Amanda Dal Piva Soares TCC
Amanda Dal Piva Soares TCC
Amanda Dal Piva Soares TCC
Abstract: This article seeks to understand social work with the family demands of drug addicts, based on the
experience of a curricular internship in social work carried out with CAPS AD in the city of Palhoça/SC. It is
structured, in terms of objectives, from an exploratory, bibliographic and documentary research method, with a
quantitative and qualitative approach. Reflects on the representation of chemical dependency, the rights policies
to be consolidated in this segment, with emphasis on the family care process and its demands, portrays the CAPS
AD in the process of treating the addict and presents the creation of an e-book prepared together with PET-Saúde
in the municipality of Palhoça/SC. In this process of treatment for drug addicts, social work is inserted as a
mediating agent capable of recognizing family dynamics and demands to consolidate different strategies so that
the family (re) integration process is motivated considering their different needs for that.
1. INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
2
Professora orientadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade
do Sul de Santa Catarina – UNISUL.
2
2. REFLEXÕES TEÓRICAS
De acordo com Altafin (2008) a saúde deixa de ser promovida como benefício da
Previdência Social, passando a ser direito de cada cidadão e dever do Estado, mesmo não
realizando a contribuição previdenciária.
Com o orçamento da Seguridade Social, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi
financiado devidamente através de recursos da União, Estados e Municípios, sendo instituído
pela Constituição Federal de 1988 e consolidado pelas Leis 8.080, de 19 de setembro de 1990
e 8.142, de 28 de dezembro de 1990, surge como um direito universal a população sendo um
sistema único, integral, descentralizado, público e participativo de assistência à saúde, tendo
funções de regulação, fiscalização, controle e execução. Apresenta o objetivo de, segundo art.
5 da Lei 8.080, como pontuado por Carvalho (2013, p. 11):
Identificar e divulgar os condicionantes e determinantes da saúde; formular a
política de saúde para promover os campos econômico e social, para diminuir o
risco de agravos à saúde; fazer ações de saúde de promoção, proteção e recuperação
integrando ações assistenciais e preventivas.
Em razão das diretrizes do SUS ser a integração dos atendimentos em saúde visando a
regionalização e descentralização dos serviços bem como a necessidade de estipular a
disposição e organização da Rede de Atenção à Saúde, foi decretado a Portaria n° 4.279, de
30 de dezembro de 2010, do qual “estabelece diretrizes para a organização da Rede de
Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)” (BRASIL, 2010).
Desta forma, é pactuado a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com uma direção de
trabalho de modo integrado com os demais setores e serviços, promovendo a efetivação dos
atendimentos e o fortalecimento dos vínculos do usuário e familiares. De acordo com o art. 5
da Portaria nº 3.088, a RAPS é composta pelos seguintes elementos:
I - atenção básica em saúde, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) Unidade Básica de Saúde;
b) equipe de atenção básica para populações específicas:
1. Equipe de Consultório na Rua;
2. Equipe de apoio aos serviços do componente Atenção Residencial de Caráter
Transitório;
c) Centros de Convivência;
II - atenção psicossocial especializada, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) Centros de Atenção Psicossocial, nas suas diferentes modalidades;
III - atenção de urgência e emergência, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) SAMU 192;
b) Sala de Estabilização;
c) UPA 24 horas;
d) portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro;
e) Unidades Básicas de Saúde, entre outros;
IV - atenção residencial de caráter transitório, formada pelos seguintes pontos de
atenção:
a) Unidade de Recolhimento;
b) Serviços de Atenção em Regime Residencial;
V - atenção hospitalar, formada pelos seguintes pontos de atenção:
a) enfermaria especializada em Hospital Geral;
b) serviço Hospitalar de Referência para Atenção às pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas;
VI - estratégias de desinstitucionalização, formada pelo seguinte ponto de atenção:
a) Serviços Residenciais Terapêuticos; e
VII - reabilitação psicossocial (Ministério da Saúde, 2011).
seu cotidiano” (MAYNART et al, 2014), a fim de possibilitar a visualização das demandas
apresentadas como efetuar encaminhamentos para outros serviços e redes, se necessário.
Neste sentido, de acordo com Chupel e Mioto (2010, p. 52) o acolhimento é realizado
tendo em vista três objetivos específicos:
a) para garantir o acesso do usuário aos mais diversos direitos sociais;
b) a fim de construir uma relação de confiança tal, que permita a criação de vínculos
e;
c) para que informações sejam captadas a fim de subsidiar as decisões acerca das
intervenções a serem realizadas.
o em sua totalidade, de modo que pode ocasionar melhora da qualidade de vida no aspecto
psicológico, familiar e social. Nesta perspectiva, é pontuado por Marcomim e Maciel (2016,
p. 72) que “o trabalho articulado nas redes permite a criação de espaços onde as práticas de
cooperação constituem um meio para encontrar saídas e soluções para a intervenção na
realidade social complexa”. Neste contexto da dependência química o processo de
reconhecimento e reintegração dos vínculos familiares se faz necessário como forma de
subsidiar a reinserção social pós tratamento.
A família é uma instituição social historicamente condicionada e dialeticamente
articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto pressupõe compreender as
diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em diferentes lugares,
além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço social e num
mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sempre numa
perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos cristalizados
para se refletir as possibilidades em relação ao futuro (MIOTO, 1997, p.128).
3. METODOLOGIA DE ESTUDO
Este processo constituiu-se a base de estudo das demandas familiares que eram
registradas no dia a dia do processo de trabalho.
4. RESULTADOS DO ESTUDO
Os Caps, regulamentados pela Portaria n.º 336/2002 devem ser compostos por uma
equipe multiprofissional, e esses profissionais devem trabalhar com perspectiva
interdisciplinar, sendo responsáveis pela unidade durante todo o seu período de
funcionamento, o que inclui criar uma ambiência terapêutica acolhedora (BRASIL,
2002, apud BERNARDI; KANAN, 2015, p. 1106).
reinserção social, bem como desenvolver articulações entre serviços para a garantia integral e
a defesa dos direitos aos usuários.
Dentre as múltiplas expressões da questão social, é possível observar no CAPS AD a
exclusão social dos usuários, seja no âmbito familiar ou no mercado de trabalho, dificuldade
na promoção dos direitos sociais, desemprego, fragilidade nos laços familiares, desamparo
social e discriminação devido à dependência e ao uso de substâncias.
Conforme o documento Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de
Saúde, para o assistente social atuar de forma eficaz na saúde é necessário:
Estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que
lutam pela real efetivação do SUS;
Conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes
sociais que interferem no processo saúde-doença;
Facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e
da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa
não submeter à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos
governos que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido
no projeto de Reforma Sanitária;
Buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da
atenção em saúde;
Estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a
articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos
serviços e do atendimento às necessidades sociais;
Tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde,
espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de
saúde nas decisões a serem tomadas;
Elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica
e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre
temáticas relacionadas à saúde;
Efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar
a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das
políticas sociais, ampliando os canais de participação da 9 população na formulação,
fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos
conquistados (CFESS, 2010, p. 30).
se configurar como conteúdo transversal que incide sobre demandas, requisições ou normas
institucionais cotidianas, das quais a/o assistente social participa” (Ibid, 2016, p. 13). Desta
forma, o assistente social pode interferir em defesa dos direitos dos dependentes químicos
quando presenciar situações preconceituosas e negligentes como citados pelo caderno
“Assistente Social no combate ao preconceito e o estigma do uso de drogas” elaborado pelo
Conselho Federal de Serviço Social (loc. cit):
abscessos causados por uso injetável de psicoativos que são drenados sem o uso de
anestésicos locais, que poderiam reduzir a dor;
prolongamento do tempo de espera para atendimento, quando se identifica alguma
alteração de comportamento atribuída ao consumo de psicoativos;
realização de procedimentos sem o devido esclarecimento à/ao interessada/o,
violando princípios éticos de cuidados à saúde, pela suposição de que o “consumo
de psicoativo” anula a autonomia e a capacidade de decisão da/o paciente;
desrespeito e banalização das demais necessidades de saúde da/o paciente [...];
resistência e negligência na implementação das abordagens de Redução de Danos
[...];
adoção de medidas e procedimentos que contrariam os princípios e diretrizes da
Reforma Psiquiátrica [...]
Esta visão também norteia o presente artigo que compreende a questão a drogadição
como uma questão de luta coletiva, societária e ininterrupta.
O presente artigo é resultado da minha experiência no campo de estágio curricular em
Serviço Social no CAPS AD do município de Palhoça/SC. A partir das dimensões teórico-
metodológica, ético-político e técnico-operativo do Serviço Social, este artigo tem o objetivo
de apresentar o levantamento dos procedimentos mais utilizados na ação acadêmica no CAPS
AD município de Palhoça/SC. Neste sentido, buscou-se verificar as demandas do trabalho
realizado pelo Serviço Social na instituição, apresentar as atribuições profissionais dos
assistentes sociais desenvolvidas com os usuários dependentes químicos na política de saúde.
O levantamento partiu do estudo de 20 relatórios de atendimento dos usuários do
período de setembro de 2019 a fevereiro de 2020. Os procedimentos analisados são o Boletim
de Produção Ambulatorial Consolidado (BPA-C) e Registro das Ações Ambulatoriais de
Saúde (RAAS), estes inclusos no Sistemas de Informação em Saúde (SIS), sendo um conjunto
de meios eletrônicos, onde são realizados registros e avaliações dos beneficiários dos serviços
do SUS. A Portaria GM n. 3.462 de 11 de novembro de 2010 “estabelece critérios para
alimentação dos Bancos de Dados Nacionais dos Sistemas de Informação da Atenção à
Saúde” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O Boletim de Produção Ambulatorial Consolidado (BPA-C) segundo o Ministério da
Saúde (2016) é um “aplicativo no qual se registram os procedimentos realizados pelos
prestadores de serviços do SUS, no âmbito ambulatorial de forma agregada”.
O Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) visa qualificar as ações
realizadas e registros acerca da prática profissional. De acordo com a Portaria nº 854, de 22 de
agosto de 2012 tem como objetivo “registrar mensalmente as ações de saúde realizadas
16
BPA-C
20
20
18
16
14
12
10 8
8 7
6
4 3
2
0
Ações de articulação Matriciamento de Matriciamento de Ações de redução de
de redes intra e inter equipes da atenção equipes dos pontos de danos
setoriais básica atenção da urgência e
emergência, e dos
serviços hospitalares
de referência
Como se observa acerca dos resultados, foi analisado que as ações de articulação de
redes intra e inter setoriais foi o procedimento técnico mais utilizado, sendo constatado nos 20
relatórios, visto que estes relatórios examinados são de articulação entre o Sistema de Justiça
e o Conselho Tutelar. Conforme a descrição do CID 03.01.08.025-9, são “estratégias que
promovam a articulação com outros pontos de atenção da rede de saúde, educação, justiça,
assistência social, direitos humanos e outros, assim como os recursos comunitários presentes
no território”. Neste sentido, conforme pontuado por Silva e Gomes (2016) a articulação entre
redes de serviços é expressa na rotina da ação profissional, pois esta prática se torna
fundamental para a resolução de outras demandas específicas.
Este procedimento foi constatado em 8 relatórios, e de acordo com o CID
03.01.08.030-5, o Matriciamento de Equipes da Atenção Básica dispõe-se em relação ao
“apoio presencial sistemático às equipes de atenção básica que oferte suporte técnico à
condução do cuidado em saúde mental através de discussões de casos e do processo de
trabalho, atendimento compartilhado, ações intersetoriais no território”.
Segundo CID 03.01.08.039-9, o Matriciamento de equipes dos pontos de atenção da
urgência e emergência, e dos serviços hospitalares de referência para atenção a pessoas com
sofrimento ou transtornos mentais e com necessidades de saúde decorrente do uso de álcool,
17
crack e outras drogas propõe “apoio presencial sistemático às equipes dos pontos de atenção
da urgência e emergência”, sendo observado em 7 relatórios.
As ações de redução de danos, conforme o CID 03.01.08.031-3 são um "conjunto de
práticas e ações [...] que buscam minimizar danos de natureza biopsicossocial decorrentes do
uso de substâncias psicoativas” [...]. Neste sentido, torna-se “possível pensar modos de
reduzir os eventuais prejuízos que o uso das drogas vem acarretando a esse indivíduo, e como
apresentar alternativas de uso menos prejudicial à sua saúde” (MIRANDA; EIDELWEIN,
2017). Este procedimento foi observado em 3 relatórios.
RAAS
10
10
9
8 7
7
6
5
4 3
3
2 1
1
0
Atendimento Atendimento familiar Atendimento Promoção de
individual de paciente em centro de atenção domiciliar para contratualidade no
em centro de atenção psicossocial paciente em centro de território
psicossocial atenção psicossocial
e/ou familiares
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
muitas vezes, o reconhecimento de que são famílias e requerem o tratamento necessário para
continuidades de suas vidas e de seu processo de recuperação.
6. REFERENCIAIS TEÓRICOS
AMARO, Sarita. Visita Domiciliar: Guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre:
AGE, 2003.
BASTOS, Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro et al. (Org.). III Levantamento Nacional
sobre o uso de drogas pela população brasileira. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ICICT, 528 p.,
2017.
CARVALHO, Gilson. A saúde pública no Brasil. São Paulo, v. 27, n. 78, p. 7-26, 2013.
CHUPEL, Cláudia Priscila; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Acolhimento e serviço social:
contribuição para a discussão das ações profissionais no campo da saúde. Revista Serviço
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COUTINHO, Dalsiza Cláudia Macedo; SANTOS, Rosemeire dos. O trabalho do/a assistente
social na saúde mental: atribuições privativas e competências profissionais em debate.
Revista EDUC, Faculdade de Duque de Caxias, v. 3, n. 1, jan./jun. 2016.
MARINHO, Angélica Mota. Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas: re-
construção de uma prática. 2010. 194 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Enfermagem,
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MAYNART, Willams Henrique da Costa; ALBUQUERQUE, Maria Cícera dos Santos de;
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todo-o-mundo-sofrem-de-transtornos-por-uso-de-drogas--enquanto-apenas-1-em-cada-7-
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