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Pesos e medidas
1 US$= 165.0 AOA (novembro 2017)
Abreviações e acrónimos
ADPP-Angola Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo-Angola - ONG
AFAP Projecto de Pesca e Aquicultura Artesanal (Artisanal Fisheries and
Aquaculture Project)
AOD Assistência Oficial ao Desenvolvimento (Official Development Aid,
ODA)
APP Ajuda programada por país (Country Programbale Aid)
ARP Projecto de Recuperação Agricola (Agricultura Recovery Project)
BM Banco Mundial
COSOP Documento/Programa de Oportunidades Estratégicas do País (Country
Strategic Oppoertunities Paper/Programme)
CPMs/CD Gestor do Programa de País/Director do País (Country Programme
Manager/Country Director)
CPMT Equipa de Gestão de Programa do País (Country Programme
Management Team)
CSN Nota da Estratégia do País
CSPE Avaliação da Estratégia e do Programa do País
ECA Escolas de Campo de Agricultor (Farmer Field School)
ECP Estratégia de Combate à Pobreza
EDA Estação de Desenvolvimento Agrário
ENSAN Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
ESA Divisão Regional do FIDA para a África Oriental e Austral
FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food
and Agriculture Organization of the United Nations9
FIDA Fundo Internacional de Desenvolvimento da Agricultura (International
Fund for Agricultural Development)
ICR Relatório de Conclusão da Implementação (Implementation
Completion Report) Banco Mundial)
IDA Instituto de Desenvolvimento Agrario
ii
MOSAP I Projecto de Agricultura Familiar Orientada para o Mercado (Market-
Oriented Smallholder Agriculture Project)
MOSAP II Projecto de Desenvolvimento e Comercialização da Agricultora
Familiar (Smallholder Agriculture Development and Commercialization
Project)
MTR Revisão intermedia (Mid-Term Review)
OECD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
iii
Sumário Executivo
Antecedentes
1. A pedido da Comissão Executiva na sua 119.ª sessão, em dezembro de 2016, em
2017 o Escritorio Independente de Avaliação do FIDA (IOE) realizou a primeira
Avaliação da Estratégia e do Programa do País (CSPE) em Angola.
2. Propósito. A CSPE avaliou a parceria entre o FIDA e o Governo de Angola durante
o período 2005-2017 e inclui a análise de todas as iniciativas apoiadas pelo FIDA
que foram aprovadas pelo Conselho e se tornaram operacionais durante esse
período. A colaboração foi enquadrada pelo Documento de oportunidades
estratégicas do País (COSOP) de 2005 até o final de 2016, e por uma Nota de
Estratégia do País aprovada pelo Fundo para o período 2017-2018. Os resultados e
as recomendações da CSPE serão usados na preparação do novo COSOP. A CSPE
avaliou: (i) o desempenho e o impacto da carteira dos projectos, que incluiu um
projecto concluído, um em curso e dois projectos recentemente aprovados; (ii) o
desempenho e os resultados das actividades não relacionadas com empréstimos,
nomeadamente a gestão do conhecimentos, a construção de parcerias e o diálogo
sobre políticas; e (iii) o desempenho da estratégia do país.
3. Os objectivos foram: (i) avaliar os resultados e o desempenho da estratégia e do
programa financiados pelo FIDA; e (ii) gerar resultados e recomendações para a
futura parceria entre o FIDA e Angola de forma a aumentar a eficácia do
desenvolvimento e a erradicação da pobreza rural. A CSPE foi realizada de acordo
com a segunda edição do Manual de Avaliação do IOE (2015).
4. FIDA em Angola. O FIDA iniciou a sua colaboração com Angola em 1989. No final
de 2017, o Fundo havia aprovado sete empréstimos e doações associadas, em
apoio a uma carteira com valor total de 135,2 milhões de dólares dos Estados
Unidos (US$). Os empréstimos do FIDA representaram 60,7% da carteira total; o
Governo e os beneficiários contribuíram com 11,9% e 3,6%, respectivamente; e o
co-financiamento externo pelo Banco Mundial (BM), o Governo do Japão e a FAO
representaram 23,8%.
5. O apoio do FIDA a Angola foi gerido pelos Gestores do Programa de País/Director
do País (CPMs/CD), que trabalharam desde a Sede do FIDA, ou de países da região
da África Oriental e Austral (ESA). Durante o período 2004-2013, o FIDA teve uma
presença reforçada em Angola, através de um consultor nacional a tempo parcial,
com o papel de Facilitador de Projecto e que apoiou a Equipa de gestão do
programa país (CPMT) e do Fundo na concepção e implementação do Projecto de
Agricultura Familiar Orientada para o Mercado (MOSAP I).
6. Contribuições de Angola ao FIDA. O Governo de Angola fez a sua primeira
contribuição financeira para o processo de reposição do FIDA em 1990. Desde
2005, tem sido o maior contribuinte da região da África Oriental e Austral, com um
total de 6,7 milhões de dólares entre 1990 e novembro de 2017.
Principais constatações
7. Contexto. Em 2002, Angola saiu de quase trinta anos de guerra civil, com as
infra-estrutura, bem como os seus capitais institucionais e humanos, que
necessitavam de reconstrução. Embora melhorias impressionantes nos indicadores
macroeconómicos tenham sido alcançadas graças às receitas da indústria extrativa,
nos anos mais recentes esse modelo de desenvolvimento mostrou-se altamente
volátil e insuficiente para garantir oportunidades económicas sustentáveis e
equitativas para todos.
8. Em 2017, o sector da agricultura familiar rural sofria ainda de investimentos
insuficientes em infraestruturas rodoviárias e sociais e de um ambiente político
desfavorável. A agricultura ainda era em grande parte baseada na subsistência,
com baixos rendimentos e baixos retornos para o trabalho e a terra; estava
iv
subcapitalizada e afetada por fracos vínculos com os mercados locais e nacionais
de insumos e de produtos.
9. Relevância. As estratégias e objectivos do FIDA estavam alinhados com a
Estratégia de Combate à Pobreza (ECP) do Governo Revista em 2005, visando
questões cruciais nas áreas mais vulneráveis do Planalto Central. Todos os
projectos aprovados desde então, também estavam totalmente alinhados com as
estratégias nacionais, concentrando-se em agricultores familiares pobres. Esta
abordagem é reconhecida cada vez mais também no Ministério da Agricultura como
o caminho a seguir, jà que dados recentes confirmam que quase 90% da produção
agrícola em Angola provém da agricultura familiar.
10. No entanto, os desenhos dos projectos foram menos que óptimos em dois casos.
Entre os projectos focados na agricultura, o MOSAP I, durante a concepção, deu
pouca atenção aos principais constrangimentos enfrentados pelos agricultores na
aquisição de insumos e aos planos para serviços em apoio aos subprojectos. Os
projectos recém-aprovados, Projecto de Desenvolvimento e Comercialização da
Agricultura Familiare nas Províncias de Kuanza Sul e Huila (SAMAP) e Projecto de
Recuperação Agricola (ARP), tiveram em consideração as lições aprendidas até
então, incluindo a gestão de recursos naturais e a adaptação às mudanças
climáticas, e os desenhos pareceram adequados, embora ambiciosos.
11. No sector da pesca e aquicultura artesanal de água doce, o Projecto de pesca e
aquicultura artesanal (AFAP) foi a primeira iniciativa em Angola. A complexidade do
empreendimento deveria ter sugerido uma abordagem por etapas, começando com
um projecto-piloto tanto para captura de água doce quanto para aquicultura,
realizado numa área pequena, com todos os insumos e apoio necessários para
obter informações importantes para a ampliação sucessiva, minimizando os riscos
para os participantes. No entanto, o projecto foi concebido como uma intervenção
de desenvolvimento em larga escala baseada em uma série de suposições frágeis.
Além disso, o orçamento foi seriamente subestimado, o que era uma das razões da
lentidão na implementação.
12. Grupo-alvo. Todos os empréstimos do FIDA aprovados no período em avaliação
foram consistentes com a abordagem do COSOP de 2005 em relação ao grupo-
alvo. O foco nas famílias de agricultores pobres foi razoavelmente bem-sucedido
através do MOSAP I, que alcançou as famílias pobres vulneráveis que produzivam
principalmente para a sua subsistência, em grande parte dependentes da
agricultura de sequeiro e com acesso limitado a insumos e mercados, e que muitas
vezes vivem em comunidades isoladas e marginais. O AFAP tinha uma população-
alvo similar, embora a CSPE tenha observado um forte risco de apropriação das
infraestruturas desenvolvidas pelos grupos de produtores para a aquicultura nos
tanques e dos insumos fornecidos pelo projecto para a aquicultura em gaiolas, por
parte de grupos dominantes.
13. Eficácia. Embora a MOSAP I sofriu de problemas de início e gestão lentos nos
primeiros anos, produziu resultados tangíveis para os agricultores participantes,
também por meio da adoção rigorosa do modelo da Escola de Campo de Agricultor
(ECA) como método de extensão. A adesão à associações de agricultores e às ECAs
cresceu exponencialmente durante a implementação. No total, aproximadamente
55.000 agricultores familiares beneficiaram de formações sobre vários assuntos,
quase metade dos quais através de 726 Escolas de Campo de Agricultores.
Esforços sistemáticos de desenvolvimento de capacidade do pessoal de extensão
levaram a uma melhor prestação de serviços de extensão agrícola.
14. O projecto foi menos eficaz em outros aspectos. Não conseguiu fornecer incentivos
para os jovens se engajarem na agricultura; apenas poucas ECAs chegaram à
graduação devido a atrasos na adoção da metodologia; e o alcance de actividades
importantes, como a alfabetização, foi aquém das necessidades. Além disso, a taxa
de adoção das diferentes Práticas Agrícolas Melhoradas foi muito desigual entre
v
práticas, culturas e, em certa medida, províncias; e muitas só foram adotadas nas
lavras coletivas. O projecto não realizou nenhuma análise profunda das razões por
trás desse padrão.
15. O AFAP estava operacional há menos de 18 meses na época da CSPE e, em geral,
parecia operar sem uma direcção clara. Foram feitos alguns progressos no
desenvolvimento de capacidades, por exemplo, a PCU realizou algumas sessões de
formação para o pessoal da IDPAA a nível central e provincial, para membros da
comunidade e para grupos de pescadores. No entanto, em parte devido à falhas na
concepção do projecto, e em parte devido ao limitado capital humano disponível
para gerir uma iniciativa complexa como essa, as actividades de campo não
estavam progredindo ou eram problemáticas. Por exemplo, na província de
Malanje, o projecto mobilizou productores pobres para se engajarem na abertura
de tanques de aquicultura, um esforço altamente trabalhoso. No entanto, os grupos
não possuíam títulos para as terras onde estavam abrindo os tanques e o projecto
ainda não havia realizado uma análise de viabilidade económica e financeira
realista da cadeia de valor da aquacultura. Isso, na visão da CSPE, representava
uma possível perda de credibilidade para o FIDA na Província.
16. Eficiência. A carteira do FIDA sofreu atrasos acima da média regional, na recepção
do primeiro desembolso e durante os primeiros anos de implementação. O MOSAP
I acabou por conseguir alcançar resultados significativos com a sua conclusão,
também graças a uma extensão de quase dois anos. Na época da CSPE, era cedo
demais para avaliar se o AFAP seria capaz de recuperar os atrasos e se uma
extensão poderia ser necessária. As principais questões que afetaram a eficiência
de toda a carteira, e ainda correm o risco de fazê-lo no futuro, foram: (i) o limitado
capital humano no país para gerir e fornecer assistência técnica aos projectos; (ii)
a desvalorização da moeda nacional em 45% ao longo de 8 anos; e (iii) os custos
de Gestão de Projectos quase 100% mais altos do que o planeado, também devido
aos atrasos na implementação.
17. O impacto do MOSAP I na pobreza rural. As evidências disponíveis mostraram
que as lavras comunitárias cultivadas através de 109 subprojectos de Mecanização
levaram a aproximadamente 30 a 50% de produção excedente, geralmente
vendida nos mercados locais. Normalmente, os membros do grupo declararam que
o lucro líquido da venda do produto era parcialmente compartilhado entre os
membros e parcialmente reinvestido na lavra comunitária para a safra seguinte.
Alguns grupos já haviam investido em lavras comunitárias para a multiplicação de
sementes, que deveriam ser vendidas a preços melhores do que a produção para o
consumo de alimentos.
18. A CSPE encontrou evidências de empoderamento significativo do capital humano
e social. A afiliação nas ECAs foi elevada porque oferecia uma oportunidade para
aprender questões técnicas, discutir questões comunitárias e desenvolver capital
social. Ser membro de um grupo respeitado na comunidade era, por si só, um
primeiro passo em direção ao empoderamento, particularmente para as mulheres
membros. Alguns agricultores também foram treinados para se tornarem
instrutores mestres, ou facilitadores mestres; ambos são papéis-chave na
abordagem de extensão das ECAs que abrem oportunidades de emprego, além de
fortalecer os perfis dos participantes nas respectivas comunidades. Além disso,
naquelas ECAs que beneficiaram de cursos de alfabetização, todos os participantes
passaram por um processo significativo de empoderamento individual que levou a
relações mais fortes entre os membros.
19. Em relação à segurança alimentar e à produtividade agrícola, os dados de
monitoria mostraram que as Práticas Agrícolas Melhoradas introduzidas pelo
projecto eram suficientes, no caso do milho, “para permitir que um agregado
familiar de cinco pessoas ultrapassasse o limite da produção de subsistência”. Em
média, o Índice de Produção Agrícola aumentou de 66% em relação ao valor de
vi
referência de base medido em 2011/12. A diferença com o grupo de comparação
foi considerada significativa, em grande parte devido à disponibilidade de insumos
e de assistência técnica.
20. Mais importante, o projecto conseguiu melhorar a qualidade do apoio e da
assistência técnica que os agricultores receberam das organizações
governamentais relevantes. Um total de 88 funcionários de extensão do Governo
participaram nos treinamentos sobre técnicas de produção melhoradas,
metodologia ECAs, gestão, etc. Por sua vez, os extensionistas que trabalham com
os grupos das ECAs, apoiaram os agricultores no desenvolvimento de seus próprios
conhecimentos e capacidade. No processo, a abordagem da ECA permitiu o
estabelecimento de uma relação sólida entre o sistema de extensão e os grupos de
agricultores e os extensionistas afirmaram que o seu papel havia gradualmente
mudado de ensino para facilitação.
21. Este desempenho bem-sucedido levou à adoção do método como metodologia
nacional de extensão agrícola, que representou um impacto significativo nas
políticas nacionais. Além disso, o rigor na aplicação da abordagem da ECAs ao
longo do projecto tem sido notável e merece elogios.
22. Sustentabilidade do MOSAP I. O principal factor de sustentabilidade dentro do
MOSAP I foi a implementação rigorosa e em larga escala da abordagem da ECAs. A
sustentabilidade também se demostrou forte ao nível social. Será necessária uma
análise adicional para assegurar que as Práticas Agrícolas Melhoradas propostas
satisfaçam os requisitos básicos de sustentabilidade técnica e económica, uma vez
que nem todas foram adoptadas ao mesmo nível satisfatório, em particular nas
lavras individuais. Finalmente, os resultados positivos e o impacto em termos de
produtividade e produção não durarão muito, na ausência de um ambiente
favorável de políticas e de incentivos que apoiem a agricultura familiar e o
desenvolvimento agrícola e rural sustentável.
23. Inovação e ampliação através do MOSAP I. O FIDA contribuiu com inovações
importantes para Angola. Estas foram as ECAs, como um método de extensão
agrícola participativa, e um número de Práticas Agrícolas Melhoradas que os
membros das ECAs acharam benéficas e adoptaram nas lavras comunitárias. O
aumento de escala de ambos dependerá do compromisso do Instituto de
Desenvolvimento Agrícola do Ministério da Agricultura em encontrar recursos
financeiros para implementar a abordagem da ECAs em nível nacional; e na
identificação dos obstáculos que impedem a adoção de algumas Práticas Agrícolas
Melhoradas nas lavras individuais dos agricultores.
24. Igualdade de género e empoderamento das mulheres. As mulheres foram
participantes activas no MOSAP I, devido ao papel tradicional delas na agricultura
angolana, e beneficiaram de várias actividades. Os dados do projecto indicaram
que 43% dos participantes das actividades do projecto e 56% dos membros das
ECAs eram mulheres. Até certo ponto, o projecto abordou as necessidades práticas
das mulheres através da introdução dos moínhos para mandioca e milho que
poupam longas horas de trabalho físico pesado; e com os cursos de alfabetização e
numeração que tendem a fortalecer a auto-estima das mulheres. No entanto, não
houve nenhum esforço em relação ao empoderamento das mulheres no nível da
comunidade ou na abordagem dos papéis de género. Isso parece derivar da
ausência de um especialista dedicado à género na PIU, que levou a aceitar a alta
participação em termos de números, por ser suficiente.
25. Com relação ao AFAP, o projecto tem o potencial de abrir oportunidades de geração
de renda e redução da pobreza para mulheres envolvidas em aquicultura,
processamento e comercialização de pescado. No entanto, a menos que seja
adequadamente apoiado por um/a experto/a especializada e dedicada a este tema,
uma situação semelhante à do MOSAP I pode ocorrer também no AFAP.
vii
26. Gestão de recursos ambientais e naturais no MOSAP I. Embora a concepção
do projecto tivesse disposições adequadas neste âmbito, o currículo da ECAs não
integrou questões relacionadas com a sustentabilidade ambiental, em grande parte
devido à falta de capital humano e capacidade técnica neste âmbito a nível
provincial. Isso, apesar das preocupações dos agricultores quanto à escassez
crescente dos recursos hídricos, chuvas irregulares e diminuição da fertilidade do
solo. Além disso, o projecto não tomou adequadamente em consideração que
certas áreas sob cultivo são mais vulneráveis do que outras e podem requerer
diferentes medidas de cultivo para evitar a erosão do solo, por exemplo o cultivo
em curvas de nível.
27. A adaptação às mudanças climáticas no MOSAP I não foi abordada
diretamente, pois a formulação foi feita quando a questão ainda não era uma
prioridade. Desde então, no entanto, as alterações climáticas começaram a afectar
seriamente os padrões de precipitação também nas terras do Planalto central de
Angola, com um impacto directo na produção agrícola. Não obstante, o projecto
não deu atenção à identificação de práticas que pudessem melhorar a resiliência
das culturas e dos sistemas agrícolas às consequências das mudanças climáticas.
28. Actividades não relacionadas a empréstimos foram integradas no COSOP
2005 como elementos importantes e complementares da carteira do FIDA no país.
No geral, as metas foram estabelecidas em um nível razoável e realista, refletindo
uma boa compreensão do contexto do país e dos desafios existentes em questões
como o diálogo sobre políticas.
29. A gestão do conhecimento em Angola, tomou principalmente a forma de análise
e integração das lições aprendidas em projectos anteriores. Isso ocorreu com o
COSOP 2005, que identificou as lições do PRODECA e PESNORTE ainda em curso, e
com os projectos subsequentes implementados sob a responsabilidade do IDA. Isso
pareceu logico, cada vez que um projecto estava sendo implementado e as lições
poderiam ser recolhidas a tempo para um novo desenho de projecto. No entanto, o
mecanismo não foi muito eficiente em caso de alta rotatividade de CPM/CD e pouca
atenção foi dada ao desenvolvimento de uma memória institucional.
30. Vinculadas à gestão do conhecimento, cinco doações direccionadas para a pesquisa
foram financiadas e implementadas entre 2005 e 2009, com o objectivo de
capturar as constatações e resultados nos projectos em curso ou novos,
financiados através de empréstimos. Todos os projectos foram devidamente
implementados e concluídos, e seus resultados podem ter contribuído para
melhorar a concepção dos projectos financiados através de empréstimos, de
maneira implícita e informal.
31. Em referimento aos sistemas de monitoria e avaliação, tanto no âmbito dos
projectos como em toda a carteira, no passado o progresso foi limitado. A CSPE
também encontrou pouca coordenação no desenvolvimento de linhas de base e
sistemas de monitoria nos projectos em curso. Essa situação pode levar a lacunas
na coleta e mensuração dos dados necessários para criar conhecimento sobre os
impactos e que também poderiam ser usados ao nível político e estratégico.
32. Construção de parcerias. O FIDA desenvolveu um relacionamento muito bom
com o Governo ao longo dos anos, graças ao compromisso dos CPMs e dos seus
funcionários e à presença durante vários anos de um Facilitador de Projecto
residente no país. O FIDA é confiável, respeitado e considerado como um parceiro
flexível e colaborativo. Um pedido recorrente do Governo foi que um especialista
independente residente no país possa actuar como ligação entre as várias
organizações que colaboram com o FIDA e o próprio Fundo, em particular tendo em
vista a ampliação da carteira.
33. O FIDA também desenvolveu parcerias importantes em Angola com o Banco
Mundial (BM) e a FAO, em relação à e além do trabalho conjunto sobre o MOSAP I.
viii
Este é um exemplo interessante da complementaridade entre as três organizações,
em que cada uma funcionou de acordo com o seu mandato e vantagem
comparativa para uma meta estratégica comum, que levou a bons resultados em
nível político, institucional e comunitário. Merece ser sustentado pelo Projecto de
Desenvolvimento e Comercialização da Agricultura Familiare nas Províncias de
Kuanza Sul e Huila (SAMAP) e pelo Projecto de Recuperação Agricola (ARP) e
outras iniciativas relevantes no futuro.
34. A parceria com a FAO envolveu: (i) colaboração sistemática e consulta com a
Representação da FAO no nível estratégico, por ocasião das missões de projecto,
avaliação ex-ante, formulação e supervisão de todos os projectos focados na
agricultura; (ii) contribuição da FAO com recursos financeiros próprios, por meio do
Programa de Cooperação Técnica, assistência técnica e apoio operacional à
implementação do ARP; e (iii) engajamento da FAO na implementação do
componente da ECAs tanto para o SAMAP quanto para o ARP. Além disso, desde
2016, a Representação da FAO tem apoiado todas as missões do FIDA em Angola,
fornecendo contactos com as organizações governamentais e outros parceiros,
atuando sempre que necessário como assessor do FIDA e do Governo, bem como
com a logística.
35. Um projecto de memorando de entendimento entre o FIDA e a FAO, para
formalizar e simplificar os custos de transação relacionados, foi preparado e
discutido, mas não assinado. Ao mesmo tempo, o papel de assessoria estratégica e
o apoio prestado pela Representação da FAO foram muito além de qualquer serviço
reembolsável.
36. Diálogo sobre políticas. A maior parte do diálogo com o Governo relevante para
a formulação de políticas foi realizada durante os processos de desenho do MOSAP
I, SAMAP e ARP; e durante a implementação do MOSAP I, quando as principais
decisões tiveram que ser tomadas, como a seleção da abordagem da ECAs como
metodologia de extensão a ser adotada pelo projecto, com a FAO como provedora
de serviços para este componente. Além disso, durante o período 2006-2011, a
Avaliação do Sector Rural do PBAS foi usada como uma ferramenta para chamar
sistematicamente a atenção do Ministério da Agricultura para as necessidades do
sector da agricultura familiar e para a vantagem comparativa de diferentes
abordagens, menos de cima para baixo, a serem seguidas na relação entre o
Governo e os agricultores familiares.
37. Essa abordagem levou ao resultado importante de fornecer evidências ao IDA
sobre como trabalhar com agricultores de pequena escala. Isso também levou à
adoção da ECAs como metodologia de extensão que fornece ferramentas para o
diálogo e a prestação de contas entre o Governo e as organizações de agricultores.
Os projectos em curso e novos também têm um potencial interessante neste
sentido.
Conclusões
38. O COSOP 2005 focou firmemente a estratégia de intervenção do Fundo no apoio
aos pobres rurais, incluindo mulheres e jovens, para restabelecer sua capacidade
produtiva e progredir em direção à segurança alimentar e melhores meios de vida.
Um dos resultados positivos do enfoque na pobreza rural foi o MOSAP I e as lições
aprendidas através da sua implementação foram devidamente consideradas na
concepção dos projectos recém-aprovados, SAMAP e ARP.
39. Ao longo das décadas, o FIDA tem sido um parceiro fiável do Governo de Angola e
providenciou apoio quando as circunstâncias permitiam e onde as necessidades
eram mais urgentes. Através do trabalho árduo do seu pessoal, o Fundo ganhou a
confiança e o respeito do Governo e dos parceiros no país. O modelo adotado de
um Facilitador de Projecto residente no país, que facilitou o diálogo e a
coordenação com os principais interessados, provou ser uma solução simples,
ix
barata e eficaz, que permitiu uma modalidade de comunicação contínua e aberta e
levou à realizações importantes em termos de parcerias e diálogo sobre políticas.
40. A atual carteira do FIDA, a maior até agora no país, foi alcançada graças ao bom
relacionamento recentemente renovado entre o Governo e o FIDA, e à disposição
do Fundo de apoiar o país em um momento especial, de crise económica e de
repensar o modelo nacional de desenvolvimento económico. A nova carteira é
também um desafio, considerando as dificuldades recorrentes na implementação
de projectos em Angola, devido ao capital humano limitado e à complexidade das
próprias iniciativas. Isso aponta à necessidade de uma orientação mais intensiva e
mais próxima para os projectos operarem de maneira eficiente e eficaz no país, e à
presença contínua no país para garantir o nível de contactos, diálogo e
coordenação necessários para alcançar os ambiciosos resultados esperados.
41. A estratégia e a carteira do FIDA em Angola reconheceram a necessidade de
desenvolvimento intensivo de capacidades a todos os níveis. Essa convocação foi
atendida adequadamente no MOSAP I, fortalecendo a capacidade, as competências
e as qualificações do pessoal do IDA, do nível central às Estações de
Desenvolvimento Agrícola (EDAs), e dos agricultores participantes. O mesmo
espera-se que aconteça através dos incipientes SAMAP e ARP. No entanto, até hoje
pouco tem sido feito para lidar com a escassez de recursos humanos em Angola
que surge sempre que um membro da equipe de uma PCU ou PIU precisa ser
recrutado, e para apoiar o desenvolvimento de um grupo de profissionais
experientes, em particular na gestão de iniciativas de desenvolvimento e em
questões fiduciárias, e em algumas áreas técnicas de importância fundamental no
desenvolvimento agrícola e rural. O leque de opções e modelos possíveis de adotar
a partir do qual desenhar um projecto é amplo, e o FIDA pode identificar os mais
adequados ao contexto.
42. O COSOP e todos os relatórios de projecto elaboraram disposições adequadas para
a inclusão de mulheres e jovens, entre os beneficiários, incluindo algumas
referências ao empoderamento. Na prática, uma grande parte dos participantes do
MOSAP I eram mulheres, que se beneficiaram do aumento da produção e da renda,
da utilização dos moinhos e da alfabetização. Ao longo do processo, no entanto, os
esforços para o empoderamento das mulheres, se houve alguns, foram poucos e
levaram a uma presença mínima de mulheres em cargos de liderança em
associações de agricultores e a nenhuma mulher no papel de facilitadoras mestras;
ou como membros das Unidades Provinciais de Implementação do Projecto (PPIUs)
em uma função técnica.
43. Com relação à participação da juventude nos projectos do FIDA, os resultados
foram ainda menos positivos, com poucos jovens (homens) entre os membros das
ECAs. Os jovens tendem a considerar a agricultura um sector não atraente, porque
não oferece oportunidades para meios de vida razoáveis. O Governo e os parceiros
reconhecem a importância, também em termos mais amplos de segurança
nacional, de oferecer aos jovens oportunidades de trabalho decentes e meios de
vida sustentáveis nas áreas rurais, baseadas na produção primária. Além disso,
tanto o empoderamento das mulheres quanto a inclusão da juventude estão entre
os pilares fundamentais das metas nacionais de uma sociedade equitativa e
pacífica; e ambos precisam ser tratados e perseguidos adequadamente nas
intervenções apoiadas pelo FIDA.
44. Por fim, a CSPE identificou várias deficiências na implementação do AFAP. Em
parte, isso se deve a um desenho excessivamente ambicioso, que não levou em
devida consideração o contexto nacional; e em parte à atenção insuficiente do
FIDA à necessidade de medidas adequadas para abordar o limitado capital humano
nacional em vários temas. A combinação desses factores levou, no momento da
CSPE, ao envolvimento dos beneficiários potenciais em investimentos de tempo e
energia pouco seguros e a um risco de reputação para o FIDA. Ao mesmo tempo, o
x
foco do AFAP é altamente relevante para reduzir a pobreza e aumentar a segurança
alimentar nas áreas rurais de Angola e o projecto é uma oportunidade importante
que não deve ser perdida.
Recomendações
45. Recomendação 1. Em Angola o FIDA deve continuar no seu papel de
‘campeão’ para um desenvolvimento agrícola e rural sustentável e pró-
vulneráveis e abordar, mediante seus investimentos e diálogo sobre
políticas, importantes questões relativas a posse da terra e agroecologia.
O FIDA tem sido um dos principais agentes na promoção de enfoques e
intervenções rurais pró-pobres. Essa vantagem comparativa deve ser mantida e
fortalecida, mediante uma estreita colaboração com o Governo a fim de criar um
ambiente propício e apoio direto aos pequenos produtores para melhorar seus
médios de vida e sair da pobreza, através das oportunidades de mercado que
progressivamente surgirão no país.
46. Recomendação 2. No contexto actual da carteira de projectos ampliada e
de interesse nacional crítico no desenvolvimento agrícola e rural, o FIDA
deve reforçar a sua capacidade de apoio à implementação e ao diálogo
sobre políticas no país. Para que o FIDA possa desempenhar o papel previsto na
Recomendação 1, e levando em consideração as evidências disponíveis sobre a
necessidade de uma presença tangível no país para promover a eficiência e eficácia
das interações e do diálogo sobre políticas, o modelo de Facilitador de Projectos
deve ser re-lançado, passando a ser um cargo a tempo integral e com apoio
administrativo. Isso seria um factor eficiente e eficaz para assegurar coerência e
coordenação em toda a carteira de empréstimos em crescimento, também tendo
em vista o objectivo da ampliação dos bons resultados.
47. Recomendação 3. O FIDA deve fazer do desenvolvimento da capacidade
um dos pilares e princípios transversais de sua carteira em Angola. O FIDA
deve contribuir para preencher a lacuna de capital humano nas áreas e sectores
que são relevantes para a implementação de sua carteira. Isso deve ser feito
mediante a alocação sistemática de recursos e disposições de gestão na carteira
que proporcionem oportunidades de desenvolvimento da capacidade no nível
individual e institucional, aplicando os enfoques e métodos mais apropriados,
inclusive capacitação no serviço, mentoria, capacitação de curto e longo prazo e
oportunidades de ensino superior, entre outros.
48. Recomendação 4. Os projectos apoiados pelo FIDA devem ter um foco
mais forte no empoderamento de mulheres e inclusão de jovens. A
estratégia de focalização e as abordagens de implementação do FIDA devem: (i)
integrar plenamente uma perspectiva de equidade de género e promover
ativamente o empoderamento social e económico das mulheres; e (ii) criar
oportunidades sustentáveis e atraentes no meio rural para os jovens de ambos os
sexos, promovendo seu acesso a oportunidades de desenvolvimento da
capacidade, recursos financeiros e meios de vida sustentáveis. Parece necessário
dedicar recursos humanos especializados en estes temas nas unidades de
coordenação do projecto, compartilhados entre intervenções, dada a limitada
competência nacional nessa área.
49. Recomendação 5. O FIDA e o Governo de Angola devem mudar o foco do
AFAP. O projecto deve ser reformulado, transformando-o numa iniciativa-piloto
para testar modelos de desenvolvimento da pesca e aquicultura artesanal em água
doce e realizar estudos e análises que possam informar, , como fôr apropriado, a
futura expansão dos investimentos a outras áreas do país. Ao fazer isso, deve-se
buscar um efetivo envolvimento de todas as partes interessadas. O orçamento
deve ser revisado com base no novo plano de implementação e, se houver recursos
disponíveis, a duração do empréstimo deve ser extendida.
xi
Republica de Angola
Avaliação da Estratégia e do Programa do País
A. Introdução
1. A pedido da Comissão Executiva na sua 119ª sessão, em Dezembro de 2016, o
Escritório Independente de Avaliação (IOE) do FIDA realizou em 2017 uma
Avaliação da Estratégia e do Programa do País (CSPE) em Angola. O principal
objectivo da CSPE era gerar uma avaliação global da parceria entre o FIDA e o
Governo de Angola na redução da pobreza rural e, por meio disso, contribuir com a
rendição de contas e a aprendizagem; e fortalecer a eficácia do desenvolvimento
do FIDA.
2. Esta foi a primeira avaliação realizada pelo IOE em Angola. A CSPE compreendeu o
período entre 2005-2017 e inclui a análise de todas as iniciativas apoiadas pelo
IFAD que foram aprovadas pela Conselho Executivo e tornaram-se operacionais
neste mesmo período.
3. Visão geral do programa apoiado pelo FIDA. O FIDA iniciou a sua colaboração
com Angola em 1989. Até o final de 2017, o mesmo aprovou sete empréstimos e
doações associadas, em apoio de uma carteira de projectos com um valor total de
US$ 135,2 milhões. Os empréstimos do FIDA representaram 60,7% do total de
recursos; o Governo e os beneficiários contribuíram respectivamente com 11,9% e
3,6%; e o cofinanciamento externo fornecido pelo Banco Mundial (BM), o Governo
do Japão e a FAO representou 23,8%.
4. O apoio do FIDA à Angola foi gerido por Gestores de programa do país/Director do
País (CPM/CD) baseados na sede do FIDA ou em outros países da região da África
Oriental e Austral (ESA). De 2005 a 2016, o apoio do FIDA à Angola foi enquadrado
pelo Documento de oportunidades estratégicas do país de 2005; para o período de
2017 a 2018, a Nota da Estratégia do País foi aprovada pelo FIDA no final de 2016.
Durante o período de 2004 a 2013, o FIDA teve uma presença reforçada em
Angola, através de um consultor nacional que teve o papel de Facilitador de
Projectos e que apoiou a tempo parcial o CPM nas missões do Fundo na concepção
e implementação do Projecto de Agricultura Familiar Orientada para o Mercado
(MOSAP I).1
5. Contribuições de Angola ao FIDA. O Governo de Angola deu a sua primeira
contribuição financeiro para o processo de reposição do FIDA em 1990. Desde
2005, foi o maior contribuidor da região da África Oriental e Austral, com um total
de US$ 6,7 milhões entre 1990 e Novembro de 2017.
6. Razões para a avaliação. A colaboração entre o FIDA e o Governo de Angola é
de longa data, mas não foi grande em termos de número de projectos. Em 2016, o
FIDA decidiu reformular a parceria com Angola para melhorar a sua contribuição
em apoio aos esforços nacionais frente à crise económica e financeira. A CSPE foi
implementada para ser um elemento de base neste processo e avaliou todos os
projectos aprovados desde que o primeiro COSOP foi aprovado, embora tenha
ocorrido num momento em que os recursos financeiros a serem avaliados fossem
menores do que o normal nas CSPE.
1
O Projecto de Agricultura Familiar Orientada para o Mercado foi chamado de MOSAP. O seu sucessor, o Projecto de
Desenvolvimento e Comercialização da Agricultura Familiar no Bié, Huambo e Malanje, é comumente chamado de
MOSAP II. Por isso, o antigo projecto começou a ser chamado como MOSAP I.
1
recomendações para a futura parceria entre o FIDA e Angola de forma a aumentar
a eficácia do desenvolvimento e a erradicação da pobreza rural.
8. Propósito. Solicitou-se a CSPE de analisar todo tipo de apoio do FIDA a Angola no
período entre 2005 a 2017 e realizar uma avaliação ao nível do programa e da
estratégia, com base na análise dos três pilares descritos a seguir, cada um a ser
classificado quantitativamente por si mismo:
i) Actividades de empréstimo: realizou-se uma avaliação dos projectos
fechados e em curso, aprovados no período entre 2005-2017, que teve o
seu foco de analise nas teorias de mudanças e factores de impacto, nos
progressos realizados e nos desafios futuros;
ii) Actividades não relacionadas aos empréstimos: análise da gestão do
conhecimento, desenvolvimento de parcerias e diálogo sobre políticas; este
pilar também devía também incluir as doações nacionais autónomas, uma
amostra das doações regionais que beneficiam o país, bem como a
cooperação Sul-Sul e a cooperação Triangular; e
iii) O desempenho do FIDA e do Governo de Angola na gestão do programa do
país, incluindo as respectivas contribuições para o desenho, implementação,
supervisão, monitoria e avaliação dos projectos, e do programa de
oportunidades estratégicas do país (COSOP).
9. A CSPE também avaliou a relevância e os resultados obtidos no âmbito dos
objectivos estratégicos do COSOP de 2005, de modo a fornecer lições e
recomendações ao nível estratégico para a próxima formulação do COSOP.
10. Metodologia. A CSPE foi realizada de acordo com as disposições da Política de
Avaliação do FIDA e foi conduzido de acordo com a segunda edição do Manual de
Avaliação do IOE (2015).2 O Documento de Abordagem providenciou uma
orientação adicional e específica para o exercício. A avaliação adotou uma
abordagem transparente e inclusiva no que se refere à divulgação de informações e
pontos de vista das partes interessadas, participantes de actividades e
observadores apoiados pelo FIDA.
11. As evidências para a CSPE resultaram da análise e triangulação de informações e
dados analisados usando várias ferramentas, nomeadamente:
(a) Revisão extensiva de documentos, incluindo: o COSOP de Angola e a Nota de
Estratégia de País; relatórios de desenho do projecto (PDR), revisões
intermedias (MTR), relatórios de supervisão e técnicos, relatórios finais;
relatório de autoavaliação da Divisão de África Oriental e Austral (ESA);
políticas nacionais e do FIDA; Sistemas de informação corporativa do FIDA
para gestão de dados financeiros;
(b) Revisão aprofundada através da análise de documentos, feita por um
especialista sectorial, da intervenção apoiada pelo FIDA no sector das pescas
e da aquicultura;
(c) Entrevistas semi-estruturadas com as partes interessadas do FIDA e os
participantes do projecto, com base em listas de verificação específicas
desenvolvidas para cada grupo de partes interessadas. No total, a equipe da
CSPE reuniu-se e discutiu com pouco mais de 100 oficiais de organizações
governamentais, projectos apoiados pelo FIDA em Angola e pessoal técnico,
bem como de parceiros de desenvolvimento; e com líderes e membros de
grupos e associações que compõem no total mais de 500 agricultores
2
Escritório Independente do FIDA, Manual de Avaliação, Segunda Edição, dezembro de 2015,
https://www.ifad.org/documents/10180/bfec198c-62fd-46ff-abae-285d0e0709d6
2
familiares3 e pescadores que participam e participaram nos projectos do
FIDA. Essas entrevistas foram complementadas por dados fornecidos pelas
unidades de implementação / coordenação dos projectos após solicitação da
CSPE; e
(d) Observação de uma amostra das realizações do projecto a nível comunitário,
incluindo campos de produção agrícolas e tanques de aquicultura.
12. A CSPE também contribuiu para o processo de validação do IOE, do Relatório do
Banco Mundial de Conclusão da Implementação (ICR) do MOSAP I. Este projecto
foi financiado conjuntamente pelo BM, que também foi a agência implementadora,
o FIDA e o Governo do Japão. Tendo em conta tais acordos, o BM preparou o ICR e
realizou a própria validação do ICR. O FIDA avalia igualmente os empréstimos nos
quais participou, para o próprio sistema de gestão de informações e o
Departamento de Gestão de Programas (PMD) revisou e modificou parcialmente as
classificações finais para o MOSAP I. Como o IOE teve que validar o ICR com
classificações da PMD, a CSPE ofereceu a oportunidade para uma interação direta
com os participantes do projecto e as partes interessadas, e uma avaliação mais
detalhada das conquistas em relação a vários critérios.
13. Critérios. A CSPE avaliou a cartera dos projectos com base em critérios de
avaliação internacionalmente reconhecidos, tais como a relevância, eficácia,
eficiência e sustentabilidade, cada um classificados em uma escala de valores de
seis pontos. Outros critérios específicos do FIDA foram: impactos na pobreza rural,
inclusive ao nível dos rendimentos e bens domésticos, fortalecimento do capital
humano e social, segurança alimentar e produtividade agrícola, instituições e
políticas; bem como inovação e ampliação, igualdade de género e empoderamento
das mulheres, recursos naturais e meio ambiente, adaptação às mudanças
climáticas (ver definições no anexo I).
14. A CSPE avaliou e classificou individualmente cada um dos três pilares acima
mencionados, empréstimos, actividades não relacionadas com os empréstimos e
desempenho dos parceiros. Examinou também as sinergias entre os projectos
apoiados pelo FIDA, bem como, as dimensões transversais das actividades que não
são de fundos de empréstimos; e, finalmente, considerando a relevância e eficácia
do COSOP, a CSPE produziu uma avaliação geral e classificação da parceria FIDA-
Governo.
15. Os critérios padrão para a avaliação forneceram o quadro para a identificação das
questões de avaliação. Além disso, o Documento de Abordagem identificou
algumas questões de maior preocupação para a maioria das partes interessadas,
nomeadamente: (i) Em que medida o FIDA está contribuindo aos esforços
nacionais para preencher a lacuna actual na competência nacional de gestão do
desenvolvimento e de algumas áreas técnicas; (ii) O papel do FIDA na recuperação
pós-crise e no desenvolvimento da resiliência, em um país de renda média (MIC)
como Angola, com importantes diferencias nas oportunidades de renda e
subsistência entre a população urbana e rural; (iii) O nível de contribuições
nacionais ao FIDA; e (iv) a presença do FIDA em Angola em termos de
continuidade ao longo do tempo e em termos da estrutura e como isso afecta a
visibilidade e o impacto da organização nos diferentes níveis. Destes, a CSPE não
conseguiu recolher informações suficientes sobre o papel do FIDA na recuperação
pós-crise e no desenvolvimento da resiliência, considerando o progresso na
implementação do ARP.
3
Ao longo do relatório, os termos " agricultores familiares" e "produtores de pequena escala", são utilizados de forma
intercambiável, apesar das leves diferenças de significado, já que todos correspondem à definição do Ministério da
Agricultura de uma família que cultiva um máximo de 5 hectares e usa força de trabalho familiar e tecnologia não
sofisticada.
3
16. A CSPE analisou essas questões de forma mais aprofundada, considerando os seus
efeitos sobre a execução geral dos recursos financeiros.
17. Selecção de projectos a serem revisados. A carteira de projectos apoiados pelo
FIDA em Angola no período avaliado inclui quatro empréstimos: um fechado, um
em curso e dois aprovados em 2017, dos quais apenas um já estava declarado
efectivo no momento da missão principal da CSPE (Novembro de 2017). A
abrangência da análise dependeu do status do progresso de cada iniciativa. O
projecto fechado de MOSAP I foi o único empréstimo que pude ser avaliado em
relação a todos os critérios de avaliação. O Projecto de pesca e aquicultura
artesanal (AFAP) ainda não havia passado por um MTR. Isso significa que foi
avaliada apenas a sua relevância, enquanto a eficiência e a eficácia foram
avaliadas, mas não quantificada.4 Para os projectos recentemente aprovados, foi
avaliada e quantificada apenas a relevância.
18. Durante o período da avaliação, também foram financiadas cinco doações
autónomas nacionais. A CSPE não pôde entrevistar e encontrar as partes
directamente interessadas ou as pessoas bem-informadas no país, nem teve
acesso a documentos suficientes disponíveis nos arquivos do FIDA para avaliar o
desempenho, mesmo que indiretamente. Todos os projectos chegaram a conclusão
entre 2006 e 2009, e os orçamentos eram reduzidos; esses factores podem ter
contribuído para a perda de memória institucional nas organizações
implementadoras.
19. Além disso, Angola foi incluída no mesmo período em duas doações regionais
financiadas pelo FIDA. A primeira não envolveu a organização angolana nas suas
actividades, devido a problemas de comunicação. A segunda foi aprovada pelo
Conselho Executivo do FIDA no início de 2017, e durante o período da CSPE ainda
não tinha começado a execução financeira; nenhum participante nacional foi
informado sobre isso.
20. A Tabela 1 mostra os critérios que foram utilizados para avaliar cada projecto
financiado por empréstimo.
Tabela 1
Possibilidade de Avaliação dos Projectos
Critérios/Projectos MOSAP I AFAP SAMAP ARP
Dadas da eficácia Novembro 2009 Agosto 2015 Agosto 2017 Não disponível
Nível de execução do 100% 20% 0% Não disponível
empréstimo do FIDA (30 (Completo)
de novembro de 2017)
Critérios
Relevância Sim Sim Sim Sim
Eficácia Sim Parcialmente** Ainda não Ainda não
avaliável avaliável
Eficiência Sim Parcialmente** Ainda não Ainda não
avaliável avaliável
Sustentabilidade Sim Ainda não Ainda não Ainda não
avaliável avaliável avaliável
Impacto na Pobreza Rural Sim Ainda não Ainda não Ainda não
avaliável avaliável avaliável
Inovação, replicação e Ainda não Ainda não Ainda não
ampliação avaliável avaliável avaliável
Recursos Naturais e Sim Ainda não Ainda não Ainda não
Ambiente avaliável avaliável avaliável
Adaptação as Mudanças Sim Ainda não Ainda não Ainda não
Climáticas avaliável avaliável avaliável
Igualdade de Género Sim Parcialmente** Ainda não Ainda não
avaliável avaliável
4
Uma revisão intermedia é um passo fundamental durante a implementação de um projecto do FIDA, uma vez que os
objectivos do projecto podem ser alterados até esta, desde que o MTR ocorra o mais tardar no meio do projecto.
Assim, para evitar avaliações e classificações contra um potencial "alvo em movimento", as avaliações analisam os
projectos em relação a todo o conjunto de critérios somente após a conclusão do MTR.
4
Desempenho dos Sim Parcialmente** Não Ainda não
parceiros avaliável
Coerência com lições Sim Sim
aprendidas e prioridades
*Armazenamento de dados sobre empréstimos e doações, FIDA.
**: Avaliados, mas não classificados
21. Processo. A CSPE começou na IOE com uma revisão documental das actividades
de projecto e outras e das questões estratégicas, e a preparação de um rascunho
do Documento de Abordagem. Durante o período de Maio a Junho de 2017,
realizaram-se extensas entrevistas com as principais partes interessadas na sede
do FIDA e em Luanda, durante uma missão preparatória de cinco dias para permitir
a interação com as partes interessadas no Governo e com outros parceiros. As
reuniões tinham como objectivo recolher opiniões sobre questões específicas e
questões que deveriam ser abordadas na avaliação. A ESA no FIDA e o Governo
também foram convidados a realizar uma auto-avaliação da cartera dos projectos
em curso, das actividades não relacionadas aos empréstimos e o desempenho do
COSOP de 2005. O Documento de Abordagem foi finalizado, incluindo comentários
recebidos do FIDA e do Governo, e, nessa base, foram preparadas ferramentas
adicionais para a avaliação.
22. A missão de avaliação principal foi realizada de 17 de Outubro a 7 de Novembro de
2017. Foram também realizadas entrevistas adicionais em Luanda; a equipa da
CSPE realizou visitas de campo a quatro províncias (Bié, Huambo, Kuanza Norte e
Malanje) e a vários municípios e comunas, para interagir com os participantes /
beneficiários e observar diretamente as actividades do MOSAP I já terminadas e do
AFAP em curso.
23. No dia 7 de Novembro, realizou-se uma reunião de conclusão da missão com os
principais actores do Governo, a equipa do projecto e parceiros, para apresentar e
discutir os resultados preliminares da equipa da CSPE. A reunião foi bem atendida
e a discussão foi construtiva e útil para a fase de redação do relatório.
24. O rascunho de relatório, após revisão pelos colegas da IOE, foi compartilhado com
as divisões do FIDA, o Governo e as PMU. Todos os comentários foram tidos em
conta na finalização do relatório, que foi apresentado às partes interessadas
nacionais e do FIDA num workshop nacional em Luanda, em Maio de 2018, que
debateu os principais resultados e recomendações.
25. Limitações. O principal desafio enfrentado pela CSPE foi o longo período de
análise, que dificultou a localização e a discussão com as pessoas que estiveram
envolvidas nos processos e nas decisões há mais de 10 anos. A CSPE envidou
todos os esforços para alcançar aqueles que tinham sido as principais pessoas
envolvidas na época. Isso foi possível e razoavelmente positivo para os
empréstimos, embora não para as doações, como mencionado acima. Um segundo
desafio foi o momento da avaliação, durante o ano de eleições presidenciais. A
principal missão começou três semanas após o novo presidente ter tomado posse.5
A mudança no Governo levou a uma mudança significativa na equipa de alguns
ministérios e à perda de alguma memória institucional, mesmo em relação às
recentes negociações com o FIDA. Isso aconteceu com o Ministério do Ambiente,
que tem uma grande relevância para o FIDA. A CSPE ainda conseguiu interagir com
as novas pessoas envolvidas, tanto para analisar os futuros planos ministeriais
quanto para gerar interesse na avaliação.
5
Não foi possível adiar a missão principal, para que as visitas de campo fossem realizadas antes do início da estação
chuvosa, quando os agricultores não estariam mais disponíveis para reuniões.
5
Pontos-chave
Esta foi a primeira avaliação dos projectos, programas e estratégias do FIDA em
Angola. Abrangeu todos os projectos aprovados pelo Conselho Executivo desde
2005, quando o primeiro COSOP foi assinado e outros trabalhos relacionados.
O FIDA tem vindo a gerir o programa em Angola através de Gestores de programa
de país/Director de País baseados nas sedes ou em outro país da região da África
Oriental e Austral. Além disso, de 2004 a 2013, um consultor nacional com a
responsabilidade de Facilitador de Projectos, apoiou a CPM a tempo parcial.
Desde o primeiro empréstimo aprovado em 1989, a partir de Novembro de 2017, o
FIDA aprovou 7 empréstimos e doações associados para Angola, com condições de
empréstimos variáveis, no valor total de US$ 82,1 milhões, o que representou
60,7% do custo total estimado do financiamento.
Os principais objectivos da CSPE foram (i) avaliar os resultados e o desempenho da
estratégia e do programa financiados pelo FIDA e (ii) produzir resultados e
recomendações para a futura parceria entre o FIDA e Angola para aumentar a
eficácia do desenvolvimento e a erradicação da pobreza rural.
A CSPE avaliou: um projecto fechado financiado conjuntamente com o Banco
Mundial, um projecto em curso, um projecto que se tornou efectivo e um projecto
aprovado que ainda não havia sido declarado efectivo. Além disso, a avaliação
também analisou as actividades não relacionadas com empréstimos e o desempenho
do FIDA e do Governo na gestão do programa do país.
6
I. Contexto do país e estratégia e operações do FIDA
para o período da CSPE
A. Contexto do país
26. Este capítulo descreve brevemente as principais características de Angola, que tem
maior relevância com o mandato do FIDA, e fornece uma visão geral das operações
e estratégias do FIDA no país desde 2005.
27. Geografia. A República de Angola é um dos países mais ricos em recursos naturais
em África, ocupando o segundo lugar entre os produtores de petróleo da África
Sub-sahariana; e o quarto como produtor mundial de diamantes. Angola também
tem recursos naturais importantes, incluindo minerais, florestas, biodiversidade,
solos férteis na maior parte do país, água e abundância de recursos pesqueiros de
água doce e marinhos. O país cobre uma área de 1.246.700 km2, o que o torna o
sétimo maior país da África.
28. Visão geral. O país ganhou a sua independência de Portugal em 1975 e passou
directamente para uma guerra civil que durou 27 anos. Durante este período,
grande parte da economia do país colapsou, com a maior parte das infra-estruturas
destruídas, e as instituições deixando de funcionar. A última década da guerra foi
particularmente devastadora, já que, pela primeira vez, as principais cidades e
áreas urbanas, onde a maioria das pessoas e as infra-estruturas económicas mais
importantes estavam localizadas, foram atacadas. A opção por um modelo
socialista de desenvolvimento após a independência também contribuiu para a
estagnação económica. Com o alcance da paz em 2002, o Governo realizou
progressos substanciais no restabelecimento das bases necessárias para visar o
desenvolvimento social e económico do país.
29. Dados populacionais. A população de Angola em 2005 foi estimada em 19,5
milhões6. O último censo realizado em Maio de 20147 relatou uma população de
25,8 milhões de pessoas, das quais 47% correspondem a faixa etária entre os 0 a
14 anos e 17,9% na faixa etária entre os 36 e 65 anos. A definição nacional de
"juventude" vai dos 15 aos 35 anos de idade; em 2014, este grupo representava
32,6% da população total; e em áreas rurais, representava 28,1% dos residentes
rurais. A taxa de alfabetização apresentada é de 65,6% da população com 15 anos
ou mais, variando de 79,4% nas áreas urbanas a 41,1% nas áreas rurais.
30. Urbanização. Desde a independência, Angola sofreu acelerados níveis de
urbanização, também agravada pelo longo conflito armado, durante o qual as
pessoas das zonas rurais se mudaram para os centros urbanos em busca de um
ambiente mais seguro, e de melhores oportunidades para a geração de renda. Este
processo também levou a uma perda de conhecimento através das gerações, quer
seja das práticas agrícolas tradicionais como daquelas recentemente introduzidas.
Desde o fim da guerra civil, a baixa produtividade agrícola, a disponibilidade
limitada de serviços e infra-estruturas sociais e a escassez de oportunidades de
trabalho nas áreas rurais impediram as pessoas de retornarem às suas áreas de
origem. Esses mesmos factores continuam a ser os principais impulsionadores da
actual migração rural, que afecta fundamentalmente os jovens.
31. Os dados do censo de 2014 indicam que 37,4% da população vive em áreas rurais,
uma vez que a percentagem da população que vive em áreas urbanas cresceu de
15% em 1970, para 63% em 2014.8 Resultou ainda que uma grande parte da
população do país, um pouco menos de 7 milhões de pessoas, reside na capital
6
Dados do Banco Mundial.
7
Governo de Angola (201&) Censo 2014. Resultados definitivos do recensamento geral da populaçao e de habitaçao
de Angola 2014’, Instituto Nacional de Estatística.
8
De acordo com a Lei da Terra de 2004, ou "Lei de terras", “rual” é definido como a terra que não é delimitada por um
assentamento urbano e que é usada para agricultura, criação de animais, silvicultura ou exploração de minas.
7
Luanda. A percentagem de população economicamente activa em todo o país foi de
52,7%, variando de 53,9% em áreas urbanas a 50,7% em áreas rurais.
32. Dados do contexto relacionados ao género e à juventude. O censo de 2014
indicou que as mulheres representavam 51,5% da população total, com uma
participação ligeiramente maior nas áreas rurais, em 51,9%, do que nas áreas
urbanas, em 51,3%. No grupo juvenil (15 a 35 anos), 46,8% eram do sexo
masculino e 53,2% do sexo feminino; semelhante ao grupo etário 36-65, com 45%
masculino e 55% feminino. As mulheres emergiram como tendo uma expectativa
de vida mais longa, 63 anos, contra 57,5 para homens. O censo também informou
que: a taxa de fertilidade era de 5,7 crianças por mulher; 38% das famílias eram
chefiadas por mulheres; e a taxa de alfabetização das mulheres rurais era de
13,2%, contra 29% para os homens.
33. Os Dados do Índice do Desenvolvimento Humano (1990-2015)9 incluíram algumas
informações sobre a dimensão de género em Angola, que destacaram a diferença
de género no país em 2015:
Os anos de escolaridade esperados para mulheres eram de 8,7 anos, contra 14
anos para homens;
A taxa de participação da força de trabalho em 2015, como percentagem de
pessoas com 15 ou mais anos, era de 59,9% para mulheres e 77,1% para
homens;
A taxa de desemprego na juventude e a sua relação entre mulheres e homens, foi
avaliada em 1.08 ao longo de vários anos, enquanto que a taxa de Desemprego
(total), sexo feminino, foi estável ao longo do tempo, passando de 1,2 em 2000
para 1,22 em 2015.
A participação das mulheres na Assembleia angolana passou de 15,5% em 2000
para 38,6% em 2010; após as eleições nacionais de 2017, as mulheres
representam 26,8% dos parlamentares.10
34. A República de Angola está formalmente empenhada na promoção da igualdade de
género e na melhoria da condição da mulher, tanto em suas políticas como em
seus programas, com a família como a peça central da organização social. O
Ministério da Família e Promoção da Mulher (MASFAMU)11 desenvolveu a Estratégia
Nacional de Política e Implementação de Género em 2013; e o Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND) 2013-2017 apresenta os "direitos, deveres e
oportunidades iguais entre homens e mulheres" entre os objectivos políticos
nacionais. O PND também apresentou os agregados familiares chefiados por
mulheres rurais e pessoas afectadas pelo VIH e SIDA, entre os mais vulneráveis e
frequentemente tem incluído o apoio ao melhoramento do papel social e económico
das mulheres rurais, nas políticas e prioridades de desenvolvimento do Sector
Social e do Sector Rural.12
35. No contexto rural angolano, é tradicionalmente a mulher quem se ocupa da
agricultura e são elas quem contribuem maioritariamente para o bem-estar
doméstico. O Estado sobre a Alimentação e Agricultura da FAO de 2011 (SOFA)
informou que 21,8% das famílias rurais em Angola eram chefiadas por mulheres; e
o SOFA mais recente de 2015 indicou um valor nacional de 55,6%, quanto à
participação da mão-de-obra agrícola feminina; e 79,4% para a participação da
mão-de-obra feminina trabalhando na agricultura. A predominância de mulheres no
sector de agricultura familiar é amplamente reconhecida em todos os níveis; no
9
Dados de Desenvolvimento Humano (1990-2015), http://hdr.undp.org/en/data, acesso dia 8 de Dezembro.
10
http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2017/8/39/Angola-Deputados-tomam-assentos-
Parlamento,f6609325-25b8-449a-a0f3-4ce2407b4b41.html.
11
Em Novembro 2017, este ministerio chamava-se Ministerio da Ação Social da Familia e da Promoção da Mulher,
http://www.minfamu.gov.ao/.
12
Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017.
8
entanto, isso não se reflete na presença de mulheres em cargos de liderança a
qualquer nível, a partir dos cargos superiores no Ministério da Agricultura, ao
número de mulheres entre os extensionistas, até o número de mulheres
presidentes de associações de agricultores.
36. O Governo também demonstrou um grande interesse em apoiar os jovens; o
enfoque mudou da promoção da educação para os jovens na Estratégia de luta
contra a pobreza (Estratégia de Combate à Pobreza, ECP) em 2005, para o mais
recente PND 2013-2017, no qual a juventude era um importante grupo de
desenvolvimento económico, para quem era necessário desenvolver abordagens e
políticas específicas.
37. Contexto político. Após o fim da Guerra civil em 2002, o partido no poder
Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA) estabilizou o processo político
através de uma nova constituição e fez progressos substanciais no
restabelecimento da segurança e revitalização da economia. A transição entre o ex-
presidente José Eduardo dos Santos, que liderou o partido por 38 anos e decidiu
não voltar a ocupar o cargo em 2017, e o presidente João Lourenço, número um da
lista do MPLA, foi notavelmente tranquilo. A partir de Novembro de 2017, o novo
Gabinete do Presidente Lourenço mostrou continuidade na liderança do Ministério
da Agricultura e Desenvolvimento Rural, do Ministério das Pescas e do Mar e do
Ministério das Finanças, que são os principais interlocutores do FIDA no país até
este ano.
38. As declarações do presidente Lourenço, ao assumir o cargo e durante o primeiro
mês de mandato sobre agricultura rural e desenvolvimento rural, têm sido
encorajadoras em termos de atenção e prioridades atribuídas ao sector. Durante o
mesmo período, algumas das mídias públicas nacionais deram grande espaço aos
relatórios sobre agricultura familiar, a importância da segurança alimentar e do
desenvolvimento da aquicultura. Tudo isso é um bom sinal para uma renovação
séria do compromisso do Governo com as áreas do mandato do FIDA.
39. Economia. Entre 2002 e 2014, o rendimento nacional bruto (RNB) per capita
aumentou de US$ 2.900 para US$ 6.800, em grande parte liderado pela produção
de petróleo. Em 2014, o sector petrolífero representava 35% do Produto Interno
Bruto (PIB) nacional e representava 95% das exportações totais do país.13 Desde
2016, o dramático declínio dos preços do petróleo no mercado mundial;14 e a
diminuição de 3,3% na produção nacional diária entre 2015 e 2016,15 causaram
uma desaceleração no crescimento do PIB de 8,5% em 2012 para 1,1% em
2016.16
40. Isso levou a mudanças importantes na economia, incluindo: (i) o surgimento de
um deficit de conta corrente, o primeiro desde a crise financeira de 2008-2009; (ii)
a escassez de moeda estrangeira; e (iii) a depreciação da moeda local e pressões
inflacionárias, com inflação anual a atingir 40% no início de 2017 de acordo com o
Banco Nacional de Angola (BNA). Esta situação destacou a necessidade de abordar
com mais força a dependência do petróleo, diversificando a economia e reduzindo
as vulnerabilidades. Em 2017 e 2018, o crescimento do PIB deveria aumentar para
2,3% e 3,2%, respectivamente, principalmente devido à planificação de um
aumento das despesas públicas e da melhoria dos termos de troca.17
13
Orçamento Geral do Estado 2016.
14
Entre junho de 2014 e janeiro de 2016, o preço do barril de referência da OPEC sofreu uma queda sem precedentes
de 80%. Foi a maior queda percentual em cinco ciclos de diminuição acentuada de preços. Relatório Anual da OPEC,
2016.
15
Produção de petróleo bruto da OPEC com base em comunicação direta, 2012-2016 (1.000 b/d), relatório anual da
OPEC 2016, OPEC.
16
Orçamento Geral do Estado 2016.
17
Angola 2017 – www.africaneconomicoutlook.org.
9
41. A baixa dos preços do petróleo levou a grandes cortes em despesas, incluindo a
eliminação virtual de doações de combustível, o cancelamento de despesas de
capital e uma redução nas aquisições de bens e serviços. No entanto, Angola tem
acesso a recursos financeiros significativos através de acordos e empréstimos
bilaterais. A China prometeu mais de US$ 20 bilhões para financiar o
desenvolvimento e o comércio de infra-estrutura no país, e já proporcionou à
Angola uma estimativa de US$ 12 bilhões em empréstimos respaldados pelo
petróleo, com uma parte destinada ao desenvolvimento das áreas rurais com
estradas, portos e aeroportos.18 Segundo fontes oficiais, o governo assumiu dívidas
externas totalizando pelo menos US$ 11,5 bilhões desde Novembro de 2015, com
predominância de fontes chinesas.19 A China também é a principal fonte de
importações para o país, seguida pela Coréia do Sul, bem como o principal destino
das exportações, seguido pela Índia.20
42. Embora o sector agrícola contribua em média apenas 9,9% para o PIB,21 44,2% da
população empregada trabalha no sector agrícola, isso de acordo com o censo de
2014. Além disso, 46% das famílias está envolvida em alguma actividade agrícola e
6% está envolvida na pesca; a agricultura e a pesca artesanal em de água doce
não são mutuamente exclusivas e muitas famílias rurais se envolvem em ambas,
para aumentarem a segurança alimentar, sempre que tenham acesso fácil a rios,
lagos e lagoas de água doce.
43. Classificação de Angola em categorias internacionais. A rápida evolução da
economia angolana se refletiu na classificação do país com base no PIB, feita pelo
Banco Mundial. No final da guerra civil, e até meados de 2012, Angola estava no
grupo Países de Renda Baixa e, até 2013, era uma "situação frágil e afectada pelo
conflito". A partir de meados de 2012, foi classificado como País de renda média
alta (U-MIC). No início de julho de 2017, Angola foi re-classificada e baixou para a
categoria país de renda média baixa (Lower-MIC), com base na diminuição das
receitas públicas do petróleo e na actualização do tamanho da população residente
angolana resultante do censo geral da população em 2014. Paralelamente, com o
apoio das Nações Unidas, o país está focado em sua graduação do Grupo Países
Menos Desenvolvidos,22 agendado para 2021; enquanto os Objectivos de
Desenvolvimento Sustentável têm sido muito baixos em termos de prioridade na
agenda governamental.
44. É geralmente consensual que o país tem fraquezas em termos de recursos
humanos e indicadores do ambiente de negócios. A sua capacidade institucional
geral não foi reabilitada, desde o retorno da paz e os obstáculos burocráticos
inibem o crescimento do sector privado. Um dos principais desafios que o país
enfrenta ainda é a fraca planificação do desenvolvimento dos recursos humanos, o
que resulta em pouca disponibilidade de pessoal bem qualificado em várias áreas-
chave.
45. Pobreza. A pobreza em 2001 foi estimada em 62%. Os dados disponíveis mais
recentes referem-se a 2008, indicando um índice de pobreza na linha da pobreza
nacional, fixado em AOA 4.797 mensalmente (US$ 49 de acordo com a taxa de
câmbio de 2009), de 36,6% para toda a população. Isso variava de 58,3% nas
áreas rurais, para 18,7% nas áreas urbanas.23 O Relatório de Desenvolvimento
18
USAID, Perfil do País Direitos de Propriedade e Recursos Governação Angola (USAID 2006).
19
Economist Intelligent Unit Country Risk Service, January 2017.
20
Ibidem.
21
Média calculada com base nos dados nacionais disponíveis de 2006 a 2012. Fonte: Governo de Angola (2016) 'Nota
de Imprensa N. 02 - Contas Nacionais Provisórias 2014 e Preliminares 2015, Instituto Nacional de Estatística'
22
Transição e Graduação de Angola da categoria LDC, PNUD Angola, em
http://www.ao.undp.org/content/angola/en/home/ourwork/angola-transition-and-graduation-from-ldc-category.html. Os
critérios de graduação são 3: Critérios de renda, Critérios de ativos humanos e Critérios de vulnerabilidade económica,
ONU.
23
Pesquisa sobre o bem-estar da população / IBEP 2008-2009.
10
Humano de 2016 indicou uma Receita Nacional Bruta (RNB) estimada per capita,
em 2011 Paridade de Poder de Compra (PPP) de US$ 5.073 para mulheres e US$
7.527 para homens.
46. A pobreza é maior nos agregados familiares chefiados por mulheres,
particularmente nas áreas rurais. Além disso, muitas mulheres são chefes de
família de facto porque são membros de famílias poligâmicas ou por migração de
mão de obra masculina. A vulnerabilidade e a pobreza foram registradas como
particularmente altas nas províncias do Sul, por exemplo Cunene, onde a criação
de gado é predominante e as secas frequentes e severas alternadas com as
inundações têm afectado seriamente os meios de subsistência.24
47. Entre 2000 e 2015, o Índice de Desenvolvimento Humano para Angola (IDH)
aumentou de 0,391 para 0,533 e a sua posição melhorou de quatro níveis,
atingindo em 2015 a posição 150 em 188 países e territórios. No entanto, Angola
ficou aquém de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milênio em 2015 e
em 2017, ainda estava na categoria de país com um Desenvolvimento Humano
Baixo.25
48. O desempenho relacionado aos indicadores sociais é misto: foram realizados bons
progressos na redução da pobreza, educação primária e igualdade de género desde
2002, mas outros indicadores sociais permanecem muito negativos. Por exemplo, a
mortalidade materna é de 450 por 100.000 nascimentos e a malnutrição é aguda,
com 30% das crianças com menos de cinco anos de idade que sofrem de atrasos
do crescimento e 16% abaixo do peso. A Tabela 2 mostra a evolução de alguns
indicadores-chaves do DH ao longo do tempo. Apesar da duplicação do RNB per
capita, o índice de DH cresceu apenas 36,6% no mesmo período.
Tabela 2
Indicadores do IDH de Angola
49. Desigualdade. Um dos principais factores que afectam o nível do IDH em Angola
é o nível de desigualdade social no país, que tem crescido ao longo do tempo. O
BM apenas relata um valor de coeficiente GINI de 42,7 em 2008.26 O valor de IDH
ajustado pela desigualdade de 2015, em 0,336, foi muito próximo do valor médio
para os Países de Desenvolvimento Humano Baixo (0,337), embora menos positivo
quando comparado com o valor médio para África subsariana (0,355).27
50. Desemprego. A actividade económica, além do petróleo e dos diamantes, está
altamente concentrada em Luanda e ao longo da área costeira. No entanto,
continua a haver alto desemprego e subemprego também nas cidades do país,
24
Agriculture Recovery Project, Relatório do Documento do Projecto, FIDA, 2017.
25
O objectivo do IDH estabelecido no PND 2013-2017 foi de 0,540.
26
Este valor localizou Angola na posição 54 de 69 países para os quais um valor de 2008 foi relatado. Do relatório
WDI, em http://databank.worldbank.org/data/download/WDI_excel.zip, acessado em 3 de dezembro de 2017.
27
http://hdr.undp.org/sites/default/files/2016_human_development_report.pdf.
11
onde os mecanismos do mercado informal representam a única opção possível para
muitos. Quase 50% das famílias urbanas, incluindo as que chegaram
recentemente, ainda hoje dependem do sector informal para a renda. Um problema
adicional para os novos migrantes é garantir abrigo para suas famílias, e os dados
indicam que, nas áreas urbanas, mais de 80% da população vive sem posse legal
da terra nem acesso a serviços básicos; e mais de 75% vive nos musseques.28
51. Insegurança alimentar e nutrição. Em 2005, Angola não produzia alimentos
suficientes para atender às necessidades de sua população rural. O deficit estava
sendo coberto por importações de alimentos, um terço dos quais sob a forma de
ajuda alimentar, atingindo mais de 1,4 milhões de pessoas. Havia grandes deficits
e baixos rendimentos das culturas nos principais produtos básicos, incluindo o
milho e a massambala (sorgo). As áreas mais vulneráveis à insegurança alimentar
estavam localizadas no planalto central, compreendendo as províncias do Huambo,
o norte da Huíla e partes do Bié, que estiveram no cerne do conflito; a maioria dos
combatentes de ambos os lados vinham desta região. Na época, o Planalto Central
acolhia 80% da população em situação de insegurança alimentar do país e 68% da
população altamente vulnerável e representava a área com maior pressão
demográfica e ambiental, com mais de 40% da população total e dois terços da
população rural que se estimava estar residente naquela zona, a grande maioria
vivendo abaixo da linha de pobreza.29
52. Segundo a FAO,30 Angola conseguiu fazer um progresso significativo na redução da
insegurança alimentar e da desnutrição, aproximadamente numa década. Os dados
mais recentes disponíveis,31 indicam que a prevalência de desnutrição alimentar na
população total passou de 32,1% em 2004-06, para 14% em 2014-2016; ao longo
do mesmo período de tempo, o número de pessoas subnutridas passou de 5,8 para
3,5 milhões, apesar do crescimento da população; e considerando que o número
de pessoas obesas aumentou de 0,3 para 0,7 milhões. Além disso, durante o
período 2014-16, não haviam pessoas no país que sofriam de insegurança
alimentar severa; e o atraso no crescimento (stunting) entre crianças menores de
5 anos no período 2010-2015, foi avaliado em 29,2%, inferior à média para a
África Subsariana.32 Por outro lado, devido à seca prolongada, os níveis de
insegurança alimentar nas províncias do Sul de Angola aumentaram, de acordo
com várias análises que culminaram na Avaliação das Necessidades Pós-Desastre
de 2016 (PDNA).33
53. Agricultura. Angola tem cerca de 58 milhões de hectares de terras aráveis, dos
quais em 2017 se estimava que menos de 10% fossem cultivados. Geralmente,
considera-se que apenas uma parte mínima da terra é irrigada, mesmo se não
existem dados oficiais.34 Embora o país fosse um grande exportador agrícola antes
da independência,35 em 2017, uma grande parte dos alimentos consumidos no país
foram importados, com exceção de raízes e tubérculos.36 Isso devia-se em parte à
destruição das infra-estruturas de produção e comercialização agrícola durante a
guerra civil, e em parte aos termos de troca negativos para a produção nacional
28
Reajuste participativo inclusivo da terra em Huambo, Angola – DW Angola 2013.
29
IFAD COSOP 2005.
30
2015 Regional Overview of Food Insecurity Africa, Rome, FAO
31
FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. 2017. The State of Food Security and Nutrition in the World 2017. Building
resilience for peace and food security. Rome, FAO.
32
Human Development Report 2016, PNUD.
33
Post Disaster Needs Assessment, Government of Angola, 2016.
34
Fonte: Countrystat.org/Angola.
35
A população de Angola em 1975 foi estimada em 7,6 milhões de pessoas, representando 29% da população em
2014; consulte www.countryeconomy.com, acessado no dia 2 de dezembro de 2017.
36
Embora não tenham sido encontrados números sobre a porcentagem de gêneros alimentícios importados, o
documento "Alinhamento estratégico com o plano de desenvolvimento intermediário para o setor agrário 2018-2022",
emitido em 2016, declarou que 100% do trigo consumido no país foi importado. Também estabeleceu metas de
produção para atender aos requisitos do mercado nacional de frango e ovos em 2017, de 5 e 92 por cento,
respectivamente.
12
contra as importações, que resultavam de uma combinação de factores. Na prática,
a centralização da planificação na capital do país e a concentração do poder de
decisão em Luanda, juntamente com o fácil acesso à moeda estrangeira e o
controle das importações por parte de um grupo restrito de poder a nível nacional,
contribuíram para uma distorção do mercado agrícola e dos alimentos, que levaram
a produtos importados serem mais baratos e mais facilmente acessíveis do que a
produção primária doméstica. Como resultado, a agricultura ainda é
fundamentalmente baseada em subsistência e caracterizada por baixos
rendimentos, baixos preços e baixos retornos ao trabalho e à terra. Apenas uma
parte limitada da produção agrícola atinge o mercado. Infraestruturas pouco
desenvolvidas, especialmente estradas e eletricidade, acesso limitado a serviços
financeiros, serviços de pesquisa e extensão agrícolas fracos e a disponibilidade
limitada de insumos agrícolas, representam as principais restrições ao crescimento
no sector.37
54. A queda nas receitas das exportações de petróleo e a consequente desvalorização
da moeda foram um incentivo natural para o aumento da produção doméstica e
substituição parcial das importações de alimentos. Em 2015, as importações de
alimentos diminuíram de 27,6% em valor monetário, em paralelo com uma
redução no valor monetário das exportações em 43,9%.38 A medida em que estes
incentivos para a produção agrícola se traduzirão num aumento da produção
nacional dependerá também de outros factores. Um grande desafio, entre outros, é
que os agricultores ainda estão subcapitalizados e a ligação com os mercados
locais e nacionais de insumos e produtos é fraca. Embora a demanda do mercado
seja alta para a maioria das culturas alimentares e existam oportunidades para
expandir a produção dos agricultores familiares, os mercados nas áreas rurais são
insuficientes e os sistemas de comercialização ainda precisam ser reabilitados. Em
muitos casos, os agricultores familiares desencorajados pelos fracos resultados da
produção agrícola se embarcam em outras actividades, como a produção de
carvão, utilizando produtos florestais das formações do miombo e afectando
negativamente o meio ambiente. Algumas das medidas necessárias incluem um
quadro macroeconómico adequado, melhorias no clima de negócios, construção de
infra-estruturas rurais e de transportes, incentivos ao desenvolvimento agrícola e
rural, apoiados por investimentos no desenvolvimento de capacidades en todos os
níveis.
55. A pesca de água doce é considerada uma oportunidade potencial vasta e
amplamente inexplorada para apoiar o desenvolvimento económico local em
termos de combate à pobreza, melhorar a segurança alimentar e gerar emprego.
De acordo com a FAO, em 2013, o peixe representava cerca de 29% das proteínas
animais na dieta nacional, com um consumo per capita anual estimado em 18,6 kg
em 2013. Isto comparado com uma média global anual de 20 kg per capita e uma
média africana de apenas 9,8 kg per capita. Além disso, os dados do Banco
Africano de Desenvolvimento (BAD) indicaram em 2012 que o pescado
representava cerca de 1,7% do PIB de Angola.
56. A aquicultura em Angola começou antes da independência e foi praticada de
forma rudimentar por iniciativa do sector privado em algumas instalações do
Estado. No nível científico, alguns experimentos foram conduzidos antes da Guerra
pela Independência, tanto em água doce como na pesca marinha.39 A produção
nacional de aquicultura permanece relativamente modesta, e as estatísticas da
pesca da FAO em 2014 relatavam uma produção estimada de 305 toneladas, com
principal destaque para o cacusso do Nilo; isto em parte devido à disponibilidade
37
Design report, SADCP-C&H. IFAD 2017,
38
OEC Countries, Angola - https://atlas.media.mit.edu/en/profile/country/ago/.
39
Ou seja, a criação de peixes interior no Huambo, Moxico, Lunda Norte, Kwuanza Sul, Uíge, Malanje, Kuando
Kubango; piscicultura marinha do mexilhão Perna perna na Baía do Lobito; Angola, Visão Geral do Setor Nacional de
Aquicultura. FAO, Departamento de Pesca e Aquicultura. 2017.
13
de sementes de peixe e alimentos de baixa qualidade e capacidade técnica limitada
no país. No entanto, o "Ordenamento do Território das Zonas de Aquicultura na
República de Angola", concluído em Março de 2016, destacou um grande potencial
para o desenvolvimento da aquicultura no país.40
57. Independentemente da fonte dos peixes, a tecnologia para captura do peixe e o
processamento pós-captura é muito básica. Normalmente, os peixes são
esvaziados em condições precárias, na ausência de abrigo, água limpa e gestão de
resíduos; em seguida, são salgados para secar ou fumar em fornos de tambor
simples, se o peixe estiver em boas condições. As espécies de tamanhos pequeno
são simplesmente secados sem sal. Apenas uma pequena proporção da captura é
vendida como fresco, sempre que as condições de transporte permitem que elas
sejam canalizadas para as cidades. Nos melhores casos, um pouco de gelo é
produzido em frigoríficos domésticos; e pequenas plantas de gelo na cidade
também podem ser usadas.41
58. Gestão de recursos naturais. O país é rico em recursos naturais. Embora os
solos sejam geralmente férteis no Norte e no planalto central a precipitação média
excede os 1.000 mm por ano, os agricultores familiares em certas províncias
começaram a denunciar a diminuição da fertilidade do solo, sendo Huambo a área
mais afectada. A degradação dos solos de Angola deve-se principalmente a práticas
agrícolas insustentáveis, ao excesso da pastagem, ao desmatamento e ao uso
insustentável dos recursos florestais.42
59. O número limitado de laboratórios de análise de solos no país43 e a disponibilidade
no mercado nacional de uma única formulação de fertilizantes e de limas
provenientes de depósitos nacionais representam uma grande restrição às
melhores práticas de gestão da fertilidade do solo. Isso representa um risco para a
sustentabilidade, ambiental e financeira, da produção agrícola familiar.
60. Mudanças Climáticas. A agricultura angolana é cada vez mais vulnerável às
mudanças climáticas e a eventos climáticos extremos, como as secas (2015-16) e
inundações (2017) causadas pelos eventos climáticos de El Niño e La Niña. De
acordo com as estimativas do PNUD, as temperaturas anuais médias aumentarão
em 1,2 - 3,2 graus Celsius até 2060, e a precipitação total através de "eventos
fortes" deverá aumentar. Isso vai provavelmente aumentar a ocorrência de
inundações devastadoras como aquelas de 2011, que afetaram 65 mil pessoas,
causaram erosão do solo, mortalidade generalizada do gado e dizimaram vastas
áreas de culturas no sul do país. O governo, portanto, atribui grande importância à
melhoria da resiliência dos sistemas de produção agrícola à choques e ameaças
provocados pelo clima.
61. Acesso à terra e à sua posse. Em Angola, a terra é propriedade do Estado que
determina o seu uso e destino final. Para preservar os direitos das comunidades
rurais, a Lei da Terra de 2004 leva em consideração os sistemas 44 tradicionais de
uso da terra que prevalecem nas diferentes províncias e culturas do país. Isso
deveria garantir segurança de posse também no caso de investimentos
permanentes na terra, por exemplo a irrigação em pequena escala, utilizada por
grupos e associações comunitárias. Em termos de propriedade do Estado, as terras
agrícolas são reguladas com base no direito privado, enquanto os recursos naturais
fazem parte do direito público. A lei prevê que as terras para o investimento
40
http://www.fao.org/africa/news/detail-news/en/c/413268/.
41
Artisanal Fisheries and Aquaculture Project Detailed Design Report. Main Report and Appendices, 2014.
42
Angola Country Programming Framework 2013-2017, FAO.
43
Existe um laboratório para análise do solo no Instituto de Pesquisa Agronômica, dentro da Estação de Pesquisa
Agronômica de Chianga, Huambo, embora não tenha capacidade para responder às necessidades locais. Laboratórios
adicionais existem em outras estações de pesquisa IAR, e em outros lugares, e. na Faculdade de Agricultura, no
Huambo.
44
Estes incluem: agricultura residencial, mudança tradicional e pastagem transumante, silvicultura, acesso à água e
uso de formas de comunicação.
14
agrícola privado seriam reguladas através de transferências de direitos de uso
perpétuo dos direitos de propriedade, vendidas em leilão pelo Estado aos atores
privados. Os direitos do uso da terra são transmissíveis, sujeitos às mesmas
condições em que foram originalmente concedidos.45 Ao mesmo tempo, a Lei da
Terra submeteu aqueles com direito de uso informal ao despejo se não solicitarem
uma concessão em tempo útil.46 Nenhuma informação foi encontrada sobre
diferenças de acesso à terra com base no género.
62. Embora em Angola não exista uma concorrência direta por terras escassas, devido
à ainda muito baixa densidade populacional,47 as fraquezas no quadro da legislação
fundiária e nos processos de titulação, resultam em interesses conflituantes devido
à ocupação de grandes superfícies que invadem comunidades com poucos recursos
e capacidades para defender seus direitos.
63. Financiamento do sector Rural. O sector financeiro é competitivo, mas também
altamente concentrado, com cinco bancos detentores de 75% da participação no
mercado. O escopo de produtos e serviços oferecidos é principalmente focado em
produtos bancários tradicionais de mercado de massa e os empréstimos estão
concentrados em alguns sectores na província de Luanda. Alguns bancos têm
produtos de microfinanças, com empréstimos principalmente prorrogados baixo a
responsabilidade do Governo ou de programas apoiados por doadores. Das cinco
instituições de microfinanças operacionais, apenas uma fornecia serviços de
microcrédito no momento do desenho do SAMAP.48 A participação da agricultura na
carteira de crédito dos bancos é mínima, fundamentalmente a curto prazo e
beneficia principalmente os agricultores comerciais, muitos deles associados à elite
política. O sector de agricultura familiar, que entre outros desafios não pode
apresentar títulos de propriedade como garantia, é largamente excluído dessas
oportunidades.
64. Políticas e estratégias para o desenvolvimento nacional. As principais
políticas do Governo de Angola para reduzir a pobreza foram incorporadas pela
primeira vez no ECP de 2005, seguido da ENSAN de 2009. O objectivo principal da
ECP era reduzir o nível de pobreza do país pela metade até 2015 e consolidar a paz
e a unidade nacional através da melhoria sustentada dos padrões de vida de todos
os angolanos; também destacou o desenvolvimento rural com foco na melhoria da
segurança alimentar, na revitalização da economia rural e na reconstrução das
infra-estruturas. O objectivo estabelecido pela ENSAN era garantir que todos os
angolanos tivessem em todo o tempo acesso físico e económico a alimentos de
quantidades e variedades adequadas para permitir que contribuam para o
desenvolvimento humano, económico e social do país.
65. Em 2010, a ECP e a ENSAN foram incorporadas no Programa Municipal Integrado
de Desenvolvimento Rural e Luta contra a Pobreza (PMIDRCP), que visa: "reduzir
os níveis de pobreza extrema em Angola e, em particular, nas zonas rurais,
promover o acesso para os serviços públicos básicos e transformar Angola em um
país próspero e de justiça social". Este programa, implementado em todo o país e
liderado pela Secretaria de Assuntos Sociais da Presidência República, inclui vários
programas de desenvolvimento social. Tanto a ECP como a ENSAN também se
refletiram no PND 2013-2017 em Angola, que estabeleceu como principais
objectivos, a promoção do crescimento económico e o aumento do emprego. Em
45
Garantir a segurança da terra e a gestão de recursos naturais para melhorar a segurança alimentar no centro de
Angola - DW / WV.
46
Reforçando a Propriedade da Terra e os Direitos de Propriedade em Angola Lei e Política de Terras: Visão Geral do
Quadro Legal. VOCÊ DISSE. 31 de maio de 2007.
47
Connor Foley - Direitos de terra em Angola: pobreza e abundância. Documento de trabalho da HPG, novembro de
2007.
48
SAMAP, Relatório final do desenho projecto, abril de 2017.
15
2012, este atribuiu entre 1 a 3% das despesas públicas ao Ministério da Agricultura
e menos de 0,99% ao Ministério das Pescas e da Aquicultura.49
66. Políticas do sector agrícola. O PND 2013-2017 e o plano de desenvolvimento de
médio prazo 2013-2017 e 2018-2022 para o sector agrícola (PMPDSA) basearam o
objectivo do desenvolvimento agrícola ao uso sustentável dos recursos naturais e à
melhoria da competitividade, visando a realização de segurança alimentar e auto-
suficiência alimentar e aproveitando os potenciais do mercado.50 Os planos de
médio prazo incluem quatro objectivos estratégicos cada um, que abordam a
agricultura, pecuária, silvicultura e questões transversais, incluindo
desenvolvimento de capacidades e serviços aos produtores. Não menos
importante, é o segundo objectivo estratégico nos planos de médio prazo 2013-
2017 e 2018-2022, que focaliza o desenvolvimento da agricultura familiar. No que
diz respeito à pesquisa e extensão agrícola, o Governo reconheceu os recursos e a
cobertura limitados; e no plano mais recente a médio prazo, referiu-se às Escolas
de Campo de Agricultor (ECAs) como o método de transferência de tecnologia.
67. Políticas do sector de pescas artesanais e aquicultura. A ECP reconheceu o
desenvolvimento dos produtos da pesca marinha e de agua doce como um
contributo fundamental da Estratégia, com ênfase no fortalecimento da capacidade
de produção da pesca artesanal de água doce. Da mesma forma, a ENSAN
reconheceu a importância do sector pesqueiro em contribuir para melhorar a
qualidade de vida da população através do aumento dos rendimentos e da
segurança alimentar. Finalmente, o PND definiu o desenvolvimento da aquicultura
como uma prioridade, a fim de aumentar a disponibilidade de peixe para o
consumo nacional e enfatizou o aumento da competitividade e do desenvolvimento
dos sub-sectores industriais e artesanais de forma sustentável.
68. Além disso, a lei das pescas (Lei dos Recursos Biológicos Aquáticos) adoptada em
2004 e alterada em 201551 regula o desenvolvimento da aquicultura em Angola,
estabelecendo, entre outros, os seguintes objectivos: contribuir para a segurança
alimentar e aumentar as quantidades comercializáveis de produtos da aquicultura ;
contribuir para a renovação sustentável dos recursos biológicos aquáticos; evitar a
pesca insustentável; e incentivar a criação de emprego e renda, especialmente nas
comunidades rurais e costeiras. A partir de 2017, Angola não tinha um Plano de
Aquicultura em vigor, conforme exigido pela lei da pesca;52 e apesar da elaboração
de um novo Plano de Gestão estar previsto no PND.
69. No entanto, as medidas de gestão para a pesca e a aquicultura de água doce são
adoptadas anualmente nos termos da legislação em matéria de pesca. As
medidas53 de 2017 estabeleceram requisitos específicos para a pesca de água doce
em relação à malhagem e coleta de dados sobre o esforço da pesca e as capturas;
para a aquicultura, os requisitos incluíram o monitoramento da água, solos e
espécies cultivadas e comercializadas, assim como as estatísticas de produção
elaboradas pelo Ministério da Pescas e Mar.
70. Políticas para os sectores do meio ambiente e das mudanças climáticas.
Nos últimos anos, as políticas nacionais também começaram a integrar entre suas
preocupações, a gestão sustentável dos recursos naturais e a necessidade de
adaptação às mudanças climáticas. O PND 2013-2017 incluiu o gerenciamento
ambiental entre suas prioridades, como um dos pilares do desenvolvimento
sustentável nacional; e a adaptação às mudanças climáticas através do
49
These shares are much lower than the 10 per cent agreed to by all African States, including Angola, in both the
Maputo Declaration in 2003, and the Malabo Declaration in 2014.
50
PND 2013-2017.
51
Lei n. 6-A/04, de 8 de Outubro 2004 publicada no DR. n. 16/05, 27 Dezembro 2005.
52
Plano de Ordenamento de Pescas e da Aquacultura adoptado pela Resolução 9/06 do 6 de fevereiro de
2006.
53
Decreto presidencia 41/17, 6 de Março 2017.
16
desenvolvimento de irrigação em pequena escala fazia parte das prioridades para o
sector agrícola. Ao mesmo tempo, os planos de médio prazo para o sector agrícola
passaram da plena dependência da abundância dos recursos naturais nacionais,
para uma atenção incipiente e mais cautelosa para a necessidade de sua gestão
sustentável. Da mesma forma, as Contribuições Nacionalmente Determinadas
Pretendidas submetidas à UNFCCC em 2015 incluíram prioridades nacionais para a
adaptação às mudanças climáticas no setor agrícola.
71. Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Entre 2012 e 2015, Angola foi o
trigésimo terceiro maior beneficiário da Assistência Oficial ao Desenvolvimento
(AOD) na África Subsariana e beneficiou de apoio na ordem de aproximadamente
1,18 mil milhões.54 Nos últimos três anos, a APD líquida foi, em média, 0,3% do
RNB (Tabela 3), de acordo com dados estatísticos da OCDE e o relatório do BM
publicado em 2015. O Japão é o maior doador bilateral seguido pelos Estados
Unidos, Polônia, Coréia e Noruega. As principais agências multilaterais de
desenvolvimento são o Banco Mundial, a UE e o Banco Africano de
Desenvolvimento.
Tabela 3
AOD Geral para Angola
Recebidos 2013 2014 2015
Fonte: OECD, BM
72. Além disso, Angola recebeu apoio da AOD de outros países, particularmente da
China. Embora esses fluxos não se enquadrem estritamente na definição de AOD
da OCDE, os dados disponíveis indicam que a China apoiou Angola com mais de 20
projectos de ajuda, totalizando pelo menos US$ 157 milhões nos últimos 15 anos
sob a forma de doações, empréstimos ou perdão de dívidas para fins de
desenvolvimento. Angola também recebeu do Governo da China pelo menos US$
8.197 milhões de outros fluxos financeiros, dos quais 410 milhões foram
direcionados ao sector agrícola.55
73. Entre 2010 e 2014, quatro sectores concentraram mais de metade da Ajuda
Programada do País (APP)56 para Angola: saúde (22%), governo e sociedade civil
(14%), políticas populacionais e saúde reprodutiva (13%) e educação (9%).
Durante esse período, o sector agrícola recebeu US$ 111,6 milhões ou 8% do APP
total para Angola. Em 2015, a pesca era o principal subsector da AOD no sector
agrícola, seguido pelo desenvolvimento rural. A principal fonte de AOD, 85% do
total, veio de empréstimos; e 15% das doações.
74. Desembolsos do FIDA para Angola. O apoio à agricultura e ao desenvolvimento
rural no período 2010-2016 foi de US$ 8,1 milhões, equivalente a uma média de
54
Base de dados OECD, acesso 2 de Maio 2017,
http://www.oecd.org/dac/stats/statisticsonresourceflowstodevelopingcountries.htm.
55
Fonte: http://china.aiddata.org/downloads.
56
A Ajuda Programada do País (APP, Country Programmable Aid) é um conjunto de fluxos de AOD. Considera-se
mais próximo de capturar os fluxos de ajuda que se destinam aos países parceiros do que o conceito de Apoio Oficial
ao Desenvolvimento (ODA). É necessário, como ponto de partida, os dados sobre os desembolsos brutos da AOD
pelo destinatário, mas exclui as despesas, que são: inerentemente imprevisíveis (como ajuda humanitária e alívio da
dívida); ou não implica nenhum fluxo para o país receptor (administração, etc.); ou geralmente não é discutido entre a
principal agência doadora e os governos receptores (por exemplo, ajuda alimentar).
17
US$ 1,16 milhão57 por ano. Isto representou uma contribuição do FIDA para o AOD
total da agricultura em Angola no mesmo período, de 5,6%. 58
57
http://www.oecd.org/dac/stats/agriculture-relatedaiddataataglance.htm.
58
A fonte de números sobre o APD total originou-se da base de dados da OCDE "Assistente de Consulta para
Estatísticas de Desenvolvimento Internacional", acessado em 29 de janeiro de 2018.
59
Wikipedia, Guerra Civil Angolana, acesso 28 de Novembro 2017.
18
(c) Empoderar as comunidades rurais e os pobres rurais para exigirem do
Governo as suas responsabilidades na prestação de serviços e investimentos
para o desenvolvimento rural.
79. Para a formulação do COSOP, o FIDA empenhou-se intensamente com o Governo
de Angola, em particular com o Ministério da Agricultura e o Ministério das Pescas,
depois de o Ministério das Finanças ter confirmado a intenção do Governo de tomar
empréstimos com o FIDA.60 O FIDA também consultou e recebeu contribuições dos
parceiros internacionais no país. O documento estava em linha com a ECP nacional
e baseava-se na Avaliação comun de país (Country Common Assessment/CCA) e
no UNDAF das Nações Unidas. O apoio e os insumos fornecidos pelo Facilitador de
Projectos, que era um profissional nacional bem respeitado, em um contexto social
onde as relações pessoais desempenham um papel primordial em qualquer tipo de
empreendimento, foram considerados um activo fundamental.
80. Em 2011, quando o COSOP atingiu a hora da conclusão, a disponibilidade de
fundos do FIDA para Angola não permitiu expandir o programa no país além do
compromisso em curso de co-financiamento do MOSAP I, mais algum
financiamento adicional. Alegadamente, foi decidido que a formulação de um novo
COSOP não teria sido um uso eficiente dos recursos, nem foi considerado útil
ampliá-lo formalmente.
81. Em abril de 2016, uma consulta entre o FIDA e o Governo de Angola confirmou a
relevância do COSOP de 2005 e recomendou o seu alargamento para cobrir o PBAS
2016-2018. Após as consultas internas, a Equipa de gestão de programa do país
(CPMT) preparou uma Nota Estratégica do País para o período de janeiro de 2017 a
dezembro de 2018, também para alinhar o próximo COSOP com o ciclo de
planeamento do Governo.
82. A Nota da Estratégia do País (CSN). Onze anos após a formulação do COSOP de
2005, a grande relevância do seu principal impulso foi reconhecida pelas partes
interessadas no FIDA e no Governo. Os ajustes só foram feitos para actualizar a
estratégia do FIDA no país de forma a enfrentar novos desafios na redução da
pobreza e da insegurança alimentar. Com este objectivo, o âmbito das intervenções
do FIDA foi ampliado para:
(a) novas áreas geográficas, ou seja, as zonas do litoral ou ribeirinhas e as
províncias do sul atingidas pela seca;
(b) outros grupos-alvo, isto é, pastores nas regiões do Sul e comunidades que
derivam seus meios de subsistência de recursos de água doce, enquanto,
entretanto os ex-combatentes reintegraram a população civil;
(c) incluir a gestão ambiental sustentável e a adaptação às mudanças climáticas,
bem como o fortalecimento da resiliência dos produtores familiares, no
impulso de novos projectos; e
(d) apoiar o Governo de Angola através de iniciativas não relacionadas aos
empréstimos, centradas no desenvolvimento da capacidade institucional na
pesquisa agrícola em favor de inovações para os agricultores familiares.
83. Este relatório analisa mais aprofundadamente o desenho e o desempenho do
COSOP de 2005 e do CSN, na Secção VI; e uma comparação dos aspectos-chaves
do COSOP de 2005 e da CSN 2017/18 é apresentada no Anexo VII.
84. O volume total dos projectos apoiados pelo FIDA desde 1989 até Novembro
de 2017, totalizou US$ 135,2 milhões, distribuídos em 7 iniciativas. O FIDA
contribuiu com US$ 82,1 milhões, ou seja, 60,7% do total, através de empréstimos
60
A CPMT facilitou o diálogo durante o processo, traduzindo para o português os rascunhos, e o documento COSOP
final foi traduzido.
19
baixo diferentes condições, seguindo a evolução da classificação baseada no PIB do
país em diferentes momentos, e doações associadas. O Governo comprometeu-se
a contribuir com US$ 16 milhões, correspondendo a 11,9% do valor total; e a
contribuição estimada dos beneficiários é de US$ 4,8 milhões, ou 3,6% do total
geral. O saldo de US$ 32,2 milhões, representando 23,8% do valor total, foi
fornecido através do co-financiamento por parceiros, nomeadamente a Associação
Internacional de Desenvolvimento / Banco Mundial, o Governo do Japão, o Fundo
OPEP para o Desenvolvimento Internacional (OFID), o Fundo da Bélgica para a
Sobrevivência e a FAO.61 Além disso, desde 2005, o FIDA também contribuiu com
US$ 559 mil na forma de cinco doações nacionais.
85. O valor total do programa até o final de 2007 foi de US$ 39,9 milhões, dos quais o
FIDA contribuiu com 69,8%, ou US$ 27,9 milhões, enquanto o valor total do
programa em 2008 foi de US$ 95,2 milhões, dos quais o FIDA contribuiu com
56,9%, ou US$ 54,2 milhões, incluindo uma doação associada.
86. Até 2017, o FIDA geralmente apoiava um, no máximo dois projectos no mesmo
período em Angola, principalmente localizados nas províncias do norte do país, e
até 2007, a supervisão directa foi confiada ao Escritório das Nações Unidas para
Serviços de Projectos (UNOPS). A partir de 2018, o Fundo se empenhou em apoiar
três empréstimos, através de supervisão directa, e num total de oito províncias, do
Norte ao Sul do país.
87. Além de manter o apoio aos parceiros de implementação tradicionais no Governo,
ou seja, o Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e o Ministério das
Pescas e do Mar; com os novos projectos, o Ministério do Ambiente e o Ministério
da Ação Social, o da Família e Promoção da Mulher, também terão um papel e
responsabilidades importantes, em particular a nível provincial.
88. As tabelas 4 e 5 sintetizam esses dados.
Tabela 4
Recursos financeiros dos projectos apoiados pelo FIDA
Custo total Contribuição do Co- Contribuição do Contribuição dos
FIDA financiamento Governo beneficiários
Empréstimos aprovados em US$ 39 970 000 US$ 27 910 000 US$ 7 700 000 US$ 4 020 000 US$ 340 000
1989-2007, com doações
associadas
Empréstimos aprovados US$ 95 290 000 US$ 54 200 000 US$ 24 520 000 US$ 12 040 000 US$ 4 530 000
2008-2017, com doações
associadas
Empréstimos totais US$ 135 260 000 US$ 82 110 000 US$ 32 220 000 US$ 16 060 000 US$ 4 870 000
aprovados em 1989-2017,
empréstimos e doações
associadas
61
O projecto MOSAP I, co-financiado pelo Banco Mundial, o FIDA e o Japão, foi aprovado no valor total de US $ 49,4
milhões. Devido aos atrasos na implementação do projecto, a contribuição do Banco Mundial foi reduzida de US $ 10
milhões. Este relatório usa o valor revisado do orçamento do MOSAP I de US $ 37,4 milhões, de acordo com o
Resumo do Relatório de Conclusão do Projecto do FIDA.
20
Tabela 5
Informações chave sobre o FIDA em Angola, em Novembro de 2017
Número de empréstimos aprovados 1989- 7
2017
Número de empréstimos operacionais 2
Termos de empréstimo Desde 2015, Termos Ordinários; 2013-2014, mistura de termos; 1989-2013,
altamente concessional
Principais parceiros governamentais Ministério da Agricultura; Ministério das Pescas e do Mar; Ministério do
Meio Ambiente
89. Investimentos do FIDA por sector de intervenção. Uma vez que o FIDA
iniciou as suas operações em Angola, os fundos do programa foram atribuídos a
quatro sectores diferentes; Desenvolvimento rural, com 43% dos recursos totais;
Desenvolvimento agrícola, com 37%; Pesquisa, Extensão e Treinamento, com
13%; e Marketing, armazenamento e processamento, com 7% do total de fundos.
Em um nível mais detalhado, foram apoiados nove sub-sectores diferentes:
"Desenvolvimento de capacidades locais" beneficiou da maioria dos fundos, 24%,
seguida de 'Gerenciamento de projectos' em 22% e 'Serviços financeiros e crédito',
com 21%; esta última categoria também inclui os subprojectos
predominantemente financiados por doações no MOSAP I e SAMAP, o que explica
porquê essa categoria recebeu a terceira maior parcela de recursos. As áreas de
apoio "Desenvolvimento comunitário" e "Desenvolvimento e transferência de
tecnologia" receberam dotações similares, com 9 e 10% do total de recursos,
respectivamente. Finalmente, o "Marketing" e o "apoio institucional" beneficiaram
de 5% dos fundos cada; "Pesca e aquicultura" de 3%; e 'Melhoramento da Terra'
de 1%. A Figura 1 mostra esses dados em formato gráfico.
21
Figura 1
Investimento apoiado pelo FIDA em Angola 2005-2017 por subcomponente
Marketing: entradas / Melhoramento da Desenvolvimento
saídas 5% terra 1% comunitário 9%
Pesca e aquicultura
3%
Desenvolvimento e
transferência de
tecnologia 10%
Reforço das
Capacidade local
Serviços financeiros 24%
e crédito 21%
Gestão de Projectos
22%
Suporte institucional
5%
90. Os dados confirmam questões que serão discutidas de forma mais exaustiva ao
longo do relatório: o foco na resposta às necessidades identificadas de
desenvolvimento de capacidades; os altos custos de gestão de projectos causados
pelos prolongados períodos de implementação; a atenção ao desenvolvimento de
comunidades, necessário em um país pós-conflito.
91. O sistema de alocação baseado no desempenho. O período em avaliação
abrange quatro ciclos de PBAS. A dotação anual média foi de US$ 5,49 milhões por
ano. Quatro empréstimos foram fornecidos em termos altamente concessionais,
um em termos combinados, e os dois empréstimos mais recentes em termos
ordinários. A partir de Junho de 2017, de acordo com os termos de financiamento
do FIDA de 2017, Angola foi classificada como um país ‘a luz verde’, portanto
elegível para financiamento de empréstimos 100% em condições ordinárias.
92. Durante o período em análise, as dotações através do PBAS foram limitadas,
devido a uma combinação de indicadores nacionais, forte no crescimento
económico nacional e fraco no sector rural. O aumento da alocação do PBAS de
USD 11,14 milhões para US$ 34,77 milhões entre o FIDA 9 e o FIDA 10,
apresentado na Tabela 6 abaixo, deveu-se principalmente à redução do RNB per
capita de US$ 5,010 para US$ 4,850 e ao aumento do programa de empréstimos e
conceções de US$ 3 bilhões no IFAD 9 para US$ 3,2 bilhões no IFAD10. Além disso,
durante sua implementação, a classificação do Risco para o o MOSAP I aumentou
de 1 (a pontuação mínima) para 6 (o máximo).
Tabela 6
Alocações baseadas em desempenho para Angola, em milhões de dólares Norte Americanos
2007 – 2009 2010 – 2012 2013 – 2015 2016 – 2018
Ciclo PBAS (IFAD 7) (IFAD 8) (IFAD 9) (IFAD 10)
22
Empréstimos
93. Os perfis breves dos projectos apoiados por empréstimo analisados por este CSPE
estão incluídos abaixo; A Tabela 7 mostra as contribuições financeiras de cada
parceiro ou grupo.
Tabela 7
Alocações baseadas em desempenho para Angola, em milhões de dólares dos Estados Unidos de
América
Nome do projecto Custo total do Empréstimos Doações Co- Governo, US$ Contribuição
projecto aprovado pelo aprovadas pelo financiamento, dos
FIDA, em US$ FIDA, US$ US$ beneficiários
US$
23
milhões; com o FIDA proporcionou-se um empréstimo de US$ 28,9 milhões; o
Governo comprometeu-se a alocar US$ 8,2 milhões para o projecto e os
beneficiários devem contribuir com US$ 1,1 milhão. O projecto entrou em vigor no
final de Agosto de 2017 e seu primeiro desembolso foi planeado para o final de
2017, no início de 2018. O projecto baseia-se no anterior projecto apoiado pelo
Banco Mundial e do FIDA MOSAP I e foi formulado refletindo o Projecto de
desenvolvimento e comercialização da agricultura familiar (MOSAP II), totalmente
financiado pelo BM. Abrange duas novas províncias, Kuanza Sul e Huíla, também
localizadas no planalto central de Angola, mas até então não apoiadas pelas duas
organizações. A responsabilidade nacional pelos projectos cabe ao Director-Geral
do Instituto de Desenvolvimento Agrícola (IDA) e do Ministério da Agricultura e
Florestas.
97. O projecto de recuperação agrícola (ARP) foi aprovado pelo Conselho
Executivo do FIDA em Setembro de 2017. No momento da redação deste relatório
(Dezembro de 2017), o contrato de empréstimo estava pendente de assinatura
pelo Governo e o projecto ainda não havia entrado em vigor, embora todas as
condições de desembolso tivessem sido assinadas no final de 2017. O seu custo
total foi estimado em US$ 7,6 milhões, dos quais o FIDA proporcionaria um
empréstimo de US$ 5 milhões e uma doação de US$ 1 milhão; a FAO
comprometeu-se a contribuir com US$ 0,5 milhão, através do seu Programa de
Cooperação Técnica; o Governo, US$ 0,7 milhões e beneficiários, US$ 0,4 milhão.
Seu objectivo é restaurar os activos produtivos das famílias afectadas por secas
recorrentes e / ou prolongadas e fornecer meios para recuperarem as suas
capacidades de produção. A intervenção se realizará nas províncias do sul do
Cunene, Huila e Namibe, que estão entre as mais afectadas pela secas recorrentes
e inundações. A responsabilidade nacional pelos projectos cabe ao Diretor-Geral do
Instituto de Desenvolvimento Agrícola (IDA) do Ministério da Agricultura e
Desenvolvimento Rural.
Doações nacionais autónomas
98. Os perfis breves das iniciativas de doação financiadas durante o período avaliado
por este CSPE estão incluídos aqui abaixo.
99. Fortalecendo a resiliência e a respostas da somunidade ao VIH / SIDA
através de meios de subsistência. Esta doação do FIDA, com um orçamento de
US$ 160.000, foi aprovada em Dezembro de 2004, entrou em vigor em Junho de
2005 e chegou à conclusão em Junho de 2007. Foi implementada pela ONG CARE,
para desenvolver modelos efectivos e melhorar as capacidades da comunidade para
prevenir e mitigar o impacto do VIH e SIDA nas comunidades rurais de Angola.
100. Análise participativa das lições apreendidas no desenvolvimento da
comunidade no Planalto Central. Esta doação do FIDA, com um orçamento de
US$ 50.000, foi aprovada em Janeiro de 2006, entrou em vigor em Abril do mesmo
ano e terminou em Abril de 2007. A agência de implementação foi o Fórum de
Organizações Não Governamentais Angolanas (FONGA). O objectivo principal foi
identificar e aprender lições sobre intervenções bem-sucedidas que haviam
abordado a redução da pobreza no planalto central. Ao fazê-lo, também
desenvolveria a capacidade da ONG implementadora e avaliaria os níveis de
participação comunitária nos processos locais de tomada de decisão.
101. Mapeamento de terras e mitigação de conflitos no Planalto Central. Esta
doação do FIDA, com um orçamento de US$ 149.000, foi aprovada em Janeiro de
2006, entrou em vigor em Abril de 2006 e chegou à conclusão em Abril de 2008.
Foi atribuído à ONG Development Workshop. O objectivo era reduzir a
vulnerabilidade das comunidades rurais no planalto central através do melhor
acesso à terra, reconhecimento dos direitos tradicionais da terra e uso de técnicas
agrícolas melhoradas em uma comuna no município de Katchiungo.
24
102. Projecto de desenvolvimento das cooperativas. O orçamento total da doação
foi de US$ 220.706, dos quais US$ 100.000 através de uma doação do FIDA e o
restante, coberto pela USAID e pela companhia petrolífera internacional Chevron. A
doação foi aprovada em Dezembro de 2006, entrou em vigor em Abril de 2007 e
foi concluída em Abril de 2009. O objectivo foi uma colaboração com o Ministério
da Agrícultura e do Desenvolvimento Rural para melhorar o quadro legal das
cooperativas e auxiliar na implementação de novas leis e legalizar dez cooperativas
em quatro províncias.
103. Estudos da pobreza rural. Esta doação do FIDA, com um orçamento de US$
100.000, foi aprovada em Dezembro de 2006, entrou em vigor em Abril de 2007 e
foi concluída em Abril de 2009. A agência executora foi o Centro de Estudos e
Pesquisa Científica (CEIC). O objectivo era melhorar o conhecimento da pobreza
rural em Angola, através de uma análise e disseminação de informações actuais e
credíveis, para promover um debate público sobre a questão.
Doações regionais
104. Avaliação piloto da aquicultura e de cadeia de valor para melhorar a oferta
de peixe. Esta iniciativa foi originalmente desenvolvida apenas para a República
Democrática do Congo (RDC), e foi ampliada para incluir Angola em apoio do
empréstimo do AFAP. O orçamento total do projecto é de US$ 2,9 milhões, dos
quais US$ 2,4 milhões através de uma doação do FIDA; o saldo de US$ 0,5 deve
ser co-financiamento em espécie do IITA e WorldFish62, por meio do tempo do
pessoal, equipamentos, escritórios e outras instalações. A doação foi aprovada em
22 de Dezembro de 2016, entrou em vigor em Abril de 2017, mas ainda não estava
desembolsando em Novembro de 2017. O objectivo é melhorar a segurança
alimentar e nutricional e reduzir a pobreza, ao mesmo tempo que a gestão
sustentável dos recursos naturais através do aumento da produção dos pequenos e
grandes produtores agrícolas, e o melhoramento da capacidade regulatória do
sector público na gestão do desenvolvimento da aquicultura. A contribuição do
WorldFish e do IITA também implica supervisão e assistência técnica ao AFAP.
62
O Instituto Internacional de Agricultura Tropical, IITA, e WorldFish são dois centros CGIAR, que realizam pesquisas
e prestam assistência técnica em agricultura tropical e pescarias e aquicultura, respectivamente, para reduzir a
pobreza, a fome e a desnutrição.
25
Pontos-chave
Angola saiu em 2002 de uma guerra civil de 27 anos de duração, que
destruiu as infra-estruturas, o tecido social e institucional, desenraizou a
população rural e levou à perda de capital humano em todos os níveis. O
restabelecimento do capital humano e institucional, continua a ser um
grande desafio, na maioria dos sectores de interesse para o FIDA.
A população é fortemente urbanizada, com 63% dela nas cidades como
consequência do longo conflito e da falta de oportunidades de subsistência
nas áreas rurais, que causam a migração de jovens para as cidades. Todos
os principais indicadores socioeconómicos mostram grandes disparidades
entre áreas rurais e urbanas. A porcentagem de pessoas pobres nas áreas
rurais em 2008 foi estimado em 58,3%, contra 18,7% nas áreas urbanas.
As mulheres são a maioria da população e têm uma esperança de vida
mais longa, embora resultem piores em relação a todos os demais
indicadores.
A queda internacional do preço do petróleo que começou em 2015 causou
uma profunda crise financeira e económica em Angola. A partir de 2017, o
Governo estava começando a agir para diversificar a economia da alta
dependência das exportações de petróleo. Agricultura, pesca de água doce
e a aquicultura têm um enorme potencial, que, no entanto, precisam ser
manuseados de forma sustentável para evitar a degradação de recursos,
já visíveis nos solos nas áreas agrícolas mais densamente povoadas.
A oferta total dos projectos apoiados pelo FIDA, desde 1989 até novembro
de 2017, totalizou US$ 135,2 milhões, distribuídos em 7 iniciativas. O
FIDA contribuiu com 60,7% do total, o Governo comprometeu-se a
contribuir com 11,9% e a contribuição estimada por beneficiários é de
3,6%. Os restantes 23,8% da oferta total foram fornecidos através do co-
financiamento pelos parceiros. Também foram financiadas algumas
doações autónomas entre 2005 e 2007.
A estratégia do FIDA centrou-se firmemente na redução da pobreza e
insegurança alimentar rural desde 1989, ajustando suas intervenções para
abordar as áreas onde as acções pareciam possíveis durante a guerra. O
COSOP 2005 articulou a abordagem para intervir nas áreas geográficas,
visando grupos sociais, onde o apoio seria mais efectivo desde o fim da
guerra. Em 2017, o Fundo ampliou o seu programa para cobrir diferentes
áreas geográficas, sectores temáticos e fases de desenvolvimento, ou
seja, recuperação de desastres naturais, produção primária melhorada e
acesso para mercados e cadeias de valor.
26
II. A carteira de empréstimos
A. Execução do projecto e impacto na pobreza rural
105. Este capítulo analisa a execução dos projectos de empréstimos apoiados pelo FIDA
e as doações associadas, que foram aprovados pelo Conselho Executivo desde a
finalização do COSOP em 2005. Isso inclui projectos que, no momento da CSPE,
tinham situações diferentes: MOSAP I já estava fechado; AFAP era em curso, mas
não tinha ainda efetuado a revisão intermedia; SAMAP estava executivo, mas ainda
não operacional; ARP estava aprovado, mas ainda não executivo.
106. Considerando estas diferenças, apenas o critério relevância foi aplicado e utilizado
na avaliação de todos os projectos; os critérios de eficácia, eficiência e igualdade
de género foram aplicados ao MOSAP I e ao AFAP, embora não tenham sido
quantificados para este projecto; e o critério ad hoc “coerência com as lições
aprendidas” foi aplicado apenas ao SAMAP e ARP.
Relevância
107. A relevância da carteira de projectos foi analisada em termos de: (i) relevância dos
objectivos, ou seja, o alinhamento dos objectivos do projecto com as estratégias e
políticas do Governo, as estratégias do FIDA, o COSOP e as necessidades dos
pobres; e (ii) relevância no desenho do projecto, ou seja, como a determinação
conceptual do projecto permitiu alcançar os objectivos definidos.
Relevância dos objectivos
108. Carteira de projectos bem-alinhados com as políticas do Governo. A carteira
de projectos apoiada pelo FIDA, no período em avaliação, foi avaliada como
alinhada com as políticas e as estratégias do Governo de Angola e claramente
coerente com as prioridades de desenvolvimento rural do país. Todos os projectos
aprovados desde 2005 visaram contribuir para os objectivos nacionais de
desenvolvimento da segurança alimentar e nutricional para todos e abordaram
desafios importantes identificados também pelo Governo nas suas análises.
109. Em 2007, o MOSAP I alinhou-se plenamente ao terceiro objectivo específico da
Estratégia de Redução da Pobreza (ECP) do Governo, revisada em 2005: "reduzir o
risco de fome, atender a demanda nacional de alimentos e revitalizar a economia
rural como um sector vital para o desenvolvimento sustentável".63 Através da
abordagem participativa e do esforço para incentivar o associativismo, o projecto
também satisfazia adequadamente a definição da ECP de “pobres”, como grupo-
alvo, que adicionava o elemento de exclusão social à dimensão económica da
definição. Além disso, foram estabelecidas as ECAs que constituíram o elemento
fundamental do MOSAP I no seu alcance aos agricultores familiares pobres, em
coordenação com as autoridades municipais e contabilizadas no Programa
Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Luta Contra a Pobreza.
110. Os três projectos aprovados mais recentemente - AFAP, SAMAP e ARP - também
foram considerados em linha com os diferentes objectivos específicos do PND
2013-2017 para os sectores agrícola, pesqueiro e ambiental, incluindo: ligar a
agricultura familiar aos mercados através do aumento da produção, para a
substituição das importações e para exportações, e do acesso aos serviços
financeiros rurais; apoiar o associativismo; alcançar a auto-suficiência na produção
de alimentos básicos; desenvolver sistemas de irrigação em pequena escala;
promover a gestão sustentável dos recursos naturais, incluindo os recursos
aquáticos de água doce; apoiar a aquicultura de pequena escala; e criação de
emprego. Cada vez mais, o enfoque nos produtores familiares ou de pequena
escala é reconhecida, também pelo Ministério da Agricultura, como o caminho a
63
ECP, 2005 edição revista.
27
seguir, já que os dados recentes confirmaram que quase 90% da produção agrícola
em Angola vem da agricultura familiar.64
111. Projectos relevantes para as necessidades da população rural. A carteira de
projectos do FIDA abordou, e tem o potencial de prosseguir nisso no futuro,
algumas das necessidades básicas dos pobres das zonas rurais, começando pela
prestação de serviços e de investimentos para melhorar a produção agrícola e a
segurança alimentar. A adoção das Escolas de Campo como uma plataforma para o
desenvolvimento de capacidades, a ênfase no estabelecimento e fortalecimento de
grupos e associações de agricultores e a integração de actividades de
empoderamento, como a alfabetização, contribuíram e contribuem a construir as
bases para melhorar os meios de vida dos agricultores familiares nas áreas rurais
de Angola.
112. Projectos coerentes com o COSOP e as estratégias do FIDA. Os projectos
foram e são coerentes com o COSOP de 2005, a CSN 2017/18 e os Quadros
Estratégicos do FIDA durante o período avaliado.65 Ao ampliar lentamente as áreas
geográficas de intervenção, os projectos apoiados pelo FIDA alcançaram
progressivamente os "grupos mais vulneráveis nas áreas de insegurança alimentar
e nutricional"66, utilizando os diferentes modelos produtivos específicos da
população-alvo, incluindo a produção de alimentos de subsistência, o sistema
agrícola e pecuário misto, e a pesca artesanal de água doce e a aquicultura. A
enfase recorrente dos projectos no desenvolvimento das associações de produtores
e no fornecimento de oportunidades para o desenvolvimento das capacidades
individuais e coletivas, são fundamentais no alcance do objectivo previsto de
empoderamento dos pobres nas áreas rurais.
113. VIH e SIDA. O COSOP também reconheceu os sérios problemas de saúde que
afetam a população rural. Entre estes, tendo em conta a ameaça que a epidemia
de VIH e SIDA representavam nos países da África Austral a causa do seu potencial
impacto negativo sobre a população produtiva e sobre a pobreza rural, o
Documento previa o apoio financeiro através de doações às iniciativas que
abordavam o VIH e SIDA e os meios de vida e a integração de medidas
relacionadas com o VIH e SIDA em novos projectos. O Documento referiu uma taxa
de infecção de 2,8% em 2004, com tendência a crescer. Felizmente, a partir de
2016, a taxa de prevalência em todo o país para a população adulta foi estimada
em 1,9%, embora maior para mulheres (2,2%) do que para homens (1,5%).67 Na
prática, todos os projectos apoiados pelo FIDA integraram explicitamente essa
preocupação, normalmente através da inclusão de acções de sensibilização sobre
VIH e SIDA no currículo das Escolas de Campo, no caso de MOSAP I, SAMAP e ARP,
e incluindo este tema no programa de desenvolvimento comunitário no caso do
AFAP.
Relevância no desenho
114. A relevância de um projecto também depende da qualidade do seu desenho e da
análise do contexto. Todos os empréstimos apoiados pelo FIDA incluíram uma
análise de contexto sólida que, no entanto, nem sempre foi devidamente tida em
conta durante o desenho do projecto.
115. O desenho do MOSAP I foi firmemente enfocado nos pobres das zonas
rurais e no apoio aos agricultores familiares, como resultado do contributo do
CPMT do FIDA à concepção do projecto. Isso garantiu uma grande relevância para
a ECP e as necessidades das pessoas rurais. Por outro lado, a CSPE observou
64
Alinhamento Estratégico ao Plano de Desenvolvimento de Médio Prazo do Sector Agrario 2018 -2022 (PDMPSA)).
65
Os projectos aprovados desde 2005 abrangem três das Estruturas Estratégicas do FIDA, ou seja, 2007-2010, 2010-
2105, 2016-2025.
66
Nota sobre a Estrategia do Pais, Abril 2017.
67
UN AIDS, Angola 2016 country fact-sheet, UNAIDS.
28
elementos na concepção do projecto que afetaram ligeiramente a relevância, em
termos de resposta às necessidades dos participantes. Um destes elementos foi a
limitada atenção durante o desenho aos principais constrangimentos na
disponibilidade de insumos, nomeadamente sementes e fertilizantes, que foi um
grande desafio para a melhoria da produtividade agrícola. A segunda foi a falta de
planos para providenciar serviços relacionados com a introdução de moínhos e de
animais de tração, por exemplo para a manutenção das máquinas e para a
assistência veterinária para os animais.
116. O AFAP foi a primeira iniciativa a ser implementada em Angola no apoio à pesca
artesanal de água doce e ao desenvolvimento da pequena aquicultura. O objectivo
era o desenvolvimento, através do engajamento das famílias rurais pobres, de um
subsector com um bom potencial para contribuir à diversificação da economia,
reforçando a segurança alimentar e nutricional, reduzindo a pobreza e
implementando uma gestão sustentável dos recursos naturais. Em suma, um
esforço altamente inovador em Angola, que exigia desde o início, uma supervisão e
um apoio intensos e cuidadosos para atingir o sucesso.
117. O contexto e a complexidade das questões tratadas foram bem capturados no PDR
e alguns dos riscos foram analisados e descritos com medidas gerais de proteção e
mitigação. O projecto foi definido como uma intervenção de desenvolvimento em
grande escala, com base em diferentes pressupostos. A assistência técnica para a
componente da aquicultura deveria ter sido providenciada pela FAO, considerando
a limitada capacidade nacional nesta área; e vários estudos-chave sobre as
diferentes fases da cadeia de valor, foram planeados para serem realizados durante
as etapas iniciais de implementação. Esta decisão não teve em conta que esta
sequência de etapas provavelmente atrasaria a implementação deste projecto,
aumentando ao mesmo tempo os custos de gestão (ver Eficiência). Além disso, o
PDR mostrou várias lacunas nas estimativas orçamentárias, nas previsões das
taxas de câmbio e na disponibilidade de insumos no mercado nacional. Isso não
obstante o atraso de um ano na revisão do orçamento inicial, antes de obter
aprovação. Finalmente, o projecto foi aprovado em abril de 2015, com o
pressuposto explícito de que uma doação da UE de 10 milhões de euros estaria
disponível como "financiamento de doação paralela".
118. A novidade da abordagem deveria ter proporcionado uma abordagem por etapas,
começando por um projecto-piloto tanto para a pesca de captura de água doce
como para a aquicultura, em uma área pequena, com todos os insumos e meios de
apoio necessários para obter informações importantes para uma futura ampliação
em escala, minimizando assim os riscos dos participantes. Isso teria levado a um
nível mais razoável de conhecimento e compreensão em pequena escala, dos
desafios e dos riscos reais - técnicos, económicos, financeiros e sociais - para o
desenvolvimento do sector, antes de expandir a iniciativa como uma intervenção
ampla de desenvolvimento.68 69
119. O projecto SAMAP seguiu estreitamento o projecto MOSAP II do BM,
aprovado em 2016 e operacional desde abril de 2017. O SAMAP foi planeado para
operar em duas novas províncias, Kuanza Sul e Huila, com base na experiência do
MOSAP I, usando as Escolas de Campo como a principal abordagem metodológica e
providenciando apoio às organizações de agricultores para ter acesso aos
mercados, à transformação e ao processamento de produtos de maneira
sustentável e viável. Além disso, e plenamente em linea com as políticas do
68
Embora a atualização de uma intervenção baseada apenas em uma experiência piloto seja também um esforço
complexo, a CSPE considera que essa opção teria exposto os produtores de pequena escala - e o FIDA - a menos
riscos, como discutido mais adiante no relatório.
69
O FIDA adotou recentemente uma abordagem passo-a-passo para a implementação de um empréstimo aprovado
em 2015 em apoio ao Projecto de desenvolvimento da pesca e da aquicultura continentais (PD-PAC) na República do
Congo. A iniciativa no Congo tem metas e objectivos similares ao AFAP, e também representa uma intervenção
inovadora no país.
29
Governo, o SAMAP também deveria proporcionar serviços de financiamento rural
aos participantes, atendendo assim o que está emergindo como um forte pedido
dos produtores familiares que desejam ter acesso aos mercados. O projecto é
altamente complexo e exigirá uma capacidade de gestão significativa para alcançar
tudo o que é esperado.
120. O ARP foi inicialmente concebido como uma intervenção de recuperação e
resiliência nas províncias do Sul do País afetadas pela seca e pelas inundações.
Eventualmente, o FIDA decidiu concentrar o projecto apenas na recuperação,
embora o PDR final ainda mantenha um grau razoável de atenção ao
fortalecimento da resiliência. Isso seria de grande importância, considerando a
vulnerabilidade das áreas e das populações onde operará.
121. Ambos os relatórios de projecto do SAMAP e do ARP incluíam as Notas detalhadas
de Revisão dos Procedimentos de Avaliação Social, Ambiental e Climática (SECAP)
e deveriam integrar transversalmente a todos os esforços de desenvolvimento de
capacidade, a atenção à gestão sustentável dos recursos naturais, as questões
ambientais e de adaptação às mudanças climáticas. O projecto ARP também
considera significativamente a promoção da agroecologia. Finalmente, a FAO
devería implemente os respectivos componentes das Escolas de Campo; A
experiência do MOSAP I com a FAO teve um bom sucesso em relação a este
aspecto e pode ser uma garantia do rigor da abordagem no desenvolvimento de
capacidades e acompanhamento a todos os níveis.
122. Fraca atenção à coordenação com outros atores para tratar questões de
desenvolvimento social. Finalmente, a CSPE recolheu os pareceres dos
participantes, que evidenciou a profunda falta de infraestruturas e serviços sociais,
os quais foram abordados apenas marginalmente nos projectos passados e
naqueles em curso. O FIDA justamente não alocou os limitados recursos neste tipo
de actividades e concentrou-se nas áreas de trabalho "mais leves", onde a sua
vantagem comparativa e o valor agregado eram mais fortes. No entanto, os
projectos não tomaram medidas para maior colaboração e coordenação com outros
parceiros a todos os níveis, incluindo municípios e comunidades, o que teria sido
útil para atender aquelas necessidades básicas que se não forem atendidas,
poderão comprometer outros resultados positivos.
123. Avaliação da relevância - Resumo. Em geral, as estratégias e os objectivos do
FIDA estavam bem alinhados com aqueles do Governo, visando questões cruciais
nas áreas mais vulneráveis do Planalto Central. A carteira de projectos do FIDA
também foi altamente relevante para as necessidades das famílias de agricultores
rurais pobres, e estava alinhada com as estratégias do Fundo. A recente expansão
dos projectos para outras províncias através do SAMAP e do ARP, a inclusão nestes
projectos de recursos para abranger o acesso aos mercados, o financiamento rural,
a recuperação das secas, assim como medidas solidas para a gestão ambiental
sustentável e a adaptação às mudanças climáticas, contribuem para fortalecer a
relevância dos projectos para o contexto e as necessidades nacionais. O desenho
dos projectos, no entanto, não chegou a ser optimal no caso do AFAP e de alguns
componentes do MOSAP I. Em consideração ao que foi exposto, a CSPE avalia a
relevância dos projectos como Satisfatória (5).
Eficácia
124. A avaliação da eficácia dos projectos concentra-se na medida em que os resultados
esperados (outcomes) foram alcançados ou provavelmente serão alcançados até o
final dos projectos. Além de uma visão geral do grupo alvo dos projectos e sua
capacidade de abrangência, esta secção também descreve alguns dos productos do
AFAP e os resultados alcançados pelo MOSAP I.
125. Todos os empréstimos do FIDA aprovados desde 2005 estavam alinhados com a
abordagem de grupo alvo do COSOP de 2005 e com a informação e análise
30
disponíveis. Começando com o MOSAP I e todos os outros projectos seguintes, a
CPMT do FIDA desempenhou um papel fundamental para garantir que a carteira
dos projectos se focalizasse nas pessoas mais vulneráveis e com maior insegurança
alimentar, que foram identificadas nas famílias agrícolas pobres e nas famílias
envolvidas, de forma exclusiva ou parcial, na pesca de água doce e que não tinham
acesso, ou o tinham de forma limitado, à serviços de extensão, investimentos e
oportunidades de desenvolvimento de capacidade. Entre estes grupos, as mulheres
camponesas e os jovens das áreas rurais foram indicados, em todos os relatórios
de projecto, como os grupos que mereciam uma atenção particular. Assim sendo,
todos os empréstimos aprovados desde 2010 deram uma atenção especifica aos
jovens, como um dos principais grupos-alvo a serem alcançados. A preocupação
legítima do COSOP de 2005 com os desmobilizados também foi integrada de
maneira adequada no PDR do MOSAP I; embora não foi mais levantada nas
intervenções posteriores, pois ao longo do tempo, esse grupo de desmobilizados
integrou-se ao resto da população.
126. Em relação a abrangência efetiva, o relatório final do MOSAP I indicou que foram
formados durante a implementação um total de 54.982 agricultores familiares, que
representavam 110% dos beneficiários planificados depois da revisão do
projecto;70 além disso, 43% dos participantes nas actividades do projecto foram
mulheres, que também representavam 56% dos membros das ECAs.7172 Não
existem dados sobre uma linha de base ou monitoria do nível de pobreza dos
participantes, nem em relação a idade; no entanto, as observações diretas da
CSPE, embora limitadas, confirmaram que o objectivo de focalizar nas famílias de
agricultores pobres foi atingido, enquanto que os resultados com os jovens
agricultores foram muito menos positivos. Não há dúvida que os líderes das Escolas
de Campo e alguns dos membros das mesmas eram entre as pessoas com mais
recursos nas próprias comunidades; e houve evidencia que algumas associações
envolvidas nas ECAs possuíam bens e activos, gado por exemplo. Ainda: MOSAP I
trabalhou também em comunidades isoladas, e naquelas mais próximas das
principais estradas, incluindo os bairros mais marginais; os membros das Escolas
de Campo eram vulneráveis ao clima, porque dependiam em grande parte da
agricultura de sequeiro e tinham acesso limitado aos insumos e aos mercados,
devido às distâncias; e a pobreza profunda era visível.
127. Risco de apropriação por parte dos grupos de poder. Por outro lado, e tendo
fortemente em consideração que a avaliação foi realizada nas primeiras etapas do
trabalho do AFAP a nível comunitário, nas comunidades visitadas a equipa da CSPE
observou o risco de apropriação por parte de um grupo dominante dos bens de
apoio e dos resultados do projecto para a aquicultura, em relação às gaiolas e aos
tanques. A diferencia do MOSAP I, no qual os serviços da consultoria técnica eram
bens públicos e os financiamentos para os subprojectos eram geralmente
atribuídos apenas a grupos relativamente fortes; tanto as gaiolas de aquicultura
quanto os tanques poderiam ser facilmente retidas por parte dos membros mais
influentes da comunidade73 ou mesmo externos. Tanques para a aquicultura
escavados através do trabalho físico de agricultores familiares pobres, representam
um activo muito atraente; na ausência de títulos formais de posse da terra que
possam atribuir a sua propriedade à associação, o risco de sua ocupação por parte
de terceiros é um risco concreto nas áreas rural de Angola. E como as gaiolas
podem ser geridas de forma separada, facilita-se assim o controle e a apropriação
individuais, mesmo que uma associação foi indicada como beneficiária. Estes
70
O PDR do MOSAP I estabeleceu um alvo de 126 mil agricultores; Isso foi reduzido para 50 mil quando o projecto foi
reduzido em US$ 10 milhões.
71
Como os projectos abordam a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, são analisados em detalhes
em uma secção dedicada deste relatório.
72
Relatório de Conclusão de Implementação do MOSAP I.
73
Em uma das associações visitadas, a liderança estava firmemente na mão de uma única família extensa; e em um
segundo grupo, a liderança foi desafiada por membros na frente da equipe do CSPE.
31
potenciais riscos, decorrentes de uma identificação pouco atenta dos participantes,
devem ser seriamente avaliados e geridos durante a implementação.
128. Resultados do MOSAP I. O projecto teve vários indicadores de resultados, cada
um com um objectivo quantitativo, embora não todos originados pela linha de
base. Estes foram:74
(a) Número de agricultores familiares que participaram ao treinamento. Foram
54.982; 41% participou ao treinamento através das Escolas de Campo; 23%
nos subprojectos; e o restante 36% através de treinamentos gerais e o apoio
dos extensionistas;75
(b) Participação dos agricultores familiares nas áreas do projecto nas quais estão
presentes as organizações agrícolas. Ao final, todas as famílias de
agricultores nas áreas de intervenção dos projectos eram membros de uma
organização de agricultores; a percentagem de participação às associações
nos grupos de controle, reportado pelo IES, foi de 35% em 2015.76
(c) Número de agricultores familiares membros de associações que beneficiaram
de doações e concluíram as actividades na componente de investimento
agrícola dentro do Projecto. O número de participantes em subprojectos foi
de 12.344;
(d) Proporção entre as organizações de agricultores familiares e os
extensionistas. No fim do projecto cada extensionista era responsável por
apoiar 12 associações; a proporção ainda era alta, apesar dos esforços da
IDA para aumentar de 50%, o número de extensionistas atribuídos às EDAs
nas áreas de intervenção;
(e) Taxa de adoção de práticas agrícolas por parte dos agricultores familiares
participantes. As culturas enfocadas eram o milho, a mandioca, o feijão e a
batata rena e os aumentos deveriam ser alcançados através uma série de
Práticas Agrícolas Melhoradas. Entende-se como práticas aplicadas em
relação ao milho, ao feijão e a batata rena: a selecção de semente; o número
de sementes e o espaço entre as plantas. Para a mandioca, as práticas
adicionais foram a medida das estacas, o número de nós e a verificação da
humidade. A Figura 2 mostra as taxas de adopção de cada prática, por cada
cultura.77
74
Ibid.
75
Os relatórios do MOSAP I afirmam que não houve contagem dupla dos participantes, embora nas comunidades,
claramente alguns membros das Escolas de Campo também participaram dos sub projectos.
76
O resultado foi relatado como 200 por cento da realização, como o alvo foi estabelecido em 50 por cento das
famílias de agricultores.
77
Veja IES para metodologia detalhada para coleta e análise de dados.
32
Figura 2
Taxas de Adopção de Práticas Agrícolas Melhoradas no MOSAP I, por cultivo (em percentagem)
129. Falta da análise das causas das taxas desiguais de adopção. Os gráficos
mostram como a adopção das práticas melhoradas mudou entre agricultores
individuais, bem como em relação ao tipo de cultivo e a província. A selecção de
sementes foi a técnica mais adotada, que é um bom sinal para sua adopção
universal e duradoura nestas províncias. O IES concluiu que os factores que
influenciam as taxas de adopção incluem a qualidade da liderança das organizações
de agricultores; o conhecimento anterior de uma prática; a participação em uma
Escola de Campo; a importância de uma determinada cultura para o agricultor. No
entanto, o projecto não realizou uma análise aprofundada das razões por trás da
falta de adopção a certas práticas, conforme será discutido posteriormente no
relatório com mais detalhes.
130. Todos os indicadores avaliados alcançaram ou ultrapassaram as
respectivas metas revistas. Provavelmente, as metas foram definidas mantendo
um nível prudente.78 No entanto, o MOSAP I cumpriu os planos, principalmente
através do estabelecimento das Escolas de Campo e do financiamento dos
subprojectos: os participantes aprenderam úteis Práticas Agrícolas Melhoradas
(PAM) e, através delas, os rendimentos de três culturas de alimentos básicos
amplamente cultivados aumentaram; as organizações de agricultores aumentaram
em número e membros; e foram fornecidos aos participantes os serviços de
extensão agrícola e insumos para actividades produtivas, embora os agricultores se
queixaram de que os insumos haviam sido disponibilizados apenas para os
subprojectos.79
78
IES, 2015.
79
Este foi o compromisso do projecto; como mencionado anteriormente, foi uma falha no design.
33
131. Em conclusão, o MOSAP I favoreceu a criação de 726 Escolas de Campo, embora
apenas uma minoria tivesse chegado à finalização das práticas, ou seja, completou
o terceiro ciclo de formações, devido à introdução tardia da abordagem no
projecto. O Inquérito da Avaliação do Impacto do Fim do Projecto (IES) mostrou
que a metodologia das Escolas de Campo foi fundamental para estabelecer grupos
e associações de forma participativa.
132. A CSPE concordou com a maioria das partes interessadas, que os esforços de
desenvolvimento de capacidade na metodologia das Escolas de Campo dentro da
IDA, nos diferentes níveis institucionais, foram cruciais para alcançar os resultados.
Um factor adicional para o sucesso, na visão da CSPE, foi a estreita conformidade
do modelo aplicado com o conceito da Escola de Campo original.80 Isso, por sua
vez, levou à inclusão da metodologia no sistema de extensão nacional, que foi um
grande resultado inesperado da intervenção.
133. Além disso, o projecto financiou 257 subprojectos de investimento, para apoiar: a
tração animal (118 ou 46%), incluindo a distribuição de bois para lavrar;
mecanização e sementes (109 ou 42%), o que implicou assistência financeira para
a preparação mecanizada de terras e o fornecimento de sementes; e os sistemas
de moagem (30, ou 12%) para mandioca e milho. Destes subprojectos, na
conclusão, 51% estavam operando normalmente, 37% com algumas falhas, 9%
ainda estavam em execução e 2% não eram operacionais ou abandonados; não se
encontrou alguma informação disponível sobre quais subprojectos estavam
enfrentando problemas. O IES indicou que os subprojectos de tração animal e de
moagem foram formulados de maneira inadequada, incluindo a subestimação dos
desafios técnicos e organizacionais e falta de apoio e acompanhamento adequados;
por exemplo, não foi fornecida nenhuma assistência veterinária aos agricultores
que receberam os bois.
134. Finalmente, o reforço de capacidades e a formação no MOSAP I foram além das
PAM. Entre os agricultores familiares: aproximadamente 2.252 beneficiaram de
cursos de alfabetização, principalmente mulheres, e agronegócios; 1.497
agricultores foram formados como facilitadores das Escolas de Campo e 96 como
líderes comunitários. A nível do IDA, 210 técnicos do Governo participaram nas
formações sobre liderança comunitária, agronomia e métodos de extensão. O
MOSAP I também providenciou meios de transporte para extensionistas e
contribuiu para a construção de escritórios e residências para o pessoal das EDAs.
135. Exagerada ambição do Projecto AFAP. O projecto estava operacional há menos
de 18 meses no momento da CSPE e já nos últimos quatro meses havia sido
considerado como um "projecto problema", em grande parte a causa do limitado
progresso nas actividades de campo. Os atrasos e os problemas tinham origem em
parte no mesmo desenho do projecto e, em parte, nos recursos humanos limitados
disponíveis para gerir uma iniciativa complexa como essa.
136. Na opinião da CSPE, o principal desafio é a discrepância entre as ambições do
projecto, ou seja, a implementação de modelos inovadores para a pesca artesanal
e a aquicultura em água doce em uma grande escala, com um conhecimento muito
limitado dos desafios técnicos, ambientais, económicos e financeiros; e a
capacidade de implementação limitada no país, que havia sido reconhecida no PDR
e foi confirmada pelos atrasos no recrutamento de especialistas técnicos da PCU.
137. Um exemplo evidente foi a desarticulação entre a informação disponível sobre a
rentabilidade da aquicultura e o trabalho em curso ao nível comunitário. A análise
de mercado era um dos pilares do projecto, pois devia identificar a demanda actual
e futura de peixes de águas doces (principalmente as tilápias – o cacusso) a nível
80
O conceito de Escolas de Campo foi desenvolvido pela primeira vez pela FAO na Indonésia em 1989, para
promover o Manejo Integrado de Pragas nos campos de arroz; Wikipedia, acessado em 12 de dezembro de 2017.
34
local e nacional; e avaliar a sustentabilidade económica e financeira da cadeia de
valor prevista para produtos de captura e aquicultura. Em novembro de 2017, o
processo de aquisição de um Provedor de Serviços para a análise de mercado devia
ainda ser lançada e o relatório poderá estar disponível até o final do segundo ano
de implementação e no terceiro ano desde a entrada em execução.
138. Apesar da falta de informações seguras sobre o real potencial do mercado para a
aquicultura, a pressão do desembolso levou à decisão de estabelecer dez grupos de
pequenos produtores de aquicultura até o final de 2017. Para isso, a PCU estava
entrando em acordos informais com as comunidades selecionadas, para que
abrissem sete ou mais tanques de aquicultura, em troca de alevinos e alimentos
por um ciclo produtivo; bem como a assistência técnica do projecto para um
período de tempo mais longo. A abertura de tanques de aquicultura por enxada e
pá, como evidenciado nos locais visitados pela equipa da CSPE, é um trabalho
muito exigente; são necessárias centenas de horas de trabalho manual para cavar
sete ou mais tanques, para criar barragens, para desenvolver desvios de água dos
rios próximos, etc. O AFAP não forneceu nenhum apoio, em meios ou em dinheiro,
devido às dificuldades na aquisição; alegadamente, o Ministério das Pescas e do
Mar iria intervir com alguns recursos financeiros para completar os tanques. Além
disso, em pelo menos dois casos, os grupos que se dedicaram a abrir os tanques,
só tinham o acesso tradicional à terra assim ocupada. Como já mencionado
anteriormente, no actual quadro legal angolano para a posse da terra no país, a
ocupação não é suficiente para proteger os pobres da uma potencial ocupação das
terras por parte de outros.
139. Ao mesmo tempo, embora o projecto se encontrasse no processo de identificar
uma fonte nacional de alevinos, ainda não se tinha feito nenhum progresso para
encontrar uma fonte de alimentação, nacional ou internacional para o primeiro ciclo
de criação dos peixes nos novos tanques, que deveriam entrar em produção dois
ou três meses mais tarde.
140. Risco de investimento para os produtores e risco de credibilidade para o
FIDA. A situação descrita acima indica que o AFAP estava mobilizando produtores
pobres para que dediquem tempo e energia em uma actividade para a qual ainda
não havia uma garantia suficiente de sucesso técnico e económico e que deveria
ter sido realizada apenas no âmbito de um teste piloto, com todas as garantias
necessárias para as comunidades e nenhum pedido de trabalho não remunerado. A
situação assinalada pela CSPE em Malanje indicou uma compreensão limitada dos
riscos decorrentes da iniciativa e representava uma potencial perda de credibilidade
para o FIDA na província.
141. Gestão limitada e experiência técnica em várias áreas. Embora a causa dos
desembolsos limitados tenha sido atribuída principalmente às dificuldades de
contratação e recrutamento de pessoal,81 a CSPE registrou também algumas
fraquezas na capacidade da PCU em vários níveis, incluindo nas competências
técnicas, a dinâmica da comunidade, a gestão das pescas e a gestão dos projectos.
Foi observado que também o planeamento estava aquém das espectativas como,
por exemplo, faltava consistência entre o PDR, o Plano de Trabalho e Orçamento
Anual aprovado (AWPB) 2016-2017 e as actividades em curso relatadas pela PCU
em novembro 2017. Este relatório inclui actividades que não estavam previstas e
estavam a ser implementadas; enquanto que as actividades planeadas ainda não
tinham começado, isto apesar do estudo de mercado tivesse muita importância
para todo o progresso do projecto. Outra limitação importante foi a qualidade e a
periodicidade dos relatórios de projectos para o FIDA, que forneceram
principalmente informações incompletas e pouco claras, não permitindo assim
81
A missão de supervisão de novembro 2017 apoiou de maneira significativa na solução dos problemas ligados às
acquisições.
35
avaliar o que havia sido alcançado, o que era incipiente e o que ainda não havia
começado.
142. O PDR havia sugerido dois potenciais recursos para a assistência técnica e o
desenvolvimento de capacidade na pesca e na aquicultura artesanal de água doce,
bem como investimentos que poderiam ter fortalecido o AFAP. Em primeiro lugar, a
FAO deveria implementar a componente da aquicultura, mas isso não se
materializou devido à falta de acordos entre as partes no objectivo e no tipo de
serviços esperados. Em segundo lugar, a doação da UE prevista no PDR não se
concretizou, e não se concretizará, de acordo com a informação recebida pela
CSPE, em novembro de 2017. Uma terceira opção que se apresentou, foi o projecto
de apoio ao sector pesqueiro (FSS) apoiado pelo Banco Africano de
Desenvolvimento, que concerne a pesca marítima. Embora o AFAP tivesse um bom
nível de intercâmbio e colaboração informal com a equipa de gestão do FSS, o
contexto técnico e os desafios em questão diferiam de forma significativa, e
nenhuma estreita parceria poderia ser considerada concretamente.
143. No momento da CSPE, uma outra possível oportunidade de assistência técnica ao
AFAP foi a doação regional do FIDA ao IITA e à WorldFish, com o título "Avaliação
da aquicultura e pilotos de cadeia de valor para melhorar o abastecimento de
peixe". A doação não havia ainda começado a desembolsar. No entanto, devido
àlguns problemas internos do FIDA, nenhum dos principais interessados tinha
qualquer informação sobre sua aprovação e cronograma para implementação. Esta
situação pode chegar a ser uma oportunidade perdida, a menos que a lacuna na
informação seja rapidamente colmatada.
144. Foram tomados também alguns passos no âmbito da Cooperação Sul-Sul e
Triangular com outros países lusófonos: (i) com o Brasil, os contatos só estavam
numa fase inicial; (ii) com o Moçambique, em julho de 2017, uma delegação do
IDPAA e do AFAP visitou algumas das actividades dos projectos PROAQUA e
ProPesca no país. Em geral, a visita foi considerada útil, mas não levou a nenhum
plano de troca ou colaboração.
145. Finalmente, os mecanismos de governança e supervisão do projecto também
pareciam ser fracos. O Comité de Direcção ainda não se havia comprometido como
o verdadeiro órgão de decisão e supervisão da intervenção, e não havia
envolvimento formal ou informal ao nível central, de todos os ministérios nacionais
que deveriam apoiar as iniciativas de desenvolvimento comunitário
complementares aos investimentos no domínio da pesca e da aquicultura. Ambos
os elementos metiam em risco a eficácia de toda a iniciativa.
146. Alguns progressos no desenvolvimento da capacidade. Um resultado positivo
foi que a PCU realizou algumas sessões de formação para funcionários do IDPAA a
nível central e provincial, para membros da comunidade e para grupos de
pescadores, as quais foram apreciadas pelos participantes; além disso, a ONG
responsável pelo desenvolvimento da comunidade tinha sido contratada e já estava
realizando os estudos da linha de base das comunidades.82 Essas actividades
proporcionaram a oportunidade para o projecto começar a se envolver com as
partes interessadas nos diferentes níveis e identificar os grupos e comunidades
mais ativos e motivados. Para que a componente de desenvolvimento comunitário
tenha sucesso, no entanto, será necessária a colaboração efetiva de diferentes
ministérios e das organizações nacionais; estes não foram incluídos a partir da
concepção no Comité de Direcção do Projecto, e ainda não existia um plano
estruturado por o seu envolvimento.
82
O contrato foi adjudicado à ADPP-Angola, que tem uma sólida reputação e experiência em iniciativas de capacidade
e desenvolvimento comunitário, também com as comunidades ribeirinhas.
36
147. Duma forma geral, o projecto parecia operar sem ter uma direcção clara. O
Comité de Direcção não parecia estar comprometido em cumprir o seu papel. Ao
longo do tempo, a CPMT providenciou o apoio no âmbito da gestão, sobre questões
fiduciárias e técnicas, conforme confirmado por alguns funcionários da PCU do
AFAP. No entanto, medidas de apoio mais fortes eram necessárias no início do
projecto, considerando os riscos identificados em relação a estes aspetos no PDR; e
as dificuldades de recrutar pessoal competente para a PCU. Por exemplo, foram
realizadas três missões de supervisão do AFAP entre junho de 2016 e maio de
2017, mas somente em novembro de 2017, o especialista do FIDA em Pescas e
Aquicultura foi um dos membros da missão, embora ele mantinha-se em
correspondência com a PCU do AFAP sobre diversas questões.
148. Eficácia - Resumo. MOSAP I teve problemas de inicio lento e de gestão nos
primeiros anos de implementação. As suas metas foram atingidas além dos
objectivos revistos, mesmo se havíam sido estabelecidas em um nível cauteloso.
Os resultados eram visíveis e tangíveis nas comunidades e ao nível institucional,
mesmo se somente um número baixo de Escolas de Campo conseguiu a graduação
e a abrangência de actividades importantes como a alfabetização, ficou aquém das
necessidades. Em relação ao AFAP, os atrasos no arranque e a fraqueza na gestão
do projecto levaram a resultados menos que satisfatórios na hora da CSPE
momento. Com base nessas considerações, a CSPE decidiu avaliar a Eficácia dos
projectos como Moderadamente Satisfatória (4).
Eficiência
149. O critério de Eficiência avalia em que medida os recursos económicos (fundos,
experiência, tempo, etc.) são convertidos em resultados. Alguns dos parâmetros e
indicadores indiretos discutidos nesta secção são: (i) tempo intercorrido entre as
principais etapas; (ii) desembolsos; (iii) implementação e gestão de projectos; (iv)
custos de gestão; e (v) custo por beneficiário. Os empréstimos avaliados em
relação a todos ou alguns desses parâmetros foram: MOSAP I, já concluído; AFAP,
em curso no momento da CSPE; e SAMAP, executivo a partir de agosto de 2017.
150. A carteira dos projectos em Angola apresentou cenários mistos em termos de
intervalo de tempo entre aprovação e primeiro desembolso. A Tabela 8 mostra os
intervalos de tempo entre as etapas das fases iniciais de MOSAP I, AFAP e
SAMAP.83 Os motivos dos atrasos tiveram origem principalmente a nível nacional.
Tabela 8
Cronograma entre aprovação e primeiro desembolo (meses)
Da aprovação Da aprovação Da aprovação Da execução até o Da aprovação do
pelo Conselho nacional até do Conselho primeiro desembolso Conselho
Executivo do execução executivo do executivo do
FIDA à FIDA até a FIDA até o
aprovação execução primeiro
nacional desembolso
83
Desde a decisão do Conselho de Administração do FIDA no nível corporativo em maio de 2010, a data da
assinatura do contrato de empréstimo coincide com a data de "entrada em vigor" ou "execução".
37
151. O empréstimo do MOSAP I, uma vez aprovado pelo Conselho Executivo do FIDA, foi
assinado pelo Governo de Angola dentro de um prazo razoável. Posteriormente,
levou aproximadamente 19 meses para que o empréstimo se concretizasse; os
principais motivos de atraso foram os requisitos específicos do país, incluindo um
longo processo para obter a aprovação do Gabinete para contrato de empréstimo e
a publicação deste último no Diário da República. Outra causa foi o processo de
negociação sobre os termos de empréstimos entre o BM, o principal cofinanciador
do projecto, e o Governo. Além disso, as eleições legislativas realizadas em
setembro de 2008, pela primeira vez desde 1992, também afetaram a
disponibilidade de representantes oficiais do Governo durante as etapas finais do
processo.
152. Nos casos do AFAP e do SAMAP, o tempo entre a aprovação do empréstimo por
parte do Conselho Executivo e a execução foi significativamente reduzido, muito
abaixo da média regional para a região da ESA durante o mesmo período de
tempo. Isso foi possível graças às lições aprendidas com as experiências anteriores
e à existência de um Governo mais estável a nível local. No entanto, o AFAP sofreu
quase 11 meses de atraso entre a execução e o primeiro desembolso, devido a dois
motivos principais: as condições gerais para levantamento de dinheiro, conforme
estabelecido no Acordo de Financiamento do AFAP, não foram cumpridas; e não se
conseguiu identificar e recrutar em um curto prazo de tempo o pessoal-chave para
a Unidade de Coordenação do Projecto.
153. Em relação ao SAMAP, no momento da redação deste relatório (dezembro de
2017), a autorização para o primeiro desembolso acabava de ser concedida. O
principal obstáculo neste caso foi a ausência de profissionais suficientemente
competentes para o cargo de diretor financeiro, disponíveis para ser recrutados no
país.
154. Os desembolsos foram sistematicamente inferiores à média. O MOSAP I
desembolsou 87% (US$ 7,1 milhões) do empréstimo do FIDA. A implementação e
os desembolsos no âmbito da componente de apoio ao investimento agrícola,
foram afetadas por atrasos no atendimento das condições de desembolso, incluindo
o estabelecimento de valores de base para os principais indicadores de execução e
a finalização da recolha de dados necessários para orientar os investimentos dos
subprojectos. Um ano antes do encerramento, o projecto tinha gasto apenas 62%
dos fundos do FIDA. Durante o último ano de implementação, a PIU conseguiu
desembolsar 17% dos fundos totais do FIDA, graças a um intenso esforço para
estabelecer e apoiar as Escolas de Campo.
155. A Figura 3 a seguir mostra as taxas reais de desembolso do MOSAP I e do AFAP,
em comparação com as taxas médias de desembolso dos projectos do FIDA nos
mesmos sectores. No caso do MOSAP I, a taxa foi menos estável e a um nível
sistematicamente mais baixo do que o planeado. No caso do AFAP, o gráfico mostra
que o desembolso foi até agora em um nível inferior daquilo que foi planeado.
Apesar da taxa baixa, a qualidade geral das aplicações das regras de levantamento
do AFAP melhorou ao longo do tempo, o que permitiu que o projecto atingisse uma
entrega de quase 20% do total dos fundos do FIDA no final de novembro de 2017;
isto é discutido em mais detalhe mais adiante nesta secção.
38
Figura 3
Taxas de desembolso dos empréstimos do FIDA por projecto
120.00%
MOSAP I completion
100.00%
80.00%
MOSAP I (Actual)
60.00% AFAP (Actual)
AFAP completion
0.00%
Fonte: Business Intelligence / carteira de investimento do FIDA; Nota de Orientação do FIDA para Supervisão Aide-
Memoire.
39
160. Em relação ao AFAP, o PDR atribuiu 16% do custo total do projecto ao PMC. No
entanto, a missão de supervisão de novembro de 2017 descobriu que 64% do total
de fundos desembolsados até aquele momento havia sido gasto no componente de
gestão de projectos; isso, enquanto a execução a nível de campo do projecto
estava gravemente atrasada, como discutido anteriormente. A situação foi
reconhecida pela CPMT, que estava a discutir possíveis medidas de mitigação em
dezembro de 2017.
161. Custo por beneficiário maior do que planeado. No desenho, o MOSAP estimou
um custo por beneficiário de US$ 392. Na conclusão, após a revisão dos objectivos
e do orçamento do projecto, a ação teve um custo por beneficiário de US$ 627, ou
seja, 60% maior do que foi estimado. Esta foi uma consequência direta da
extensão do projecto de 1 ano e 8 meses e da redução significativa do número
planeado de beneficiários, que passou de 126,000 a 50,000. A mesma análise não
se conseguiu fazer para o AFAP no momento da CSPE, dado que estava nas
primeiras etapas da implementação.
162. Fatores Macroeconómicos. A desvalorização do Kwanza angolano em relação às
moedas internacionais teve e terá um impacto negativo nos custos tanto do MOSAP
I como do AFAP.84 No caso do AFAP, a taxa de inflação flutuante da moeda nacional
desde 2014 também pode afetar o poder de compra global do orçamento do
projecto.85 Além disso, os altos preços de bens e serviços nos mercados nacionais
estavam obrigando o AFAP a fazer mais compras no mercado internacional, a um
custo maior do que o inicialmente estimado.
163. Em síntese, apesar de algumas melhorias ao longo do tempo em algumas das
principais etapas da implementação, a carteira de projectos do FIDA sofreu atrasos
acima da média regional, no primeiro desembolso e no primeiro ano de
implementação. MOSAP I no final conseguiu alcançar resultados significativos na
sua conclusão, também graças a uma extensão de quase dois anos. No momento
da CSPE, era muito cedo para avaliar se o AFAP seria capaz de recuperar os atrasos
e talvez pode ser necessária uma extensão. As principais questões que afetaram a
eficiência de todo o portfólio e ainda correm o risco de fazê-lo no futuro, foram os
recursos humanos limitados no país para gerir os projectos, a desvalorização da
moeda nacional e as despesas excessivas dos custos de gestão de projectos
também devido aos atrasos na implementação. Consequentemente, a eficiência é
classificada como Moderadamente Não Satisfatória (3).
Impacto Rural da Pobreza
164. Esta secção analisa os impactos resultantes do MOSAP I em quatro âmbitos de
impacto da pobreza rural,86 com base em três fontes de evidência: entrevistas com
representantes das Escolas de Campo e associações de agricultores realizadas pela
CSPE durante a avaliação; o IES realizado em 2015 por um provedor de serviços
contratado pelo próprio projecto; e a Validação pelo IOE do Relatório de Conclusão
do Projecto.
165. Uma limitação na análise deste critério foi que o MOSAP I não recolheu nenhum
dado sobre as rendas, os activos e a segurança alimentar dos agregados familiares,
na linha de base ou durante a monitoria. Isso implica que o PCRV da IOE e este
84
O kwanza depreciou aproximadamente 45 por cento em relação ao dólar americano desde 2008; da AOA 74 em
janeiro de 2008 para AOA 166 em 26 de dezembro de 2017; fonte:
http://www.xe.com/currencycharts/?from=USD&to=AOA&view=10Y. acessado em 6 de janeiro de 2018. Além disso, no
início de janeiro de 2018, a Reuters, Bloomberg e a CNBC informaram que o AOA pode não estar vinculado ao US $.
Isso provavelmente levará a uma maior desvalorização da moeda nacional.
85
De uma taxa relativamente estável entre 12 e 15 por cento entre 2008 e início de 2016, a taxa de inflação atingiu
40% no final de 2016 e diminuiu para 26% em 2017. Fonte: https://tradingeconomics.com/angola/ inflação-cpi,
acessada em 6 de janeiro de 2018.
86
No FIDA, o impacto é definido como as mudanças ocorridas ou que se espera que ocorram na vida dos pobres
rurais, sejam positivos ou negativos, diretos ou indiretos, destinados ou não intencionais.
40
relatório tiveram que basear as análises e as conclusões sobre dados limitados e
anedóticos.
166. A informação anedótica indica um aumento nas rendas e nos activos dos
agregados familiares. A informação anedótica fornecida pelos membros das
Escolas de Campo à CSPE indicou que na maioria dos grupos, com poucas exceções
somente na Província do Huambo, uma parte da produção adicional obtida através
da aplicação das novas técnicas de cultivo e dos subprojectos de Mecanização foi
vendida nos mercados locais e permitiu o aumento das rendas das famílias.
167. Os valores mencionados relativos à parte de produção comercial acrescentada
variaram entre um terço e a metade, embora estes deveriam ser considerados
apenas como indicativos. Em alguns grupos, os membros das Escolas de Campo
relataram ter usado o rendimento adicional para melhorar as casas, incluindo a
compra de fogões a gás para cozinhar; e particularmente no âmbito da saúde e da
escola para as crianças.
168. A actividade principal que levou ao aumento das rendas foram as lavras
comunitárias que os grupos puderam pagar através dos subprojectos de
Mecanização. O esforço físico necessário para preparar novos campos é um grande
desafio se deve ser feito manualmente, considerando também a disponibilidade de
mão-de-obra local e a concorrência para a mesma nos períodos de pique nos
campos individuais. O apoio fornecido pelo MOSAP I de alugar serviços de
mecanização resolveu esse grande problema e permitiu que os grupos gerissem a
lavra comunitária juntamente com as lavras individuais durante toda a temporada
de cultivo. Normalmente, os membros do grupo declararam que o lucro líquido da
venda do produto foi parcialmente compartilhado entre os membros e parcialmente
reinvestido na lavra comunitária para a safra seguinte. Alguns grupos já haviam
investido na lavra comunitária para a multiplicação de sementes, que deveria ser
vendida a um preço melhor que a produção para o consumo alimentar.
169. Capital humano e social significativo e empoderamento. Os relatórios finais
do MOSAP I sobre a adesão às associações de agricultores sugeriram que a decisão
de operar exclusivamente através de associações já existentes e recentemente
estabelecidas e os grupos das Escolas de Campo levou à perceção, entre os
agricultores familiares, de que havia vantagens em juntar-se a um
grupo/associação. Isso poderia, no entanto, ser simplesmente uma estratégia
oportunista para obter acesso a bens e serviços, como aconteceu em projectos
anteriores.
170. As evidências anedóticas das entrevistas da CSPE, apoiadas por informações sobre
a sustentabilidade de associações e de grupos das Escolas de Campo, indicaram,
no entanto, um bom nível de compromisso com as associações, uma vez que a
adesão ofereceu uma oportunidade de aprender questões técnicas, discutir
questões comunitárias e desenvolver capital social. Ser membro de um grupo
respeitado na comunidade foi, por si só, um primeiro passo para o
empoderamento, particularmente para as mulheres membros. Alguns agricultores
foram formados para se tornar formadores mestres ou facilitadores mestres;
Ambos são cargos fundamentais na abordagem de extensão das Escolas de Campo
que abrem oportunidades de emprego, além de fortalecer os perfis dos líderes
tradicionais nas respectivas comunidades. Além disso, naquelas Escolas de Campo
que beneficiaram de cursos de alfabetização, todos os participantes passaram por
um processo significativo de capacitação individual que também levou a laços mais
fortes entre os membros.87
171. Os principais factores que influenciaram a adesão dos agricultores familiares foram
a utilidade, viabilidade e aceitabilidade da perspetiva técnica, económica e social,
87
IES, 2015.
41
das PAM e outros treinamentos. A presença relativamente baixa de jovens
agricultores entre os membros das Escolas de Campo parece refletir tanto o êxodo
da juventude masculina para os centros urbanos em busca de formas mais fáceis
de ganhar a vida, bem como a perceção de que a agricultura e aprender sobre ela
não seja uma actividade lucrativa para investir o próprio tempo. Estas são questões
que as intervenções individuais não conseguem resolver sozinhas; no entanto, um
projecto pode testar diferentes abordagens e oferecer diferentes serviços e
oportunidades, criando incentivos para que os jovens sejam envolvidos. Até agora,
no entanto, houve pouca preocupação com a juventude na implementação dos
projectos apoiados pelo FIDA em Angola.
172. Melhoria da segurança alimentar e da produtividade agrícola. Os relatórios
finais do MOSAP I indicam que o nível de produtividade da linha de base sugere
que, antes do projecto, muitos participantes produziam principalmente em níveis
de subsistência. De acordo com o IES, as melhorias do rendimento foram
suficientes para o milho, por exemplo, "permitindo que um agregado familiar de
cinco pessoas, conseguisse chegar a uma produção acima da subsistência". Os
dados do IES também mostraram que os rendimentos aumentaram entre
participantes e não participantes, embora o aumento para o último grupo tenha
sido muito baixo.
173. O Índice de Produção de Cultivos mostrou um aumento progressivo na
produção das quatro culturas-alvo. Este foi o indicador de impacto do MOSAP I
e forneceu uma medida agregada do aumento da produção de culturas em termos
reais. O Índice foi medido ao longo de três anos, com a produção 2011/12 utilizada
como ano base.88 Na conclusão em 2015, o IPC geral foi calculado em 166, ou
aumento de 66% em relação ao valor da linha de base. A diferença com o grupo de
controle foi significativa, principalmente devido à disponibilidade de insumos e de
assistência técnica. A Figura 4 do IES mostra a evolução do índice ao longo do
tempo.
Figura 4
MOSAP I Indicator do Impacto 'Aumento geral da produção de culturas’
174. A CSPE foi informada que praticamente todos os membros das Escolas de Campo
encontradas, aumentaram a produtividade e a produção agrícola através da adoção
88
O valor do denominador do índice.
42
de pelo menos algumas das técnicas melhoradas e a participação nos subprojectos
de Mecanização e de sementes. No entanto, as melhorias na produção estavam
longe de ser uniformes em todas as áreas de intervenção, com Escolas de Campo
em alguns distritos que tinham problemas em melhorar rendimentos devido à seca
e à deterioração gradual dos solos e sementes. O aumento da produção foi
utilizado tanto para o consumo doméstico, tendo um impacto direto positivo no
nível de segurança alimentar, como para o mercado, como já discutido.
175. No entanto, a CSPE observou que a concentração do MOSAP I em somente quatro
culturas, levou a desconsiderar as culturas de renda locais importantes, como o
abacaxi em algumas localidades, o que também poderia beneficiar de uma
abordagem das Escolas de Campo para melhorias no rendimento.
176. Impactos positivos nas instituições e políticas através da experiência bem-
sucedida do MOSAP I com a Escolas de Campo. Isto foi relatado como o
principal factor que levou à adoção da abordagem como o método nacional de
extensão agrícola. A Escola de Campo foi aplicada pela FAO em Angola através do
Programa Especial de Segurança Alimentar no início dos anos 2000, e
possivelmente por outras organizações também. No entanto, foi somente com o
MOSAP I que a metodologia foi ampliada até um nível que mostrou de forma
tangível a sua força no desenvolvimento das capacidades dos agricultores para o
aumento da segurança alimentar e da produção agrícola e no apoio ao
estabelecimento e fortalecimento de associações de produtores de pequena escala.
Sendo estes todos os principais objectivos do Governo de Angola, a decisão do IDA
de adotar as Escolas de Campo em todo o país pareceu muito relevante e coerente.
Além disso, o rigor na aplicação da abordagem da Escolas de Campo através do
MOSAP I tem sido notável e merece elogios.89
177. Com a abordagem das Escolas de Campo, o MOSAP I também visava melhorar a
qualidade do apoio e assistência técnica que os agricultores receberiam das
organizações governamentais relevantes. Os Escritórios de Desenvolvimento
Agrícola deviam liderar o sistema ao nível municipal (IDA / EDAs), o que
contemplaria um aumento no pessoal de campo, ou seja, supervisores de extensão
e oficiais que interagissem diretamente com os agricultores. Um total de 88
extensionistas do Governo participaram de treinamentos sobre técnicas de
produção melhoradas, metodologia da Escola de Campo, gestão, etc. Por sua vez,
os extensionistas que trabalhavam com grupos das Escolas de Campo, apoiaram os
agricultores no desenvolvimento de seus próprios conhecimentos e capacidade. No
processo, a abordagem das Escolas de Campo permitiu o estabelecimento de uma
sólida relação entre o sistema de extensão e os grupos de agricultores; os
extensionistas afirmaram que o próprio papel havia mudado gradualmente de ser
professor para ser facilitador.
178. Impacto na pobreza rural - resumo. As informações anedóticas indicam que os
membros das Escolas de Campo beneficiaram de um aumento na renda e activos
das próprias famílias, principalmente através do aumento da produtividade e da
produção das culturas e dos subprojectos de mecanização e sementes. De fato, o
MOSAP I superou os objectivos de produtividade estabelecidos para as quatro
culturas selecionadas. No entanto, a ausência de dados de base sobre rendas,
activos e segurança alimentar induz cautela ao tirar conclusões sobre os impactos
na pobreza rural. A participação em associações de agricultores e em grupos de
Escolas de Campo cresceu exponencialmente durante a implementação, e os
participantes desenvolveram as habilidades e capacidades em vários âmbitos. Ao
mesmo tempo, a abordagem das Escolas de Campo no MOSAP não conseguiu
incluir jovens nas associações de agricultores e empoderar as mulheres dentro das
89
Por exemplo, a adoção da abordagem de três ciclos para a graduação da ECAs, conforme previsto na concepção
original do ECAs, é, sem dúvida, dispendiosa, mas também é uma característica básica da metodologia, para alcançar
benefícios sustentáveis.
43
associações. Finalmente, os esforços de desenvolvimento de capacidade, através
da abordagem das Escolas de Campo para o pessoal de extensão, também
contribuíram para melhorar a capacidade das EDAs em oferecer melhores serviços
de extensão. Com base na evidência encontrada e na ausência de dados sólidos em
relação a alguns domínios de impacto, a CSPE classificou o impacto da pobreza
rural como Moderadamente Satisfatória (4).
Sustentabilidade dos benefícios
179. A sustentabilidade diz respeito à probabilidade de uma serie de benefícios gerados
de um projecto continuar após o encerramento. A CSPE analisou os seguintes
aspetos críticos da sustentabilidade: (i) institucional; (ii) económica e técnica; e
(iii) social.
180. Os esforços de desenvolvimento de capacidade na metodologia da Escolas de
Campo são considerados como um dos principais factores de sustentabilidade dos
resultados nos níveis comunitário e institucional. O pessoal do IDA beneficiou de
formações especificas sobre as Escolas de Campo, o que levou a resultados
sustentáveis nos diferentes níveis. A adoção da metodologia como uma abordagem
nacional de extensão agrícola também é um bom sinal para o futuro da Escolas de
Campo em Angola. O que resta ainda para ser visto é a capacidade e o empenho
do IDA em garantir recursos financeiros suficientes para a implementação
sustentada da abordagem, mesmo na ausência de apoio financeiro dos parceiros.
181. São necessárias políticas de apoio aos agricultores familiares para melhorar
de forma sustentável a produção. A sustentabilidade económica a longo prazo
dos resultados na produtividade e na produção dependerá em grande parte das
oportunidades que os agricultores terão de aceder aos mercados para a própria
produção, seja de matérias-primas que transformadas; de envolver-se em cadeias
de valor; e se isso gerará lucros suficientes para justificar os esforços adicionais
necessários para produzir um excedente. Nesse sentido, as políticas nacionais que
contribuam para tornar a agricultura um sector de emprego atraente são uma
necessidade absoluta, já que se devem abordar questões que vão desde a
disponibilidade de insumos, infraestruturas e serviços nas áreas rurais, até os
termos de troca reais entre as áreas urbanas e rurais, através da segurança da
propriedade da terra e o diálogo nacional sobre agricultura e agricultura familiar.
Ainda em 2017, as fracas cadeias de abastecimento do país e as distorções ao nível
comercial local, favoreciam as importações de alimentos, desencorajando a
produção dos agricultores familiares para o mercado. Em um ambiente deste tipo,
o aumento da produtividade e da produção nem sempre traz uma melhoria dos
rendimentos para os produtores familiares.
182. A CSPE também analisou os pontos de vista dos agricultores e dos funcionários do
projecto em relação à sustentabilidade dos subprojectos. Em geral, os participantes
consideraram que os subprojectos de mecanização e de sementes geravam rendas
suficientes para os grupos serem sustentáveis se o grupo tomasse a decisão de
continuar, mas a sustentabilidade para as outras categorias de subprojectos estava
muito pouco clara.
183. A sustentabilidade técnica das inovações introduzidas através da Escolas
de Campo foi desigual. O IES indicou que 61,5% dos participantes adotaram
alguns das PAM propostos. O intervalo variou de 100% da adoção do procedimento
de selecção de semente para as quatro culturas, à uma taxa quase de 30% ou
menos para o espaçamento das plantas, em particular nas lavras individuais dos
agregados familiares. O IES proporcionou várias questões sociais e económicas
como uma possível explicação, incluindo mais as normas de posse da terra. Sem
dúvida, isso pode afetar a adoção, mas pode haver outras causas, como a escassez
de mão-de-obra nos períodos mais intensos e a predisposição ao risco ou a falta de
insumos. A CSPE percebeu que os motivos dessas diferenças não foram
adequadamente analisados. Isso enfraqueceu os esforços do MOSAP I; e deixar de
44
aprofundar esses aspetos seria uma oportunidade perdida, para IDA e os novos
projectos, de aprender lições que possam abrir a estrada para impactos melhores e
mais sustentáveis.
184. Em fim, a sustentabilidade social das Escolas de Campo pareceu ser forte.
As informações disponíveis indicaram que as Escolas de Campo constituídas pelo
MOSAP I continuaram a funcionar apoiadas pelos oficiais de extensão local,
também quando o projecto chegou a conclusão em março de 2016 e antes do
lançamento do MOSAP II em abril de 2017. Contudo, as Escolas de Campo também
foram constituídas em províncias não abrangidas pelo projecto, por agentes de
extensão que foram formados pelo MOSAP I e desde então tinham passado para
outro município fora da área do projecto. O IES também evidenciou que o
mecanismo de extensão de agricultor para agricultor foi fundamental para difundir
informações sobre PMA nas comunidades.
185. Sustentabilidade dos benefícios - resumo. O principal factor de
sustentabilidade no MOSAP I foi a implementação rigorosa e em larga escala da
abordagem das Escolas de Campo, que levou à adoção do método como uma
metodologia nacional de extensão agrícola. A sustentabilidade também pareceu
forte no nível social. Serão necessárias mais análises para assegurar que as PAM
propostas atendam aos requisitos básicos para a sustentabilidade técnica e
económica, já que nem todos foram adotados com o mesmo nível de satisfação,
em particular nas lavras individuais. Finalmente, os resultados e o impacto
positivos em termos de produtividade e produção não durarão muito tempo, na
ausência de um ambiente político favorável e incentivos que apoiem a agricultura
familiar e o desenvolvimento sustentável agrícola e rural. No total, as três
dimensões da sustentabilidade para o MOSAP I são avaliadas como
Moderadamente Satisfatórias (4).
45
encontraram um benefício e decidiram adota-las nas lavras comunitárias. A CSPE
decidiu assim avaliar a inovação como Satisfatória (5).
Expansão
191. A expansão analisa como os resultados do projecto foram ou serão ampliados por
organizações governamentais com recursos próprios, doadores, sector privado e
outras agências.
192. MOSAP I foi o principal meio para a adoção da Escolas de Campo como um
sistema de extensão nacional. Até o final de 2017, a metodologia estava sendo
adotada por várias iniciativas em curso do BM (MOSAP II) e da FAO. Os
empréstimos recentemente aprovados do FIDA para SAMAP e ARP nas províncias
do sul do país, também contribuirão para a sua difusão, juntamente com o Fundo
da União Europeia de Fortalecimento da Resiliência e Segurança Alimentar e
Nutricional em Angola a ser implementado nas províncias do sul do país. Além
disso, foi mencionado que um próximo grande projecto apoiado pelo Banco
Africano de Desenvolvimento destinado ao desenvolvimento rural em Cabinda,
adotou a abordagem das Escolas de Campo para a componente de
desenvolvimento agrícola.
193. O IDA confirmou também o compromisso de replicar as Escolas de Campo em todo
o país e já havia dado passos nesta direcção, deslocando extensionistas formados
através do MOSAP I na metodologia das Escolas de Campo, para províncias
actualmente não apoiadas pelos projectos, para expandir a cobertura. Além disso,
o IDA estava colocando extensionistas adicionais para as EDAs onde todas as
intervenções financiadas pelo BM e pelo FIDA funcionariam.
194. No entanto, não estava claro se o Ministério da Agricultura e o IDA já haviam
atribuído recursos financeiros suficientes para assegurar a implementação rigorosa
das Escolas de Campo nas áreas não relacionadas ao projecto. Esta é uma questão
crítica: para que as Escolas de Campo sejam efetivas, como qualquer outro método
de extensão, são necessários recursos financeiros e humanos adequados. Se estes
não estiverem disponíveis, os resultados serão aquém das expectativas.
195. Expansão – Resumo. A metodologia das Escolas de Campo estava sendo
ampliada por várias intervenções até o final de 2017, graças à decisão do
Ministério da Agricultura e do IDA de tornar nacional o sistema de extensão oficial.
Não obstante, no momento da CSPE, a capacidade e o compromisso do IDA e do
MINAGRI para investir sistematicamente os próprios recursos para a
implementação da abordagem da Escolas de Campo em todo o país, ainda não
estivessem assegurados. A CSPE decidiu assim avaliar a expansão como
Moderadamente Satisfatória (4).
Igualdade de Género e Empoderamento das Mulheres
196. Esta secção analisa a medida em que o COSOP de 2005, a Nota da Estratégia do
País, o MOSAP I e os passos iniciais do AFAP até agora, contribuíram para melhorar
a igualdade de género e o empoderamento das mulheres e para alcançar os
Objectivos Estratégicos da Política de Género do FIDA, indicados a seguir:90
Objectivo estratégico 1: Promover o empoderamento económico para permitir
que mulheres e homens rurais tenham a mesma oportunidade de participar e
beneficiar de actividades económicas lucrativas;
Objectivo estratégico 2: permitir que mulheres e homens tenham igual
espaço de participação e influência nas instituições e organizações rurais;
90
Política de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres do FIDA, 2012.
46
Objectivo estratégico 3: alcançar um equilíbrio mais equitativo na quantidade
de trabalho e na partilha de benefícios económicos e sociais entre mulheres e
homens.
197. O COSOP de 2005 e a CSN integraram uma boa referência às mulheres
como grupo prioritário para o FIDA. O COSOP de 2005 também mencionou a
necessidade de aumentar o acesso das mulheres à extensão agrícola e à terra,
entre outros serviços e recursos. As mulheres rurais e os agregados familiares
chefiados por mulheres foram identificados entre os grupos mais vulneráveis e
prioriritários para a inclusão nos projectos do FIDA; e as linhas de base na
perspetiva de género e os estudos dos meios de subsistência foram identificados
como elementos de base para todas as intervenções, para assegurar uma
focalização adequada. O Quadro Lógico do COSOP também incluiu o indicador de
"número de grupos com líderes femininos" e vários indicadores deviam ser
desagregados por género. O CSN não elaborou mais questões sobre a participação
das mulheres e da igualdade de género, apoiando-se assim ao foco do COSOP.
198. Mas nenhum dos documentos referia-se ao empoderamento das mulheres
entre os objectivos a serem perseguidos, embora as referências ao acesso das
mulheres à terra também impliquem elementos de empoderamento. Muito
provavelmente, nenhum COSOP do FIDA formulado em 2005 incluia o
empoderamento das mulheres como objectivo. No entanto, a CSN perdeu a
oportunidade de completar esta lacuna e destacar a importância da igualdade de
género como enfoque estratégico do FIDA desde 2012.
199. Uma forte participação feminina no MOSAP I. Os dados de conclusão do
projecto indicaram que 56% dos membros das Escolas de Campo foram mulheres e
que 43% dos agricultores que "adotaram uma tecnologia agrícola melhorada
promovida pelo projecto" também foram mulheres. O mesmo relatório indicou que
o nível elevado de participação feminina nas Escolas de Campo foi provocado pelos
esforços específicos dos líderes comunitários em envolver famílias chefiadas por
mulheres e a permissão que se registrasse mais de um membro da mesma família
no grupo da Escola de Campo. Outro motivo importante foi que, na divisão
tradicional do trabalho de género em Angola, as mulheres têm uma forte
responsabilidade na produção agrícola e devem ser envolvidas quando o objectivo
é aumentar as competências e habilidades dos agricultores familiares.
200. Embora o PDR tivesse afirmado com bastante firmeza a necessidade de uma
abordagem sensível ao género para o desenvolvimento das capacidades e que a
formação sobre género e a conscientização fizessem parte do currículo a nível
institucional e comunitário, o projecto não desenvolveu uma abordagem diferente
ou actividades para enfrentar os desafios ou os problemas específicos das mulheres
agricultoras e membros das Escolas de Campo.
201. Uma possível razão para as lacunas do MOSAP I nesta importante área de trabalho
foi a falta de um especialista em género na PIU e nas Unidades Provinciais de
Implementação de Projectos (PPIUs). A presença de especialistas em
desenvolvimento comunitário, todos de sexo masculinos, não permitiu dedicar uma
atenção suficiente às questões de igualdade de género e aos esforços específicos
para o empoderamento das mulheres. Em geral, o facto de que a maioria dos
participantes nos grupos fossem mulheres era tão positivo quanto suficiente. A este
respeito, o facto de que nenhum dos projectos avaliados inclui um perfil
profissional específico nas respectivas PCU/PIU levanta dúvidas sobre a capacidade
futura desses projectos de abordar adequadamente a igualdade de género e o
empoderamento das mulheres.
202. Fases iniciais do AFAP. O PDR afirmou que todos os indicadores e dados nas
linhas de base deveriam ser desagregados por género e estabeleceu metas de 30%
das mulheres entre os participantes. O documento também analisou o papel das
mulheres na pesca artesanal de água doce, principalmente nas fases de
47
processamento e comercialização. As actividades previstas, destinadas a melhorar
as práticas e técnicas pós-colheita, também através do aumento do desembarque
de peixes e das infraestruturas de mercado, deveriam beneficiar as mulheres,
aumentando a qualidade dos produtos que controlam diretamente. Além disso, a
componente de Desenvolvimento Comunitário deveria beneficiar as mulheres, por
exemplo através da conscientização sobre questões de género, educação
nutricional e alfabetização. A este respeito, as ligações que devem ser consideradas
como relevantes são com o MASFAMU e a Organização da Mulher Angolana (OMA)
a nível local. O PDR também sugeriu que todos os materiais de formação de
projectos deveriam ser revisados por um especialista em género para garantir que
sejam imparciais em termos de género; e que a equipa de funcionários da PCU
deve ser equilibrada em termos de género.
203. O AFAP tem, de facto, o potencial para abrir oportunidades de geração de renda e
mitigação da pobreza para as mulheres envolvidas na aquicultura, no
processamento e comercialização dos peixes. No momento da CSPE, não se
esperava nenhum produto nem resultado, embora a proporção de mulheres
membros nos grupos já estabelecidos deveria estar por volta de 20%. O estudo
planeado sobre "Compreender a situação de famílias chefiadas por mulheres
vulneráveis nas comunidades de pescadores" estava quase a ser finalizado e devia
fornecer informações sobre as estratégias de subsistência deste grupo social e
contribuir para identificar as actividades mais efetivas para atender às suas
necessidades específicas.91
204. Alguns resultados positivos para melhorar o acesso das mulheres e a
apropriação de bens, recursos e serviços. Não há dúvida de que o MOSAP
aumentou consideravelmente o acesso das mulheres rurais participantes a um
melhor serviço de extensão agrícola, através da implementação rigorosa da
abordagem da Escola de Campo. Além disso, promovendo a adoção da metodologia
pelo IDA como a abordagem de extensão nacional, abriu-se o caminho para a
possibilidade de que as mulheres agricultoras além das áreas de intervenção do
projecto possam eventualmente se beneficiar também de um melhor acesso a
melhores serviços de extensão agrícola. As agricultoras participantes também se
beneficiaram de rendimentos mais altos através do aumento da produção e da
produtividade desencadeada pela adoção das PMAs; e isso levou, em alguns casos,
a melhorar os activos familiares, tais como melhorias habitacionais e compra de
pequenos animais.
205. Resultados limitados na melhoria da participação na tomada de decisões. A
atenção limitada às questões de género no MOSAP I levou a desequilíbrios de
género na liderança das associações de agricultores. Em média, nas três
províncias, e apesar das mulheres serem a maioria dos membros, apenas 10,5%
dos líderes das associações eram mulheres, incluindo os tesoureiros. As líderes
femininas tendiam a ser chefes de famílias e o IES observou que "as esposas, ou
as mulheres em casamentos convencionais, podem ter pouca chance de ocupar
posições de liderança".
206. Uma nota positiva a este respeito foi que as mulheres tomaram ou receberam
assento nos comitês de selecção e aprovação de subprojectos e que, em alguns
casos, membros femininos influenciaram o grupo na escolha do subprojecto. A
CSPE, no entanto, deparou-se com evidências contraditórias em termos da
capacidade de membros femininos da Escolas de Campo para conseguir expressar
a própria opinião nos grupos; e isso provavelmente poderia acontecer também ao
nível dos comitês de selecção.
207. As formações de alfabetização e numeração foram um passo positivo para
o empoderamento das mulheres, já que as mulheres tendem a ter níveis mais
91
A CSPE nao teve acesso ao rascunho do relatorio do estudo.
48
baixos de alfabetização do que os homens; ainda assim, esta também foi planeada
como uma actividade imparcial em termos de género e, em qualquer caso, apenas
alguns grupos das Escolas de Campo foram alfabetizados com o MOSAP I. O
pessoal do projecto mencionou o acesso à alfabetização como uma das principais
mudanças na vida dos participantes, em particular para as mulheres, através da
autoconfiança e do empoderamento que a alfabetização cria nas pessoas e também
nos grupos. É importante notar que também o AFAP, o SAMAP e o ARP aprovados
recentemente, incluem cursos de alfabetização entre as actividades planeadas.
208. Alguns resultados positivos na melhoria do equilíbrio da carga de trabalho
e o acesso aos benefícios entre homens e mulheres. A actividade no MOSAP I
que abordou plenamente a necessidade prática típica das mulheres foram os
subprojectos de moagem, graças aos quais as mulheres puderam economizar o
próprio tempo e a energia, normalmente dedicadas ao processamento laborioso da
mandioca. No total, foram financiados 30 subprojectos de moagem, de 257
subprojectos, embora nem todos ainda fossem operacionais no hora de conclusão
do projecto. O funcionamento das moageiras teve um resultado positivo direto em
dar mais tempo livre as mulheres, que poderia ser usado para outras actividades,
ou simplesmente um horário de trabalho mais curto. Alegadamente, algumas
associações escolheram esses subprojectos exatamente porque estavam
conscientes dos impactos positivos sobre a vida das mulheres.
209. Equilíbrio variável de género na dotação de projectos. Tanto o MOSAP I
quanto o AFAP tinham e têm mulheres nas funções de coordenação de projectos, o
que sugere que em Angola as mulheres profissionais possuem o nível de
competência necessário para liderar as intervenções apoiadas pelo FIDA. Além
disso, a PCU do AFAP incluiu como membros femininos o especialista em tecnologia
das pescas, o contabilista e o assistente administrativo. Entre os 11 extensionistas
recrutados pelo projecto, dois eram mulheres. Em relação ao MOSAP I, não havia
dados detalhados, mas a CSPE observou que, nas três PPIUs, nenhuma mulher
havia sido recrutada em cargos técnicos ou de coordenação. A CSPE reconhece que
as dificuldades já mencionadas no recrutamento de pessoal competente para a PCU
e para os cargos de extensionista de pescas, não devem ser ainda mais
complicadas por um enfoque no equilíbrio de género para o pessoal; e a
prevalência de profissionais de sexo masculino nos sectores agrícola e pesqueiro é
muito comum em todo o mundo.
210. Igualdade de género e capacitação das mulheres - síntese. A tradicional
divisão de género do trabalho nas áreas rurais de Angola em pequenos agregados
familiares agrícolas parece ser o principal factor que define a alta taxa de
participantes de mulheres no projecto. O número mais reduzido de mulheres
membros nos grupos do AFAP até agora, parcialmente confirmou isso. No entanto,
a adoção de uma abordagem rigorosa às Escolas de Campo como sistema nacional
de extensão agrícola em Angola prepara o caminho para um melhor acesso das
mulheres, e dos homens, à serviços melhores. Por outro lado, além de algumas
iniciativas específicas destinadas a atender às necessidades práticas das mulheres
agricultoras, como os subprojectos de moagem e, até certo ponto, os cursos de
alfabetização, as intervenções apoiadas pelo FIDA não se dirigiram
sistematicamente às questões específicas ou as necessidades estratégicas das
mulheres, nem promoveram a participação e inclusão de mulheres na posição de
liderança nas associações de agricultores. A ausência de especialista sobre género
nas equipas PIU / PCU pode ter contribuído ao fraco desempenho no apoio às
mulheres em pelo menos melhorar o papel na tomada de decisões. A CSPE
classifica a igualdade de género e o empoderamento das mulheres como
Moderadamente Satisfatória (4).
49
Gestão do meio ambiente e dos recursos naturais
211. Nível razoável de integração no projecto de projecto. O primeiro projecto do
MOSAP I incluiu um Quadro de Gestão Ambiente e Social (ESMF). Isso foi
actualizado em julho de 2012 para adicionar novas medidas de mitigação,
incluindo, entre outros, disposições para manter um certo número de árvores ao
abrir terrenos florestais para uso agrícola, proibição de uso de pesticidas e
herbicidas, proteção de fontes de água. A aprovação de subprojectos seguiu os
procedimentos estabelecidos, com base na verificação de potenciais impactos
ambientais; medidas de mitigação ou acções que devem ser incluídas em caso de
impactos negativos e significativos. Além disso, os subprojectos com impacto
positivo no meio ambiente, como o controle da erosão e a reflorestação, foram
considerados como de alto valor público e obtiveram um índice de financiamento
estabelecido em 90% de contribuição do projecto e 10% de contribuição dos
beneficiários.
212. Execução e resultados limitados. Na prática, a gestão ambiental no MOSAP I
sofreu a falta de recursos humanos e capacidade técnica, já que o projecto tinha
apenas um assistente ambiental a nível provincial. Consequentemente, as práticas
sustentáveis de gestão de recursos naturais não foram bem incorporadas nas
actividades planeadas e no currículo das Escolas de Campo. A CSPE observou uma
perceção e conhecimento limitado e não claro sobre estas questões entre os
membros das Escolas de Campo. Apesar disso, os agricultores, geralmente,
apresentaram preocupações com a diminuição dos recursos hídricos, precipitações
inconstantes e diminuição da fertilidade do solo. Ainda, em uma província, um
funcionário de extensão estava a encorajar práticas ambientais sustentáveis, como
o uso de leguminosas e da compostagem para melhorar a fertilidade do solo, a
produção local e o uso de pesticidas orgânicos e aumentando assim a
conscientização sobre os benefícios ambientais dessas técnicas. Porém, este foi o
resultado de uma iniciativa pessoal, ao invés de uma abordagem em todo o
projecto. Além disso, o MOSAP não estava levando em consideração que
determinadas áreas cultivadas são mais vulneráveis do que outras e podem exigir
diferentes medidas de cultivo para evitar a erosão do solo, por exemplo o cultivo
em curvas de nível.
213. Gestão do meio ambiente e dos recursos naturais - resumo. Os riscos
ambientais ligados à implementação do projecto foram considerados geralmente
limitados, em consideração da pequena escala das técnicas de cultivo propostas ao
nível local, que não criaria impactos negativos cumulativos. No entanto, o aumento
da utilização de mecanização e fertilizantes pode induzir a degradação do solo em
áreas tropicais mesmo em pequena escala; e se este for o modelo tecnológico
proposto em todo o país, os impactos negativos não tardarão a aparecer. Além
disso, o projecto tinha recursos humanos e capacidade técnica limitada para
abordar questões ambientais e não enfrentou adequadamente problemas
significativos como a escassez de água, a fertilidade do solo e a variedade dos
métodos de fertilizantes propostas. Com base no que dito acima, a CSPE decidiu
classificar este critério como Moderadamente não Satisfatória (3).
Adaptação às Mudanças Climáticas
214. Adaptação às Mudanças Climáticas não era diretamente um interesse do
MOSAP I, já que no momento da formulação a questão não era ainda uma
prioridade. Desde então, entretanto, as mudanças climáticas começaram a afetar
seriamente a regularidade das precipitações também no Planalto Central de
Angola, com impacto direto na produção agrícola. Não havia evidências de que o
projecto tivesse dedicado atenção a identificar práticas que pudessem aumentar a
resiliência das culturas e dos sistemas agrícolas às consequências das mudanças
climáticas.
50
215. Por outro lado, o PDR do AFAP incluiu no Produto 1.1, o "Fortalecimento da
capacidade institucional para abordar questões sobre mudança climática" e fez
referência à “vulnerabilidade à mudança climática e avaliação de risco a serem
realizadas em todas as comunidades-alvo”. No entanto, a actividade não foi
mencionada na AWPB 2016/17, nem na actualização sobre o progresso do projecto
disponibilizado a CSPE, devido a dificuldades em identificar um fornecedor de
serviços adequado.
216. Mudanças Climáticas – Resumo As mesmas fraquezas identificadas em relação
à Gestão Ambiental e de Recursos Naturais afetaram a potencial integração das
medidas de adaptação às mudanças climáticas. Com base no que foi dito acima, a
CSPE decidiu classificar este critério como Moderadamente não Satisfatório
(3).
Coerência com as Lições Aprendidas
217. Esta é uma análise ad hoc, utilizada nesta CSPE para responder à questão de
avaliação, sobre como foram integradas as lições aprendidas da implementação dos
projecto do MOSAP I com os dois projectos recentemente aprovados, SAMAP e ARP.
218. As várias partes interessadas do MOSAP I, incluindo o Banco Mundial, o Governo e
o FIDA, identificaram uma série de lições aprendidas, muitas das quais foram
integradas nas novas iniciativas. Os parágrafos a seguir analisam a forma como os
principais problemas foram levados em consideração.
219. SAMAP e ARP adotarão a metodologia das Escolas de Campo, e a Escola de
Campo continuará a ser a principal plataforma de interação entre os agricultores e
o projecto/serviço de extensão, através da qual o desenvolvimento da capacidade e
os investimentos serão canalizados. A FAO continuará a ser o provedor de serviços
na metodologia das Escolas de Campo, para SAMAP, ARP e MOSAP II e isso
garantirá que as melhorias, as inovações e as lições aprendidas sejam facilmente
compartilhadas em todos os projectos. Isto está totalmente em linha com a licção
aprendida de que a Escola de Campo demostrou ser "uma plataforma eficaz para
organização e capacitação de agricultores" e a adesão às Escolas de Campo oferece
acesso aos agricultores, suporte social e técnico; e o desenvolvimento de
capacidade dos agricultores familiares é fundamental para aumentar a
sustentabilidade.
220. Mais atenção no empoderamento das mulheres. As fraquezas da participação
das mulheres em cargos de liderança foram notadas como uma licção aprendida e,
portanto, tanto o SAMAP como o ARP propõem que o Sistema de Aprendizagem de
Ação de Género (GALS) seja implementado, para apoiar abordar as preocupações
de igualdade de género e contribuir para o empoderamento das mulheres. Este é
um passo positivo, que exigirá recursos suficientes e compromisso para avançar.
221. Integração do desenvolvimento da cadeia de valor. As partes interessadas do
FIDA entenderam que o comércio e o desenvolvimento da cadeia de valor deveriam
ser integrados nos novos empréstimos. Por conseguinte, o SAMAP, de forma
semelhante ao MOSAP II, terá uma componente importante no desenvolvimento da
cadeia de valor e um consultor internacional deve ser recrutado para implementá-
lo. Espera-se que o SAMAP também considere que o financiamento de subprojectos
deve ser orientado à exigência de garantir a sustentabilidade, como a experiência
no MOSAP I sugeriu fortemente.
222. Gestão sustentável dos recursos naturais e adaptação às mudanças
climáticas bem integrada em novos projectos. Com base nas entrevistas e nas
observações, a CSPE também identificou como uma licção aprendida, a
necessidade de integrar completamente no currículo da Escolas de Campo a gestão
sustentável dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas. De facto,
tanto o SAMAP quanto o ARP consideraram, em grande parte, a necessidade de
integrar em todas as actividades de investimento e de desenvolvimento de
51
capacidade, a atenção forte às questões ambientais, à gestão sustentável dos
recursos naturais e à adaptação às mudanças climáticas.
223. Atenção limitada as questões de gestão de projecto. Por outro lado, algumas
das lições aprendidas eram relacionadas com a gestão de projectos. Estas
variavam entre a necessidade de assegurar o recrutamento rápido de pessoal
responsável; o recrutamento, a gestão fiduciária e a monitoria; a observação de
que uma implementação efetiva requer uma boa administração e supervisão
intensiva, incluindo sistemas de monitoria funcionais e adequados.
224. A análise da CSPE não encontrou detalhadamente evidências de que essas e outras
questões, como aquelas relativas à importância das abordagens participativas para
garantir a sustentabilidade a longo prazo, tivessem sido suficientemente
consideradas nos PDRs, embora as lições aprendidas no SAMAP e no ARP sejam
facilitadas pelos seguintes factores:
(a) O MOSAP II financiado pelo BM foi amplamente formulado com as
contribuições da PIU do MOSAP I e um número significativo de funcionários
do MOSAP I foram mantidos nas UIP / PPUUs do MOSAP II, incluindo, o mais
importante, o Coordenador do Projecto. Assim, uma grande quantidade de
conhecimento passou de forma direta de um projecto para outro;
(b) SAMAP foi projetado para ser implementado em paralelo, embora em
diferentes províncias, com o MOSAP II;
(c) IDA será a direcção e organização nacional responsável para MOSAP II,
SAMAP e ARP; e IDA e FIDA concordaram que o SAMAP e o ARP terão apenas
uma PIU central, apoiada por PIU provinciais em cada província. Isso
permitirá interações imediatas e coordenação nas três intervenções sobre
questões técnicas, de gestão e administrativas. Além disso, a coordenação e
a colaboração serão reforçadas através do acordo eficaz decidido entre a IDA,
o Banco Mundial e o FIDA, que a PCU e a PIU estarão na mesma sede em
Luanda.
52
de profissionais experientes a nível nacional, na gestão do desenvolvimento e em
algumas áreas técnicas fundamentais.
227. Levando em consideração o que foi referido acima e a análise de todos os critérios
de avaliação, a realização geral da carteira dos projectos é classificada como
Moderadamente Satisfatória (4). A Tabela 9 fornece um resumo das pontuações
da carteira, enquanto os detalhes por projecto são apresentados no anexo II.
Tabela 9
Avaliação da implementação da carteira de projectos
Critérios CSPE pontuação
53
Pontos-chave
As estratégias e os objectivos do FIDA foram alinhados com aqueles do Governo
tocando questões cruciais nas áreas mais vulneráveis do Planalto Central. Os projectos
do FIDA também foram altamente relevantes para as necessidades das famílias rurais
pobres e de acordo com as estratégias do Fundo. O desenho dos projectos não foi
optimal, em particular para o AFAP e para algumas componentes do MOSAP I. Em
ambos os casos, as fraquezas dos desenhos afetaram, e provavelmente afectarão, os
resultados dos projectos.
O MOSAP I produziu resultados tangíveis para os agricultores participantes, também
através da adoção rigorosa do modelo da Escola de Campo de Agricultor como método
de extensão. Os agricultores pobres que se juntaram às Escolas de Campo,
beneficiaram de aumentos na renda e nos activos das famílias, através da melhoria da
produtividade e da produção das culturas e dos subprojectos de mecanização e
sementes. A participação em associações de agricultores e em grupos das Escolas de
Campo cresceu exponencialmente durante a implementação e os membros
desenvolveram habilidades e capacidades em vários âmbitos. O esforço de
desenvolvimento de capacidade do pessoal de extensão levou à melhoria da entrega de
serviços de extensão agrícola. Menos eficaz foi a atuação para incentivar os jovens a se
engajarem na agricultura.
Os resultados positivos do MOSAP I na aplicação da abordagem das Escolas de Campo
levaram à adoção do método como uma metodologia nacional de extensão agrícola. A
sustentabilidade da abordagem também pareceu forte no nível social. A
sustentabilidade técnica, económica e social de algumas PMAs não foi totalmente
satisfatória, em particular nas lavras familiares dos agricultores. Os resultados positivos
e os impactos em termos de produtividade e produção estão no risco, na ausência de
um ambiente político propício e de incentivos que apoiem a agricultura familiar e o
desenvolvimento agrícola e rural de forma sustentável.
A carteira de projectos do FIDA sofreu atrasos acima da média regional, no primeiro
desembolso e durante o primeiro ano de implementação. Os projectos até agora
também excederam nos custos de gestão. As principais causas foram os recursos
humanos limitados no país para gerir as intervenções, os atrasos na implementação e
as fraquezas na preparação inicial do orçamento. A desvalorização da moeda nacional e
os altos níveis de inflação também reduziram as alocações orçamentárias iniciais.
No momento da CSPE, o AFAP estava em atraso na execução ao nível comunitário; as
iniciativas que haviam sido lançadas recentemente implicavam um risco de investimento
para os participantes e um risco de reputação para o FIDA.
O MOSAP I contribuiu com inovações importantes para Angola, as Escolas de Campo
como método de extensão agrícola participativa e uma série de Práticas de Agricultura
Melhoradas que os membros das Escolas de Campo encontraram benéficos e foram
adotadas nas lavras comunitárias. A continuação de ambos dependerá do compromisso
do IDA em encontrar recursos financeiros para implementar a abordagem da Escolas de
Campo a nível nacional e na identificação dos problemas que impedem a adoção de
algumas PAMs nas lavras familiares dos agricultores.
As mulheres participaram ativamente no MOSAP I, a causa dos papéis tradicionais de
género em Angola na agricultura, e beneficiaram de várias actividades. A ausência de
um especialista em género na PIU provavelmente impediu que tivessem esforços
dedicados para atender às necessidades das mulheres e prosseguir com uma estratégia
para o empoderamento das mulheres. Uma situação semelhante pode ocorrer nos
projectos em curso e nos novos.
O MOSAP I não integrou adequadamente a gestão sustentável do meio ambiente e dos
recursos naturais no currículo e na implementação das Escolas de Campo, nem tomou
nenhuma medida para adaptar os padrões de cultivo ao quadro climático em mudança.
Muitas das lições aprendidas através do MOSAP I foram devidamente levadas em
consideração no desenho dos projectos SAMAP e ARP.
54
III. Actividades não relacionadas a empréstimos
228. Esta secção avalia o desempenho do FIDA em Angola na realização de actividades
não relacionadas a empréstimos, nomeadamente a gestão do conhecimento, a
construção de parcerias e o diálogo sobre políticas a nível do país. No contexto da
gestão do conhecimento, também são discutidos os sistemas de monitoria de
programas e projectos. Cada área foi analisada e foi classificada de forma
quantitativa separadamente; também foi preparada uma classificação consolidada
final. Além disso, é apresentada uma visão geral das doações nacionais do FIDA
implementados em Angola no período 2005-2017.
A. Gestão do Conhecimento
229. A gestão do conhecimento exige uma boa compreensão de como o conhecimento
pode ser criado, o que é um produto de conhecimento e como este difere de um
produto de comunicação; bem como habilidades específicas, competências e
recursos. Também requere dados suficientes e apropriados gerados pelos sistemas
de monitoria, que devem ser relevantes e confiáveis.
230. Licções aprendidas de um projecto para outro. O COSOP de 2005 identificou
as licções do PRODECA e do PESNORTE em curso, a serem considerados na
concepção de projectos para novos empréstimos; e previu sistemas de monitoria
baseados em projectos para as novas iniciativas. Este mecanismo de aprendizagem
de lições implícito parecia logico, quando só um projecto estava sendo
implementado de cada vez e as lições podíam ser geradas a tempo para um novo
projecto. No entanto o mecanismo não foi muito eficiente numa situação de alta
rotatividade dos CPMs/CD e pouca atenção ao desenvolvimento de uma memória
institucional.
231. Além disso, o COSOP incluiu financiamentos para uma série de pequenas doações
autónomas, através das quais estudos ou pequenas iniciativas de pesquisa-ação
deviam ser realizadas e contribuir para a construção de uma base de conhecimento
sobre vários aspectos do desenvolvimento rural. A CSPE não encontrou nenhuma
referência aos resultados dessas doações no PDR do MOSAP I; no entanto, isso não
exclui a possibilidade de que isso tinha acontecido de manera informal.
232. O MOSAP I desenvolveu o próprio sistema de monitoria, com indicadores comuns e
metas anuais específicas a nível provincial; os dados foram coletados, analisados e
depois consolidados pela PIU central. No entanto, como o antigo Coordenador do
Projecto reconheceu, os dados assim gerados não foram sistematicamente
utilizados como ferramenta de gestão e para gerir o conhecimento, o que
prejudicou a aprendizagem de licções, não obstante a experiência adquirida. Além
disso, o MOSAP I estabeleceu o próprio objectivo ao nível do aumento da produção
e não previu medir, em nenhum momento, indicadores de impacto a um nível
maior, tais como os níveis de renda e a maior disponibilidade de alimentos nos
agregados familiares participantes. Isso impediu ter evidências sobre, por exemplo,
redução da pobreza e segurança alimentar.
233. No entanto, o MOSAP I gerou várias licções, e a CSPE observou um bom grau de
gestão implícita do conhecimento, através da sua integração no desenho do SAMAP
e ARP. Ambos os PDRs também fizeram referência detalhada à monitoria e à gestão
de conhecimento. Entretanto, as lições aprendidas com o MOSAP I sobre o início
demorado do projecto e os desafios nesta fase não foram adequadamente
aplicados ao AFAP, perdendo a oportunidade para o FIDA de exercer um papel mais
forte e apoiar de maneira mais intensiva ao nível da gestão e do apoio técnico.
234. Durante a CSPE, o sistema de monitoria do AFAP ainda era na fase inicial; e a ONG
contratada para as actividades de desenvolvimento comunitário estava ainda
recolhendo os dados da linha de base nas comunidades selecionadas. A CSPE não
teve a oportunidade de verificar se os dois sistemas seriam alinhados um ao outro
55
e incluirão dados que serão úteis sucessivamente, inclusive para fins de gestão do
conhecimento e diálogo político.
235. Próximos desafios com uma carteira de projectos mais ampla. A este
respeito, a carteira de projectos actualmente ampliada apoiada pelo FIDA em
Angola exigirá esforços específicos nas diferentes intervenções, em termos de:
intercâmbio de experiências e lições aprendidas; harmonização de indicadores de
monitoria, definições e métodos de levantamento de dados; coordenação no
planeamento de marcos, produtos e eventos de comunicação e de gestão de
conhecimentos. Estes devem ser acordados e integrados aos estudos de linha de
base e nos sistemas de monitoria de todos os projectos em curso desde o início. A
CSPE não encontrou evidência de que isso já fosse planeado, nem que estivesse
acontecendo.
236. Avaliação da gestão de conhecimento - Resumo. A evidência acima
apresentada, indica um progresso limitado no passado, e pouca atenção no
planeamento actual ao estabelecimento de sistemas de monitoria adequados que
contribuam para a gestão do conhecimento de projectos e programas, de forma
harmonizada e coordenada para todas as intervenções apoiadas pelo FIDA. Assim,
a CSPE avaliou a gestão do conhecimento como Moderadamente não
Satisfatória (3).
B. Construção de parcerias
237. O COSOP de 2005 identificou os "vínculos estratégicos com as agências parceiras"
como um elemento central de apoio ao desenvolvimento agrícola e rural no
Planalto Central e na reabilitação e reconstrução de infra-estruturas sociais. Foi
também prevista uma estreita colaboração com as agências da ONU e a FAO em
particular. Esta secção analisa as realizações concretas com cada grupo de
parceiros potenciais.
238. No que diz respeito às parcerias, uma das questões de avaliação referia-se à
colaboração do FIDA com outros parceiros no mecanismo de coordenação a nível
nacional, tipicamente sectoriais ou em questões transversais. No entanto, não
existiram tais mecanismos em Angola durante o período em avaliação.
239. FIDA avaliado pelo Governo. A CSPE encontrou evidências sólidas de que a
parceria entre o FIDA e o Governo era considerada valiosa por todos os ministérios
interessados e que o Fundo era considerado um parceiro importante e confiável,
que prestava atenção e estava aberto para se adaptar às diferentes circunstâncias,
durante e depois a guerra civil. A flexibilidade e a vontade do FIDA de encontrar
soluções foram mencionadas várias vezes por muitas partes interessadas.
Exemplos disso incluíram: extensão temporal de projectos que sofreram atrasos
durante a implementação (PRODECA e PESNORTE); o acordo para apoiar o SAMAP
como um empréstimo separado do MOSAP II, em novas províncias; e com o ARP,
estendendo-se às províncias do Sul, no contexto de recuperação que é incomum
para o FIDA. Além disso, o compromisso do FIDA com os pobres das zonas rurais
foi bem reconhecido e apreciado. MOSAP I era uma intervenção bem conhecida a
nível provincial e municipal, e o papel do FIDA estava claramente reconhecido em
todos os níveis administrativos.
240. MOSAP I foi uma parceria de sucesso entre o Banco Mundial, o FIDA e a
FAO. Durante o período avaliado, a principal parceria do FIDA com outros parceiros
de desenvolvimento foi com o Banco Mundial e a FAO no contexto do MOSAP I. As
funções foram as seguintes: o Banco Mundial e o FIDA foram co-financiadores, com
o Gabinete de País de Moçambique do BM liderando a gestão e a supervisão de
projectos. A FAO foi um Prestador de Serviços, com os conhecimentos técnicos e
metodológicos para a implementação da abordagem das Escolas de Campo. O
esforço revelou-se bem-sucedido na visão de todas as partes interessadas,
incluindo o Governo de Angola. O FIDA foi reconhecido pelo BM como tendo
fornecido insumos estratégicos cruciais no desenho, focalizando o impulso principal
56
e o objectivo da iniciativa nos pobres rurais, bem como apoio chave à nível técnico
e de gestão durante a implementação.
241. O desenho do SAMAP também foi realizado uma estreita colaboração com o BM,
pelo mesmo grupo que formulou o MOSAP II; e espera-se que seja intensivo
durante a implementação do SAMAP, conforme discutido anteriormente no
relatório.
242. A colaboração entre a FAO e o FIDA no país tem sido muito mais ampla e em
diferentes níveis,92 como discutido a seguir:
(a) O FIDA incluiu pessoal do Centro de Investimento da FAO (TCI), para liderar
ou fazer parte de missões de projecto, avaliação, formulação e supervisão
para MOSAP I, AFAP e SAMAP;
(b) Desde 2015, a Representação da FAO contribuiu sistematicamente para as
discussões e as consultas a nível estratégico, com as equipas de projecto do
SAMAP e ARP e missões de supervisão do FIDA no MOSAP I e no AFAP;93
(c) A FAO contribuirá com os seus próprios recursos financeiros, através do
Programa de Cooperação Técnica, na assistência técnica e no apoio
operacional à implementação do ARP;94
(d) A FAO implementará a componente das Escolas de Campo tanto para SAMAP
como para ARP;95
(e) Desde 2016, a Representação da FAO vem apoiando todas as missões do
FIDA em Angola, prestando ligação com organizações governamentais e
outros parceiros, agindo como conselheiro tanto do FIDA como do Governo
quando necessário, bem como apoiando com a logística.
243. Muitos dos serviços prestados pela Representação da FAO à missão do FIDA,
incluindo a actual CSPE, podiam ser reembolsados e, obviamente, assim foi,
baseados em pessoal e custos reais incorridos. Um rascunho de Memorando de
Entendimento entre o FIDA e a FAO, para formalizar e simplificar os custos
operacionais relacionados, foi elaborado e discutido, mas não foi assinado. Ao
mesmo tempo, o papel consultivo estratégico e o apoio prestado pela
Representação da FAO foram bem além de qualquer serviço reembolsável.
244. Na opinião da CSPE, a excelente relação entre o FIDA e a FAO em Angola ao longo
dos anos e entre a FAO, o FIDA e o Banco Mundial no âmbito do MOSAP I, foram
um exemplo interessante da complementaridade entre as três organizações, em
que cada uma delas tem vindo a operar de acordo com seu mandato e a própria
vantagem comparativa, para um objectivo estratégico comum.
245. FIDA menos envolvido com o sistema das Nações Unidas. Durante o período
avaliado, o sistema das Nações Unidas em Angola assinou três quadros de
cooperação com o Governo, sendo o mais recente o "Quadro de Parceria entre o
Governo de Angola e o sistema das Nações Unidas (UNPAF)", para o período 2015-
2019. O FIDA não assinou nenhum dos três, mas o seu contributo através do
MOSAP I para garantir as necessidades alimentares foi contabilizado no Quadro de
Ajuda ao Desenvolvimento das Nações Unidas em Angola para o período 2009-
92
In Angola, the three Rome-Based Agencies, namely FAO, IFAD and the World Food Programme, worked all together
only once, in the framework of the Italian-funded grant ‘Uíge Province Food Security Project’, operational during the war
in the late 1990s, and completed in 2003.
93
Como jà mencionado, de acordo com o desenho do projecto (PDR) e o Plano de Trabalho e Orçamento Anual 2016-
2017 a FAO devería ter apoiado a implementação do AFAP através de assistência técnica, mas isso não se
materializou.
94
O apoio operacional vai incluir carros e sua operacionalização e manutenção, o salário de um motorista, e
equipmaneto de escritório em uma das parovíncias de intervenção.
95
Este será operacionalizado através de um adedum ao contracto que já foi assinado entre o Banco Mundial e a FAO
para a componente das ECAs do MOSAP II.
57
2013. Recentemente, também, o PNUD participou do processo de preparação
SAMAP e implementará uma pequena componente no ARP. A este respeito, o PNUD
considerou que um envolvimento mais forte ao nível do projecto seria benéfico
para todas as partes. Na opinião da CSPE, esta falta de colaboração também
poderia resultar da ausência de uma presença mais intensiva do FIDA no país.
246. Contratos com organizações não governamentais e sector privado. As
relações entre o MOSAP I e o AFAP e as ONGs nacionais e internacionais têm sido
até agora de natureza contratual, com as ONGs na posição de prestadores de
serviços para implementar actividades específicas ou as pequenas doações
nacionais discutidas mais adiante no relatório. Durante o MOSAP I, foram
estabelecidos contratos com algumas ONGs e Organizações da Sociedade Civil
(CSOs) para implementar componentes, como os cursos de alfabetização para
membros da ECAs e outras actividades de desenvolvimento de capacidades.
Recentemente, o AFAP contratou a ADPP para implementar o componente de
desenvolvimento da comunidade. Em geral, estas colaborações foram positivas e
trouxeram um valor acrescentado, quando as competências e conhecimentos
existentes nestas organizações cumprem os requisitos do projecto. Arranjos
contratuais similares foram estabelecidos com o setor privado para o fornecimento
de bens, por exemplo a próxima provisão de alevinos de um incubatório privado de
tilápias. Se existe espaço para outros tipos de colaboração, por exemplo no âmbito
do desenvolvimento da cadeia de valor planeado pelo SAMAP, ainda não havia sido
determinado.
247. Progressos lentos na cooperação Sul-Sul e Triangular. Como já mencionado,
alguns passos foram dados por parte do AFAP em relação a outros países
lusófonos, mas isso não produziu nenhum resultado significativo até novembro de
2017. Na visão da CSPE, poderia haver oportunidades a serem exploradas no
futuro com o Brasil e a organização de pesquisa agrícola, EMBRAPA, no contexto do
SAMAP e ARP, sobre temas como agroecologia, colheita de água, conservação e
restauração da fertilidade do solo em condições edáficas e climáticas tropicais.
248. Avaliação das Parcerias - Resumo. O FIDA é um parceiro respeitado do
Governo de Angola. Também desenvolveu importantes parcerias durante o período
em avaliação, com a BM e a FAO. Isso levou a bons resultados a nível político,
institucional e comunitário, e deve ser sustentado no SAMAP, no ARP e outros
projectos relevantes no futuro. Assim, a CSPE avaliou a construção de parcerias
como Satisfatória (5).
96
IFAD Strategic Frameworks 2007-210, 2011-2015, 2016-2025.
58
pelo projecto, com a FAO no papel de provedor de serviços para esta componente.
Além disso, durante o período 2006-2011, a Avaliação do Sector Rural do PBAS foi
utilizada como uma ferramenta para elevar sistematicamente a atenção do
Ministério da Agricultura para as necessidades do sector de agricultura familiar e
para a vantagem comparativa de diferentes abordagens, menos “de cima para
baixo”, a ser adoptadas na relação entre o Governo e as famílias de agricultores.
252. A CSPE considerou a abordagem como sendo muito apropriada e bem-adaptada ao
contexto angolano. As políticas e os planos nacionais de alto nível para o
desenvolvimento agrícola e rural existiam e existem, mas houve e há lacunas no
nível de implementação das políticas, tanto em termos de capacidade institucional
quanto de conhecimento da realidade do meio rural sobre o que seria mais
funcional para alcançar as metas estabelecidas. Os projectos são, portanto,
oportunidades para testar diferentes opções de implementação e aprender licções
que podem alimentar a tomada de decisões estratégicas e eventualmente dar
informações para políticas novas e melhoradas.
253. O desenho e a implementação do MOSAP I foram um exemplo bem-sucedido desse
modelo. O CPMT do FIDA orientou a iniciativa de desenho do MOSAP I para os
pobres das zonas rurais, graças ao seu sólido relacionamento com o Governo,
desenvolvido através do Facilitador de Projectos e através do acompanhamento
conjunto dos indicadores do PBAS; e com o BM. Este foi um grande avanço em
termos de elaboração de políticas "no campo", de acordo com as prioridades
reconhecidas para o país, mas não totalmente interiorizado ainda na abordagem de
implementação do Ministério da Agricultura. Durante a implementação, a forte
parceria entre a FAO, o FIDA e o Banco Mundial já discutida acima, levou à adoção
das Escolas de Campo como metodologia de extensão nacional, outra conquista
importante em termos de impacto nas estratégias nacionais.
254. Os processos de desenho para SAMAP e ainda mais para ARP ofereceram a
oportunidade de integrar várias práticas sobre gestão sustentável de água e solo,
agroecologia e adaptação às mudanças climáticas e finanças rurais, no apoio
técnico fornecido pela IDA para os agricultores. Estes estão totalmente alinhados
com as políticas ambientais nacionais e as intervenções servirão como teste de
validação. Espera-se que as licções que emergirão dos projectos, neste caso
também irão informar o ciclo de desenvolvimento de políticas.
255. Em relação ao AFAP, o desempenho e os resultados - validar modelos produtivos,
abordar questões identificadas como riscos e documentar adequadamente e
desenhar licções sobre como desenvolver a pesca e a aquicultura de pequena
escala em Angola rural - podem potencialmente contribuir para o diálogo sobre
políticas e providenciar informações para o quadro normativo e institucional dos
subsectores.97 Para que isso tenha sucesso, no entanto, os sistemas de monitoria e
gestão de conhecimento devem gerar informações confiáveis e úteis, que também
possam contribuir para a elaboração do Plano Nacional de Gestão de Pescas e
Aquicultura, previsto no PND.
256. Diálogo sobre políticas a nível nacional - resumo da avaliação. A base de
referência para o desempenho do FIDA no diálogo sobre políticas no momento do
COSOP de 2005 era baixa. Ao longo do tempo, através de uma abordagem muito
pragmática e em colaboração com outros parceiros, foram alcançados resultados
importantes em termos de maior foco do IDA nos pobres rurais e de adoção de
uma metodologia de extensão que fornece ferramentas de diálogo e rendição de
contas entre o Governo e as associações de agricultores. Nesse contexto, a CSPE
avaliou o envolvimento no diálogo sobre políticas a nível nacional como
Moderadamente Satisfatório (4).
97
A CSPE não encontrou alguma evidência neste sentido em relação ao AFAP, durante a fase de desnho do projecto.
59
D. Doações
257. Conforme mencionado anteriormente no relatório, e conforme previsto no COSOP
de 2005, o FIDA dispôs fundos para cinco doações autónomas nacionais que
estavam em operação no período 2005-2009. A lista e algumas características de
cada iniciativa são mostrados na Tabela 10.
Tabela 10
Doações nacionais autónomas financiadas pelo FIDA, operacionais no período 2005-2009
Nome do Projecto Total da Nome da quem Data de Entrada em Data da Tipo de
doação, recebeu a aprovação vigor da conclusão organização
US$ doação doação da doação
Análise participativa das 50.000 Angolan Non- 12/01/2006 10/04/2006 10/04/2007 ONG nacional
lições aprendidas nas Governmental
iniciativas de Organizations
desenvolvimento comunitário Forum
no Planalto Central (FONGA)
Estudos da pobreza rural 100.000 Centro Estudos 08/12/2006 10/04/2007 10/10/2008 Instituto de
e Investigação pesquisa de
Científica uma
(CEIC) universidade
privada
60
crédito para permitir que as mulheres fossem independentes e tivessem um melhor
controle sobre a vida sexual; e financiou actividades sociais e produtivas geridas
pelos grupos, desde as escolas até a multiplicação de sementes. A ampliação da
rede provincial não foi alcançada, devido a restrições de tempo e recursos. O
relatório final declarou como um impacto que teve efeitos a longo prazo, a
integração da perspectiva de VIH e SIDA em todo o trabalho da CARE.
261. Avaliação das doações - Resumo. O compromisso do COSOP de 2005 de apoiar
doações para aprender licções sobre o desenvolvimento rural em Angola foi
cumprido. A evidência gerada por esses estudos pode ter sido incorporada em
programas maiores, como foi o caso do VIH e SIDA na CARE Angola, mas nenhuma
relação direta foi identificada entre os estudos e o MOSAP I.
E. Avaliação geral
262. O COSOP de 2005 integrou as actividades não relacionadas aos empréstimos como
elementos importantes e complementares das principais operações de empréstimos
do Fundo no país. Os objectivos foram estabelecidos em geral à um nível razoável
e realista, refletindo uma boa compreensão do contexto do país e os desafios
existentes em questões como o diálogo sobre políticas. A abordagem interessante
do desenvolvimento de uma base de conhecimento através de doações orientadas
para a pesquisa, que poderiam ser aproveitadas em iniciativas de empréstimos em
curso ou novas, não pareceu produzir os resultados esperados. Foi percebido
também um risco semelhante de poucos resultados, no que diz respeito à ausência
de coordenação no desenvolvimento de linhas de base e sistemas de monitoria em
diferentes projectos, que poderiam não levantar e medir os dados necessários para
criar conhecimento sobre impactos e para usar ao nível de políticas e estratégias.
263. Em consideração das realizações até agora feitas, mas também das lacunas
existentes, a qualificação geral desta área de trabalho é classificada como
Moderadamente Satisfatória (4). A Tabela 11 mostra a pontuação para cada
componente.
Tabela 11
Avaliação das actividades de não empréstimo
Gestão do conhecimento 3
Construção de parcerias 5
Geral 4
61
Pontos chave
Os projectos implementados sob a responsabilidade do IDA mostram um bom grau de gestão
implícito do conhecimento sobre as licções aprendidas; notaram-se deficiências em relação ao
estabelecimento e uso de sistemas de monitoria que possam gerar informações harmonizadas
e coerentes em todas as intervenções e possam contribuir para o futuro diálogo político.
Além de um bom relacionamento com o Governo, o FIDA desenvolveu importantes parcerias
em Angola com o BM e a FAO, que levaram a bons resultados a nível de políticas, institucional
e comunitário, e devem ser sustentados para SAMAP e ARP e outras iniciativas relevantes no
futuro.
O FIDA em Angola empenhou-se com o Governo no diálogo sobre políticas através do desenho
e implementação de projectos, o que levou ao importante resultado de fornecer evidências ao
IDA sobre como trabalhar com agricultores familiares. Também levou à adoção das Escolas de
Campo como a metodologia de extensão, que fornece ferramentas para o diálogo e a
responsabilidade entre o Governo e as organizações de agricultores. Os projectos em curso e
os novos também têm um potencial interessante nesse sentido.
Uma série de doações destinadas a desenvolver o conhecimento sobre a pobreza rural foram
financiadas e implementadas, embora não existam evidências de que os resultados
contribuíram para melhorar o desenho dos empréstimos.
62
IV. Desempenho dos Parceiros
264. Esta secção avalia o desempenho do FIDA e do Governo de Angola durante o
período em avaliação. Em relação ao FIDA, a análise incluiu a estrutura
organizacional para a gestão da carteira de projectos de Angola, a supervisão e o
acompanhamento da mesma carteira. O desempenho do Governo foi avaliado nas
áreas das contribuições ao FIDA e da mobilização de fundos como contraparte
nacional, dos aspectos fiduciários e de compromisso com a responsabilidade de
gestão e supervisão.
A. FIDA
265. Muita rotação de Gestores/directores de programa do país. Durante o
período avaliado, o FIDA atribuiu a responsabilidade pela gestão do programa do
país a cinco CPMs/CD consecutivamente. A Tabela 12 abaixo mostra a duração de
cada mandato.
Tabela 12
Duração do cargo de CPM/CD para Angola, desde 2005
CPM/CD Inicio e fim do contrato Duração
266. A primeira CPM na lista foi a responsável por Angola durante seis anos, um longo
período de tempo pelas normas do FIDA. Isso permitiu à responsável de
desenvolver uma relação de confiança e colaboração com o Governo e o BM que
ajudaram significativamente o aumento do perfil do Fundo no país e o engajamento
com os parceiros. Dois factores adicionais contribuíram: a colaboração e o apoio
fornecidos pelo Facilitador de Projectos, que por sua própria reputação pessoal e
rede de contatos, podia chegar às várias partes no Governo; e o domínio da língua
portuguesa por parte da CPM.
267. Os três CPMs que seguiram geriram adequadamente a carteira e contribuíram para
expandi-la para outros sectores, por exemplo, com o desenho do AFAP no período
2013-2015. No entanto, a duração de cada designação foi insuficiente para
desenvolver um relacionamento mais forte com as partes interessadas nacionais.
268. Desafios do quadro institucional actual para o programa alargado do país.
Desde 2016, a CSPE encontrou evidências de uma nova atenção do FIDA para
Angola, como demonstrado nas discussões realizadas em abril de 2016 sobre o
COSOP, a preparação do CSN para o período 2017-2018 e, o mais importante, o
desenho e aprovação de dois novos empréstimos, SAMAP e ARP. No final de 2017,
o FIDA lidava em Angola com uma carteira de empréstimos e doações associadas
que, em número de intervenções, contribuição financeira, cobertura geográfica e
de subsetores, era maior que o total da carteira do Fundo no país até 2015.
269. Para apoiar a gestão da carteira, a CPMT actual incluiu: a Country Director, um
especialista em compras, um assistente de programa, um especialista em finanças,
um especialista jurídico e um especialista em meio ambiente, além das
98
A Sr Abla Benhamouche tem o cargo de Country Director.
63
competências de gestão e técnicas necessárias para cada projecto.99 No entanto, o
FIDA não podia contar com nenhuma pessoa residente no país para supervisionar e
coordenar os projectos, além de um acordo informal com a Representação da FAO.
Isso implicou, por exemplo, que esta CSPE teve que confiar nesta última, incluindo
o tempo do Representante da FAO e do seu Assistente (delegado) para o Programa,
para organizar a maioria das interações com as partes interessadas
governamentais e não governamentais.100
270. Na visão da CSPE, com uma carteira de projectos do tamanho actual, uma
estrutura deste tipo representaria um desafio em qualquer país. Tendo em conta a
ainda persistente fraqueza dos recursos humanos em Angola em diversas questões
técnicas e de gestão, isso representa um risco. Além disso, os empréstimos recém-
aprovados exigirão um nível significativo de coordenação entre os ministérios. Isso
só funcionará com grandes esforços para estabelecer e manter contactos, o que
pode comprometer a agenda já muito preenchida dos coordenadores de projecto.
271. Além disso, a CSPE verificou diretamente durante o próprio trabalho, como o
funcionamento das redes profissionais em Angola baseia-se fortemente nas
relações sociais e pessoais preexistentes. Isso implica que os atores externos
podem alcançar e ter acesso aos tomadores de decisões, seja através de um
intermediário nacional bem aceite ou através de um relacionamento de longa data,
que permita que a confiança se desenvolva progressivamente. Em tal contexto, o
Facilitador de Projectos, que era um profissional respeitado a nível nacional pelas
próprias capacidades, trouxe uma mais valia importante à relação entre o FIDA e o
Governo e contribuiu para abrir o caminho para focalizar o MOSAP I nos
agricultores familiares pobres e adotar as Escolas de Campo como uma abordagem
nacional para a extensão agrícola.
272. Supervisão e assistência técnica satisfatórios. Apesar das deficiências que
foram salientadas anteriormente no relatório em relação ao AFAP, em geral, o
contributo da CPMT do FIDA e dos especialistas técnicos para a gestão e supervisão
da carteira em Angola foram satisfatórios. Embora o desenho do AFAP tenha sido
prolongado por várias razões, os desenhos dod projectos SAMAP e ARP foram
concluídos de acordo com um cronograma apertado e as missões de supervisão
foram realizadas conforme planeado.
273. Existe evidencia que a CPMT do FIDA forneceu sistematicamente apoio às PIU/PCU,
em questões de gestão, administrativas e fiduciárias. Esta assistência, sem dúvida,
ajudou a resolver os desafios quotidianos enfrentados pelo pessoal em lidar com os
procedimentos do FIDA e cumprir as regras e regulamentos. No entanto, a
focalização em um projecto de cada vez, não foi um incentivo para desenvolver
uma abordagem mais sistemática para o desenvolvimento de capacidade nessas
áreas, que poderia criar benefícios a longo prazo no país e no próprio FIDA.
274. Solução efetiva para monitoria da carteira e integração de licções
aprendidas. Durante o período em avaliação, o desenvolvimento de um sistema
de monitoria a nível da carteira de projecto não tinha justificação para um país
onde as perspectivas eram de implementar um projecto cada vez. Ao mesmo
tempo, uma vez que o COSOP foi aprovado, já não foi considerado como referência
na gestão do programa.101 A decisão da CPMT de se envolver anualmente com o
Governo na actualização conjunta da Avaliação do Setor Rural do PBAS, demostrou
ser uma abordagem útil para: acompanhar em conjunto o progresso a nível
99
Todo o pessoal, especialistas e expertos, dedicam à Angola somente parte do seu tempo.
100
Os contactos estabelecidos con actors chave durante a missão de preparação da CSPE permitiram à IDA de tomar
a responsabilidade pela organização da missão em relação ao Minsteério da Agricultura e do Ministério da Pesca e do
Mar.
101
Durante a CSPE, o COSOP o a mais recente Nota de Estratégia de País não foram mais mencionadas de maneira
espontanea nas reuniões com o Governo e os projectos.
64
nacional das questões-chave para o FIDA; identificar áreas para onde o FIDA
poderia focalizar e influenciar o desenho e a implementação do MOSAP I.
275. O COSOP incluiu uma análise detalhada das licções aprendidas com os projectos
anteriores, que foram levados em alguma consideração no desenho do MOSAP I. E,
como já foi discutido, as lições aprendidas com este último foram consideradas no
desenho do SAMAP e do ARP. Em geral, estas medidas representam até agora, uma
abordagem razoável para gerir e construir o programa com base em evidências de
campo. No entanto, a CSPE não encontrou evidências de que os resultados e os
conhecimentos gerados pelas cinco doações nacionais autónomas fossem utilizados
pelo FIDA e seus parceiros.
276. Em geral, o compromisso do FIDA com Angola foi consistente e coerente ao longo
do tempo, graças ao empenho e ao envolvimento das CPMTs. Isso, apesar da alta
taxa de rotação dos CPMs desde 2012, e da ausência de uma pessoa residente no
país desde 2013, que actuaria como ‘contato direto do FIDA’; o que levou a uma
certa perda de dinamismo no envolvimento com as partes interessadas nacionais.
À luz do exposto, a CSPE quantifica o desempenho geral do FIDA como
Moderadamente Satisfatório (4).
B. Governo
277. O Governo de Angola contribui regularmente ao FIDA. Uma das questões de
avaliação da CSPE era relativa ao nível das contribuições angolanas para o FIDA
(contribuição à reposição). Desde 1990, a partir da Terceira Reposição do FIDA, o
Governo de Angola contribuiu sistematicamente para os recursos financeiros do
Fundo, conforme demonstrado na Tabela 13. As contribuições angolanas também
cresceram ao longo do tempo: no FIDA 05 e no FIDA 06, Angola foi um dos
principais contribuintes da região ESA; com o FIDA 07, o país tornou-se o principal
contribuinte na região, com um aumento significativo nos montantes fornecidos ao
FIDA 08. Este também foi um efeito positivo, alegadamente, do relacionamento
estreito desenvolvido naquela altura pela CPM com o Governo. Angola manteve a
sua contribuição significativo durante todo o período analisado pela CSPE, e os
compromissos tomados pelo Governo com a Reposição 2019-2021 confirmam esta
tendêncianno momento da redação deste relatório.
Tabela 13
Contribuições de Angola para reposição do FIDA
Reposição Negociação completada Período de tempo coberto Contribuição de Angola em USD
em
65
extensionistas adicionais colocados nas províncias e municípios, e o mesmo se
espera para SAMAP e ARP.
279. Desempenho inferior ao satisfatório nos aspectos fiduciários. As missões de
supervisão do FIDA do MOSAP I e da ASAP avaliaram o desempenho fiduciário dos
projectos em relação a vários critérios, incluindo: i) qualidade e pontualidade das
auditorias, ii) conformidade com as aquisições iii) cumprimento das cláusulas de
financiamento, iv) disponibilidade de fundos da contraparte, v) taxas de
desembolso, e vi) qualidade da gestão financeira. A Figura 5 a seguir mostra as
pontuações médias para cada critério, tanto para o MOSAP I como para o AFAP.
Figura 5
Classificação média dos aspectos fiduciários - MOSAP I (2010-2015) e AFAP (2016-2017)
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66
legal, necessário para obter a identificação do contribuinte.102 Uma questão
adicional foi o reabastecimento das contas especiais. Outra opção a ser explorada
no momento de escrever este relatório era o estabelecimento de uma colaboração
mais formal em questões fiduciárias com o projecto de pesca marinha do AfDB.
284. A classificação "moderadamente insatisfatória" do critério "Conformidade com a
aquisição" para o AFAP merece uma discussão específica. Embora inicialmente
apenas tivessem sido planeadas poucas actividades de aquisições internacionais, o
alto custo e a não disponibilidade de alguns bens e serviços no mercado interno
exigiram mais ações de compras internacionais, também por quantidades
relativamente pequenas. No entanto, a crise económica e financeira 2016/2017 no
país provocou severas restrições na disponibilidade de moeda estrangeira. Como
consequência, a gestão do AFAP tem enfrentado dificuldades na transferência de
fundos para contas fora de Angola para pagar os bens e serviços adquiridos
internacionalmente. Esta situação complexa pode afetar seriamente a eficácia e a
eficiência da intervenção. Após uma análise cuidadosa das possíveis opções, a
missão de supervisão do FIDA em novembro de 2017 concordou que o IDPAA
abriria uma segunda conta designada em dólares americanos em um banco
estrangeiro para fazer pagamentos a consultores e provedores internacionais. Além
disso, o AFAP também se beneficiará de um acordo assinado com a UNOPS, para a
aquisição de veículos, motocicletas e barcos.
285. A supervisão governamental do programa do FIDA é conferida ao único
instituto competente ou ministério. A responsabilidade final do programa do
FIDA no país cabe ao Ministério das Finanças, que demonstrou empenho na
parceria com o FIDA, particularmente desde quando o Governo reconheceu a
necessidade de diversificar a economia nacional. O Ministério é formalmente parte
dos comitês de direção do projecto, mas não houve evidência de nenhum papel
substancial no desenho ou gestão das intervenções. Essas tarefas eram
tipicamente de responsabilidade de diferentes ministérios e institutos, como: IDA
no Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural para MOSAP I, SAMAP e ARP;
e IDPAA no Ministério das Pescas e do Mar, para o AFAP.
286. A carteira de projectos actual envolve mais ministérios. Outros ministérios
tiveram e têm diferentes papéis na carteira suportada pelo FIDA, incluindo o
MASFAMU e o Ministério da Saúde, para actividades de projectos transversais aos
diferentes mandatos, por exemplo, o empoderamento das mulheres, a nutrição, a
conscientização sobre VIH e SIDA. Além disso, os PDRs para SAMAP e ARP
previram um papel importante para o Ministério do Meio Ambiente, no apoio a
educação ambiental e outras actividades de desenvolvimento de capacidade em
diferentes níveis, bem como questões relacionadas à mudança climática. Os
relatórios de desenho dos dois projectos diferiram em relação à clareza de detalhes
sobre os papéis e responsabilidades do Ministério do Ambiente, inclusive em
relação ao Comité de Coordenação do Projecto, o órgão de supervisão do projecto.
287. Até agora não há nenhuma experiência de colaboração interministerial nos
projectos apoiados pelo FIDA. Durante o período em avaliação, não houve
oportunidades para testar a colaboração entre as equipas das intervenções
financiadas pelo FIDA em diferentes sectores.103 No entanto, semelhante ao que
acontece em muitos outros países, a tendência de colaboração entre os ministérios
a nível central e local, como referido pelos parceiros do Governo, não é forte em
Angola. Isso significa que SAMAP e ARP podem enfrentar desafios significativos
para garantir um nível razoável de coordenação no planeamento e na
implementação de actividades de campo. A este respeito, a visão do Governo, tal
102
O aide-memoire da Missão de Supervisão do AFAP nos finais de novembro 2017 confirmou várias conclusões
preliminares da CSPE a este respeito.
103
O MOSAP I já tinha terminado quando o AFAP recebeu o seu primeiro desembolso; e o SAMAP não estava
efectivo ainda na hora da CSPE.
67
como explicitamente declarado durante a reunião de conclusão da CSPE mais uma
vez, era que o FIDA deveria tomar medidas adequadas em termos de sua presença
no país, para permitir e facilitar a colaboração entre ministérios e organizações nos
diferentes níveis.
288. Bom nível de participação governamental nos projectos. O nível de
apropriação das organizações governamentais responsáveis para com as
intervenções apoiadas pelo FIDA foi considerado "razoável a forte" por todas as
partes interessadas e confirmado pelas próprias observações da CSPE. Isto inclui o
Ministério do Ambiente, que se tornou um parceiro importante para o FIDA com as
recentes formulações do SAMAP e do ARP, assim como funcionários de alto grau
que participaram acgivamente no desenho, na implementação e na supervisão dos
projectos.
289. Em geral, o Governo de Angola esforçou-se notavelmente para contribuir
eficazmente ao FIDA e para a implementação da carteira de projectos no país. As
causas dos atrasos nos desembolsos de fundos se deram principalmente ao nível
de implementação dos projectos, em vez que nas políticas ou procedimentos
governamentais, apesar da recente excepção da disponibilidade de moeda
internacional. À luz de tudo isso apresentado, o desempenho do Governo foi
qualificado como Moderadamente Satisfatório (4).
Pontos chave
O FIDA tem sido um parceiro de longa data e confiável do Governo de Angola.
Através do desenho e da supervisão dos projectos, o Fundo prestou um apoio
essencial e sustentável para combater a pobreza rural. Uma ligeira perda de
dinamismo na colaboração devido à rotação relativamente elevada dos CPMs/CD foi
compensada por um envolvimento mais recente que levou à maior carteira de
projectos do Fundo no país, no momento da CSPE.
O Governo de Angola contribuiu durante muitos anos para o processo de reposição
do FIDA e forneceu apoio financeiro à implementação dos projectos sempre que
necessário.
Os principais desafios na implementação decorrem da escassez de recursos
humanos no país nos domínios da agricultura, pesca e desenvolvimento rural, bem
como na gestão e nos aspectos fiduciários.
Isto, juntamente com a abordagem nacional da colaboração baseada em redes pré-
existentes e a fraca capacidade institucional, são todos elementos que podem
comprometer a eficiência e a eficácia do apoio do FIDA na ausência de medidas de
mitigação adequadas.
68
V. Síntese do desempenho da estratégia do programa
do país
290. Esta secção sintetiza a análise por relevância e eficácia, da carteira de
empréstimos, das actividades não relacionadas aos empréstimos e do desempenho
dos parceiros, conforme discutido nas secções anteriores, e fornece uma avaliação
consolidada da estratégia e do programa do país.
A. Relevância
A Estratégia
291. O COSOP de 2005 afirmou claramente que o FIDA deve perseguir o
empoderamento dos pobres das zonas rurais e permitir que o Governo seja
responsabilizado no que se refere à prestação de serviços, investimentos e políticas
favoráveis ao desenvolvimento dos meios de subsistência sustentáveis nas zonas
rurais. Para isso, foi estabelecido um objectivo e foram identificados os princípios,
que devem ser levados em conta nas actividades de empréstimo e aquelas não
relacionadas à empréstimos.104
292. A estratégia era extremamente relevante para as necessidades das
famílias agrícolas de pequena escala que viviam longe dos centros urbanos,
em grande parte eram invisíveis e abandonadas, e que lutavam contra a
insegurança alimentar e a falta de infra-estruturas e serviços, após quase 30 anos
de dramático conflito civil. A estratégia incluía também medidas para melhorar os
direitos de posse da terra dos agricultores familiares.
293. A área de interesse geográfico do COSOP e do MOSAP I do Planalto Central estava
justificada tanto pelo potencial de produção agrícola quanto pela alta concentração
de pessoas pobres e com insegurança alimentar e a consequente pressão sobre os
recursos naturais. A partir de 2017/2018, a Nota de Estratégia do País prevê a
expansão da carteira de projectos para outras províncias, zonas agroecológicas e
setores de intervenção, mantendo o enfoque em atender às necessidades dos
pobres rurais.
294. Na opinião da CSPE, esta expansão é altamente apropriada, pois permite ao
FIDA de contribuir a abordar mais dos muitos desafios com os quais Angola luta,
incluindo as consequências duradouras da guerra, desigualdades económicas
profundas e instituições e recursos humanos que tem elevada necessidade de apoio
e fortalecimento.
295. A estratégia estava bem alinhada com as políticas governamentais. O
COSOP de 2005 e a carteira de projectos estão bem alinhados com as principais
políticas de desenvolvimento e sectoriais do Governo e ofereceram uma
oportunidade de implementar alguns destes, criando capacidade institucional e
gerando um conhecimento validado no campo, sobre o que funcionou melhor para
alcançar os objectivos estabelecidos. Um alinhamento positivo semelhante foi
encontrado com os Objectivos Estratégicos do FIDA no período em avaliação e com
a Estratégia do FIDA para a Região da ESA.
296. Enfoque adequado para com os mais vulneráveis. O COSOP, de acordo com a
situação do país em 2005, identificou corretamente o grupo alvo do FIDA nos mais
vulneráveis: mulheres e agregados familiares chefiados por mulheres, jovens,
desmobilizados e repatriados. Os projectos desenhados desde então, seguiram as
mesmas linhas e identificaram a população-alvo com os pobres, entre os quais as
famílias mais pobres, agrícolas e pesqueiras; mulheres, também como chefes de
família; e a juventude. Ao longo do tempo, a necessidade de abordar os
104
IOE desenvolveu um mapa simplificado da lógica do COSOP 2005, apresentado no anexo VIII.
69
desmobilizados e repatriados diminuiu até desaparecer à medida que as pessoas se
estabilizavam progressivamente.
297. Ênfase na necessidade de parcerias. O COSOP identificou as parcerias com
outros parceiros do desenvolvimento como um elemento-chave do trabalho do
FIDA em Angola, considerando a necessidade de unir forças a nível financeiro e
assim alcançar resultados significativos através do diálogo sobre políticas. Isto foi
particularmente importante em um país onde a coordenação entre parceiros de
desenvolvimento só acontece por iniciativa própria; e onde os limitados recursos
humanos não permitem a multiplicação de projectos e iniciativas.
298. O desenho dos projectos está em linha com o COSOP. Através dos esforços
das CPMTs ao longo do tempo, o desenho dos projectos cumpriu adequadamente a
estratégia e abordou a maioria dos objectivos identificados no COSOP de 2005, ou
seja, o enfoque na produção de alimentos, a capacitação social, a construção de
instituições em diferentes níveis, VIH e SIDA. Entretanto, o elemento "garantir
acesso a terra" foi abordado apenas no desenho do MOSAP I e de forma limitada,
através do planeamento de seminários de formação para funcionários das
administrações municipais. Além disso, os PDRs para MOSAP I, SAMAP e ARP
prestaram e prestam atenção ao empoderamento, inclusive para mulheres e
jovens, tanto como objectivo quanto como abordagem, mas principalmente
enfocado em capacitar os pobres rurais a participar das actividades do projecto,
portanto mais uma finalidade interna ao projecto.
299. Avaliação da relevância - Resumo. A análise das informações disponíveis
encontrou um alto grau de coerência entre o COSOP de 2005 e a carteira de
empréstimos aprovada, um bom nível de alinhamento entre essa e as políticas
nacionais, bem como um elevado nível de relevância do apoio do FIDA às
necessidades dos pobres rurais angolanos. Assim, a CSPE avaliou a relevância da
estratégia proposta no COSOP de 2005 e subjacente a carteira do país no período
2005-2017, como Satisfatória (5).
B. Eficácia
300. Resultados parciais alcançados em relação aos indicadores COSOP. A tabela
14 mostra os objectivos estratégicos, os indicadores ao nível de resultados os
resultados alcançados no momento da CSPE, conforme a informação disponível. A
tabela também inclui evidências recolhidas nos relatórios gerados pelo Projecto de
Desenvolvimento de Cultivo de Alimentos da Região Norte (PRODECA) e pelo
Programa de Desenvolvimento de Comunidades de Pesca do Norte (PESNORTE)
que foram concluídos nos dois anos seguintes à aprovação do COSOP de 2005.
70
Tabela 14
Resultados em relação aos indicadores do quadro de resultados do COSOP
OS3: políticas Número de projectos em que leis ou Três: MOSAP I, SAMAP e ARP usam a
informadas pró-pobres regulamentos pró-pobres novos ou Escola de Campo como a abordagem
baseadas no melhor modificados são aplicados nos níveis metodológica para a extensão agrícola.
conhecimento da local ou nacional
pobreza rural Número de planos de ação
comunitária incluídos nos planos do Nenhuma até agora; o AFAP deveria no
governo local futuro apoiar o desenvolvimento de planos
de ação comunitários
71
301. A tabela mostra como o quadro lógico do COSOP, em certo modo, usou os
indicadores de produto dos projectos em curso na altura, PRODECA e PESNORTE,
como indicadores de resultados. Assim, se os dados estivessem disponíveis, teriam
sido úteis principalmente ao nível dos produtos, em lugar dos resultados. Além
disso, mesmo se os indicadores a nível de resultado fossem mais corretos, não se
tem certeza de que as linhas de base e o sistema de monitoria do MOSAP I,
podiam recolher estes dados duma forma sistemática.
302. Portanto, foi possível quantificar a eficácia do trabalho do FIDA em Angola apenas
de maneira parcial em relação aos indicadores do COSOP, em parte devido à
fraqueza do sistema de monitoria. Além disso, o MOSAP I não incluiu actividades
relevantes para alguns indicadores, como a segurança da posse de terra, a melhor
gestão de recursos naturais nas terras comunitárias e o abastecimento de água
para uso doméstico. As intervenções em curso e aquelas futuras podem abordar
uma melhor gestão dos recursos naturais, por exemplo o ARP em áreas de
pastagem locais; e o abastecimento de água para uso doméstico e para pecuária,
através do AFAP com trabalho de desenvolvimento comunitário; e através do ARP
nas áreas afectadas pela seca.
303. Progresso variado em direcção aos objectivos estratégicos. Em geral, os
dados disponíveis sobre o progresso do MOSAP I para os Objectivos Estratégicos
definidos pelo COSOP, nomeadamente sobre as taxas de adoção de Práticas de
Agricultura Melhoradas, a adesão à organização por parte de agricultores, o
número de mulheres em posição de liderança, refletem bem os pontos fortes e
fracos da carteira até agora. Mais especificamente, a CSPE encontrou evidências de
que o progresso foi feito conforme discutido a seguir.
304. OS1: a produção familiar de culturas alimentares aumentou, tanto na
produtividade como nos volumes, como consequência de ambos as PAM e
lavras maiores cultivadas por parte dos grupos, graças ao apoio do MOSAP I para a
cultivo mecanizado. As melhorias do rendimento foram significativas, também
devido aos dados de baixa productividade recolhidos pela linha de base; mas não
havia dados que indicassem quantos agregados familiares saíram definitivamente
da insegurança alimentar, e quantos tiveram uma melhoria apenas temporária.
Algumas lacunas importantes na análise também existiram, no que diz respeito aos
motivos da adoção desigual de algumas PMAs, em particular nos campos
individuais.
305. OS1 incluiu "segurança do acesso à terra" entre seus indicadores, embora
nenhuma ação tenha sido implementada nesse sentido. A CSPE identificou
algumas deficiências na efetividade, impacto e sustentabilidade do MOSAP I e do
AFAP, como consequência da insegurança da posse da terra. Este foi e permanece
um grande desafio que representa uma ameaça para a sustentabilidade da maioria
das intervenções nas áreas rurais, inclusive na gestão de recursos naturais e na
adaptação às mudanças climáticas, a menos que seja adequadamente abordada.
306. OS2: capacitação através das Escolas de Campo. As três iniciativas centradas
na agricultura, o MOSAP I, o SAMAP e o ARP, ao fortalecer as Escolas de Campo e
ao apoiar a alfabetização, abriram e podem abrir o caminho para um processo de
capacitação real das associações de agricultores e seus membros, como
inicialmente previsto no COSOP de 2005. O PDR do AFAP, por sua vez, adotou uma
definição de capacitação que deveria levar as comunidades a serem capazes de
tomar decisões e exigir responsabilidade em nome de seus membros.
307. OS3: impacto na implementação da política. A decisão no MOSAP I de usar as
Escolas de Campo como principal método de extensão no projecto levou à sua
adoção como metodologia de extensão agrícola nacional. As Escolas de Campo
serão ampliada em novas províncias através do SAMAP e ARP. O impacto ao nível
das políticas não foi planificado no MOSAP I, embora tivesse sido previsto na
estratégia de COSOP e no quadro lógico.
72
308. Desenvolvimento de capacidade aquém das necessidades. Um desafio
recorrente mencionado no COSOP e em toda a carteira de projectos tem sido o
reconhecimento de que Angola, devido à sua história recente, mostra uma
escassez dramática de recursos humanos nos sectores do mandato do FIDA,
inclusive em questões de gestão e fiduciárias. Apesar disso, e apesar das provisões
para o desenvolvimento de capacidades e o fortalecimento institucional nas PDRs
do AFAP e SAMAP, o FIDA não tomou medidas para disponibilizar assistência
técnica que pudesse apoiar o desenvolvimento destas competências através de
formação durante o serviço, uma orientação ou supervisão muito estreita. Apesar
dos esforços dos membros da CPMTs para fornecer uma orientação por e-mail,
telefone e durante a missão de supervisão, isso não foi suficiente para evitar
atrasos na implementação do projecto e um uso mais eficiente dos recursos
financeiros, o que, por sua vez, afectou a eficácia.
309. Avaliação da eficácia - resumo. Considerando o que foi anteriormente
apresentado, a eficácia da estratégia subjacente ao COSOP de 2005 e a carteira
dos projectos do país no período 2005-2017 foi avaliada como moderadamente
satisfatória (4).
Relevância 5
Eficácia 4
Geral 4
73
Pontos Chave
O COSOP de 2005 e o CSN de 2016, definiram adequadamente o papel do FIDA em
Angola e forneceram um sólido quadro de referência para todos os projectos
preparados e aprovados desde então.
Em consonância com as políticas nacionais, a estratégia do COSOP abordou questões-
chave que afetam a pobreza rural, nas regiões onde a ação parecia ser mais urgente.
A carteira actual permitiu que o FIDA alcançasse outras áreas geográficas e sectoriais
de pobreza, em estreita colaboração com os parceiros e atendendo às necessidades
do Governo e da população rural.
Alguns progressos foram feitos para os objectivos iniciais, embora as fraquezas nos
sistemas de monitoria não permitissem capturar melhor as mudanças nos meios de
subsistência do meio rural.
No entanto, a implementação da estratégia foi dificultada pela escassez de recursos
humanos nacionais, uma lacuna fundamental que não foi abordada adequadamente
na abordagem de implementação do FIDA.
74
VI. Conclusões e recomendações
A. Conclusões
313. Em 2002, Angola saiu-se de quase trinta anos de guerra civil. Toda a
infraestrutura física, bem como seu capital institucional e humano, tiveram que ser
completamente reconstruídas. Foram alcançadas grandes melhorias nos
indicadores macroeconómicos por meio das receitas da indústria extrativa; nos
últimos anos, porém, estas receitas se mostraram altamente instáveis e
insuficientes para garantir oportunidades económicas sustentáveis e equitativas
para todos.
314. Em particular, o sector de agricultura familiar ainda é afetado por
insuficientes investimentos nas estradas e nas infra-estruturas sociaia e
por um conjunto de políticas desfavoráveis que manteve baixos os preços da
produção agrícola interna por muitos anos. Em resultado, a agricultura ainda é:
principalmente baseada na subsistência, com baixos rendimentos e baixos retornos
do trabalho e da terra; subcapitalizada; e afetada por vínculos fracos com os
mercados locais e nacionais de insumos e produtos. A fim de que o sector
contribua efetivamente para o desenvolvimento económico nacional conforme o
seu potencial e seja atraente para os jovens, as medidas necessárias incluem
ajustes no quadro macroeconómico, melhorias no clima de negócios, construção de
infra-estruturas rurais e de transporte e investimentos no desenvolvimento de
qualificação da mão-de-obra. Além disso, as consequências iniciais das mudanças
climáticas sobre a agricultura também devem ser abordadas.
315. Um primeiro passo positivo no sentido de um ambiente mais propício para os
pequenos produtores foi o reconhecimento por parte do Governo de que a
recuperação dos sectores agrícola e rural estava desfasada. Dois outros
elementos importantes surgiram recentemente: o interesse do Governo eleito
em agosto de 2017 em reformar o sector de agricultura familiar; e o
reconhecimento pelo Ministério da Agricultura do papel importante que o sector da
agricultura familiar pode desempenhar para resolver a actual crise económica e
financeira e satisfazer a necessidade de alimentos do país. Ambos representam ao
mesmo tempo importantes motivos e oportunidades para o FIDA se tornar mais
visível e activo no país, mediante empréstimos e outras iniciativas, em apoio à
agricultura e desenvolvimento rural enfocado nos pobres.
316. O COSOP de 2005 concentrava firmemente a estratégia de intervenção do Fundo
em ajudar os pobres rurais, inclusive mulheres e jovens, a restabelecer a
capacidade produtiva, a melhorar a segurança alimentar e os meios de
subsistência. Um dos resultados positivos do enfoque na pobreza rural foi o
MOSAP I. Apoiado pelo Fundo e os seus parceiros, o projecto efetivamente
contribuiu para atingir os objectivos do COSOP, aumentando a produção e
produtividade, estabelecendo e fortalecendo organizações de produtores e
desenvolvendo a capacidade de instituições e produtores. Uma metodologia de
capacitação que facilita o diálogo entre pequenos produtores e instituições, as
Escolas de Campo para agricultores, foi implementada em grande escala e adotada
como método nacional de extensão agrícola.
317. Durante décadas, o FIDA tem sido um parceiro confiável do Governo de
Angola e proporcionado apoio quando as circunstâncias permitiram e onde as
necessidades eram mais urgentes. Mediante o trabalho dedicado de seus
funcionários, o Fundo conquistou a confiança e respeito do Governo e parceiros no
país. O modelo adotado, de um Facilitador de Projectos residente no país
que assegurou um bom diálogo e comunicação com os principais atores, se
mostrou muito eficiente e eficaz durante a primeira parte do período
avaliado. Com este modelo, o CPM e o pessoal de apoio na sede, podiam entrar
em contato com o Governo com a frequência necessária, e vice-versa. Tratava-se
de um sistema simples e barato, que permitiu uma modalidade contínua e aberta
75
de comunicação com todos os atores importantes e levou a importantes resultados
em termos de parcerias e diálogo sobre políticas.
318. Em conformidade com a Nota da Estratégia do País 2016, a actual carteira do
FIDA no país, a maior até agora, foi obtida graças às boas relações
recentemente relançadas entre o Governo e o FIDA, e à disposição do Fundo de
apoiar o país nessa conjuntura especial de crise económica e reformulação do
modelo nacional de desenvolvimento económico. Baseia-se nas licções aprendidas
até agora e expande as áreas geográficas e sectoriais de intervenção, para apoiar
os pequenos produtores em oito províncias e melhorar a produção dos agricultores
familiares, promover a gestão sustentável da pesca de água doce e aquicultura,
desenvolver cadeias de valor e se recuperar dos eventos climáticos extremos.
319. A nova carteira também representa um desafio, considerando as dificuldades
da implementação de projectos em Angola devidas ao limitado capital humano e à
complexidade das iniciativas. Outros factores que influenciaram e ainda influenciam
o desempenho das intervenções apoiadas pelo FIDA são: o padrão de comunicação
e colaboração com as instituições nacionais; e a importância de sólidas parcerias
com outros agentes para obter e ampliar resultados. Todos esses factores indicam
a necessidade de uma orientação mais intensiva e focada para que os
projectos operem de maneira eficiente e efetiva no país e uma presença
contínua no país para assegurar o nível de interação, diálogo e
coordenação necessário para atingir os resultados ambiciosos esperados.
320. A estratégia e a carteira do FIDA em Angola reconhecem a necessidade de
desenvolvimento de capacidades intensivo em todos os níveis. Isso foi
adequadamente abordado no MOSAP I, fortalecendo a capacidade, as
competências e as qualificações dos funcionários do IDA, desde o nível central até
as estações de extensão, e dos agricultores participantes. Espera-se que o mesmo
aconteça com os próximos projectos, SAMAP e ARP. Contudo, até agora pouco se
fez para abordar a escassez de recursos humanos em Angola que surge
sempre que é preciso recrutar um funcionário para a PCU ou PIU e apoiar o
desenvolvimento de um grupo de profissionais experientes, em particular na
gestão de iniciativas de desenvolvimento e questões fiduciárias e em algumas
áreas técnicas importantes para o desenvolvimento agrícola e rural. A gama de
opções e modelos que podem ser adotados é ampla, e diferentes circunstâncias
podem exigir diferentes enfoques. Entre muitas outras, a CSPE identificou
algumas modalidades que podem ser adequadas às circunstâncias específicas do
FIDA em Angola:
(a) Estabelecer acordos formais com Unidades de Gestão de Projectos por
projectos financiados por outras IFIs, desde que eles tenham profissionais
fiduciários relevantes e experientes que possam inicialmente apoiar projectos
financiados pelo FIDA;
(b) Ajudar jovens funcionários a adquirir experiência, mediante capacitação no
serviço, mentoria e supervisão de funcionários da sede ou consultores
internacionais, a distância;
(c) Designar funcionários experientes ou consultores para as PCUs por vários
meses, em tempo parcial ou integral;
(d) Encaminhar as questões fiduciárias a provedores de serviços externos;
(e) Organizar capacitações de poucas semanas na sede para funcionários da PCU
dedicados a gestão, administração e finanças;
(f) Capacitação de médio e longo prazo no exterior nas habilidades e
competências de que o país não dispõe, por exemplo, agroecologia,
agricultura de sequeiro, inocuidade e qualidade dos alimentos;
76
(g) Colaboração com universidades nacionais, para envolver professores e alunos
na concepção e implementação de projectos e contribuir para o
desenvolvimento de currículos; e
(h) Cooperação Sul-Sul e triangular sobre temas técnicos.
321. O COSOP e todos os relatórios de desenho dos projectos contêm disposições
adequadas para a inclusão de mulheres e jovens entre os beneficiários, inclusive
algumas referências a empoderamento. Na prática, muitos participantes do
MOSAP I eram mulheres, que se beneficiaram do aumento da produção e da
renda, dos moinhos e da alfabetização funcional. Contudo, foram poucos os
esforços de empoderamento das mulheres, se houve algum, o que levou a
uma parcela mínima de mulheres em funções de liderança nas associações de
agricultores, e à nenhuma mulher na função de Coordenador-chefe ou como
membro da PPIU numa função técnica.
322. Quanto à participação de jovens nos projectos do FIDA, os resultados
foram ainda menos positivos. Essa preocupação surgiu apenas recentemente no
diálogo internacional e nacional e a agricultura em Angola ainda não é um sector
atraente para os jovens. Contudo, todos reconhecem a importância, também em
termos de segurança nacional, de oferecer aos jovens as oportunidades de trabalho
decente e meios de vida sustentáveis nas áreas rurais com base na produção
primária. Além disso, tanto o empoderamento das mulheres quanto a inclusão de
jovens estão entre os pilares fundamentais das metas nacionais de uma sociedade
equitativa e pacífica; e ambos precisam ser abordados adequadamente e seguidos
nas intervenções apoiadas pelo FIDA.
323. Uma das questões a serem abordadas pela CSPE era proporcionar recomendações
para áreas de foco no próximo COSOP, a ser preparado em 2018. Em geral, os
impulsos e enfoques do AFAP, SAMAP e ARP são muito relevantes para atingir os
diferentes tipos de produtores e dirigir sua produção para os mercados nacionais,
dando atenção adequada à gestão sustentável dos recursos naturais e fortalecendo
a resiliência contra a mudança do clima e outros choques. A integração do
desenvolvimento de cadeias de valor no SAMAP será uma importante oportunidade
de testar esse enfoque no país e também poderia levar a integrar culturas
adicionais ao currículo da ECAs, para aproveitar melhor as oportunidades de adição
de valor e mercado. Entretanto, as principais questões indicadas abaixo
parecem ter sido deixadas de lado na carteira actual, embora mereçam mais
atenção e devam ser abordadas a fim de contribuir ao desenvolvimento de um
ambiente propício que permita uma redução sustentada da pobreza:
(a) Posse da terra e titulação para os pequenos produtores;
(b) Em conformidade com os princípios de agroecologia, modelos produtivos
adaptados à mudança do clima, que fortaleçam a base de recursos naturais e
usem tecnologias com baixo impacto no meio ambiente.
324. Além disso, duas áreas de trabalho provavelmente assumirão maior importância
em Angola no futuro próximo: inocuidade e qualidade da produção agrícola, da
pesca e da aquicultura; desenvolvimento agrícola em torno de centros urbanos
especializado em alimentos frescos e ao longo dos principais eixos de transporte
nacional/internacional orientado para produtos transportáveis e duráveis. Embora
talvez não sejam domínios nos quais tem uma forte vantagem comparativa, o FIDA
pode efetivamente contribuir para eles em parceria com outros atores.
325. Finalmente, num nível mais operacional, a CSPE identificou várias deficiências
na implementação do AFAP. Elas são devidas em parte a um desenho muito
ambicioso, que não levou em consideração o contexto nacional, e em parte ao
facto de que o FIDA deu pouca atenção à necessidade de tomar medidas
adequadas para abordar a limitação de capital humano em vários temas. A
combinação desses factores estava levando, na época da CSPE, ao envolvimento
77
dos beneficiários em investimentos arriscados de seu tempo e energia, assim como
a um risco de reputação para o FIDA. Ao mesmo tempo, o foco do AFAP é
altamente relevante para reduzir a pobreza e aumentar a segurança alimentar nas
zonas rurais de Angola e o projecto é uma oportunidade importante que não deve
ser perdida.
B. Recomendações
326. Com base nas conclusões indicadas anteriormente, a CSPE formulou cinco
recomendações a serem consideradas pelo FIDA e pelo Governo de Angola; elas
foram discutidas e incluídas pelas duas partes no Acordo no Ponto de Conclusão,
que será considerado na preparação do futuro COSOP.
327. Recomendação 1. Em Angola o FIDA deve continuar no seu papel de
‘campeão’ para um desenvolvimento agrícola e rural sustentável e pró-
vulneráveis e abordar, mediante seus investimentos e diálogo sobre
políticas, importantes questões relativas a posse da terra e agroecologia.
O FIDA tem sido um dos principais agentes na promoção de enfoques e
intervenções rurais pró-pobres. Essa vantagem comparativa deve ser mantida e
fortalecida, mediante uma estreita colaboração com o Governo a fim de criar um
ambiente propício e apoio direto aos pequenos produtores para melhorar seus
médios de vida e sair da pobreza, através das oportunidades de mercado que
progressivamente surgirão no país.
328. Recomendação 2. No contexto actual da carteira de projectos ampliada e
de interesse nacional crítico no desenvolvimento agrícola e rural, o FIDA
deve reforçar a sua capacidade de apoio à implementação e ao diálogo
sobre políticas no país. Para que o FIDA possa desempenhar o papel previsto na
Recomendação 1, e levando em consideração as evidências disponíveis sobre a
necessidade de uma presença tangível no país para promover a eficiência e eficácia
das interações e do diálogo sobre políticas, o modelo de Facilitador de Projectos
deve ser re-lançado, passando a ser um cargo a tempo integral e com apoio
administrativo. Isso seria um factor eficiente e eficaz para assegurar coerência e
coordenação em toda a carteira de empréstimos em crescimento, também tendo
em vista o objectivo da ampliação dos bons resultados.
329. Recomendação 3. O FIDA deve fazer do desenvolvimento da capacidade
um dos pilares e princípios transversais de sua carteira em Angola. O FIDA
deve contribuir para preencher a lacuna de capital humano nas áreas e sectores
que são relevantes para a implementação de sua carteira. Isso deve ser feito
mediante a alocação sistemática de recursos e disposições de gestão na carteira
que proporcionem oportunidades de desenvolvimento da capacidade no nível
individual e institucional, aplicando os enfoques e métodos mais apropriados,
inclusive capacitação no serviço, mentoria, capacitação de curto e longo prazo e
oportunidades de ensino superior, entre outros.
330. Recomendação 4. Os projectos apoiados pelo FIDA devem ter um foco
mais forte no empoderamento de mulheres e inclusão de jovens. A
estratégia de focalização e as abordagens de implementação do FIDA devem: (i)
integrar plenamente uma perspectiva de equidade de género e promover
ativamente o empoderamento social e económico das mulheres; e (ii) criar
oportunidades sustentáveis e atraentes no meio rural para os jovens de ambos os
sexos, promovendo seu acesso a oportunidades de desenvolvimento da
capacidade, recursos financeiros e meios de vida sustentáveis. Parece necessário
dedicar recursos humanos especializados en estes temas nas unidades de
coordenação do projecto, compartilhados entre intervenções, dada a limitada
competência nacional nessa área.
331. Recomendação 5. O FIDA e o Governo de Angola devem mudar o foco do
AFAP. O projecto deve ser reformulado, transformando-o numa iniciativa-piloto
para testar modelos de desenvolvimento da pesca e aquicultura artesanal em água
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doce e realizar estudos e análises que possam informar, , como fôr apropriado, a
futura expansão dos investimentos a outras áreas do país. Ao fazer isso, deve-se
buscar um efetivo envolvimento de todas as partes interessadas. O orçamento
deve ser revisado com base no novo plano de implementação e, se houver recursos
disponíveis, a duração do empréstimo deve ser extendida.
79