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• Author,Giulia Granchi
• Role,Da BBC News Brasil em Londres
• Twitter,@GranchiGiulia
• Há 3 horas
Brasil Partido
João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.
Episódios
Fim do Podcast
O impacto da rejeição do cabelo natural — por si próprias ou por outras
pessoas— pode ter um impacto negativo grande na vida de meninas, diz
Braga.
"Como será que a mente dessa menina vai se comportar em outras relações no
futuro se foi uma figura de cuidado dizendo que ela não pode ou não deve
deixar o cabelo como ele é naturalmente? Provavelmente ela constantemente
pensará que não é suficiente"
Quanto às mães e cuidadoras que permitiam ou incentivavam o alisamento dos
cabelos das meninas, a psicóloga avalia que a decisão era tomada por um
conjunto de motivos — e que não seria justo colocá-las como vilãs mal-
intencionadas.
"Muitas dessas mães são negras, e pode ser que tenham enfrentado
preconceito devido ao cabelo e estivessem tentando proteger suas filhas.
Essas decisões também podem estar relacionadas ao contexto da época", diz
Braga.
"A transição é uma ruptura, permitindo deixar para trás um passado de dor,
negligência e silenciamento, e assumir sua verdadeira identidade em um
mundo que ainda não a enxerga com olhos gentis, que às vezes a exotizam, é
um processo complexo e desafiador, mas é fundamental para a nossa
evolução."
Já o movimento que mães como Weruska fazem — de romper com um ciclo de
anos na mudança da aparência — tem, na visão de Braga, um impacto na
autoestima e no amor-próprio.
"Quando as mães podem transmitir essa mensagem, o processo de aceitação
se torna mais positivo. As meninas também são preparadas para enfrentar a
escola e os comentários de forma diferente."
"Ao invés de dizer 'vamos alisar o cabelo para não passar por isso', as mães
podem dizer 'vou conversar com a diretoria, isso não vai ficar assim'. Essa
sensação de proteção, de ter alguém que olha por você, te protege e te cuida,
é valiosa. Essa geração não vai aceitar menos do que merece. "
'Educar pelo exemplo'
Diferentemente de Weruska, a carioca Amanda Vidal, de 40 anos, ainda
alisava o cabelo quando sua filha, Laura, nasceu.
"Quando ela tinha cinco anos, estava tentando deixar os fios naturais, mas eu
não gostava do que via no espelho. Cedi à voltar para o alisamento sem pensar
no impacto que isso teria nela", conta.
Não demorou muito para que Laura começasse a pedir para ter os fios lisos
como o da mãe — ela dizia querer “poder jogar os cabelos de lado”.
Amanda teve um flashback. “Era exatamente o que eu falava quando era mais
nova — meu sonho era ter um cabelo bem lisinho para poder jogar. Foi aí que
eu comecei a me preocupar com isso e tentei convencê-la de que seu cabelo
era lindo do jeito que era, mas não funcionou como eu esperava.”