Amanda Dal Piva Soares TCC

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ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS

FAMÍLIAS ATENDIDAS PELO CAPS AD DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA/SC

*Amanda dal Piva Soares1


**Ivana Marcomim2
Resumo: O presente artigo busca compreender o serviço social junto às demandas familiares dos dependentes
químicos, partindo da experiência de estágio curricular em serviço social realizada junto CAPS AD do município
de Palhoça/SC. Estrutura-se, quanto aos objetivos, a partir de um método de pesquisa exploratória, bibliográfica
e documental, dispondo de uma abordagem quanti-qualitativa. Reflete sobre a representação da dependência
química, as políticas de direitos a serem consolidados a este segmento, com ênfase ao processo de atenção
familiar e suas demandas, retrata o CAPS AD no processo de tratamento do dependente químico e apresenta a
criação de um e-book elaborado juntamente ao PET-Saúde do município de Palhoça/SC. Neste processo de
tratamento do dependente químico, o serviço social se insere como agente mediador capaz de reconhecer as
dinâmicas e demandas familiares a consolidar diferentes estratégias para que o processo de (re)integração
familiar seja motivado considerando suas diferentes necessidades para tanto.

Palavras-chaves: dependência química, direitos, serviço social, família.

Abstract: This article seeks to understand social work with the family demands of drug addicts, based on the
experience of a curricular internship in social work carried out with CAPS AD in the city of Palhoça/SC. It is
structured, in terms of objectives, from an exploratory, bibliographic and documentary research method, with a
quantitative and qualitative approach. Reflects on the representation of chemical dependency, the rights policies
to be consolidated in this segment, with emphasis on the family care process and its demands, portrays the CAPS
AD in the process of treating the addict and presents the creation of an e-book prepared together with PET-Saúde
in the municipality of Palhoça/SC. In this process of treatment for drug addicts, social work is inserted as a
mediating agent capable of recognizing family dynamics and demands to consolidate different strategies so that
the family (re) integration process is motivated considering their different needs for that.

Keywords: drug addiction, rights, social service, family.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (2001) o uso e a dependência


em substâncias psicoativas são considerados um fenômeno histórico e complexo, visto que
permeia crescentemente em qualquer meio societário, sem distinções de classe social, etnia ou
gênero. Desta forma, os efeitos do uso abusivo de substâncias psicoativas tendem a afetar
diretamente a saúde física e mental, as relações interpessoais no âmbito familiar, social e
trabalhista.
Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2001) a dependência química
envolve a compulsão em utilizar as substâncias de modo persistente, tolerância a substância,
falta de controle sobre a quantidade e o uso, perca de interesse em outros afazeres e prazeres,
mesmo com a evidência de prejuízo próprio e aos outros. Neste sentido, foi definido pela

1
Acadêmica do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
2
Professora orientadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade
do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
2

Organização Mundial da Saúde, a Classificação Internacional de Doenças que consiste em


classificar o uso nocivo de substâncias, como a CID-10 F190 que trata dos transtornos
mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias
psicoativas.
O III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira foi
sistematizado no ano de 2017 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Secretaria Nacional
de Políticas sobre Drogas (SENAD) com o objetivo de avaliar o uso de drogas em todo
território nacional, foram entrevistadas cerca de 17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos.
Em relação aos resultados, foi estimado que aproximadamente 3,2% dos brasileiros usaram
substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa, correspondendo 4,9 milhões de
pessoas (BASTOS et al, 2017).
Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas do ano de 2019, divulgado pelo Escritório
das Nações Unidas sobre Drogas e Crime em torno de 35 milhões de pessoas no mundo
sofrem de transtornos acerca do uso recorrente de drogas e necessitam de tratamento
(UNODC, 2019).
Muito embora exista a Política Nacional de Drogas, intermediado pelo Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), prevista pela Lei nº 11.343, de 23 de
agosto de 2006, e no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido na Lei nº 8.080,
de 19 de setembro de 1990, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS
AD), regulamento pela Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002 e pela Portaria nº 3.088 de
23 de dezembro de 2011, requer atuação em rede, pois se considera a pessoa em sua
totalidade, tornando a intersetorialidade e a participação familiar necessárias para a devida
efetivação do atendimento e do tratamento, visando a inserção social para o trabalho,
educação e para uma vida sem discriminação, este ainda é um desafio na maior parte das
realidades que lidam com este segmento.
O estágio curricular em Serviço Social realizado junto ao Centro de Atenção
Psicossocial AD do município de Palhoça/SC, durante o período de agosto de 2019 a
novembro de 2020, permitiu refletir acerca das inúmeras demandas e da efetividade das
políticas de direitos, seus conceitos e perspectivas.
Neste contexto, o Serviço Social se insere podendo ser agente estratégico do processo
de consolidação desta política de direitos. Desta experiência nasce o presente artigo que busca
compreender como é realizada a atuação profissional do Serviço Social no contexto das
famílias atendidas pelo CAPS AD do Município de Palhoça/SC?
3

Acredita-se que tais compreensões contribuirão para a qualificação do trabalho aos


profissionais do Serviço Social que trabalham com o público-alvo, bem como retribuir aos
usuários dos serviços, para a comunidade e sociedade como um todo.

2. REFLEXÕES TEÓRICAS

2.1 Políticas de direitos do dependente químico

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2001) droga se refere a qualquer


substância que, introduzida no organismo, é capaz de provocar alterações físicas ou psíquicas.
É classificado como psicoativo e dividido entre dois termos: ilícito e lícito. Drogas ilícitas
como a maconha, a cocaína e o crack são substâncias proibidas de serem produzidas,
comercializadas e consumidas. Apesar de drogas lícitas como álcool, cafeína e medicamentos
também causarem danos e dependência, são substâncias liberadas por lei, podem ser
consumidas livremente e são mais aceitas socialmente. Todavia, há um grande processo para
consolidação dos direitos já assegurados em lei.
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgado a nova Constituição Brasileira, conhecida
como “Constituição Cidadã”, onde se estabeleceu a institucionalização de direitos
fundamentais individuais e sociais assegurados no art. 6 como “a educação, a saúde, o
trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados” (BRASIL, 1988), consolidando em seu artigo 1º, o país como
Estado democrático de direito, dispondo dos fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa;
V - o pluralismo político (Brasil, 1988).

Uma das grandes conquistas da Constituição Cidadã foi o sistema de Seguridade


Social que, segundo o art. 194 da Constituição Federal de 1988, compreende “um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar
os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”, onde seus objetivos são:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
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VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a


participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e
aposentados (Brasil, 1988).

De acordo com Altafin (2008) a saúde deixa de ser promovida como benefício da
Previdência Social, passando a ser direito de cada cidadão e dever do Estado, mesmo não
realizando a contribuição previdenciária.
Com o orçamento da Seguridade Social, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi
financiado devidamente através de recursos da União, Estados e Municípios, sendo instituído
pela Constituição Federal de 1988 e consolidado pelas Leis 8.080, de 19 de setembro de 1990
e 8.142, de 28 de dezembro de 1990, surge como um direito universal a população sendo um
sistema único, integral, descentralizado, público e participativo de assistência à saúde, tendo
funções de regulação, fiscalização, controle e execução. Apresenta o objetivo de, segundo art.
5 da Lei 8.080, como pontuado por Carvalho (2013, p. 11):
Identificar e divulgar os condicionantes e determinantes da saúde; formular a
política de saúde para promover os campos econômico e social, para diminuir o
risco de agravos à saúde; fazer ações de saúde de promoção, proteção e recuperação
integrando ações assistenciais e preventivas.

Os princípios afirmados no art. 7 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, foram


baseados de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal que visam
a integração de uma rede regionalizada e hierarquizada do sistema de saúde através da
descentralização; atendimento integral e participação da comunidade. Sendo assim, os
princípios que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física
e moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de
qualquer espécie;
V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;
VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a
sua utilização pelo usuário;
VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a
alocação de recursos e a orientação programática;
VIII - participação da comunidade;
IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada
esfera de governo:
a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;
b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;
X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e
saneamento básico;
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de
serviços de assistência à saúde da população;
5

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência;


e
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de
meios para fins idênticos.
XIV – organização de atendimento público específico e especializado para
mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros,
atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em
conformidade com a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013. (BRASIL, 1988).

O Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, regulamenta a Lei nº 8.080/90,


apresentando a organização e o funcionamento do SUS, planejamento e assistência à saúde,
questão de medicamentos e relação das comissões de gestores.
A partir de parâmetros estipulados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o
Sistema Único de Saúde (SUS) foi estruturado por três níveis de atenção: básica, média e alta
complexidade. A atenção básica consiste no “alcance de certo grau de resolução de
problemas, que possa, além de prevenir, evitar a evolução de agravos, com vistas à redução de
situações mórbidas que demandem ações de maior complexidade” (GONDIM et al, 2009, p.
99), sendo conhecida por ser a “porta de entrada” aos serviços de saúde público, seu território
é localizado de forma estratégica próximo a população, sendo composto pelo Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS), Programa de Saúde Bucal, estratégia de Saúde da
Família, unidades básicas de saúde e ambulatórios hospitalares, Vigilância em Saúde e
Farmácia básica. A atenção de média complexidade é composta por serviços especializados
em nível ambulatorial e hospitalar e execução de recursos tecnológicos de apoio diagnóstico e
terapêutico, sendo constituído pela Assistência Multidisciplinar de Média Complexidade em
Saúde Mental (AMENT), serviços de urgência e emergência e os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), onde é realizado o trabalho de tratamento do dependente químico no
CAPS AD. A alta complexidade é composta por hospitais gerais e hospitais psiquiátricos
realizando “procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e custo,
objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-o aos demais
níveis de atenção” (BRASIL, 2003). Neste contexto a atenção especializada aos dependentes
e suas famílias deve considerar sua condição biopsicossocial e a intersetorialidade necessária
para subsidiar o processo de inserção social.
Ainda é essencial que se compreenda que não é possível adotar um conceito de família
no contexto contemporâneo, uma vez que esta se constitui dos laços afetivos e de
corresponsabilização que se formam entre os sujeitos que escolhem manter um processo de
vida cotidiana em unidade. Seja ela desprovida de características o que as distingue é o afeto e
suas vinculações de cuidado, amparo, que tenham uma responsabilidade efetiva como guarda
ou tutela, a afetividade, troca de vivências que pode adquirir diferentes configurações para as
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quais, sua “suposta configuração” não é questão conceituação, mas de compreensão da


natureza das relações e dos aspectos que as une.

2.2 O CAPS AD NO PROCESSO DE TRATAMENTO DO DEPENDENTE QUIMICO

Em razão das diretrizes do SUS ser a integração dos atendimentos em saúde visando a
regionalização e descentralização dos serviços bem como a necessidade de estipular a
disposição e organização da Rede de Atenção à Saúde, foi decretado a Portaria n° 4.279, de
30 de dezembro de 2010, do qual “estabelece diretrizes para a organização da Rede de
Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)” (BRASIL, 2010).
Desta forma, é pactuado a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com uma direção de
trabalho de modo integrado com os demais setores e serviços, promovendo a efetivação dos
atendimentos e o fortalecimento dos vínculos do usuário e familiares. De acordo com o art. 5
da Portaria nº 3.088, a RAPS é composta pelos seguintes elementos:
I - atenção básica em saúde, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) Unidade Básica de Saúde;
b) equipe de atenção básica para populações específicas:
1. Equipe de Consultório na Rua;
2. Equipe de apoio aos serviços do componente Atenção Residencial de Caráter
Transitório;
c) Centros de Convivência;
II - atenção psicossocial especializada, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) Centros de Atenção Psicossocial, nas suas diferentes modalidades;
III - atenção de urgência e emergência, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) SAMU 192;
b) Sala de Estabilização;
c) UPA 24 horas;
d) portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro;
e) Unidades Básicas de Saúde, entre outros;
IV - atenção residencial de caráter transitório, formada pelos seguintes pontos de
atenção:
a) Unidade de Recolhimento;
b) Serviços de Atenção em Regime Residencial;
V - atenção hospitalar, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) enfermaria especializada em Hospital Geral;
b) serviço Hospitalar de Referência para Atenção às pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas;
VI - estratégias de desinstitucionalização, formada pelo seguinte ponto de atenção:
a) Serviços Residenciais Terapêuticos; e
VII - reabilitação psicossocial (Ministério da Saúde, 2011).

Os Centros de Atenção Psicossocial foram regulamentados através da Portaria nº 336,


de 19 de fevereiro de 2002, sendo um dispositivo estratégico com o objetivo de promover
serviços especializados, de modo intensivo, semi-intensivo e não intensivo voltados a
assistência ambulatorial, de forma aberta e de caráter comunitário, para pessoas em
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sofrimento mental e comportamental, abrangendo usuários com dependência a álcool e outras


drogas.
Neste sentido, segundo o art. 7, § 4º da Portaria nº 3.088, os Centros de Atenção
Psicossocial estão organizados nas modalidades:
I - CAPS I: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e também
com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas de todas as
faixas etárias; indicado para Municípios com população acima de vinte mil
habitantes;
II - CAPS II: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes,
podendo também atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local, indicado para
Municípios com população acima de setenta mil habitantes;
III - CAPS III: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.
Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas,
incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento
noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad, indicado para
Municípios ou regiões com população acima de duzentos mil habitantes;
IV - CAPS AD: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as
normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes
do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter
comunitário, indicado para Municípios ou regiões com população acima de setenta
mil habitantes;
V - CAPS AD III: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as
normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades de cuidados
clínicos contínuos. Serviço com no máximo doze leitos para observação e
monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de semana;
indicado para Municípios ou regiões com população acima de duzentos mil
habitantes;
VI - CAPS i: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e
persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto e de
caráter comunitário indicado para municípios ou regiões com população acima de
cento e cinquenta mil habitantes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

De acordo com a Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, o CAPS AD deve ser


composto por:
a - 01 (um) médico psiquiatra;
b - 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental;
c - 01 (um) médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento
das intercorrências clínicas;
d - 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias
profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional,
pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico;
e - 06 (seis) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem,
técnico administrativo, técnico educacional e artesão (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2011).

Para realizar o acolhimento inicial no CAPS AD deve-se procurar a instituição


localizada na região onde mora ou ser encaminhado por qualquer serviço de saúde. Este
primeiro contato visa realizar a escuta qualificada para compreender a situação em que o
usuário se encontra, possibilitando “compreender o sofrimento psíquico a partir da pessoa,
valoriza suas experiências e atenta para suas necessidades e diferentes aspectos que compõem
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seu cotidiano” (MAYNART et al, 2014), a fim de possibilitar a visualização das demandas
apresentadas como efetuar encaminhamentos para outros serviços e redes, se necessário.
Neste sentido, de acordo com Chupel e Mioto (2010, p. 52) o acolhimento é realizado
tendo em vista três objetivos específicos:
a) para garantir o acesso do usuário aos mais diversos direitos sociais;
b) a fim de construir uma relação de confiança tal, que permita a criação de vínculos
e;
c) para que informações sejam captadas a fim de subsidiar as decisões acerca das
intervenções a serem realizadas.

Para proceder a avaliação especializada do usuário no CAPS AD é utilizado


instrumentos de triagem com validação científica para identificar demandas relacionadas ao
uso de álcool e outras drogas como os testes ASSIST (Alcohol, Smoking and Substance
Involvement Screening Test) e AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test). Com o
resultado indicando demanda de atendimento e tratamento no CAPS AD e com a adesão de
forma espontânea do usuário, é efetivada a promoção de contratualidade e posteriormente,
elaborado o Projeto Terapêutico Singular (PTS) junto ao usuário, respeitando sua
individualidade e possibilitando a construção da sua autonomia.
Os serviços prestados no CAPS AD visam um atendimento especializado e estratégias
terapêuticas voltadas a um ambiente acolhedor e aberto, facilitando a adesão de,
principalmente, pessoas em situações de crise com a finalidade de diminuir e evitar as
internações (BRASIL, 2004). Oferecem serviços de: “psicoterapia individual ou em grupo,
oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades artísticas, orientação e
acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares” (BRASIL,
2004, p. 17).
De acordo com a Portaria nº 245, de 17 de fevereiro de 2005, é destinado cerca de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais), através das 3 esferas, para garantir a compra de
equipamentos, aquisição de material de consumo e/ou capacitação da equipe técnica e outros
itens. A Portaria Nº 3.089, de 23 de dezembro de 2011 assegura um custeio mensal de R$
39.780,00 (trinta e nove mil setecentos e oitenta reais) aos Centros de Atenção Psicossocial
Álcool e Drogas.
Em razão da alteração nos conceitos de saúde mental, a intervenção no tratamento do
dependente químico não está limitada a serviços de saúde, de forma que é prestado assistência
de modo integral em relação as outras demandas retratadas (MARINHO, 2010). O trabalho
intersetorial proporciona o desenvolvimento de ações de articulação e acessibilidade dos
serviços da rede para assegurar o cuidado integral do usuário e seus familiares, considerando-
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o em sua totalidade, de modo que pode ocasionar melhora da qualidade de vida no aspecto
psicológico, familiar e social. Nesta perspectiva, é pontuado por Marcomim e Maciel (2016,
p. 72) que “o trabalho articulado nas redes permite a criação de espaços onde as práticas de
cooperação constituem um meio para encontrar saídas e soluções para a intervenção na
realidade social complexa”. Neste contexto da dependência química o processo de
reconhecimento e reintegração dos vínculos familiares se faz necessário como forma de
subsidiar a reinserção social pós tratamento.
A família é uma instituição social historicamente condicionada e dialeticamente
articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto pressupõe compreender as
diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em diferentes lugares,
além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço social e num
mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sempre numa
perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos cristalizados
para se refletir as possibilidades em relação ao futuro (MIOTO, 1997, p.128).

Schenker e Minayo (2004) apresentam uma revisão da literatura acerca do tratamento


para o uso abusivo de substâncias, sendo produzido através de pesquisas em bases de dados
científicos entre os anos de 1995 e 2002. Os resultados dos estudos indicam a importância da
inclusão da família durante os estágios do tratamento, visto que é compreendida como a
referência nas diferentes esferas da sociedade e desta forma, está envolvida com o
desenvolvimento saudável, ou não, de seus membros (SCHENKER & MINAYO, 2004).
Segundo Rosa e Melo (2015) é constatada em alguns serviços de saúde mental a
participação dos familiares em grupos de apoio, mesmo que de modo irregular. A dificuldade
em mobilizar os familiares em ações interventivas grupais surge pela exclusão história da
família no tratamento; a participação torna-se uma sobrecarga; o oferecimento restrito a
palestra nestes espaços pode-se desviar das reais necessidades e a incompatibilidade com os
horários ofertados.
Historicamente, o modelo hospitalocêntrico desenvolveu uma pedagogia de
exclusão do grupo familiar, ao restringi-la a mera informante do histórico da
enfermidade da pessoa com transtorno mental; a ser um recurso ocasional ou
“visita” pontual, sendo invisibilizada na sua condição de provedora de cuidados
contínuos, no plano doméstico (ROSA; MELO, op. cit, 2015, p. 96).

Neste contexto, observa-se a família, aqui entendida como um “relacionamento entre


pessoas, que não necessariamente compartilham o mesmo domicílio e os mesmos laços
sanguíneos ou de parentesco” (GUEIROS, 2010, p. 128), considerando as diferentes
constituições dos dias atuais, exerce relevância para o processo de reconhecimento das
demandas e necessidades do dependente químico e do próprio contexto familiar, que exigem
uma mediação própria para que possa promover direitos as reais necessidades deste segmento.
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3. METODOLOGIA DE ESTUDO

O presente estudo configura-se a partir de uma pesquisa exploratória que na visão de


Marcomim e Leonel (2015, p. 14) “nos aproxima do conhecimento acerca de determinado
fenômeno ou problema, subsidiando-nos, inclusive, para formulação com maior propriedade
de um problema de pesquisa em outros níveis e modalidades”.
Foi realizado estudo bibliográfico que, de acordo com Carvalho (2006, p. 100) “é a
atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas para coletar
dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema”.
Considera-se o método de abordagem quanti-qualitativa, tendo em vista que a
abordagem quantitativa “retrata indicadores que caracterizam determinados fenômenos e
podem ser mensurados de modo mais exato” (MARCOMIM; LEONEL, 2015, p. 27) e
abordagem qualitativa “tem características muito particulares e responde a aspectos muito
específicos da realidade” (Ibid. p. 28).
A Pesquisa documental foi utilizada para análise de indicadores das famílias,
configurando-se, segundo MOTA (apud MARCOMIM; LEONEL, 2015, p 16):
Os documentos fornecem dados ou informações que subsidiam a análise de um
determinado fenômeno ou problema que se queira compreender. Neste caso, pode-se
considerar o material documental de referência como sendo aquele que não recebeu
tratamento analítico efetivo ou adequado, o que a difere da pesquisa bibliográfica.

Este processo constituiu-se a base de estudo das demandas familiares que eram
registradas no dia a dia do processo de trabalho.

4. RESULTADOS DO ESTUDO

4.1 O CAPS AD E O PET-SAÚDE DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA

A Equipe de Álcool e Drogas (EAD) foi implementada em 2011 no município de


Palhoça/SC, somente em 2013 passou a ser tipificado como CAPS AD, sendo uma instituição
de natureza pública e de alcance municipal. A instituição tem como seu objetivo a promoção
de serviços especializados de acordo com os princípios do SUS e a Política Nacional de Saúde
Mental. Os serviços são direcionados na atenção integral e em rede, priorizando o tratamento
de forma ambulatorial mediante os recursos terapêuticos, abertos e comunitários,
consequentemente, neste sentido, há atuação direta na redução do número de internações
psiquiátricas pelo uso e abuso de substâncias. São possibilitados atendimentos individuais,
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domiciliares, grupais e aos familiares, com a finalidade de promover ações de redução de


danos para estimular o processo de desintoxicação, visando a qualidade de vida e reinserção
social dos usuários.
O tratamento no CAPS AD pode ser realizado entre três formas: tratamento intensivo
é destinado a usuários que necessitam acompanhamento diário, semi-intensivo é voltado para
acompanhamento frequente, mas não diário e o não intensivo, em função do quadro clínico,
pode ter uma frequência menor.
Os serviços ofertados são desenvolvidos por uma equipe técnica, onde atuam no
âmbito interdisciplinar, desta forma, atualmente, o CAPS AD de Palhoça/SC é formado por
17 profissionais, sendo: um médico clínico geral, um farmacêutico, dois técnicos de
enfermagem, três enfermeiros, um assistente administrativo, um assistente social (sendo
também o coordenador técnico da instituição), três psicólogos, dois médicos psiquiatras, dois
agentes de serviços operacionais e um vigia.
Pontua-se que o assistente social também ocupa o cargo de coordenador técnico da
instituição, consequentemente, são estruturadas as demandas entre coordenador e assistente
social, mesmo que ocorram dentro do horário de trabalho. Assim, ao adentrar no sistema de
prontuário eletrônico, o software apresenta dois logins liberando rol de procedimentos
diferentes, dessa forma, o próprio software do CAPS AD realiza a separação das atribuições
de cada cargo, não mesclando suas funções. Como coordenador técnico é possível dar outras
providências de âmbito administrativo, como gerar pedido de materiais, relatórios do sistema,
relatório de produção da equipe, entre outros. Como assistente social, é possível visualizar e
alterar os prontuários, permitindo anexar a evolução dos pacientes, entre outros. É efetuado
pelo coordenado técnico/assistente social um monitoramento próprio por meio de duas
tabelas, visto que se trata de dois cargos diferentes. A tabela de coordenador técnico visa
incluir ofícios recebidos, quais técnicos estão com os casos, qual período de resposta dos
ofícios, qual foi o órgão requerente, integrando procedimentos na condição de coordenador
técnico. A tabela de assistente social dispõe de registros acerca dos casos atendidos, evolução
dos casos, retorno das demandas. Neste sentido, é necessário colocar-se, como assistente
social, dentro do arcabouço técnico e ético visando o sigilo das informações, sendo
compartilhadas com o restante da equipe técnica apenas se achar pertinente.
Neste seguimento, são desenvolvidas diversas ações interventivas com uma equipe
multidisciplinar para a realização de um tratamento de forma ambulatorial, visando a
reinserção social, familiar e comunitária e a garantira dos direitos socais aos usuários.
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Os Caps, regulamentados pela Portaria n.º 336/2002 devem ser compostos por uma
equipe multiprofissional, e esses profissionais devem trabalhar com perspectiva
interdisciplinar, sendo responsáveis pela unidade durante todo o seu período de
funcionamento, o que inclui criar uma ambiência terapêutica acolhedora (BRASIL,
2002, apud BERNARDI; KANAN, 2015, p. 1106).

As ações desenvolvidas pelo assistente social envolvem um arcabouço de


conhecimentos, competências e habilidades, além do domínio de um vasto arsenal de técnicas
e instrumentos, por meio dos quais acontecem as intervenções (MARCOMIM; MACIEL,
2016, p. 50).
As atribuições do Serviço Social no CAPS AD estão relacionadas ao atendimento das
demandas de orientação e mediação aos usuários e familiares, encaminhamento para acessos
sócioassistenciais, previdenciários e sóciojurídicos, ou seja, é efetuado articulação com a rede
intersetorial e com os serviços de saúde da região. Também conta com a participação nos
grupos terapêuticos e oficinas com o desenvolvimento de ações educativas e informativas
referente a saúde, benefícios e intervenções pertinentes ao Serviço Social em conjunto a
outros profissionais, onde o trabalho interdisciplinar é essencial para a efetivação do
tratamento ao usuário.
No que remete aos instrumentos técnico-operativos utilizados pelo assistente social no
CAPS AD, os principais são: o acolhimento, que consiste numa ação do trabalho profissional
que agrega as relações humanas, postura ética do assistente social e a escuta qualificada, não
se limitando na recepção dos usuários, pode ser realizado de forma individual ou coletiva; os
relatórios, geralmente, são uma devolutiva aos serviços da rede intersetorial, sendo possível
registrar informações, observações e encaminhamentos pertinentes a demandas do usuário; a
visita domiciliar, segundo Amaro (2003, p. 13), “é uma prática profissional, investigativa ou
de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto aos indivíduos em seu próprio
meio social ou familiar”; a entrevista é aplicada para obter informações que proporcionará o
reconhecimento e visibilidade da história do usuário e suas demandas; a reunião tem como
característica a forma de promover e intervir em diversos espaços para provocar uma reflexão
crítica, atendimento a usuários e familiares, assim como realizar a discussão de casos entre os
profissionais; o encaminhamento é forma de atender as necessidades e demandas do usuário,
sendo importante para a efetivação do trabalho do assistente social.
Alguns objetivos do Serviço Social no CAPS AD são ações que propõem compreender
as múltiplas expressões da questão social vivenciadas pelo usuário, de maneira crítica-
analítica como orientado no projeto ético-político da profissão; elaborar estratégias
interventivas junto às famílias e os usuários visando o fortalecimento dos vínculos e a
13

reinserção social, bem como desenvolver articulações entre serviços para a garantia integral e
a defesa dos direitos aos usuários.
Dentre as múltiplas expressões da questão social, é possível observar no CAPS AD a
exclusão social dos usuários, seja no âmbito familiar ou no mercado de trabalho, dificuldade
na promoção dos direitos sociais, desemprego, fragilidade nos laços familiares, desamparo
social e discriminação devido à dependência e ao uso de substâncias.
Conforme o documento Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de
Saúde, para o assistente social atuar de forma eficaz na saúde é necessário:
Estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que
lutam pela real efetivação do SUS;
Conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes
sociais que interferem no processo saúde-doença;
Facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e
da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa
não submeter à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos
governos que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido
no projeto de Reforma Sanitária;
Buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da
atenção em saúde;
Estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a
articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos
serviços e do atendimento às necessidades sociais;
Tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde,
espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de
saúde nas decisões a serem tomadas;
Elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica
e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre
temáticas relacionadas à saúde;
Efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar
a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das
políticas sociais, ampliando os canais de participação da 9 população na formulação,
fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos
conquistados (CFESS, 2010, p. 30).

Acerca da relevância do trabalho do Serviço Social na Saúde Mental, segundo Costa


(2009, apud NOGUEIRA; SARRETA, 2016, p. 9):
O assistente social se insere, no interior do processo de trabalho em saúde, como
agente de interação ou como um elo orgânico entre os diversos níveis do SUS e
entre este e as demais políticas sociais setoriais, o que nos leva a crer que o seu
principal papel é assegurar a integralidade das ações.

Conforme produzido pelo Conselho Federal de Serviço Social a série de cadernos


“Assistente Social no combate ao preconceito” com o objetivo de orientar o exercício
profissional e “provocar a reflexão e contribuir para as estratégias efetivas de enfrentamento
da reprodução do preconceito, chamando a categoria à responsabilidade ética na defesa do
projeto ético-político” (CFESS, 2016, p. 5) foi apresentado um caderno acerca do estigma do
uso de drogas. Neste sentido, foi pontuado que o “fenômeno do consumo de psicoativos pode
14

se configurar como conteúdo transversal que incide sobre demandas, requisições ou normas
institucionais cotidianas, das quais a/o assistente social participa” (Ibid, 2016, p. 13). Desta
forma, o assistente social pode interferir em defesa dos direitos dos dependentes químicos
quando presenciar situações preconceituosas e negligentes como citados pelo caderno
“Assistente Social no combate ao preconceito e o estigma do uso de drogas” elaborado pelo
Conselho Federal de Serviço Social (loc. cit):
abscessos causados por uso injetável de psicoativos que são drenados sem o uso de
anestésicos locais, que poderiam reduzir a dor;
prolongamento do tempo de espera para atendimento, quando se identifica alguma
alteração de comportamento atribuída ao consumo de psicoativos;
realização de procedimentos sem o devido esclarecimento à/ao interessada/o,
violando princípios éticos de cuidados à saúde, pela suposição de que o “consumo
de psicoativo” anula a autonomia e a capacidade de decisão da/o paciente;
desrespeito e banalização das demais necessidades de saúde da/o paciente [...];
resistência e negligência na implementação das abordagens de Redução de Danos
[...];
adoção de medidas e procedimentos que contrariam os princípios e diretrizes da
Reforma Psiquiátrica [...]

A relação do Serviço Social com as demais políticas públicas se dá através de


encaminhamentos e demandas, visando articulação do trabalho para a devida efetivação do
tratamento do usuário, proporcionando estratégias e qualidade dos serviços ofertados, assim
como demandas relacionadas a diversas políticas públicas, como a política de Previdência
Social e Assistência Social. É realizado encaminhamento de relatórios e ofícios de usuários
que chegam ao CAPS AD através do Sistema de Justiça, mediante articulação com a rede
intersetorial é possível realizar intervenções sobre as múltiplas expressões da questão social.
É fundamental que o profissional do Serviço Social compreenda sobre os serviços
ofertados no CAPS AD, respeitando a subjetividade e a diversidade dos usuários, trabalhando
na perspectiva de contribuir para a efetivação do tratamento, conhecimento amplo para
identificar as demandas sócioassistenciais e conhecimento dos serviços da rede para viabilizar
diversos benefícios e facilitar o acesso dos usuários aos serviços.

4.2 A MEDIAÇÃO DE DEMANDAS FAMILIARES DOS PACIENTES DO CAPS

A partir do distanciamento da prática profissional conservadora, o Serviço Social


passou a se posicionar politicamente com luta da classe trabalhadora, neste sentido, assumiu o
engajamento sobre um projeto social democrático, este sendo definido como Projeto Ético-
Político para viabilizar novas intervenções as demandas da sociedade (NETO et al, 2013).
15

O projeto ético-político do Serviço Social foi construído visando à coletividade, mas


também permite que seja articulado juntamente aos indivíduos seu posicionamento de forma
contrária a classe dominante, integrando e participando nos movimentos populares e outras
categorias profissionais que apoiam os mesmos princípios (SGORLON; SUGUIHIRO, 2017).
As atribuições do Serviço Social no CAPS AD estão em concordância com o projeto
ético-político da profissão, visto que há relação com a promoção de cidadania e a dignidade
da pessoa. O projeto ético-político do Serviço Social, conforme NETTO (1999, p. 15):
tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor central – a liberdade
concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas
concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão
dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um
projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem
exploração/dominação de classe, etnia e gênero.

Esta visão também norteia o presente artigo que compreende a questão a drogadição
como uma questão de luta coletiva, societária e ininterrupta.
O presente artigo é resultado da minha experiência no campo de estágio curricular em
Serviço Social no CAPS AD do município de Palhoça/SC. A partir das dimensões teórico-
metodológica, ético-político e técnico-operativo do Serviço Social, este artigo tem o objetivo
de apresentar o levantamento dos procedimentos mais utilizados na ação acadêmica no CAPS
AD município de Palhoça/SC. Neste sentido, buscou-se verificar as demandas do trabalho
realizado pelo Serviço Social na instituição, apresentar as atribuições profissionais dos
assistentes sociais desenvolvidas com os usuários dependentes químicos na política de saúde.
O levantamento partiu do estudo de 20 relatórios de atendimento dos usuários do
período de setembro de 2019 a fevereiro de 2020. Os procedimentos analisados são o Boletim
de Produção Ambulatorial Consolidado (BPA-C) e Registro das Ações Ambulatoriais de
Saúde (RAAS), estes inclusos no Sistemas de Informação em Saúde (SIS), sendo um conjunto
de meios eletrônicos, onde são realizados registros e avaliações dos beneficiários dos serviços
do SUS. A Portaria GM n. 3.462 de 11 de novembro de 2010 “estabelece critérios para
alimentação dos Bancos de Dados Nacionais dos Sistemas de Informação da Atenção à
Saúde” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O Boletim de Produção Ambulatorial Consolidado (BPA-C) segundo o Ministério da
Saúde (2016) é um “aplicativo no qual se registram os procedimentos realizados pelos
prestadores de serviços do SUS, no âmbito ambulatorial de forma agregada”.
O Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) visa qualificar as ações
realizadas e registros acerca da prática profissional. De acordo com a Portaria nº 854, de 22 de
agosto de 2012 tem como objetivo “registrar mensalmente as ações de saúde realizadas
16

durante o período de atendimento ao usuário do SUS” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).


Neste sentido, “não se configura somente para controle interno e/ou facilitar a digitação, ele
amplia a lógica de atuação e de validação das ações e informações dos serviços”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013, p. 2).

BPA-C
20
20
18
16
14
12
10 8
8 7
6
4 3
2
0
Ações de articulação Matriciamento de Matriciamento de Ações de redução de
de redes intra e inter equipes da atenção equipes dos pontos de danos
setoriais básica atenção da urgência e
emergência, e dos
serviços hospitalares
de referência

Fonte: Adaptado pela autora, 2020.

Como se observa acerca dos resultados, foi analisado que as ações de articulação de
redes intra e inter setoriais foi o procedimento técnico mais utilizado, sendo constatado nos 20
relatórios, visto que estes relatórios examinados são de articulação entre o Sistema de Justiça
e o Conselho Tutelar. Conforme a descrição do CID 03.01.08.025-9, são “estratégias que
promovam a articulação com outros pontos de atenção da rede de saúde, educação, justiça,
assistência social, direitos humanos e outros, assim como os recursos comunitários presentes
no território”. Neste sentido, conforme pontuado por Silva e Gomes (2016) a articulação entre
redes de serviços é expressa na rotina da ação profissional, pois esta prática se torna
fundamental para a resolução de outras demandas específicas.
Este procedimento foi constatado em 8 relatórios, e de acordo com o CID
03.01.08.030-5, o Matriciamento de Equipes da Atenção Básica dispõe-se em relação ao
“apoio presencial sistemático às equipes de atenção básica que oferte suporte técnico à
condução do cuidado em saúde mental através de discussões de casos e do processo de
trabalho, atendimento compartilhado, ações intersetoriais no território”.
Segundo CID 03.01.08.039-9, o Matriciamento de equipes dos pontos de atenção da
urgência e emergência, e dos serviços hospitalares de referência para atenção a pessoas com
sofrimento ou transtornos mentais e com necessidades de saúde decorrente do uso de álcool,
17

crack e outras drogas propõe “apoio presencial sistemático às equipes dos pontos de atenção
da urgência e emergência”, sendo observado em 7 relatórios.
As ações de redução de danos, conforme o CID 03.01.08.031-3 são um "conjunto de
práticas e ações [...] que buscam minimizar danos de natureza biopsicossocial decorrentes do
uso de substâncias psicoativas” [...]. Neste sentido, torna-se “possível pensar modos de
reduzir os eventuais prejuízos que o uso das drogas vem acarretando a esse indivíduo, e como
apresentar alternativas de uso menos prejudicial à sua saúde” (MIRANDA; EIDELWEIN,
2017). Este procedimento foi observado em 3 relatórios.

RAAS
10
10
9
8 7
7
6
5
4 3
3
2 1
1
0
Atendimento Atendimento familiar Atendimento Promoção de
individual de paciente em centro de atenção domiciliar para contratualidade no
em centro de atenção psicossocial paciente em centro de território
psicossocial atenção psicossocial
e/ou familiares

Fonte: Adaptado pela autora, 2020.

De acordo com o CID 03.01.08.020-8, o atendimento individual de paciente em centro


de atenção psicossocial é a ação de “atendimento direcionado à pessoa, que comporte
diferentes modalidades, responda as necessidades de cada indivíduo”, este procedimento foi
realizado em 10 relatórios.
Segundo o CID 03.01.08.022-4, o atendimento familiar em centro de atenção
psicossocial realiza “ações voltadas para o acolhimento individual ou coletivo dos familiares e
suas demandas”. Este procedimento foi prestado em 1 relatório.
De acordo com o CID 03.01.08.024-0, o atendimento domiciliar para pacientes de
centro de atenção psicossocial e/ou familiares desempenha “atenção prestada no local de
morada do indivíduo e/ou familiares”. Este procedimento foi exercido em 7 relatórios.
A promoção de contratualidade no território é adesão ao atendimento e
acompanhamento de usuários aos serviços especializados prestados pelo SUS, este
procedimento de inclusão no CAPS AD foi efetuado em 3 relatórios.
18

Com iniciativa do CAPS AD e juntamente a equipe técnica do PET Saúde


Interprofissionalidade da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), este sendo fruto
de uma parceria entre a UNISUL, Secretaria Municipal de Saúde de Palhoça, Ministério da
Saúde e Ministério da Educação, foi elaborado um e-book intitulado de “Prevenção ao uso de
Álcool e Drogas”, com o objetivo de apresentar serviços especializados da rede e desta forma,
viabilizar o acesso aos usuários e familiares nos serviços especializados através do
reconhecimento dos serviços, demandas e demonstrar a dimensão da ação profissional do
Serviço Social junto à área de saúde mental.
Neste sentido, a seção I do e-book pontua o conceito de saúde mental, considerando
sua dimensão multifatorial e expõe as concepções dos padrões de uso, caracterizado pelo
Padrão de Uso moderado/recreativo/social e Padrão de Uso abusivo/problemático/nocivo. Em
seguida, foram ponderados os conceitos de síndrome de dependência e síndrome de
abstinência, e descrito as classificações das drogas, como drogas ilícitas e drogas lícitas.
Tendo em vista que a saúde se tornou direito de todos e dever do Estado e da necessidade de
acesso de ações interdisciplinares a todos os serviços de promoção e recuperação da saúde, a
Resolução nº 218, de 06 de março de 1997 reconheceu os assistentes sociais (entre outros
profissionais) como profissionais de saúde de nível superior.
A seção II apresenta a estrutura da Rede de Cuidados em Saúde Mental, sendo que a
Política Nacional de Saúde Mental é ratificada através da Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001
que “dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental” e compreende estratégias e diretrizes que
são adotadas para a organização da assistência as pessoas com necessidades de tratamento no
âmbito da saúde mental. Posteriormente, foram relatados as principais instrumentalidades e
instrumentos técnico-operativos utilizados na intervenção de saúde mental pelo Serviço
Social, os desafios e estrutura de atendimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
Na seção III foi apresentado as Unidades de Atenção Primária à Saúde (Unidades
Básicas de Saúde), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS).
O e-book será disponibilizado para download no canal do Youtube do PET
Interprofissionalidade, será remetido para as equipes de Saúde da Família e a todas as
Unidades Básicas de Saúde do Município de Palhoça por uma plataforma de comunicação
interna entre os serviços da rede local, deste modo, será divulgado e apresentado aos usuários
dos serviços prestados no SUS.
19

O processo de estudo das demandas e sua forma de mediação consolida as ações


consideradas pelo Projeto Ético Politico Profissional (1993) que evidencia a busca do serviço
social pela promoção dos direitos e busca da dignidade humana, considerando o sujeito como
agente de seu processo histórico. Neste processo pode-se observar a atuação efetiva do
Serviço Social, com a contribuição acadêmica no entendimento e mediação das demandas,
bem como na elaboração do e-book onde a função foi de levantamento de informações,
elaboração de materiais, enfim, contribuição para a disseminação dos direitos e do saber que
pode tornar o ser social livre de toda e qualquer dependência.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se observa ao longo do registro do artigo, há um conjunto de demandas que


caracterizam que a situação familiar do dependente químico envolve demandas que
configuram a corresponsabilização de uma rede de garantia de direitos para que se possa
promover o que legalmente se preconiza.
As equipes de atuação dos CAPS AD tornam evidente que a dimensão de atuação
biopsicossocial requer que sejam ampliadas em número e qualidade os serviços prestados a
este segmento, considerando para além do tratamento em si, seu processo de reinserção social
e o preparo de sua família para que sejam compreendidas as demandas essenciais deste
contexto familiar, sendo mediadas conforme as políticas de direitos.
Ao que se observa, o contexto familiar é desafiador no âmbito do atendimento do
CAPS AD e exige das equipes profissionais diferentes saberes para que possam consolidar a
atenção muitas vezes esperada. Por outro lado, há muitas famílias que se colocam, por
diferentes motivos no contexto da negligência, sendo elas próprias as principais demandantes
do processo de atenção e acompanhamento para que o dependente não recaia sobre a
dependência no processo de tratamento.
Considerando os indicadores e informações levantadas, pode-se concluir que as
famílias requerem grande e ampliada atenção por parte das políticas públicas uma vez que sua
atenção se estende por diferentes conflitos e demandas que não podem ser mediados por uma
única politica.
Por outro lado, para além das políticas publicas, a sociedade deve compreender o
desafio do processo da dependência química e colocar-se como agente cooperador evitando
processos discriminatórios e ainda mais fragilizadores destes grupos, destituindo-lhes, por
20

muitas vezes, o reconhecimento de que são famílias e requerem o tratamento necessário para
continuidades de suas vidas e de seu processo de recuperação.

6. REFERENCIAIS TEÓRICOS

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