10-Out 2018 - Estafeta 261

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O ESTAFETA ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, OUTUBRO/2018 - ANO XXII - EDIÇÃO COMEMORATIVA - No 261

Paróquia São Miguel Arcanjo – 130 anos


1888 / 2018
Procissão de São Miguel Arcanjo. Foto 1940.
Página 2 O ESTAFETA Piquete, outubro de 2018

Imagem - Memória

Foto Arquivo Pro-Memória


Graças ao trabalho de leigos, homens e mulheres, a paróquia foi mantida viva – uma comunidade de comunidades. Foram muitos os cristãos leigos que se
devotaram à Paróquia de São Miguel ao longo desses 130 anos. Nomeá-los seria impertinente. Fica a gratidão. Foto de 1900.

Paróquia de São Miguel: comunidade de comunidades


Gratidão. Esta é a palavra-chave que deverá ficar gravada no ensinou que a “memória cristã é o sal da vida, voltar para ir para
coração e na memória dos piquetenses nesta data jubilar em que se frente: devemos recordar e contemplar os primeiros momentos nos
comemoram os 130 anos de fundação da Paróquia de São Miguel. quais encontramos Jesus”. Assim, fazer memória de nossa Paróquia
Somos gratos ao Espírito Santo, que manteve nossa comunidade é resgatar desde o início das obras de construção da antiga capela
animada, unida na fé, perseverante e fiel aos ensinamentos de Cristo. de São Miguel, que se tornou o centro catalisador das aspirações da
Ao longo de sua história, a Paróquia de São Miguel passou por comunidade, que nela buscava tanto o conforto espiritual quanto o
momentos de maior ou menor fervor, principalmente nas primeiras temporal. Recordar é preciso. Devemos sempre fazer memória, pois
décadas após sua criação, devido à carência de padres na Diocese e, esquecemos facilmente o passado, relicário de nossas referências. E
consequentemente, de um presbítero que assumisse a Paróquia de quem não tem história não tem vida, não tem referências pessoais e
Piquete. Por muito tempo ficamos sem padre colado, o que só veio nem herança. Como nos lembra sabiamente Frei Betto, dominicano,
a acontecer em 1934 com a vinda do padre João Guimarães. Apesar importante pensador e escritor, “esquecer é a pior forma de fazer
da falta de um religioso fixo à frente da Igreja, os paroquianos não desaparecer. Aquilo sobre o que ninguém fala, escreve, canta ou
perderam o espírito de comunidade. Graças ao trabalho de leigos, celebra em seus ritos deixa de existir. Um homem pode morrer,
homens e mulheres, a paróquia foi mantida viva – uma comunidade mas seus descendentes guardam a memória de sua vida e de alguma
de comunidades. Havia encontros semanais na Matriz para reza do forma ele sobrevive; porém,se todos morrem definitivamente, não
terço e outros ofícios. Lá o povo se sentia acolhido, partilhava seus saberemos valorizar o precioso presente, presente este que entrelaça
anseios e angútias e renovava as esperanças. Leigos orientavam para passado e futuro no dia a dia das experiências”. Evidencia-se aí a
a prática da comunhão e da importância de sermos Igreja. Foram importância de resgatarmos nossa história e preservarmos o que
muitos os cristãos leigos que se devotaram à Paróquia de São Miguel pelos nossos predecessores foi construído. Cabe-nos, nesta data
ao longo dos anos. Nomeá-los seria impertinente. Fica a gratidão. jubilar, exaltar o espírito de comunidade que sempre norteou nossa
Celebrar este jubileu é um convite para se recordar e deixar fluir, população e que manteve unidas e ativas nossa Igreja e a Paróquia
através do coração e da mente, tudo de bom vivenciado em nossa de São Miguel.
Paróquia durante estes cento e trinta anos. É momento para agradecer A Fundação Christiano Rosa rejubila-se com a comunidade
a Deus por tê-la mantido unida, de maneira que os ensinamentos católica piquetense nesta data festiva, fazendo votos para que
de Cristo puderam ser anunciados, testemunhados e vividos pelos a Paróquia de São Miguel se mantenha fiel aos valores cristãos
paroquianos. Agora, é preciso fazer memória desse encontro recebidos de nossos antepassados, vendo neles o tesouro mais valioso
com Cristo, que aconteceu com nossos antepassados e continua de que se possa gloriar junto dos contemporâneos e a herança preciosa
acontecendo diariamente. Em recente homilia, o Papa Francisco nos a deixar para as gerações futuras.
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GENTE DA CIDADE
Pe. Francisco Filippo
Desde os primórdios de nosso povoa- novembro de 1888; deixo de fazer inven-
mento, a religiosidade de nossos moradores tário dos ornamentos da igreja e digo que
foi uma constante. Essa religiosidade levou fiz aquisição de uma casula de cor branca
os moradores a se organizarem por meio que custou 100$000, de uma capa roxa de
de uma petição, conseguindo com que o custo 75$000, de uma âmbula para levar o
bispo de São Paulo, Dom Sebastião Pinto viático; achei 3 toalhas de altar muito velhas,
do Rego, em dezembro de 1864, concedesse hoje tem bastante delas e também toalhas
faculdade para que se erigisse no bairro do de mãos.
Piquete uma Capela sob a invocação de São Deixo esta igreja para ir paroquiar a igre-
Miguel. Com a participação comunitária, a ja de Santo Antônio da cidade de Machado,
Capela foi construída, em taipa de pilão, sul de Minas.
muito simples, sem aparatos, sem as torres, Declaro, portanto, que fui o primeiro
pobre como o bairro e sua população. Com o pároco desta Freguesia e cumpri os meus
término das obras, a Capela passou a ser uma deveres para com todos e em tudo o que me
referência na paisagem e para os moradores. pertencia. Fico sempre grato a todo o povo
Estes buscaram e conseguiram com que a por ter-me tratado sempre e sempre bem,
Assembleia Legislativa da Província de São especialmente a família do fundador desta
Paulo, por lei de número 10, de 22 de março igreja; enfim, deixo de nomear as famílias
de 1875, elevasse à categoria de freguesia para não ofender a modéstia das mesmas.
o bairro do Piquete, tornando a Capela sua Levo saudade – Freguesia de São Miguel
sede. Para a freguesia foi adotado o nome do Em 1868, o Pe. Francisco já se encon- do Piquete, 20 de abril de 1890.”
padroeiro – São Miguel, cuja devoção muito trava no Brasil. Seu irmão caçula, João, Pe. Francisco Filippo faleceu em 1909,
antiga aumentava dia a dia. a seu exemplo, também seguiu a carreira em Lagoinha e está sepultado no Cemitério
Em outubro de 1888 tornamo-nos Pa- religiosa. Ordenado em 1872, logo veio para dos Passos, em Guaratinguetá. Seu irmão
róquia, por portaria de D. Lino Deodato de o Brasil, influenciado pelo nosso Francisco, caçula, João, o Monsenhor João Filippo de
Carvalho, bispo de São Paulo. A população que, numa carta a ele endereçada, disse-lhe Guaratinguetá, mandou gravar na lápide de
ansiava, cada vez mais, pela chegada do seu “que este país era um vasto campo de ação sua sepultura: “Aqui jazem os restos mortais
primeiro padre. pastoral e apostólica, com muita pobreza de do modelo dos sacerdotes, Padre Francisco,
Eis que a 1o de novembro, com grande padres e muita gente na pobreza.” falecido a 28 de novembro de 1909. Des-
festa, chega a Piquete nosso primeiro vigá- Pe. Francisco fixou-se aqui no Vale do canse em paz.”
rio, Pe. Francisco Filippo – natural de San Paraíba, trabalhando em Paraibuna antes Os irmãos Francisco e João Filippo
Vincenzo de La Costa, província de Cosen- de vir para Piquete, onde permaneceu por atravessaram o oceano e aqui, no Vale do Pa-
za, Itália. De família religiosa, era um dos curto período, partindo em 1890 e deixando raíba, deram testemunhos de fé; trabalharam
quatro filhos do casal Antônio Maria Filippo registrado no Livro do Tombo a pobreza com ardor e coragem evangelizando. Vieram
e Teresa Filippo. da Paróquia de São Miguel: “Declaro que pobres e viveram pobres, e generosamente
tomei conta desta Paróquia no dia 1o de contribuíram para o crescimento espiritual
de nossa população.
Fotos Arquivo Pro-Memória
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Quis ut Deus
Miguel é símbolo de força e determina- ção moderna, os católicos assimilaram os símbolos desta união e da força necessárias.
ção. Comandante, como arcanjo, das hostes veículos usados como propagação de fé: o Nossa comunidade tem, com a Igreja, na
celestes, combateu Lúcifer, o príncipe da luz, rádio, a TV, a internet. A vibração, a cor, os esperança e no desejo de vida, em Miguel,
que, por possuí-la, quis se igualar a Deus, cânticos, a participação geral tornaram-se um arauto de vitória.
não o aceitando como insuperável, que não formas de interligação. De maneira ecumênica, ou seja, de
se iguala, onipotente, o todo poderoso e Os dias de hoje são simbolizados por pa- aproximação entre os cristãos, uma nova
onisciente, o que tudo sabe. lavras importantes como União, Solidarieda- era nos promete, a todos, caminhos nos
Na crônica celeste, Miguel, consciente de e Paz. As pessoas buscam mais o sagrado quais os primeiros passos, como os que
de sua missão de intermediário entre Deus à medida que a vida lhes parece difícil. Os indicados por Cristo a Simão Pedro, re-
e os homens, pois assim são todos os an- arcanjos são invocados em conjunto como presentaram a fé no futuro e na consoli-
jos em suas hierarquias, num tempo não Foto Laurentino Gonçalves Dias Jr. dação de uma ideia, não como pedras de
determinado, subjugou o antes luminoso à tropeço, mas de construção em terra boa
incerteza das trevas. É, portanto, o motivo e de sementes férteis. E é especialmente
pelo qual a representação do vitorioso é Mateus que nos conduz neste Terceiro
a de um ser masculino jovem, de espada Milênio e na busca da justiça quando
em punho e de uma pequena balança, para nos propõe amar não só oa amigos, mas
avaliar os atos humanos. também os inimigos, a sermos luzes em
No período colonial, a imagem dele corpos luminosos, a termos a certeza da
era uma das mais invocadas. Aparece, fre- providência na multiplicação de peixes
quentemente, nos oratórios, capelas e nas e pães e da exuberância da vinha. Afinal,
canastras dos viajantes. fomos escolhidos entre os chamados
Tornou-se orago, santo protetor e pa- e participantes do tesouro acumulado
droeiro de Piquete. Guardião de nossas no coração como comprometimento
colinas de pé de serra, sinalizadoras dos comunitário.
caminhos difíceis, onde o ouro e as riquezas E é sob a inspiração desse comprometi-
circularam e desafiaram as cobiças e os mento que os cristãos de Piquete, sob as asas
jogos de poder. protetoras de Miguel Arcanjo, querem agir
Em Piquete, comemoramos o 29 de como cidadãos participantes das celebrações
setembro com a tradição da Igreja, hoje dos 130 anos de nossa Paróquia. Os fogos
vigorada com as participações comunitárias que, com certeza espocarão, e suas luzes na
mais evidentes à busca da modernidade. noite densa, não serão efêmeros.
Impactados pelos meios de comunica- Acreditamos nessa conquista.

A Missa Votiva de São Miguel


O verdadeiro Piquete ali está, da gente e potestades se postam vigilantes na função de atenção, afeto e processos ocupacionais.
simples que acredita na força da fé. intermediária entre Deus e os homens, estan- O semblante simples e até humilde de mui-
Devotos convictos do Anjo padroeiro do os arcanjos, em sua representatividade, tos não esconde algumas mágoas, carências
prestam-lhe homenagem cada dia 29 do mês liderados por Miguel, o que combateu o diversas e o apelo silencioso e disfarçado
comparecendo à missa sempre celebrada à arcanjo da Luz, Lúcifer, insidioso na busca de busca de ajuda. Para tanto, São Miguel
tarde, e esperando as bênçãos com a asper- do poder. Assim, principalmente, alinham-se é invocado, e a figura triunfante e guerreira
são da água benta. Levam seus “santinhos” nessa defesa. Invoca-se São Miguel e seu do Anjo protetor pode ser um dos elos finais
(imagens), roupas, chaves e demais objetos lema da espada chamejante: Quem como de uma corrente de sobrevida encadeada de
de devoção ou culto para benzimento. Deus? O coral inflama as vozes. A missa lutas, derrotas e vitórias.
Comportam-se com muito empenho flui. A homilia é desenvolvida. O final, re- Para isso lá está o povo. E são sempre
presentes à cerimônia e dividem os espaços gozijado pelas bênçãos, e a feliz volta para os mais simples devotos os que lá se encon-
da nave, já pequenos para a assistência que casa. Não sem ter tempo de cumprimentar tram. O exercício espiritual é realizado com
sempre é numerosa. os amigos, trocar ideias e fazer comentários. dedicação quando é proposto um intervalo
Essa manifestação religiosa foi adotada Assuntos não faltam. nas ocupações domésticas, momento esse
nos anos mais recentes. Antes era apenas a É o momento dos piquetenses natos. O principalmente iluminado por uma busca do
novena e o dia da festa, com missa e procis- povo aproveita para alargar o espaço social supremo bem e a promessa de um poderoso
são, a quermesse, e pronto. Mas, sem dúvida, expandindo-se pelas calçadas laterais exter- prêmio. Entretanto, parece-me que, atual-
eventos de destacada aglutinação social. nas. Afinal, é uma tradição que vem sendo mente, escassearam um pouco as pessoas.
Para a missa votiva mensal gente vem mantida e deve ser alimentada por um em- Escassearão as esperanças?
de longe, das vilas, dos bairros, dos mor- penho valioso, porque pode ser vista como Não precipitemos conclusões. Um
ros, às vezes das cidades vizinhas. Houve força coesiva da comunidade. Maior ainda se fato é verdadeiro: os fiéis da missa voti-
época em que se rezavam orações próprias aproveitado o momento para difundir educa- va a São Miguel têm posturas diferentes
dos exorcismos pela invocação dos santos ção de base comunitária, orientação de modo dos que praticam frequência aos atos das
anjos, especialmente Miguel, o defensor geral e, apesar do horário vespertino das 15 missas dominicais e dos dias comuns. É a
das hostes celestes contra os anjos decaídos horas em dias de trabalho, promover orien- fé que os anima acima de tudo. Refletida
transformados em Satanás e suas coortes. tação de jovens face às suas famílias, prin- também nos cumprimentos finais, antes
Afinal, hierarquias angelicais de coros cipalmente quando a difusão de costumes da dispersão.
de querubins, serafins, tronos, dominações perniciosos ganha guarida entre os carentes Dóli de Castro Ferreira
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Lançamento da Pedra Fundamental da Nova Matriz


No final dos anos a bom êxito as obras do
30, um amplo projeto de novo templo católico.
ampliação da Fábrica de Sobre o acontecimen-
Pólvora de Piquete levou to falaram o professor
à contratação de grande João Vieira Soares e o
número de operários. Cônego Gabriel Hiran,
Consequentemente, hou- encerrando com pala-
ve crescimento de nossa vras de estímulo o bispo
população. Iniciou-se diocesano. Essa visita
uma política social de encheu de ânimo os
assistência aos funcio- piquetenses. O assunto
nários e a construção de na cidade passou a ser
vilas operárias. Cresceu a futura matriz, e toda a
a cidade, com mudança população se mobilizou.
na geografia urbana e No mês seguinte,
dilatação de seu períme- no dia 20, reuniu-se a
tro, que se aproximou da comissão de senhoras
Mantiqueira. encarregadas da campa-
A Matriz de São Mi- nha para a construção da
guel, ao redor da qual o igreja. Foi constituída
primitivo núcleo urbano se desenvolveu, conduziu os trabalhos. O Ver. Prof. José tesoureira da comissão Dona Carmem
tornou-se pequena. Armando de C. Ferreira saudou o homena- Amoroso, que prestou contas do total já
O crescente progresso e o aumento da geado. Após, falou o prefeito Luiz Vieira arrecadado no livro de ouro, isto é, Cr$
população católica exigiam a construção Soares, assumindo, a seguir, a tribuna, D. 157.000,00. Esse total correspondia às
de uma nova Matriz que fosse, ao mesmo José Melhado Campos, que proferiu grande doações dos senhores Oswaldo Coelho
tempo, demonstração da fé dos moradores peça oratória, concitando todos a trabalhar Nunes, Expedito Ferreira, José Bertolino
e atestado da força religiosa do povo. de mãos dadas pelo engrandecimento de Ribeiro, Vicente Freitas, Brigadeiro Ovídio
Assim, em junho de 1960, com auto- Piquete e da Religião, tudo pelo bem-estar Beraldo, Ismael Marque, Osvaldo Beraldo,
rização da Cúria Diocesana, foi adquirido do povo. Diocesano Ramos, Dr. José Amoroso, Dr.
um amplo terreno na Rua Cel. Luiz Relvas, Encerrando a Sessão, à saída do edifí- Vitório Amoroso, Antônio Teixeira Neto,
região central da cidade, para a construção cio, o vereador Gabriel Benfica Nunes falou Arthur Alves, José Gomes Siqueira, Ari
da nova igreja. Em outubro desse mesmo ao bispo do desejo e disposição de todos de Melo Franco, José Leite da Silva e
ano, quando da visita pastoral do 3o Bispo para ereção da nova matriz. Estabeleceu-se, José Crispim de Meireles. Foram estas as
de Lorena, D. José Melhado Campos, à logo, uma “mesa redonda”, demonstrando primeiras contribuições para as obras. Ao
Paróquia de São Miguel, a ideia da nova D. Melhado Campos sua grande compre- término da reunião, o pároco de Piquete,
matriz era ventilada a toda hora. Foi elabo- ensão e aquiescência. Pe. Gabriel Hiran, agradeceu o eficiente
rado para a ocasião um extenso programa Ficou então deliberado o lançamento trabalho da comissão e a boa vontade dos
do qual constou, além de crismas e ofícios da pedra fundamental para o domingo, dia que haviam colaborado para essa grande
religiosos, uma visita à parte social da 9 de outubro, às 11h. Essa solenidade con- obra. A partir daí, num trabalho constante,
FPV e às obras da sonhada Santa Casa. No tou com a presença de inúmeras pessoas e que teve à frente a carismática figura do Dr.
edifício da prefeitura instalou-se a Sessão autoridades civis, militares e eclesiásticas. José Amoroso, a população se empenhava
Solene, à qual compareceram autoridades Nessa ocasião, foi iniciada a campanha, cada vez mais para a construção de nossa
civis, militares e a comunidade. O presi- por um grupo de senhoras, para se angariar nova matriz.
dente da Câmara, Ver. Alony O. Soares, tijolos e outros donativos a fim de se levar AC
Fotos Arquivo Pro-Memória
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A Paróquia de São Miguel, em Pi


A Paróquia de São Miguel completa 130 família numerosa, que se tornaria uma das Houve um aumento da população es-
anos. Conhecer sua história e os caminhos mais importantes de Lorena. Outras sesma- crava, necessária para trabalhar a lavoura
percorridos por seus paroquianos ao longo rias foram doadas e novas famílias foram e novos povoadores fixaram-se ao longo
desses anos leva-nos às origens de Piquete, instaladas formando roças de subsistência. do caminho, com predomínio de famílias
à primeiras famílias que se instalaram por Em 1741, Lázaro Fernandes, que vivia mineiras.
estas terras e ao processo de evangelização afazendado na margem esquerda do Paraíba, A religiosidade dos moradores era gran-
que se deu entre os moradores e concorreu aproveitando uma antiga trilha dos Puris, de. Não havia pouso de tropeiros sem uma
para que se mantivessem unidos por meio abriu um caminho que, partindo de suas capelinha ou oratório. E a proximidade do
das palavras de Cristo. terras na Freguesia da Piedade, atingia o Bairro do Piquete com a Capela de Nossa
Para conhecer a história é preciso arraial serrano de Soledade do Itajubá, atual Senhora Aparecida suscitava a vinda de
recorrer a documentos antigos. Desde os Delfim Moreira. tropas e romarias que aqui se arranchavam.
primórdios de nossa colonização, a Igreja Com o aumento do trânsito por esse Esses romeiros, vindos de povoações do
teve papel fundamental como guardiã de caminho, os Puris foram cada vez mais re- Sul de Minas, formavam comitivas e vinham
memórias. Os livros de tombo das igrejas chaçados para a Mantiqueira e Sul de Minas. de longe, somando-se ao grupo pessoas de
matrizes são verdadeiros relicários de re- Em dezembro de 1770, desejou o Ca- diferentes paragens: marchavam sob sol,
gistros de dados históricos. Foi ao redor das pitão-General de São Paulo “formar uma chuva, sofrendo nas passagens dos rios
capelas que muitos lugarejos surgiram. Até a aldeia” com os Puris com o intuito de civilizá ou na aspereza das subidas mantiqueiras,
República, um núcleo populacional, para ser -los, doutriná-los na fé cristã e vesti-los com impulsionados pela fé.
constituído como Vila e receber autonomia, os “panos da honestidade” para que “fizes- Essa religiosidade levou os moradores,
teria necessariamente que passar pelas eta- sem nova entrada levando uma índia velha em 1864, a se reunirem através de uma peti-
pas de aglomerado, bairro e freguesia. Além para que ela persuadisse todos os índios do ção, encabeçada por Joaquim Vieira Teixeira
disso, devia ter um órgão fiscal provedor das seu povo que descessem e que formassem Pinto, visando à ereção de uma Capela no
necessidades para controle do movimento de uma aldeia com um pároco”. Assim foram Piquete sob a invocação de São Miguel, o
cargas e mercadorias – no caso de Piquete, o atraídos para o convívio civilizado dos que foi concedido por Dom Sebastião Pinto
registro ou barreira. Também deveria contar brancos numerosos indígenas designados do Rego, bispo de São Paulo.
com uma capela curada, com padre fixo e de- “administrados”, mas que, de fato, eram Conseguida a concessão para a constru-
vidamente provisionado, isto é, registrado no servos dos conquistadores do Hepacaré. ção da Capela, não era permitido erguê-la em
órgão eclesiástico hierarquicamente superior Arrancados de seu habitat, submetidos lugar ermo e despovoado, o que evidencia
– no nosso caso, a Diocese de São Paulo. Era às estranhas normas de trabalho e costumes, um adensamento populacional do Bairro.
a Igreja que, por meio da Paróquia, dirimia esse índios, desajustados, não encontraram A autorização dependia, sempre, da
as questões de âmbito público e privado. condições favoráveis para a sobrevivência. existência de uma povoação, pois, sem a
As terras que deram origem a Piquete Perdiam o gosto pela vida, tornavam-se ajuda dos moradores, era impossível levan-
pertenciam a Guaratinguetá. Eram, até o apáticos e, em grande parte, definhavam até tar uma capela.
final do século 18, habitadas pelo povo Puri. que a morte os libertasse. Com as obras de construção em anda-
Nômades, esses índios deixaram trilhas O caminho aberto em 1741, que passava mento, esta passou a ser local de encontros
abertas que cruzavam a Mantiqueira, a qual por onde hoje se encontra Piquete, era para sociais e centro aglutinador das aspirações
transpunham atrás de caça e pinhão. abastecimento das Minas de Itajubá e tor- dos moradores. Nascia o espírito comuni-
Com a descoberta do ouro no Sertão dos nou-se, com o passar dos anos, responsável tário na população, que discutia problemas
Cataguazes, em 1693, cresceu o movimento pelo intercâmbio comercial entre as provín- comuns e passavam a reivindicar melhoria
sertanista no Vale do Paraíba. Inúmeras cias de São Paulo e Minas Gerais. Por ele e progresso para o Bairro.
outras minas de ouro são descobertas. Por foi gradativamente aumentando o tráfego A comunidade passou a se articular
volta de 1703, a de Itajubá, próxima ao rio de tropeiros, boiadeiros, mascates que se visando ao crescimento e à autonomia po-
Santo Antônio, na vertente mineira da Man- arranchavam ao longo da estrada, próximo lítica. O primeiro passo dado foi a elevação
tiqueira. Em terras então guaratinguetaenses ao Registro (posto fiscal) aí instalado, em do Bairro à condição de Freguesia, o que
foi erguida, por volta de 1705, uma capela de 1764, para cobrança fiscal e evitar o desvio ocorreu em 22 de março de 1875.
Nossa Senhora da Piedade, junto ao porto de do ouro vindo das Minas Gerais. Muitos Entre os moradores, três lideranças
Guaypacaré. O adensamento populacional desses tropeiros se fixaram às margens da políticas, o major Joaquim Vieira Teixeira
em torno dessa capela concorreu para que estrada, tornando-se pioneiros no processo Pinto, seu irmão, Custódio Vieira da Silva,
ela fosse elevada à condição de Freguesia de povoamento na região. e o tenente José Mariano Ribeiro da Silva,
em 1718. As terras piquetenses passaram, Surgiram casas de vendas e negócios e estiveram à frente das obras de construção
então, a pertencer à Vila de Guaypacaré. Em os produtos de suas roças passaram a servir da igreja e na defesa dos anseios da comu-
1730, Antônio Domingues Pereira, um dos para troca com as tropas que vinham de nidade piquetense na Câmara de Lorena.
fregueses dessa igreja ganhou uma sesmaria Minas ou dos portos de Mambucaba e Parati. Custódio Vieira foi quem doou a pequena
na margem esquerda do Paraíba, próxima à Esse agrupamento humano deu origem imagem de São Miguel, em madeira, para
Mantiqueira, na região da barra dos ribeirões ao Bairro do Piquete, que teve sua popula- o altar mor da Capela. Por volta de 1886, a
Embaú, atual Rio Piquete, e Itabaquara. Aí ção aumentada com a chegada da cultura Igreja estava construída e já contava com
se instalou com sua mulher e criaram uma cafeeira à região. todos os paramentos litúrgicos e alfaias,

1936 1937 1909


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iquete: 130 anos de sua fundação


mas não tinha padre colado, apesar dos Desde a ida do padre Francisco Filippo, Tarcísio, Pe. Luiz Carlos, Pe. Cícero, Pe.
inúmeros pedidos da comunidade à Diocese. em 1890, não tivemos padre fixo na paró- Lázaro, Pe. João Bosco e, atualmente, Pe.
Um novo abaixo assinado com mais de cem quia. A chegada da congregação salesiana a Fernando Sampaio.
assinaturas foi encaminhado e a população Lorena fez com que esses religiosos dessem Não podemos nos esquecer da grande
finalmente atendida. assistência espiritual esporádica à Paróquia contribuição das mulheres no processo de
Vimos, anteriormente, que durante o Im- de São Miguel. Vez ou outra, um padre evangelização: professora Leonor Guima-
pério, devido à estreita ligação entre a Igreja redentorista vinha em missão assistir aos rães, Nair Porfírio, Maria de Lourdes Fer-
Católica e o Estado, a Freguesia tinha, além paroquianos. Na chegada do ano de 1900, o reira (dona Mariquinha), Ester Vieira Soares
de sua condição eclesiástica, a jurídica frente famoso missionário Pe. Bartolomeu Tadei, (irmã Maria Adelaide do Precioso Sangue),
ao poder civil. E era este poder civil que vem pregar em Piquete, difundir o culto ao dona Emília Marques de Almeida, Maria
traçava suas divisas territoriais e mantinha Sagrado Coração de Jesus e funda o Apos- Lucas e tantas outras...
sua sede na Capela, tornando-a adstrita às tolado da Oração. Num trabalho de mutirão Em 1948 chegaram as Filhas de Maria
autoridades de Lorena. Para a Freguesia foi com a comunidade, instala, no morro em Auxiliadora (as Irmãs Salesianas), que, por
adotado o nome do padroeiro, São Miguel. frente à Matriz, um santo cruzeiro, como anos, trabalharam evangelizando crianças
Em 7 de outubro de 1888, tornamo-nos marca da chegada do novo século. e minimizando as dores física e espiritual
Paróquia e já em 1º de novembro, com Durante anos, a paróquia de São Miguel dos piquetenses. As Irmãs mantiveram por
grande recepção popular tomou posse nosso esteve anexada ora à estola do Embaú, vários anos o orfanato Madre Maria Maz-
primeiro vigário, padre Francisco Fillipo, ora à de Lorena, quando éramos visitados zarelo. Obra salesiana mantida em Piquete
que, infelizmente, logo foi embora. Trans- esporadicamente por religiosos. O padre há mais de cinquenta anos é o Oratório São
feriu-se para a igreja de Santo Antônio, em que por mais tempo permaneceu assistindo Domingos Sávio.
Machado, no Sul de Minas Gerais. aos paroquianos foi José Arthur de Moura, Grande, ainda, foi o trabalho de muitos
A população aspirava à emancipação do vigário de Lorena. A ele a Paróquia deve a homens, legítimos exemplos de piedade
Bairro. Era preciso, então, uma matriz. O grande reforma, em 1928, da Matriz, que cristã, que devotaram parte de suas vidas
comendador Custódio Vieira da Silva cons- se encontrava com sua taipa e o telhado às obras da Igreja: José Vieira Soares, José
truiu, nas proximidades da igreja, uma olaria comprometidos. Chrispim de Meireles (Zequinha Meireles),
para fornecer tijolos para as torres laterais. Padre definitivo só tivemos a partir de Joaquim Sacristão, Salviano, Décio Guima-
Em maio de 1891, ocorreu, finalmente, a 3 de fevereiro de 1934, quando o padre rães, Joaquim Vaz, João Ramos e outros...
emancipação político-administrativa do João Marcondes Guimarães tomou posse Ao comemorarmos os 130 anos da
Bairro do Piquete, e a 15 de junho de 1891 da paróquia de Piquete. Com a chegada Paróquia de São Miguel, como parte de
tomaram posse os Intendentes da nova Vila do padre João, aos poucos foi crescendo um processo contínuo de evangelização,
Vieira do Piquete. No Natal desse mesmo a espiritualidade do povo e começaram a devemos resgatar e preservar as tradições e
ano, foram concluídas as torres da igreja. florescer as associações religiosas (Con- a cultura popular, ir ao encontro de nossas
Quando de sua emancipação, a Vila gregação Mariana, Pia União das Filhas de raízes, pois a evangelização só se dá com o
era muito pequena e pobre. Sua população Maria, Apostolado da Oração, Associação diálogo entre o evangelizador e a comuni-
urbana não ia além de seiscentas pessoas, de São José, Irmandade de São Benedito, dade detentora dessas tradições e da cultura.
com pouco mais de cento e vinte casas loca- Cruzada Eucarística Infantil), além do Nesse intercâmbio, o Evangelho é acolhido
lizadas próximo à igreja Matriz. “A pobreza grande incremento das obras assistenciais no cotidiano da vida do povo, de modo que
do lugar não permitia a vinda de vigário, e de caridade. Crescia, também, a catequese ele possa “expressar sua experiência de fé
porque nenhum sacerdote poderia aqui na igreja Matriz, nas capelas urbanas e nos em sua própria cultura”. É a “inculturação”.
viver por falta de recursos pecuniários que bairros rurais. Daí a importância de resgatarmos em
provessem sua subsistência, não obstante O substituto do padre João, padre nossas festas religiosas o seu lado popular
ser a população devota e muito religiosa e Oswaldo Bindão, continuou o belo trabalho folclórico. Além das procissões, as quermes-
concorrer particularmente para dar de comer de seu antecessor. Fez com que a seara, já ses com seus festeiros, leilões, bandas de
ao vigário”. cultivada, produzisse colheitas cada vez música... Essas festas sempre fizeram parte
A Igreja Matriz, apesar da ausência de mais abundantes, com maior presença e da “alma piquetense”.
padre, sempre foi o centro espiritual de Pi- participação dos fieis nos trabalhos comu- Se quisermos transformar a sociedade de
quete. Por outro lado, o catolicismo popular nitários. Fundou o jornal A Ordem, “dedi- Piquete, com mais amor, paz e vida plena,
sustentava-se autonomamente. cado aos interesses sociais e religiosos de e acabarmos com a violência e as injustiças
Sem o apoio doutrinal, passou a ocupar Piquete”. Mais tarde o jornal passou a ser o sociais, é preciso que arregacemos as man-
a primazia na vida religiosa do povo o culto órgão oficial da Diocese de Lorena. Depois gas, deixando de lado nosso imobilismo, e
dos santos. Essa prática era fortalecida por dele, muitos outros sacerdotes dirigiram comecemos a participar efetivamente em
uma antiga tradição e desenvolvia-se pelas a nossa paróquia: Pe. Septímio, Pe. José prol de uma sociedade mais justa e fraterna.
famílias nas casas, pelas comunidades de Braz, Pe. Eufrázio, Pe. Melquíades, Pe. Como diz São Tiago no capítulo 2, ver-
vizinhança, nas capelas e nas festas e quer- Mathias, Pe. Juca, Pe. João Hipólito (que sículo 26, “A fé sem obras é morta”. Hoje,
messes, aos santos de devoção (São Miguel, foi Bispo Diocesano de Lorena), Pe. João mais do que nunca, temos que traduzir a
São Sebastião, Santa Cruz, São José, São Batista, Pe. Hiran, os irmãos Pe. Joaquim nossa fé em ações concretas.
Benedito, São Bom Jesus etc). e Pe. José, Pe. Pedro, Pe. Alexandre, Pe. ACMChaves
Fotos Arquivo Pro-Memória

1909 1947 Década de 1940


Página 8 O ESTAFETA Piquete, outubro de 2018

A Paróquia de São Miguel e eu


Quando solicitado a escrever sobre o
O pulo do galo

Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr.


que significariam para mim os 130 anos da Palmyro Masiero
Paróquia de São Miguel, pensei que não teria
Contaram-me que no final do século 19
muito a escrever, pois não sou frequentador
houve um terremoto no sul de Minas, que
assíduo da Igreja em nossa cidade... Aceitei fez tremer todo o Vale do Paraíba paulista
pela felicidade de ter sido lembrado. Ao pen- e parte do litoral sul fluminense. Entretan-
sar, porém, no que a Paróquia de São Miguel to, creio que o efeito desse abalo sísmico
teve de importância para mim, percebi que chegou a Piquete com efeito retardado.
ela esteve em tudo em minha vida... Pela década de quarenta aconteceu
Meu amor por Piquete cresceu a partir do uma ventania aqui como jamais se havia
momento em que conheci melhor a história presenciado. Foi tão forte que ninguém
desta que é minha terra natal. E a cidade de conseguia andar pela cidade. Não se en-
Piquete só existe em função da existência xergava absolutamente nada. Com todas
da Paróquia de São Miguel. Explico: com a as ruas de terra, já imaginaram o “fog” de
expansão do então Bairro do Piquete, seus poeira? Pena que não me lembre disso.
Cortando um pouco o assunto, de uma
habitantes pleitearam e conseguiram, em
coisa me recordo; afirmavam que o saci
1864, autorização para a construção de uma
ficava no meio do redemoinho. E eu cria.
capela sob a invocação de São Miguel. Em
Duvidar pra quê?
1875 essa capela foi elevada à condição de Retornando. Um grande amigo, que
Freguesia, com o nome de Freguesia de São aos palcos com shows do Apollo 2001 no
está aí pra não me deixar mentir, mole-
Miguel do Piquete, em torno da qual se foi dia da festa... No dia 29 de setembro, do que na época da tal ventania, viu um fato
esboçando um núcleo urbano. A emancipa- bairro do Quilombo vinham meus tios para deveras espetacular. Diz ele que assistiu
ção, que viria, em 1891, portanto, teve suas a procissão e a missa solene. Minha mãe, ao vento arrancar um dos galos da torre
raízes com a construção da hoje carinhosa- costureira que era, tinha trabalho multipli- da matriz antiga, que saiu “voando” até o
mente chamada “Matriz Velha”... cado: além de atender as clientes, tinha de Santo Cruzeiro.
Pois então... Foi na Matriz Velha que aprontar roupas novas para todos de casa... Não adianta todo mundo negar que tal
meus pais se casaram e foi lá, também, que Na Matriz de São Miguel nova casaram- fato haja acontecido. Se meu amigo disse,
deles me despedi quando de suas exéquias... se meus irmãos e dois sobrinhos foram bati- está dito! Amigo a gente não questiona.
A Matriz Velha foi palco de muitas histórias zados. Meus pais comemoraram suas Bodas – Voou?
de Prata. Lembro-me muito bem da felicida- – Voou.
que vim a conhecer por meio de doces crô-
de deles, rodeados que estavam pelos filhos, – Então, tá voado!
nicas de autores piquetenses como Chico
Como existia um cruzeiro no adro da
Máximo, Yeyé Maziero, Dóli de Castro nora e genro... Tanto a missa das Bodas de
igreja, parlamentam que foi ali que o galo
Ferreira... Desde que li “O pulo do galo”, Prata quanto as cerimônias dos casamentos
caiu. Crendices... Meu amigo falou no
de Yeyé Masiero, é das torres da matriz foram celebradas pelo padre Alexandre, que
“Santo Cruzeiro”, lá no alto do morro em
que imagino voando para o Santo Cruzeiro, esteve neste 2018 em Piquete. frente à matriz, longe pra burro. Absurdo?
no morro em frente, os galinhos de ferro... Afastei-me da Paróquia de São Miguel Pois sim! Por acaso temos pesquisas sobre
É da Matriz Velha que me lembro, como quando fui estudar fora de Piquete e, ato o comportamento de galo na presença de
referência e com reverência, quando penso contínuo, iniciei minha vida profissional. um sopro assim? Mesmo que seja galo de
em Piquete... É ela que primeiro visualizo a O contato foi retomado quando passei a lata? Então, como descrer?
partir de vários pontos do “Piquete antigo”. colaborar com a Fundação Christiano Rosa Às vezes penso que foi um redemoi-
É na nave da Matriz Velha que pairam as e evidenciei a importância da história da nho. Com saci no meio. Quem sabe os
últimas lembranças de amigos vários... Igreja Católica e, especificamente, da Pa- fiéis não estavam negligenciando suas
Pulando um pouco no tempo, chego à roquia de São Miguel, para Piquete. Assim obrigações e São Miguel, para assustar,
como cresceu meu amor por Piquete, cresceu mandou esse danadinho de uma perna
atual Matriz de São Miguel... Foi lá que
meu interesse pela Paróquia e sua história, a só arrancar o galo e levá-lo para outro
fui batizado. Foi lá que fiz minha primeira
morro? Faz sentido. Por que apenas um
comunhão e fui crismado. Como catequistas, qual, evidenciei, é parte integrante de minha
bateu asas? Por que o outro ficou lá
tive minha prima Inácia Meirelles e Dona trajetória e formação pessoal.
assistindo tudo de camarote?
Yolanda Luz. As missas das 10h já eram as Neste momento em que se celebram os A não ser, é claro, que tenha sido um
missa das crianças. Eram uma festa... 130 anos de nossa Paróquia e que tenho tido tornado. Aquele funil veio girando, giran-
Vêm das festas de São Miguel muitas a oportunidade de ser mais ativo na Paróquia do, e sugou só um. O caso é que furacão,
doces memórias: minha mãe, então pre- de São Miguel e na Diocese de Lorena, é ciclone, vento virado, vento de cima, de
sidente da “Creche Sorriso”, preparava gratificante partilhar trechos de minha his- baixo, em popa, seja lá que diabo for, fez
em nossa casa caixas e caixas de maçã tória com a comunidade católica piquetense. o galo voar da velha matriz até o Santo
do amor para vender na barraca daquela Que seja uma grande festa a celebração Cruzeiro. Se meu amigo disse, queiram
instituição, à época independente da Pre- dos 130 anos da Paróquia de São Miguel! ou não, ele voou. Vou com ele. Não com
feitura Municipal. Foi também nas festas Que seja de unidade o tempo de prepa- o galo, com o amigo. Pra que discussão?
do padroeiro que vivi o que era comum ração da festa! Recolocaram-no de volta à torre; quem
Que sejam alegres as memórias! não acreditar na história que pergunte ao
aos adolescentes de então: paquera, bilhe-
Laurentino Gonçalves Dias Jr. galo, ora bolas!
tinhos, risadas muitas e horas em frente
Piquete, outubro de 2018 O ESTAFETA Página 9

A devoção a São Miguel e Almas


Um traço marcante da espiritualidade encontrava quase pronta: simples e pobre,

Reprodução da Internet
de nós, piquetenses, que vem dos primór- sem adornos, sem as torres laterais. Nesse
dios de nosso povoamento, é a devoção a mesmo ano, construiu-se o cemitério e as
São Miguel Arcanjo, árbitro das almas do cerimônias fúnebres passaram a ser reali-
purgatório. zadas na Capela, que, mesmo sem padre
A devoção a São Miguel foi muito difun- colado, aglutinava a população para orações
dida na América portuguesa, personificando e reuniões comunitárias. Em 7 de outubro de
a luta entre o Bem e o Mal. Chegou ao vale 1888 criou-se a Paróquia de São Miguel do
do Paraíba com os primeiros colonizadores Piquete, sendo nomeado seu primeiro pároco
e se difundiu. Essa devoção fez com que, no o Pe. Francisco Fillipo.
início dos setecentos, a 6 de maio de 1719, A população aspirava à emancipação
fosse instituída na Freguesia de Nossa Se- do bairro. Era preciso, então, uma matriz.
nhora da Piedade (Lorena) a Irmandade de O Comendador Custódio Vieira da Sil-
São Miguel, cujo compromisso foi aprovado va, proprietário da Fazenda da Estrela,
por D. Francisco de São Jeronymo, bispo construiu, nas proximidades da igreja,
diocesano do Rio de Janeiro. Em 1852, uma olaria para a construção das torres
houve reforma desse compromisso. Por laterais. Em 15 de junho de 1891 ocorreu
essa época, a devoção a São Miguel Arcan- a emancipação político-administrativa do
jo já havia chegado ao bairro lorenense do bairro e na Matriz foram realizadas ceri-
Piquete, cuja população, para cumprir os mônias solenes. No Natal desse mesmo
preceitos religiosos, se deslocava até a Vila ano concluíram-se as torres.
de Lorena. Assim, os piquetenses passaram A antiga Matriz de São Miguel é para os
a pleitear junto às autoridades eclesiásticas piquetenses o seu maior símbolo. Todos os
autorização para construção de uma capela eventos significativos do município ocorre-
no bairro. Em 1864, por meio de uma petição dos por moradores dos quarteirões: Posses, ram nela, ou nas suas adjacências. Ela faz-se
conseguem de D. Sebastião Pinto do Rego, Ronco, Itabaquara Acima, Ribeirão Ver- presente no acervo iconográfico da Funda-
bispo de São Paulo, provisão que autorizava melho, Serra do Itajubá, Serra dos Marins, ção Christiano Rosa. Nela nossas tradições
a construção de uma capela no bairro, sob a Passa Quatro, Leais, Gonçalves e Godoy. religiosas foram intensamente fotografadas:
invocação de São Miguel, com a condição de A força aglutinadora da Fé e a devoção procissões, casamentos, batizados, primei-
que deveria se localizar em lugar alto e livre a São Miguel impulsionavam a todos que ras comunhões e situações de convivência
de umidade, e que tivesse espaço ao redor sonhavam ver a capela de seu padroeiro propiciadas pela Igreja. Em cada fotografia,
para procissões. O local escolhido foi uma construída. Escravos taipeiros passaram a resgatam-se as micro histórias pertinentes a
colina às margens do Caminho de Minas, pilar as grossas paredes de terra da capela. ela e a muito de nossa memória.
junto a um adensamento populacional. Os À medida que as paredes cresciam, aumen- A Capela de São Miguel e Almas, nossa
moradores passaram, a partir de então, a se tava a expectativa dos moradores para com antiga matriz, foi, no passado, e continua,
reunir, discutindo a melhor maneira para o término das obras. Ao mesmo tempo, no presente, nossa maior referência histórico
execução das obras. Tomaram a frente dos articulava-se a elevação do bairro à condição -religiosa. Por sua importância, foi tombada
trabalhos o Ten. Joaquim Vieira Teixeira de Freguesia, o que veio a acontecer em pelo Conselho Municipal do Patrimônio
Pinto e José Mariano Ribeiro da Silva, apoia- 22 de março de 1875, quando a igreja se Histórico, em 2002.

Fotos Arquivo Pro-Memória


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Mestra e missionária
Cabelos bem esti- Catecismo paroquial – 15/11/1937 Ficou-me esculpida na
cados, rematados em memória a imagem de uma
coque, vestido de tri- mulher de físico frágil, aco-
coline, mangas compri- metida de bronquite asmá-
das, meias de algodão. tica, a subir morosamente
Adereços – apenas um a ladeira da Rua Cel. José
modesto relógio de pul- Mariano, a bolsa recheada
so, o anel de professora de cadernos, em direção ao
primária e uma corrente Grupo Escolar “Antônio
ao pescoço, com a efí- João”. Animada, porém, de
gie de Nossa Senhora, fortaleza interior, capaz de
a quem se consagrara. grandes decisões.
Assim ela se apresen- A serviço do Cristia-
tava no dia a dia, na nismo, soube conjugar
escola e na igreja, para contemplação com ação.
onde sempre direcionou a vida. Foi um dos esteios da vida religiosa de Piquete. Uma religião isenta
Jovem ainda, por sugestão de uma professora que lhe percebera de sentimentalismo. Falava do sagrado com unção e alegria, como
a inteligência privilegiada, cursou a Escola Normal do Instituto de quem saboreia uma guloseima ou uma fruta apetitosa. Nas aulas de
Educação “Conselheiro Rodrigues Alves”, em Guaratinguetá, para catecismo, ao discorrer sobre as passagens bíblicas, fazia-o com tal
onde se mudara, apesar dos parcos recursos financeiros. Confiden- emoção, que nós, crianças, visualizávamos as “Bodas de Caná”, a
ciou-me, certa vez, que, não tendo condições para comprar os livros “A Multiplicação dos pães”, a “Pesca milagrosa”... e nossas vidas,
adotados, valia-se de folhas de papel pardo usadas para embrulhar bafejadas pelo Evangelho, ficavam mais leves, como que transcen-
pães: recortava-as e com elas fazia cadernos na máquina de costura, dentalizadas.
em que copiava, nos fins de semana, os textos gentilmente empres- Ao se referir à Mãe de Cristo, e com muito carinho, reconstituía a
tados por uma das colegas. Sua mãe, para equilibrar o orçamento casinha de Nazaré e a pobreza de Maria afeita aos trabalhos domésti-
familiar, recorria à culinária e esmerava-se em doces e quitutes para cos, e nós a imaginávamos tecendo, varrendo, lavando, transportando
atender a uma vasta freguesia. água e cozinhando, sem idealizações românticas, quase palpável, bem
Em 1927, nomeada professora efetiva do antigo Grupo Esco- próxima de nossas mães mergulhadas no anonimato e na rotina do lar.
lar de Piquete, aqui chegou com 22 anos de idade, após algumas Durante toda a vida foi consultora da comunidade piquetense:
experiências em escolas rurais. Piquete era como uma aldeia, as orientava, dirimia dúvidas e apontava direções. Sabia compreender
famílias formando uma grande família. O trenzinho dos operários e desculpar. Alegrava-se com as nossas pequeninas vitórias e nos
nosso único meio de transporte. Desfile de burros e mulas pelas ruas estimulava a fazer do tempo uma espécie de construção.
poeirentas, com lenha, sacos de carvão e jacás de frutas e frangos. Sem se abater diante das dificuldades e sem se deixar transviar
Boiadas vindas das Gerais atravessavam a cidade, de ponta a ponta, no pessimismo, soube dignificar o trabalho da mulher, revelando
deixando no ar um cheiro adocicado de capim. O Hotel das Palmeiras, que esta é capaz de transpor os limites de uma vida acanhada e sem
com o requinte dos cristais e porcelanas, polarizava a atenção dos perspectivas.
visitantes exigentes. Os velhos casarões ainda persistiam de pé e, A saúde precária obrigou-a, infelizmente, a nos deixar. O clima
nas calçadas, ao cair da noite, as famílias, acomodadas em cadeiras úmido e a topografia acidentada de Piquete impeliram-na a buscar
de palhinha, tagarelavam sobre o cotidiano. No coreto da pracinha, Lorena, sua terra natal, onde morreu no dia 26 de maio de 1955,
em frente à Matriz de S. Miguel, as retretas musicalizavam as festas após muito sofrimento, assistida por três sacerdotes. Interessante
e a vida de cada um. que ela sempre nos dizia que uma das grandes graças concedidas
A professora recém-chegada deve ter se encantado com a nova a um católico é poder contar com um padre à cabeceira, à hora
terra – sua simplicidade provinciana, o verdolengo das encostas, extrema da vida.
o azulado sinuoso da Mantiqueira, a transparência das manhãs, as O filósofo Teilhard de Chardin classifica os seres humanos em
noites povoadas de galos e, acima de tudo, a bondade do povo a três categorias: os desanimados, os boas-vidas e os entusiastas. Para
amaciar as asperezas da vida. Logo se fez amada e respeitada. Aqui ele, os entusiastas são ardentes porque se queimam como chama,
ficou e ajudou a escrever a nossa história. Desempenhou, entre nós, nunca se desanimam, lançam-se na vida e acreditam na dimensão
o trabalho de mestra e missionária. do próprio vôo. São nobres, têm Deus dentro de si.
Seu aluno, testemunhei-lhe a estatura moral, o equilíbrio, o bom Leonor Guimarães, mestra e missionária, foi uma entusiasta por-
senso, os gestos comedidos, a voz baixa, às vezes quase sussurrada, que acreditava na utopia e na ação silenciosa de Deus nos corações
nada de grandes expansões. dos homens.
À tarde, no silêncio de sua casa, reunia “os alunos de raciocínio Nós a perdemos no tempo, mas a ganhamos na espiritualidade. O
mais lento”, como eufemisticamente dizia, para aulas gratuitas de importante é que ela nos ensinou a amar o bem e a crer na santidade.
reforço – semeava a palavra e investia no futuro de cada um. Chico Máximo

Ao comemorarmos os 130 anos de fundação da Paróquia de São Miguel Arcanjo,


nossos pensamentos voltam-se para a pequena capela onde nossos antepassados
Fotos Arquivo Pro-Memória

testemunharam sua fé, acreditaram no futuro do Bairro, Vila e Cidade de Piquete.


Como eles, continuamos a rogar para que São Miguel nos inspire e nos fortaleça
em nossa caminhada.
Piquete, outubro de 2018 O ESTAFETA Página 11

São Miguel de Piquete


O São Miguel que veio conosco desde amotinados dos vários coros comandados desembainhada. Josué pergunta: “És um dos
a infância é o arcanjo da simplicidade, da por Lúcifer, argumentando com a proprie- nossos ou dos nossos inimigos?” (Jos. 5,13)
sobriedade. dade dos desígnios do Altíssimo. Josué e Caleb foram os únicos que
Aprendemos com o Apóstolo dos Gen- É aí que surge a frase que está gravada no tinham assistido a todos os prodígios da
tios que o amor não convive com a soberba. nosso cérebro e no nosso coração: Amigos, grande jornada. Josué poderia entender uma
Surpreendentemente Lúcifer é um quem como Deus? intervenção miraculosa de Miguel. Mesmo
serafim, o que tem como atributo o amor. Frustrada a tentativa de reconsideração, assim, o nosso padroeiro se apresentou com
Se fosse um querubim, o que conhece, o o arcanjo os afasta da comunidade celestial. sobriedade e simplicidade, pedindo a Josué
que sabe, talvez entendêssemos com mais O nosso padroeiro se encontra nova- que tomasse a atitude conveniente para
facilidade a sua revolta, já que convivemos mente com o serafim-que-não-ama no receber as ordens do Senhor.
com alguns sábios prepotentes. monte Nebo, Jud:1,9, tentando apoderar-se Miguel disse a Josué: “Venho como
Quando o franciscano Scott (Scotus, do corpo de Moisés, julgando, talvez, que chefe do exército do Senhor”.
em latim; Scotto, em italiano) nos revela o o grande líder se tivesse revoltado contra Presença benfazeja em nossas vidas
motivo da dissensão – a recusa em servir Deus por não tê-lo deixado entrar em Canaã. desde o batismo, que o São Miguel de Pi-
a um homem, ainda que o Verbo de Deus, Miguel tira qualquer dúvida arrebatando o quete nos ajude a combater todos os nossos
causa-nos surpresa a precariedade do amor corpo. Mas não lhe dirige palavras duras. defeitos, principalmente a falta de amor.
de Lúcifer. O “non serviam” – não servirei Apenas diz: “Que o próprio Senhor se en- Que vele sobre a nossa cidade, criando
– mostra a incoerência de um amor que carregue de ti”. um ambiente de harmonia e trabalho diutur-
não ama. No cerco de Jericó, Miguel apresentou- no para o bem comum.
O nosso São Miguel tenta dissuadir os se a Josué como um homem com espada Abigayl Lea da Silva

O velho galo de ferro


O relógio da Matriz Da minha casa só se enxergava um da Ave Maria. Uma voz pura ressoava: “O
Dóli de Castro Ferreira pedaço da torre da igreja e nela... o galo. anjo do Senhor anunciou a Maria...”.
Lá estava, garboso, como se fosse o único Com o tempo, o menino se fez homem, o
Os ruídos urbanos a contemplar a paisagem. Inerte como um sino não mais badala ao meio-dia, tampouco
Abalam seu som. guardião da rainha. Só o vento o fazia ro- às seis horas.
É preciso querer ouvi-lo dopiar na haste em que estava fixado. De O Santo Padroeiro ganhou nova casa.
Compassado, somando alegrias ferro forjado para durar séculos, seu penacho Há muito a velha matriz ganhou nova
E agonias. era perfeito; talvez nenhum outro artista, função: receber em sua nave, para o adeus fi-
O relógio da Matriz senão o que o criara, conseguiria uma linha nal, os cristãos que partem para a eternidade.
curva tão perfeita. Porém, não estava só. Em ocasiões muito especiais, o sino volta
Registra em cada meia hora
Na outra torre, da mesma velha matriz, tão a badalar, movido pelas mãos de outros me-
O sinal consagrado férreo quanto ele, outro galo rodopiava ao ninos. O coro entoa melodias que penetram
Da memória. vento. Para mim estavam no topo do mun- nossos corações, nos remetem à infância,
do. Contemplavam a saída e a chegada da para lembranças sagradas de nossas primei-
O ecoar cristalino maria-fumaça, que lançava até eles o cheiro ras comunhões, com véus de filó cobrindo as
Nas dobras das curvas do carvão queimado. Vigiavam o Santo cabeças e sob o olhar de felicidade de Dona
Cruzeiro, testemunhavam o último abraço Mariquinha. Seu Zequinha Meireles ia e
Dos morros
dos jovens enamorados que optavam pelo vinha rapidamente no preparo das galhetas.
É o sinal esperado
enlace eterno. Inspirações shakespearianas Após a missa, o chocolate quente preparado
Da vida contada. as juras do amor imortal. pelas senhoras beatas. “Para quem em peca-
Registra os que se foram, Lembranças... Nada mais resta... Os do se encontrasse a hóstia cairia na hora da
Os que estão e são, galos de ferro até cantaram em alerta, mas comunhão, em sinal de reprovação”.
E os que vêm o canto, com certeza, foi confundido com Sagrados sentimentos, sagradas estórias
E virão tantos outros que abundavam os quintais. que habitam em nós.
Ao meio-dia, quando um menino im- De tudo que passou restam a Igreja de
Sempre,
buído de sentimentos cristãos badalava São Miguel e Almas e o velho galo de ferro
Para lembrar caprichosamente os pesados sinos chamando a testemunhar nossas vidas...
um tempo o povo para se recolher em preces, o velho
Que não acaba. galo se movimentava em todas as direções, Ana Maria de Gouvêa
como a conferir se todos haviam ouvido.
Então se espalhava pelas encostas a melodia
Foto Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Foto Arquivo Pro-Memória


Página 12 O ESTAFETA Piquete, outubro de 2018

Paróquia de São Miguel: Imagens-Memórias

Fotos Arquivo Pro-Memória

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