A Bruxa de Évora
A Bruxa de Évora
A Bruxa de Évora
c om
A BRUXA DE ÉVORA
MARIA HELENA FARELLI
Era uma vez a poderosa Bruxa de Évora que conquistou e aterrorizou
gerações de corações luso-brasileiros por séculos e que possuía um caderno
completamente abarrotado de poções, feitiços, bruxedos, encantamentos,
banhos, rezas etc. Sua fama singrou barreiras cronológicas e físicas e
aportou no Brasil com os navegantes portugueses... Sua magia criou raízes
e ramificações se entrelaçando com as religiões ameríndias...
Se vocêdeste
páginas quiser saber
livro mais sobre
e descubra comoa resolver
Bruxa deseus
Évora, leia atentamente as
problemas.
As
de lendas
a Idadesobre a Bruxa
Média, de Évora
quando vêm povoando
a Inquisição deixouo sua
imaginário
marca ibérico des-e
de terror
perseguições gravada a ferro e a fogo naquela Península, sobretudo em
Portugal.
A caça às bruxas, aos feiticeiros e às pessoas que supostamente tinham
pacto com o diabo foi tão feroz e violenta que ficou registrada não apenas
nos livros da Igreja Católica, mas também no inconsciente coletivo dos
habitantes daquela região. Assim, a cidade de Évora ficou conhecida tanto
por ser o local onde a força da Inquisição se fez mais presente como por ser
uma terra consagrada ao sobrenatural e à feitiçaria.
Tanto é que séculos após o término da Idade Média a força dessa persona-
gem lendária — a Bruxa de Évora, também conhecida como a Moura
Torta — ainda permanecia incólume no folclore português e acabou
aportando no Brasil Colônia junto com as caravelas do descobrimento e,
posteriormente, dos colonizadores.
Apesar de temida, as pessoas sempre buscaram conhecer os poderes dessa
Bruxa: seus feitiços, sortilégios, banhos, amarrações, conjuros etc., com a
finalidade de obter cura, proteção e sucesso no amor e na vida.
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Por essa razão, a autora, Maria Helena Farelli, tentou resgatar um pouco
desse saber e trazê-lo progressivamente para o grande público que em
pleno século XXI procura cada vez mais a ajuda da magia e dos fenômenos
sobrenaturais e paranormais para transformar seu cotidiano.
Filtradas as diferenças de época, as adaptações e criações sobre o tema etc.
a autora conseguiu reunir um material que, sem dúvida, ajudará a resolver
muitas demandas daqueles que dele precisam.
É ler para crer e testar a força desta Bruxa secular que tanto assombrou
seus contemporâneos. Boa Sorte e mãos à obra!
SUMÁRIO
Apresentação Prefácio
Portugal entre rei católico e crenças medievais
Peregrinos e pagadores de promessas
Mouros encantados nas vizinhanças de Évora
Maravilhas na Sé de Évora
Encantarias da Bruxa de Évora
Monstros e dragões
O livro negro das bruxas
Visões e fantasmagorias em tempos de festa
Bruxaria entre alegria e morte
Travessuras e feitiços
O livro de orações da Bruxa
da Bruxa de Évora no Brasil
de Évora
Feitiços da Bruxa de Évora
Bibliografia
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APRESENTAÇÃO
Em um depoimento acerca das feiticeiras modernas, a autora de "A Bruxa
de Évora", Maria Helena Farelli, diz que "é bem fácil reconhecer uma
bruxa. Ela tem o olhar claro e direto e é sempre muito simpática." Diz
ainda que é neta de uma cartomante cigana e sobrinha de uma quiromante;
diz também
seu destino:queformou-se
descobriu cedo que era bruxa.
em jornalismo e Mesmo assim, uma
quis seguir tentoucarreira
mudar
independente das tradições familiares. Mas a sorte só batia à sua porta
quando escrevia sobre temas místicos. Por isso, resolveu assumir defi-
nitivamente sua missão e hoje, quarenta livros publicados, sabe que fez a
opção certa.
Ela afirma ainda que "as bruxas modernas não cruzam os céus cavalgando
vassouras nem cozinham morcegos em enormes caldeirões, tampouco
correm o risco de serem levadas às fogueiras da Inquisição." Ao contrário,
"bem-sucedidas e respeitadas, elas se apresentam em programas de TV e
de rádio, recebem clientes de todo o mundo e na hora de viajar preferem o
conforto dos aviões."
Isso é verdade. Mas, o que acontece quando uma feiticeira fala de outra
bruxa, bem mais velha, que viveu na Idade Média, quando se temia a
chegada do fim do mundo é do Anticristo? Voam sapos e
morcegos? Sim, e sabedoria! E assim é este livro. Quando entra o século
XXI e todos escrevem sobre Nostra-damus, Maria Helena Farelli nos fala
de alguém tão famoso em Portugal quanto este profeta; só que ela, a Bruxa
de Évora, está mais perto de nós, pois nos foi trazida pelos nossos
colonizadores em meio a santos, lendas e coragem em desbravar o mundo.
Tendo um avô português, a autora presta uma homenagem a Portugal e a
seus navegadores que fizeram nosso país e nos legaram a língua mais
difícil do mundo e a magia mais poderosa da Europa medieval. E nossa
personagem, de Évora, dos anos do início do milênio, vem mesmo a calhar.
Demetér, Ísis, Ishtar voam nos ares. Abram o livro, leitores, que é tempo
de grandes feitiços!
O Editor
PREFÁCIO
10 Segundo as lendas, quem descobriu a Cruz de Cristo foi Santa Helena. Ela dizia que
nos pedaços de madeira havia propriedades curativas. Cirilo de Alexandria, escrevendo
em meados do século IV, disse que porções da cruz já se tinham espalhado por todo o
mundo. São Paulino recebeu um fragmento da cruz de sua parenta, Santa Melânia, quando
esta re¬gressou da Terra Santa. Ele, por sua vez, enviou-a a seu amigo Sulpício Severo, o
historiador, no ano 404.
Ele gritou. Chispas voaram da fogueira. Um uivo se fez ouvir: Satã por
certo estava lá; e a Bruxa de Évora foi vista voando num bode preto... A
bruxa voava alto, acompanhada por um veado e por um javali alados.
Lebres e raposas saíam das tocas e saudavam a velha feiticeira dando
guinchos... Esta mesma história é contada em Ruão, junto à catedral, e em
Reims, pelos membros do baixo clero. E eles juram por Abraão e
Melquisedeque, pelos vitrais sagrados de todas as catedrais...
Na época, os padres mandavam em toda parte. Os mosteiros, no início
locais de retiro e introspecção, agora eram centros de cultura. Cabia à
Igreja o papel de guardar o patrimônio cultural acumulado da Grécia, da
Babilônia, de Alexandria, enfim, o saber reunido durante muitos séculos.
Sob a luz de grossas velas, monges liam e copiavam. Difundiam entre si o
acervo da Antiguidade.
Os dízimos, os donativos, as dádivas, as esmolas, os tributos e os
emolumentos dos serviços espirituais faziam a Igreja cada vez mais forte e
rica; e o grande movimento das Cruzadas para a Terra Santa muito
contribuiu para isso.
Portugal, com sua forte vocação para o mar, participou ativamente desse
movimento. Quando o reino se preparava para uma grande expedição, tudo
deveria seguir conforme o combinado, pois tratava-se de uma Cruzada,
onde a pontualidade era imprescindível. O primeiro passo era o
recrutamento dos homens; mas como o rei iria convencer aquele povo
ignorante e medroso a deslocar-se para terras longínquas, desconhecidas,
encarar sem medo os sacrifícios e colocar em risco a própria vida? Onde
achar tantos guerreiros que soubessem manejar bem as armas? Eles teriam
de perfurar túneis sob as fortificações de Jerusalém, construir catapultas
que atirassem
lançarem pedrasdas
no interior no praças,
interioragüentar
das muralhas, subir pelas
a luta contra escadas
as espadas para se
infiéis.
O rei teria de acenar-lhes com vantagens para que os portugueses
matassem mouros, como ocorrera na batalha de Alcácer-do-Sal, anos antes.
O rei teria de lhes dar privilégios, e o Papa deveria perdoar-lhes os
pecados, dando às esposas e aos filhos o manto seguro da Igreja... Foi por
esse motivo que, durante as Cruzadas, a Igreja começou a conceder
indulgências, as chamadas "Bulas da Santa Cruzada", compradas por aque-
les que se iam arriscar nas guerras na Terra Santa.
Mas não foi esta a única fonte de riquezas para a Igreja. Todos os reis
cristãos, ao vencerem uma batalha, davam parte das terras tomadas à
Igreja. E também havia a riqueza que vinha dos infiéis que, ao serem
derrubados pelos cristãos, tinham parte de suas terras doadas ao clero.
A Igreja tornou-se assim proprietária de um terço de todas as terras da
Europa. Ao lado das grandes catedrais pululavam as pequenas igrejas,
sobretudo no norte de Portugal, onde o desenvolvimento das ordens
religiosas provocou a construção de muitos edifícios convencionais. O
ouro chegava fácil a Roma, como antes a Constantinopla. A Igreja
aproveitava o fervor religioso da época, crescia cada vez mais e se tornava
mais poderosa.
Lisboa foi uma das principais cidades dominadas pelos árabes no território
português; mas não mostra apenas a sua influência. Ela foi ocupada pelos
romanos no ano 205 a.C, sendo uma das cidades mais antigas da Europa. A
lenda lhe atribui uma origem fantástica: teria sido fundada pelo herói grego
Ulisses, justificando assim a etimologia de seu nome - Olissibona ou
Lissibona. Mas, de todos os antigos conquistadores, foram os árabes que
deixaram
Península aIbérica.
influência mais profunda, com oito séculos de permanência na
Na época de que falamos, o oriente muçulmano era sentido com toda sua
força em Lisboa, como pode ser visto ainda hoje, principalmente em
Alfama; o próprio nome desse bairro é árabe e sua sé foi construída sobre
uma antiga mesquita. Mas todas as cidades da região sofreram a influência
desse povo. Em todas elas, muitos árabes andavam pelas ruas vendendo
pão; outros tinham suas lojas de ouro e pedras preciosas. Com seus
tamboretes de madeira à porta da loja, outros ainda vendiam doces, sedas,
escudos de couro, berloques, almofadas, elixires de cura e outras magias,
colares de ouro com granadas e punhais maravilhosos.
Mas que têm a ver os árabes com a nossa história? E que, segundo a lenda,
a Bruxa de Évora era moura; sim, diziam que era árabe ou mourisca. Era
morena, não branca como a maioria das portuguesas. Tinha vindo de terras
quentes e tinha amigos árabes, mas fora
12
Os árabes são povos de religião islâmica, originários da Arábia, na Ásia Menor, que
formaram um império abrangendo, por conquista, o norte da Africa e a Península Ibérica;
os mouros eram, na Idade Média, um povo de religião islâmica, originário da Mauritânia,
no norte da África.
criada na Ibéria; por isso, ela falava bem o árabe e o português, além do
latim13.
A lenda diz ainda que seu pai e sua mãe morreram quando ela tinha sete
anos; que uma velha tia a criou e ensinou-lhe as artes mágicas, dando-lhe
como talismãs sete moedas de ouro do califa Omar, uma pedra ágata com
inscrições em árabe e uma chapa de prata com o nome do Profeta. E a
ensinou a trabalhar em olaria: a bruxa fazia suas panelas de barro e seus
vasos. Dizem alguns que ela era louca por tapetes e, todo dinheiro que
ganhava, gastava neles.
A bruxa árabe era chamada de Moura Torta, nome que fazia os portugueses
se arrepiarem, fazendo o sinal da cruz; e como moura e bruxa passou à
história.
principalElaartigo
usava do
trapos, mas emdos
comércio seu peito
árabesbrilhava um amuleto
na Europa, de âmbar,
matéria muito
procurada no oriente. Talvez presente de um amor, em sua juventude. Mas,
se ela teve amor, ocultou-o bem. Cavaleiro e sua dama não faziam parte de
seus sonhos, nem o jovem herói libertando a virgem. Era uma mulher cheia
de idéias de quedas e subidas... eterna bruxa encolhida ao lado de sua
lareira.
Diz
rico atinteiro
lenda que
de ela lia ocinzelado.
cobre Corão e escrevia; tinha entre e,seus
Sabia matemática pertences
olhando um
o céu,
reconhecia as estrelas; sabia ler a sorte nas areias, nas estrelas, e fazer
feitiços e curas. Ela conhecia as magias de seus ancestrais muçulmanos;
mas, vivendo no século XIII, também sabia a dos celtas, que por muito
tempo ocuparam o sul de Portugal.
Infiel, portanto. Adoradora do Cão... Inimiga da Igreja.
13 Todos os habitantes da Europa falavam um pouco de latim, pois era a língua oficial do
Império Romano; mas, com a chegada dos bárbaros na Europa ocidental, entre os anos
500 e 1000, cada região e cada
MARAVILHAS NA SÉ DE ÉVORA
O grande centro cultural de Portugal na época era Coimbra, uma
encantadora cidade, com um modo de ser ao mesmo tempo romano,
bárbaro e mourisco. Encastelada devido ao entornar das águas do rio
Mondego, que costumava levar na correnteza tudo que havia nas suas
margens, Coimbra tinha paisagens belíssimas. Nas margens do rio,
lavadeiras lavavam a roupa, batendo-as umas contra as outras, estendendo-
as a secar, espalhando um cheiro bom, de roupas limpas, por toda a cidade.
Nesta época, o rei se apresentava cheio de jóias, com coroa e gorgeira 14 de
15 16
pedras citrinas
suntuosos , anéisOnos
do Oriente. dedos,
povo garçota
o via, ao rei denoPortucália,
chapéu e roupas
como adeumtecidos
deus,
e em sua vida monótona aceitava tudo, desejando um dia ir para o céu, para
o Paraíso, como afirmavam os padres andarilhos que iam de burgo em
burgo para louvar a Deus. O povo se alegrava com estes padres do baixo
clero, como na época dos torneios, das saturnálias17 ou das festas da Igreja.
14 Gorgeira = gargantilha.
15 Citrina = amarela.
16 Garçota = penacho feito com plumas.
17 Saturnalia = antiga festa romana
18 Pano de Ávila = tecido produzido na província espanhola de Avila.
19 Dolmen = monumento formado por uma pedra colocada horizontalmente sobre
outras verticais.
20 Menir = monumento formado por uma pedra vertical isolada.
dos romanos, que tinha catorze colunas de granito com soberbos capitéis
de mármore rosado, e de cujo friso de granito alguns fragmentos,
guardados no Museu Regional de Évora, mostram a rara beleza. A capela
de Évora, transformada em Sé em 1186, era bela em seu estilo românico.
De noiteparte
animal, (os lusitanos
vegetal,juravam)
de duas aparecia
faces, comuma"grillo",
boca nas parte homem,
costas parte
ou sem o
tronco... amigo das feiticeiras, por certo, mandado pela Bruxa de Évora, a
mais famosa daquelas terrinhas...
Os restos de outras eras eram temidos pelo povo da região: ninguém
gostava de ir lá, principalmente à noite; mas a bruxa lá ia, ficava junto à
gruta, acendia fogueiras e cantava em língua estranha, enquanto o povo,
assustado, se escondia em suas casas, fazendo sinais-da-cruz. Assim
contavam os guerreiros, como o valente Rodrigo Sanches, cujo corpo está
no mosteiro de Grijó, com seu elmo cilíndrico à cabeça, capelina de malha
modelando o crânio e cota de cores vivas, com caneleiras e joelheiras de
ferro; como Dom Brites de Gusmão, que está em seu sarcófago em
Alcobaça; como tantos outros guerreiros, cujas estátuas, hoje no Museu de
Évora, atestam suas roupas e suas valentias. Esfolas, faixas de rameados,
flores-de-lis, signos-saimões21 aí estão para quem quiser ver. E a casa da
Bruxa, lá em Évora, ainda está também...
A velha bruxa via tudo com seu mocho às costas. Freqüentava procissões
que caminhavam por Portugal dias seguidos. Ia descalça, em meio à lama;
muitas vezes foi expulsa. Ao soar dos sinos, ela surgia à porta da igreja; aí
ela rezava e cuidava de santos e relíquias. Escondida junto aos muros do
mosteiro, enquanto os pássaros noturnos a espiavam, a bruxa ouvia os sons
da biblioteca, escutava os monges falarem em latim e a tudo recolhia com
seu mocho no ombro...
Signo-saimão = o mesmo que signo de Salomão: estrela de seis pontas.
A bruxa ia à capela e rezava junto às estátuas do portal. Quando ela lá
estava, somente os mendigos e os leprosos permaneciam; eles soavam seus
guizos, saudando a bruxa com dignidade; e ela lhes oferecia unguentos
para seus males, dava-lhes a bênção e recitava fórmulas de cura. A bruxa
era
nha;respeitada pois,um
mas quando apesar de ser
grande feia, chegava
senhor tinha umaà dignidade que se
Sé de Évora, comimpu-
um
pregoeiro à frente gritando sua chegada, ela corria, pois os poderosos
vinham com escolta e exibição de armas, excitando temor e criando inveja.
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Por isso a bruxa sumia. Doentes diziam que ela voava numa vassoura...
outros, que ela apenas corria para longe!
do céu como um cometa, junto à basílica de São Gião. Também foi vista
no Douro, no Minho, em Lamego, em Felgueiras, em Castro de Avelãs, em
Cerzedelo, em Coimbra, em Lisboa, em Alcobaça e no Algarve. Foi vista
sobrevoando menires e cromeleques23 do antigo Portugal.
MONSTROS E DRAGÕES
O bode sempre foi um animal de feiticeiros, talvez por ser muito sensual.
Tem um nome fascinante e alucinante. Sugere pacto com demos, feiticeiras
desdentadas,
grande magia.íncubos belos,
A figura serespertence
do bode parte homens e parte
a velhas animais,
crenças pagãs24força de
; aparece
nos cultos etruscos, celtas, gregos, romanos. O carro de Thor, o deus do
trovão, era puxado por bodes.O bode da era pagã emprestou sua forma para
o diabo que surgiu na Idade Média. Mas afinal, o que é o diabo medieval?
Mistura do deus Pã da fertilidade, de faunos e silenos, de Baco e Dionísio,
de Príapo, todos cultuados juntos em uma Bizâncio esquizofrênica, onde
havia Vitórias aladas e cópias de águias sassâ-nidas.
21 Signo- saimão = o mesmo que signo de Salomão: estrela de seis pontas.
22 Pelote = camisa larga, usada por baixo da capa ou por cima da armadura.
23 Cromeleque = círculo feito com grandes pedras verticais, dispostas em torno de uma
pedra central.
O culto pagão que teimava em existir em Constantinopla espalhou-se pelo
mundo através dos comerciantes.
Esses deuses antigos tornaram-se inimigos da Igreja e quem os adorasse ia
para a fogueira da Inquisição.
Dizem que existe há séculos uma seita secreta de homens que voam
velozmente pelos ares, montados em grandes bodes pretos; eles voam
durante as noites para matar e roubar. Pelo menos era isso que ocorria na
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A Bruxa de Évora dizia que, quando os dragões gritam, suas vozes são
como o barulho que fazem as bacias de cobre quando são golpeadas. Com
a saliva que eles expelem pode-se fazer todo tipo de perfume. Seu alento,
ela contava, transforma-se em nuvem e eles utilizam essa nuvem para
cobrir seus corpos. Quando chovia violentamente, a Bruxa uivava
chamando o dragão; assim contavam em Évora, no tempo do rei. Ela via
dragões de perto e tocava em seus chifres... eterna bruxa, rainha das noites
sem lua, senhora da escuridão do cosmos, a mulher em seu estado mais
sensitivo, unida à grande-mãe do passado esquecido.
Mas não só de bodes e dragões era feito o bestiario da Idade Média. Havia
os cinocéfalos, raça de homens com cabeça de cachorro; homens com ore-
lhas como enormes cogumelos; e os pigmeus. E havia os grifos, com garras
enormes. Nos tesouros de São Denis, do século XIII, há garras desse
animal mitológico, que se acreditava oriundo da Ásia. Conta a lenda que a
Bruxa de Évora, guerreira destemida, golpeou um grifo e que o matou com
uma reza de Santa Tecla, santa feiticeira, assim como São Cipriano e São
Martinho Veroux.
Nas festas de aldeia, contava o povo que aparecia o lobisomem, o homem-
lobo. Ele era pouco diferente de um lobo normal, a não ser pelo tamanho,
um pouco maior que o da espécie selvagem.
Era peludo e feroz, andava ereto sobre duas pernas, rosnava e espumava, e
tinha dentes lupinos. Seu aspecto era sujo. De homem só tinha a voz e os
olhos. Tinha o corpo coberto de pêlos e as garras de um lobo selvagem.
Diziam alguns que a transformação em lobisomem era hereditária: sua
doença era transferida de geração a geração. Mas outros diziam que a
depravação mental de certos homens fazia com que se transformassem em
lobisomens. Neste caso, o efeito era produzido pela magia negra, em rituais
terríveis. Eles sediabólicas
bebiam poções untavam ecom óleos, usavam
prestavam culto aocintas
diabo.e peles
Muitosdecontavam
animais,
que, quando eles eram homens, seus pêlos cresciam para dentro e, quando
se transformavam em lobo, eles apenas viravam do avesso. Um outro
método de virar lobisomem era conseguir uma cinta feita de pele de um
homem enforcado. Tal cinta era fixada com uma fivela com cinco
lingüetas. Quando a fivela se abria, o encanto era cortado.
O lobisomem que aparecia na Sé de Braga e fazia companhia à Bruxa de
Évora tinha sobrancelhas que se encontravam na curva do nariz e longas
unhas com o formato de amêndoas, ambas de tom vermelho-sangue, e seu
terceiro dedo era muito longo. As orelhas eram muito baixas e apontadas
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para a parte de trás da cabeça. Suas mãos e seus pés eram peludos. Corria
pelos cemitérios, pelos adros das igrejas, pelas florestas e uivava.
Figura comum na Idade Média, esse ser fantástico acompanhava bruxas e
feiticeiras, que não lhe faziam mal. Além dele, havia uma mulher-pássaro
que voava com asas negras tão imensas, que todos chegavam a ouvir o seu
bater. Palhaços, lobisomens, mulher-pássaro, moura torta dançavam juntos
no sabá...
seu mocho, seu bode voador, seu dragão formoso. É noite enluarada, luar
do sertão do Brasil...
Muitos catimbozeiros juram que a Bruxa de Évora passa a noite montada
nesse cavalo fantasma... É, ela fez muita coisa no Brasil colônia... No
catimbó, o povo acredita no cavalo fantasma, animal assombroso que
apavora as estradas. Ninguém o vê, mas o sente passar, ouvindo as
passadas firmes. Uma luz clara dele emana, que desenha na rua o seu vulto.
REZA DO MOCHO
Essa reza serve para pedir proteção contra inimigos.
"Eu sou ferro, tu és aço,
eu te prendo e embaraço.
Tu és fraco, eu sou forte,
eu te venço e te amasso.
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Tu és de espírito pobre,
eu sou de espírito rico,
nada e ninguém comigo pode
pelas armas de São Jorge.
Se o mocho vier não me leva,
pois ando com as armas de São Jorge."
Faz-se essa reza por sete dias, mesmo que o cobreiro já tenha secado,
untando o local diariamente com violeta de genciana.
MATERIAL:
Um copo de vidro virgem Uma garrafa de
vinho tinto Sete pêlos de gato preto Um ovo
choco Uma vela preta Fósforos
Para conseguir os pêlos de gato, procure algum conhecido que tenha um
animal na cor certa; peça-lhe que guarde um punhado de pêlos para você.
Para conseguir o ovo choco, procure um criador de galinhas.
Leve todo o material para uma praça ou um lugar com mato. Acenda a vela
preta. Encha o copo com vinho. Coloque os pêlos dentro do vinho e, por
fim, coloque o ovo dentro do copo. Ofereça a São Columba, fazendo seu
pedido.
Antes de sair de casa, tendo todo o material com você, recite a seguinte
invocação:
"Na força do signo-saimão, nas sete estrelas do céu, eu invoco Diana, a
guerreira, senhora da caça eda fartura, e uno o casal (dizer os nomes dos
membros do casal) para que não se separem."
Vá para um lugar ao ar livre, levando todo o material. Faça no chão um
círculo com as pedras cata-. das na rua e acenda as velas em volta delas,
repetindo seu pedido.
É um trabalho antigo; tem força e tradição...
MATERIAL:
Uma pequena porção de trigo em grão Uma pequena porção de
centeio em grão Água
Duas panelas pequenas Dois pedaços de pano
branco
era usada para atar o pescoço da anã, junto com outra corrente que era
atada no pescoço do macaco de Sua Graça a Dama Real...
MATERIAL:
ovos que, segundo ela, protegiam a casa de raios, trovões e todas as coisas
malvadas.
MATERIAL:
Um
Doiscopo
ovos que tenham sido postos na Quaresma
Quebre os ovos, tendo o cuidado de só deixar as claras caírem dentro do
copo, e diga o seguinte
"Doce Santa Inês, mandai depressa um homem para eu me casar, pela
força deste dia e destes ovos postos no dia santo. Espero vê-lo ainda esta
noite."
À noite, quando for dormir, você verá o seu amado nos seus sonhos.
Jogue as gemas fora ou aproveite para fazer com elas algum quitute.
No dia seguinte, despache as claras em água corrente.
MATERIAL:
Sete rosas vermelhas Uma panela com
água Açúcar
Um papel branco virgem Lápis ou caneta
Coloque as rosas vermelhas na panela com água e leve ao fogo. Assim que
começar a ferver, retire a panela do fogo. Tampe-a e deixe em infusão
durante cinco minutos. Em seguida, coe o chá, pensando na pessoa amada.
Se o chá borbulhar
bastante, só um pouquinho,
você é amado(a) vocêUse
profundamente. nãoentão
é amado(a). Se borbulhar
o chá para tomar um
banho.
Se nenhuma bolha se formar, jogue o chá fora. Escreva no papel o seu
nome e o da pessoa amada. Cubra com açúcar e guarde até o próximo
Halloween, para atrair a pessoa amada.
MATERIAL:
Uma folha de sálvia
Um vidrinho de essência de tília
Um papel branco virgem
Lápis ou caneta
Um cadarço de sapato de um dos dois amantes
Escreva no papel os nomes das duas pessoas. Coloque por cima a folha de
sálvia. Borrife o perfume. Amarre tudo com o cadarço. Depois fale assim:
"Assim como as abelhas são atraídas pelo aroma da sálvia e da tília, seu
coração é atraído pelo meu. "
Guarde esse amuleto em lugar seguro.
Um novelo de lã azul
Um par de agulhas de tricô
Um pedaço de papel branco virgem
Lápis ou caneta
Tricote uma tira estreita e comprida com a lã. Escreva no papel o nome da
pessoa que sonha encontrar ou o tipo de quem deseja ter como marido e
amarre com essa tira, dizendo assim:
"Este nó eu amarro, este nó eu tricoto,
Por aquele amor sereno que ainda não conheço.
Assim fez a Bruxa de Évora, assim farei eu. "
Guardar o feitiço em lugar seguro.
REZA PARA FECHAR o CORPO
As bruxas antigas fechavam o corpo de seus amigos e adeptos, usando uma
reza como a seguinte, encontrada em um pergaminho antigo:
"Gire, gire, gire, seja, seja muito presente. O mal não virá a você. Seja
lindo, brincalhão e bom, proteja os animais. Seu patrão não o poderá
ferir.
Ninguém o matará, nem com pau, nem com ferro, nem com erva venenosa.
Seu corpo está protegido contra mordida de cobra e olhos invejosos. Sem-
pre, sempre, você estará protegido. Estrume de cabra, leve embora o mal.
Dos pés, dos olhos, das orelhas, e que não tenha fome jamais. A deusa da
terra o tomará por protegido. Que seus cães não morram. E que o ventre
de sua mulher se encha de filhos. Por três cadeias e três fadas melusinas."
MATERIAL:
BRUXEDO SULTANITH
MATERIAL:
Sete maçãs
Um vidrinho de mel
sobra dos fios, faça uma alça firme. Pendure no batente da porta da sua
casa.
MAGIA DE LIBERTAÇÃO
MATERIAL:
Um pão doce bem bonito
Um copo com vinho tinto doce
Pegue o pão doce e o copo de vinho. Reze sete vezes a reza da libertação
do medo:
"Não temo nada, pois sou uma boa pessoa, não temo meu senhor que
domina o castelo pois ele precisa de mim para que eu plante, e não temo o
diabo porque ele vem fraco e alegre na Festa dos Tolos."
Entregue o pão doce e o vinho para os bons espíritos, em um jardim ou em
uma praça com árvores.
A codorna era conhecida na Idade Média como ave do diabo. A ela eram
atribuídas propriedades diabólicas. Acreditava-se que as bruxas apareciam
durante o dia como codornas e, à noite, comiam todo o milho. Para mantê-
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5/11/2018 A BRUXA DE ÉVORA - slide pdf.c om
las afastadas das suas plantações e de suas caminhadas aos locais santos, os
camponeses e os peregrinos colocavam na bolsa de viagem penas de uma
galinha preta que nunca tivesse posto ovos. Esta superstição existia em
Évora e as pessoas escondiam em casa penas de galinha preta que nunca
houvesse posto ovos, para afastar a bruxa.
Um aipim
Palitos de palmeira
Azeite-doce
Um prato de papel ou de louça branco
CozinhE o aipim. Coloque no prato, espete com os galhos de palmeira e
regue com azeite. Ofereça no mato ao dono das estradas. No catimbó usa-
se a palmeira catolé, mas pode-se usar qualquer palito.
é uma predestinada. Não lembra em nada uma mãe-de-santo, pois não usa
roupas especiais, nem tem filhos-de-santo. Ela é um livro de fábulas vivo,
sabe coisas que nem o diabo sabe... E doutora sem cartola, sem anel nem
diploma. Cura com raízes, cascas de pau, ervas e melaço; faz secar
cobreiros ou asma; repreende espíritos maus. Muitas vezes é catimbozeira,
recebe seu mestre, caboclo ou índio, dentre eles: Mestre Carlos, Rei
Herom, Zé Pelintra, Xaramundi. É de Maria do Ó, uma das mestras, que
vem esta receita e reza para afastar mau-olhado bravo.
"Com três te botaram o olho mau,
Três espinhos te enfiaram, inveja, tremura e amarelão,
Com três eu te tiro dessa aflição,
Na força da Bruxa de Évora
Eu abro o portão onde mora Arcangel e São Cipriano
E fecho a porta do Cão. Xispa, Tinhoso!"
BIBLIOGRAFIA
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