Regime Jurídico Administrativo
Regime Jurídico Administrativo
Regime Jurídico Administrativo
SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................................................................3
2. PEDRAS DE TOQUE DO DIREITO ADMINISTRATIVO (CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO)............3
3. PRINCÍPIOS MÍNIMOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 37, CAPUT, CF)....................................4
a) Legalidade...................................................................................................................................5
b) Impessoalidade...........................................................................................................................5
c) Moralidade..................................................................................................................................6
d) Publicidade.................................................................................................................................9
e) Eficiência...................................................................................................................................11
f) Isonomia....................................................................................................................................12
g) Razoabilidade/proporcionalidade.............................................................................................13
h) Contraditório/ampla defesa......................................................................................................14
i) Continuidade..............................................................................................................................16
j) Autotutela..................................................................................................................................18
h) Especialidade............................................................................................................................19
I) Princípio da intranscendência subjetiva das sanções..................................................................19
J) Princípio da segurança jurídica...................................................................................................21
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO.....................................................................................23
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.................................................................................................................23
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ATUALIZADO EM 15/05/2022
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
São os alicerces, a base da disciplina administrativa como um todo. O interesse público, que é o
somatório dos interesses individuais, considerando os indivíduos em sociedade, desde que esse represente a
vontade da maioria, é a chave para compreensão. O interesse público pode ser primário ou secundário:
De acordo com Celso Antônio, as PEDRAS DE TOQUE são a supremacia do interesse público e a
indisponibilidade do interesse público.
Supremacia do interesse público: é muito importante para o convívio social e pressuposto de existência
de qualquer sociedade, sendo um conceito determinável no caso concreto. Visa satisfazer o interesse
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo ([email protected]) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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público propriamente dito, concedendo à Administração Pública algumas PRERROGATIVAS. Não está
expresso na CF. Exemplos de aplicação: atributos dos atos administrativos (presunção de legitimidade,
autoexecutoriedade e imperatividade), Poderes da Administração (poder de polícia), contratos
administrativos (cláusulas exorbitantes, art. 58 da Lei nº 8.666/93), intervenção na propriedade
(requisição, art. 5º, XXV, CF, desapropriação, art. 5º, XXIV, CF). Alguns autores, de forma minoritária,
criticam o princípio sustentando que este legitima os abusos e as arbitrariedades. Outros defendem
que, na verdade, há incorreção na sua aplicação.
#SUPREMO: doutrina minoritária admite a relativização desse princípio , ou seja, haverá a prevalência
do interesse privado.
#CASADODELEGADO:
- Interesse Público PRIMÁRIO: o interesse da coletividade. É esse interesse público primário que tem
supremacia sobre o privado.
- Interesse Público SECUNDÁRIO: é o interesse patrimonial do Estado como pessoa jurídica. Não
justifica a supremacia, NÃO dá a Administração prerrogativas.
A Administração Pública Direta e Indireta e de todos os Poderes e Estados (União, Estados, Municípios e
DF) devem obediência aos princípios aqui listados. Tal rol foi alterado pela EC nº 19/98 – adicionou o princípio
da eficiência.
*#CEBRASPE #PRF2021: O ajuizamento da ação judicial para conter eventuais abusos praticados pela
administração pública caracteriza a aplicação do PRINCÍPIO DA SINDICABILIDADE. (CERTO)
#RESPOSTA: PRINCÍPIO DA SINDICABILIDADE significa que TODO ato administrativo pode se submeter a
algum tipo de CONTROLE. Vale lembrar que, no Brasil, vigora o princípio da inafastabilidade da tutela
jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV), de tal forma que toda lesão ou ameaça de direito poderá ser controlada pelo
Poder Judiciário. Além disso, a sindicabilidade também abrange a autotutela, pois a própria Administração
pode exercer controle sobre os seus próprios atos, anulando os ilegais e revogando os inconvenientes e
inoportunos.
Portanto, o PRINCÍPIO DA SINDICABILIDADE significa que os ATOS ESTÃO SUJEITOS A CONTROLE , envolvendo
INCLUSIVE o controle JUDICIAL. Logo, o quesito está devidamente correto, pois o ajuizamento da ação insere-
se na aplicação do princípio da sindicabilidade.
a) Legalidade
É a base do Estado Democrático de Direito e garante que todos os conflitos serão solucionados pela
LEI.
Haja vista os artigos que seguem, todos da Constituição Federal:
Art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
Art. 37, caput - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte;
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.
“Administrar é aplicar a lei de ofício (Seabra Fagundes)” Enfoques: para o Direito Público, a
legalidade significa cumprir o que determina ou autoriza a lei, assim o administrador só pode realizar
o que previsto na lei (critério de SUBORDINAÇÃO à lei). É lei em sentido AMPLO, ou seja, TODO
ordenamento jurídico (JURIDICIDADE);
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Para o Direito Privado, o particular pode tudo, salvo o que está vedado pela lei (critério de não
contradição à lei). O controle de legalidade é a verificação de compatibilidade de um determinado ato
com a lei, regras e princípios constitucionais (controle em sentindo amplo). Obs.: o princípio da reserva
legal não se confunde com o princípio da legalidade , pois aquele determina que para certa matéria seja
reservada (escolhida) a espécie normativa.
Vários são os princípios constitucionais e legais que a Administração Pública está subordinada. Entretanto, cabe
destaque o estudo detalhado daqueles trazidos no art. 37 da Constituição Federal, o famoso LIMPE: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Nesta questão trataremos apenas do Princípio da
Legalidade.
O Princípio da Legalidade é a base da democracia e é o que nos assegura que todos os conflitos sejam resolvidos
pela lei. A legalidade tem dois aspectos:
a) Nas relações privadas: Aqui, os particulares buscam seus próprios interesses e são livres para atuarem, desde
que não contrariem o disposto na legislação. A lei funciona, neste caso, como limitadora de vontades.
b) Nas relações públicas: A Poder Público (Administração) só pode atuar nos moldes autorizados ou
determinados pela legislação. Aqui, a lei funciona como reguladora de vontade, ou seja, como ponto de partida
para que a Administração possa atuar.
Ocorre que, segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed., pág.
105 e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:
a) Medida provisória
b) Estado de defesa
c) Estado de sítio
Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação, o que
revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade. O Prof. Celso Antônio é um administrativista
de grande prestígio, então, fiquemos espertos à sua fala. Item CORRETO.
#ATENÇÃO #IMPORTANTE #OBSERVAÇÃODASTÉ #EMDELTA: Uma visão clássica vem sendo suplantada pela
visão contemporânea do princípio da legalidade. Fala-se na EVOLUÇÃO DA LEGALIDADE administrativa para
um conceito de JURIDICIDADE ADMINISTRATIVA. Trata-se de uma visão mais ampla, mais aberta do princípio
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da legalidade (visão ampla e englobante do princípio da legalidade). É a necessária vinculação da
Administração Pública não apenas à lei em sentido formal , mas ao ORDENAMENTO JURÍDICO COMO UM
TODO.
DICA – JURIDICIDADE ADMINISTRATIVA: Vinculação da Administração Pública não apenas à lei, mas também
ao direito, ao ordenamento jurídico como um todo. A AP pode buscar fundamento para sua atuação
diretamente na CRFB/88, ainda que não haja lei em sentido formal para habilitá-la.
Ex.²: Possibilidade de edição de decretos por governadores e prefeitos durante a pandemia COVID-19 (não seria
possível aguardar o processo legislativo tradicional).
b) Impessoalidade
O administrador NÃO PODE buscar interesses próprios, pessoais. Traz a ausência de subjetividade,
sem inclinações pessoais. O administrador deve agir no atendimento do INTERESSE PÚBLICO (de forma
impessoal, abstrata e genérica). O ato NÃO é do agente, e sim da pessoa jurídica (TEORIA DA IMPUTAÇÃO).
Exemplos: licitação (todos tem a chance de serem contratados pelo Poder Público), concurso público.
Cuidado com o conceito de impessoalidade de Celso Antônio: “traduz a ideia de que a Administração
tem que tratar a todos sem discriminações, benéficas ou detrimentos, nem favoritismos nem
perseguições são toleráveis, simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem
interferir na atividade administrativa”.
#CUIDADO: Impessoalidade x Finalidade: Divergência cogitada por Helly Lopes Meirelles (doutrina tradicional)
que sustentava que os dois princípios eram sinônimos, afirmando que após 1988 o princípio da
finalidade/imparcialidade foi substituído pela impessoalidade. No entanto, a posição de Celso Antônio Bandeira
de Melo (doutrina moderna) orienta que esses princípios NÃO SE CONFUNDEM, pois, a impessoalidade é a
ausência de subjetividade e a finalidade significa que o administrador deve buscar o espírito da lei. São
PRINCÍPIOS AUTÔNOMOS (art. 2º, III e XIII, da Lei nº 9.784/99).
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse
público e eficiência.
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III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
(impessoalidade)
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que
se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. (finalidade)
c) Moralidade
Traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé, lealdade, boa administração,
correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e errado do convívio social) por ser mais rígida,
exigindo a correção de atitudes e a boa administração.
Com a EC nº 45/2004 e a criação do CNJ e do CNMP foram publicadas resoluções que vedam o
nepotismo (resoluções nº 07/CNJ e 01/CNMP). A resolução Nº 07 foi questionada com a ADC nº 12 e o
STF declarou a constitucionalidade da norma e afirmou que representava a aplicação de vários
princípios constitucionais, como a moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.
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Além disso, o STF determinou que o CNJ pode fazer o controle administrativo do cumprimento das suas
resoluções. A vedação do parentesco (cônjuge, companheiro e parente em linha reta ou colateral até o
3º grau) fica para os cargos em que não são previstos a realização de concurso púbico – Vedações de
parentesco na mesma pessoa jurídica: entre a autoridade nomeante e o nomeado em cargo de
comissão ou função gratificada/função de confiança; entre servidor que ocupa cargo de direção, chefia
ou assessoramento e o servidor que ocupa cargo em comissão ou função gratificada; designações
recíprocas (nepotismo cruzado).
Em regra, agentes políticos estão fora da aplicação da Súmula Vinculante nº 13 de acordo com o STF
(Reclamação 6650, 7834; AgRcl 66750). "1. A jurisprudência do STF preconiza que, ressalvada situação
de fraude à lei, a nomeação de parentes para cargos públicos de natureza política não desrespeita o
conteúdo normativo do enunciado da Súmula Vinculante 13." (RE 825682 AgR, Relator Ministro Teori
Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 10.2.2015, DJe de 2.3.2015)
O STJ também já decidiu que a prática de nepotismo configura ato de improbidade administrativa
(ofensa aos princípios da Administração Pública) – Resp 1009926.
#ATENÇÃO: Aplicação da súmula sobre nepotismo deve levar em conta qualificação do nomeado para o
cargo: Citando precedentes como a RCL 17627 (de relatoria do ministro Luís Roberto Barroso), a RCL 11605 (do
ministro Celso de Mello), o ministro Fux enfatizou que, quanto aos cargos políticos, deve-se analisar, ainda, se o
agente nomeado possui a qualificação técnica necessária ao seu desempenho e se não há nada que desabone
sua conduta. Ver mais em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=309934.
*#OUSEBABER: No entendimento do STF, caracteriza nepotismo a nomeação de pessoa que possui parente no
órgão, quando este não tem influência hierárquica sobre a nomeação?
Nesse caso, não caracteriza. Inicialmente, sobre o nepotismo, vale a pena destacar que não há
necessidade de lei formal para a vedação ao nepotismo, considerando que tal proibição decorre diretamente
dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88.
Quando do julgamento da Rcl 18564/SP, o STF deixou claro que NÃO SE CARACTERIZA como nepotismo
a nomeação de pessoa que possui parente no órgão, quando este não tem influência hierárquica sobre a
nomeação.
No que pese o STF não ter esgotado todas as possibilidades de configuração de nepotismo na
Administração Pública, o citado tribunal elencou CRITÉRIOS OBJETIVOS de conformação, são eles:
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a) Ajuste mediante designações recíprocas, quando inexistente a relação de parentesco entre a
autoridade nomeante e o ocupante do cargo de provimento em comissão ou função comissionada;
b) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade nomeante;
c) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e o ocupante de cargo de direção, chefia ou
assessoramento a quem estiver subordinada; e
d) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade que exerce ascendência hierárquica
ou funcional sobre a autoridade nomeante.
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a
ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada
por uma das seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(...)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela
Lei nº 14.230, de 2021)
- Cargo em comissão = era denominado antigamente de cargo de confiança. Serve para direção, chefia e
assessoramento e pode ser exercido por qualquer pessoa, atendidas as condições mínimas. Há limite mínimo
previsto em lei e depende do cumprimento de determinados requisitos (ex.: escolaridade), mas INDEPENDE de
qualquer vínculo anterior entre a Administração Pública e o nomeado.
- Função de confiança = serve para direção, chefia e assessoramento. Somente pode ser atribuído a quem
detém cargo efetivo (acréscimo de responsabilidade). O servidor ganha um acréscimo remuneratório chamado
de gratificação por função de confiança.
Art. 37. (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais
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mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;” (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
*#OUSESABER: Segundo entendimento do STF, exposto na SV 13: Súmula vinculante nº 13: “A nomeação de
cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o TERCEIRO GRAU, inclusive, da
autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na
administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, viola a Constituição
Federal.” O próprio STF fez uma restrição à aplicação dessa súmula – e vem a reafirmando, como através RE
825.682: ressalvada a situação de fraude à lei (como por exemplo troca de favores), agentes políticos, como
secretários estaduais e municipais, não estão submetidos à tal vedação. São cargos de natureza política, não
administrativa, que demandam um elevado grau de confiança caracterizados por ter um munus decorrente da
Constituição Federal. Caso que aconteceu no Ceará: Cid Gomes (à época, Governador do Estado) nomeou seu
irmão, Ciro Gomes, como Secretário de Saúde. E os Conselheiros do Tribunal de Contas podem ser incluídos
nessa exceção? Segundo o STF, NÃO! Os Conselheiros de Tribunais de Contas são considerados cargos
administrativos, a eles então também é APLICADO a vedação nepotismo – decisão do STF na Rcl 6702.
*#OUSESABER: No Informativo 786 do STF, ADI 524, ficou decidido que o nepotismo não alcança os servidores
de provimento efetivo, pois isso poderia inibir o próprio provimento de cargos públicos e viola o livre acesso
aos cargos, empregos e funções públicas. Regra é constitucional para cargos em comissão, funções gratificadas,
de direção e de assessoramento. Inexiste proteção ou apadrinhamento quando a pessoa é aprovada em
concurso público.
*#PERGUNTA: O que se entende por TRANSNEPOTISMO? O Professor Marcelo Pilon, em seu artigo “Nepotismo,
Nepotismo Cruzado e Transnepotismo” afirma que: “(...) muitos estão tentando burlar a decisão do STF em
relação ao nepotismo; surgem novas formas de nepotismo. É recorrente nos meios de comunicação a utilização
de neologismos como: “nepotismo cruzado” e “transnepotismo”. Podemos considerar “Nepotismo-Cruzado” a
nomeação por parte dos membros do Judiciário, Executivo e Legislativo da União, Estados, Distrito Federal e
municípios, de parentes uns dos outros. É a migração de servidores não concursados “dentro de um poder”,
por exemplo, na Câmara de Vereadores, o vereador X contrata para atuar em seu gabinete o filho do vereador Y
que em contrapartida contrata a esposa do vereador X. A meu ver, o “Transnepotismo” seria uma troca de
favores “entre os poderes”, a migração de indivíduos não concursados de um Poder para outro , por exemplo:
o prefeito do município “J” contrata para atuar no município, em cargo comissionado, o filho do vereador “Z”
que em contrapartida contrata para o seu gabinete o cunhado do prefeito; há também casos onde o vereador
declara sua “lealdade” ao executivo após o mesmo ter contratado seu parente ou apadrinhado. O mais trágico,
e de certo, nada bom para a democracia e o equilíbrio entre os poderes, é a possibilidade do “transnepotismo”
e troca de favores entre o Executivo e o Judiciário, com ou sem troca de parentes para cargos comissionado.
(@top_juris)
d) Publicidade
O administrador exerce função pública em nome do povo, motivo pelo qual deve dar ciência ao titular
do direito (o povo) do que está ocorrendo. Também representa condição de EFICÁCIA, que significa início de
produção de efeitos. Os atos só começam a PRODUZIR EFEITOS a partir de sua PUBLICIDADE. Exemplo disso é
o início da contagem de prazo de um contrato, que seria a partir da data da publicação.
Art. 61. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, que é
condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês
seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor,
ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.
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- Publicidade também representa o início de contagem de prazo. Ex.: de notificação de multa de trânsito. O
prazo começa do dia em que a notificação é recebida e não da data de postagem ou expedição.
- Publicidade também é mecanismo de CONTROLE e FISCALIZAÇÃO, pois permite que o titular do poder tome
ciência do que está acontecendo no poder público, o que lhe dá oportunidade de se insurgir contra as
ilegalidades dos administradores.
- Publicidade, no entanto, é diferente de publicação. Publicidade é muito mais amplo que publicação.
Publicação é uma das hipóteses de publicidade. A publicidade deve cumprir o formalismo previsto na lei
(portas abertas, edital x vezes).
#PEGADINHA: “A licitação na modalidade convite não tem publicidade” (Falso). No convite não há publicação
de edital, pois há a carta convite. Quando se encaminha a carta aos convidados está-se realizando a
publicidade.
- Fundamentos da publicidade na CF: art. 37, caput; art. 5º XXXIII (informação), XXXIV (certidão) e LXXII (habeas
data) / Lei 12.527/11. (lei de acesso à informação). Art. 37, §3º, II – direito de acesso à informação.
* #OLHAOGANCHO: O IBGE está legalmente IMPEDIDO de fornecer a quem quer que seja as informações
individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em quaisquer
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outros procedimentos administrativos. STJ. 1ª Turma. REsp 1.353.602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 30/11/2017 (Info 617).
Obs.: Art. 37, §1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá
ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal (dever de impessoalidade) de autoridades ou servidores públicos.
Dever de publicidade, obedecendo à forma determinada . Se o agente não faz a publicidade está
praticando ato de improbidade administrativa (art. 11, Lei nº 8.429).
Pode haver a promoção pessoal por meio de terceiro, caso que haja placas do tipo “a população
agradece ao político X pela obra realizada, etc.” Deve haver uma razoabilidade ex.: placas de obras
informando o número da licitação, do contrato e o nome do administrador pode. Para haver o ilícito
dever ter a finalidade de promoção pessoal.
*(atualizado em 07/07/21) #DEOLHONAJURIS: O § 1º do art. 37 da CF/88 não admite flexibilização por norma
infraconstitucional ou regulamentar. Está em desconformidade com a Constituição Federal a previsão contida
na Lei Orgânica do Distrito Federal que autoriza que cada Poder defina, por norma interna, as hipóteses pelas
quais a divulgação de ato, programa, obra ou serviço públicos não constituirá promoção pessoal . Essa
delegação conferida viola o § 1º do art. 37 da CF/88, que não admite flexibilização por norma infraconstitucional
ou regulamentar. É de se conferir interpretação conforme à Constituição ao § 6º do art. 22 da Lei Orgânica do
Distrito Federal para que a divulgação de atos e iniciativas de parlamentares seja tida como legítima apenas
quando efetuada nos ambientes de divulgação do mandatário ou do partido político, não se havendo de
confundi-la com a publicidade do órgão público ou entidade. STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 14/5/2021 (Info 1017).
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e) Eficiência
Foi introduzido no caput do art. 37 da CF pela EC nº 19/98 (Reforma Administrativa), e foi uma das
principais inovações trazidas por ela. A emenda 20/98, apesar de ser do mesmo e ano e tratar de direito
administrativo, trata de aposentadoria. A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida
como princípio implícito e já existia de forma expressa no art. 6º da lei 8987/95, que trata de serviço público.
Esse art. 6º traz o conceito de serviço adequado, exigindo a eficiência. Vejamos:
Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos
usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
(2) Racionalização da máquina administrativa. Art. 169, CF. Não dá para gastar tudo que se arrecada com folha
de pagamento. Isso seria ineficiente. O limite com pessoal é disposto na lei de responsabilidade fiscal, que lá no
art. 19 traz esse limite de 50% para a União, 60% para estados e municípios sobre a receita corrente líquida.
E se estiver acima do limite? Começa-se reduzindo os cargos em comissão e funções e confiança em no
mínimo 20 %; na sequência, é possível a exoneração de servidores não estáveis e; por fim, os servidores
estáveis através de exoneração, por não haver caráter de punição.
Nesse último caso o cargo é extinto e só pode ser recriado com funções idênticas ou assemelhadas
quatro anos depois, para que o administrador não utilize o instituto do 169 para tirar os inimigos
políticos da Administração. A sequência não pode ser desobedecida. Somente o servidor estável tem
direito à indenização.
É preciso ter eficiência em duas esferas: meios (gastar o menos possível) e resultados (produzir os
melhores resultados).
Obs.: eficiência – conduta das pessoas; eficácia – meios, instrumentos; efetividade – resultado.
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Para saber mais: https://www.dizerodireito.com.br/2018/10/comentarios-lei-137262018-lei-da.html
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f) Isonomia
Significa tratar os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. A restrição deve
guardar compatibilidade com a finalidade da norma.
#SELIGANASÚMULA: limite de idade em concurso público. Súmula 683 STF: O limite de idade para a inscrição
em concurso público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da CF, quando possa ser justificado pela natureza
das atribuições do cargo a ser preenchido.
Para exigir limite de idade - art. 7º, XXX – o limite de idade tem que estar previsto na lei da carreira.
Esse raciocínio serve para tudo, altura, peso, atividade jurídica. Para o requisito ir para o edital tem
que estar previsto na lei da carreira e ser compatível com as atribuições do cargo . O limite de idade é
hoje possível e é acolhido pela Constituição, desde que obedecidos os requisitos.
E se a previsão está em regulamentos, regimentos e não em lei? O STF discutiu tal questão em relação
às forças armadas, pois o limite de idade estava previsto em regulamento (RE 600885). O STF decidiu
que não foi recepcionada pela CF/88 a expressão “nos regulamentos das Forças Armadas” do art. 10 da
Lei 6.880/80, que remetia a definição dos requisitos aos regulamentos. O princípio da segurança jurídica
impõe, no entanto, a modulação dos efeitos da não recepção, para assegurar a constitucionalidade dos
concursos realizados até 31 de dezembro de 2012. A primeira decisão era até 30.11.2012, mas houve
embargos e o prazo foi aumentado. Dessa forma, o STF reafirma a exigência de que os requisitos
estejam previstos em lei em sentido estrito.
b) Igualdade material - está ligada a demandas por redistribuição de riqueza e poder e, em última análise, por
JUSTIÇA SOCIAL. O desenvolvimento da ideia de igualdade material surge a partir da constatação de que não
basta proibir que haja privilégios. É preciso atuar ativamente contra a desigualdade econômica e em favor da
superação da miséria. Mais do que a igualdade perante a lei, deve-se assegurar algum grau de igualdade
perante a vida. Dessa forma, deve-se garantir a proteção jurídica do polo mais fraco de certas relações
econômicas, a criação de redes de proteção social e mecanismos de redistribuição de riquezas. Para isso, é
necessário que o Poder Público faça a entrega de prestações positivas adequadas em matérias como educação,
saúde, saneamento, trabalho, moradia, assistência social. A igualdade material encontra-se prevista no art. 3º, I
e III, da CF/88, que afirma que a República Federativa do Brasil tem como objetivos “construir uma sociedade
livre, justa e solidária” e “erradicara pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
c) Igualdade como reconhecimento: A igualdade como reconhecimento significa o respeito que se deve ter
para com as minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras.
A injustiça a ser combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais de
representação que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e produziriam
a dominação cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo. Determinados grupos são marginalizados
em razão da sua identidade, suas origens, religião, aparência física ou orientação sexual como os negros, judeus,
povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres, homossexuais e transgêneros. O instrumento para se alcançar
a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural ou simbólica. O objetivo é constituir um mundo
aberto à diferença (“a difference-friendly world”). A igualdade como reconhecimento encontra-se também
prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação”. Em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material como uma
desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem injustiças cujas raízes
se encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural-valorativa, exigindo ambos os tipos
de remédio).
Não afronta o Princípio do concurso público porque, para serem investidos nos cargos públicos, os candidatos
negros têm de ser aprovados no concurso. Caso não atinjam o patamar mínimo, sequer disputarão as vagas. A
única coisa que a Lei fez foi criar duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de reparações
históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência.
Não afronta o Princípio da eficiência porque não necessariamente os candidatos aprovados em primeiro lugar,
segundo o critério da nota, serão absolutamente melhores que os outros. A noção de meritocracia deve
comportar nuances que permitam a competição em igualdade de condições. Pode-se até mesmo imaginar um
ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas de competência técnica, ou de capacidade de
pontuar em concurso, mas sim de uma dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A
eficiência pode ser muito bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público.
20
Não afronta o Princípio da proporcionalidade porque a demanda por reparação histórica e ação afirmativa não
foi resolvida com a simples existência de cotas para acesso às universidades públicas. O impacto das cotas
raciais não se manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até que
essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. Além disso, a proporção de 20% escolhida pelo
legislador é extremamente razoável. Se essa escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em
sentido estrito, também não haveria problema, porque 20%, em rigor, representariam menos da metade do
percentual de negros na sociedade brasileira.
É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que
respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa. STF. Plenário. ADC
41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (repercussão geral) (Info 868).
g) Razoabilidade/proporcionalidade
A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do
homem médio. Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com bom senso.
Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da razoabilidade.
A palavra chave da proporcionalidade é o EQUILÍBRIO entre os atos e as medidas, entre os benefícios e
prejuízos causados. Eles estão implícitos na CF e expressos na norma infraconstitucional, ex.:
Art. 2º da lei nº 9.784/99 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência.
Eles são, ainda, limites à discricionariedade do legislador. Mesmo quando for discricionário o ato,
quando não obedecer a esses dois valores, o judiciário estará autorizado a interferir, pois são princípios
constitucionais. O poder judiciário faz aqui o controle de legalidade em sentido amplo , isto é, o controle do ato
em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF. Por isso a doutrina trata desses princípios como limitadores
da liberdade e discricionariedade do administrador.
#SUPREMO
RAZOABILIDADE: Teve origem no Direito Norte-Americano (Anglo-Saxão). Ideia de devido
processo legal substantivo, buscando por parte da AP uma ATUAÇÃO SEM EXCESSOS, com
análise das vantagens e desvantagens de uma determinada atuação, para só após esta
ponderação, de fato agir, observando sempre os benefícios daquela atuação . Em muitos casos, a
AP mesmo seguindo o devido processo legal, atuando conforme a lei, poderá atuar de forma
desproporcional. É justamente nestes casos que o princípio da razoabilidade visa interferir.
21
PROPORCIONALIDADE: Teve origem no Direito Alemão. Busca uma análise dos meios adotados
pela AP e dos fins que ela pretende atingir. Basicamente é uma análise entre os meios e os fins.
Para fazer essa análise, a AP se utiliza de subprincípios, para averiguar se aquela atuação é
proporcional ou não. Esses SUBPRINCÍPIOS são: (CONDICIONANTES DO PODER DE POLÍCIA –
DPF/2021)
o Adequação: Trata-se da análise para verificar se a medida adotada consegue alcançar a
finalidade pretendida. Como exemplo, cita-se a frase “tapar o sol com a peneira”, trata-
se de um meio totalmente inadequado para alcançar o fim almejado, portanto,
desproporcional. Decreto determinando que os bares funcionem apenas até as 20:00
com a finalidade de acabar com a gravidez na adolescência. Trata-se de uma medida que
não alcança a finalidade pretendida, portanto, inadequada e desproporcional.
o Necessidade (Exigibilidade): Determina que a AP deve adotar a medida menos excessiva
para alcançar a finalidade desejada. Exemplos: Paciente com dor no joelho, o médico
possui duas alternativas, fazer uma incisão simples ou amputar a perna. São duas
maneiras que alcançam a finalidade pretendida, porém, uma é muito mais excessiva do
que a outra, portanto, desnecessária. Emissão alta de poluentes por uma fábrica, a AP
pode determinar que se instale filtros na chaminé, ou poderá cassar a licença de
funcionamento. Observe que cassar a licença de funcionamento é muito excessivo,
portanto, desnecessário.
o Proporcionalidade em Sentido Estrito: partindo do pressuposto de que se tem uma
atuação adequada e necessária, chegou a hora de realizar uma ponderação no caso
concreto acerca das vantagens e desvantagens daquela atuação, verificando se os
bônus serão maiores que os ônus.
*(Atualizado em 14/11/2020) #SELIGANAJURIS A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações
em que Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de
crédito. Descabimento da inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de
pendências administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Caso concreto. O
Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias federais. Em razão desses
débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União.
Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado expediu precatórios,
que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra
a União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo
passivo. A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugna
inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam
decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os Sistemas
22
SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de regência, do que decorre a
legitimidade desta para figurar no polo passivo. Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade. É
INDEVIDA a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de pendências
administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já previu
que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade de intervenção federal
no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o Estado-
membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em cadastros
desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 –
clipping).
h) Contraditório/ampla defesa
Art. 5º, LV, CF. Vejamos: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Os processos administrativos e judiciais estão sujeitos ao contraditório e à ampla defesa. Na via judicial
já estão sedimentados. Na via administrativa só aparece com a CF/88. A maioria das nulidades em processo
administrativo ocorre por falta de contraditório e ampla defesa, pois ainda se vive um amadurecimento dessa
consolidação.
- A ampla defesa é a oportunidade da parte se defender. Quais são os elementos que devem ser cumpridos
para que a ampla defesa seja efetiva?
A defesa tem que ser prévia, isto é, tem que ANTECEDER o convencimento do julgador +
conhecimento do procedimento + conhecimento das possíveis sanções.
Conhecer as informações do processo: provas, acusações, etc.
Direito à produção de prova e sua consequente avaliação, para que ela interfira no julgamento. Tem
que ser citada, debatida.
Defesa técnica – advogado? Durante muitos anos, paulatinamente, o STJ construiu uma jurisprudência
no sentido de que a presença do advogado contribui para a regularidade do procedimento. Com isso, o
23
STJ publicou a súmula 343, afirmando que o advogado deveria estar presente em todas as fases do PAD
(processo administrativo disciplinar). Gerou uma grande confusão, pois se o advogado não estivesse
presente o processo seria anulado. Muitos servidores demitidos teriam direito à reintegração com
todas as vantagens do período em que estava afastado. O STF então para resolver a polêmica
econômica, editando a súmula vinculante nº 5, que a falta de defesa técnica não viola a CF, revogando
assim a súmula 343 do STJ.
*Atualizado 18/08/2021 (por mim mesma) #AJUDAMARCINHO: Para que haja a inscrição de ente subnacional
em cadastro de inadimplentes é necessário o prévio julgamento da tomada de contas especial? A inscrição de
entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à negativa de realização de convênios,
acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que impliquem transferência voluntária de recursos),
pressupõe o respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, SOMENTE
RECONHECIDO: a) APÓS o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo perante o
Tribunal de Contas, nos casos de descumprimento parcial ou total de convênio, prestação de contas rejeitada,
ou existência de débito decorrente de ressarcimento de recursos de natureza contratual (salvo os de conta
24
não prestada) e; b) APÓS a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto (conforme
constante em lei, regras infralegais ou em contrato), INDEPENDENTEMENTE de tomada de contas especial, nos
casos de não prestação de contas, não fornecimento de informações, débito decorrente de conta não
prestada, ou quaisquer outras hipóteses em que incabível a tomada de contas especial . STF. Plenário. RE
1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 327)
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: A Súmula Vinculante nº 5 continua válida. O STF rejeitou proposta da OAB
que pretendia o cancelamento do verbete. Após a edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na
jurisprudência ou na percepção da sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do enunciado. A súmula
vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser cancelada ou revista em caso de
superveniência de fatos suficientemente relevantes. Assim, a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a CF. STF. Plenário. PSV 58/DF, julgado em 30/11/2016 (Info 849).
*#LEMBRAR #OLHAOGANCHO: Para súmula vinculante ser modificada devem ocorrer 03 fatores: a) evidente
superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria; b) alteração legislativa quanto ao tema; ou c)
modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.
Direito de recurso: para isso é necessário que haja uma decisão fundamentada. A Súmula Vinculante
21 trata da inconstitucionalidade no que tange a depósito prévio ou arrolamento e bens como
condicionante ao recurso administrativo. O recurso não poderia ficar vinculado à capacidade financeira
da parte. A SV 21 foi elaborada no âmbito da discussão do processo tributário, mas foi ampliada para
alcançar qualquer processo.
3
Atenção Concursos Federais: ler na íntegra – Inf. 825 pág 3.
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/05/info-825-stf.pdf
26
processos de “controle abstrato”, o Tribunal de Contas não faz o exame de ato específico do qual decorre efeito
favorável ao administrado. A Corte está examinando a regularidade das contas do órgão e a repercussão sobre
eventual direito individual é apenas indireta. STF. 1ª Turma. MS 34224/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
15/8/2017 (Info 873).
#ATENÇÃO #DEOLHONANOMENCLATURA: CONTROLE EXTERNO LINEAR aquele que é feito, por meio de
auditoria, pelo Tribunal de Contas e os órgãos da Administração. Esse controle NÃO SE SUJEITA A
DECADÊNCIA e não ofende o princípio do devido processo legal, ao não chamar todos os eventuais
interessados, com reflexos, na tomada de decisão.
i) Continuidade
- Art. 6, § 3, da Lei 8.987/95 - NÃO SE CARACTERIZA como descontinuidade do serviço a sua interrupção em
situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações; II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
#OBSERVAÇÃO¹: a energia elétrica dos hospitais e dos logradouros públicos NÃO pode ser cortada, em razão
de interesses maiores de saúde e segurança.
#OBSERVAÇÃO²: da mesma forma o usuário que padece de doença e necessita da energia em sua casa para o
seu tratamento. Ex.: dependente de aparelhos médicos.
#OBSERVAÇÃODASTÉ #EMDELTA: E quando o poder público for o usuário? Ex.: O Estado de Minas Gerais não
está pagando as contas de energia de escolas. Deve ser verificado o caso concreto, ou seja, caso seja colocado
em risco o interesse da coletividade, não pode haver o corte. O ônus de comprovação é do poder público
(caso administrativamente não seja resolvido, deve-se judicializar a questão).
27
#OLHAOGANCHO - CORTE EM SERVIÇOS PÚBLICOS - JURISPRUDÊNCIA EM TESE STJ
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente o usuário, desde que
precedido de notificação.
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem técnica ou de segurança
das instalações, desde que precedido de notificação.
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à saúde e à integridade
física do usuário.
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente pessoa jurídica de
direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não atinja as unidades prestadoras de
serviços indispensáveis à população.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente unidade de saúde,
uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a inadimplência do usuário decorrer
de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao
mês do consumo.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário anterior, em razão da
natureza pessoal da dívida.
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por configurar abuso de
direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo cabível a indenização ao
consumidor por danos morais.
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito decorrer de irregularidade
no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela concessionária.
O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que originou o débito, e não
sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.
#IMPORTANTE #GREVE: Aponta a CF: art. 37, VII - o DIREITO DE GREVE será exercido nos termos e nos limites
definidos em lei específica. Até 98 a exigência da CF era de uma lei complementar. Com a EC 19/98 isso mudou.
Lei específica é aquela que trata de apenas um assunto específico. Obs.: Enquanto a norma não é editada, pode
haver o exercício de greve pelos servidores? José Afonso da Silva – norma de eficácia plena, contida, limitada, de
acordo com a aplicabilidade. O artigo supracitado é de EFICÁCIA LIMITADA, pois não pode haver o exercício do
direito constitucional, enquanto não houver lei que o regulamente. Por muitos anos se considerou a greve do
servidor como ilegal, onde se exigia a compensação de horas. Havia inclusive casos de demissão, o que era
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absurdo, pois demissão é sanção e requer PAD, no reconhecimento de falta grave, o que não é o caso do
exercício de greve. Em sede de mandado de injunção, o STF certificou o Congresso acerca da omissão
constitucional, realizando apenas a declaração da omissão. MI 670/708/712 – STF resolveu que o enquanto a lei
de greve dos servidores não fosse editada, seria aplicável aos casos, no que couber, a Lei 7.783/89 , passando
os mandados de injunção a terem efeitos concretos. Em regra, o MI reconhecia a omissão e tinha efeitos inter
partes. Esses novos MI´s, no entanto, passam a ter efeitos concretos e erga omnes.
*#OUSESABER: Enfim, depois de muita discussão, em 27/10/16, o STF proferiu tese de repercussão geral sobre
o desconto dos dias de greve no serviço público! O Plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento
do Recurso Extraordinário 693456, com repercussão geral reconhecida, que discute a constitucionalidade do
desconto dos dias parados em razão de greve de servidor. Por 6 votos a 4, o Plenário decidiu que a
Administração Pública deve fazer o corte do ponto dos grevistas, mas admitiu a possibilidade de compensação
dos dias parados mediante acordo. Ao final do julgamento foi aprovada a seguinte tese de repercussão geral: "A
Administração Pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito
de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida
a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público". Então, nem sempre a Administração poderá fazer o desconto
dos servidores, já que no caso de o movimento grevista ter sido motivado por conduta ilícita do próprio Poder
Público, o desconto não poderá ser feito.
j) Autotutela
*#SELIGANASÚMULA: Súmula 346 STF A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios
atos - e Súmula 473 STF - A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem
ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se
necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla
defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a
29
observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF,
rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).
h) Especialidade
Quando as pessoas da administração direta forem criar as pessoas da administração indireta, devem
fazer através de lei, que irá tratar da sua finalidade específica , que irá vincular as atividades da pessoa criada.
Não pode exorbitar aquilo que foi previsto na lei de sua criação. Essa finalidade inclusive só pode ser alterada,
igualmente, através de lei. Obs.: essa ideia também deve ser aplicada aos órgãos públicos.
*(Atualizado em 14/11/2020) #SELIGANAJURIS Poder Executivo NÃO pode ser incluído nos cadastros de
inadimplentes da União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos autônomos. A
imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de órgãos dotados de
autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui violação
do princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não tem competência para intervir
na esfera orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de contratar
operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal por outros
poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO
3072, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).
*#QUESTÃODEPROVA:
Veja como o CESPE cobrou o assunto em 2016, na prova do TCE-PR:
Quando a União firma um convênio com um estado da Federação, a relação jurídica envolve a União e o ente
federado e não a União e determinado governador ou outro agente. O governo se alterna periodicamente nos
termos da soberania popular, mas o estado federado é permanente. A mudança de comando político não
exonera o estado das obrigações assumidas. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem entendido
que a inscrição do nome de estado-membro em cadastro federal de inadimplentes devido a ações e(ou)
omissões de gestões anteriores não configura ofensa ao princípio da administração pública denominado
princípio do(a)
a) intranscendência
b) contraditório e da ampla defesa.
c) continuidade do serviço público.
d) confiança legítima.
4
Atenção Concursos Federais: ler na íntegra – Inf. 825 pág 5 -
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/05/info-825-stf.pdf
31
5
e) moralidade.
*#SÚMULA #STJ: Súmula 615 – STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros
restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as
providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. (Súmula 615, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 09/05/2018, DJe 14/05/2018).
*(Atualizado em 28/12/2020) Município pode obter certidão positiva com efeitos de negativa quando os
débitos são da Câmara Municipal (e não do Poder Executivo). É possível ao Município obter certidão positiva
de débitos com efeito de negativa quando a Câmara Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda
Nacional, tendo em conta o princípio da intranscendência subjetiva das sanções financeiras . STF. Plenário. RE
770149, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Repercussão
Geral – tema 743) (Info 993).
5
GABARITO: A
6
CAIU NA DPEMT/2016: por força deste princípio, as orientações firmadas pela Administração Pública não podem, sem
prévia publicidade, ser modificadas em casos concretos para agravar a situação dos administrados ou negar-lhes direitos.
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#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o PRINCÍPIO DA
PROTEÇÃO DA CONFIANÇA dos administrados constitui a FACE SUBJETIVA do princípio da SEGURANÇA
JURÍDICA. Essa face subjetiva relaciona-se com o caráter psicológico daquele que acreditou estar atuando
conforme o direito. Assim, a caracterização da confiança legítima do administrado para com a administração
depende necessariamente da boa-fé do administrado, que acreditou nas expectativas geradas pela atuação
estatal. Logo, não se admite a invocação do princípio da proteção da confiança quando o administrado atua
de má-fé perante a administração. Tampouco se admite a invocação do princípio em comento nos casos em
que o particular sabe que está albergado por medida judicial precária, como nos casos de posse precária em
cargo público via decisão liminar.
Ainda nesse cenário de confiança e expectativa entre administração e administrado, os tribunais
superiores vem ADMITINDO a aplicação do venire contra factum proprium (proibição do comportamento
contraditório) no âmbito do direito administrativo. Ora, se existe todo um aparato principiológico regulando
essa relação entre particular e Estado, não haveria motivo para se negar a aplicação deste consectário do
princípio da boa-fé e do respeito aos deveres anexos de lealdade, cooperação e informação da Administração
Pública perante os seus administrados, atuando de modo a não os surpreender.
ATENÇÃO!! A jurisprudência dos Tribunais Superiores não admite a aplicação deste princípio no caso
de situações flagrantemente inconstitucionais.
Reserva de administração em sentido estrito está associada à ideia de separação de poderes, baseia-se na
proibição de ingerência de um Poder nas FUNÇÕES TÍPICAS de outro. Objetivamente, a reserva em sentido
estrito se revela na proibição voltada ao Legislativo e ao Judiciário para que esses Poderes não adentrem no
campo da função administrativa, especificamente no mérito administrativo.
33
Já a reserva de regulamento verifica-se quando o ordenamento jurídico, especialmente a Constituição, tira
determinada matéria do âmbito do Poder Legislativo, atribuindo exclusivamente ao Poder Executivo a
competência para normatizá-la, que a exerce por meio dos regulamentos autônomos. Neste caso, há uma
vedação à edição de leis formais nesses campos, sob pena de inconstitucionalidade formal. No Brasil é
admitido a edição de regulamentos de execução independentes. Entretanto, devem ser atendidos alguns
requisitos como: não incidir em um campo de reserva legal; buscar atender aos objetivos do Estado, ao
interesse público ou tutelar direitos; ser editado de acordo com os princípios de direito administrativo, etc.
O STF já reconheceu a reserva de administração em várias hipóteses, como no RE 427.574-ED, Rel. Min. Celso
de Mello, julgamento em 13-12-2011, Segunda Turma; ADI 3.343, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 1-9-2011.
*Tal reserva pode ser dividida em 2 categorias: a) GERAL, que se fundamenta no princípio da separação dos
poderes e significa que a atuação de cada órgão estatal não pode invadir ou cercear o núcleo essencial da
competência dos outros órgãos; b) ESPECÍFICA, que surge quando a CF destaca determinadas matérias,
submetendo-as à competência exclusiva do Executivo.
*Atualizado em 15/05/2022:
Controle da Administração Pública é a fiscalização que um órgão exerce sobre outro órgão por
atribuição legal e constitucional. Pode ser um autocontrole (mesmo órgão) ou heterocontrole (órgãos
distintos). Se envolver poderes distintos e se não houver previsão constitucional está invadindo funções.
A Administração Pública, no exercício de suas funções, sujeita-se ao controle por parte dos poderes
LEGISLATIVO e JUDICIÁRIO, além de exercer, ela mesma, o controle sobre os próprios atos (Maria Sylvia de
Pietro). Pelo princípio da AUTOTUTELA, a administração tem o poder/dever de controlar seus próprios atos (STF,
súmula 473).
34
Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Esse controle não só abrange os órgãos do Poder Executivo, mas também os demais poderes, quando
exerçam função tipicamente administrativa; em outras palavras, abrange a Administração Pública considerada
em sentido amplo.
A finalidade do controle é assegurar que a Administração atue em consonância com os princípios que
lhe são impostos pelo ordenamento jurídico (legalidade, moralidade, finalidade pública, publicidade,
motivação, impessoalidade, etc.). Assim, a função de controle é inerente à atividade administrativa.
Embora o controle seja atribuição estatal, o administrado desempenha importante papel à medida que
pode provocar o controle seja em defesa de interesse próprio, seja no interesse da coletividade. “ É esse,
provavelmente, o mais eficaz meio de controle da Administração Pública: controle popular.” (Maria Sylvia Di
Pietro)
Art. 37 (...) §3º A lei disciplinará as FORMAS DE PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
direta e indireta, regulando especialmente:
I – as RECLAMAÇÕES relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de
serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, na qualidade dos serviços;
II – o ACESSO dos USUÁRIOS a REGISTROS ADMINISTRATIVOS e a INFORMAÇÕES sobre atos do governo,
observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;
III – a disciplina da REPRESENTAÇÃO contra o exercício negligente ou abuso do cargo, emprego ou função na
administração pública.”
#SELIGANATABELA
Tipo de Controle Características
Controle interno É próprio Administração Pública, como dever-poder de autotutela, abrange
legalidade e mérito, atua sob as formas de fiscalização hierárquica, supervisão
ministerial e recursos administrativos.
Controle externo Poderes Legislativo e Judiciário sobre a Administração Pública, abrange o
controle da legalidade, legitimidade e economicidade (mérito), tendo
dimensão política e financeira
* Maria Sylvia Di Pietro e Odete Medauar acrescentam o controle concomitante, que se processa na medida
em que se desenvolve a atividade administrativa.
** Também chamado controle quanto ao objeto ou natureza.
8
O Controle de legalidade pode ser interno ou externo. “O judiciário, por exemplo, examina a legalidade de atos
administrativos em mandado de segurança (art. 5º, LXIX, CF). O legislativo, pelo seu Tribunal de Contas, aprecia a
legalidade dos atos de admissão de pessoal (art. 71, III, CF). E a Administração, em qualquer esfera, controla a legalidade de
seus próprios atos.” (Carvalho Filho)
9
“O controle de legalidade é o que se preordena a verificar a conformação, ou não, da atuação administrativa com a ordem
jurídica para confirmá-la ou desfazê-la.” (Gasparini)
37
ato.
MÉRITO - O controle do mérito é ultimado por atos de confirmação da
conduta (aprovação, confirmação), quando esta não precisa ser
revista.
- Se a Administração entender que deve rever a conduta
ocorrerá a revogação.10
- A revogação não pode atingir direitos adquiridos e somente
pode produzir efeitos prospectivos (ex nunc).
*Apenas em casos excepcionais o Poder Legislativo poderá realizar controle de mérito sobre atos
administrativos dos outros Poderes. Trata-se de um controle, sobretudo, político. Nestes casos o Legislativo
atua com discricionariedade. Ex.: apreciação prévia pelo Senado dos escolhidos pelo Presidente da República
para ocupar cargos de presidente e diretores do Banco Central.
#DEOLHONAJURIS #CONTROLEDELEGALIDADE:
O controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos diz respeito ao seu
amplo aspecto de obediência aos postulados formais e materiais presentes na Carta Magna, SEM, contudo,
adentrar o mérito administrativo. (STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 49202/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 02/05/2017)
No controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário limita-se ao campo da
regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato, não sendo possível nenhuma incursão
no mérito administrativo a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade , de maneira que se mostra
inviável a análise das provas constantes no processo disciplinar para adotar conclusão diversa da adotada
pela autoridade administrativa competente. (STJ. 1ª Seção. AgInt no MS 22526/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 10/05/2017)
Consoante entendimento consolidado no STJ, a intervenção do Poder Judiciário nos atos administrativos cinge-
se à defesa dos parâmetros da legalidade, PERMITINDO-SE a REAVALIAÇÃO do MÉRITO ADMINISTRATIVO tão
SOMENTE nas hipóteses de comprovada VIOLAÇÃO aos princípios da legalidade, razoabilidade e
proporcionalidade, sob pena de invasão à competência reservada ao Poder Executivo . (STJ. 1ª Turma. AgInt no
REsp 1271057/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/05/2017).
10
“Revogação é o meio de que se socorre a Administração para desfazer situações administrativas anteriores, tendo em
vista critérios de cunho exclusivamente administrativos.” (Carvalho Filho)
38
Controle Popular: parte da doutrina considera esse controle popular como subespécie do controle
administrativo.
Direito de petição: faculdade que dispõem os indivíduos de formular qualquer tipo de postulação aos
órgãos públicos. Fundamento: art. 5º, XXXIV, “a”, CF;
Instrumentos de controle administrativos com previsão constitucional. Exemplos: art. 31, § 3º e art.
74, § 2º; ambos da CF.
Controle Administrativo:
Controle Legislativo:
4.1. Accountability
Trata-se de um termo da língua inglesa que pode ser traduzido como responsabilidade com ética e
remete à obrigação, à transparência, de membros de um órgão administrativo ou representativo de PRESTAR
CONTAS a instâncias controladoras ou a seus representados. Esse processo de accountability é composto por
TRÊS DIMENSÕES: (JIP)
INFORMAÇÃO: divulgação transparente das informações para que a população tenha acesso.
JUSTIFICAÇÃO: esclarecimento dos atos e tomadas de decisão.
PUNIÇÃO: responsabilização e sanção dos gestores pelos atos de gestão ou descumprimentos da Lei.
VERTICAL: controle realizado pela população sobre os administradores públicos, através dos instrumentos
de participação popular (voto, plebiscito, referendo e ação popular).
HORIZONTAL: ocorre por meio do processo de controle e fiscalização entre os poderes (sistema de freios e
contrapesos), ou entre os órgãos e instituições públicas, a exemplo do realizado pelos tribunais de contas e
controladorias.
SOCIAL (SOCIETAL): processo de controle não eleitoral, representa as diversas entidades sociais, como
associações, ONGs, mídia, sindicatos, etc. Que, investigam e denunciam abusos de poder, cobrando a
responsabilização.
#OLHAOGANCHO: Outro termo que tem sido utilizado nesse âmbito de gestão de contas públicas é
GOVERNANÇA, compreendido como a forma pela qual o governo gerencia os recursos econômicos e sociais a
fim de concretizar o interesse público. Em outras palavras, refere-se à capacidade administrativa e financeira,
de um governo implementar as políticas públicas.
42
De acordo com o Referencial Básico de Governança Organizacional (TCU, 2020): “A governança pública
organizacional compreende essencialmente os mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em
prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, com vistas à condução de políticas públicas e
à prestação de serviços de interesse da sociedade.”
De acordo com esse Referencial Básico, a governança de órgãos e entidades da administração pública
envolve três funções:
Nesse sentido, o Referencial indica que a governança se relaciona com processos de comunicação; análise e
De acordo com o Banco Mundial (2007), são PRINCÍPIOS da boa governança a:
Legitimidade;
Equidade;
Responsabilidade;
Eficiência;
Probidade;
Transparência;
Accountability.
#NÃOCONFUNDA – Governança com governabilidade: esse se refere à capacidade política de governar. Deriva
da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade.
O termo accountability vem tomando grande importância no cenário do ordenamento jurídico pátrio, tanto na
esfera privada como na administração pública. Sem tradução exata para o português, seu significado envolve as
questões relacionadas à responsabilidade do gestor pela administração , pelo cumprimento da legislação
aplicável, pela utilização de mecanismos que assegurem a diminuição de riscos na administração.
Neste contexto, o controle interno se revela como instrumento valioso para a accountability, na medida em
que através dele podem ser criadas normas regulamentadoras de rotinas administrativas capazes de diminuir
as possibilidades de erros, fraudes ou outras irregularidades nos processos de trabalho das instituições , na
medida em que o controle interno verifica e revê̂ estes processos e, por fim, na medida em que identifica
irregularidades, busca soluções para saná-las e induz a responsabilização dos respectivos agentes.
Outro mecanismo de responsabilização do mau gestor público, cuja estruturação compete ao município, é a
corregedoria. A respeito, extrai-se do texto da cartilha “Como implementar uma corregedoria em municípios”,
também elaborada pelo Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União:
43
As medidas de combate à corrupção e de promoção da integridade e da ética são bases fundamentais para uma
boa gestão pública. Entretanto, para alcançar o sucesso das medidas preventivas, são necessários mecanismos
que garantam seu cumprimento e reprimam eventuais desvios de comportamento. Essa é a função de
corregedoria, também conhecida como função de correição.
(...) Quando aplicadas de forma rápida e justa, as medidas correcionais ajudam a criar uma cultura de
integridade, que passa a fazer parte de toda a Administração e, ao fim, da própria sociedade. Fica evidente que
o combate à corrupção deve ser objetivo constante do Estado.
É importante ressaltar que não só o gestor público está sujeito à responsabilização por irregularidades
detectadas na sua administração, mas também o responsável pelo sistema de controle interno. De fato, em caso
da não adoção das medidas cabíveis frente a uma irregularidade detectada ou detectável está sujeito o
responsável pelo controle interno à aplicação de penalidade.
Na oportunidade, cabe recorrer mais uma vez aos ensinamentos de Marçal Justen Filho:
O exercício do controle conduz não apenas à identificação de defeitos ou imperfeições. Essa é uma das etapas do
controle. É essencial, ademais disso, que a verificação de um defeito ou de uma insuficiência sejam
acompanhadas da adoção ou da proposição de providências compatíveis.
Verificando a existência de um defeito (ilegalidade ou inconveniência) na atividade administrativa, surgirá o
dever de o órgão de controle propor a solução a ser adotada. Portanto, a adoção de providências para corrigir os
defeitos não é discricionária. A autoridade investida na competência de controle está juridicamente constrangida
não apenas a desencadear a atividade de scalização. Também lhe incumbe, de modo inafastável, promover as
providências cabíveis em face de eventuais irregularidades. A omissão ou a recusa em o fazer configurará
infração a deveres funcionais, senão atuação criminosa. (Art. 320 do CP)
O controle interno poderá resultar na correção do defeito, quando tal se inserir na competência do órgão que
exercita o dito controle. Em outros casos, caberá ao titular do controle comunicar a existência do defeito às
autoridades envolvidas, para que adotem as providências necessárias.
Portanto, no plano valorativo (despregado de amarras preconceituosas) o controle popular quanto à efetividade
dos direitos humanos conclama ampla participação dos movimentos sociais no cumprimento do múnus
fiscalizatório. Insista-se que o controle popular dos direitos humanos desenvolvido pelos movimentos sociais tem
melhores condições em exigir “prestação de contas” do poder público (accountability), porque infenso à
estrutura orgânica estatal e dotado de organicidade própria.
Em reciprocidade, aos agentes do Estado, dogmaticamente compreendidos como legitimados na função
procedimental dos direitos humanos, cumpre à prestação de contas (accountability) já que responsáveis pelo
governo. Ou seja, accountability é sistema de direito e dever ao mesmo tempo.11
11
https://www.mpmg.mp.br/data/files/0F/73/2B/EC/E744A7109CEB34A7760849A8/MPMGJuridico_PatrimonioNotas2.pdf+&cd=10&hl=pt-
BR&ct=clnk&gl=br.
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Accountability começou a ser entendida como questão de democracia, em que “quanto mais avançado o
estado democrático, maior o interesse pela accountability. E a accountability governamental tende a
acompanhar o avanço de valores democráticos, tais como igualdade, dignidade humana, participação,
representatividade” (CAMPOS, 1990, p. 4).
ACCOUNTABILITY, em suma e tomando por base um conceito aproximado, pode ser entendida como a
TRANSPARÊNCIA dos governantes na prestação de contas e, também, na RESPONSABILIZAÇÃO destes
mesmos governantes pelos seus atos (PINHO; RAUPP, 2011). A accountability emerge da relação entre o
Estado e a sociedade, propiciada pelo desenvolvimento democrático e, partindo desta emersão governante-
governado que a accountability pode ser entendida como um processo de controle, que se estende ao longo do
tempo (eleição e mandato) e no qual devem participar, de um modo ou de outro, os cidadãos organizados
politicamente” (LOUREIRO; ABRUCIO, 2002, p.59). Soma-se ao conceito acima a necessidade de regras nas
quais a accountability possa ser exercida através de práticas ampliadas de negociação entre os atores,
visando tornar “públicas e legítimas as decisões tomadas” (PINHO; RAUPP, 2011,).
Não há dúvida que a ideia central de accountability refere-se à FISCALIZAÇÃO e ao CONTROLE dos agentes
públicos. No entanto, as divergências começam a surgir ao tentar delimitar os objetos, meios e sujeitos de
exercício deste controle e sobre quais os mecanismos de controle devem ser incluídos na abrangência de
accountability.
O controle horizontal se perfaz através da mútua fiscalização entre os poderes ou entre estes e os respectivos
órgãos públicos. Exemplo clássico do controle horizontal é aquele exercido pelos Tribunais de Contas, em que
estes órgãos possuem poderes para realizar ações de fiscalização e, se for o caso, impor sanções aos
transgressores. Percebe-se, pois, que na accountability horizontal a relação instaurada percorre os próprios
poderes estatais, sem, contudo, haver a participação direta do cidadão.
45
Em contrapartida, a accountability VERTICAL igualmente remete à ideia de controle, mas, desta vez, o controle
EMERGE DO POVO, ou seja, o próprio cidadão controla os políticos e as ações governamentais . Tal
questionamento é revestido de especial importância ao analisar os meios institucionalizados e não
institucionalizados do exercício democrático. Isto porque para alguns autores como Guillermo O’ Donnel (1988),
Fernando Abrucio e Maria Rita Loureiro (2002) a noção de responsabilização originada a partir da accountability
abrangeria tão somente os meios de controle institucionalizados, desconsiderando, por conseguinte, alguns
agentes como a imprensa e a sociedade civil. O controle institucionalizado é exercitado por meio de
instrumentos reconhecidos e validados pela ordem jurídica vigente, como o plebiscito, o referendo e a iniciativa
popular além do voto. Ambos são formas de controle cuja participação popular é imprescindível.
No entanto, a noção de controle atrelada a tais instrumentos restringe a participação de importantes atores,
cuja contribuição pode ser essencial na efetivação do comando de fiscalização e responsabilização dos
governantes. Isto porque os mecanismos institucionalizados de participação popular existentes no cenário
nacional mostram-se enfraquecidos, seja pela dificuldade em utilizá-los, como a ação popular que possui
quórum de assinaturas do eleitorado distribuídas entre no mínimo cinco Estados da Federação ou até mesmo
pelo desuso demonstrado ao longo da história brasileira, como o referendo e o plebiscito, pouco utilizados.
Assim sendo, a ampliação do controle e, consequentemente, dos instrumentos que o efetivam possibilitará
maior participação popular e, com isso, mais efetividade à ideia de democracia materializada por meio da
accountability vertical.
O controle vertical pode ocorrer em momentos distintos, se concretizando por meio da democracia
participativa. No Brasil, a participação popular ocorre por meio do voto, da iniciativa popular, do referendo e
do plebiscito. Estas são as formas típicas de participação popular, sendo que o voto é a mais conhecida e
possivelmente a mais mobilizadora. No entanto, as eleições ocorrem periodicamente e, portanto, o voto
propriamente não pode ser considerado instrumento principal de exercício da accountability vertical, pelo que
se impõe a criação de novas condições como forma de proporcionar o controle vertical, com vistas a conceder
maior transparência às ações dos representantes e fortalecer o vínculo de confiança entre o Estado e a
sociedade civil, tornando a relação representante-representado mais ampla e democrática. Igualmente ocorre
com a ação popular, o referendo a iniciativa popular, instrumentos que conotam pouca força social em razão da
carência de uso na história brasileira. Se considerado o estágio democrático recente no Brasil, por certo a
participação popular na construção da democracia brasileira encontra sua verdadeira evolução (senão seu
próprio surgimento) a partir da promulgação da Constituição da República de 1988, diferente de outros países,
em que a democracia direta como, por exemplo, na Suíça, em que a participação do cidadão envolve muito mais
que votar em candidatos, representando o meio efetivo de tomadas de decisões. Tanto é que dois dos
instrumentos de democracia direta dos tempos modernos, o referendo e a iniciativa popular, encontram
guarida primeiramente na Suíça, sendo disseminado ao longo da história em outros países, alcançando o Brasil.
46
A noção de accountability está intimamente ligada à noção de cidadania organizada, o que explica a carência do
conceito e do exercício do controle vertical no Brasil.
É notório que há falha social no que se refere à permissão do exaurimento da accountability, mas não é apenas
o cidadão que pode suportar o ônus dessa frustração de controle, até porque a ideia central da accountability é
o dever de prestação de contas do agente público e de boa governança, ambos os deveres constitucionais
atribuídos ao administrador público como forma de dar aplicabilidade à cidadania e com vista a propiciar o
exercício efetivo da democracia participativa.
O direito à boa administração entre os princípios gerais do direito administrativo é mais que uma obrigação do
administrador, pois é um direito cívico do administrado “a boa administração, portanto, não é uma finalidade
disponível, que possa ser eventualmente atingida pelo Poder Público: é um dever constitucional de quem quer
que se proponha a gerir, de livre e espontânea vontade, interesses públicos” (NETO MOREIRA, 2009, p. 119).
Assim, segundo o autor, a boa administração corresponde a um direito cívico do administrado implícito na
cidadania.12
#DEOLHONAJURIS:
Legalidade, discricionariedade, proporcionalidade: o controle judicial dos atos administrativos na visão do
STJ13
O ato administrativo – espécie de ato jurídico – é toda manifestação unilateral de vontade da administração
pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato resguardar, adquirir, modificar, extinguir ou
declarar direitos, ou, ainda, impor obrigações aos administrados ou a si própria. Esse é um dos temas mais
estudados no âmbito do direito administrativo e, da mesma forma, um dos mais frequentes nas ações ajuizadas
contra a administração pública. Em razão do poder discricionário da administração, nem todas as questões
relativas ao ato administrativo podem ser analisadas pelo Judiciário – que, em geral, está adstrito à análise dos
requisitos legais de validade, mas também deve aferir o respeito aos princípios administrativos, como os da
razoabilidade e da proporcionalidade. Cotidianamente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) é acionado para
estabelecer a correta interpretação jurídica nos conflitos que envolvem esse tema.
13
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/13032022-Legalidade--discricionariedade--proporcionalidade-o-controle-judicial-
dos-atos-administrativos-na-visao-do-STJ.aspx.
47
Com esse entendimento, os ministros acolheram recurso especial de um candidato reprovado na fase de
investigação social em concurso da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) por ter admitido o uso de drogas
oito anos antes do certame.
Ao determinar a reintegração do candidato ao concurso, o colegiado considerou, entre outras razões, o fato de
ele já exercer um cargo no serviço público; o longo período desde que teve contato com entorpecentes e a sua
aprovação na investigação social em outro concurso para a carreira policial, no Maranhão.
Na avaliação do relator, ministro Og Fernandes, impedir o candidato de prosseguir no certame, além de revelar
uma postura contraditória da administração – que reputa como inidôneo um candidato que já é integrante dos
seus quadros – acaba por aplicar uma sanção de caráter perpétuo, "dado o grande lastro temporal entre o fato
tido como desabonador e o momento da investigação social".
Sob a relatoria do ministro Herman Benjamin, a Segunda Turma deu provimento ao RMS 58.373, interposto por
candidatos de um concurso para juiz substituto no Rio Grande do Sul, e reconheceu a nulidade da prova prática
de sentença cível e criminal, determinando que outra fosse realizada pela banca examinadora.
Os candidatos alegaram ilegalidade em razão da falta de transparência quanto aos critérios de correção das
provas práticas, pois não foram divulgados os espelhos com a atribuição das notas aos itens considerados
necessários. Segundo eles, os parâmetros divulgados eram genéricos, o que prejudicou a sua defesa no
âmbito administrativo.
No caso, o magistrado verificou que o espelho de prova apresentado pela banca possuía padrões de resposta
genéricos, sem detalhar quais matérias a comissão entendia que deveriam ser abordadas para que a resposta
fosse correta, o que impossibilitou aos candidatos o exercício do contraditório e a ampla defesa.
Somente após a interposição do recurso administrativo, afirmou o relator, é que a administração apresentou,
de forma detalhada, as razões adotadas para a fixação das notas, "invertendo-se a ordem lógica para o
exercício efetivo do direito de defesa, em que primeiro o candidato deve ter conhecimento dos reais motivos
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do ato administrativo para depois apresentar recurso administrativo contra os fundamentos empregados pela
autoridade".
Por identificar ilegalidade no ato de divulgação do espelho de prova, Herman Benjamin entendeu que o caso
se amoldava à ressalva da parte final do precedente firmado pelo STF: "Não compete ao Poder Judiciário
substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados,
salvo ocorrência de ilegalidade ou de inconstitucionalidade".
O colegiado acompanhou o relator do AREsp 1.108.757, ministro Napoleão Nunes Maia Filho (aposentado), que
considerou ILÍCITO o fato de a motivação para a remoção do policial ter sido apresentada só após a prática do
ato administrativo.
"Caso se permita a motivação posterior, dar-se-á ensejo para que se fabriquem, se forjem ou se criem
motivações para BURLAR eventual impugnação ao ato", afirmou. Para o ministro, não se pode admitir que,
diante da contestação na via judicial ou administrativa, o gestor construa uma motivação para validar o ato
administrativo.
O magistrado lembrou que o princípio da motivação regula a condução dos atos administrativos que negam,
limitam ou afetam direitos e interesses do administrado. Segundo ele, para que o ato administrativo seja
válido, deve observar, entre outros, os princípios da impessoalidade, da licitude e da publicidade – pilares do
direito administrativo –, que se fundem na chamada motivação, que é a apresentação das razões fáticas ou
jurídicas determinantes da expedição do ato.
O colegiado manteve acórdão no qual o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) considerou nula a
decisão do juízo da Vara de Execução Penal de Porto Alegre que instaurou procedimento judicial para apurar o
cometimento de falta disciplinar por um detento e, após a manifestação da defesa e do Ministério Público na
49
audiência de justificação, reconheceu a prática de falta grave e determinou a alteração da data-base para
futuros benefícios.
Os ministros acompanharam a conclusão do TJRS de que a sanção disciplinar constitui ato administrativo
vinculado, necessariamente precedido de procedimento administrativo com a garantia do direito de defesa, cuja
competência é do administrador do presídio.
O relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, lembrou que, no âmbito da execução penal, a atribuição de apurar a
conduta faltosa do detento, assim como verificar se ela corresponde a uma falta leve, média ou grave, conforme
a norma legal, é do diretor do presídio, em razão de ser o detentor do poder disciplinar.
"O diretor do presídio deve apurar a conduta do detento, identificá-la como falta leve, média ou grave, aplicar
as medidas sancionatórias que lhe competem, no exercício de seu poder disciplinar, e, somente após esse
procedimento, quando ficar constatada a prática de falta disciplinar de natureza grave, comunicar ao juiz da
vara de execuções penais para que decida a respeito das referidas sanções de sua competência, sem prejuízo
daquelas já aplicadas pela autoridade administrativa", afirmou Bellizze.
O entendimento foi aplicado pela Terceira Turma no julgamento do REsp 1.782.024, em que o colegiado
reconheceu a prescrição de ação na qual o São Paulo Futebol Clube buscava a decretação de nulidade da marca
ST Sócio Torcedor. Os ministros aplicaram a regra do artigo 174 da Lei de Propriedade Industrial (LPI), que fixa
em cinco anos o prazo para declarar a nulidade do registro, contados da data de sua concessão.
O recurso teve origem em ação anulatória movida pelo São Paulo, em que foi discutida a anulação do registro
de exclusividade de marca. A concessão da marca ST Sócio Torcedor ocorreu em 2002, e o processo de anulação
foi proposto em 2010.
A relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, destacou em seu voto que o artigo 54 da Lei 9.784/1999 é regra
geral destinada ao administrador público, que lhe confere o direito potestativo de anular seus próprios atos no
prazo de cinco anos, sob pena de convalidação pelo decurso do tempo.
Para a magistrada, entender que a ação de nulidade seria imprescritível equivaleria a esvaziar completamente o
conteúdo normativo do dispositivo invocado (artigo 174 da LPI), "fazendo letra morta da opção legislativa e
50
gerando instabilidade, não somente aos titulares de registro, mas também a todo o sistema de defesa da
propriedade industrial".
Ao concluir o voto, a ministra afirmou que a imprescritibilidade não constitui regra no direito brasileiro, sendo
admitida somente em hipóteses "excepcionalíssimas", que envolvem direitos da personalidade, estado das
pessoas ou bens públicos, e que casos como o do recurso em julgamento devem se sujeitar aos prazos
prescricionais do Código Civil ou das leis especiais.
Não se aplica.