinha para desenhar. Heitor parece sem jeito e vê-lo assim, dá vontade de
beijar sua boca e esquecer o passado.
Ele volta a me olhar.
— Logo depois que soube dela, eu entrei nesse quarto, e imaginei-a
aqui. Então providenciei para que montassem tudo com urgência —
confessa.
Eu sorrio e olho Geovanna. Sinto meu coração bater forte. Não há
nada mais gratificante do que ver seu filho feliz.
— Obrigada. Ela adorou, isso é certo — acentuo.
Sinto que Heitor me olha e finjo que isso não me atinge, então
permaneço com os olhos voltados para Geovanna.
— Vou buscar as coisas de vocês e verificar o jantar, qualquer coisa,
aquela porta com ursinhos de toalha é o banheiro dela — avisa e sai do
quarto.
Eu solto um suspiro de alívio, pois não estava conseguindo me
conter com ele tão perto. Já vi que esse final de semana será uma grande
prova onde testarei o quanto sou resistente.
Fico brincando com Geovanna. Ela quer pegar vários brinquedos ao
mesmo tempo, então pede para ir ao banheiro. E até ali fica feliz com o
tanto de desenho que tem pela parede. Até banho quer tomar para usar o
sabonete e brincar com o baldinho no Box.
Heitor retorna e sua satisfação em ver a filha tão encantada, é
evidente. A animação da Geovanna é contagiante. Assim deixamos que ela
tome um banho morno e fique um pouco na banheira fazendo espuma. Eu
me sento no chão e observo minha filha. Ele faz o mesmo e fica de frente
para mim. Enquanto conversamos amenidades.
Heitor pergunta se eu tenho notícias do meu pai e se ele conheceu a
Geovanna, então conto que não tenho nem certeza se ele sabe que fiquei
grávida, pois logo que tudo foi pelos ares comigo, com a ajuda do meu
irmão, eu fui para a Espanha, viver com a tia da minha mãe, mas depois da
sua morte retornei ao Brasil. Não tinha como viver mais lá, pois seus filhos
eram bem diferentes da tia Josefa.
Heitor, com certeza, fica deprimido, vejo em seu olhar o sentimento
de culpa.
Eu toco em sua mão, e dou um sorriso, triste.
— Você não é culpado disso, Heitor — garanto.
Ele com um gesto de cabeça, nega e olha para nossa filha, que
brinca e nem percebe nada a sua volta.
— Não acho. Se eu não tivesse sido um canalha com você. Tudo
seria diferente — assinala e sua voz sai grave.
Também observo Geovanna e respiro com pesar.
— Não adianta ficar martelando sobre isso agora — murmuro.
Heitor me olha, eu me viro para ele.
— Um dia, será que você vai me perdoar, Letícia? — pergunta com
olhar inquieto.
— Provavelmente eu vou, Heitor, mas não agora. É muito difícil me
libertar das lembranças daquela tarde. E eu confesso que tenho pavor que
você me decepcione mais uma vez, pois eu não suportaria — confidencio
com a garganta apertada.
Ele estende o braço e acaricia meu rosto, seu olhar focado em mim.
— Eu entendo, Letícia. — Seus olhos estão brilhantes e vislumbra
meu rosto com afeto, deixando meu coração aquecido. — E de verdade,
aqui diante da nossa filha eu te peço perdão, eu não posso prometer que
você não vá mais sofrer, pois isso não tem como garantir. Mas da minha
parte eu prometo que não a decepcionarei mais. Por favor, eu preciso que
acredite em mim — pede com naturalidade, porém com emoção na voz.
Eu desvio o olhar para Geovanna, fico sem saber o que falar e meu
coração comprime em meu peito. Minha filha dá um bocejo, eu esboço um
sorriso.
— Ela está com sono — comento, ele exala com força e percebo
que se vira para Geovanna. — Acho melhor tirá-la daqui. Depois podemos
dar o jantar dela, isso se ela não dormir antes.
Heitor se levante e estende a mão para me ajudar. Antes de pegar
Geovanna, nós nos encaramos. Minha respiração oscila, pois quero muito
tocá-lo.
Ele sorri.
— Coloque o pijama nela. Vou pedir a Sueli para arrumar o jantar
para ela — informa, então beija minha testa e sai do banheiro, me deixando
a sós com Geovanna.
Olho para minha filha e sorrio, enquanto pego sua toalha.
— Ah, minha filha, vai ser difícil para a mamãe resistir ao papai —
murmuro. Geovanna olha para cima e sorri.
Ela bate palmas, rindo.
— Viva o papai... viva a mamãe!
Eu começo a rir e a tiro da banheira.
Algumas horas depois, logo após o jantar, Geovanna está caindo de
sono. Eu a ajudo comer sua fruta, mas seus olhinhos quase fecham. Então
digo ao Heitor que vou levá-la para o quarto e que depois dela dormir eu
volto. Porém, ele se levanta da cadeira.
— Eu vou com vocês. Eu quero colocá-la para dormir — explica.
— Ás vezes ela demora, mesmo estando com muito sono. Se quiser
pode jantar...
Ele coloca o dedo indicador em meus lábios.
— De jeito nenhum. Todas às vezes que eu estiver por perto, eu vou
participar de tudo, e dividir tudo com você. Você não fará mais nada
sozinha, Letícia — enfoca, e eu aceno.
Voltamos juntos para o quarto da Geovanna, enquanto preparo sua
cama ele a leva para escovar os dentes, e ela começa a tagarelar com ele.
Procuro deixar Heitor à vontade com ela e permito que a coloque na
cama. Eu fico emocionada quando o vejo sentar-se ao chão e acariciar seus
cabelos. Geovanna deita-se de lado, com as mãos unidas abaixo da
bochecha e olha para ele com admiração e confiança. Eu me sento na
poltrona e observo.
O dois junto é de deixar qualquer um emocionado. O carinho, a
conexão e familiaridade deles são comoventes. E quando ele começa a
contar uma historinha para ela, com voz baixa e serena eu sinto meus olhos
se encherem de lágrimas.
Geovanna dorme, Heitor então liga a babá eletrônica e se levanta.
Eu faço o mesmo e saímos em silêncio do quarto. Enquanto caminhamos
até a sala de jantar ele me olha, e sorri.
— Será que ela vai estranhar?
Eu balanço a cabeça.
— Acredito que não. Geovanna costuma dormir bem em qualquer
lugar — acentuo.
Ele me ajuda a sentar no meu lugar e pede licença para falar com
Sueli, bebo um gole de água e logo ele retorna. Sueli o acompanha e nos
serve. Nós jantamos num clima tenso. Não por estarmos aborrecidos. Ao
contrário. Estar com ele nesta noite tem sido uma grata surpresa.
Quando Sueli volta e pega nosso prato, eu a acompanho com os
olhos, então volto-me para Heitor que tem os olhos cravados mim.
— Além de mudar de casa trocou os empregados, posso saber o
motivo? — indago, embora tenha uma ideia do por que ele fez isso.
Heitor acena.
— Os empregados eu dispensei todos, pois claramente um deles
tirou fotos nossas — confirma o que eu já sabia. — Esses novos são de uma
empresa especializada, e eu mesmo escolhi.
— Entendo, depois que meu pai mostrou uma foto nossa, eu deduzi
que foi um dos empregados que tirou — comento.
Ele faz uma careta.
— Sim, só podia ser. Tanto que questionei. Então uma delas mentiu,
e disse que foi você que pagou para que fizesse isso. — Ele respira forte. —
Naquela época eu acreditei naquela infeliz, é claro que ela foi orientada. E é
exatamente por isso que decidi descobrir onde ela vive. Estou disposto a
descobrir quem é a pessoa que a contratou.
— Não é melhor deixar isso para lá? Sabemos que foi o meu pai, ou
o seu — exponho.
— Ou os dois juntos, embora digam ser inimigos, de repente se
uniram, apenas para nos separar — deduz, Heitor.
Sacudo os ombros.
— Tanto faz, seja quem for conseguiu fazer um estrago.
Sueli retorna e termina de pegar a louça. Heitor diz que o motorista
a espera para levá-la para casa e que basta pôr a louça na máquina que ela
pode ir embora.
Ela meneia a cabeça e nos cumprimenta, então se retira.
Heitor se levanta e segura minha mão a fim de me ajudar. Então me
leva para fora da casa. Ele mostra seu jardim, iluminado, e com algumas
flores muito bem cuidadas circulando o gramado.
A lua brilha no céu e ele olha para cima.
— Eu, assim que você saiu do apartamento naquele dia, e conversei
com os empregados, não suportava ficar ali. Então arrumei uma mala e
viajei. Fiquei um mês fora e ao retornar para o apartamento percebi como
tudo ali me lembrava de você. Nunca me senti tão amargurado. — Ele ainda
olha para o céu e observa a lua. — Não consegui ficar. No mesmo pé que
entrei saí e fiquei num apart até comprar essa casa.
— Você me odiava tanto que não podia ficar no seu antigo
apartamento — declaro com tristeza.
Então ele me olha, se vira de frente para mim e de repente agarra
minha cintura, colando meu corpo ao dele. Seu olhar é desesperado.
— Não era ódio de você. É que você me fazia tanta falta, que sentia
uma dor imensa no peito. Cheguei até pensar em chutar o balde e me
humilhar para ter você novamente. Pois eu queria você de qualquer
maneira, Letícia. Mesmo que fosse culpada, mesmo que tivesse me
enganado. Eu queria você. Isso sim me dava raiva — desabafa.
Eu encaro Heitor e minha mão toca seu peito através da camisa.
— Eu posso entender como se sentia... — sussurro.
— Talvez possa. E agora eu carrego mais esse arrependimento. De
não ter engolido meu orgulho e te procurado. Se eu fizesse isso, eu veria
minha filha nascer — finaliza e demonstra tristeza.
— Você a verá crescer. Não é tarde para isso — comento.
Heitor passa a mão pelas minhas costas, enquanto a outra aperta a
minha cintura. Seus olhos vislumbram meu rosto.
— Você é a melhor pessoa que já conheci na vida — confessa.
Sua declaração mexe comigo. E minha cabeça apita em alerta. Se eu
deixar que ele fale mais alguma coisa, não terei escapatória.
Eu sorrio, sem vontade. Olho para a sua boca, sensual.
— Acho melhor eu dormir, está tarde — friso.
Ele solta uma risada.
— Vamos entrar — diz e se afasta. Fico um pouco decepcionada.
Pensava que ele fosse insistir.
— Se quiser, pode deixar o receptor da babá comigo — digo
enquanto o sigo.
Heitor entra e tranca a porta, depois liga o alarme. Logo se vira para
mim com olhar de predador, e meu coração pula, enquanto o sangue corre
em minhas veias com maior velocidade.
Ele segura meu rosto entre suas mãos, seu olhar de fome me deixa
hipnotizada.
— Você tem razão numa coisa: está tarde, pois deveria ter te beijado
mais cedo — rosna, colando sua boca na minha.
Sinto todo o corpo entrar em erupção, e quando sua ereção se
fricciona em mim, o calor em meu baixo ventre é estarrecedor.
Seu beijo devora tudo de mim. Não há como controlar o desejo.
Estou num beco sem saída e lutar se torna impossível, pois cada parte de
mim anseia por esse homem. Eu o desejo com todas as minhas forças.
Não vou, e nem quero lutar contra isso.
- 16 -
sua boca. Eu não me contenho e agarro Letícia com toda força entre meus
braços. O seu gemido de desespero incendeia meu corpo e meu pau se agita
enquanto outro profissional cuida dos meus cabelos, recebo massagens nos
pés.
parar de admirá-la. Ela dorme serenamente, e imagino como seria tê-la aqui
comigo, todos os dias. O fim de semana que passamos juntos foi perfeito. E
Geovanna, não sei como, fez com que eu me apaixonasse mais por ela.
um homem frio, que não admitia perder. Segundo o meu pai, esse homem
era capaz de passar por cima de qualquer um para conseguir o que queria.
pretendia abrir meu coração desta forma, ao menos não agora. Mas já perdi
tanto tempo, a afastei de mim há três anos, tudo por conta do meu orgulho
ferido.
Olho para ele que dorme profundamente. O lençol o cobre da cintura para
baixo, então observo seu corpo e admiro seu torso, nu e firme. Meu coração
meus sentimentos, porém, tenho certeza que com o tempo serei capaz de
mostrar que ela e minha filha são prioridades em minha vida. E ainda, perto
no passado.
pais e que meu avô, por parte de mãe, obtinha vinte por cento das ações da
empresa. Essa sociedade perdurou por três anos. Entendemos que o negócio
seguia bem e começava a dar lucro, foi quando Santiago Nóbrega Araújo,
Minha mãe foi uma das funcionárias e era o braço direito do meu
avô e após a sociedade ser desfeita, ainda trabalhou na empresa por alguns
meses, até que se casou com meu pai. Quanto ao pai do Heitor, ele e sua
mãe casaram-se um pouco antes, no dia seguinte em que a companhia
passava a ser do senhor Santiago.
Depois disso, o relatório que temos em mãos, aponta, de forma
resumida, a trajetória do meu pai, que fez investimentos que deram errados,
porém em alguns momentos, ele conseguia dinheiro de fonte desconhecida.
Acontece que desde o fim da sociedade, meu pai não conseguiu se manter.
Seguindo uma linha do tempo, mostra que Lia nasceu alguns meses
após o casamento.
Eu olho para Heitor, confusa.
— Então minha mãe casou-se grávida do meu pai — comento.
— Com certeza — responde, pensativo.
— Deve ser por isso que ele dizia algumas coisas desagradáveis a
ela — abordo, lembrando-me de como meu pai costumava jogar na cara da
minha mãe como ela foi um mulher fácil.
Heitor balança a cabeça.
— Seu pai então não é muito diferente do meu — diz.
Voltamos a ler tudo, quanto ao pai do Heitor não diz muito coisa.
Afinal ele permaneceu trabalhando como CEO, onde está até hoje. Temos
muito sobre a nossa família.
Meu avô morreu, deixando minha mãe sozinha, algumas semanas
após o desfecho do contrato. Sua morte foi devido a um infarto. Só imagino
como minha mãe sofreu, deve ser por isso que se deixou levar pela
conversa do meu pai.
Quando terminamos de ler, Heitor fecha a pasta e me olha.
— O que você achou de tudo isso? — indaga com olhar moderado.
Vejo a pasta fechada e mordo o lábio, então volto a olhar Heitor.
— Tenho uma teoria — arrisco, e ele me observa com atenção. — O
meu pai vivia dizendo que perdeu dinheiro por causa do Félix, e o meu pai
é um homem ganancioso e materialista, ele se sentiu lesado e deve ter
começado aí a briga dos dois e sua sede de vingança.
Heitor anui e estreita o olhar de maneira pensativa. Ele parece
analisar a minha suposição.
— Você não acha esse motivo muito irrisório, para uma pessoa
perder o tempo todo tentando prejudicar a outra?
Eu balanço a cabeça, negando.
— Para o meu pai, não. Ele é muito ganancioso. Sempre falava do
Félix com muita raiva. Hoje eu percebo que todo esse ódio é inveja. Pois
seu pai progrediu, enquanto o meu...
Heitor dá uma risada.
— Meu pai progrediu por conta da fortuna da minha mãe, Letícia. E
esse relatório deixa isso bem claro — comenta, azedo.
Eu olho para Heitor e passo a mão por seus braços.
— Seja o que for, nesse dossiê mostra que tudo começou por conta
de uma sociedade desfeita, onde meu pai se sentiu injustiçado.
Heitor me encara.
— Pode ser que eu esteja enganado, mas há mais. É alguma coisa
que não está explicitada aqui — fala e aponta para a pasta. — E agora eu
tenho certeza que minha mãe sabe o que é. Mas esconde isso.
Eu deixo escapar um bocejo.
— O que sei é que ler isso me deixou exausta, e a você também. —
Eu me preparo para levantar e pego a mão do Heitor. — Vamos descansar,
quem sabe assim nossa mente fique mais clara.
Ele se levanta do sofá, junto comigo.
— Você está certa — concorda e traz a pasta consigo. — Vou deixar
na gaveta do closet, em outro momento vou ler mais detalhadamente e
quem sabe assim encontrar outra resposta.
Eu sorrio.
— Sim, é melhor.
Antes de irmos para a suíte paramos no quarto da Geovanna e ela
dorme serenamente. Heitor ainda se aproxima dela, inclina o corpo e beija
de leve a sua cabecinha.
Eu observo o seu gesto com o coração radiante, pois eu tenho
certeza que minha filha tem o amor do seu pai.
Na cama eu me aconchego em Heitor, ele me abraça e beija o topo
da minha cabeça. Eu fecho os olhos e suspiro feliz. Apesar de nossas
famílias, estamos tentando estabelecer nossas vidas. E devo admitir, Heitor
tem se mostrado muito transparente, aos poucos minhas duvidas em relação
a ele vão se esvaindo.
Alguns dias se passam, sem que conseguíssemos mais informações,
Heitor pensa em procurar sua mãe, a fim de contar o que descobriu, assim,
quem sabe, ela possa se abrir com ele de uma vez. No entanto, eu sugiro a
ele que aguarde um pouco mais, pois não sabemos de que lado ela está.
Ele concorda e confessa que anda decepcionado com sua mãe, afinal
não é possível que ela se sujeite a tanta coisa e ainda encubra as maldades
do pai, apenas para manter o casamento.
— Minha mãe não tem amor próprio, é isso? — questiona,
contrariado.
Nós estamos no jardim, sentados numa toalha, enquanto observamos
a Geovanna brincar.
— Ela é muito apaixonada por seu pai, Heitor. Você mesmo já falou
isso.
Ele ri.
— Mas ele não é. Está na cara que meu pai a despreza, Letícia.
Nenhuma mulher, com o mínimo de amor próprio, ficaria ao lado de um
homem que a trata mal, se fosse uma mulher mal instruída, eu até
compreenderia, mas não é o caso da minha mãe.
— Eu nunca a vi, você diz que ela é muito bonita — comento,
curiosa em vê-la.
Ele pega o seu telefone e procura por algo, então depois me mostra a
tela.
— Aqui, essa foto foi tirada numa festa beneficente — conta.
Olho com atenção. Sua mãe é uma mulher linda, uma loira muito
elegante e nem de longe parece ser submetida a um casamento fadado ao
fracasso. Ao seu lado tem um homem, que ao contraria dela, que sorri, tem
uma expressão dura.
— Ela é linda — comento e aponto para a imagem ao lado. — Esse
é o seu pai?
Ele acena.
— Repara como ele está, essa fisionomia mal humorada faz parte
dele — reforça o que eu penso.
Heitor passar mais algumas imagens dos seus pais e vejo que ele
tem razão, enquanto sua mãe sorri e parece feliz, seu pai parece estar
passando por uma provação.
Eu olho Geovanna e vejo que está bem enquanto brinca em uma
casinha de bonecas, volto a olhar o telefone do Heitor e eu paraliso diante a
imagem.
— Heitor... — Sinto a garganta secar. Eu seguro seu pulso e não
deixo que passe para a próxima imagem.
Nós nos olhamos e ele percebe meu espanto.
— O que foi Letícia? — questiona, preocupado.
Volto a olhar a imagem no celular e aponto para o homem ao lado de
sua mãe, que sorri de maneira charmosa.
— Quem é esse homem ao lado da sua mãe? — pergunto, hesitante.
Heitor me olha muito sério, pois sabe que algo está errado.
— Esse é o meu irmão, o Pedro Henrique — responde, sem tirar os
olhos de mim. — Você já o viu em algum lugar, o conhece?
Eu aceno, e me sinto nervosa.
— Heitor, esse foi o homem que me ameaçou há três anos —
murmuro.
É explicito como a expressão de Heitor se transforma para ódio.
— Filho da puta! — esbraveja entredentes.
Passo a mão pelo cabelo e olho para Geovanna, tão distraída em sua
brincadeira, ela nem tem noção da nossa tensão.
— Como pode? Ele ameaçou acabar com você Heitor. Não acredito
que faria uma coisa dessas, provavelmente falou para me assustar —
balbucio.
Sinto que Heitor se segura para não explodir.
— Eu vou acabar com ele. Aquele infeliz — fulmina e eu passo a
mão em seu braço.
— Você não vai fazer nada, Heitor, chega de brigas. Por favor, pense
na nossa filha. Se tentar alguma coisa contra o seu irmão, será pior.
Heitor me olha, desnorteado.
— Esse filho da puta ameaçou você, Letícia. Aproveitou que estava
sozinha na rua para intimidá-la. Ele é um covarde.
Tento acalmá-lo.
— Concordo. Mas para que mexer nisso agora? Não vale a pena.
Heitor respira fundo.
— Aposto que foi meu pai. Meu irmão é um asno, não é o tipo que
faz as coisas por vontade própria — supõe.
Geovanna se aproxima e se senta entre nós. Então Heitor controla
sua raiva, pois Geovanna começa a conversar com ele.
Mais tarde voltamos ao assunto e ele diz que não vai fazer nada,
mas que vai deixar o irmão ciente de que sabe de tudo, e ameaçá-lo, caso
ele volte a se aproximar da sua família. Heitor conta que o Pedro Henrique
é mimado e como tem a personalidade fraca é usado pelo pai, assim como
por sua mãe também.
Ele tenta demonstrar que está tudo bem, mas eu vejo o quanto saber
que o irmão foi o homem que me ameaçou no passado, o deixou muito
abalado, pois Heitor se sente decepcionado. Ele sabe que o Pedro Henrique
é simulado. Porém não esperava que ele fosse capaz de descer tão baixo,
tudo por conta da sua ganância.
Heitor tem as mãos cruzadas por detrás da nuca e olha para o teto,
deitado em nossa cama. Eu acaricio seu tórax.
— Não fique assim, se você mesmo disse que seu irmão é uma
pessoa falsa, não poderia esperar que fosse agir com lealdade — aponto.
— Eu sei, mas eu ando decepcionado com todos daquela família,
por incrível que pareça, o meu pai parece o mais sincero. Ao menos ele não
nega ser um homem perverso — desabafa, muito revoltado. Heitor me olha.
— Eu tenho certeza que foi ele o homem que ofereceu dinheiro aos meus
funcionários para me vigiarem.
Recordo o que estava escrito no relatório, e a descrição dada pelos
ex-funcionários do Heitor bate com a aparência de seu irmão.
— Acho que você está certo. — Olho para ele e sorrio. Heitor me
olha com carinho e acaricia meu rosto. — Vamos esquecer o seu irmão ou
qualquer um que nos faça mal.
Ele dá um sorriso.
— Impossível esquecer os culpados que me mantiveram longe de
você. Eu deveria ter sido mais inteligente e percebido a armação. Eu falo do
meu irmão, mas também me deixei ser manipulado, não pelos mesmos
motivos dele, mas por ser um idiota — declara com pesar.
Eu me levanto e me sento em seu quadril, com uma perna de cada
lado do seu corpo. Heitor segura minhas coxas com delicadeza e eu aliso
seu peito.
— Heitor, quanto tempo estivemos juntos, naquela época? Você
lembra?
— Três meses, uma semana e dois dias, só não sei as horas, mas
posso calcular, se quiser — responde sem titubear e me surpreendo com sua
segurança.
Eu sorrio.
— Não imaginei que você soubesse com tanta exatidão — comento
e me sinto exultante.
Heitor me olha com um brilho em seus olhos, é um olhar de afeto; e
posso sentir em minha alma a força do seu sentimento.
— Letícia, eu lembro cada detalhe. Até a roupa que usava no dia
que nos esbarramos. Lembro-me do seu sorriso para mim, e como ficou
tímida quando fui atrás de você e pedi seu telefone. Em nenhum momento
eu pude te esquecer, e olha que tentei bravamente, mas foi impossível —
sussurra e eu fico emocionada.
— Eu já nem sei o que queria falar — confesso e ele ri. Então eu me
inclino, deito-me em seu peito e toco sua boca com a minha, suas mãos
quentes deslizam por minhas costas. — Agora também não interessa, eu só
sei que quero você — sopro e beijo sua boca.
Na mesma hora sinto sua ereção crescer, suas mãos viajam pelo meu
corpo e eu tiro minha calcinha. Passamos horas adorando o corpo um do
outro de todas as formas, e quando finalmente chegamos ao clímax
voltamos a nos beijar e adormecemos um nos braços do outro.
Eu durmo satisfeita e posso sentir meu sorriso.
Dias depois recebo uma mensagem de Lia dizendo que virá me ver a
noite. Acho muito estranho o fato de ela querer aparecer depois de
escurecer, pois com certeza Geovanna estará dormindo e ela não poderá ver
a sobrinha, a não ser que ela durma.
Heitor chega com Geovanna, pois ele foi buscá-la na escola direto
do trabalho, logo conto sobre Lia.
— Ela falou se é alguma coisa importante, ou só vem para uma
visita? — pergunta.
Eu balanço os ombros.
— Ela não falou nada, só enviou a mensagem e disse a hora. Melhor
preparar um quarto para ela? — indago.
Ele deposita um beijo em minha testa.
— Melhor, meu amor. Você sabe como é sua irmã — comenta.
Eu pego Geovanna no colo e a encho de beijos.
— E você garotinha, não sentiu falta da mamãe?
Ela me olha, um pouco sonolenta.
— Não — responde e Heitor cai na gargalhada.
Eu também rio.
— Não podemos dizer que nossa filha é mentirosa — caçoo.
Eu dou um banho nela, enquanto Heitor resolve algum problema do
trabalho em seu escritório. Depois ele retorna e a coloca para dormir
enquanto vou me arrumar para esperar Lia.
Instantes depois, Heitor entra na suíte e tira roupa para tomar banho.
— Falou com Sueli para pôr mais um prato na mesa? — grita do
banheiro.
— Sim, embora a Lia não tenha respondido se nos acompanhará no
jantar.
Escuto o jato de água e olho para o meu telefone. Pela hora Lia
deve estar quase chegando. Assim, aviso Heitor que vou para sala para
receber minha irmã quando chegar.
Antes, passo no quarto da Geovanna, ao ver que ela está bem,
marcho para a sala. Fico olhando o telefone para passar o tempo e a
campainha toca. Eu me levanto do sofá e noto Sueli vindo atender. Então
sorrio, e digo que ela pode deixar que eu atendo.
Ela acena e se afasta.
Eu abro a porta com um sorriso e vejo Lia, então tudo paralisa
quando vejo quem está ao seu lado. O que minha irmã faz com esse homem
aqui na porta de casa?
Sinto como se minha língua ficasse dormente.
— Letícia... — Escuto Lia falar.
Porém tudo fica preto e só sinto meu corpo caindo ao chão. Nada
mais faz sentido.
- 25 -
É então que vejo quem também está ali, em minha casa. Fico na
dúvida, entre expulsá-lo ou atender Letícia, que está inconsciente. Meu
coração se aperta em meu peito devido o medo crescente ao vê-la caída.
Assim, eu o ignoro e a pego em meu colo.
Sinto que sou seguido, mas estou tão preocupado e nervoso que não
consigo raciocinar com clareza.
Deito Letícia no sofá e passo a mão em seu rosto pálido.
— Letícia... Você está me assustando — sussurro, olho Lia ao meu
lado, muito preocupada, ela passa mão pela testa e olha a irmã. Então o vejo
atrás dela, parecendo apreensivo. — O que você falou para que ela
desmaiasse? — pergunto com raiva.
— Calma, Heitor! Ele não falou nada — responde Lia.
Meu pai se aproxima, devagar.
— Eu não esperava por isso, eu juro! — Sua voz sai tensa.
Então volto a olhar Letícia, ela começa a se mover e suas pálpebras
tremem.
Seguro seu rosto e o acaricio.
— Letícia, meu amor! Por favor, me responda.
— Heitor... eu — geme e abre os olhos lentamente. Ela olha para
mim e sorri, um pouco de alívio toma meu coração. Então ela olha Lia e vê
meu pai. — Lia? — Como eu, Letícia está confusa.
Sua irmã se abaixa ao meu lado, e segura sua mão.
— Letícia, eu não queria assustá-la dessa maneira — murmura,
sentindo-se aflita. — Perdoe-me, se soubesse teria alertado que não viria
sozinha.
Eu olho para Lia, muito confuso. Então ela veio junto com meu pai?
Viro-me para trás e vejo meu pai com expressão ainda mais aflita que Lia.
— Vocês podem explicar o que está acontecendo? — questiono,
olhando de meu pai para Lia.
Eles dois se olham, Lia baixa o olhar para sua irmã, deitada no sofá,
também desvio para a Letícia, ela tem a testa enrugada e tem o olhar
perdido. Eu passo a ponta dos dedos em sua face.
— Você está bem, minha querida? — indago com a voz macia.
Ela me olha e acena, então se levanta devagar com minha ajuda e a
de sua irmã. Sinto que Letícia está abalada em ver Lia e meu pai juntos.
Pois assim como eu, certamente não sabia que eles se conheciam.
— Eu não queria causar nenhum transtorno e só aceitei vir porque a
Lia insistiu. — Ouço meu pai falar.
Letícia respira fundo, olho para ela, que encara a irmã.
— Lia, você pode explicar o que está acontecendo? Porque você
veio até aqui com ele? — pergunta e não me passa despercebido que Letícia
evita olhar para o meu pai, e sinto que ela está com medo.
Eu dou um aperto em sua mão, e ela me olha. Eu dou um sorriso
fraco.
— Não precisa ficar preocupada, ele não vai fazer nada contra nós
— acentuo em tom de ameaça e miro meu pai.
Ele suspira alto, passa a mão por seus cabelos grisalhos e volta a me
olhar.
— Você pode não acreditar, mas eu nunca fiz nada para prejudicar
você ou a Letícia... não intencionalmente — complementa.
Acomodo-me ao lado da Letícia e dou uma risada, debochada.
— Conta outra pai. Mas confesso que estou curioso para saber o que
pretende, porque se veio aqui para tentar nos separar, fique sabendo que
perdeu seu tempo — esclareço, mantendo Letícia junto de mim.
Lia se afasta e se senta no outro sofá.
— Não é nada disso, ele diz a verdade, ao menos em parte — aponta
Lia.
Letícia observa a irmã com atenção.
— Comece a explicar Lia, porque eu e Heitor estamos perdidos aqui
— pede e finalmente olha em direção ao meu pai. — O que o senhor
pretende usando a minha irmã?
Viro-me para o meu pai, ele dá um sorriso melancólico.
— Eu não estou usando a sua irmã, Letícia.
— Vocês querem a verdade, estamos aqui para esclarecer tudo, e
mesmo que eu esteja correndo perigo, não vou mais ficar calada, deixando
que vocês sofram ou vivam com medo de que alguma coisa vá acontecer a
qualquer momento — expressa-se e vejo meu pai sentando ao seu lado e
acariciando sua mão.
Meu pai olha para mim e para Letícia.
— A verdade é que a Lia é minha filha, e tudo o que fiz até hoje foi
no intuito de protegê-la, inclusive deixar que outro homem a criasse em
meu lugar — confessa.
— O que? — pergunta Letícia.
— A Lia é minha irmã? — questiono, assombrado com o que ele
acaba dizer.
— Sim, Lia é sua irmã e também da Letícia — conta.
Olho para Letícia ao meu lado e ela olha os dois de boca aberta.
— Lia? Você sempre soube disso? — pergunta Letícia.
Lia sorri sem vontade e acena.
— Soube alguns meses antes da nossa mãe morrer, ela decidiu
contar a verdade, pois sentia que algo poderia acontecer — fala e seus olhos
se enchem de lágrimas. — Nossa mãe sofreu muito por conta disso, ela
contou que até tentou ter uma vida normal com o papai, ou melhor, com o
Ricardo, mas que foi impossível.
Minha cabeça dá voltas e surgem muitas perguntas. São tantas
questões que não sei por onde começar.
— Por isso a briga entre o Félix e o meu pai? E ele sabe que você
não é sua filha?
Meu pai olha de mim para Letícia, com tristeza.
— Vou contar tudo para vocês, assim poderão entender — diz.
— E a minha mãe? Ela sabe? — inquiro, me sentindo muito
confuso.
Lia então me olha, com pesar.
— Sinto informar, Heitor, mas a Donana é a verdadeira peste dessa
história — assinala Lia com rancor.
Sinto meu coração bater na garganta, porém noto que Letícia segura
a minha mão com força, é como se ela soubesse o que estar por vir.
— Então contem de uma vez — peço com a garganta seca.
Meu pai acena.
— Eu e Ricardo já fomos grandes amigos, morávamos no mesmo
condomínio, nossos pais se davam muito bem, mesmo o Ricardo sendo
muito ambicioso eu via esse lado dele como muito promissor — começa a
contar meu pai com o olhar perdido, como se visse diante de si as imagens
do seu passado. — Nós iniciamos um negócio, bastante lucrativo, porém
não tínhamos muita experiência, assim um amigo do meu pai quis investir
na empresa e entrou com parte da sociedade, foi muito bom.
Eu e Letícia nos olhamos, pois o que conta bate exatamente com o
que descobrimos no relatório do detetive.
— Esse homem que os ajudou era o pai da mamãe — completa Lia
confirmando o que já suspeitávamos.
— Foi então que conheci Adriana. — Meu pai diz seu nome e sorri,
me dou conta de que nunca o vi desta maneira. — Ela era a mulher mais
linda que conheci, me apaixonei por ela a primeira vista. No entanto, o
Ricardo viu nela uma forma de se dar melhor na vida. Ele fez da nossa vida
um inferno, ele armou para nos separar e quando fui tomar satisfação, afinal
era meu amigo, ele contou que Adriana estava jogando com nós dois.
— Minha mãe não faria isso — sussurra Letícia ao meu lado.
Meu pai a encara, então dá outro sorriso.
— Jamais, depois eu percebi que Adriana nunca faria isso.
— E minha mãe? Onde entra nessa história? — pergunto, pois estou
incomodado com o que Lia disse.
— O Ricardo queria me tirar da sociedade, eu não sabia desse fato.
Então, um dia ele disse que pensava em abrir outro tipo de negócio e
gostaria de vender a parte dele, foi então que apareceu em nossas vidas o
grande empresário Santiago Nóbrega Araújo.
— O pai da minha mãe — balbucio.
Meu pai balança a cabeça.
— Ele veio como rolo compressor e confesso que me senti atraído
por tudo o que nos oferecia, ele era um tubarão nos negócios e tinha o dom
de convencer qualquer um, não é a toa que ficou tão rico — conta, e parece
envergonhado. — Eu me envaideci, afinal ele dizia que como não tinha
nenhum filho homem, via em mim um vencedor, o único que poderia levar
adiante o seu negócio. Isso deixou Ricardo muito revoltado, e nós já não
tínhamos a mesma amizade de antes.
— Meu avô o induziu a casar-se com a mamãe? — questiono.
Ele nega, num gesto de cabeça.
— Donana começou a aparecer na empresa, ela era a filhinha do
papai, tudo, exatamente tudo o que ela queria ela conseguia, sempre muito
mimada e má, não se importava com nada ou ninguém. Tinha cara de anjo,
mas... — Ele respira fundo e passa os dedos entre os seus cabelos. — Ela é
capaz de tudo para ter seu mundo perfeito, tudo mesmo. — Sua voz sai
baixa.
— Inclusive matar, pois nada me tira da cabeça que foi ela... — Lia
começa e meu pai toca a sua mão, para que ela pare. Ela olha para ele, com
raiva. — Você vai a proteger? Pare com esse medo, por isso ela faz o que
faz, e manipula a todos a sua volta. Essa mulher tem que parar.
Eu me levanto nervoso, Letícia tenta segurar minha mão, mas não
consegue.
— Minha mãe não mataria uma mosca, ela é totalmente dominada
por esse homem — esbravejo apontando o dedo para o meu pai.
Lia se levanta e coloca a mão na cintura.
— Vê se enxerga, Heitor! Ela sim o domina. A Donana é uma
psicopata. Sei que ela é sua mãe e te enganou todo esse tempo se fazendo
de coitada, mas foi por causa dela que a minha mãe sofreu a vida toda nas
mãos daquele infeliz — declara com voz alterada.
Eu sacudo a cabeça e passo a mão na testa, sinto Letícia ao meu
lado. Ela toca em meu braço.
— Calma, Heitor. Por favor! — pede com a voz suave.
Eu olho para ela, e vejo seus olhos apavorados. Então respiro fundo
e balanço a cabeça.
Eu volto a me sentar junto com Letícia. E deixo que meu pai
continue.
— Donana sempre foi uma mulher linda, confesso que cheguei a me
interessar, mas eu era apaixonado por Adriana e começávamos a nos
entender novamente. A sociedade ainda não estava finalizada e pensava em
vender a minha parte também, para casar com Adriana. Foi aí que começou
o meu inferno — lamenta com voz angustiada. — Meu pai foi parar no
hospital, necessitava de uma cirurgia urgente, nós tínhamos dinheiro, mas
não tanto para arcar com uma despesa tão grande, assim Santiago se
aproximou e ofereceu arcar com tudo, disse que eu poderia pagar depois, e
eu, acreditando nele, assinei umas promissórias, as quais ele alegou que
nem usaria, pois seria apenas para apresentar ao seu contador.
Meu pai conta tudo e parece cansado, agora percebo um lado seu
que nunca havia prestado atenção, porém é muito difícil acreditar que a
minha mãe tenha alguma culpa em toda essa história.
Letícia afaga meu braço e olho para ela.
— Você quer que eu peça a Sueli para trazer água? — pergunta
baixinho.
— Não, eu quero que ele chegue ao fim — falo e volto a olhar para
frente.
Lia agora está um pouco distante do meu pai, ela olha para baixo, e
sua fisionomia é tensa.
Meu pai ainda está absorto nas recordações, então peço que
continue.
— Algum tempo depois, Santiago veio com a bomba, eu o devia
uma fortuna, e ele disse que sua filha gostava muito de mim e pediu que
não fizesse nada contra mim, pois estava apaixonada, e mentiu, ao dizer que
estávamos nos encontrando às escondidas. Santiago me ameaçou, exigiu
que eu casasse com Donana, mas eu me neguei.
— Mas o senhor casou com ela, no final das contas — comento.
Ele dá uma risada.
— Donana veio falar comigo, e ela revelou que Ricardo havia
contado a ela sobre mim e Adriana, e perguntou se era por isso que eu
recusei a proposta feita por seu pai. Eu falei a verdade e declarei que amava
Adriana e que sim, ela era uma das razões. — Meu pai me olha, hesitante,
ele inspira e solta o ar pela boca. — Depois disso, Santiago me mandou um
aviso: Ou eu aceitava casar com Donana, ou Adriana e seu pai sofreriam as
consequências. No dia seguinte, perto da casa onde morava Adriana e o seu
pai, um homem, um inocente, apareceu morto. Um tiro. Não foi assalto.
— O que isso quer dizer? — Desta vez é Letícia que pergunta, num
fio de voz.
Meu pai a encara.
— Donana, apareceu na minha sala, sentou-se na cadeira com
elegância e me olhou com um sorriso, então falou, que o vizinho foi um
aviso do que poderia acontecer com Adriana. Depois disso, saiu da minha
sala, como se nada tivesse acontecido.
Meu coração se aperta pareço estar sufocado.
— A minha mãe... ela...
Ele acena.
— Não para por aí, ela começou a perseguir Adriana que sofreu
vários sustos. Ameacei ir à polícia, mas eles eram poderosos. Chantagearam
o pai da Adriana, armaram contra ele. Então por fim aceitei casar com sua
mãe. Eles perceberam que Adriana era meu ponto fraco.
Lia, então deixa escapar um riso.
— Porém, mesmo assim no dia do casamento ele e minha não
resistiram, foi então que fui concebida — conta.
— Finalmente eles compraram a parte do Ricardo e o João Costa,
pai da Adriana vendeu sua parte também. Um dia após assinatura de tudo,
eu me casei com Donana. Mas ela era tão ruim, que manteve Adriana por
alguns meses na empresa, ou poderia multar seu pai.
Agora faz sentido o que havia no relatório, tudo o que meu pai conta
bate com as informações e as lacunas em branco são preenchidas.
— Então mamãe se casou com Ricardo grávida do senhor... —
Letícia diz, reflexiva.
— Sim, mas eu soube disso alguns anos depois. No entanto, Donana
sabia, ela induziu o Ricardo a casar com Adriana e assumir a Lia. Ou
melhor, deu um bom dinheiro a ele, que foi esperto, e se aproveitou da
morte do João Costa e se aproximou.
Olho Letícia e vejo as lágrimas escorrerem por seus olhos, me bate
um medo, afinal minha mãe foi o pivô da infelicidade de sua mãe.
Eu toco os seus cabelos, ela me olha e tenta sorrir.
— Tudo bem? — pergunto e ela acena devagar.
— Ainda tem mais — Lia acentua e nós olhamos para ela. —
Mamãe havia tomado coragem de se separar do Ricardo, afinal estávamos
crescidos. Ela planejou tudo, mas ele descobriu e no dia que iria ver uma
casa em outra cidade aconteceu o acidente, e eu tenho certeza que tanto
Donana, como Ricardo têm culpa.
— Mas nada foi provado, eu até tentei ajudar sem levantar suspeitas,
porém não encontrei nada — completa meu pai.
Letícia se levanta e põe as mãos na cintura.
— E eu e Heitor? O que temos a ver com tudo isso?
Faço como Letícia e me levanto, ficando ao seu lado.
— O senhor me mostrou o e-mail, o senhor sempre falou mal do
Ricardo, o quanto o odiava. Enquanto a minha mãe só lamentava e ficava te
defendendo.
Meu pai me encara,
— A Donana me obrigou, eu perdi o rumo da minha vida quando
essa mulher apareceu. Depois que soube da morte da Adriana eu surtei, pois
eu sabia que ela tinha alguma coisa com isso. Então ela ameaçou matar a
Lia, a minha filha. Uma parte minha e da Adriana. Eu vivi um inferno por
mais de 30 anos, e você tinha razão quando dizia que eu parecia não gostar
da sua mãe. É porque é verdade, eu odeio aquela mulher. E a única coisa de
bom que saiu do nosso casamento foi você, porque a Amanda e o Pedro não
são meus — desabafa.
Eu dou um passo para trás.
— Vai dizer que eles são do Ricardo? — pergunto, assombrado.
Meu pai ri.
— Não, não são. É de um amante que ela teve no passado; eu torcia
para que o homem aparecesse e a levasse, mas ele desapareceu — lamenta e
se joga no sofá. — Eu sou fraco, ainda bem que você não é como eu. Eu
deveria ter lutado mais, feito alguma coisa, mas eu não fiz. A verdade é,
depois que soube que Adriana havia casado com Ricardo, senti que minha
vida era uma merda. Eu não reagi. Simples assim.
Ficamos todos em silêncio com a sua declaração e agora entendo
sua melancolia de sempre.
— O senhor não tinha muito o que fazer, sabemos que a família da
Donana é poderosa — Lia comenta.
Meu pai volta a olhar para mim e para Letícia.
— A Donana odeia saber que vocês estão juntos, ela não aceita o
fato do filho ter se apaixonado pela filha da Adriana. Ela tem uma fixação
pela Adriana que só pode ser doença. Em sua cabeça a Adriana queria tudo
o que era dela, ela se ressente, eu nunca escondi dela os meus sentimentos.
Acho que terminei por alimentar o ódio dela pela família — alerta.
— Por isso eu quis contar a verdade, pois tenho quase certeza de
que ela e Ricardo estão tramando, pois eu o vi perto da casa do Leandro. E
desta vez não podemos deixar que ela vença — Lia adverte.
Eu não sei o que pensar. A mulher que eu confiei a vida toda, que eu
tinha pena, afinal a via como uma mulher sofredora e generosa, é na
verdade uma mulher vil. Sinto meu coração despedaçar. Pois é uma grande
decepção.
Eu respiro fundo e aperto as mãos em punhos.
— De uma coisa tenho certeza, eles não vão nos separar...
Letícia me abraça e meu corpo, antes tenso se acalma com sua
proximidade, pois nem saber tudo o que minha mãe fez a afasta de mim.
— Isso mesmo. Desta vez estamos mais fortes — complementa.
Lia sorri e até meu pai esboça um sorriso.
— Vocês podem contar conosco. Eles não sabem que nós sabemos a
verdade, então é melhor continuar assim.
Meu pai se levanta.
— Eu vou tentar, mais uma vez, encontrar alguma prova, mas
Donana é esperta — comenta.
— Ela não sabe que vocês se falam? — Letícia pergunta.
Lia sorri.
— Não — responde balançando os ombros. — E temos nos falado
desde a morte da mamãe. Foi ele que me orientou a viajar, até que Donana
me esquecesse por um tempo.
— Nem sei o que pensar de tudo isso — resmunga Letícia.
— Na verdade ainda estou processando tudo — declaro.
Meu pai se aproxima, eu tenho minhas reservas, mesmo sabendo a
verdade, não posso dizer que confio nele, afinal por todo esse tempo ele
preferiu se esconder a contar a verdade.
Ele percebe minha relutância e fica sem graça.
— Eu agi muito errado com você, meu filho. Doía muito toda vez
que me olhava com mágoa e raiva. Afinal sempre pensou que eu era um
cretino, mas eu fiz o que fiz para proteger a minha filha, tinha muito medo
do que Donana pudesse fazer.
Olho para Lia, ela me observa com braços cruzados, então me volto
para o meu pai, ou melhor, o nosso pai.
— Eu não vou mentir e dizer que está tudo bem. Pois o senhor
protegeu um filho em prol da infelicidade do outro. Vai ser muito difícil
esquecer, porque sua escolha, de alguma maneira interferiu para que eu não
conhecesse a minha filha antes e ficasse longe da mulher que amo.
Ele baixa o olhar e noto a aproximação da Lia.
— Quando eu fui embora, você não existia na vida da Letícia, a
verdade é que soube tem muito pouco tempo que você era o homem que a
fez sofrer e tudo o que existia por detrás dessa história — começa e olha
para Letícia, emocionada. — O Félix, quer dizer, o meu pai, não contou
nada para mim nas poucas vezes que nos falávamos quando eu estava fora.
— Se eu contasse, eu sabia que daria um jeito de voltar, como fez
assim que descobriu — argumenta.
Letícia olha para Lia.
— Então, por isso você voltou?
Ela acena e sorri.
— Sim, eu precisava que vocês soubessem a verdade.
Eu sacudo a cabeça.
— Se fosse pelo senhor, pai. Tudo ficaria na mesma — declaro com
mágoa.
— Eu pretendia contar tudo, mas precisava da certeza de que
ninguém sairia ferido, até mesmo você, ou pior a minha neta — alega.
— A mãe do Heitor faria algo contra o próprio filho? Ou a neta? —
Letícia indaga, assustada.
Meu pai olha para ela e depois para mim.
— Eu prefiro não arriscar, pois acredito que Donana, provocou a
morte do próprio pai, só porque ele concordou comigo, quando disse que
queria me separar dela — conta.
Jesus! Se o que meu pai diz é verdade, a Lia está certa, minha mãe é
uma psicopata doente.
— Ela não ama o nosso pai, Heitor. Essa mulher tem obsessão por
ele — finaliza Lia.
Meu pai conta o inferno que viveu. De como o Pedro Henrique é
comandado por ela para vigiar seus passos. Diz que minha mãe não se
conforma com minha atitude, e agora culpa a Letícia por separar a sua
família perfeita. Fico estarrecido ao descobrir que meu irmão sabe da
verdade, de que não é filho do meu pai, e nem se importa. Quanto a
Amanda, ela nunca foi uma pessoa apegada, e por isso decidiu ir para
longe.
Minha mãe, na realidade quer mostrar que tem uma família de capa
de revista, porém o que enxergo é exatamente o contrário. Em seu
casamento não há amor, companheirismo e muito menos lealdade. E eu não
sei como alguém suporta viver assim.
Isso é muito triste.
E eu, apesar de tudo o que aconteceu, tenho sorte, afinal estou
corrigindo meus erros do passado, e diferente do meu pai, lutarei para ficar
ao lado da mulher que eu amo e escolhi para mim.
- 26 -
Letícia
Faz algumas horas que Lia e Félix partiram. Já é tarde da noite e
ainda estou assombrada com as revelações. Todo esse tempo nós estávamos
enganados. Pensamos que o Félix era um grande trapaceiro, quando na
verdade Donana, a mãe que Heitor tanto defendia estava por trás de tudo de
ruim que aconteceu em nossas famílias. Ela é uma mulher ardilosa.
Heitor, não diz nada, mas sei que está sofrendo, pois acreditava que
sua mãe sofria nas mãos do seu pai. Eu não entendo como alguém consegue
enganar a todos, por tanto tempo e com tanta facilidade. Até eu, que nunca
a vi, ou conheci, sentia pena dela, pois imaginava que era como a minha
mãe, uma mulher que teve ao seu lado um homem que não a valorizava e a
maltratava.
Eu saio do banho e não vejo Heitor no quarto, pego o pequeno
monitor da babá eletrônica e saio à sua procura. Passo no quarto da
Geovanna, minha filha dorme serenamente, volto a fechar sua porta e
atravesso o corredor até a sala, que está vazia, porém noto a porta de vidro
que dá para o jardim aberta.
Com passos lentos caminho até a varanda e vejo Heitor sentado na
cadeira, ele olha para frente e seus braços estão cruzados. Ele está tão
absorto que nem sente minha presença.
Penso em deixá-lo sozinho, porém não posso. Eu sei que ele precisa
de mim.
Eu me aproximo e paro ao seu lado, finalmente percebe que estou
ali e olha para cima. Sua expressão de tristeza faz meu coração se apertar.
Eu coloco o monitor em cima da mesa e me ajoelho ao seu lado, pondo
minhas mãos em sua coxa.
— Heitor! Não fique assim... — sussurro.
Ele não se move e continua com o olhar perdido.
— Como não ficar Letícia? Essa mulher é calculista, fria e me
enganou por uma vida inteira. E eu babaca, a defendia — explode e dá uma
risada seca, cheia de mágoa. — Eu cheguei a chamá-la para morar comigo,
sempre a julguei uma mulher injustiçada, e agora descubro suas armações,
falcatruas... Eu sou muito idiota, essa é a verdade.
Eu ergo a minha mão e passo em seu rosto.
— Não diga isso, Heitor. Você não é idiota, qualquer filho tem
confiança cega em sua mãe — acentuo e ele me olha. Vê o seu sofrimento
me deixa incomodada. Eu dou um sorriso. — Eu sei que a decepção dói,
mas ao menos temos a verdade.
Ele apoia os cotovelos em seus joelhos e entrelaça os dedos por
detrás da sua nuca. Aproveito e passo minha mão por seus cabelos.
— O que me dói é que ela viu como fiquei quando afastei você. A
minha mãe, era a pessoa que mais confiava, e por sua causa eu tomei a
decisão de arrancar você da minha vida, Letícia. Eu sou um fraco, assim
como o meu pai — murmura.
Eu me movo e fico em sua frente.
— Heitor, por favor, olhe para mim — peço. Ele levanta a cabeça,
então pego suas mãos e seguro com força, seus olhos aflitos se encontram
com os meus. — Você não é fraco, e nem de perto é como seu pai.
Ele me encara e admira meu rosto.
— Ao primeiro obstáculo eu terminei tudo com você, fui egoísta,
pensei somente em mim e no meu orgulho ferido. Em nenhum momento te
dei a chance de falar. Eu não vi você grávida, não vi minha filha nascer e
tudo porque fui cego e idiota — exprime, sua voz soa estremecida. — Eu
permiti que ela me enganasse, Letícia. Eu deveria ter sido mais esperto.
Eu respiro fundo e olho para ele com pesar.
— Não tinha como você saber, e além disso, nós nos conhecíamos
havia pouco tempo, como poderia ter certeza de que eu era confiável?
Ainda mais sendo filha do Ricardo — complemento e forço um sorriso.
Heitor tem os olhos fixos nos meus, enxergo o quanto está
angustiado. Então ele ergue a mão e toca a minha bochecha com carinho, eu
viro a cabeça e deposito em beijo em sua palma.
— Você deveria está com ódio de mim, ainda mais agora, ao
descobrir que minha mãe pode ser a culpada pela morte da sua, e também
por ter sido ela a grande responsável por nossa separação — declara e dá
um sorriso triste. — Minha mãe fez o que fez, porém ela nunca conseguiu
que te esquecesse, e embora eu não soubesse, eu sempre amei você, Letícia.
Então ela não foi vitoriosa em tudo.
Eu sorrio.
— Na verdade ela não foi vitoriosa em nada, Heitor. Donana
conseguiu que ficássemos separados por um longo tempo. No entanto, ela
não é capaz de controlar o destino, afinal estamos juntos novamente e
acredito que mais fortes — confesso, sentindo meu coração bater com
força. — Quanto a ela ser culpada pelo acidente que matou a minha mãe...
bem, isso também não é culpa sua, assim como não sou culpada pelas
maldades do meu pai.
Ele se levanta da cadeira me puxando junto ao seu corpo, ficamos de
pé, um em frente ao outro, então ele me abraça e sinto o seu calor se refletir
em minha pele.
Heitor beija minha cabeça e acaricia meus cabelos.
— Eu não mereço você, Letícia... — sussurra me apertando em seus
braços. — Mas eu te amo tanto... e mesmo não te merecendo, eu vou fazer
de tudo para tê-la, porque só você e a Geovanna são capazes de me trazer
felicidade. Eu sei que já falei isso, e volto a repetir: eu me arrependo de
tudo o que falei no passado, e te peço perdão por ter sido cruel e imbecil.
Por favor, me perdoe! — pede com a voz abafada, pois seus lábios estão
colados perto da minha orelha.
Eu sinto um arrepio permear meu corpo, meu coração, exultante,
bate com força devido à emoção. Eu posso perceber a tensão do Heitor,
noto o seu sofrimento e sei que está sendo sincero. Para mim não resta
nenhuma dúvida. Eu posso confiar nele.
Assim, me afasto e nos encaramos, minhas mãos pousam em seu
peito, e sinto que meus olhos se enchem de lágrimas.
— Quando eu partir do seu apartamento naquela tarde, eu jurei para
mim mesma que iria esquecê-lo, foi uma promessa em vão — confesso
dando uma risada em meio ao choro. — Depois jurei que jamais o
perdoaria, por muito tempo alimentei uma grande mágoa de você, mas
todas às vezes que eu olhava Geovanna, de alguma maneira eu me sentia
feliz, e mesmo sem saber, você havia me dado o melhor presente de todos.
Heitor passa o dedo em meu rosto, tentando secar minhas lágrimas.
Ele dá um sorriso lindo.
— Geovanna é o nosso milagre — emenda.
Eu fungo e aceno.
— Sim, ela é — respondo, então dou um suspiro. — Acontece que
eu nunca fui capaz de te esquecer, e mesmo que quisesse, havia Geovanna
para me lembrar. Confesso que pensava em você todos os dias, pois o amor
que nutria por você, mesmo com tudo o que aconteceu, não se findou. E
agora, sinto que te amo ainda mais Heitor, e em meu coração eu já te
perdoei há muito tempo — finalizo.
Ele envolve meu rosto em suas mãos e inclina a cabeça, encosta sua
testa na minha e inspira com energia.
— Eu te amo, Letícia — sussurra e sinto o seu hálito quente tocar
minha face. — Eu serei o homem digno de você, e o pai que a Geovanna
merece. Não tem como voltar ao passado, mas temos como fazer um novo
começo, e eu vou fazer valer a pena o seu perdão.
Uma das suas mãos desce até a minha cintura, enquanto a outra me
segura pela nuca, então Heitor toma meu lábios e me beija, não é um beijo
faminto, mas um beijo suave, porém intenso e envolvente.
Ele me pega em seu colo e afasta os lábios, ainda noto uma ponta de
tristeza em seu olhar, porém também vejo refletido o seu amor. Ele dá um
beijo carinhoso em minha testa, então se inclina um pouco e percebo que
pega o monitor da babá eletrônica, eu sorrio, pois nada faz com que se
esqueça do cuidado que tem com a nossa filha.
Heitor caminha devagar para dentro de casa e eu me seguro em seu
pescoço.
— Aonde vamos? — pergunto e beijo seu pescoço.
Sinto seu aperto e noto seus pelos eriçarem.
— Só tem uma coisa que pode curar essa angustia que sinto no peito
— murmura caminhando comigo em seus braços. — Você...
Ele entra na suíte, fecha a porta e me leva até a cama. Devagar me
põe no chão e tira o meu vestido, me deixando apenas de calcinha.
Heitor se ajoelha em minha frente e me abraça, então encosta a
cabeça no meu estomago. Eu acaricio seus cabelos, olho para baixo e sorrio.
— Ah, Heitor... se você soubesse como eu te amo! — comento com
a voz baixa.
Ele olha para cima com olhos radiantes.
— O seu amor, é com toda certeza a melhor coisa que já me
aconteceu na vida, assim como ser o pai da Geovanna — confessa.
Suas mãos seguram o elástico da minha calcinha, e ele desliza a
mesma por minhas pernas. Heitor olha para o meu sexo, e sorri, então me
segura nas nádegas e passa a língua em minha intimidade.
Eu seguro seus cabelos e cravo as unhas em seu coro cabeludo.
— Ah, Heitor! — murmuro quase sem ar.
Ele me empurra levemente e me sento na beirada do colchão, abre
minhas pernas me deixando completamente exposta, então aproxima a boca
e sua língua desliza por meus lábios vaginais. Eu solto um grito abafado,
pois sua língua e boca atiçam minha excitação.
Heitor lambe e chupa meu sexo, o prazer de sentir suas carícias
íntimas faz minha pele toda ficar arrepiada, e onde sua boca toca sinto um
formigamento inebriante. Sua língua brinca em meu clitóris, então ele move
uma das mãos e enfia um dedo em meu canal. Eu enlouqueço e aperto
minhas coxas ao seu redor me esfregando ainda mais nele.
Sua boca me devora, sua língua me extasia e seu dedo entrando e
saindo da minha vagina faz com que eu perca noção de tudo ao redor.
Minha respiração acelera, e meu coração bate de maneira frenética. É
quando Heitor pressiona meu clitóris com a língua e não consigo segurar o
prazer que explode e eu gozo em sua boca.
Meu corpo fica dormente e eu caio de costas no colchão. Ele tira seu
dedo de dentro de mim, beija minha coxa e se levanta.
Eu abro os olhos e o vejo tirando sua roupa, com os olhos grudados
em mim. Eu me arrasto para o meio da cama. Ele coloca a camisinha e sobe
no colchão, ficando entre minhas pernas. Sua mão envolve seu pênis duro e
seus olhos estreitos de desejo me olham com fome.
Heitor deita o seu corpo sobre o meu. Eu dobro os joelhos e finco os
pés no colchão, ele desce sua boca e toma meu seio entre seus lábios,
enquanto eu cravo os dedos no lençol que forra a cama.
Sua língua brinca com o bico do meu seio para depois abocanhá-lo,
ele sobe os lábios e beija minha boca, então sinto sua invasão. Heitor
empurra sua ereção em meu sexo e me toma em um só golpe.
Ele morde meus lábios e sinto sua respiração oscilar.
— Eu te amo... E amo estar dentro dessa boceta — rosna, se
movendo em meu núcleo. — Isso que sinto... ninguém pode me tirar,
porque o meu amor por você é mais forte que tudo — sopra, quase sem ar.
Elevo meus braços e os envolvo em sua volta.
— Eu também te amo, Heitor! Nunca deixei de amar — declaro,
ofegante.
Ele volta a me beijar com violência e move o quadril com força,
empurrando com energia em movimentos curtos e rápidos, sinto que mais
uma vez vou chegar ao clímax, assim eu envolvo minhas pernas em sua
cintura. Heitor mete com mais veemência. Ele arfa em minha boca e seu
pênis pulsa dentro de mim e eu gozo com intensidade.
Ainda ofegante ele sai de cima de mim e ambos estamos quase sem
ar. Aos poucos meu corpo relaxa e dou um suspiro. Heitor me puxa de
modo que fico grudada ao seu corpo. Ele se inclina e beija meus lábios com
leveza.
— Eu te amo, Letícia. E é esse amor que me mantém equilibrado —
confessa com a voz rouca e baixa.
Eu fecho os olhos e sorrio.
— Eu também te amo... — sussurro.
Eu adormeço com a certeza de que tudo, aos poucos vai se encaixar.
Heitor
Antes de entrar para a minha reunião, envio uma mensagem para
Letícia e peço que me mantenha informado sobre a faculdade. Tenho
certeza de que tudo dará certo. Edna se aproxima e me entrega uma planilha
a qual olho superficialmente, enquanto entro na sala de reunião.
Alguns dos meus colaboradores já estão ali e eu os cumprimento.
Sento-me no meu lugar e folheio a planilha, enquanto Edna prepara o
projetor. Meu celular começa a tocar; eu costumava deixá-lo em minha sala
todas às vezes que entrava para uma reunião, porém, por conta da
Geovanna, mantenho o aparelho sempre comigo. Quem tem filho deve ficar
o tempo todo comunicável.
Vejo o nome do Alexander na tela e penso em recusar a chamada, no
entanto, para ele estar me ligando a essa hora, com certeza é um assunto
importante.
Levanto-me da cadeira e saio para o corredor.
— Fala, meu amigo.
— Heitor, acabei de receber a informação de que a Letícia está
sendo seguida pelo pai — indica indo direto ao ponto.
Sinto como se o meu coração falhasse uma batida.
— Porra! O que esse verme, pretende? — indago e faço sinal para
que Edna se aproxime.
— Não sabemos, mas meus homens estão no encalço dele, nesse
momento ele a aguarda do lado de fora de uma faculdade — informa.
Edna se aproxima e eu digo que preciso ir, ela percebe meu
nervosismo e diz que cuidará de tudo, para ficar tranquilo. Ando até o
elevador e aperto o botão com insistência.
— Vou agora mesmo para lá, por favor, não o perca de vista. Esse
homem não tem um pingo de escrúpulos — peço.
O elevador chega.
— Não deixaremos que nada aconteça com ela, e o homem está
ferrado. Se apresentarmos as provas que temos a polícia, ele não vai se dar
nada bem — conta com um sorriso na voz.
Nessas horas eu agradeço por Alexander ser tão poderoso e ter
muitas conexões.
— Esse infeliz tem tentado prejudicar meus negócios, eu deixei
passar, mas se ele fizer alguma coisa com a Letícia, eu juro que o mato —
sentencio e sinto minha mão tremer.
— Não vai precisar sujar suas mãos. Confie em mim. Ele está
acabado. Meu pessoal sabe o que deve fazer, e você mantenha a calma.
Quando chegar lá não faça nada, eu já mexi os pauzinhos aqui — revela,
dando uma risada. Eu aqui me matando de preocupação e ele todo calmo.
— Já orientei os rapazes, sua mulher está protegida.
Uma eternidade depois chego a garagem.
— Qualquer coisa me avise, vou entrar agora no carro — falo e
desligo. Vejo o Tião lendo um jornal e o chamo, pois não sei se conseguirei
conduzir o veículo.
Ele se aproxima e com certeza percebe meu estado, então explico
onde deve me levar.
Pegamos alguns sinais fechados, e isso me irrita, ligo para Letícia e
ela não atende. Ainda bem que chamei o Tião, ou causaria um acidente no
caminho. Tião corre quando pode e sei que em breve receberei algumas
multas, mas não me importo. Chegamos a rua da faculdade e Tião para tão
abruptamente que o meu corpo é jogado para frente, ainda bem que uso o
cinto.
Eu saio do carro e vejo Letícia nos degraus da faculdade, seu pai e
dois homens, que mais parecem um armário, estão parados perto dela. Eu
subo as escadas correndo e quando estou perto dela a tomo em meus braços
e sinto como ela está tensa.
— Você está bem, meu amor? — questiono e ela balança a cabeça.
— Jesus! Quando soube que estava sendo seguida por ele, quase tive um
ataque do coração.
Letícia passa os braços pela minha cintura.
— O que está acontecendo aqui? Você sabe quem são esses
homens? — Ela está confusa e com medo.
— Depois te explico, meu amor — sussurro, então finalmente olho
para Ricardo, ele, embora tente esconder, está aflito. — O que pretende com
isso?
Ele me olha e dá um sorriso, cínico.
— Eu queria somente falar com a minha filha — diz com voz
jocosa.
Letícia se vira para ele.
— Você veio me ameaçar — declara e sua voz está trêmula.
Tenho vontade de esganar esse homem.
— Se pensa que vai se safar está enganado, você é um idiota que
está sendo usado para fazer o serviço sujo — aponto, pois sei que minha
mãe está por detrás disso, mas não posso deixá-lo saber que sei a verdade.
— Só que agora é diferente, isso vai ser resolvido na polícia, temos provas
de que vem tentando me prejudicar, além de suas falcatruas. Acabou para
você, Ricardo.
Ricardo tem uma expressão assustada, ele sabe que está encrencado.
— Eu não sei do que você fala. — Ele olha para os lados e está
visivelmente preocupado.
Olho para Letícia e noto que não está bem, pois parece que vai
desmaiar a qualquer momento. Não vou ficar aqui discutindo com esse filho
da puta. Letícia é minha prioridade.
— Podem levá-lo daqui, vocês sabem o que fazer — digo para os
dois homens, que acenam.
Ricardo vacila e dá um passo para trás, por pouco não cai da escada.
— O que vocês vão fazer? Eu não fiz nada, apenas queria... — tenta
argumentar.
Um dos homens do Alexander pega em seu pulso.
— Vamos, senhor. Explique-se com a polícia — avisa com a voz
grossa.
— Polícia? — indaga num fio de voz e com olhos arregalados.
Letícia puxa o ar pela boca.
— Vamos sair daqui, por favor — pede.
Ela encosta sua cabeça em meu peito, eu a abraço e caminho com
ela.
Tião abre a porta traseira.
— Letícia!? Você está passando mal? — pergunto tocando em sua
testa fria.
Eu a coloco sentada no banco. Letícia joga a cabeça para trás e
fecha os olhos — Heitor, eu...
— Letícia! — chamo e ela não responde. É a segunda vez em menos
de duas semanas que ela desmaia.
Tião fecha a porta e vai correndo para trás do volante.
— Para onde, senhor?
— Leve-nos para o hospital mais próximo, tem um no final desta
rua — indico e abraço Letícia.
Eu nem consigo pensar direito e me sinto angustiado em vê-la
assim. Meu coração parece que vai sair pela boca. Meu celular toca, mas
não tenho como atender, pois seguro Letícia.
Tião para na frente do hospital e sem que eu fale nada corre até a
recepção, em seguida noto a porta do carro se abrir e um homem e uma
moça pegam Letícia e a colocam numa maca. Eu os sigo, apavorado, pois
ela está inconsciente.
Eles entram com ela e pedem que eu aguarde. Eu ando de um lado
para o outro e passo a mão pela testa. Será que ela está doente? Ou é
somente o estresse? Afinal as últimas semanas foram bastante tensas.
Algum tempo depois, a moça que a levou na maca aparece e me
chama. Ela dá um sorriso, o que me tranquiliza um pouco.
— Letícia acordou, se quiser pode me acompanhar e ficar com ela
— informa e eu só consigo acenar e a acompanho. — Depois preciso que
preencha um formulário com os dados dela, pois ela se encontra sem seus
documentos.
— Sim, a sua bolsa está no carro, vou pedir para o motorista trazer
para mim — ressalto.
Entramos num quarto, e vejo Letícia deitada. Ela olha para mim e dá
um sorriso.
— Eu desmaiei de novo — comenta com a voz baixa.
Eu beijo sua testa e fico aliviado em vê-la acordada. Ainda está um
pouco pálida, mas parece bem.
— Como se sente? — indago.
Ela fecha os olhos e respira fundo.
— Estou um pouco sonolenta, fora isso, me sinto bem.
— Sua pressão estava muito baixa quando chegou aqui, porém
agora já está controlada. Colhemos o sangue para alguns exames rápidos e a
médica acredita que logo estará liberada para ir embora — diz a enfermeira
com simpatia.
— Eu tenho tendência a ter pressão baixa — comenta Letícia e ela
me olha, então dá um sorriso. — Eu te assustei.
Eu acaricio sua bochecha.
— Muito, da outra vez que desmaiou voltou logo a si, porém hoje
demorou um pouco mais — avalio.
Outra moça, vestida de branco entra com uma pasta na mão.
— Preciso dos seus dados meu bem — diz para Letícia.
Eu pego o celular.
— Vou pedir para Tião trazer sua bolsa — falo.
Ainda ficamos um tempo por ali e aos poucos Letícia recupera a cor,
e sua fisionomia parece saudável.
A enfermeira nos conduz até a pequena mesa e nos sentamos, então
ela sai e diz que a médica virá falar conosco a fim de nos liberar. Mal ela sai
a doutora chega e noto que segura alguns papeis, aos quais acredito ser o
exame da Letícia.
Ela senta-se de frente para nós e dá um sorriso, então olha para
Letícia.
— Está se sentindo bem? — pergunta.
Letícia acena e sorri.
— Sim, foi um mal estar passageiro. Nesse momento estou ótima —
responde e eu seguro a sua mão.
A médica acena e olha de Letícia para mim, então balança a cabeça.
— Eu tenho alguns resultados aqui comigo. Você não tem nada
grave, pedi que fizesse um exame para investigar se está com anemia, e
tudo está perfeito, os valores da hemoglobina estão normais.
Letícia acena e solta ar pela boca.
— Que bom — diz, sorridente.
— Você é saudável, Letícia. Você nos contou que tem uma filhinha,
não é isso? — pergunta e olha para mim.
— Sim, nossa filha; ela tem quase três anos — respondo em seu
lugar.
A médica sorri.
— Qual o nome dela?
— Geovanna! — eu e Letícia respondemos ao mesmo tempo.
A doutora passa o resultado do exame para Letícia.
— Então parabéns, a família vai crescer — informa.
— O que? — sussurra Letícia.
Meu coração dá um salto em meu peito.
— A Letícia está...?
Ela dá uma risada.
— Sim, ela terá um bebê — diz com tranquilidade.
Eu alargo um sorriso, não poderia receber melhor notícia. Letícia me
dará outro filho, e agora eu tenho a chance de acompanhar tudo desde o
início. A felicidade me invade, e olho para Letícia.
Ela está com a boca aberta, sua expressão de surpresa é nítida.
Finalmente ela me olha, um pouco hesitante. Eu seguro seu rosto e esqueço
que a médica está ali, sendo testemunha das minhas ações.
— Meu amor! Você faz ideia do quanto estou feliz? — Letícia me
observa, emocionada. Eu deposito um beijo em seus lábios. Encosto a
minha testa na sua e inspiro, fechando os olhos. Não consigo controlar o
sorriso. — Eu estou muito feliz e tenho vontade de sair gritando, de tanta
felicidade.
Letícia segura meus pulsos.
— Então você está bem em ter outro filho? — Sinto a insegurança
em sua voz.
— Eu estou radiante, e nada nesse mundo me faria mais feliz do que
ter outro filho com você. Eu sou um homem de muita sorte mesmo —
declaro e beijo seus lábios com delicadeza.
A doutora força uma torce e nós olhamos para ela.
— Vejo que está tudo bem. Vou assinar a sua liberação e procure um
obstetra o mais rápido que puder — aconselha enquanto assina e carimba
um papel. Ela levanta a cabeça e me olha. — Parabéns!
Então se levanta e estende a mão nos dispensando.
Chegamos ao carro e Tião logo abre a porta. Eu sustento um sorriso
bobo, já Letícia está inerte, como se não acreditasse.
Eu seguro sua mão, então ela me olha.
— Como isso foi acontecer? — balbucia.
Eu não seguro a gargalhada.
— Você quer que eu explique em detalhes? — questiono e acaricio
seu rosto.
Ela revira os olhos e suspira.
— Não é isso, mas sempre nos protegemos.
Eu aceno, e não paro de sorri. Quem diria que depois do susto dessa
manhã, eu agora estivesse aqui, assim tão eufórico.
— Em algum momento não nos protegemos. E eu não poderia estar
mais feliz por isso.
Letícia joga a cabeça para trás.
— Deus! Preciso ter muito cuidado com você, ou daqui a dez anos
teremos um time de futebol em casa — adverte, pensativa.
Mais uma vez caio na gargalhada e a ideia me parece bastante
interessante.
Eu olho para Letícia e sorrio.
— Eu te amo e desta vez estarei ao seu lado a todo instante —
declaro e coloco uma mão em sua barriga. — E nós formaremos uma linda
família.
Eu a beijo nos lábios e sinto que Letícia está emocionada.
Eu também estou; e agora, mais do nunca eu tenho certeza que
estamos tendo uma nova chance de fazer um novo começo.
E desta vez nada vai nos separar.
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negócios da família. Seu filho, o Pedro Henrique foi junto com ela e pelo
visto tem causado alguns problemas. Meu pai se encontra preso, e com o
mês depois do meu pedido de casamento. Foi uma cerimônia simples, com
Fim!
Agradecimentos
Uma série que pode ser lida de forma independente e conta a saga
de quatro amigas, onde cada uma conhece o amor de suas vidas, que são
homens dominantes, generosos e apaixonantes...
Desvenda-me