Hélida Lança
Hélida Lança
Hélida Lança
HÉLIDA LANÇA
São Paulo
2019
HÉLIDA LANÇA
São Paulo
2019
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Professor Dr. Carlos Bauer de Souza – UNINOVE/SP – Orientador
___________________________________________
Professor Dr. Celso do Prado Ferraz Carvalho – UNINOVE/SP – Titular
___________________________________________
Professor Dr. Amarílio Ferreira Jr. – UFSCar/SP – Titular
___________________________________________
Professora Dra. Rosiley Teixeira – UNINOVE/SP – Titular
___________________________________________
Professor Dr. Cassio Diniz – Pós-doutorando – UNINOVE/SP – Titular
___________________________________________
Professor Dr. Everaldo Andrade – USP – Titular
___________________________________________
José Eduardo de Oliveira Santos – UNINOVE/SP – Suplente
___________________________________________
Evaldo Piolli – UNICAMP – Suplente
Ao Professor Carlos Bauer, por ser o melhor orientador que uma pessoa pode ter.
Aos professores Celso Carvalho e Amarílio Ferreira Jr, pelas preciosas colaborações no Exame
de Qualificação.
Aos camaradas que fiz na academia e na vida, por estarem comigo nas trincheiras das lutas, em
busca uma educação que possibilite a emancipação humana.
Aos meus tios e tias, primos e primas, Balardini’s e Lança’s, ao meu marido Rodrigo e aos
meus filhos William e Matheus, por compreenderem e aceitarem a minha pouca presença
durante esses anos.
RESUMO
A pesquisa analisou a atuação do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP) durante
os últimos dez anos da ditadura civil-militar no país (1975-1985), momento no qual o processo
de redemocratização estava em construção e encontrava obstáculos políticos e econômicos para
a sua consecução, forjado sobre intensos conflitos sociais, com fundamental participação da
classe trabalhadora organizada. Nos empenhamos em compreender a participação da entidade
representativa dos professores da rede privada de ensino na capital paulista nesse importante
capítulo da história brasileira, firmando o entendimento de que a trajetória de uma organização
sindical tem muito a nos dizer sobre o contexto em que está inserida, possibilitando a ampliação
das páginas escritas sobre a história da educação brasileira durante a ditadura. O referencial
teórico adotado, de inspiração marxista, objetivou situar o professor como um trabalhador da
educação, remetendo-nos a analisar suas ações sindicais como uma tarefa necessária para que
tenhamos uma compreensão ampliada das especificidades das atividades docentes, suas
relações com os meandros das políticas educacionais e da forma em que procurou intervir no
período histórico da chamada transição democrática brasileira. Sustentada em significativa
fortuna documental, as análises realizadas se preocuparam tanto em dimensionar as ações dos
quadros dirigentes da entidade que se mantinham preocupados em legitimar os propósitos
corporativistas da categoria, quanto com as práticas daqueles professores que atuavam na
oposição sindical, empenhados na efetivação de ações políticas e em sintonia com as questões
mais gerais da classe trabalhadora no Brasil.
The research analyzed the performance of the Teacher Union from São Paulo (SINPRO-SP)
during the last ten years at the civil-military dictatorship in the country (1975-1985), the
redemocratization process was under construction and encountered political and economic
obstacles for its achievement, forged on intense social conflicts with fundamental participation
of the working class organized then. We endeavored to understand the participation of the
teacher representative entity from private education network in São Paulo capital city in this
important chapter of Brazilian history, confirming the understanding that the trajectory of a
trade union organization has much to tell us about the context in which it is inserted, making
possible the expansion of written pages about Brazilian education history during the
dictatorship. The adopted theoretical frame of reference, Marxist inspiration, aimed at situating
the teacher as an education worker, reminding us to analyze their union actions as a necessary
task for us to have an expanded comprehension about the specificities of teaching activities,
their relationships with the meanderings of educational policies and the way in which it
attempted to intervene in the historical period of the so-called Brazilian democratic transition.
Based on significant documentary fortunes, the performed analysis concerned not only to
measure the dimension of the actions from the entity management board that remains worried
in legitimizing the category corporatist purposes, as well as with the practices of those teachers
who worked in the union opposition, engaged in the accomplishment of political actions and
aligned with more general issues from the working class in Brazil.
La investigación examinó el rol del Sindicato de los Profesores de São Paulo (SINPRO-SP) en
los últimos diez años de la dictadura civil-militar en el país (1975-1985), momento en que el
proceso de redemocratización estaba en construcción y hallaba obstáculos políticos y
económicos para su logro, forjado por intensos conflictos sociales, con participación
fundamental de la clase obrera organizada. Nos esforzamos en comprender la participación de
la entidad representativa de los profesores de las escuelas privadas de la ciudad de São Paulo
en este importante capítulo de la historia de Brasil, de manera a reafirmar la idea de que la
trayectoria de una organización sindical nos dice mucho sobre el contexto en la cual se inserta,
y eso permite la ampliación de las páginas escritas sobre la historia de la enseñanza brasileña
durante la dictadura. Las referencias teóricas adoptadas, de inspiración marxista, tuvieron el
objetivo de ubicar el profesor como un trabajador de la educación, lo que nos permite analizar
sus acciones sindicales como una tarea necesaria para que tengamos una comprensión más
amplia de las especificidades de las actividades docentes, sus relaciones con las complejidades
de las políticas educativas y de la manera como intervino en el período histórico de la llamada
transición democrática brasileña. Con soporte en considerable fortuna documental, los análisis
hechos se preocupan con dimensionar las acciones de los directivos de la entidad, que se
mantenían en la defensa de los propósitos corporativos de la categoría, y también con las
prácticas de los profesores que actuaban en la oposición sindical, comprometidos con las
efectivas acciones políticas en consonancia con las cuestiones más generales de la clase obrera
en el Brasil.
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 19
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 160
INTRODUÇÃO
1
Começamos a nossa trajetória de estudos no campo do sindicalismo com a dissertação O jornal sindical e a
formação política: o caso da UDEMO junto aos diretores da rede estadual paulista, concluída em 2013.
20
produção acadêmica são de relevância sem medida para a construção do conhecimento acerca
da temática.
Com relação ao SINPRO-SP, realizamos um estudo inicial em 20142 que proporcionou
um primeiro contato com a entidade, seus sujeitos e seus arquivos. Foi quando nos demos conta
da escassez de estudos sobre o sindicalismo docente da rede privada de ensino, das dificuldades
com a organização dos acervos dentro dos sindicatos, e do quanto esse viés da história da
educação estava em risco de ser deteriorada antes mesmo de ser registrada. Ainda não sabíamos,
mas nascia naquele momento a investigação que apresentamos agora. Mas foi somente em
março de 2016 que ingressamos oficialmente no Programa de Pós-graduação em Educação
(PPGE) da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) para o doutoramento, quando optamos
por pesquisar as ações do sindicato durante a fase final da ditadura civil-militar, por se tratar de
um período muito importante para a reconstrução da democracia brasileira, que foi forjada sobre
intensa mobilização da classe trabalhadora.
Nas páginas da história brasileira onde estão registradas as lutas pela redemocratização
do país, os professores são sujeitos participantes do processo, muitas vezes organizados por
seus sindicatos. Mas, mesmo num período em que a quantidade de postos de trabalho na rede
privada aumentou exponencialmente, as notícias que temos são, majoritariamente, da atuação
dos professores das redes públicas e suas respectivas entidades representativas.
Este período assistiu à emergência de novos sujeitos políticos que trouxeram para a cena
social a perspectiva de se organizarem e, com isso, aglutinar no terreno da luta de classes os
inúmeros movimentos sociais, populares e dos trabalhadores, que então cerravam fileiras e
clamavam pela redemocratização do país. Essa concretude dialética não está, por ora, ao alcance
dos objetivos que traçamos no processo de construção do presente estudo, porém ocorre que
julgamos pertinente ao menos mencioná-lo e, na medida do possível, nos ajudar na
configuração histórica e social daqueles dias e, assim, dar sentido histórico ao tempo
mensurado.
Eder Sader (1988) nos mostra que o nascimento desses novos sujeitos sociais, embora
estivessem num campo permeado por diversos discursos (o novo sindicalismo, a Igreja e a
militância de esquerda), não podem ter sua identidade coletiva reduzida a nenhum deles
separadamente, pois, se construíram na articulação entre os componentes diversos de tais
discursos, concebendo identidade própria e autônoma.
2
LANÇA, Hélida; RUSSO, Miguel. Quadro Negro: um olhar sobre as denúncias apresentadas pelo jornal dos
professores – SINPRO-SP, de 1988 a 1998. In: BAUER, Carlos et al (Orgs). Sindicalismo e Associativismo dos
Trabalhadores em Educação no Brasil. Volume 2. Jundiaí: Paco Editorial: 2015.
21
3
A retomada de lutas no final da década de 1970, desencadeou uma nova configuração da atuação sindical que,
mesmo heterogênea, é chamada de Novo Sindicalismo.
4
Sindicalismo de Estado é o modelo sindical assentado em três eixos: sindicatos oficiais, unicidade e imposto
sindical, onde os sindicatos são absolutamente dependentes do aparta estatal (BOITO JR., 1991).
22
Para esse autor, inclusive, o trabalho se faz presente na constituição daquilo que
poderíamos chamar de sensibilidade humana ou, mesmo, de uma pedagogia dos sentidos, que
se produz e se desenvolve fazendo-nos desvelar na realidade e na dialética transformação da
natureza uma gama crescente e diversificada de bens de uso e significações simbólicas.
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por
tudo o que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais
logo que começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à frente
é a própria consequência de sua organização corporal. Ao produzirem seus
meios de existência, os homens produzem indiretamente sua própria vida
material (MARX, 1998, p. 10).
Como se pode perceber, o debate sobre a categoria de trabalho em Marx é como um elo
que se estabelece nas relações do homem com a natureza, procurando idealizar seus atos e
preconizar as transformações sociais e políticas, tecnológicas ou culturais que almeja alcançar,
superando as determinações da natureza e se constituindo como um ser histórico-social. Essas
discussões nos remetem ao conceito de práxis que, nos escritos marxianos, é pensado de tal
forma que as necessidades, o trabalho e a sociabilidade humana são projetados de modo a
comporem as determinações essenciais para a existência do homem.
Mas mesmo se minha atividade for de ordem científica etc., e ainda que eu
raramente possa realizar em comunidade direta com os outros, eu sou um ser
social porque atuo enquanto homem. Não apenas o material de minha
atividade – por exemplo, a língua graças ao qual o pensador faz seu trabalho
– me é dado como um produto social, mas minha própria existência é atividade
social. Em consequência, o que eu faço de mim, eu o faço para a sociedade,
consciente de ser eu mesmo um ser social (MARX, 1978. p. 146, 147).
Ao buscarmos estabelecer essas relações com a obra de Karl Marx e de alguns dos seus
importantes intérpretes, trazendo à tona escritos que gravitam pelo campo da história e da crítica
da economia política, mas também nos auxiliam numa formulação de caráter filosófico sobre a
forma pela qual o trabalho pode ser pensado como sendo imprescindível no processo de
humanização do homem, o fazemos com o objetivo de iluminar as interpretações da história
organizativa dos professores do ensino privado paulistano e a sua condição de integrantes de
uma categoria profissional que se constitui e faz parte da classe trabalhadora contemporânea.
Na mais ampla e possível envergadura dessa discussão podemos entender como
produtivo todo o trabalho que produz mais-valia, da mesma forma que determinada atividade
que se troque por capital para produzir mais-valia é trabalho produtivo, inclusive às artes, os
processos educativos, a fruição amorosa e outras atividades que são fundamentais em nosso
processo de humanização.
Por esse viés nos parece importante reconhecer que as experiências de lutas e as formas
de organização, políticas e sindicais, dos professores atuantes no ensino privado paulistano são
parte integrante e indissociável das dificuldades enfrentadas e dos movimentos produzidos pela
classe trabalhadora no período estudado, constituindo-se, com suas particularidades, em um
elemento que não pode ser desprezado quando nos dispomos a analisar em como se deu sua
presença naquele momento específico da história da educação brasileira.
Por conta disso é que estamos empenhados em estudar a inserção dos professores no
processo de constituição da classe trabalhadora contemporânea. Dito isso, entendemos como
trabalhadores em educação todos aqueles que vivem do próprio trabalho e atuam nas escolas
27
públicas e particulares, incluindo também aqueles que estão nas repartições e órgãos destinados
à manutenção e organização dos sistemas de ensino. Isso inclui professores, inspetores,
secretários, diretores, técnicos, assistentes, coordenadores, cozinheiros, auxiliares e qualquer
outra função que se crie ou nomeie dentro deste campo de atividade.
Tal esclarecimento se faz necessário em razão de percebermos uma tendência bastante
fortalecida em extrair os professores deste agrupamento, quase que como numa negativa de
caráter ideológico, em reconhecer que são trabalhadores também. Inclusive sob a ótica da
organização sindical, é muito comum que esses trabalhadores estejam organizados em
entidades separadas, desencadeando um processo de fragmentação sem medida das formas de
organização de sua representação, fazendo parecer natural o fato de, mesmo trabalhando numa
mesma rede de ensino e até mesmo na mesma escola, as pessoas pertencerem a sindicatos
diferentes, sendo um para os professores, outro para os inspetores, outro para os diretores, e
ainda outro para supervisores, e tantos outros que possam ser nominados no interior dessa
impressionante pulverização sindical que se faz na contemporaneidade.
Certamente que os caminhos que o sindicalismo em geral percorreu, adentrando em
campos merecedores do exercício da crítica como no caso da burocratização, da capitulação
classista e da aproximação com o Estado, colaboraram significativamente para que esse
processo de fragmentação representativa fosse desencadeado. Mas, no caso específico dos
trabalhadores em educação, acreditamos que ainda há mais um elemento a ser somado neste
percurso, que é a questão do pertencimento de classe dos professores.
Numa sociedade em que a docência já foi vista de forma recorrente como algo muito
próximo ao sacerdócio, e na qual o trabalhador vivencia uma nobreza gratuita simplesmente
pelo fato de ter ingressado na carreira do magistério, é muito compreensível que haja um
distanciamento imaginário: “não sou trabalhador, sou professor!”.
Entendemos que professor é um trabalhador, evidentemente, com suas especificidades
que são próprias do ofício de educar. Mas, não bastassem essas questões, é importante também
ressaltar que os professores, quando chegam ao mercado de trabalho, encontram nas escolas
um sem número de práticas disciplinadoras já institucionalizadas, dadas como corretas ou
mesmo naturalizadas, havendo pouco espaço para reflexão e escolhas, determinando que
construam suas trajetórias de forma bastante individualizada e solitária, o que colabora muito
também para o esvaziamento da visão de coletivo da categoria.
Não se trata de estarmos aqui a criticar determinados comportamentos profissionais,
mas, sim, de compreendermos o quanto esse modelo de sociedade dos indivíduos e das
28
1.1.1. Sindicato
5
Dicionário Online de Português. www.dicio.com.br/sindicato/. Acesso em 03 jul. 2017
30
Claro que não foi apenas com o advento da República, ainda no início do processo de
industrialização, que foi aberta a história do associativismo e do sindicalismo no país, que
sofreu muitas alterações em seu curso, mas, a partir daí, em geral, o Estado sempre procurou
manter um forte caráter disciplinador sobre o conjunto de suas atividades.
Desde os fins do século XIX foram registradas algumas ações associativistas e esforços
organizativos, sobretudo, desenvolvidas por professores, mas duramente atacadas para que não
houvesse quaisquer possibilidades de sustentação e de continuidade. Apenas a partir da década
de 1930 é que o sindicalismo dos trabalhadores em educação, comumente denominado de
sindicalismo docente, passou a ter condições mais efetivas de construção e prosseguimento no
Brasil. Do ponto de vista histórico-educacional, muito ainda tem que ser estudado para que
possamos estabelecer a devida comparação da temporalidade em que se vislumbrou a gênese
organizativa dos professores, permitindo, assim, o cotejamento com outras categorias que
constituem a classe trabalhadora no país.
Durante muitos anos, apenas os trabalhadores das escolas particulares podiam
sindicalizar-se, em razão de legislação que proibia que os servidores públicos se organizassem
neste modelo de entidade representativa 6 . Inseridos num modelo de sindicalismo que já
vigorava na época (e perdura até os dias de hoje), os sindicatos se alinhavam em federações e
confederações.
Enquanto isso, os trabalhadores da educação pública organizavam-se em associações, e
isso não seria um problema se não fosse o fato dessas mesmas associações não terem nenhum
reconhecimento pela legislação ou pelo Estado, o que impedia qualquer tipo de interlocução ou
representação oficial.
A Confederação dos Professores Primários do Brasil (CPPB) foi criada no início da
década de 1960 procurando, ao seu modo, encarar os embates políticos e educacionais
emanados do governo Goulart, que geraram muitos conflitos na época. Nos idos dos anos de
1970, em pleno regime militar – e após a publicação da famigerada Lei 5692/[19]71, deixou de
ser uma organização exclusiva de professores primários, passando a representar todos os níveis
6
Apenas com a Constituição Federal de 1988 o direito à sindicalização foi devolvido ao setor público, retirado
desde 1930 pela legislação trabalhista de Getúlio Vargas. Por se tratar de uma categoria em que boa parte dos
trabalhadores atua na rede pública, entendemos que essa proibição foi determinante no modo de organização e
resistência dos professores, bem como no surgimento de entidades fragmentadas e isoladas, posto que boa parte
delas nascesse de movimentos clandestinos durante o longo período de proibição.
31
Por este viés, é inegável a importância de que sejam estudados os diferentes esforços de
organização e ação coletiva dos trabalhadores em educação – aliás, são, justamente, nos
momentos de culminância de suas lutas que temos uma melhor visibilidade das dificuldades
enfrentadas, das derrotas que amargam e das vitórias que conquistaram.
Em geral, os estudos sobre a história da educação estão apoiados em aspectos
relacionados à política e legislação educacional, às reformas educacionais, ao currículo e seus
desdobramentos, ao escolanovismo, às instituições escolares ou à gestão de determinado
governo. Não são raros os estudos sobre, por exemplo, a educação na Era Vargas, a educação
após a reforma de 1968, ou, ainda, sobre a educação jesuítica. Estes recortes temporais e
temáticos são comumente utilizados nos livros e nas pesquisas deste campo de estudo que
também optam, algumas vezes, por classificar o tempo de acordo com a divisão clássica da
história. Desta forma, temos inúmeros estudos e produções acerca da educação na Primeira
República, por exemplo, o legado educacional do regime militar, ou, ainda, sobre a educação
no Brasil Colônia.
O que estamos afirmando aqui é que o sindicalismo e o associativismo dos trabalhadores
da educação ainda não se tornaram um objeto de análise amplamente reconhecido nas pesquisas
sobre a história da educação brasileira, o que explica a existência de algumas lacunas
importantes que precisam ser preenchidas na historiografia educacional, mormente, interessada
na presença e nas ações coletivas desses sujeitos sociais e coletivos em cada momento da
história.
33
7
O Estatuto da SBHE está disponível em http://www.sbhe.org.br/quem-somos-nos. Acesso em 03 mar. 2017.
8
Objetivo apresentado no sítio da revista, disponível em http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/ index.
Acesso em 03 mar. 2017.
9
O Prof. Dr. Adrian Ascolani atualmente é um importante pesquisador da Rede ASTE (Rede de Pesquisadores
sobre Associativismo e Sindicalismo dos Trabalhadores em Educação), que será abordada em breve neste texto.
34
10
Apresentação disponível no site do Grupo, em http://www.histedbr.fe.unicamp.br/sobre-nos.html. Acesso em
03 mar. 2017.
35
11
O endereço do site é http://www.anped.org.br. Acesso em 30 jun. 2017.
36
Tal premissa tem procurado situar o trabalho do Grupo de História e Teoria da Profissão
Docente e do Educador Social (GRUPHIS), pertencente à Linha de Pesquisa Políticas
Educacionais (LIPED), do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), da Universidade
Nove de Julho (UNINOVE).
Há alguns anos este grupo se empenha em realizar estudos sobre a história do
sindicalismo e o associativismo dos trabalhadores em educação, sob a orientação do professor
Carlos Bauer, com intuito de contribuir com o processo de legitimação acadêmica dessa
temática. Muitas pesquisas já foram realizadas e apresentadas em artigos, livros, capítulos de
livros, dissertações e teses, colaborando com o preenchimento desta lacuna que a história da
educação apresenta com relação a ação dos sujeitos coletivos. No primeiro período, o foco das
investigações estava apoiado no sindicalismo do setor público e, recentemente, foram iniciadas
as pesquisas acerca do setor privado, sendo o presente trabalho um dos pioneiros na consecução
deste objetivo.
Além das atividades junto ao GRUPHIS, também solidificamos relações bastante
estreitas e frutíferas com a Rede Aste (Rede de Pesquisadores Sobre o Sindicalismo e o
Associativismo dos Trabalhadores em Educação), criada em 2009 com o objetivo de contribuir
com a qualificação das pesquisas sobre o tema, além de organizar e promover encontros e
seminários com a participação de pesquisadores de diversos países. A rede tem abrangência
internacional e é formada por pesquisadores de diversos campos: historiadores, sociólogos,
cientistas sociais e políticos, geógrafos e pedagogos, todos debruçados e interessados pelo
mesmo objeto de estudo.
Dos encontros e seminários já realizados, além do convívio acadêmico que oportunizou
inúmeras possibilidades de diálogo crítico e a ampliação do conhecimento, nasceram também
alguns livros, dos quais os pesquisadores do GRUPHIS também participaram com a construção
de capítulos e, em alguns casos, também na organização geral das publicações. Sem nenhum
exagero, podemos afirmar que a Rede Aste tem sido fundamental para a continuidade de nossas
pesquisas enquanto grupo de estudos, posto que nela tornou-se possível aglutinar uma extensiva
e diversificada bibliografia sobre o nosso objeto de investigação, também uma vivência
acadêmica eivada de positividades e companheirismo político sem medida.
Foi nesse contexto que nasceu a presente investigação, inserida num universo de
pesquisadores empenhados neste campo de estudo, preocupados com uma temática pouco usual
e ainda sem possuir tantas páginas escritas, mas, que se coloca com o objetivo de colaborar para
37
que a preservação da memória dos professores e das entidades que construíram sua presença na
história da educação.
identidades individuais e sociais, uma que privilegia a construção das identidades a partir dos
processos relacionais de socialização, centrado nas proposições de Claude Dubar, e outra que
destaca a construção identitária a partir das lutas sociais. Concluiu que há uma tensão
permanente nas formulações identitárias docentes, que são dinâmicas e também efêmeras.
14) Tânia Maria Granzotto apresentou a pesquisa O movimento sindical na academia: o
caso das universidades estaduais paulistas, para o seu doutoramento em Educação
(UNICAMP, 2010), na qual, orientada pelo Prof. Dr. Salvador Sandoval, analisou o movimento
sindical da categoria desde o final dos anos 1970 até 2008. Além do resgate histórico das
paralisações e greves ocorridas, o objetivo foi analisar o processo de desmobilização dos
trabalhadores nestas universidades através de uma pesquisa social de natureza qualitativa que
considerou a bibliografia existente, os dados documentais das entidades e história oral. Trabalha
com a teoria de sindicalismo de classe média de Armando Boito Jr, que foi citado mais de
setenta vezes durante o trabalho.
15) Como resultado de pesquisa para obtenção do título de Mestre em Educação
(UNINOVE, 2010), Alessandro Rubens de Matos apresentou o trabalho Trajetória do sindicato
dos profissionais em educação no ensino municipal (SINPEEM): 1986-2004. Orientado pelo
Prof. Dr. Carlos Bauer, estudou a trajetória da entidade numa perspectiva histórico-social,
trazendo para o campo questões como experiências, formas de organização política e sindical,
concepções de mundo, relações com o governo, prática sindical e crítica social, sob a ótica
trotskista.
16) Antônio de Pádua Almeida realizou o estudo Ação docente em tempos de abertura:
considerações sobre a história da educação pública paulista de 1985 a 2000 em sua dissertação
de mestrado (Universidade de Sorocaba, 2011), analisando o período de transição da ditadura
para a redemocratização, com considerações importantes sobre as políticas educacionais do
regime e o percurso do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
(APEOESP), sob a orientação da Profª. Dra. Vânia Boschetti. Como aporte teórico, utiliza o
pensamento e as obras de Dreifuss, Libâneo e Saviani, além da pesquisa documental. Finaliza
afirmando que a reabertura possibilitou experiências importantes para a luta dos professores,
mas que ainda não se percebeu uma organização capaz de unificar a sociedade em busca de
transformar a realidade da escola pública.
17) Em sua tese para doutoramento em Educação Escolar (UNESP, 2011), Andreza Barbosa
realizou trabalho intitulado Os salários dos professores brasileiros: implicações para o
trabalho docente, de caráter bibliográfico-documental que teve como corpus de análise as
43
formação de classe. A autora destaca as greves em seus diversos tipos e também as mudanças
no processo de trabalho docente durante o período estudado.
21) Jannaira Barros Cavalcante, em sua dissertação de mestrado em Educação junto à
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2012), sob a orientação da Profª. Dra. Maria do
Socorro de Abreu e Lima, apresentou a pesquisa Sindicalismo docente: a luta dos professores
da rede pública estadual no Recife no período da transição democrática, que se realizou sob a
ótica gramsciana principalmente na utilização das categorias intelectual orgânico, cultura e
hegemonia. Utilizando diversos autores, abordou a identidade docente sob a ótica do sacerdócio
e profissionalização e relaciona tal questão ao objeto central da pesquisa. Uma investigação
apoiada em estudos bibliográficos, documentais e também na realização de entrevistas, na
observação dos embates dos professores junto ao governo patrão e seus desencadeamentos
numa época de bastante efervescência intelectual e política.
22) Em estudos para o Mestrado Acadêmico em Educação na Universidade Federal do
Maranhão (UFMA, 2011), Caroline de Souza Cunha realizou a dissertação intitulada Seção
Sindical APRUMA/ANDES/SN - Sindicato Nacional: uma análise sócio-histórica de suas
bandeiras e lutas, onde analisou a formação de uma seção sindical em instituição pública de
ensino superior a partir de pesquisa documental e bibliográfica, além de entrevistas. Sob a
orientação do Prof. Dr. Antônio Paulino de Sousa, as categorias de análise utilizadas são estado
(Marx e Engels); neoliberalismo e estado mínimo (Foucault); e direito como princípio de
limitação externa da razão do estado (Martins). Conclui que a proletarização da categoria
contribui para a perda de força nas negociações e lutas.
23) Renato Kendy Hidaka apresentou o trabalho As políticas neoliberais dos governos
Covas e Alckmin (1995-2006) e o movimento sindical dos professores do ensino oficial do
estado de São Paulo (Mestrado em Ciências Sociais, UNESP, 2012), orientado pelo Prof. Dr.
Jair Pinheiro, que contém uma análise sobre a prática sindical propositiva da APEOESP e as
políticas implantadas no período. Utiliza a perspectiva marxista althusseriana para o aporte
teórico da pesquisa, que elencou estado, política de estado, sindicalismo de participação e
movimento sindical como categorias de análise. Conclui que a ação da entidade, classificada
pelo autor como sindicalismo de participação, não ofereceu resistência às políticas neoliberais
implantadas pelo governo.
24) Em sua dissertação para a obtenção do título de Mestre em Educação, Cássio Hideo
Diniz Hiro (UNINOVE, 2012) desenvolveu a pesquisa História e consciência de classe na
educação brasileira: lutas e desafios políticos dos trabalhadores em educação de Minas Gerais
45
(1979-1983), orientado pelo Prof. Dr. Carlos Bauer, onde concluiu que a história do movimento
sindical docente mineiro emergiu juntamente com o desenvolvimento da consciência de classe
dos trabalhadores. Utilizou-se pesquisa bibliográfica, de fontes primárias (jornais, panfletos,
etc.) e também entrevistas. O modelo teórico declarado é o materialismo histórico dialético e
autores como Marx, Thompson, Sanchez Vásquez e Lukács têm destaque.
25) Thais da Silva Alves Martins desenvolveu a pesquisa A docência em suas dimensões
profissionais, políticas e culturais: um estudo sobre a Escola do Professor do SINPRO-Rio
(2000-2010) para a obtenção do título de Mestre em Educação na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ, 2012). A autora busca compreender o caráter educativo da entidade, à luz de
autores como Claudia Vianna e Maria da Gloria Gohn, a partir de pesquisa bibliográfica,
documental e história oral. Orientada pela Profª. Dra. Libânia Xavier, apresenta uma retomada
da história do sindicalismo no Brasil e no Rio de Janeiro, além de uma análise detalhada do
conteúdo oferecido na escola objeto de estudo. Conclui a importância da ação formadora do
sindicato para reaproximar-se da base.
26) Em sua dissertação, Ivone Meznek realizou a pesquisa A universidade brasileira no
período de 1960 a 2000: influência empresarial em questão (para obtenção do título de Mestre
em Educação junto à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE, 2012), utilizando
a categoria universidade operacional (Chauí) e construindo um importante registro de como o
ensino superior brasileiro está associado ao mercado. Pesquisa bibliográfica e documental
orientada pelo Prof. Dr. Adrian Estrada, com realização de entrevistas. Conclui que a
universidade brasileira vem sendo utilizada como instrumento de manutenção do poder, e que
sempre mantém sua organização voltada aos interesses e necessidades políticas de cada período.
27) Em seus estudos durante o Mestrado em História na Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS, 2012), Júlio Cesar de Oliveira desenvolveu o estudo Professores e o
sindicalismo público municipal. Algumas experiências em destaque: São Leopoldo e Bagé-RS
(1988-2005), onde estuda as alterações legais e estruturais no período, principalmente após a
nova carta constitucional, sob a orientação da Profª. Dra. Marluza Harres. Utilizou-se de
histórias orais, combinadas com pesquisa bibliográfica e documental. O referencial teórico
apresenta como principais autores Thompson e Gramsci, para traçar o caminho de percepção
que os professores têm sobre a atuação sindical e também sobre sua própria identidade.
28) Em sua tese de doutoramento em Educação na Universidade federal de Uberlândia
(UFU, 2012), Wander Pereira desenvolveu o estudo intitulado A ordem política e a reforma
universitária: o processo de federalização da Faculdade de Odontologia de Uberlândia (1968-
46
formação política (Newton Duarte e Saviani). Concluímos que o sindicato por muitas vezes se
isentou de aprofundar as discussões junto à base através de seu jornal, e que demonstrou um
pensamento conservador em diversas matérias publicadas.
35) Risalva Bernardini Neves, para a obtenção do título de Mestre em Linguística (UnB,
2013), realizou pesquisa denominada Discursos sobre mobilização grevista dos professores em
Brasília: “prejuízo para todos”? onde, sob a orientação da Profª. Dra. Viviane Sebba Ramalho,
se concentrou na cobertura do jornal Correio Brasiliense e a construção de sentidos
potencialmente ideológicos. Uma pesquisa qualitativa, predominantemente documental e
sincrônica, baseada na abordagem da análise de discurso crítica (Chouliaraki, Fairclough,
Ramalho e Resende), que concebe a linguagem como parte da vida social interligada com outras
partes, em uma relação dialética. A pesquisa bibliográfica apoiou-se em Thompson (ideologia),
Apple e Gentili (neoliberalismo e educação). Constatou a predominância do discurso
hegemônico neoliberal, além de depreciativo dos docentes.
36) Em sua dissertação de mestrado em Educação junto à Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP, 2013) Juan Carlos da Silva apresentou o estudo A política educacional
do governo José Serra (2007-2010): uma análise da atuação da APEOESP, de cunho
bibliográfico e documental (boletins do sindicato), sob a orientação do Prof. Dr. Salvador
Sandolval. As categorias de análise são políticas educacionais como estado em ação (Marx),
estado burguês (Draibe), reformas do estado (Draibe), ideologia neoliberal (Sanfelice),
sindicalismo em geral (Dal Rosso) e sindicalismo dos professores do setor público (Dal Rosso).
Conclui que boa parte das reivindicações e da organização sindical do período estava centrada
apenas nas questões de interesse laboral e salarial.
37) O sindicalismo docente da educação básica no Maranhão: da associação à emergência
do sindicato é o título da tese de doutoramento apresentada por Robson Santos Câmara Silva
(Ciências Sociais, UnB, 2013), sob a orientação do Prof. Dr. Sadi Dal Rosso. Uma reconstrução
histórica da organização coletiva docente no estado, numa perspectiva materialista histórico-
dialética que se propõe a apresentar um levantamento empírico dos processos por meio dos
quais se deu a construção do sindicalismo docente maranhense, utilizando-se das categorias
organização de trabalhadores, novo sindicalismo e prática sindical.
38) Maria Manuel Branco Calvet de Magalhães Gomes Ricardo, em seu doutoramento
(Educação, Lusófona, 2015) apresentou a tese intitulada Os grupos de estudo do pessoal
docente do ensino secundário, 1969-1974: as raízes do sindicalismo docente, um estudo em
história-social orientado pelo Prof. Dr. António Teodoro, realizado numa perspectiva
49
autora, o recorte entre os dois blocos é temporal e se delimita na medida em que o novo
sindicalismo se implementa nas organizações, percebidos nas pesquisas mais especificamente
a partir de 1991.
No período agora por nós alisado, percebemos que os estudos apresentam os dois lados
da questão, ou seja, reconhecem o sindicato como um local de possibilidades, reforçam as ações
positivas e combativas por eles realizadas, mas não deixam de identificar e compreender
também os seus impasses, dificuldades, entraves e erros. Por este viés, entendemos que o
objetivo central da pesquisa não deve ser determinar se a organização é boa ou ruim, combativa
ou pelega, formativa ou assistencialista, mas sim de compreender os caminhos percorridos que,
certamente são sempre permeados de vitórias e derrotas.
Julian Gindin (2009) também se debruçou acerca da produção acadêmica do
sindicalismo docente no período que vai de 1980 a 2008, identificando questões importante
sobre a regionalização, interferência neoliberal nas entidades e percepção disso nas pesquisas,
além de ter situado a militância sindical em parte significativa dos pesquisadores, o que
percebemos ser uma condição mantida também nos últimos doze anos.
Podemos ver uma lógica nas reações de grupos profissionais semelhantes que
vivem experiências parecidas, mas não podemos predicar nenhuma lei. A
consciência de classe surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes,
mas nunca exatamente da mesma forma.
A explosão do sindicalismo no Brasil nos anos [19]80 indica, por outro lado,
um complexo de debilidades estruturais, políticas (e ideológicas) que
tenderiam a explicitar-se – e a assumir novas proporções – diante do
surgimento de um novo (e precário) mundo do trabalho. Por isso, o novo
complexo de reestruturação produtiva iria colocar, de modo claro, novas
determinações para a crise do sindicalismo no Brasil (ALVES, 2000, p. 113).
Sobre o sindicalismo docente, podemos destacar os estudos de Bauer (1995, 2010, 2012,
2013, 2015), Dal Rosso (2011), Ferreira Jr. (1998) e Gindin (2011), dentre vários outros
pesquisadores da Rede Aste. Assim o fazemos com o objetivo de apresentar um panorama sobre
a representatividade docente no período histórico estudado e, principalmente, obter elementos
de análise sobre a história e atuação da entidade que congrega, sindicalmente, os professores
que vendem sua força de trabalho no âmbito do ensino privado paulistano.
56
A presente investigação procurou realizar a análise dos dados pela ótica do materialismo
histórico-dialético, que não se restringe a um mero receituário de pesquisa, pois, é a própria
forma de investigar e de se apropriar da realidade que, por sua vez, deve ser encarada em sua
totalidade e dinâmica não acabada, na busca do rompimento de um modo de pensar
hegemônico. Buscamos interpretar o objeto de estudo a partir de suas particularidades e
especificidades, mas, dialeticamente, também apresentando suas relações com a conjuntura
política, social, econômica e cultural, bem como as contradições nessas relações.
Uma síntese que leva em consideração a tese e a antítese, mas que surge como fruto do
processo da contradição dialética, deixando espaço para novas discussões, novas teses, antíteses
e sínteses, sem desmerecer as anteriormente já discutidas, pois entendemos que as pesquisas
desenvolvidas por este método,
A partir do exame das obras de autores como: Álvaro Vieira Pinto (1956, 1960), Octávio
Ianni (1977), Vanilda Paiva (1973, 2000), Caio Navarro de Toledo (2004, 2009), Laura Veiga
(1982), Luís Antônio Cunha (1985, 1988, 1991,2004), Virginia Fontes (2010), Barbara Freitag
(1986), Nelson Werneck Sodré (1997) e Florestan Fernandes (1966, 1975, 1978, 1989);
podemos dizer que a estruturação social do Brasil, entre os fins da década de 1960 e dos anos
1970, tinha suas origens na objetivação dos caminhos que vinham sendo adotados desde a
metade do século XX, com o intuito de modernizar as relações capitalistas no país.
Em que pese algumas controvérsias interpretativas e diversificada argumentação
histórico-sociológica, foi a partir desse instante, mormente, por meio de uma intervenção
política estatal, consubstanciada pelo Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com o seu
propalado Plano de Metas que, com base na intervenção do Estado, se procurou estabelecer as
condições necessárias para a instalação de amplas unidades produtivas do capital industrial
estrangeiro, com seus investimentos voltados para a fabricação de bens de consumo duráveis,
como é o caso da indústria automobilística e toda rede de acessórios que essa atividade tende a
abrigar.
Nesse momento histórico, o Estado no Brasil explicitou seu nítido caráter de classe, com
uma intervenção monopolista 12 , associada ao capital transnacional e procurando intervir,
diretamente, nas esferas produtivas e no incremento da infraestrutura, como também,
subsidiando impostos, facultando financiamentos e aprovando leis favoráveis a atuação das
grandes corporações estrangeiras, com grandes encargos financeiros, que foram decisivos para
oferecer ao país uma parcela industrial criadora de produtos fundamentais nos campos da
siderurgia e da atividade energética. Embora tenhamos que estar atentos e, como lembrou
Florestan Fernandes (1978), examinar criticamente nossas próprias classes dominantes, em
muitos casos defensores empedernidas do capitalismo a qualquer custo, cruéis com as massas
trabalhadoras, mas incapazes de questionar e romper sua subalternidade frente aos capitais
estrangeiros.
Os anos que imediatamente antecederam a Segunda Guerra Mundial influenciaram
muito e trouxeram sérias consequências à economia brasileira, materializadas na queda
repentina da exportação de produtos agrícolas tradicionalmente produzidos no país e a
12
Para o aprofundamento dessa discussão, recomendamos a obra de Harry Braverman, Trabalho e capital
monopolista, publicado no Rio de Janeiro, pela Zahar, em 1980.
60
13
Iniciais de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. Plano econômico apresentado pelo presidente Eurico
Dutra ao Congresso Nacional em 1948 com o objetivo de estimular o desenvolvimento de setores de saúde,
alimentação, transporte e energia no país.
14
Nome com que se tornou conhecida a Comissão Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos, formada em
1948 por um grupo de técnicos norte-americanos enviados ao Brasil sob a direção de John Abbink e por um grupo
de técnicos brasileiros chefiados por Otávio Gouveia de Bulhões. O objetivo era analisar os fatores que tendiam a
promover ou a retardar o desenvolvimento econômico brasileiro.
61
Num cenário como esse, João Goulart procurou estabelecer uma alternativa de cunho
nacionalista e calcada em reformas sociais de base, mas foi tragado pelas forças golpistas,
entreguistas e comprometidas com a integração do Brasil nos processos de mundialização do
capital.
Mas, também é importante lembrar que, nesse mesmo momento, inclusive, pensadores
como Álvaro Vieira Pinto, questionavam os ditames do imperialismo norte americano e
procuravam difundir a ideia de que a educação seria fundamental para o desenvolvimento do
país daquela época. Mais do que isso, que a escolarização das massas seria de grande
importância nas estratégias desenvolvimentistas, pretendendo, irredutivelmente,
O golpe de 1964 derrubou um governo que dispunha de grande apoio popular, que havia
sido eleito democraticamente e, procurando construir um bloco de alianças, políticas e sociais,
apostava numa perspectiva de caráter nacionalista para o desenvolvimento do país. Ocorre que,
pelo menos desde 1945, esse projeto, agora, liderado por João Goulart, sofria duros ataques e
todo tipo de restrições.
Não foi por acaso, portanto, que alinhados à uma parcela do empresariado industrial,
financeiro e comercial, que buscava estabelecer vínculos mais sólidos com o capital
internacional, a amplos setores da Igreja Católica e à parcela da sociedade mais sensível as
pregações ideológicas de caráter conservador, que dizia se sentir ameaçada pelo avanço do
comunismo e do sindicalismo, os militares tomaram de assalto o controle do Estado, trazendo
à tona o modelo autoritário de governo, o controle tirânico da vida política e social e priorizando
o crescimento econômico a qualquer preço, o que desencadeou a dependência ao financiamento
externo e alinhamento às exigências do monopólio capitalista internacional.
Com a chegada dos anos de 1970, o capitalismo mundial passou a enfrentar mais uma
crise, só que não se tratava de mais uma de suas crises cíclicas comumente percebidas na
história, mas, sim, de uma crise estrutural, que encaminhou a um processo de reestruturação
dos modelos de produção e também dos modelos de regulação social. Não demorou muito para
62
que as consequências sociais desse novo modelo surgissem, com intensa precarização das
condições de trabalho, aumento do desemprego e retirada de direitos dos trabalhadores.
O padrão de acumulação, até então vigente nos países considerados desenvolvidos,
entrou em colapso e fez surgir outro, chamado de “acumulação flexível”, denominação dada
por David Harvey (1992, p. 140), que nos esclarece que
[...] ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de
trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento
de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento
de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A
acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas,
criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego chamado ‘setor de
serviços’, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões
até então subdesenvolvidas [...]. Ela também envolve um novo movimento
que chamarei de ‘compressão do espaço-tempo’ no mundo capitalista - os
horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram,
enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte
possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço
cada vez mais amplo e variegado.
É neste cenário político e econômico que está situada a presente pesquisa, num tempo
em que os objetivos estavam centralizados em flexibilizar as relações de trabalho, reconfigurar
o mercado de consumo, e redefinir as funções do Estado para possibilitar a transferência de
muitas delas para o setor privado, além de forte estreitamento com o imperialismo. Nestes
aspectos, não foi diferente no panorama brasileiro, que durante a ditadura militar cujo “principal
mecanismo de dominação foi a união dos representantes dos monopólios com os políticos
burgueses, a camada superior da burocracia estatal, a cúpula das Forças Armadas e as sucessivas
‘equipes técnicas governamentais’ ” (BAUER, 2012, p. 39).
63
Do ponto de vista social mais amplo, em suas origens essas transformações trouxeram
um acelerado e incontrolado processo de urbanização, resultante da imensurável concentração
64
Uma das características mais interessantes produzidas naqueles difíceis anos, foi o
crescente engajamento e a mobilização das populações proletarizadas, envolvidas diretamente
na organização de associações de moradores e na urdidura de movimentos sociais e
reivindicativos, preocupados em estabelecer condições dignas de vida para os habitantes das
periferias das grandes cidades brasileiras.
65
Por outro lado, como veremos mais adiante, por essa época, tivemos também uma
significativa proliferação do chamado ensino particular, voltado, em grande parte, ao
atendimento das necessidades advindas do crescimento das camadas ditas médias da população
assalariada nas cidades brasileiras, preocupados com a escolarização de seus jovens e crianças.
De fato, a partir dos números oficiais, na ótica de Florestan Fernandes (1966, p. 23-24),
seria possível diagnosticar uma distribuição vertical das oportunidades educacionais. Assim em
meados da década de 1960, das 6.465.579 matrículas no ensino primário, havia apenas 26.879
66
matrículas no ensino elementar “extra primário”, 972.894 no ensino médio e 85.753 no ensino
superior. Para ele, os dados mostravam que entre os alunos que se matriculavam no primário,
havia somente alguns “bem-sucedidos” que conseguiam superar o chamado funil da seleção e
chegar ao ensino superior. As informações eram inequívocas: a cada 100 crianças que
conseguiam concluir o ensino primário, apenas 32 alcançavam as condições necessárias
frequentar o ensino médio, sendo que somente 3 cumpriam a proeza de chegar ao ensino
superior.
Nesse ponto, a análise de Florestan Fernandes era taxativa, reconhecendo que a política
brasileira favorecia a expansão das escolas particulares leigas ou confessionais, que raramente
adotavam ideais democráticos, em prejuízo aos problemas educacionais que o país ainda havia
de enfrentar e, principalmente, em detrimento da criação de um sistema oficial de ensino
fundamentado na justiça social.
Ao fazer um balanço das propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) que haviam sido discutidas no início da década de 1960, Florestan Fernandes afirmou
que foram aprovadas contando com várias concessões às correntes privatistas, que se
articulavam para impor seus interesses e influenciar as decisões do poder político,
impossibilitando a superação do atraso educacional. Asseverando, ainda, que a “débil
resistência dos homens públicos ou das instituições políticas” apadrinhou arranjos privatistas e
transações espúrias que minaram as expectativas do povo brasileiro com a edificação de um
sistema nacional de educação pautado na justiça social.
poderia mesclar isso às alíquotas estaduais e federais. A lei que regulamentou o salário-
educação determinou, entre outras coisas,
[...] a arrecadação de dois por cento do salário mínimo da região, a ser pago
pelas empresas à Previdência Social em relação a todos os empregados. A
distribuição das importâncias arrecadadas se dá pelo seguinte esquema: 50%
ficam à disposição dos governos das unidades da Federação para desenvolver
o ensino fundamental e os outros 50% são controlados pela União que, através
do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, os aplica em medidas
de fomento do ensino fundamental nas unidades da Federação menos
privilegiadas (FREITAG, 1986, p. 56).
Luís Antônio Cunha (1985) observa que os donos das escolas particulares estavam bem
contentes com o relacionamento junto aos governantes, que haviam instituído o salário
educação, pois a lei também previa que as empresas ficariam isentas do salário-educação se
instituíssem convênio com as escolas particulares por meio do sistema de bolsas de estudo.
Portanto, foi justamente nessa época que as Secretarias e os Conselhos Estaduais de Educação
passaram a ser ostensivamente ocupados pelos donos de colégios particulares e seus prepostos,
que tinham todo o interesse em aprovar convênios que beneficiavam, antes de tudo, as empresas
de ensino de sua propriedade ou as quais prestavam seus “serviços”.
Nesse ponto é importante fazer um parêntese e refletir sobre o dinâmico e diversificado
desenvolvimento econômico e das atividades financeiras, das forças produtivas e da
estruturação e movimentação das classes sociais na cidade de São Paulo, operado ao longo das
décadas de 1960 e 1970, suas consequências na instituição de sua subjetividade, perspectiva
histórica, consciência política e interferências objetivas no comportamento dos chamados
setores médios da população, entre os quais os professores que atuavam nas escolas privadas
da urbe paulistana. Lembrando, ainda, que naquele conturbado momento histórico, haveria de
exigir a aglutinação das forças políticas comprometidas em pôr abaixo o estado ditatorial
vigente no país e contribuir com a sua redemocratização.
Dizemos isso porque nos parece ser significativo termos atenção para as formas e
elementos específicos que as transmutações do capital assumem, no tempo e no espaço, sem
desconsiderar suas condições mais gerais, mas, tendo em conta, as contradições específicas
engendradas ao longo de sua instalação diante das realidades nacionais e regionais, muitas
vezes, diferentes entre si, com elementos particulares e capacidade de impingir elementos
particulares em sua mundialização histórica.
68
Desta sorte, fechamos esse parêntese e, ato contínuo, a presente seção, observando que
estaremos atentos a compreensão da realidade e os desafios que se colocaram para a sociedade
brasileira naqueles dias, considerando a presença e o comportamento assumidos pelos
professores paulistanos na defesa das suas concepções educacionais, dos seus interesses
corporativos, efetivação dos seus esforços organizativos e sindicais e, simultaneamente, como
se relacionaram com a luta pela democratização do país e com os desafios mais gerais colocados
para a sociedade naquele intricado momento da história brasileira.
69
Por um lado, uma concepção produtivista da educação, que buscava alcançar o máximo
de resultados com o mínimo de investimento, com princípios apoiados na racionalidade, na
eficiência e na produtividade. Um modelo bastante atrativo aos olhos dos cidadãos comuns, que
não conseguiam perceber a intencionalidade submersa nas políticas implantadas.
A reforma do ensino dos anos 1960 e 1970 vinculou-se aos termos precisos
do novo regime. Desenvolvimento, ou seja, educação para a formação de
“capital humano”, vínculo estrito entre educação e mercado de trabalho,
modernização de hábitos de consumo, integração da política educacional aos
planos gerais de desenvolvimento e segurança nacional, defesa do Estado,
repressão e controle político-ideológico da vida intelectual e artística do país
(SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 29).
Por outro lado, o governo também se preocupava em formar mão de obra altamente
qualificada, para ocupar altos postos de trabalho na indústria emergente e também no próprio
setor público, visando o fortalecimento da modernização que tanto prometia e divulgava e que,
na verdade, não passava de importação do aparato tecnológico. Neste viés, a universidade
transformou-se em um terreno muito fértil para a formação de aliados do regime.
Durante o ano 1968, o mundo inteiro viveu uma série de revoltas, manifestações e
explosões, não sendo diferente no Brasil. Ainda que a repressão fosse severa, as próprias
condições de arrocho e de falta de liberdade, colaboraram para a eclosão de grandes
movimentos estudantis e operários. Com relação aos estudantes organizados pela esquerda,
defendiam basicamente ensino público e gratuito para todos, a democratização do ensino
superior e o fim da ditadura, com passeatas gigantescas, tratadas com extrema violência e,
inclusive, mortes. Pelo viés da repressão e da tortura, e com a ajuda das ações terroristas do
Comando de Caça aos Comunistas (CCC), os movimentos foram sendo esvaziados e
derrotados, e apenas dez anos depois voltariam a surgir.
bom exemplo disso está no oferecimento obrigatório das disciplinas Estudos dos Problemas
Brasileiros (na universidade) e Educação Moral e Cívica (na escola básica).
As publicações de normas, decretos e leis colaboraram para que o Estado tivesse total
controle político e ideológico sobre todas as instituições de ensino, bem como sobre os sujeitos
nela inseridos. A publicação da Lei 5540/68 realizou grande reforma no ensino superior. A Lei
5692/71 fez grandes alterações no ensino de 1º e 2º graus, e valorizava excessivamente a
formação de mão de obra através de cursos técnicos e profissionalizantes. Nessas duas leis está
a base das reformas e políticas educacionais do período, que seguiam as recomendações
contidas nos acordos MEC-USAID (Ministérios da Educação/ United States Agency for
International Development)15.
Além delas, muitas outras leis e decretos foram publicados no período. Cinco deles16
merecem destaque, pois regulamentavam o controle sobre duas questões específicas: o
movimento estudantil e o comportamento dos professores. Ou seja, um aparato legal foi
organizado para garantir a hegemonia ideológica do regime, fazendo com que muitas pessoas
acreditassem que o país atravessa os melhores dias da sua história.
15
Acordos que davam aos técnicos da agência americana (USAID) amplos poderes de decisão sobre a reforma do
sistema educacional brasileiro.
16
Lei 4.464/64, sobre a participação estudantil; Decreto 57.634/66, que suspendeu as atividades da UNE; Decretos
53/66 e 252/67, que modificaram a representação estudantil e reestruturaram as universidades federais; Decreto-
lei 228/67, que permitiu que reitores e diretores de escola enquadrassem o movimento estudantil nos termos da lei;
Decreto-lei 477/69, proibia manifestações políticas de estudantes e professores.
72
Surgiu, então, um novo padrão oficial de educação superior, apoiado num discurso de
modernização da rede pública combinada a altos investimento na rede privada. Não foi preciso
muito tempo para que a ampliação da oferta de vagas fosse feita apenas na rede particular, que
não parava de crescer, posto que a educação superior foi transformada num negócio altamente
lucrativo, levado pelas mãos de empresários que, na maioria dos casos, lançaram mão de
estratégias perversas para garantir lucros, deixando em segundo plano a vertente da pesquisa,
fazendo com que as instituições se consolidassem como meros espaços de transmissão de
conhecimento, imergidos na intencionalidade da formação profissional, mas absolutamente
esvaziados de objetivos relacionados à formação de intelectuais que pudessem repensar a
sociedade de forma crítica.
Além de introduzirem nas instituições o modelo empresarial de administração em busca
de lucro, também foram muito competentes na inserção do controle ideológico e de
comportamento.
particular. Com esta atitude, entendemos que o governo se absteve do compromisso de uma
educação de qualidade para todos.
Os programas de pós-graduação foram reformados e adequados ao modelo norte-
americano, tornando-se muito atrativos. Para que se tenha uma ideia da ampliação, de acordo
com Leher e Silva (2014, p. 7), saltamos de 36 programas em 1965, para 1.116 em 1985. Uma
situação bastante paradoxal visto que, ao mesmo tempo em que investia altamente em
programas de formação científica, o governo permanecia subsidiando muitas instituições de
pequeno porte, que ofereciam cursos de graduação que mais se pareciam com formação de nível
técnico, pois, além da baixa exigência e de práticas voltadas à mera transmissão de
conhecimentos, não tinham nenhuma preocupação efetiva com o desenvolvimento da pesquisa,
e sim apenas com o ensino.
Ou seja, apenas o mínimo para a maioria, e o máximo para poucos. Um projeto bastante
perverso, visto que “a universidade reproduz o modo de produção capitalista dominante não
apenas pela ideologia que transmite, mas também pelos servos que ela forma”
(TRAGTENBERG, 1982, p. 14).
A ampliação da oferta de vagas, tanto nos bancos escolares, quanto nos universitários,
naturalmente ampliou também e, consideravelmente, a quantidade de professores no país. Já
não se tratava mais de um trabalho a ser exercido apenas pelos filhos da chamada classe média,
mas sim de uma categoria de trabalhadores formada por sujeitos de todas as camadas sociais.
Na mesma medida em que a categoria cresceu, aumentou também o arrocho salarial,
conduzindo o magistério a uma precarização gradativa, que perdura até os dias de hoje.
Importante ressaltar que as perdas não foram apenas salariais ou de condições laborais,
mas também com relação à formação dos novos docentes que se juntavam à categoria, oriundos
de programas de licenciatura sintetizados e aligeirados, para diminuição do tempo e ampliação
do atendimento à demanda. Mesmo assim, não demorou muito para que os professores
formassem a maior categoria de trabalhadores do país que, de modo geral, se posicionavam
contra a ditadura.
Mas, apenas ao final da década de 1970, com o regime já enfraquecido, foi possível ver
ressurgir os anseios por novas propostas para a educação, que se consolidaram na bandeira de
luta dos professores nos primeiros anos da década de 1980. Com o agravamento da crise
econômica, muitos professores, que eram contra a ditadura, conseguiram se reorganizar em
associações docentes, fazendo (re)nascer muitos dos sindicatos dos trabalhadores em educação
existentes na atualidade.
75
A partir de 1982, com a eleição direta para governadores, os sistemas estaduais de ensino
conquistaram certa independência, pois a oposição conseguiu vencer as eleições em
importantes estados do Sul e do Sudeste. Mas, a força do governo militar conseguiu criar
empecilhos, impedindo que melhorias fossem construídas. Como a maioria dos novos
governadores eleitos não eram opositores ao regime, não foi difícil manter obstáculos através
de políticas de centralização e repasse de recursos, impedindo que qualquer avanço saísse do
papel.
Neste período, metade das crianças brasileiras repetia ou evadia ainda na 1ª série do 1º
grau; 30% da população eram analfabetos; 23% dos professores eram leigos e 30% das crianças
não frequentavam a escola. Como se não bastasse, mais de 8 milhões de alunos do 1º grau
tinham mais de 14 anos e 60% da população brasileira viviam abaixo da linha da pobreza. Com
o final oficial do regime em 1985, vimos a entrada de José Sarney na presidência, para a qual
foi indicado após a morte de Tancredo Neves. Um governo que se mostrou bastante conservador
e autoritário, mantendo a democracia, que era um desejo tantos brasileiros, confinada à
condição de uma “solução longínqua, perdida no emaranhado retórico das correntes políticas
organizadas” (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p. 37-8).
A compreensão e a análise de algumas das contradições que se manifestaram no Brasil,
de 1975 a 1985, é o que orientou nossos estudos sobre a atuação dos professores, no âmbito da
educação privada paulistana, evidentemente, reconhecendo os limites para que se faça uma
plena compreensão dessa intricada relação.
Dito de outra forma, consideramos que as transformações causadas pelo
estabelecimento do capitalismo, em sua fase monopolista, foram acompanhadas, ao mesmo
tempo, pelas lutas que se travaram em busca da democratização e pelo agravamento da crise
social, política e econômica que varreu o país no período estudado.
Temporalidade essa que podemos caracterizar como sendo própria da transição política
que se anunciava no país, pelo menos, desde as eleições de 1974, mas, que não pode ser
76
conseguiam romper com esse perverso cerco, tinham que estudar nas instituições de ensino
superior privadas.
Do ponto de vista mais geral, a ditadura contribuiu sobremaneira com a expansão do
ensino privado, adotando políticas governamentais que pudessem favorecer os interesses
privatistas da pré-escola à universidade, passando pelo incremento dos cursos técnicos, de
suplência e dos famigerados cursinhos pré-vestibulares, com inegável crescimento de
matrículas e oferta de trabalho docente pelo país afora.
17
Entendemos por vanguarda um setor da categoria que, embora esteja à frente das lutas e resistências, não precisa
estar, necessariamente, organizada em um partido político.
79
18
O endereço do site é http://www.sieeesp.org.br. Acesso em 25 set. 2016.
80
Os professores que trabalhavam nas instituições de ensino privado, por sua vez, estavam
agrupados em diferentes associações, tendo inúmeros fatores objetivos, ideológicos e legais que
dificultavam a sua aglutinação em organizações, propriamente ditas, sindicais. Com a chegada
de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, começou a se desenvolver uma legislação trabalhista,
culminando, em 1931, com a promulgação do Decreto n. 19.770 de 19 de março, que pode ser
considerada a primeira lei sindical a estimular a efetivação do sindicalismo de Estado no Brasil,
passando a influenciar, de forma determinante, na organização sindical docente. De fato, para
muitos analistas, com essa “Lei de Sindicalização” estariam criados os pilares do sindicalismo
no Brasil.
Como parte desse contexto histórico, de acordo com o seu atual presidente, professor
Luiz Antônio Barbagli, o sindicato foi fundado no dia 18 de dezembro de 1940, com o nome
Sindicato dos Professores do Ensino secundário e primário, sendo que, perto de três décadas
depois, no dia 27 de junho de 1978, a entidade passou a ser nomeada de Sindicato dos
Professores de São Paulo (SINPRO-SP).
81
Antes do golpe que deu início ao governo militar, era muito possível perceber diferentes
correntes sindicais bem definidas no panorama brasileiro. Havia o sindicalismo vermelho que,
mesmo com muitas tendências, mantinha alinhamento principalmente com os comunistas
filiados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e também com os nacionalistas do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). Também existia o sindicalismo dos renovadores (ou amarelo),
defendido pelos trabalhadores alinhados ao Ministério do Trabalho e com simpatia recíproca
por Getúlio Vargas, muitos deles provenientes da Igreja Católica e, além desses, também havia
a corrente dos anticomunistas, que defendiam a colaboração de classes em detrimento ao
combate. Uma fase de muita luta, inclusive entre as diferentes correntes.
Os vermelhos ocupavam a direção da maioria dos sindicatos, numa orientação populista
e hierarquizada, em que os líderes sindicais convocavam os trabalhadores para manifestações e
greves. Também era emergente a boa relação entre o então presidente João Goulart e os
sindicatos, que recebiam apoio às suas manifestações.
A partir do golpe de 1964, deu-se início a intensa perseguição contra as entidades
organizativas dos trabalhadores, determinando uma brusca interrupção no movimento sindical,
que vinha crescendo significativamente.
19
A estabilidade de emprego era concedida aos trabalhadores quando completavam dez anos de serviço, mas esse
direito foi retirado pelo Decreto 53.914/64, que substituiu a estabilidade pelo FGTS – Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço.
20
A Lei 4330/64, mais conhecida como lei antigreve, não proibia explicitamente as paralisações, mas apresentava
um rol tão imenso de exigências para que elas acontecessem que as tornou praticamente impossível de serem
realizadas. Ainda, se não bastasse, as punições a quem não cumprisse o que estava determinado eram muito
severas.
83
Institucional nº.5 21 (AI-5). Tudo veio por terra, tamanha força de repressão e violência
destinada a qualquer pessoa que tentasse se empenhar em organizações coletivas de
trabalhadores que não atendessem os modelos estabelecidos pelo governo. Em razão disso,
cresceram os adeptos à guerrilha armada, que não viam outra saída de luta. Mas muitos
trabalhadores permaneceram atentos nas fábricas, exercendo a militância clandestinamente
pelas margens, utilizando outros aparelhos (residências, igrejas, porões) para seguir o trabalho
de organização da classe, visto que os sindicatos estavam absolutamente nas mãos do governo,
representados pelos dirigentes por ele escolhidos. Apenas nos idos da década de 1970 as
organizações sindicais voltaram a retomar potência crescente de resistência e luta.
Nos piores anos da repressão, entre 1968 e 1978, o total de sindicatos oficiais
na área urbana saltou 53,3%, foi de 2.616 a 4.009. Nas regiões rurais houve
crescimento ainda mais expressivo, ligado à iniciativa da ditadura militar, que
atrelava os sindicatos ao sistema previdenciário e a convênios assistenciais:
de 625 sindicatos em 1968, o total chegou a 1.669 em 1975, conforme dados
do IBGE organizados por Armando Boito (1991). Esses números, bem como
a trajetória inicial de Lula, são indicativos das relações complexas também
dos trabalhadores do campo e da cidade com a ditadura, que reprimia os
líderes dos sindicatos mais combativos, mas incentivava os que se integravam
à nova ordem e seu sistema assistencial, buscando assim legitimar-se
(RIDENTI, 2014, p. 40).
Com relação ao movimento coletivo docente, sabemos que os professores foram muito
perseguidos durante a ditadura, desde seu início até a reabertura política. Somente em 1964,
mais de oitenta professores foram cassados pelo regime, estando entre eles Paulo Freire, Anísio
Teixeira e Darcy Ribeiro. A partir de 1968, com o AI-5, mais cento e sessenta e oito professores
foram cassados, incluindo o Massacre dos Manguinhos, caso dos dez cientistas da Fiocruz
aposentados compulsoriamente. Certamente, estamos apresentando aqui apenas os números que
constam nos registros da história, mas é sabido que o resgate dessa memória ainda está em
processo, e corremos o risco de nunca ter conhecimento da verdadeira quantidade de
professores que sofreram com a repressão no período.
21
O Ato Institucional nº 5, baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi
a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de 1978 e produziu
um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de
exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados.
Informações disponíveis em http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies /FatosImagens/AI5. Acesso em 09 fev. 2018.
85
Por outro lado, também havia muitos professores que declaravam apoiar o golpe, vários
deles organizados em agências como o IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) e o IBAD
(Instituto Brasileiro de Ação Democrática)22, mas não foram raros os casos de docentes que se
recusaram a participar de tais organizações, optando pelo exílio espontâneo, vivendo
clandestinamente por muitos anos fora do país.
A ação docente foi um importante instrumento no processo de combate à ditadura, em
busca da reabertura política. Durante o regime militar, houve significativa ampliação da
quantidade de escolas e universidades, situação impulsionada principalmente pelo intenso
fortalecimento da rede privada de ensino em todos os níveis e modalidades. Isso não rejeita o
fato de ter havido também uma ampliação da oferta na educação pública, mas não se deu na
mesma proporção que a rede particular.
Havendo mais instituições de ensino, certamente que também foram ampliados os
quadros docentes para atendimento da demanda, bem como o apressamento da formação
licenciada, para garantir que todas as vagas estivessem ocupadas pelos professores, fossem eles
mais experientes ou não. Não apenas na educação básica houve crescimento, mas também no
ensino superior, que contava com cento e quarenta mil estudantes em 1964, passando a quase
um milhão e meio deles em 1985.
O aumento na quantidade de professores durante o regime, não garantiu melhores
condições de trabalho, muito pelo contrário. Não foi preciso muito tempo para que a categoria
percebesse forte desvalorização salarial e também social.
22
O complexo IPES/IBAD assumiu a frente das formulações ideológicas e das diretrizes básicas para os governos
militares em variados campos, inclusive na educação, onde buscava “restabelecer a ordem e a tranquilidade entre
os estudantes, trabalhadores e militares” (DREIFUSS, 1981, p. 468).
86
Apenas a mais ampla das concepções de educação nos pode ajudar a perseguir
o objetivo de uma mudança verdadeiramente radical, proporcionando
instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora do capital. A
maneira de abordar o assunto é, de fato, tanto a esperança como a garantia de
um possível êxito (MÉSZÁROS, 2008, p. 48).
Premida pelo achatamento salarial e pela rápida queda no seu padrão de vida
e de trabalho, a categoria profissional dos professores públicos de 1º e 2º graus
foi desenvolvendo uma consciência política que a situava no âmago do mundo
do trabalho, tal como já estava posta para a classe operária fabril. Em outros
termos: incorporou a tradição da luta operária – nos marcos da expressão
sindical – e transfigurou-se numa categoria profissional capaz de converter as
suas necessidades materiais de vida e de trabalho em propostas econômicas
concretas (FERREIRA JR & BITTAR, 2006, p. 1169).
87
Em 1979, os debates sobre a inflação ocupavam destaque não apenas entre as discussões
dos especialistas, mas também na vida dos cidadãos em geral. Os preços em constante alta
colocavam os trabalhadores num constante prejuízo e rebaixamento em suas condições básicas
de vida. Da mesma forma, as campanhas salariais carregavam a responsabilidade de corrigir,
ao menos, a defasagem imposta pelos índices inflacionários.
pode se prejudicar com a elevação dos custos (Eduardo Suplicy, Folha de São
Paulo, 08/04/1979).
Na ocasião, Suplicy referiu-se aos autores Robinson e Eatweel que, ao analisarem países
industrializados, concluíram que a inflação era um mal que não atingia todos. Ao trazer a análise
para a realidade brasileira, ele pontuou que os acordos voluntários não eram ainda viáveis no
país, diante da intransigência e da intervenção unilateral do governo, mas reconheceu que uma
parcela pequena da população se beneficiava do galope inflacionário, da mesma forma que os
autores ingleses perceberam acontecer nos países desenvolvidos.
Como já foi caracterizado por outros autores, o caráter conservador dessa modernização
é o que melhor explica o fato de que nenhum dos graves problemas do país tinha sido
equacionado a contento, mas sim agravados, como foi o caso da violência perpetrada contra os
movimentos de luta pela terra e defesa da reforma agrária.
Exemplo disso está na campanha salarial do SINPRO-SP, de 1979, quando a parcela de
professores que se localizava em oposição à diretoria da entidade, denunciou que as
negociações eram obscuras e repletas de vícios e manobras por parte do sindicato e também da
federação à qual pertencia. Com a inflação em níveis altíssimos, e vendo seus salários sendo
corroídos pelo modelo econômico em curso, os professores desejavam um índice de reajuste
muito diferente do que foi negociado pelos seus representantes oficiais.
Os documentos mostram também a queda do chamado “milagre brasileiro”,
denunciando a fantasiosa manipulação com que procurou “vender” ao país uma política
econômica anticolonial, antipopular e antidemocrática, bem como escamotear seus funestos
resultados, como é o caso da escalada inflacionária e a política de arrocho salarial, amplamente
caracterizadas e denunciadas pelos citados boletins sindicais.
91
quadros políticos e culturais dirigentes, cooptando os seus frequentadores para gerir a sociedade
políticas e os negócios de acordo com os interesses das classes dominantes. Não é de outra
maneira que a universidade se constitui numa das instituições através da qual a burguesia exerce
a sua hegemonia cultural, política e ideológica na sociedade capitalista.
Esse tipo de abordagem, de cunho reprodutivista, parece nos eximir de uma análise mais
concreta da especificidade da atividade universitária e não permite compreender a universidade
como um espaço de reflexão, de crítica, de indagação e questionamento social, sem o qual o
94
pensamento científico e a cultura, de um modo geral, não poderiam jamais sobreviver. Essa é a
razão pela qual, mesmo nos momentos históricos em que a dominação política e ideológica se
dá através do uso indiscriminado dos métodos mais repressivos, repugnantes e totalitários, é
importante lembrar daqueles que reivindicam o seu papel na liberdade de investigação e
reflexão como fizeram os professores que participaram do encontro.
Pelo que pudemos apurar, havia, como objetivo dos professores que atuavam na base
do SINPRO-SP e procuravam se situar como oposição da direção sindical, o compromisso de
estabelecer uma presença constante e permanente nas escolas, no impulsionamento do
movimento docente no interior das estruturas sindicais oficiais, como uma exigência
fundamental no desenvolvimento de suas políticas, que julgavam representar as aspirações da
maioria dos professores e para articulação entre as aspirações e os interesses mais gerais dos
trabalhadores.
Foi nesses termos que procuraram conceber a organização docente como um firme
alicerce de luta pela democracia e interesse classista.
23
Sistema “S” é a representação do conjunto das seguintes redes: SESI, SESC, SENAI, SENAC, SENAT, SEST
e SEBRAE.
97
[...] para o descanso e lazer dos associados nos períodos de férias, de recesso,
feriados e finais de semana a sua Colônia de Férias. Localizada na Vila
Caiçara, na Praia Grande, a Colônia de Férias possui 20 apartamentos para
atender os professores sindicalizados. Além disso, conta com quadra
poliesportiva, duas piscinas (sendo uma delas infantil), alimentação e uma
ótima infraestrutura.
24
http://www.sinprosp.org.br/index.asp. Acesso em 25 set. 2016.
98
No primeiro semestre de 2018, o SINPRO-SP esteve à frente de uma difícil batalha entre
os professores da educação básica e os empresários do ramo, lembrando-se que estava em vigor
as discussões em torno da reforma trabalhista 25 , o que colocava em risco uma série de
25
Reforma Trabalhista foi o nome dado ao desmonte de direitos do trabalhador que foi implantado pela Lei 13.467
de 2017, causando mudanças significativas na CLT, com o argumento de combater o desemprego no país.
Atualmente, com mais de um ano de reforma, os números do desemprego não param de crescer, comprovando que
a chamada reforma só serviu para prejudicar os trabalhadores e beneficiar os patrões.
99
conquistas, dificultando a renovação dos sessenta e cinco itens que integravam a convenção
coletiva. Essa discordância entre SINPRO-SP e o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no
Estado de São Paulo (SIEEESP), foi o motor para um movimento grandioso e vitorioso, que
surpreendeu boa parte da sociedade de forma positiva.
Contando com a participação de professores, alunos e pais de alunos, o movimento
ganhou força e foi vitorioso, colocando o SINPRO-SP ao lado das entidades que não se omitem
perante a retirada dos direitos da classe trabalhadora.
e políticas, dos fins da década de 1970 e dos inícios dos anos 1980, que trouxeram para a cena
política nacional a presença da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a unidade entre os
trabalhadores mostrava-se imperiosa para impor a derrocada da ditadura, isso não aconteceu!
O projeto de criação de uma entidade sindical, que fosse capaz de representar os
interesses particulares, conjunturais e históricos dos professores paulistanos, nos idos da década
de 1950, pareceu-nos ser parte inalienável do grau de consciência em si dos professores:
mergulhada no próprio meio em que havia surgido de forma ingênua e preocupada em
responder aos problemas imediatos e compreender a realidade que a circundava, mas, ainda
muito afastada de um projeto que fosse capaz de integrá-la nas lutas históricas e políticas
emancipatórias do conjunto da classe trabalhadora pela transformação da realidade concreta.
A gênese sindical estava em sintonia com os desdobramentos da legislação varguista e
a sua ambição de penetrar profundamente nas organizações reivindicativas que são próprias do
mundo do trabalho.
Analisando a terminologia utilizada pelo SINPRO-SP, na redação de sua auto
apresentação, disponível no portal da entidade, é possível revelar alguns traços reacionários ou
mesmo de corte autoritário que estão presentes nas condutas rotineiras da patronal da educação,
senão, vejamos:
Ao longo da história da educação brasileira, o trabalho do professor foi
acompanhado de uma simbologia de abnegação que mais serviu para ocultar
as péssimas condições em que ele era desenvolvido do que para sua
valorização. Por conta de uma imagem que os transformava em "sacerdotes"
desprovidos de reivindicações, os educadores deram muito de si para as
escolas privadas, que acabaram por se constituir num setor econômico onde,
na maioria das vezes, os interesses financeiros estão acima de quaisquer outras
considerações. Têm sido numerosos os momentos em que os donos de escola
tentam ludibriar o Direito; e, a cada ano, os professores têm que redobrar os
esforços para manter inalteradas as conquistas obtidas até aqui. Ou porque
apostam na desarticulação social promovida pelo Estado neoliberal, ou porque
imaginam que a esperteza pode se transformar na pauta de conduta com que
os empresários lidam com seus trabalhadores, as escolas particulares inventam
de tudo para escapar do compromisso de respeito que os professores exigem.
Em qualquer hipótese, a maior e mais eficaz arma de que dispomos é o
Sindicato. Daí porque é necessário fortalecê-lo sempre e retribuir com
consciência e participação aquilo que nossa entidade tem oferecido
historicamente à categoria que representa (SINPRO-SP26).
26
http://www.sinprosp.org.br/index.asp. Acesso em 25 set. 2016
102
Elaborado pela autora a partir de dados do Anuário Estatístico do Brasil – IBGE, 1964 a 1985.
27
Sinopses Estatísticas do Ensino Superior – MEC (disponíveis em www.inep.gov.br). Acesso em 08 fev. 2017.
107
Tabela 3 – Professores em SP
Elaborado pela autora a partir de dados do Anuário Estatístico do Brasil – IBGE, 1964 a 1985.
Exceto o caso de uma minoria de professores atuantes no ensino privado que dispunha
de polpudos vencimentos, a maioria estava imersa em uma massa salarial constituída de baixa
remuneração e a possibilidade de elevá-los ou mesmo equilibrá-los mostrava-se muito longe de
ser alcançada, mas esse intento deveria ser perseguido pela direção sindical.
Em matéria assinada por Antônio Góis e publicada, em 10 de março de 2007, pela Folha
de S. Paulo, temos uma pequena amostra dessa impressionante diversidade de salários nas
escolas particulares de São Paulo que, então, variavam até 624%:
Clientela
Na avaliação do presidente do Sinpro, Luiz Antônio Barbagli, a variação de
mais de 600% nos salários tem relação direta com o público atendido.
"Há muita variação entre as escolas particulares de São Paulo. Aquelas que
atendem a um público de mais alta renda têm mais condições de cobrar uma
mensalidade maior e, por conseqüência, pagar salários melhores para atrair
bons profissionais. Há escolas situadas em bairros mais pobres, no entanto,
que cobram mensalidades menores e pagam salários muito mais baixos", diz
ele.
O mesmo argumento é usado por Barbagli para explicar por que algumas
escolas de nível fundamental pagam salários maiores do que universidades.
"As escolas de elite atendem a uma clientela de alto poder aquisitivo, que
tendem a entrar em universidades públicas. Muitas instituições privadas, no
entanto, trabalham com um público diferente. De olho nos alunos de menor
renda, cobram mensalidades muito mais baixas. Para justificar isso, pagam
pouco ao professor e, às vezes, colocam mais de 100 alunos em sala de aula."
Portanto, nos propusemos a analisar a relação da diretoria sindical com a sua base,
mesmo sem saber, ao certo, a quantidade de membros associados que a entidade contava. Em
nosso ponto de vista, valorizar a divulgação dos números do sindicato pode demonstrar,
inicialmente, uma boa vontade por parte da diretoria em manter relações transparentes e
verdadeiras com a base que organiza. Mas percebemos que a entidade não tinha a intenção de
trabalhar com transparência, já dificultando a relação com os professores a partir desse critério,
numa relação aparentemente permeada com formalidade excessiva, quase hierárquica, que
buscava colocar o sindicato como algo acima do bem e do mal.
Em circular aos professores emitida pela entidade, em novembro de 1977, a diretoria
esclarece, de maneira bastante formal, sobre a importância do registro profissional dos
professores junto à Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Na relação dos documentos
exigidos, atestado de antecedentes fornecido pelo Departamento Estadual de identificação
Criminal (DEIC) e atestado de idoneidade moral.
117
28
O documento está disponível na íntegra em Anexo 03.
118
29 O índice de inflação em 1977 foi de 38,78%; em 1978 foi 40,81%. Fonte: IGP-DI/FGV.
119
Não diferente de outras entidades, e considerando que este modelo era condição sine
qua non para a existência de um sindicato durante o regime militar, o SINPRO-SP garantiu em
seu estatuto os aspectos da estrutura de um “Sindicato de Estado” denunciados por Boito Jr.
(1991), ou seja, um sindicato marcado pela tutela do Estado, que garantia a unicidade e
valorizava demasiadamente o imposto sindical, características construídas na década de 1930,
mantidas durante as democracias populistas, e posteriormente muito bem potencializadas - e
utilizadas com destreza - pelos governantes durante a ditadura civil-militar. O autor classifica
o sindicato de estado como um aparelho de tipo particular do governo, dotado de características
e funções permanentes, que “articula uma estrutura, uma ideologia e uma prática sindical
específicas” (p. 12).
Das trinta e uma páginas do Estatuto, dezesseis estavam reservadas para o Capítulo III
– Da eleição sindical, votação e processo eleitoral, com detalhamento de todas as exigências e
atividades para a eleição da diretoria, pois a “tutela das eleições sindicais pelo Estado é um
outro efeito mecânico da estrutura” (BOITO JR., 1991, p.44). O atual Estatuto do SINPRO-SP,
registrado em 2014, tem dezessete página, sendo apenas seis delas destinadas ao assunto.
Já no final de 1978, após vitória na eleição sindical, a diretoria emitiu uma circular aos
professores, agradecendo a confiança dos votos para a permanência da chapa na entidade,
quando também valorizou a importância dos serviços oferecidos pelo sindicato aos docentes:
departamento odontológico, departamento jurídico, máquina de xerox, reforma da sede social
e da colônia de férias. Nessa circular, também nos chamou a atenção o fato de não haver uma
única linha sequer destinada à conjuntura política nacional, nada a respeito das condições de
trabalho dos professores e também um silencia absoluto sobre a expansão do ensino privado
que corria em larga escala. Tratava-se de um período muito específico da história brasileira,
pois João Figueiredo acabara de ser escolhido, por eleição indireta, para ser o Presidente da
República e, desde seu antecessor, Ernesto Geisel, as ações para a redemocratização do país já
estavam declaradas e sendo lentamente executadas pelo regime. Mesmo assim, silêncio
absoluto no SINPRO-SP, que se limitou a oferecer uma entidade assistencialista e burocrática.
122
O professor Gumercindo Milhomem conta que a ditadura era de classe, fazendo com
que os trabalhadores fossem reprimidos e, por consequência, as organizações também. O
SINPRO-SP tinha sobrevivido, “mas estava em low profile. Os jovens que chegavam, achavam
que o sindicato não prestava, pois não combatia a ditadura. Muitos não queriam se sindicalizar
por causa disso. Outros, porque tinham medo” (MILHOMEM, 2017).
Isso colabora com a compreensão de que o projeto sindical do SINPRO-SP comportava,
naquele momento, uma concepção alinhada às políticas de moderação e mediação que
conjuminavam, simultaneamente, com as premissas preconizadas pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e também com o desejo daquelas vozes conciliatórias que ocupavam o
aparelho estatal.
Em janeiro de 1979 o presidente José Leopoldino de Azevedo divulgou Edital de
Convocação para Assembleia Geral para o dia onze do mesmo mês. A pauta apoiava-se em
apenas duas questões: aumento salarial e garantia da taxa assistencial.
123
dias para deliberar sobre: a) reabertura e revisão das negociações salariais; b) ações para garantir
a fiscalização do sindicato em busca de instituições que não cumprem protocolos salariais; c)
organização e ativação, pelo sindicato, de campanha permanente de sindicalização para
fortalecimento da entidade. O documento contava com quarenta e sete páginas, separadas por
instituição de ensino, com um total de duzentas e quinze assinaturas.
Alguns dias depois, o presidente emitiu ofício indeferindo a solicitação, alegando que
não estavam atendidas as exigências previstas no estatuto, mas sem esclarecer quais.
Não demorou muito para que uma parcela dos professores, sindicalizados ou não,
compreendem-se os múltiplos problemas que se manifestavam no seio da categoria e se
empenhassem na construção de um bloco de oposição.
127
A análise descrita neste item não se deu apenas sobre documentos oficiais do SINPRO-
SP, mas também nos boletins, jornais e circulares do movimento oposicionista que se constituiu
a partir de 1977, que teve papel fundamental em sua consolidação ulterior e não está apartado
da sua própria historicidade.
No início da segunda metade da década de 1970 localizamos uma nova movimentação
no sindicalismo docente paulista, fazendo surgir duas correntes importantes para a trajetória
que estava por vir: o Movimento pela União de Professores (MUP) e o Movimento de Oposição
Aberto de Professores (MOAP). Os membros dos dois grupos vinham de diversos partidos da
esquerda brasileira e, em razão de seus diferentes agrupamentos, pontos de vista e estratégias,
se dividiram.
A segunda era uma dissidência da primeira. Ambas, depois da greve de 1978,
articulavam-se na Comissão Pró-Entidade Única para fazer oposição sindical
à Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, ao
Centro do Professorado Paulista e ao Sindicato dos Professores de São Paulo
(FERREIRA JR., 1998, p. 89-90, grifo nosso).
De uma maneira geral, os materiais produzidos pelo MOAP de 1975 a 1985 apresentam
reivindicações de uma parcela da categoria que enxerga, em sua entidade representativa,
problemas relacionados principalmente às dificuldades de filiação sindical e às negociações
salariais. Ou seja, denunciam uma entidade aparelhada, mas que não atende aos reais anseios
dos trabalhadores que representa. Um sindicato que é gigante em sua estrutura, mas que constrói
essa grandiosidade sobre uma base propositalmente pequena, em detrimento aos interesses da
classe trabalhadora.
Em agosto de 1977, o Jornal do Movimento de Oposição Aberto dos Professores
(MOAP) denunciou as dificuldades impostas pela diretoria para que novos professores
pudessem se sindicalizar, argumentando que sindicato vazio interessava apenas aos patrões e à
diretoria traidora. O professor Celso Napolitano (2018, Anexo 197), na entrevista que nos
concedeu, esclareceu que
[...] era difícil sindicalizar naquela época. Ele não sindicalizava quem ele tinha
desconfiança que ia voltar contra ele quando. Tanto que quando a gente
assumiu o sindicato, nós entramos em fevereiro de 88, havia duas 2000 quase
3000 em condição de voto. Em outubro de 88 já tinha 10 mil sindicalizados.
Só das fichas que nós tiramos das gavetas.
128
O MOAP lançou um novo jornal em abril de 1978, chamado Quadro Negro. Na primeira
edição, o editorial denunciava uma piora drástica na situação dos professores, em razão do
processo de degeneração pelo qual passaram os salários e as condições de trabalho.
Responsabiliza o sindicato pela ausência de resistência e de combate às políticas de arrocho e
desvalorização que a categoria atravessava.
Identificamos aqui o que Vito Giannotti (1987) caracterizou como sendo um período de
intensa valorização dos sindicatos enquanto parte da engrenagem estatal, para então garantir a
desvalorização da vida sindical, ou seja, o sindicato sendo utilizado como um aparelho de
130
assistencialismo e serviços, para evitar qualquer tipo de conflito ou resistência por parte dos
trabalhadores. Um sistema completo de conciliação e calmaria, que ia em total desencontro aos
anseios do MOAP.
Em março de 1979, o Quadro Negro denunciou uma suposta manobra realizada pela
Federação, em conjunto com os sindicatos associados, na campanha salarial dos professores de
Santos, São Paulo e Campinas. Alegando que as assembleias para aprovação da campanha
foram realizadas com quantidade ínfima de participantes. Naquele momento, o SINPRO-SP
contava com dois mil associados (numa base de sessenta mil professores), mas apenas cinquenta
e dois compareceram para legitimar a proposta da federação que, na opinião do MOAP, foi
capciosa, pois impossibilitou uma negociação real com os patrões, visto que reivindicou um
índice muito alto desde o início, tornando inviável qualquer tipo de diálogo.
O caso foi noticiado pela imprensa e o impasse se arrastou durante todo o ano, tornando-
se o principal alicerce da oposição, que não se cansava em afirmar que a diretoria do SINPRO-
SP não permitia a participação da base, utilizando o episódio da campanha salarial como
principal exemplo da conduta reclamada.
Antes de seguirmos com a análise do jornal, acrescentamos que também está registrada
a presença de João Guilherme Vargas Netto no SINPRO-SP. Um carioca dirigente do PCB que
foi enviado pelo partido a São Paulo depois do AI-5, atuando com muitos grupos e também
com o movimento sindical. “Havia uma estreita ligação entre o PCB e os sindicatos. Eu
trabalhava com o Bonfante e nos aproximávamos das direções sindicais”, esclarece ele em
depoimento, quando também explicou que a repressão na capital era severa e que, após a morte
de Vladimir Herzog, não havia mais condições de permanecer no país (VARGAS NETTO,
2018).
Ainda que não tivéssemos como objetivo encontrar elementos documentais que
comprovassem a ligação do PCB com o sindicato dos professores, entendemos que essa relação
134
aconteceu e gerou frutos, mas não temos condições de saber em que medida, para isso seria
necessário cotejar os documentos produzidos pelo partido, com os eram veiculados pela direção
ou pela oposição sindical, feito isso, o vínculo seria, então, rapidamente, verificado pelo teor e
similitude dos mesmos.
Se o jornal do partido não demonstrava quaisquer configurações de alinhamento com o
Estado, em que pese, a postura conciliatória adotada pelo PCB desde então, não podemos
afirmar o mesmo sobre o jornal do SINPRO-SP que, por inúmeras vezes, apresentou em seu
instrumento de imprensa uma explícita postura alinhada aos interesses dos patrões e do Estado.
Certamente que não pretendemos tecer comparações entre os dois instrumentos
jornalísticos, pois, além de terem sido editados em períodos diferentes da história, as condições
eram muito diversas no que tange à liberdade política das organizações políticas e sindicais.
Entendemos que “a comunicação sindical é uma arma em potencial nas mãos dos
trabalhadores para defender sua ideologia, sua política” (COSTA, 2010, p. 65), mas
reconhecemos que, a partir do golpe de 1964, os sindicatos foram forçados a se transformar em
instrumentos passivos e alinhados ao governo, o que determinou que a temática de seus boletins
e jornais também fosse alterada, passando a abordar com predominância apenas as denúncias
de instituições que não arcavam com as obrigações salariais, propagandas do assistencialismo
promovido pela entidade, recortes de jornais da grande imprensa e textos normativos ou
legislação na íntegra.
exacerbação do poder e da dominação de uma diretoria em relação à sua base” (DUTRA, 2001,
p. 12).
Em todas as edições analisadas do jornal, identificamos um padrão de organização que
deixava clara a preocupação da entidade em transmitir aos seus associados uma ideia de luta
sindical atrelada ao poder legislativo, ou seja, várias matérias ressaltando ofícios, encontros e
solicitações feitas a parlamentares para que projetos de lei fossem aprovados ou reprovados, de
acordo com a opinião da diretoria sindical.
Na primeira edição do jornal, um exemplo dessa prática, quando publicam um ofício
enviado ao Senador Franco Montoro, numa explícita demonstração de competência e
movimentação sindical, apresentando aos associados que a diretoria está em defesa dos direitos
da categoria:
Figura 20 - Ofício ao Senador Franco Montoro
Uma outra característica de Novos Rumos estava em sempre apresentar denúncias contra
instituições que não cumpriam os acordos salariais, a partir de reclamações feitas por
professores. Em quase todas as edições, encontramos estampados os nomes de várias escolas e
faculdades e, com o tempo, esta seção do jornal passou a ser chamada de Boca Livre, sempre
iniciada com o apelo da entidade para os professores fizessem as denúncias, mesmo que
anonimamente e por telefone. Manter um canal de denúncias sempre aberto é uma ação
importante no combate aos abusos cometidos por muitos empresários do ramo educacional.
Um outro assunto abordado em todas as edições do jornal sindical do SINPRO-SP é a
taxa assistencial atrelada aos benefícios que a entidade oferecia aos associados, transformando
Novos Rumos em algo muito próximo de um instrumento de propaganda do SINPRO-SP, em
detrimento de um instrumento de comunicação e formação política.
A Colônia de Férias era enaltecida, os convênios de assistência médica exageradamente
divulgados e a inauguração da nova (e atual) sede foi abordada como um grande acontecimento.
A preocupação constante em manter convencida a base de que a taxa assistencial era importante
e estava sendo bem utilizada em benefício da categoria.
Desta forma, o presidente deixou claro o seu posicionamento quanto à estrutura sindical
que almeja e, principalmente ao modelo de ação que defende para a entidade organizativa dos
trabalhadores que, na opinião dele, “só pode construir através de entendimentos organizados,
negociações, através do diálogo, a partir de análises que levarão a ações de pressão
verdadeiramente coerentes e eficientes (Jornal Novos Rumos, Outubro, 1980, p. 3).
Na entrevista com Geraldo Mugayar, o parágrafo de apresentação afirma que ele quase
não tem tempo para sua vida pessoal, em razão de tantos compromissos com a FETEE, visto
que “é um apaixonado pela causa dos trabalhadores e defende sua categoria com uma raça
incomum” (Jornal Novos Rumos, Setembro, 1980, p. 5). Feito isso, apenas três perguntas sobre
política salarial e a importância do reajuste semestral em razão do disparo da inflação.
Não houve mais nenhuma entrevista publicada no jornal durante os seis anos em que analisamos
as publicações, deixando subentendido que as opiniões de outras pessoas não eram importantes
para a entidade e, por consequência, não deveriam interferir na formação da opinião dos
trabalhadores.
A ausência de outros sujeitos em Novos Rumos se confirmou quando constatamos que,
além de não haver entrevistados, também não houve nenhuma publicação de textos, artigos
científicos, crônicas ou qualquer outro material que, redigido por autores ou pesquisadores do
ramo, pudessem colaborar na construção dos saberes daquela categoria. Os assuntos tratados
eram quase sempre os mesmos: campanha salarial, leis, ofícios, denúncias, direitos e assistência
sindical.
Poucas vezes constatamos a existência de outros temas nas páginas do jornal, quando
pequenos textos, escritos por professores associados, traziam informações sobre avanços na
ciência, dicas de gramática, primeiros socorros na escola, homenagem a Monteiro Lobato e
homenagem a Casemiro de Abreu. Todos os textos muito interessantes e úteis, mas nenhum
deles com viés de reflexão política ou sindical.
Nas palavras do professor Celso Napolitano, ao buscar expressar a ausência de formação
e informação política por parte do SINPRO-SP,
Em outubro de 1978 houve eleições no SINPRO-SP, entidade surgida após a fusão entre
o Sindicato dos Professores de Ensino de 1º e 2º Graus de São Paulo (SINPRO) e o Sindicato
do Ensino Comercial de São Paulo (SPEC). Os meses que antecederam o pleito foram marcados
por uma acirrada campanha entre a Chapa nº 1 e a Chapa nº 2.
A primeira, com candidatos da situação, manteve seus alicerces de campanha alinhados
ao argumento de somente quem já tem experiência sindical poderia fazer um bom trabalho.
Ainda assim, recusava ser chamada de “situação”, alegando que estavam todos num sindicato
novo, recém-criado, e que por esta razão não poderia haver nem situação, nem oposição,
acusando a Chapa nº 2 de se utilizar do rótulo de “oposição” apenas como uma manobra
demagógica para atrair simpatizantes.
Em carta divulgada aos eleitores, a Chapa nº 1 afirma que seguirá a campanha “na
mesma linha de conduta, levando aos mestres paulistanos sua mensagem de trabalho e
conciliação” (a carta está disponível na íntegra em Anexo 13), situando-se no campo de um
sindicalismo que não pretende ser combativo. No mesmo documento, um outro trecho nos
chamou a atenção, quando percebemos uma certa confusão conceitual da entidade no que diz
respeito a postura classista e ideologia:
A Chapa nº 1 era composta pelos seguintes professores (com a localização dos seus
respectivos locais de trabalho):
[...] a luta travada desde fins de 1976 pelos movimentos de oposição para a
abertura do sindicato, resultou em pequenos avanços, caracterizados este ano
pelo protocolo salarial que já apresentou interferências dos professores em
alguns itens, como estabilidade para gestantes e abono de faltas para
professores participantes de assembleias do sindicato. Estes pequenos avanços
já permitiram a formação de um movimento de oposição pró-chapa que
concorrerá ao sindicato resultante da unificação do SINPRO com o SPEC.
Apesar de relativamente numeroso, este movimento ainda é embrionário e se
caracteriza por uma diretoria política vacilante, devido a não assumir de forma
decidida a perspectiva de combate à estrutura sindical existente e também não
se propor a uma atuação política em conjunto com outros setores oprimidos
da sociedade, sob alegações diversas, como falta de tradição de luta da
categoria, desorganização, etc. Assim, cabe a nós professores do MOAP,
através da dinamização da nossa atuação nas escolas e de uma participação
ativa e politicamente coesa no movimento, disputar a sua direção política
tendo como pontos básicos a linha apontada na plataforma e não nos
esquecendo de buscar unidade na ação de modo a fortalecer um trabalho
conjunto das diversas tendências políticas que atuam no movimento e
efetivamente tomar o sindicato com a força de um movimento amplo.
compulsoriamente pelo Ato Institucional nº. 5 (AI-5) e o fim do atestado ideológico30 para o
exercício do magistério.
A Chapa 2 foi lançada em assembleia com cerca de duzentos participantes, com os
seguintes candidatos, que foram derrotados nas eleições.
30
O Atestado de Antecedentes Políticos e Sociais, mais conhecido como atestado ideológico, era um documento
fornecido pela Divisão de Ordem Política Social (DOPS) da Polícia Federal, apenas aos que não eram fichados.
144
Em setembro do mesmo ano, a Folha de São Paulo publicou nota informando que o
candidato da Chapa 1 (situação) estava se recusando a debater com o candidato da Chapa 2,
mediante convite realizado pela redação do jornal.
A carta programa da Chapa 1 foi divulgada em boletim aos professores, e estava apoiada
em três eixos centrais: a) atuação trabalhista; b) assistência social; c) conquistas e realizações.
A atuação trabalhista era o eixo com mais propostas. Estabilidades, rotatividade,
reajuste semestral, piso salarial, aposentadoria especial e mais alguns outros itens, todos
centrados em ações específicas de um sindicato que olhava apenas para dentro de si mesmo,
desconsiderando a conjuntura política e sindical do momento em que o país estava
atravessando. No eixo de assistência, uma série de serviços e benefícios oferecidos e
prometidos aos sócios, a maioria ligados a consultas médicas e à colônia de férias. Por último,
a futura criação de câmaras para que estudassem e enviassem projetos ao legislativo, visando a
melhoria da educação e também a criação de uma comissão intersindical para estudar o
sindicalismo no país, mas sem citar a participação ou integração do SINPRO-SP em ações ou
eventos.
Na composição da Chapa 1, encontramos os nomes dos professores Luiz Antônio
Barbagli (atual presidente da entidade) e Fabio Eduardo Zambon (atual vice-presidente),
confirmando o que o professor Celso Napolitano nos informou na entrevista, quando esclareceu
que ambos haviam se unido à Chapa 1, numa tentativa de conseguir conquistar a base e o
sindicato por dentro dele.
As eleições aconteceram e a vitória da Chapa 1 foi grandiosa, com 82,12% dos votos,
contra 17,14% para a Chapa 2 e 0,74% de brancos e nulos. Em boletim divulgado, a Chapa 2
denunciou que foi derrotada porque os números de associados e de eleitores válidos foram
manipulados pela diretoria. Reclamaram também que muitos professores foram impedidos de
votar por não terem quitado seus pagamentos com dez dias de antecedência, e que essa
exigência não estava esclarecida.
146
De seu lado, o Sr. José Leopoldino de Azevedo garante que haverá acordo:
“...estamos fazendo tratativas para o acordo, há predisposição para o acordo.
O presidente do Sinpro não especificou, ontem, quais os resultados de tais
conversações, quando elas foram encetadas, ou que bases tinha para fazer tal
afirmação ontem. [...] Segundo o Sr. José Leopoldino de Azevedo, a
Federação está autorizada a negociar apenas o índice, não o piso hora-aula, a
estabilidade, etc. O presidente do Sinpro refutou, ainda, críticas de professores
sobre a atuação da entidade que preside: “sobre a acusação de negligência,
nada tenho a declarar”. Sobre o fato de docentes afirmarem não ter sido
convocados À assembleia de 11 de janeiro, o Sr. Leopoldino de Azevedo
disse: “se vinte de oposição não participaram e oitenta participaram, não
entendo porque dizer que fazemos ‘assembleia fantasma’, a assembleia foi
amplamente divulgada pelos jornais”. De seu lado, alguns professores dizem
149
4.6. Greves
Contra a possibilidade de suspensão do reajuste semestral que havia sido cogitada pela
Associação do Ensino Superior do Estado de São Paulo (AESP), o SINPRO-SP informa que
poderá convocar uma assembleia geral da categoria para iniciar processo de mobilização.
4.7.1. CNTEEC
Ainda que tenha havido o compromisso de manter o professor atualizado, o assunto não
voltou a ser tratado em nenhum momento durante o recorte temporal deste estudo.
4.7.2. FETEE
4.7.3. ENTOES
Com intensa crise financeira, a partir de 1974 o regime militar se viu pressionado a
estender sua política e, aos poucos, o movimento sindical foi encontrando espaço para dialogar
entre si. Em 1977, as reuniões intersindicais já eram uma constante no movimento dos
trabalhadores, quando estouraram as greves no ABC paulista que desencadearam um
movimento em vários lugares do país.
No início da década de 1980, pelo menos dois momentos foram importantes no processo
de centralização política das forças do sindicalismo combativo no Brasil. Organizados
originalmente através de encontros envolvendo apenas oposições sindicais e, depois, por
intermédio de reuniões envolvendo as oposições e as diretorias dos sindicatos que tinham
afinidades políticas e ideológicas.
O Encontro Nacional das Oposições Sindicais (ENOS) foi organizado pelo Movimento
de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo, na capital paulista, nos em maio, contando
com quarenta representantes de dez estados da União. Discutiu questões sobre a importância
do trabalho sindical vinculado organicamente às bases nos locais de trabalho, a luta pela
liberdade e autonomia sindical e as propostas de unificação entre os trabalhadores do campo e
da cidade numa única Central Sindical.
O ENOS possuía um alcance limitado, mas trouxe como um de seus grandes méritos,
ter se desdobrado no Encontro Nacional dos Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical
(ENTOES).
157
31
A sigla CONCLAT surgiu quando os sindicalistas pressionaram pela organização da I Conferência Nacional da
Classe Trabalhadora, uma denominação congênere à Conferência Nacional das Classes Produtoras (CONCAP –
realizado em 1979). A fundação da CUT ocorreu em 1983, no I Congresso Nacional da Classe Trabalhadora,
utilizando a mesma sigla, que também foi empregada pela Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora.
158
Basta passar os olhos por este resumo de itens para chegar-se à conclusão de
que o documento é meramente político e pouco ou nada tem a ver com os
problemas dos trabalhadores. Observamos: a Carta defende eleições diretas
para a presidência da República, pretende a formação de uma Constituinte;
reivindica ampla liberdade de organização para os partidos políticos...; exige
a revogação da lei de Segurança Nacional...; propõe a liberdade sindical;
quanto à dívida externa, quer uma declaração de moratória unilateral,
defendida pelos simpatizantes do MR-8... Trata-se, pois, de um verdadeiro
manifesto partidário; já que a lei não permite a formação de certos partidos,
a tática utilizada por seus dirigentes é a infiltração nos organismos e
agremiações já legalmente constituídos e a manipulação dos encontros de
trabalhadores para a consecução de seus objetivos [...] Diante de tamanha
farsa, reiteramos nossa posição: ESSE CONCLAT FOI MANIPULADO,
TENDENCIOSO E IMORAL! (Novos Rumos, Nov./Dez., 1983, p. 4, grifos
nossos)
32
Mesma sigla utilizada pelo Comando Geral dos Trabalhadores, uma organização intersindical não reconhecida
pelo MT, criada em 1962 e dizimada pelo golpe civil-militar de 1964.
159
CONCLUSÃO
aos decretos do poder executivo e à pouca participação do legislativo nas discussões que
interessavam ao país e à crescente presença da especulação financeira na vida econômica da
nação.
A questão central do trabalho sindical foi o combate à política salarial da ditadura que
precisava, então, ser conhecida, estudada e compreendida pelos professores que se aglutinavam
em torno das fileiras do SINPRO-SP. Mas os documentos localizados nos permitiram mostrar
a preocupação com a existência dos aparatos de repressão, a defesa da anistia ampla, geral e
irrestrita, a revogação da legislação de exceção, do AI-5, ou ainda a reivindicação da
convocação de uma assembleia nacional constituinte, por exemplo.
A análise dos documentos produzidos por aqueles que atuavam no SINPRO-SP
demonstra que os professores paulistanos não se furtaram de encarar a luta pela democracia
como sendo, ao mesmo tempo, a luta em defesa dos seus direitos corporativos e sociais, algo
que implica uma visão totalizadora da realidade social do país, levando-se em conta as múltiplas
variáveis que estavam presentes na complexa sociedade brasileira daqueles dias.
Nos meados da década de 1970, as transformações provocadas pelo desenvolvimento
do capitalismo de caráter monopolista, geravam uma situação na qual se combinavam,
dialeticamente, uma tendência à democratização com um caminho de agravamento da crise
econômica e social do país. Essa situação, particularmente, no que se refere à tendência
democratizante, como demonstram os documentos sindicais estudados, não pode ser
compreendida de forma absoluta e desconectada de retrocessos e impasses.
Por conta disso, caracterizamos esse como um período de transição, no qual tínhamos,
pelo menos, uma tendência à democratização do país, posta em marcha desde as eleições de
novembro de 1974, mas com retrocessos tragicamente identificados no Massacre da Lapa em
1976 e nos assassinatos de Vladimir Herzog em 1975, Fiel Filho em 1976 e Nelson Pereira de
Jesus em 1978, perpetrados pelo Estado capitalista, alçado à condição de garantidor da ordem
e dos interesses dos proprietários dos meios de produção.
Cerca de cem professores compareceram ontem à Câmara Municipal de São
Paulo para participar de um ato público em favor das liberdades sindicais. A
manifestação, organizada por integrantes da chapa 2 (oposição) para as
eleições do Sindicato dos Professores de São Paulo, recebeu apoio de diversas
entidades e sindicatos do Estado. Os oradores fizeram críticas à estrutura
sindical vigente no País, ao Ministério do Trabalho, ao regime militar, às
eleições indiretas para presidente e à legislação que proíbe a greve em diversas
categorias trabalhistas. O assassinato do operário Nelson Pereira de Jesus foi
lembrado por todos os integrantes da mesa e fez-se uma coleta de fundos para
apoiar o movimento grevista dos operários da Metalúrgica Alfa. (Folha de
São Paulo, 22/10/1978, Anexo 58).
162
Logo, quando falamos que estávamos num período de transição, não procuramos
entendê-lo linear e desprovido de processualidade. Ainda mais se nos atentarmos para o fato de
que a sua direção, com pouquíssimas alterações, continuou nas mãos das mesmas forças que se
mantiveram durante todos aqueles anos do regime instalado pelo golpe de 1964.
A colheita documental do SINPRO-SP nos sinaliza que o regime não havia ainda
esgotado suas possibilidades de manobra, dispondo de todo um aparato “legal” e de
instrumentos coercitivos e repressivos, com os quais procurava manter sob o controle as
manifestações oposicionistas de toda ordem, políticas e sindicais.
Quando pensamos a transição, procuramos reconhecer que, manobrando e direcionando
a iniciativa política, o regime explicitado, através de ações governamentais, abarcava uma
enorme ambiguidade que caracterizou todo o período que estudamos. Combinando elementos
de uma etapa dita democrática com medidas e ações de caráter truculento, repressivo e
autoritário, os governos de então, sem jamais renunciar à essência do regime, vivenciaram um
complexo período de transição. Daí decorre a enorme instabilidade política pela qual passou o
país, marcado pela necessidade e instauração de um período de transição, mas sem um governo
que pudesse traduzir e legitimar tal aspiração.
No caso concreto da categoria de professores do ensino privado paulistano, os
documentos que localizamos e analisamos demonstram que o sindicato procurou atuar não
apenas no encaminhamento para as questões mais específicas, como a luta por melhores salários
e a garantia no emprego, mas também no sentido de contribuir para a formulação de uma
política educacional e cultural ampla e democrática para a conjuntura do país.
Para tanto, havia a clarividência de seus ativistas para a necessidade de um
aprofundamento e uma real inserção sindical na realidade da categoria, com o intuito de
conhecer melhor os seus problemas, e visando definir a política do sindicato para os professores
e para as questões da educação.
Pelos documentos que encontramos e pudemos analisar, havia uma parcela dos
professores que atuava no interior das fileiras do SINPRO-SP e que estava ciente de que os
fundamentos antidemocráticos e antinacionais do processo de instauração do capitalismo
monopolista à ampla maioria da população pelo regime ditatorial, manifestava-se sobremaneira
sob a forma de uma perversa e profunda exclusão dos “setores da sociedade” de quaisquer
benefícios sociais.
Como consequência direta desse quadro, a qualidade de vida dos trabalhadores sofreu
vertiginoso declínio, ao mesmo tempo em que se assistiu ao enriquecimento de uma parcela
163
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3. FONTES PRIMÁRIAS
3.1.1. Entrevistas
3.1.2. Depoimentos
3.3. Legislação
__________ . Lei nº 56972 de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de
1° e 2º graus, e dá outras providências.
Comissão de
10 3ª Assembleia dos Professores do Santa Inês 23/06/1978
Professores
21 Oposição Sindical dos professores faz reunião hoje Folha de São Paulo 06/08/1978
40 Conselho Federal impugna a chapa vencedora do CRM Folha de São Paulo 20/09/1978
52 Organização dos mestres está no estágio incial Folha de São Paulo 15/10/1978
57 A Chapa 2 suspeita de fraude nas eleições de amanhã Folha de São Paulo 15/10/1978
Federações e
78 Acordo Salarial de 1979 21/03/1979
Sindicatos
81 Inflação, um mal que não atinge a todos Folha de São Paulo 08/04/1979
105 Anteprojeto da CLT criticado por docentes Folha de São Paulo 15/09/1979
Federações e
111 Acordo Salarial de 1980 27/02/1980
Sindicatos
112 A sociedade brasileira está dividida em duas classes CBB - Belém-PA fev./80
Sindicato dos
116 Folha Bancária - Edição Extra Nº 3 jul./80
Bancários
Sindicato dos
117 Suplemento Diário da Folha Bancária - Nº 50 11/09/1980
Bancários
Direção Supletivo
118 Esclarecimento 18/08/1980
Santa Inês
Sindicato dos
119 Chapa 2 - Oposição - Nº 4 ago./80
Metalúrgicos PR
120 Nadir Kfouri vence eleições na PUC Folha de São Paulo 28/08/1980
123 Docentes discutem em Brasília greve geral de três dias Folha de São Paulo 02/09/1980
186
124 Greve de docentes já decidida por vinte universidades Folha de São Paulo 03/09/1980
O Estado de São
125 Professores lamentam situação e vão á greve 04/09/1980
Paulo
O Estado de São
126 Universidades enfrentam agora a sua maior crise 05/09/1980
Paulo
Oposição
128 Propostas para o ENTOES-SP set/80
Metalúrgica SP
O Estado de São
134 Professores insistem nos 48% 10/09/1980
Paulo
135 UNE afirma que 900 mil alunos aderiram à greve Folha de São Paulo 11/09/1980
O Estado de São
136 Educação ameaçada de ficar como está 14/09/1980
Paulo
138 Docentes querem rever o sistema de atualização Folha de São Paulo 18/09/1980
140 Os professores de Campinas repudiam atos de sindicato Folha de São Paulo 30/10/1980
O Estado de São
141 Morre Piaget, um educador do século XX 17/09/1980
Paulo
142 Natanael explica projeto e docentes criticam Folha de São Paulo 02/11/1980
145 Sinpro deverá responder hoje à impugnação Folha de São Paulo 20/01/1981
Aldo Rebelo,
149 Comunicado Conjunto 29/01/1981
Hermes Zaneti
150 O parecer sobre a reunião do Sinpro já está em Brasília Folha de São Paulo 08/02/1981
154 Aumento dos professores vai a dissídio coletivo Folha de São Paulo 24/02/1981
158 Oposição do Sinpro faz reunião hoje Folha de São Paulo 07/03/1981
160 A oposição do Sinpro irá ao dissídio no TRT Folha de São Paulo 09/03/1981
165 TRT julga hoje dissídio coletivo Folha de São Paulo 31/03/1981
175 Leopoldino não aceita debate com a oposição Folha de São Paulo 11/09/1981
HÉLIDA LANÇA
ANEXOS
São Paulo
2019
HÉLIDA LANÇA
São Paulo
2019
SUMÁRIO - ANEXOS
ANEXO 01 - Boletim do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – 1977 .......................... 206
ANEXO 02 - Jornal do Movimento de Oposição Aberto dos Professores – Ago/1977...................... 210
ANEXO 03 - Circular SINPRO-SP - Nov/1977 ............................................................................... 215
ANEXO 04 - Circular SINPRO-SP sobre Protocolo Salarial de 1978............................................... 219
ANEXO 05 - Quadro Negro - Ano I - Nº 1 – Abr/1978.................................................................... 221
ANEXO 06 - Boletim Informativo do Jornal "Quadro Negro" - Ano I - Nº 1 ................................... 225
ANEXO 07 - Circular nº 001/JG/78 ................................................................................................ 226
ANEXO 08 - Propostas aprovadas para a Plataforma na Assembleia de 11/6/78 .............................. 227
ANEXO 09 - Pontos de consenso referentes às propostas aprovadas SINPRO-SP ............................ 229
ANEXO 10 - 3ª Assembleia dos Professores do Santa Inês – 23/06/1978......................................... 230
ANEXO 11 – Folha de São Paulo – 26/06/1978 .............................................................................. 235
ANEXO 12 – Boletim do Jornal Quadro Negro - Jun/78.................................................................. 236
ANEXO 13 – Carta – Colega Professor – 27/06/1978 ...................................................................... 238
ANEXO 14 – Quadro Negro – Jun/1978 ......................................................................................... 241
ANEXO 15 – Comunicado Do MOAP – Jul/1978 ........................................................................... 245
ANEXO 16 – Jornal do MOAP -0 Jul/1978 ..................................................................................... 246
ANEXO 17 – Informativo sobre o Encontro Nacional dos Professores na SBPC.............................. 256
ANEXO 18 - Professores do Santa Inês na Chapa Sindical de Oposição – 1978............................... 258
ANEXO 19 - Circular nº 002/JG/78 ................................................................................................ 259
ANEXO 20 - Comunicado informando sobre a fusão do SINPRO – 1978........................................ 260
ANEXO 21 – Folha De São Paulo – 06/08/1978.............................................................................. 261
ANEXO 22 – Folha De São Paulo – 07/08/1978.............................................................................. 262
ANEXO 23 – A Gazeta – 07/08/1978.............................................................................................. 263
ANEXO 24 – Jornal A Última Hora – 07/08/1978 ........................................................................... 264
ANEXO 25 – Estatuto do SINPRO-SP – 1978 ................................................................................ 265
ANEXO 26 – Jornal Quadro Negro - Ano I - Nº 3 – Ago/1978 ........................................................ 295
ANEXO 27 – Comunicado Quadro Negro – Ago/1978 .................................................................... 299
ANEXO 28 – Informativo Comando Geral da Greve dos Professores – Ago/1978 ........................... 302
ANEXO 29 – Jornal do MOAP – Ago/1978 .................................................................................... 304
ANEXO 30 – Boletim Informativo Nº. Comando Geral da Greve .................................................... 307
ANEXO 31 - Convocação aos Educadores das Escolas Particulares – Ago/1978 ............................. 309
ANEXO 32 – Folha de São Paulo – 02/09/1978 .............................................................................. 310
ANEXO 33 – Folha De São Paulo – 03/09/1978.............................................................................. 312
ANEXO 34- - Informativo Quadro Negro – Set/1978 ...................................................................... 313
ANEXO 35 – Jornal da Tarde – 04/09/1978 .................................................................................... 314
ANEXO 36 – Folha De São Paulo – 05/09/1978.............................................................................. 315
ANEXO 37 – DRT - Termo de Comparecimento ............................................................................ 316
ANEXO 38 – Boletim Informativo Quadro Negro – Set/1978 ......................................................... 318
ANEXO 39 – Folha de São Paulo – 19/09/1978 .............................................................................. 320
ANEXO 40 – Folha de São Paulo – 20/09/1978 .............................................................................. 321
ANEXO 41 – Folha de São Paulo – 24/09/1978 .............................................................................. 322
ANEXO 42 – Comunicado aos Professores – Chapa 1 – Set/1978 ................................................... 323
ANEXO 43 - Quadro Negro - Ano I - Edição Especial .................................................................... 327
ANEXO 44 - Quadro Negro - Ano I - Nº 4 ...................................................................................... 330
ANEXO 45 – Jornal da Tarde – 06/10/1978 .................................................................................... 334
ANEXO 46 – Folha de São Paulo – 06/10/1978 .............................................................................. 335
ANEXO 47 – Folha de São Paulo – 08/10/1978 .............................................................................. 336
ANEXO 48 – Folha de São Paulo – 08/10/1978 .............................................................................. 337
ANEXO 49 – Folha de São Paulo – 09/10/1978 .............................................................................. 338
ANEXO 50 – Folha de São Paulo – 11/10/1978 .............................................................................. 339
ANEXO 51 – Boletim Nº. 02 – Chapa 2 .......................................................................................... 342
ANEXO 52 – Folha de São Paulo – 15/10/1978 .............................................................................. 344
ANEXO 53 – Informativo Quadro Negro – Out/1978 ...................................................................... 346
ANEXO 54 – Folha de São Paulo – 18/10/1978 .............................................................................. 347
ANEXO 55 – Folha de São Paulo – 1910/1978................................................................................ 348
ANEXO 56 – Folha de São Paulo – 2110/1978................................................................................ 349
ANEXO 57 – Folha de São Paulo – 2510/1978................................................................................ 350
ANEXO 58 – Folha de São Paulo – 2210/1978................................................................................ 351
ANEXO 59 – Comunicado Chapa 2 Out/1978 ................................................................................. 352
ANEXO 60 - Informe sobre as eleições do SINPRO-SP .................................................................. 353
ANEXO 61 - Informe sobre a Chapa 1 ............................................................................................ 354
ANEXO 62 – Folha de São Paulo – 2610/1978................................................................................ 355
ANEXO 63 - Diário de São Paulo – 28/10/1978 .............................................................................. 357
ANEXO 64 – Folha de São Paulo – 2910/1978................................................................................ 358
ANEXO 65 - Comunicado sobre acordo salarial e reajuste .............................................................. 359
ANEXO 66 - Circular sobre protocolo de reajuste salarial ............................................................... 360
ANEXO 67 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 361
ANEXO 68 - Informe sobre serviços prestados pelo SINPRO-SP – Dez/1978 ................................. 362
ANEXO 69 - Comunicado sobre a Colônia de Férias do SINPRO-SP – Dez/1978 ........................... 363
ANEXO 70 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 364
ANEXO 71 – Propostas da Chapa 2 – 1978 ..................................................................................... 367
ANEXO 72 – A Gazeta – 08/01/1979.............................................................................................. 369
ANEXO 73 – Comunicado Quadro Negro – Jan/1979 ..................................................................... 370
ANEXO 74 – Folha de São Paulo – 04/03/1979 .............................................................................. 372
ANEXO 75 - Quadro Negro - Ano I - Nº 5 ...................................................................................... 373
ANEXO 76 – Folha de São Paulo 19/03/1979 ................................................................................. 377
ANEXO 77 – Folha de São Paulo 20/03/1979 ................................................................................. 378
ANEXO 78 – Acordo Salarial – 1979.............................................................................................. 379
ANEXO 79 – Folha de São Paulo – 27/03/1979 .............................................................................. 381
ANEXO 80 – Comunicado aos Professores ..................................................................................... 382
ANEXO 81 – Folha de São Paulo – 08/04/1979 .............................................................................. 389
ANEXO 82 - Folha de São Paulo – 08/04/1979 ............................................................................... 391
ANEXO 83 - Folha de São Paulo – 20/04/1979 ............................................................................... 392
ANEXO 84 – Comunicado Quadro Negro ....................................................................................... 393
ANEXO 85 – Boletim Informativo MOAP ...................................................................................... 395
ANEXO 86 – Porandubas Extra – Mai/1979.................................................................................... 397
ANEXO 87 – APROPUC Debate nº. 8 – Mai/1979 ......................................................................... 405
ANEXO 88 – Versus – Abr/1979 .................................................................................................... 412
ANEXO 89 – Comunicado aos Professores – Mai/1979 .................................................................. 419
ANEXO 90 – Comunicado MOAP – Mai/1979 ............................................................................... 423
ANEXO 91 – Ementa abaixo-assinado ............................................................................................ 424
ANEXO 92 – Comunicado Quadro Negro ....................................................................................... 425
ANEXO 93 – Comunicado aos Professores – 23/05/1979 ................................................................ 427
ANEXO 94 – Todos ao Primeiro Encontro Nacional de Professores ................................................ 428
ANEXO 95 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 2...................................................................................... 429
ANEXO 96 – Comunicado aos Professores – Jun/1979 ................................................................... 435
ANEXO 97 – Não autorização – Taxa Sindical ............................................................................... 438
ANEXO 98 – Rumo à entidade única e democrática ........................................................................ 439
ANEXO 99 - Convite - Comitê dos professores pela libertação dos presos de Itamaracá .................. 441
ANEXO 100 – APROPUC Informa nº. 06 ....................................................................................... 442
ANEXO 101 - 1º Encontro Nacional de Professores - Reunião Preparatória - Boletim nº 1 .............. 448
ANEXO 102 - Novos Rumos – Suplemento Especial ...................................................................... 450
ANEXO 103 - Encontro Metropolitano - Professores - rede particular ............................................. 453
ANEXO 104 – Sobre o Ante-Projeto da CLT – Set/1979 ................................................................. 455
ANEXO 105 – Folha de São Paulo – 15/09/1979............................................................................. 458
ANEXO 106 - Resolução do Encontro Metropolitano de Professores da Rede Particular ................. 459
ANEXO 107 – Debate sobre Unificação Sindical dos Professores ................................................... 461
ANEXO 108 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 3.................................................................................... 463
ANEXO 109 – Folha de São Paulo – 08/11/1979............................................................................. 471
ANEXO 110 – Jornal de Campanha Salarial – Nov/1979 ................................................................ 473
ANEXO 111 – Acordo Salarial 1980 ............................................................................................... 477
ANEXO 112 – Texto da CBB - Comissão dos Bairros de Belém-PA ............................................... 479
ANEXO 113 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 4.................................................................................... 483
ANEXO 114 – Novos Rumos - Ano 1 - Nº 5 ................................................................................... 491
ANEXO 115 - Boletim Nacional das Associações de Docentes Nº 4................................................ 499
ANEXO 116 – Folha Bancária – Jun/1980 ...................................................................................... 507
ANEXO 117 – Suplemento Diário da Folha Bancária – 11/09/1980 ................................................ 510
ANEXO 118 - Esclarecimentos - Escola Santa Inês ......................................................................... 511
ANEXO 119 – Folha de São Paulo – 22/08/1980............................................................................. 512
ANEXO 120 - Texto resultado do I Congresso Nacional dos Profissionais de Educação .................. 514
ANEXO 121 – Texto da Unidade Sindical....................................................................................... 516
ANEXO 122 - Novos Rumos - Ano 1 - Nº 6.................................................................................... 520
ANEXO 123 – Folha de São Paulo – 02/09/1980............................................................................. 528
ANEXO 124 – Folha de São Paulo – 03/09/1980............................................................................. 529
ANEXO 125 – O Estado de São Paulo – 04/09/1980 ....................................................................... 530
ANEXO 126 – O Estado de São Paulo – 05/09/1980 ....................................................................... 531
ANEXO 127 – Folha de São Paulo – 07/09/1980............................................................................. 532
ANEXO 128 – Propostas para o ENTOES - Metalúrgicos ............................................................... 533
ANEXO 129 – Teses para o ENTOES – Aeroviários ....................................................................... 535
ANEXO 130 – Propostas para o ENTOES....................................................................................... 537
ANEXO 131 – Resumo dos Trabalhos - ENTOES........................................................................... 540
ANEXO 132 – ENTOES - Convocatória ......................................................................................... 544
ANEXO 133 - Resoluções - I ENTOES – Pará ................................................................................ 547
ANEXO 134 – O Estado de São Paulo – 10/09/1980 ....................................................................... 551
ANEXO 135 – Folha de São Paulo – 11/09/1980............................................................................. 552
ANEXO 136 – O Estado de São Paulo – 14/09/1980 ....................................................................... 553
ANEXO 137 – Jornal O Globo – 15/09/1980................................................................................... 555
ANEXO 138 – Folha de São Paulo – 18/09/1980............................................................................. 556
ANEXO 139 – Folha de São Paulo – 19/09/1980............................................................................. 557
ANEXO 140 – Folha de São Paulo – 30/101980.............................................................................. 558
ANEXO 141 – O Estado de São Paulo – 17/09/1980 ....................................................................... 559
ANEXO 142 – Folha de São Paulo – 02/11/1980............................................................................. 560
ANEXO 143 – Edital De Convocação – DCI 19/12/1980 ................................................................ 562
ANEXO 144 – Folha de São Paulo – 24/12/1980............................................................................. 563
ANEXO 145 – Folha de São Paulo – 20/01/1981............................................................................. 564
ANEXO 146 – Boletim da ADPUC – 22/01/1981 ........................................................................... 565
ANEXO 147 – Proposta de entidade nacional – ADUFRGS - 1981 ................................................. 569
ANEXO 148 – Construir as bases da entidade nacional – ADUFPB - 1981...................................... 571
ANEXO 149 - Carta conjunta da UNE e CPB sobre o movimento sindical dos professores.............. 574
ANEXO 150 – Folha De São Paulo – 08/02/1981............................................................................ 575
ANEXO 151 – Fundação da UNATE .............................................................................................. 576
ANEXO 152 – Congresso Nacional de Docentes Universitários - 1981 ........................................... 577
ANEXO 153 – Carta da Federação ao Delegado Regional do Trabalho ........................................... 580
ANEXO 154 – Folha de São Paulo – 24/02/1981............................................................................. 587
ANEXO 155 – Acordo Salarial – Março 1981 ................................................................................. 588
ANEXO 156 – Comunicado sobre o reajuste ................................................................................... 589
ANEXO 157 – Novos Rumos – Edição Especial ............................................................................. 590
ANEXO 158 – Folha de São Paulo – 07/03/1981............................................................................. 594
ANEXO 159 – Comunicado Quadro Negro ..................................................................................... 595
ANEXO 160 – Folha de São Paulo – 09/03/1981............................................................................. 597
ANEXO 161 – Folha de São Paulo – 13/03/1981............................................................................. 598
ANEXO 162 – Folha de São Paulo – 22/03/1981............................................................................. 599
ANEXO 163 – Acordo Salarial 1981 ............................................................................................... 600
ANEXO 164 – Comunicado à imprensa – 29/03/1981 ..................................................................... 605
ANEXO 165 – Folha de São Paulo – 31/03/1981............................................................................. 607
ANEXO 166 – Convite aos professores ........................................................................................... 608
ANEXO 167 – Folha de São Paulo – 23/04/1981............................................................................. 610
ANEXO 168 – Folha de São Paulo – 26/04/1981............................................................................. 611
ANEXO 169 – Novos Rumos – Edição Especial – Mai/1981........................................................... 612
ANEXO 170 – Criação da Chapa de Oposição ................................................................................ 616
ANEXO 171 – Novos Rumos – Edição Especial – Ago/1981 .......................................................... 617
ANEXO 172 - Encontro Regional de Professores Universitários da Rede Particular - SP ................. 621
ANEXO 173 – APROPUC Debate Nº. 8 ......................................................................................... 625
ANEXO 174 – Programa da Chapa 2 – SINPRO-SP 1981 ............................................................... 632
ANEXO 175 – Folha de São Paulo – 11/09/1981............................................................................. 635
ANEXO 176 – Chapa 1 – Programa - 1981 ..................................................................................... 636
ANEXO 177 – Chapa 2 – Campanha de Sindicalização ................................................................... 641
ANEXO 178 – Chapa 2 – Material de Campanha ............................................................................ 645
ANEXO 179 – Chapa 2 – Avaliação das Eleições ........................................................................... 651
ANEXO 180 – Circular – Set/1981 ................................................................................................. 655
ANEXO 181 – Campanha Salaria 1982 ........................................................................................... 656
ANEXO 182 – Novos Rumos – Fev-Mar/1982................................................................................ 658
ANEXO 183 – Tabela de Cálculo - Acordo Salarial ....................................................................... 665
ANEXO 184 – Novos Rumos – Abr-Mai/1982................................................................................ 666
ANEXO 185 – Novos Rumos – Jul-Ago/1982 ................................................................................. 674
ANEXO 186 – Novos Rumos – Set-Out/1982 ................................................................................. 682
ANEXO 187 – Novos Rumos - Nº 1 - 1983 ..................................................................................... 689
ANEXO 188 - Novos Rumos - Nº 2 - 1983 ..................................................................................... 696
ANEXO 189 - Novos Rumos - Nº 3 - 1983 ..................................................................................... 704
ANEXO 190 - Novos Rumos - Nº 4 - 1983 ..................................................................................... 711
ANEXO 191 – Novos Rumos - Nº 1 - 1984 ..................................................................................... 719
ANEXO 192 – Novos Rumos - Nº 2 - 1984 ..................................................................................... 731
ANEXO 193 – Novos Rumos - Nº 1 - 1985 ..................................................................................... 741
ANEXO 194 – Novos Rumos – Edição Especial ............................................................................. 748
ANEXO 195 – Novos Rumos - Nº 2 - 1985 ..................................................................................... 750
ANEXO 196 – Novos Rumos - Nº 3 - 1985 ..................................................................................... 756
ANEXO 197- Entrevista com Celso Napolitano .............................................................................. 757
206
ANEXO 99 - Convite - Comitê dos professores pela libertação dos presos de Itamaracá
442
ANEXO 149 - Carta conjunta da UNE e CPB sobre o movimento sindical dos professores
575
,
630
631
632
Hélida Lança - Nessa pesquisa fazendo todo o início do trabalho teórico, constatamos uma mudança
identitária no professor, na categoria, porque expandiu muito a rede privada a partir da ditadura.
Celso Napolitano - Principalmente o ensino superior.
Exatamente. Então, aí começamos a buscar alguns personagens que, ainda que não militassem, faziam
parte da categoria, e foi aí que o professor Bauer disse que era preciso falar com Celso.
Então, qual é o período que você, você está considerando período ditadura até 1978 ou ainda o período
Figueiredo?
Eu estou no período dos anos (19)60 e (19)70, não passo disso porque senão eu não dou conta, porque
senão entra em características da redemocratização que abririam uma outra porta para meu estudo e eu
não daria conta.
Então, nesse período eu estava fazendo política Universitária. Eu estava na USP. Eu era estudante da
Comunicação – da ECA, e da Matemática na PUC então eu entrei no magistério em 1973. Eu tinha feito
três anos de Engenharia. Aí larguei Engenharia fui fazer Matemática.
Podemos ligar os dois gravadores?
Lógico, dois é sempre melhor que um. Quem tem um tem zero. Lembro do meu irmão que teve que casar
de novo.
Que horror! (risos)
(risos) Porque o fotógrafo deu pau na máquina do fotógrafo, e ele sumiu desesperado, saiu desesperado,
saiu correndo. Meu irmão casou na Capela da PUC, foi meio dia, 11 horas, sei lá, e o fotógrafo ficou tão
desesperado que saiu correndo. E eu estava lá de padrinho, olhava e dizia, o cara foi embora. Aí o que eu
fiz? Saí correndo, aquela época não tinha tudo aberto, anos 70, eu fui lá na Francisco Matarazzo e consegui
pegar um fotógrafo aberto, estava fechando, trouxe ela para PUC e aí a gente casou de novo. Chamou o
padre e o padre casou de novo (risos). Porque senão não teria registro.
Ficou bem casadinho!
Não teria registro do casamento. Eu pedi para segurar os convidados, pelo menos para fazer uma numerária
lá.
Que história, hein!
Então, eu entrei eu entrei na universidade em 70 fui fazer engenharia. E aí eu fiz dois anos e pouco de
Engenharia, larguei e prestei vestibular novamente aí eu fui para ECA e para Matemática. Eu fazia a ECA
à tarde e a Matemática. ECA na USP e Matemática na PUC. E aí logo em seguida o São Luiz, o colégio
São Luiz me convidou para dar uma aula de reforço, para dar um curso de reforço nas férias e 1973. Eu
entrei na ECA em 72 – na ECA e na Matemática. Aí eu entrei fui fazer já foi reforço nas férias de julho, o
professor que dava o curso pegou o período integral na USP então o reitor disse para eu ficar até o final do
ano. Então eu comecei a dar aula no São Luiz em 73. Eu dava aula de manhã, fazia ECA a tarde e fazia
Matemática à noite. E aí eu fazia naquela época eu fazia política Universitária, eu participei do Centro
Acadêmico da ECA, com esse pessoal todo aí Paulo Marcun, Augusto Nunes que naquela época era de
esquerda né? Por incrível que pareça o Augusto Nunes já foi de esquerda. (risos)
Não sei que pílula eles tomam, né? (risos)
Eu sei. Eu sei o que ele usa. Eu sei. Acabou com os neurônios dele. E a gente fez toda uma política contra
a ditadura na época, foi quando morreu o Minhoca, o Alexandre Vanucci, que a gente fez aquela missa, etc
758
e tal. Eu participei da Congregação da ECA, eu era representante discente lá, que era o CID na época que
fazia as vezes da Congregação da ECA, então eu comecei a lecionar no ensino básico, me sindicalizei logo
depois e parti de cara para ser oposição a primeira Chapa praticamente de oposição ao sindicato que foi 78,
cujo candidato a presidente Heródoto Barbeiro, em 78. E tenho amizade com ele até hoje por conta disso.
Aí perdemos a eleição para o Leopoldino, foi a primeira eleição do Leopoldino, se não me engano, eu
continuei militando e trabalhando no São Luiz, depois no Palmares, etc., aí fui para segunda tentativa minha
com o Joia, que o Joia era o candidato a presidente, que acho que era do Santa Cruz, e perdemos de novo
em 83. Aí me aproximei de um grupo que estava dentro do sindicato, Luiz Antonio Barbagli, Fábio Zambon,
o Wagner, Antônio Hélio – Antonio Helio não estava no sindicato. Mas eles participavam da diretoria do
sindicato com a perspectiva de ganhar por dentro porque era muito difícil você ganhar eleição por fora.
Tanto que, quando a gente entrou, a primeira coisa que a gente fez foi democratizar as eleições do sindicato.
Quero dizer, hoje o estatuto diz quando é a eleição, quando sai o edital. Naquela época para a gente descobrir
o edital foi um custo né, porque eles escondiam o edital. Então nesse período todo eu estava militando,
assim não organicamente, estava na base. Eu trabalhava num colégio entre aspas Elite que era considerado
base de apoio ao sindicato. Tanto que eu consegui me sindicalizar porque havia um diretor do sindicato que
trabalhava no São Luís, o professor de educação física Rubem Dario, do Paraguai, e aí eles sindicalizavam
naquele momento em algumas escolas para garantir os votos. E eu molecão, começando, Dario encostou
em mim e eu me sindicalizei, porque era difícil sindicalizar naquela época. Ele não sindicalizava quem ele
tinha desconfiança que ia voltar contra ele quando (risos). Tanto que quando a gente assumiu o sindicato,
nós entramos em fevereiro de 88, havia duas 2000 quase 3000 em condição de voto. Em outubro de 88 já
tinha 10 mil sindicalizados. Só das fichas que nós tiramos das gavetas. Tinha um monte de ficha na gaveta,
esperando que a diretoria autorizasse a sindicalização. E punham um filtro. Quem é da PUC eu não
sindicalizo. E tinha outra coisa, quem era desses colégios sindicalizados, ele não mandava cobrar, então na
época de eleição você não tinha condição de voto porque você era inadimplente (risos). Uma coisa que nós
fizemos também para ganhar eleição, primeiro a gente ganhou uma assembleia, e propôs uma espécie de
anistia, quer dizer, um valor único para quem estava atrasado, para se reabilitar. E depois a gente pegava
essas pessoas e ia lá na PUC, nos locais que eram reduto de oposição, levava o recibo para o cara. A gente
pagava, levava o recibo para o cara e o cara reembolsava. Aí a gente pagava mais, levava para o outro e tal.
Então esse período eu não sei te dizer como é que funcionava o SINPRO, eu sei que na ditadura vários
sindicatos foram coniventes com ditadura. O grande problema que a gente tinha na base com o SINPRO
era exatamente isso. Um sindicato que se não era apoiador da ditadura, por que eu não posso dizer, mas
havia muita gente da direita que era da diretoria do SINPRO, então colégios redutos de direita estavam lá,
tipo Dante Alighieri, Arquidiocesano, Mackenzie, então a gente conseguiu inclusive ganhar eleição porque
mudou muito voto dentro do Mackenzie porque a turma dos antigos já não fazia mais a cabeça dos jovens
que estavam entrando lá. Eu me lembro que no dia da eleição os muros Mackenzie apareceram pichados
que o PC do B apoiava a nossa chapa. Dizer no Mackenzie que você era comunista ou alguma coisa, era
um absurdo né, imagina o Mackenzie, mas mesmo assim a gente conseguiu virar muito voto lá dentro. O
Arquidiocesano também, então havia redutos da direita, que ou eram coniventes ou que apoiaram a ditadura,
mantenedores que – eu não digo os professores, por exemplo, a Igreja Católica, grande parte da Igreja
Católica tradicional apoiou a ditadura, lógico que houve aquela renovação toda com Dom Paulo, o
stabelishment da Igreja Católica apoiava, o cardeal de São Paulo era um apoiador. E então esses colégios
tradicionais, das famílias tradicionais, Dante Alighieri, o São Luís era um pouco renovado, mesmo assim
eu quase fui demitido porque me candidatei na primeira eleição. A primeira vez que eu participei e que eu
perdi e quase fui demitido. Eu só me mantive no São Luiz Por que assumiu a Reitoria um padre que era
mais progressista, um padre que tinha estudado na Bélgica, Padre Petris, tinha chegado aqui que hoje é
presidente da FEI, do Instituto Padre Saboia e ele havia chegado da Bélgica, estava fazendo um trabalho
interessante, aí disse para mim ‘olha eu tenho chance de ser reitor, se eu for reitor você está garantido, se
eu não for você está na rua’ (risos). Porque havia aquele sentimento mais de direita, ou mais conservador
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vamos dizer assim. E jesuíta é conservador. Jesuíta não participou de nenhum movimento dominicano, nada
né, mas os novos, a geração nova dos jesuítas era mais progressista. Não vou dizer que era da teologia da
libertação, mas era um pouco mais progressista. Naquela época você tinha uma direita envergonhada, os
conservadores eles não se mostravam muito tal porque o país estava sendo redemocratizado, o que
aconteceu agora é que essa direita envergonhada ressurgiu com força total e virou à direita desavergonhada.
Direita hoje em dia não tem vergonha alguma né, é uma direita que vai para o confronto mesmo, dá tiro no
ônibus do ex-presidente, e é uma turma de sessenta pessoas, você não vai dizer que a cidade a favor ou
contra, mas é uma turma de sessenta ou setenta que se organizam, e que são milícias mesmo. E aí bloqueia
estrada, dá tiro, etc. e tal. Então eu voltei com tudo nessa questão de um de um trabalho mais voltado para
o sindicato, para categoria, em 1987 mais ou menos né, porque aí eu estava meio cansado das coisas estavam
acontecendo nessa época eu já tinha saído do São Luís, eu tinha saído do Palmares, e eu estava num projeto
novo que era o Colégio Magno, estava dirigindo ensino médio do Colégio Magno. Então, mas eu ajudei a
montar o segundo grau lá no Colégio Magno ainda no São Luiz (e também no Palmares) aí escola foi
evoluindo e eu fui eleito pelos professores como coordenador, e depois (e eles me impuseram praticamente
para dona da escola) e depois eu virei o diretor do ensino médio. Então neste momento dirigindo a escola
eu puxei a greve lá no Magno por que os nós do ensino médio ganhávamos muito bem e os no ensino básico
ganhar muito mal, então nós resolvemos apoiar o movimento deles, e em 1987 cresceu o movimento aqui
em São Paulo, houve uma greve depois generalizou e que culminou em 88/89 um movimento muito bonito,
mas que já começou a ser preparado em 87. E aí que a gente começou a discutir, como eu conheci o Zambon
que trabalhava com ele no São Luiz ele me apresentou outras pessoas: o Luiz Antônio (que estava por
dentro) e angariarmos outras pessoas de colégios importantes e aí que gente começou o movimento
importante de oposição né. Foi nesse período do início de 87 até outubro de 87. De março a outubro de 87
que a gente soltou a chapa, a esquerda para variar rachou, porque havia um grupo que se considerava mais
à esquerda que queria que a ANDES assumisse o sindicato, e nós não fechamos acordo e eles disseram que
iam lançar a terceira Chapa. E aí nós dissemos, poxa se lançar a terceira chapa o Leopoldino ganha. Eles
não conseguiram montar aí eles fizeram o movimento voto nulo que também ia dar a vitória, mas felizmente
eles não foram não tiveram sucesso. O número de votos nulos foi pequeno.
A história da esquerda brasileira, não é?
A história da esquerda é complicada. Aí a gente entrou e fez um trabalho de redemocratização, hoje a gente
tem 22 mil sócios, o sindicato tem um trabalho importante nessa área. Teve que fazer uma modificação
toda em termos de atuação com a base, havia um projeto assistencialista no sindicato por isso que precisava
ter pouco sócio né. Você tinha dentista todo dia lá, então como é que você pode atender 20 mil pessoas, né?
A gente foi muito da, quando Luiz Antônio assumiu, e aí ele fez uma organização administrativa muito
interessante, convencemos a categoria de que sindicato não é para dar assistência, que você consegue isso
nas lutas, conseguimos plano de saúde, cesta básica, etc. e tal, e hoje a gente redemocratizou sindicato.
Agora nesse período então da década de 70 eu era ou um estudante fazendo política universitária, ou um
professor recém entrado na carreira.
Mas é esse professor que mais me interessa. Quando falei de expansão do ensino privado, o senhor disse
‘principalmente no ensino superior’. O que se percebe como principal manifestação desse crescimento?
Como enxergavam? Na época já se percebia esse avanço?
Eu percebi isso, vamos dizer que tive mais informações, vamos dizer que eu tive um olhar mais privilegiado
sobre isso porque o meu pai ele era professor também, e o meu pai era professor de uma escola comercial.
Meu pai era contador. E tinha uma escola de ensino técnico comercial lá na Barra Funda, na Avenida Rudge,
que depois virou Uniban agora virou outra coisa. E o dono dessa escola era uma pessoa com relações com
o sindicato patronal, ele chegou até ser presidente do sindicato patronal, porque o sindicato patronal havia
dois sindicatos naquela época, um do ensino comercial e outro da educação privada e depois eles se
juntaram, que era o tal do Doutor José Carlos Gaiotto e meu pai faleceu em 69, mas a gente tinha muito
760
relação porque eu morava no bairro aliás eu comecei dar aula em 70, quando eu entrei na faculdade, dava
aula nesse colégio para poder custear uma parte da faculdade porque meu pai havia falecido 69 e eu tinha
muita relação de amizade tal, e o meu pai também dirigiu essa escola etc. E em 68 aconteceu o movimento,
então eu vivi muito essa fase, muito interessado sempre por educação que eu fui, e tal e em 68 a gente dava
aula para os outros alunos, faziam um grupo de estudantes que dava aula, eu dava aula em curso de admissão
(aquela época precisava fazer admissão ao ginásio) não tinha a tal da madureza, então esse colégio mesmo
admitia pessoas com uma idade mais avançada e precisava fazer uma espécie de um curso de admissão,
que ele dava gratuitamente, como uma forma de propaganda e da pessoa também que já tinha saído muito
tempo da escola, pudesse depois acompanhar o curso. Isso do fundamental que se chama hoje fundamental
1 para o fundamental 2. Do primário para o ginásio, imagina o déficit que tinha da educação. E naquela
época havia o fenômeno do excedente, a figura do excedente. O que era excedente? Era o aluno que passava
no exame vestibular (porque exame vestibular era aprovatório) o que acontecia era que quem tinha mais
que nota 5,0 passava. O problema é que ele era aprovado, mas não tinha vaga, então ele era considerado
excedente. Ontem mesmo naquele negócio das efemérides da Folha, dos que tem a 50 anos atrás a 100 anos
atrás tinha uma manchete lá ‘tanto dinheiro para os excedentes’. As passeatas eram dos excedentes. Eu fui
aprovado, como é que não tem vaga pra mim? E o ministro da educação acho que 67/68 era o Passarinho,
que inventou Mobral e tal, aí ele inventou, houve por aí 67/68 uma reformulação do ensino universitário,
acabou a cátedra, acabou a figura da cátedra, e ele inventou o exame classificatório. Você não era mais
aprovado, você era classificado. Isso era simplesmente esconder a sujeira para baixo do tapete. Você não
sabia se tinha sido aprovado ou não, você era classificado, portanto ele extinguiu de uma hora pra outra a
figura do excedente. Não tem mais excedente. Se você não é classificado, você não é excedente. Esse monte
de gente que estava fora, como não interessava a eles investir muito mais em universidade pública, porque
universidade pública era ninho de comunista, é porque se o cara pensava muito, virava progressista, essa
coisa toda, tinha todo o charme da Europa, naquele 68 foi o ano que não acabou. Então o que nós vamos
fazer? Vamos juntar a fome com a vontade de comer. O útil ao agradável. Vamos dar oportunidade para
escola, para iniciativa privada, e ao mesmo tempo a gente ganha um dinheirinho, né?
A gente ganha e os nossos amigos também...
A gente ganha, os amigos, os apoiadores e ganha um dinheirinho. Porque os ministros montavam escolas
particulares. Eu não posso provar nada do que eu vou dizer agora mas esse Doutor Gaiotto, 68 por aí meu
pai tá vivo ainda, mais em 68 ele falou comigo, ele comentou e eu participei de conversas eu tinha 18 para
19 anos, que o Delfim Neto tinha um grupo que montava faculdades, já conseguia autorização do MEC
também porque aquela época, você pagava uma grana, vinha o pacote completo e ele dizia assim, no
primeiro vestibular você recupera o investimento. Porque como o gargalo era muito grande, tinha muita
gente que queria fazer vestibular, e o vestibular era caro (risos). E ele dizia olha, você me dá esse dinheiro,
o grupo era chamado de Delfim Boys o pessoal que enriqueceu à sombra do Delfim. Nós montamos o curso
todo, colocamos professor e blá blá blá e no primeiro vestibular você recupera o dinheiro. E tinha uma
demanda reprimida, uma classe média disposta a pagar. Eu me lembro inclusive de um grande amigo do
meu pai, cujo filho era vestibulando de medicina, depois ele veio a ser pediatra dos meus filhos, e ele tentou
três vezes e ele não conseguia, mesmo sendo um baita estudioso. E aí ele já tinha resolvido parar, o pai dele
tinha um escritório de contabilidade e ele falou, bom eu vou ajudar meu pai quando abriu vaga na Santa
Casa, a Santa Casa se dispôs a fazer o curso de medicina, e ele foi da primeira turma da Santa Casa, aí ele
entrou. Ele era excedente, 3 anos seguidos, e que não sabia mais que era excedente, porque primeiro ele era
excedente e depois ele era não classificado, e é um excelente médico, quer dizer, ia se perder uma vocação
tremenda. Então a medicina é um grande negócio. Eu não digo que a Santa Casa entrou no esquema porque
a Santa Casa era uma escola de respeito. Mas havia Pinheiros naquela época, eu acho que Botucatu já estava
aberto e Paulista, sei lá, devia ter o que, 200/300 vagas para um contingente muito grande e pessoas com
disponibilidade financeira, boa parte da classe média, média-alta, não entrava no vestibular, não era
classificado...
761
Tinha Rangel Pestana, Vieira de Carvalho aqueles tradicionalão, né? Eu tinha uma turma de primeiro ano
do Ensino Médio, 1º colegial, que tinha um terço do PIB nessa turma. Filho do Maluf, filho do Scarpa, filho
do Bornhausen, filha do Aidar. Eu entrava lá eu dizia, opa olha o PIB brasileiro aqui. E os professores mais
antigos eram aqueles que tinham um grande conhecimento teórico, não tinha título, mas tinha um grande
conhecimento teórico e estavam indo para as faculdades. Então tinha um grupo lá que era da FEI, o São
Luís era o reduto da FEI. O Bandeirantes, onde eu fiz o científico, era reduto da Mauá. Então Albaneze,
Amadeu, Rosemberg, o Rosemberg depois foi o presidente do IMT. E esses professores rodavam entre si.
Chamavam: ‘o Rodrigo você quer dá aula comigo lá?’ então era um grupinho. Eu me lembro que que eles
davam aula na faculdade de Engenharia de Barretos. Tem um amigo meu que entrou em Barretos, a gente
tirou o maior sarro dele, e ele disse olha, o Bandeirantes inteiro está aqui, depois ele foi o melhor da minha
turma porque ele casou com a filha de um fazendeiro. Desculpe o que vou dizer agora, mas durante o curso
ele se amasiou com uma prostituta da zona, ele era mantido por ela (risos), aí depois ele casou com uma
fazendeira. O Aroldo foi o cara que deu mais certo na minha turma (risos) Ele era vagabundão e hoje é
milionário.
Garantiu a vida, né?
Então esse grupo que dava aula. Qual era a militância deles? Nenhuma. Era um grupo de direita. Eu não
vou chamar de direita, mas era um grupo conservador.
Sem uma preocupação sindical?
Nenhuma! Então o curso superior tem essa gênese, eu vou dizer. Como é a coisa foi um pouco diferente?
Nas universidades tradicionais, PUC, etc. e tal. Essas faculdades isoladas que nasceram, nasceram para
suprir essa demanda, entendeu? Então onde se produzia conhecimento? Na PUC, pouco no Mackenzie (que
também era tradicionalão), mas quem produzia conhecimento na particular era a PUC. Além da USP. Nos
outros eles transmitiam o conhecimento, ministravam conhecimento. Então essa é a origem da Escola
Superior particular no país, e que eles foram angariando mais direitos e se estabeleceram pra valer em 88,
na Constituinte. Então na nova constituição deixou de ser concessão do Estado e a iniciativa privada passou
a ser um direito constitucional. Eles fizeram um lobby tremendo, né? Porque os deputados percebem que
eles podem fazer cabeça de aluno, né? Eles têm um grande campo para fazer as propagandas e ao mesmo
tempo eles tem financiamento, a bancada do livro lá no Congresso Nacional é uma bancada importante,
que defendem a iniciativa privada. Aí eles dominaram os Conselhos, o único período em que o Conselho
foi mais democrático foi Lula e Dilma, porque Lula e Dilma respeitaram as indicações. Pega o Conselho
de São Paulo, nossa, só tem patrão, só tem mantenedor. A tua patroa, a mulher do Carbonari estava lá, o
Rubert que é braço direito do Aguiar estava lá, o Aguiar foi presidente do Conselho, Guimar de Mello,
Rose Neubauer... Tem um projeto do Gianazzi na Assembleia para democratizar, mas não passa. Você
conhece todos os conselhos estaduais, a maioria dos conselhos são democráticos; aqui é um braço de tucano,
há vinte anos que essa tucanada não sai daí! Então no governo Lula mudou de nome, de Conselho Federal
para Conselho Nacional, tanto que uma das primeiras iniciativas do Temer foi capar o Conselho, e aí ele
nomeou outros caras. Quem está lá hoje? Representantes dos interesses privados. Há poucas pessoas com
um pouco mais de independência: Cesar Callegari, por exemplo, que naquela composição ele virou...
Parecendo ser de extrema esquerda, compreendo é verdade.
Então tem representante da FGV, tem representante do Senai... Nossa, nós vivemos um problema, eu sou
professor da GV, nós vivemos um problema sério lá, de uma intervenção da mantenedora sobre a mantida,
nós tínhamos uma democracia aqui na escola administração, elegíamos o diretor, de repente assumiu o
sobrinho do Simonsen lá na FVG, com uma influência política muito grande do Dornelles, quem controla
o conselho diretor da FGV é o Dornelles, que botou lá o sobrinho do Simonsesn, Carlos Ivan, numa briga
com a Dona Celina, que é neta do Getúlio. Veja só o nome da Celina, Celina Vargas do Amaral Peixoto
Moreira Franco. Neta go Vargas, filha do Amaral Peixoto e foi casada com Moreira Franco. Eu tive bom
763
relacionamento com a Dona Celina, uma pessoa aberta, intelectual, perdeu a briga lá, assumiu Carlos Ivan
que chegou e colocou braço de ferro. Chegou falando acabou a brincadeira aqui e praticamente destituiu,
acabou com a congregação, a congregação era um órgão democrático, acabou com eleição de diretor,
demitiu vinte professores, inclusive um ex-diretor professor Michael, que em ação na Justiça estão todos
sendo reintegrados por que ele não podia demitir. porque tinha que passar pela Congregação, havia um
regimento antigo, mudou o regimento e aí nós fomos ao Conselho discutir a questão da GV, e o conselho
ó (dando com as mãos). Porque havia representante da GV lá dentro que barrava tudo. E mais ainda, as
pessoas com as quais ficava o caso da GV, para relatar, queriam um emprego na GV (risos). Então esse é
o Conselho naquela época Federal, virou Nacional e agora tem essa composição. Então os professores do
ensino superior na sua grande maioria, fora aqueles que faziam o conhecimento, que estudavam e que se
dedicavam a isso, eram professores angariados muitas vezes no ensino básico, então tinha uma excelente
didática, tudo isso, o fundamento do curso era muito bom, mas não tinha sentido de classe nenhum, né? Por
que essa categoria ela foi formada assim, depois com outras exigências, e depois houve o outro fenômeno,
do mestrados e doutoramentos a dar com pau, especializações a dar com pau, e que deu dinheiro;
especialização deu dinheiro pra caramba! Muita gente ficou rica com essa história de especialização.
Professor, e as condições de trabalho nesse período de grande expansão, das condições de trabalho dos
professores, você tem lembrança de algum detalhe, alguma especificidade?
Veja, eu estou no ensino superior desde 1987. Quando eu fui para a GV. A GV é um caso à parte porque a
GV foi criada com dinheiro americano para cumprir um determinado papel que era formar executivos
inclusive para administrar as empresas multinacionais, ou para criar uma elite administradora que seguisse
o modelo americano, então os professores, veja só, os professores da Fundação Getúlio Vargas foram
angariados num determinado momento, do mercado, e foram enviados para os grandes centros formadores
de professores são St Fort e Chicago. Então foram mandados pra lá, voltaram, então criou-se assa elite aí.
E aí tinha um princípio na GV, que era o professor que era um oásis dentro do universo brasileiro, um
mantenedor do ensino superior descobriu a tal da hora-aula né, então contrata o professor por hora-aula
porque está na CLT, mas na GV o professor era contratado por tempo, então trinta e cinco horas por
semana, oito créditos, oito aulas e vinte sete fora da sala de aula. Então ele ia produzindo conhecimento
porque ele foi forjado pra isso, né? Mas houve um tempo de vacas magras que o pessoal foi para o mercado.
E a GV sempre adorou que o cara vá para o mercado, para poder voltar, aquela coisa toda, então houve um
tempo em que diminuiu esse número de professores, que era muito caro. Quando eu entrei lá, eu era aulista,
mas aulista era apenas pra tapar buraco. Então os professores de carreira, por exemplo, pediam um
abatimento de crédito para escrever um livro, abatimento de crédito porque dava panarício no dedo, então
precisava de alguém para dar aula e aí, principalmente eu que sou da área de Métodos Quantitativos, então
a GV tinha um esquema bem diferente em relação a isso. Eu não sei o que que você tinha perguntado...
Mas antes da GV, você na educação básica, anos 70 e 80, independente de ensino superior ou não, a
condição de trabalho desse professor da rede privada...
No trabalho do ensino era uma condição razoavelmente boa no particular, porque aí coincidiu
universalização do ensino e a deterioração das condições de trabalho no ensino público.
E eram os mesmo professores?
Basicamente. Eu por exemplo nunca trabalhei no ensino público, mas grande parte sim. Porque entrei direto
no São Luiz, depois eu fui pro Palmares, aí no São Luís eu fiz um monte de coisa lá dentro, então mas os
meus amigos todos se formaram comigo, começaram no ensino público; o concurso era interessante
inclusive, as condições de trabalho não eram muito diferentes, tinha alguns colégios que pagavam muito
mais, mas aí isso coincidiu com excesso, porque aí, vamos lá: universalizou ensino, precisou de mais mão
de obra, o Estado teve que investir muito mais pra essa universalização, ao mesmo tempo aumentou o
gargalo, muita gente foi formado, muita gente foi para licenciatura etc. e tal. Precisava de tanto professor
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que inventaram a Licenciatura Curta, vai lá, faz um pouquinho de coisa e tal, e vai dar aula. Mas aí a oferta
foi muito grande e as condições de trabalho se deterioraram. Com essa universalização também abriu uma
janela de oportunidade para o ensino particular, e aí muitas escolas se formaram.
Então estamos falando de uma expansão que não foi apenas no ensino superior...
Certamente que não. No superior era mais controlada. Era interessante para o governo ter um controle sobre
o ensino superior. Porque isso custava dinheiro, né? E isso podia ser um tiro no pé... Mas a ideia soava
interessante: ‘não é qualquer um que pode oferecer ensino superior’. Então você cria dificuldade para
vender facilidade. Naquela época para você ter um curso superior era uma grana preta, tanto que algumas
escolas tradicionais foram sendo adquiridas por outras. A tal da Uniban da vida. Ela comprou parte da
Medianeira que era o São Luís,
E uma imensa competição também entre as mantenedoras, não é? Uma grande disputa.
E aí além, dessa competição, o que acontecia é que havia ainda demanda e eles queriam mais, ter
possibilidade de investir mais. Quanto mais cursos você tem, mais de escala é sua economia. E para eles
crescerem só tinha um jeito, comprando outras. Então foram comprando esses cursos das faculdades
confessionais, que não se interessavam muito por isso, e foram se juntando e criando, porque havia muita
dificuldade de criar cursos novos. Havia despachantes, o tal do Carbonari enriqueceu muito com essa
história de abrir cursos etc e tal; e ele abriu um monte de faculdades ao longo da Via Anhanguera por isso
que se chamou de Anhanguera. Pegava sócio aqui, sócio lá e tal, até que ele encontrou um investidor
principal que era o Gabriel. Então as condições de trabalho foram se deteriorando também, porque como a
demanda era muito grande, você oferecia menos e o cara aceitava. Então houve uma deterioração nas
condições de trabalho do ensino básico e nas condições de trabalho do ensino superior. Quando eu comecei
a dar aula, cursinho etc. e tal, a gente ganhava uma nota. Eu brinco que teve uma época no cursinho que eu
ganhava um Fusca por mês. Época do intensivo e tal. Com a abertura também das vagas no ensino superior,
acabou o cursinho também. Porque antes você fazia cursinho para entrar na Mauá; hoje se você passar na
porta da Mauá você entra, tem quatrocentas vagas e é uma escola boa. Então aí as condições de trabalho
foram se deteriorando também, mas nessa década de 70, início de 80, os salários da iniciativa privada eram
interessantes.
Nesse período de 70/80, que lembranças tem do SINPRO enquanto entidade, enquanto atuação sindical,
mediante a ditadura?
Nesse momento é que eu comecei a militar na questão sindical, porque o SINPRO não tinha uma atuação
muito efetiva, então havia um grupo de uma oposição latente, e que estava tentando então assumir o
sindicato.
A história do SINPRO é muito difícil, porque ela não está registrada em lugar nenhum. Então estou
tentando registrar essa história, Luiz Antônio vem colaborando, porque considero uma história
importante. E o que estou percebendo, pelo menos até o momento, é que o SINPRO (uma característica
muito comum de qualquer entidade naquele período, principalmente no setor privado) carrega uma
história de finalidades muito corporativas, muito conciliador, que visa apenas a questão salarial, e
valoriza as questões assistencialistas. Nesse momento, aproximando do final oficial da ditadura, tivemos
os professores da rede pública mobilizados junto com estudantes lutando pelo processo de
redemocratização, ou seja, tiveram um papel fundamental na derrubada da ditadura. Então pergunto, e
o SINPRO?
Pois é. Não tenho notícia. Eu participei de duas chapas de oposição justamente por causa de, vamos assim
dizer, essa falta de atuação do SINPRO. Se o SINPRO naquela época, a classe dirigente, não era apoiador
da ditadura, pelo menos era conivente. Como eu te disse, os principais elementos da diretoria, vários
elementos da diretoria vinham dos principais redutos conservadores aqui de São Paulo.
765
Aí eu fico pensando no professor... Uma maioria trabalhava na rede pública e também na rede privada,
como acredito que até hoje ainda haja muitas pessoas assim. Aí o professor milita na rede pública, faz
greve e tal, mas na rede privada ele vai e trabalha em silêncio?
Na rede privada ele vai, porque é o tal negócio, apesar da rede pública ainda não ter os salários muito
deteriorados, mas já a rede privada pagava mais, além de ter menos garantias e tinha uma repressão danada
E zero de estabilidade...
Eu tinha colega na rede privada que dizia assim, aqui eu dou aula a tantos tantos dinheiros, lá eu dou aula
a tantos dinheiros. Entendeu? Havia esse sentimento aí. Ah, eu vou investir mais agora no meu final de
carreira para eu poder me aposentar com mais dinheiro, etc. e tal. As pessoas mais velhas, mas quem
militava nas duas redes, fazia greve, mas não tinha, na minha concepção, os amigos que eu tinha, não tinha
muito sentimento de classe.
Entendo.
Entendeu? Quem tinha mais sentimento de classe era quem militava exclusivamente na rede pública. É a
impressão que eu tenho. Tanto que a primeira grande greve foi no governo Montoro, que romperam os
portões e tal. E eu dizia, caramba meu, logo com o Montoro vocês foram fazer? Tinha que fazer isso com
o Maluf. Porque o Montoro estava querendo conciliar,
Havia já uma intenção se se construir um movimento maior, mas ele não ia, né?
Sim, mas foi um momento político interessante quando foi criado o PT e eu dizia para meus amigos, mas
espera um pouquinho, dá uma chance para o Montoro, tanto que o Montoro não reprimiu, eles foram lá,
quebraram as grades do Palácio, e o Montoro não reprimiu. Quando é que eclode esse movimento na escola
particular? Em 87, foi quando a gente apareceu. Porque a escola particular até aquele momento estava então
segura, vamos dizer.
Então na tua vivência, na tua trajetória, você não tem lembrança do sindicato ao menos se incomodar
com esse período? Eu tento buscar no sindicato um viés formativo.
Um exemplo do que você está dizendo Hélida, no ensino superior, foi a ANDES. Então o que começou a
aparecer naquele momento? Associações de docentes. Como o sindicato não se mexia, então começou a
aparecer associação de docentes. Associação de docentes do Oswaldo Cruz, da PUC, associação de
docentes de várias universidades. Tanto que quando entrei na GV em 87, o pessoal estava discutindo a
formação da associação lá, e nós fizemos uma associação de funcionários. Eu mesmo disse, pera aí, todo
mundo aqui é empregado, que história é essa de docente? Eu nunca acreditei que numa empresa, como tem
na PUC e na USP, Sintusp e Adusp, Apropuc e Afapuc qual é? Tanto que os funcionários, quando a gente
negociava junto diziam olha, eu sou funcionário, e eu respondia, eu também! Porra, tá escrito aqui. Só que
eu sou funcionário docente e você é funcionário não docente. Então nós fizemos lá a AFAESP, Associação
dos Funcionários Docentes e Não Docentes da Escola de Administração. Então começou a haver um
movimento que se contrapunha ao sindicato, porque o sindicato não tinha representação nenhuma. Por isso
que culminou naquilo que eu te disse, havia grupo de professores que queria que a ANDES fosse o
presidente do sindicato, mas a gente disse, não, nós é que vamos fazer isso aí. Então havia, na escola básica
antiga não lá muito movimento, mas na superior, por iniciativas da federais, começou o movimento de
criação de associações. Quando nós assumimos o sindicato, as associações foram incorporadas, aí elas se
sentiram representadas, quem que continuou nesse universo? A Apropuc, só. Porque a Apropuc tem uma
outra organização. A associação da GV por exemplo, virou uma associação assistencialista. O pessoal
alugava vídeo, eu já deixei de participar. Mas é isso daí, então havia essa movimentação porque o sindicato
ele não se manifestava. E o ensino superior pior ainda.
766
Então o SINPRO, naquele período, a gente pode arriscar em dizer, ainda que precocemente, que a
expansão do ensino privado, independente da maneira que isso estivesse acontecendo, não era um
incômodo para a entidade? A expansão do ensino privado de uma maneira geral, não incomodava o
SINPRO?
Então, veja, a expansão do ensino privado tem dois vieses. O viés dos mantenedores e o viés dos
professores. Dos professores, o que aconteceu? Uma organização paralela. Dos mantenedores, eu de fora,
o Luiz Antônio estava por dentro naquela época já né, tentando ganhar por dentro, mas eu de fora via como
uma conivência com os patrões do ensino superior.
Porque esse viés formativo, ou a essência sindical em forma a consciência de classe...
Ah, naquela época nada.
Nada?
Nada. É um período que eu digo pra você, a minha impressão, sem militar diretamente nele, saindo do
movimento estudantil universitário, e começando a militar, começando a constituir família, num
determinado momento preocupado só com a minha formação, meu trabalho, fui fazer pós na PUC, eu tive
um convite para trabalhar na PUC não fui, porque a PUC não pagava um terço do que eu ganhava no São
Luís, que aquela época a PUC atrasava para caramba, eu disse para o professor que me convidou, doutor,
pô eu tenho família e tal...
Acho que foi quando começou a trazer de volta que estavam exilados e eles trabalhavam de graça na
PUC...
Foi em 76, por aí. A PUC não tinha dinheiro, tinha uma confusão lá, eu fiz uma besteira danada, mas eu
estava fazendo pós lá, etc, mas de qualquer maneira não havia essa consciência mesmo.
Não era o cerne da entidade?
Não, naquele momento, e eu militando muito mais no ensino básico, porque eu fui pra vale para o ensino
superior só em 87, a percepção que eu tinha era de um sindicato que se não era apoiador, era conivente,
conciliado com o regime, e não soube avançar na redemocratização. Então 83, qual é a participação do
SINPRO no movimento das Diretas? Zero. Nada. Qual é a participação do SINPRO nas eleições? Alguns
diretores apoiaram o Fernando Henrique.
Individualmente.
Não enquanto categoria. Não como sindicato. Nem fez nada para mudar. Houve alguma manifestação do
sindicato junto à categoria no movimento das Diretas? Naquela época eu estava no Palmares, era um reduto
de esquerda, diferente do São Luís que era de direita, porque o Palmares tinha muito pai da USP, etc. e tal,
nós fizemos um movimento interno lá no Palmares, mas só o Palmares, os professores do Palmares. No São
Luís não se falava nada de Diretas Já. Mas no Palmares eu participei de um movimento lá, fomos para a
Praça, levamos alunos, mas no São Luís se eu abrisse a boca eu era demitido. E grande parte do meu salário
vinha de lá. Mas o sindicato não fez movimentação alguma. Em 88 quando a gente assumiu, aí nós tivemos
uma participação importante na Constituinte. Aí o SINPRO teve uma participação.
De representatividade...
Sim! Além dos problemas, nós defendemos muito o corporativismo, mas nós fomos além do
corporativismo. Se você pegar todas as publicações da gente até aquela época a gente investiu muito nessa
história começamos a participar muito inclusive com o DIAP, lá que a gente começou a conhecer o DIAP,
hoje eu sou presidente do DIAP. Mas naquela época o DIAP era, começou em 1983, então a gente teve uma
participação muito importante.
E como que o DIAP – Departamento, participava da luta contra a ditadura em 1983?
767
Eu conheci o DIAP em 87, eu não conhecia em 83. Não conhecia, o sindicato não dava notícia nenhuma.
Em 88 eu era vice-presidente do sindicato, eu fazia a imprensa do sindicato. Então a gente criou no jornal
uma coluna “Você sabia?”. Você sabia que o sindicato “tal” tem coisa e nós não temos? A nossa Convenção
Coletiva era uma convenção tímida.
Eu escrevi um artigo sobre esse jornal e fui apresentar na Argentina. Mas eu fiz do Quadro Negro, virou
capítulo de livro, inclusive.
Quadro Negro! Fui eu que inventei. Depois deixou de ser Quadro Negro quando veio o politicamente
correto. E aí também houve uma outra orientação, mas naquela época eu descia o pau, descia o cacete, eu
era o diretor responsável. Eu tomei dois processos naquela época.
Eu estudei bem e percebi esses processos.
Você pegou aquele do Maluf, “farinha do mesmo saco”?
Eu vou te mandar um livro.
Aquela capa, “farinha do mesmo saco”, que era o Maluf e o Collor, Maluf estava disputando com Fleury
aqui, e a gente decidiu que Maluf nunca mais, se disputar Maluf e cachorro, eu vou latir, né? E aí a
APEOESP tinha soltado um jornal contra o Maluf e esse jornal tinha sido apreendido. Então eu bolei o
seguinte, nós vamos fazer um jornal para valer, para ferrar o Maluf, e na época quem imprimia o jornal era
a Folha, e nós vamos sair direto da Folha para a Vila Leopoldina onde eram expedidos os malotes. Então
foi tudo feito direitinho, aquela coisa de CEP estava começando, e mandamos para a casa dos professores.
Deixamos quinhentos no sindicato. Duas horas depois a polícia estava lá prendendo os quinhentos. Mas a
gente já tinha enviado dez mil (risos). Aí o Maluf me processou, aí o nosso advogado falou assim, gente aí
nessa história você vai entrar em cana. Então precisa arrumar um tranca rua que é o Malheiros. Então ele
conversou com o Malheiros e eu fui primeira vez na Polícia Federal sem levar tapa, eu fui lá na Rua Piauí
falar e dar tal depoimento para um delegado. E quem foi comigo foi a Flavia Rahal que depois virou
advogada do Valerio. Foi presidente dos advogados, uma advogada brilhante além de ser muito bonita e
ela foi comigo lá aí o delegado disse para mim, aí professor e tal. Eu falei, a responsabilidade é minha,
porque a jornalista na época perdia o MTB se ela fosse processada. Aí ele falou sabe que a minha mulher é
professora, puxa gosta muito do trabalho de vocês, então professor é o seguinte, a gente sabe que o Maluf
rouba, mas não pode não pode escrever (risos). Bom, o Malheiros deu um jeito lá, segurou o processo cinco
anos, e aí prescreveu. Entendeu, por isso que o Malheiros é chamado de Tranca Rua (risos). Aí um dia a
Flávia me liga e diz, professor parabéns! Hoje é o aniversário, tem cinco anos, prescreveu, acabou! É aí que
estou dizendo, nós começamos a tomar partido da história, foi nesse período. Antes disso o sindicato não
produzia um jornal. Nada. Absolutamente nada. O sindicato era uma instância burocrática. Ah, tá bom,
tinha uma convenção coletiva, garantia alguns direitos, mas era uma instância burocrática que era
assistencialista. Então quem era amigo do rei tinha dentista de graça. Hélida, você sabe que tem uma carteira
de não-sócio? Você sabia disso? Está no Centro de Memória Sindical. Carteira de Não-Sócio do Sindicato
dos Professores. Porque eu fazia a ficha para me sindicalizar, e a diretoria tinha que abonar, e nunca a
diretoria abonava. Eu dizia, porra Leopoldino, eu quero ir para a Colônia, eu quero ir ao médico, então
enquanto a diretoria não decide, eu te dou uma carteirinha que você tem direito ao serviço assistencial, mas
não é sócio, não pode votar. Então eu não tinha certeza se você estava do meu lado ou não, e você parava
de me encher o saco. Tá bom? Pronto! Aí você ia pra Colônia, e aí vamos ver se eu te ganhava, ganhava o
teu voto, aí você virava sócio. Essa carteira está no Centro de Memória Sindical. Quando nós entramos
tinha carteira de não-sócio, tinha todas essas fichas engavetadas. Eu abria a gaveta e tirava ficha. Aí eu
chamava o professor e dizia, você está sócio. Ah, estou, que legal! Então de fevereiro a outubro nós fizemos
sete mil sócios. E fizemos o “Baile dos Dez Mil” em outubro.
E antes disso, dois mil?
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Na eleição tinha dois mil e setecentos, por aí, coisa do tipo. Nós ganhamos a eleição por cento e sete votos,
para você ter uma ideia, que foram os votos do Mackenzie e do Arquidiocesano, basicamente. Então a
inserção do sindicato no movimento era nula. Eu sei que o movimento sindical tinha problemas, começou
a emergir com os Metalúrgicos em 80. Mas o Sindicato não surfou nessa onda, muito pelo contrário, ficou
retraído. O maior exemplo que eu te dou é 83. Onde todas as escolas praticamente deveriam estar discutindo
isso, e o movimento era sufocado, eu te dei o exemplo, São Luís e Palmares. No Palmares a gente
participava, discutia com aluno, e no São Luís nem abria a boca. E o sindicato não me dava elemento algum
para isso. E eu devia me apoiar no sindicato, não é? Onde estava o Sindicato nas Diretas Já? Sei lá! Sei lá!
Então esse era um dos motivos que a gente tinha inclusive para disputar contra o sindicato. Isso aconteceu
em 78 e depois em 83. Naquela época Demetrio Magnoli era LIBELU ainda.
Então o sindicato se isentou da luta em momentos cruciais, se absteve?
Não tinha esse sentimento política de classe. Era assistencialismo. A maior conquista que esse sindicato
teve em 83 foi um ano de estabilidade para todos os professores e trabalhadores. Por quê? Porque o
Leopoldino ia se candidatar de novo em 83 e ele acertou isso com o patrão. Então teve um ano que você
não podia mandar professor embora.
É porque do nosso ponto de vista, e eu imagino que do seu também, a expansão do ensino privado alterou
muito a configuração social. É nesse sentido que vem a minha preocupação, quando eu falo de
consciência de classe, não são só as questões classistas, mas questões sociais simples mesmo. Não
precisaria nem chegar na classe, mas de entender como isso afetaria o mundo – e afetou – a gente está
aqui hoje vendo o que está acontecendo.
O sindicato não fez essa avaliação. Por exemplo, hoje a nossa maior preocupação é com essa
mercantilização, e de alguma maneira precisamos atingir esses professores. Nós encomendamos uma
Pesquisa Quali, para dar uma pensada nesse professor. Nós já fizemos uma há cinco anos atrás, eu não sei
se o Luiz Antônio te deu a pesquisa...
Ainda não...
Fizemos uma há cinco anos atrás para saber como que o professor se enxerga, como é que o professor do
ensino superior enxerga a profissão, fizemos focos, dois grupos. Quem orientou a pesquisa foi a empresa
da Clarice Herzog que era muito boa na época, mas hoje ela está fora do mercado. Mas chegamos à
conclusão, Hélida, que o professor do ensino superior não se enxerga como professor.
Não se enxerga como trabalhador?
Como professor! Como trabalhador é ainda outra coisa. Pegamos um colega seu, isso muito cá entre nós,
da Uninove, esse grupo eu assisti atrás do espelho, a mediadora diz para ele, o senhor faz o que? Eu trabalho
na Uninove. Quantas horas? 40 horas. Pesquisador, coordenador, pititi, pototó, muito bem. Quando o senhor
preenche uma ficha, o senhor se identifica como? Biólogo. Mas o senhor não é biólogo, o senhor é
professor. Se eu falar para a minha mãe que eu sou professor, ela acha que eu dou aula para criança no
ensino primário. Você acredita que um pós-doutor falou isso? (risos)
Que pena, não é?
Um dos que estava no grupo era diretor de um curso de engenharia, que estava na profissão há vinte e cinco
anos. E o senhor? Eu sou engenheiro. Mas há quanto tempo que o senhor não exerce a engenharia? Ih, acho
que há uns vinte e cinco anos, mas eu pago o CREA, porque eu sou engenheiro!
E tinha gente da medicina?
Não. Mas médico, por exemplo, é médico. Eu só tenho um exemplo melhor, que é a Santa Casa. Lá tem
dois tipos de médicos. Um que vai até o segundo ano, que ele se considera professor, eu trabalhei muito
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com esse pessoal. Eu fiz o trabalho sindical lá dentro, maravilhoso. A partir do segundo ano, ele é médico.
Ele nem é registrado como professor. Porque na Santa Casa o cara vai para o hospital no terceiro ano. E
aqui eu sou teu tutor, mas eu sou médico. Agora, até o segundo ano tem uma consciência social maravilhosa.
Um dia a gente, falando para os caras, para com isso não aguento mais esse cheiro, a gente fazia reunião lá
perto do necrotério, do laboratório lá embaixo, aquela Santa Casa é lida. Um dia nós buscamos deliberar
greve tinha três médicos lá dentro e um grupo de enfermeiras, que também é, eles chamam de medicina
social; aí eu falei, vamos deliberar a greve aqui? Vamos deliberar a greve. Já topamos, só vamos votar.
Com três? Sim, com três. Tá bom, fica tranquilo amanhã todo mundo tá parado. E era verdade. No dia
seguinte a Santa Casa estava parada. Impressionante a união e a capacidade de comunicação. Mas isso nos
dois primeiros anos! Mas no Hospital nem entro lá porque o cara diz que eu sou leigo, não tenho avental,
não tenho DR na frente... Agora, nos outros cursos de medicina o cara é médico, isso fora de qualquer
cogitação. Porque ele tem que ser médico Hélida, eu não quero ter aula com um cara que é teórico que não
meche em paciente. Tá certo? Então ele tem que ser médico. Agora nas matérias básicas, anatomias, etc.,
ele continua sendo médico, na Santa Casa não. Nessas matérias básicas o cara se considera professor. Agora
nas outras profissões, que o cara, o tal do engenheiro da vida, o tal do biólogo, você pega um cara, e eu quis
orientar a pesquisa para isso, porque eu que sugeri essa pesquisa, de escolas, como chamar, não do primeiro
time, que pagam mais, em termo de salário, e como esse professor se enxerga na profissão. Então é um
problema sério, pois nós chegamos à conclusão de que o professor não se vê como professor. Então como
é que você vai discutir uma consciência de classe com um cara que não se enxerga como tal? Pega lá um
Nóvoa da vida, profissão professor etc.
Nem como categoria ele se reconhece, imagina como classe...
Exatamente.
E a UNINOVE continua sendo o maior empregador do SINPRO?
Sim, hoje é. Depois a UNIP. Mas a UNINOVE é o maior. Aqui no SINPRO, né, porque a Anhanguera tem
muito no ABC. E a UNINOVE é o grande empregador. Tempos difíceis, mandaram muita gente embora
para contratar recém-formado para ser tutor. Primeiro que nós, movimento sindical, não nos entendemos
com relação ao tutor. Faz cinco anos que alerto para isso.
Há uma divergência interna?
Isso, interna. Eu coordeno a negociação e faz cinco anos que eu estou dizendo para os meus pares, nós
vamos nos ferrar, nós vamos nos ferrar, tutor não é professor universitário. Ele é professor, mas não é
professor universitário. Então vamos escrever um capítulo à parte para ele, porque a pior coisa que pode
acontecer é esse tutor ser considerado não docente. Faz cinco anos que estou dizendo que vai acontecer e
aconteceu, saiu o parecer do Conselho Nacional, que está nem carne nem peixe, daquele tal do Dourado
que veio no nosso congresso e enganou a gente, disse que ia falar que (eu chamo ele de Humberto Costa de
bochecha porque ele é parecido com o Humberto Costa e ele é bochechudo) ele fez todo mundo gritar
“Dourado” na hora que apresentou o parecer ele escamoteou. E hoje eles podem contratar negociamos no
ensino superior um capítulo E hoje eles podem contratar, e nós não negociamos no ensino superior um
capítulo, e hoje eles podem contratar um tutor como administrativo, e precisa ter só graduação, acabou.
Então essa molecada que sai do curso de graduação, coloca como tutor por mil reais por mês, dando
assistência para dois mil alunos. Como funcionário administrativo, sem nenhuma garantia. E agora temos
que correr atrás do prejuízo. Se você não convence nem o Conselho Nacional disso, que tutoria é docência,
vai convencer o juiz. Mas não adianta, é como a hora tecnológica, eu saí berrando pela hora tecnológica,
inventei a história do professor de 30 horas, tivemos uma boa penetração de imprensa, mas nós batalhamos
nisso? Não. Hélida, preciso encerrar querida, tenho uma reunião que já estou atrasado.