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36298/gerais202114e16385
Resumo
Este relato apresenta uma experiência de Estágio Básico em Psicologia Escolar e Educacional desenvolvida junto ao
Programa Central de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (CEAPA), do Governo de Minas Gerais.
Buscou-se relatar a complexidade dessa experiência a partir de três perspectivas: docentes, profissionais da instituição
e uma estagiária. O Estágio, fundamentado na parceria entre instituição e universidade, foi importante desencadeador
tanto de reflexões sobre o trabalho quanto de articulações teórico-práticas, além de aproximar os estagiários de
possíveis campos de atuação — sobretudo aqueles que transcendem a estrutura da escola formal — e de desafios que
se apresentam no cotidiano profissional.
Palavras-chave: Estágio básico. Psicologia escolar e educacional. Atuação do psicólogo. Formação do psicólogo.
Penas alternativas.
1
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected]
2
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected].
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Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected].
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Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected]..
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Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected].
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Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil. E-mail: [email protected].
Abstract
This report presents a Basic Internship experience in School and Educational Psychology developed with the Central
Program for the Monitoring of Penalties and Alternative Measures (CEAPA), of the Government of Minas Gerais.
We sought to report the complexity of this experience from three perspectives: teachers, professionals at the
institution and a female intern. The internship, based on the partnership between the institution and the university,
was an important trigger for both reflections on work and theoretical and practical articulations, in addition to
bringing trainees closer to possible fields of activity - especially those that transcend the structure of the formal
school - and to challenges that present themselves in professional daily life.
Keywords: Basic internship. Educational and school psychology. Psychologist's proceedings. Psychologist's training.
Alternatives to imprisonment.
__________________________________________________________________________________________
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kokadloff, levou-o para que descobrisse o
mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta
imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando
Eduardo Galeano 7
de Penas e Medidas Alternativas (CEAPA), do Governo de Minas Gerais (Minas Gerais, 2015 ).
grupo de estagiários para escrever a respeito dessa vivência. Desse modo, o presente artigo
será composto pelas produções daqueles que aceitaram o desafio de expressar por escrito
7
Galeano, E. (2011). O livro dos abraços (p. 15). Porto Alegre: L&PM.
A epígrafe de Galeano expressa algo que tem marcado a experiência desse estágio: a
futuramente, ser capazes de planejar e conduzir ações. Para isso, é preciso aprender a
“olhar” por meio de uma lente que utilize os conhecimentos psicológicos aprendidos na
graduação.
Psicologia
para atuar no campo da educação (Peretta, Silva, Naves, Nasciutti, & Silva, 2015).
2011, com disposições que trouxeram a necessidade de uma revisão nos cursos de
graduação. Com a legislação vigente, deixa de vigorar a formação organizada e regida pelo
oferecimento de todas as disciplinas teóricas nos anos iniciais do curso e dos estágios
somente nos últimos períodos. Assim, passa-se da concepção de que o estágio consistia em
um “campo de demonstração do ensino acadêmico” (Cury & Neto, 2014, p. 496), para a de
que é uma etapa fundamental da formação profissional, que propicia articulações teórico-
consonância com a Lei nº 11.788/2008 (Brasil, 2008), que trata do estágio de formação
profissional, estabelecendo que este deve preparar o futuro profissional para a vida cidadã e
para o trabalho.
comum” (Brasil, 2011, p. 7). Essa nomenclatura se refere a outra modificação substancial
ressaltar que uma possibilidade de ênfase citada pelas diretrizes é nomeada “Psicologia e
Consideramos fundamental que a Psicologia incorpore essa visão ampliada de educação, não
diversas.
Criminalidade instituída pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Subsecretaria
Segurança Pública (SESP). Os Programas vinculados a tais políticas, incluindo o CEAPA, visam
implantar um novo paradigma nas políticas públicas sobre segurança, que trate as questões
vulnerabilidades sociais que coexistem com as histórias vivenciadas pelo seu público e
A pessoa pode chegar ao Programa CEAPA por ter recebido uma pena ou uma
medida, conforme previsto pela Lei de Execução Penal (Brasil, 1984), Lei dos Juizados
Especiais (Brasil, 1995), Lei das Penas Alternativas (Brasil, 1998), Código de Trânsito
Brasileiro (Brasil, 1997) e Nova Lei de Drogas (Brasil, 2006). As alternativas penais
acompanhadas pelo CEAPA são: prestação de serviço à comunidade (PSC) e medida educativa
de comparecimento a programa ou curso educativo. Não são todos os tipos de crimes nos
quais cabe uma alternativa penal. Geralmente, devem ser de baixo potencial ofensivo, com
condenação de até quatro anos, o réu deve ser primário ou não reincidente em crime doloso
e não ter cometido crime com violência e grave ameaça. Os tipos de delito mais comuns no
CEAPA são: crimes de trânsito, porte ilegal de drogas, desacato às autoridades, furto,
medida aplicada. O atendido pode voltar ao CEAPA durante o processo, seja para entrega de
documentos que comprovem a sua regularidade, seja para finalização da alternativa penal
ou demais demandas que surjam. A equipe faz monitoramentos nas entidades parceiras
para acompanhar a relação estabelecida entre instituição e atendido, prezando pela não
recriminalização dos encaminhados, cuidando para que se vejam numa posição de agentes
Esse processo, que vai além da pena, almeja superar as vulnerabilidades iniciais que os
relações horizontais.
educacional
estagiários. Cabe destacar que a parceria com o CEAPA vem acontecendo desde 2014. Neste
educativos; e, por fim, participar de reunião de fechamento com toda equipe. Após cada ida
respeito daquilo que foi vivenciado, bem como de preparar a visita seguinte. O momento de
instituição. É preciso que leiam e estudem documentos que respaldem o trabalho realizado,
tais como: sítio oficial das instituições, documentos de referência e legislações pertinentes à
área. Por se tratar de um estágio básico, as atividades desenvolvidas pelos estagiários junto
estagiário com o processo educativo e com a atuação do psicólogo, assim como com a
equipe da instituição e com seus atendidos. Nesse momento, o discente tem a possibilidade
estagiários relatem seus aprendizados sobre o trabalho realizado e sobre o lugar que a
Psicologia ocupa na instituição. Esse diálogo é mediado pela leitura de uma carta reflexiva
construída pelos estagiários, sob supervisão das professoras, ao longo de todo o processo.
A carta reflexiva, ferramenta citada nos estudos de Carrijo e Reis (2013), Freeman, Epston e
Labovits (2001) e de Epston, White e Murray (1998), possibilita a avaliação do processo e dos
percurso no decorrer do trabalho. Cada estagiário elabora uma versão que é discutida
coletivamente no grupo de supervisão, visando construir um documento único que será lido
Perspectiva dos profissionais do CEAPA: um olhar sobre as ações propostas pelo Estágio
Supervisionado Básico
significativo para que entendessem os alcances e limites das políticas públicas nos
para além dos muros da escola, destacadamente, no caso de uma política pública de
Prevenção Social à Criminalidade, que não tem objetivos relativos à educação tão evidentes.
da equipe multiprofissional, dado que todos os profissionais são registrados como técnicos
mais sobre a forma do acolhimento, a qual foge dos moldes da Psicologia Clínica tradicional
e busca escutar o indivíduo para construir com ele caminhos que o preparem para
identificar, reconhecer e encontrar meios para que suas necessidades sejam atendidas.
acordo com suas vulnerabilidades e demandas. Os estagiários puderam perceber que nos
química, dentre outras demandas. São casos que precisam ser discutidos em equipe para
propriamente dita. A partir das reflexões dos estudantes de Psicologia expressas na carta
do Programa para o público atendido, como pode ser verificado no seguinte trecho:
possibilitam aos indivíduos criar novos sentidos, novos significados para as suas
todas as sementes germinam, assim como nem toda atividade terá um caráter
estudantes)
desenvolvido pelo Programa pode promover ao indivíduo uma reflexão sobre seus atos,
sobre o acontecimento criminal e sobre seu lugar junto à comunidade. Infelizmente, nem
todo solo é fértil, mas o trabalho segue sendo o de semear esse olhar, que possibilita outros
sentidos para a vida, para além de uma simples não reincidência criminal.
Por fim, o retorno dado pelos estagiários quanto à experiência vivida no CEAPA
promoveu algumas observações sobre a atuação dos profissionais no Programa: como não
nos atendidos?; como se cuidam, em termos de saúde e qualidade de vida?; como dar vazão
De forma geral, para além dos cuidados particulares de cada profissional com sua
própria saúde, tais reflexões fazem pensar sobre as vantagens do trabalho em equipe: a) ao
intervenções pontuais quanto ao manejo dos casos, e a Gestão Social, que faz o
O estágio objeto deste estudo também pode ser abordado segundo a perspectiva de
uma das estagiárias. Para melhor compreender os sentidos construídos a partir dessa
escolar, segundo Meira (2003), deve ocupar “o lugar possível, seja dentro ou fora de uma
instituição, desde que ele se coloque dentro da educação” (p .60). Essa afirmativa demonstra
bem a variabilidade dos espaços que o psicólogo escolar pode ocupar na sociedade.
sobre práticas em tal perspectiva nos diversos contextos educativos, e à afinidade com a
componente curricular.
quais as atividades poderiam acontecer. A escolha pelo Programa CEAPA foi imediata, em
com temáticas como a criminalidade e as políticas públicas destinadas a ela, bem como estar
em contato com uma equipe multiprofissional. Além disso, houve palestras, no decorrer do
próprio curso, ministradas pelo Gestor Social do Centro de Prevenção à Criminalidade 8, que
despertaram na estagiária o interesse pelos trabalhos sociais dos quais ele fazia parte e pelo
seu modo de compreender a criminalidade. Outra motivação para escolher o CEAPA foi a
curiosidade de poder visualizar o caráter educativo inserido nesse espaço, o que parecia ser
um desafio. Foi pensando nisso que surgiram questões pessoais que permearam a
8
Centro ao qual se vincula o Programa CEAPA.
maneira efetiva nesse contexto?”, “De que modo poderei ver a educação ali?” e “De que
escolas e de seus desafios, para depois serem lidos os textos específicos de cada instituição
Baseados em tal aporte, houve a primeira visita à instituição. Esse contato foi muito
importante para saber um pouco mais sobre o CEAPA e sobre o contexto histórico, social e
econômico no qual ele se insere. A estagiária percebeu que, no trabalho realizado pelo
Programa, é necessário conhecimento das leis e das políticas públicas que o regulamentam e
Além disso, o fato de o CEAPA trabalhar com uma equipe multiprofissional gerou
angústia e dúvidas na estagiária, tais como: “Será que o psicólogo precisa se ‘despir’ do seu
conhecimento de psicólogo e do seu ‘jeito’ de atuar para trabalhar em tal equipe?”. Assim,
das medidas. A respeito disso, ela percebeu que, em uma equipe com essa configuração, os
profissionais são, muitas vezes, responsáveis pelas mesmas atividades. Entretanto, cada um
traz da sua formação um jeito diferente de olhar para o indivíduo e para a tarefa a ser
realizada. Assim, foi possível compreender que, para atuar, o psicólogo se inspira nos
Vejo educação quando informam aos usuários sobre sua situação, seus direitos, seus
deveres e alertam sobre os riscos que correm. Vejo educação quando, ao invés de
possibilitando que ele se envolva com atividades com as quais se identifique e nas
quais se empenhe para fazer o seu melhor. (L. M. Lima, carta elaborada pela
Educação ficaram muito claras para a estagiária, uma vez que a equipe multiprofissional do
concepção histórica para compreender o ato delituoso e a violência. Tal concepção comum
compreende o indivíduo como um ser inserido em uma sociedade que possui modos de
para trabalhar com os atendidos. Assim, a Psicologia tem muito a contribuir para atender às
necessidades e cuidar dos direitos básicos dessas pessoas – saúde, educação e segurança –,
liberdade.
Dessa forma, a estagiária afirma que algumas perguntas foram respondidas durante
a experiência no estágio e outras ficaram em aberto, o que acredita ser válido e necessário.
Além disso, por meio da escrita da carta para a instituição, ela pôde refletir sobre as
Escolar e Educacional e de suas formas de atuação. Tais aspectos suscitaram o interesse por
temática de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), “Justiça Restaurativa: reflexões sobre
orientação de uma das idealizadoras do estágio, a Profª. Dr.a. Anabela Almeida Costa e
Santos Peretta.
apresentam.
estudante e também para a própria instituição que, por meio das conversas e dos encontros
pelas DCN e foi referida por Silva e Peretta (2016) como sendo uma das menos
nas equipes.
conhecimento dos estudantes sobre o funcionamento da rede e das políticas públicas, algo
que ainda se apresenta como insuficiente na formação em Psicologia (Silva & Peretta, 2016).
continuado, muitas vezes incompatível com as dimensões concretas da vida dos atendidos e
sejam fruto de uma fortalecida parceria entre a universidade e as instituições que recebem
comunidade.
Referências
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9714.htm
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm
http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_docman&view=download&alias=7692-rces005-11-pdf&Itemid=30192
Carrijo, R. S., & Reis, C. L. (2013). Cartas Reflexivas: uma ferramenta para a Orientação
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https://doi.org/10.1590/S1414-98932000000400004