Desinformação. Qualidade

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XIX ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ENANCIB 2018

GT- 3 - Mediação, Circulação e Apropriação da Informação

DESINFORMAÇÃO: QUALIDADE DA INFORMAÇÃO COMPARTILHADA EM MÍDIAS SOCIAIS

César Augusto Galvão Fernandes Conde (Universidade Federal do Paraná)


Adriana Rosecler Alcará (Universidade Estadual de Londrina)

DISINFORMATION: QUALITY OF INFORMATION SHARED IN SOCIAL MEDIA

Modalidade da Apresentação: Comunicação Oral

Resumo: Na Era da Pós-verdade, em que a informação com carga emotiva influencia mais que os
fatos, é nas mídias sociais que a desinformação encontra ambiente propício para sua disseminação.
O objetivo da pesquisa é analisar as práticas de compartilhamento da informação de bibliotecários
participantes do grupo “Bibliotecários do Brasil” no Facebook, no tocante aos critérios de avaliação
da qualidade que adotam para evitar a desinformação. Trata-se de uma pesquisa exploratória
descritiva, com abordagem qualiquantitativa. Um questionário com questões abertas e em escala
Likert foi enviado para o grupo e 120 participantes responderam. Os principais resultados indicaram
uso moderado a alto de critérios de avaliação das fontes de informação, aquém da expectativa para a
categoria de profissionais estudada. Entre os critérios de qualidade mais utilizados estão: avaliação
da compatibilidade entre título e conteúdo da notícia e a verificação da data e procedência antes do
compartilhamento. Os dados permitem concluir que os bibliotecários consultados estão cientes
sobre a problemática da desinformação e entendem a existência de implicações sociais graves em
consequência da prática do compartilhamento indiscriminado nas mídias socais, ainda que muitos
tenham sinalizado insuficiente uso de critérios de qualidade que atenuariam seu efeito negativo.

Palavras-Chave: Desinformação; Compartilhamento da informação; Critérios de Qualidade para


fontes de informação.

Abstract: In the Post-Truth Age, where information with an emotional charge influences more than
facts, it is in social media that disinformation finds an environment conducive to its dissemination.
The objective of the research is to analyze the information sharing practices of librarians participating
in the group "Librarians of Brazil" on Facebook, regarding the quality evaluation criteria they adopt to
avoid misinformation. This is an exploratory descriptive research with a qualitative and quantitative
approach. A questionnaire with open questions and Likert scale was sent to the group and 120
respondents answered. The main results indicated a moderate to high use of criteria for evaluating
information sources, below expectations for the category of professionals studied. Among the most
used quality criteria are: evaluation of the compatibility between title and content of the news and
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verification of date and source before sharing. The data allow us to conclude that the consulted
librarians are aware of the problem of disinformation and understand the existence of serious social
implications as a result of the practice of indiscriminate sharing in the social media, although many
have indicated insufficient use of quality criteria that would attenuate its negative effect.

Keywords: Disinformation; Information sharing; Quality criteria for information sources.

1 INTRODUÇÃO
Compartilhar informações via mídias sociais tornou-se algo trivial, sobretudo para a
geração de nativos digitais. Ao pressionar de um ou dois botões, em poucos segundos
informações são disseminadas com alcances abrangentes. O uso dos smartphones rompeu a
barreira entre o físico e o virtual nas relações humanas. Só no Brasil, de acordo com dados
do Facebook, a mídia social já conta com mais de 100 milhões de usuários ativos mensais, e
a principal via de acesso são os dispositivos móveis. Aproximadamente oito em cada dez
brasileiros conectados estão no Facebook, o que o posiciona no topo das mídias sociais.
Considerado como um ano mundialmente conturbado, 2016 registrou na História o
processo conhecido como Brexit, as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América,
vencida pelo controverso candidato Donald Trump, e o processo de impeachment da então
presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Por sua indiscutível relevância histórica, os debates
acalorados acerca dos temas foram também permeados por informações falsas
disseminadas incontáveis vezes através das mídias sociais de entusiastas apoiadores e
militantes contrários, que ensejaram a criação de verdadeiras trincheiras virtuais.
No mesmo ano, o dicionário Oxford consagrou post-truth (pós-verdade) como
principal termo do ano (LATGÉ, 2016). Para os britânicos, em tradução livre, a definição de
pós-verdade seria "relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são
menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença
pessoal" (OXFORD DICTIONARIE, 2017). A estratégia remete a famosa frase creditada ao
publicitário da Alemanha nazista, Joseph Goebbels: uma mentira repetida mais de mil vezes
se torna “verdade”. Ou, como agora denominado, pós-verdade.
A formação em Biblioteconomia nos estimula a ter zelo pela informação, assim,
enquanto profissionais dedicados à Ciência da Informação (CI), devemos ainda mais prezar
pelas informações circulantes, especialmente a nossa própria prática de compartilhamento
em mídias sociais e seus fenômenos correlatos, como a desinformação e a qualidade da
informação, a fim de evitar o alastramento de informações infundadas e seus efeitos
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indesejados. Nesse sentido, questionamos: estão os bibliotecários preocupados com a


qualidade das informações compartilhadas em mídias sociais? Atentam-se às fontes que
selecionam para o compartilhamento da informação? Estão cientes do problema da
desinformação? Preocupam-se em minimizar seus efeitos?
É também papel do bibliotecário se responsabilizar pelo conteúdo que compartilha,
uma vez que o Código de Ética Profissional do Bibliotecário (CONSELHO FEDERAL DE
BIBLIOTECONOMIA, 2002, p. 1) prevê em seu segundo artigo como dever do bibliotecário
“dignificar, através dos seus atos, a profissão, tendo em vista a elevação moral, ética e
profissional da classe”. Assim, esta pesquisa objetiva analisar a prática do compartilhamento
da informação de bibliotecários do grupo “Bibliotecários do Brasil” no Facebook, no tocante
aos critérios de avaliação da qualidade que adotam para evitar a disseminação da
desinformação.

2 COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO EM MÍDIAS SOCIAIS E A DESINFORMAÇÃO


O ato de compartilhar a informação é o desejo de torná-la disponível para outros.
Compartilhar informações é uma atividade comunicacional (BUTARELLO et al., 2010),
portanto, inerente ao ser humano, animal gregário por excelência. Essa interação social
requerida para o compartilhamento da informação, de acordo com os autores, pode ser
interpretada como comportamento, processo ou atividade, porque abrange receber e
repassar informações. Compartilhar é um ato individual, intencional e deliberado por parte
de quem possui o conhecimento.
Alcará et al. (2009) elencam alguns dos principais fatores que influenciam no
compartilhamento: a) natureza do conhecimento - envolve os diferentes tipos de
conhecimento, por exemplo o explícito e o tácito; b) motivação para compartilhar – recebe
influência de aspectos internos e externos. Nos internos as atitudes e ações para o
compartilhamento tem origem na própria pessoa, não dependendo de incentivos externos.
Podem ser exemplos, os valores, as crenças e os interesses em comum, que influenciam as
relações de confiança, amizades e afinidades. Já os externos envolvem a necessidade de
recompensa e reciprocidade para o compartilhamento acontecer; c) oportunidades para
compartilhar - que podem surgir de canais de aprendizado intencional ou de canais de
relacionamentos; e d) cultura do ambiente de trabalho - que é constituída pelos três
primeiros fatores, assim como os influencia.
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Akaichi (2014, p. 39) acrescenta que para acontecer “a partilha e a disseminação de


um conhecimento é necessário que diversos fatores convirjam para esta ação desde o
momento em que o indivíduo que possui esta informação decida compartilhá-la até o
instante em que outro ator resolva utilizá-la”. A autora indica alguns fatores que influenciam
o compartilhamento, como o altruísmo do indivíduo, o benefício mútuo entre os agentes
envolvidos na troca e a elevação da reputação daquele que compartilha.
Na última década, testemunhamos a criação e o crescimento da importância das
mídias sociais nas nossas vidas, tanto em âmbito privado quanto no coletivo da sociedade.
Com a popularização do acesso à tecnologia, mais pessoas passaram a estar conectadas e
não visualizamos mais fronteira entre o real e o virtual. A Web é local privilegiado e
exemplar desse momento de abundância de informações, pois é desterritorializado e
desprendido da noção de tempo (LOURENÇO; TOMAÉL, 2015).
Em resgate histórico, Moretzsohn (2017, p. 302) relembra a frase do escritor italiano
Umberto Eco que, em 2015, afirmou que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis.
A criação de guetos apenas favorece a publicidade dirigida e fortalece a
consolidação de convicções, o que vai na contramão da abertura ao debate
público e, consequentemente, só ajuda a aumentar a ‘legião de imbecis’. Ao
mesmo tempo, provoca a ilusão de que o mundo se reduz a essas bolhas, o
que é fatal na apreensão da realidade e induz a erro mesmo aqueles que
precisariam estar atentos ao contraditório.
Bezerra, Capurro e Schneider (2017, p. 378), complementam que “[...] a suposta
‘liberdade’ que as TICs trazem para a produção, distribuição e consumo de informação, na
verdade se insere em um panorama de um controle cada vez maior”. Segundo eles, as redes
de espionagem colocam “[...] em risco a privacidade de indivíduos, a proteção de segredos
comerciais de setores econômicos e a própria soberania de nações”.
Essa singularidade coopera para a necessidade de evolução do usuário em
protagonista da sua própria aprendizagem, tornando-se independente. Medeiros (2013)
entende que as mídias sociais propiciaram a participação política de atores que são
marginalizados das tomadas de decisões públicas; não fossem os dispositivos tecnológicos e
as plataformas desenvolvidas, que minimamente permitem aproximação de representantes
e representados. As mídias sociais dividem hoje espaço anteriormente ocupado pela
imprensa. Informações que não chegavam aos cidadãos passam a integrar suas agendas,
“trazendo ao imaginário a concepção de espaços de opinião pública, mobilização e
participação” (MEDEIROS, 2013, p. 30).
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É importante assimilar que, atualmente, as mídias sociais “estão sendo consideradas


cada vez mais como fontes de informação, apesar da confiabilidade das informações ser,
muitas vezes, questionável e difícil de avaliar” (TOMAÉL; ALCARÁ; SILVA, 2016, p. 24).
Recentemente, Facebook e Google se aliaram na intenção de criar um mecanismo que
combata a disseminação de notícias falsas na internet. Mark Zuckerberg, dono do Facebook,
afirmou entender o tema como "complexo, tecnicamente e filosoficamente", e que não quer
assumir o papel de "árbitro da verdade".
Kesler e Dutra (2015, p. 2) observam: “A liberdade de expressão é considerada um
direito fundamental, e através das redes sociais foi efetivamente exercido, devido a
facilidade e rapidez com que atinge a população”. A forma adotada para “bombardear a
rentabilidade do negócio da criação de conteúdo falacioso” (GOMES, 2017) foi cortar os
vínculos de publicidade dos sites e reduzir a relevância das publicações e sua
encontrabilidade nos mecanismos de busca ou no feed de notícias.
A informação que circula sem filtro ou critérios qualitativos é entendida como
desinformação. Zattar (2017, p. 286) entende que “nas discussões em torno da prática
informacional, destacam-se as questões que envolvem a qualidade do conteúdo nas
dinâmicas de busca e recuperação, dentre as quais estão as notícias e informações falsas ou
semifalsas, a desinformação”. Brito (2015, p. 51) traz uma definição mais específica:
Desinformação consiste fundamentalmente em informações falsas,
distorcidas ou enganosas fornecidas a um determinado adversário com a
pretensão de que este tome decisões lastreadas por uma leitura
equivocada de realidade. Pode ser traduzida, portanto, como o uso de
mentiras com o propósito de iludir ou falsear.
Vladimir Volkoff (2004, p. 19) conceitua a desinformação como “uma manipulação da
opinião pública para fins políticos através de informação trabalhada por processos ocultos”.
Em resgate histórico, Volkoff (2007, p. 107) também chama atenção para o aspecto
psicológico: a desinformação “só superficialmente se dirige à inteligência do público que
pretende induzir em erro; ela dirige-se, em profundidade, a todos os níveis da sensibilidade:
ao coração, às tripas, ao baixo-ventre, porque no homem as paixões sempre foram mais
fortes do que as convicções”.
Corrêa e Custódio (2018, p. 7) entendem que “merecem especial atenção os
problemas advindos de uma leitura superficial, ausência de criticidade e da urgência no
compartilhamento de informações a partir das mídias sociais”, o que seria um desafio
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constante para os bibliotecários, profissionais que devem refletir acerca da manipulação da


informação. A construção do conhecimento é inerente aos seres humanos e transita por
várias nuances, como experiências, atitudes e disposições morais. Assim, por ser um tema
subjetivo, mesmo com o aval de especialistas, há o risco de replicação de conteúdos
desinformativos, inclusive com influência proposital, caso os profissionais não consigam agir
com isenção e julgar de forma técnica.
Enfrentar o problema da desinformação é, sem dúvida, um dos grandes desafios
desse início de século XXI: “Para combater essa arma invisível, primeiro precisamos
reconhecê-la pelo que ela é e decifrar sua missão velada, uma vez que é costumeiramente
apresentada em vestes civis inócuas” (PACEPA; RYCHLAK, 2015, p. 68). O economista e
jornalista inglês Tim Harford, em artigo escrito para a revista Financial Times, texto traduzido
por Clara Allain e publicado pela Folha de São Paulo (2017), afirmou que “poderíamos
esperar que os fatos ajudassem. Mas não é necessariamente assim: quando ouvimos fatos
que nos contestam, amplificamos seletivamente aquilo que nos convém, ignoramos o que
não nos convém e reinterpretamos o que é possível”. A seletividade pode ser uma das
chaves para compreensão da dimensão do problema e sua origem.
O alastramento de notícias falsas é muito superior quando o momento político é mais
turbulento e favorece o acirramento de extremismos. Zattar (2017, p. 288) explica que “as
informações do cotidiano são mais vulneráveis às ‘contaminações’, uma vez que não
pressupõem rigor em sua produção e, ainda, são abertas à participação de diferentes
atores”. Com essa compreensão, o problema assume caráter bastante pessoal e
intervenções personalizadas são de difícil êxito, já que a pessoa não o faz por
desconhecimento. Passa a ser um problema de ordem ética e não de educação formal.
Incrementar a capacidade de reflexão crítica do leitor frente ao conteúdo que
consome é um dos caminhos almejáveis para que se compartilhe informações com
qualidade. Atribuir qualidade às informações, porém, não é tarefa simples. Qualidade pode
ser entendida em muitos casos como subjetiva, por isso a dificuldade em julgar
absolutamente. Alguns critérios, entretanto, são mais objetivos e podem ser observados nas
informações que circulam, como: exatidão, autoridade, objetividade, atualidade e
abrangência (TERRA; SÁ, 2012, p. 3).
Matheus (2005, p. 156) alerta que “a CI deve considerar a informação e a
desinformação como objetos complementares de estudo da CI”. A Ciência da Informação
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tem seu engajamento mais fortemente voltado para a criação e como se dão os fluxos
informacionais, mas ainda examina timidamente a questão da desinformação. Assim:
[...] ao desconhecer o que seja desinformação bem como as consequências
destas sobre os usuários, a CI brasileira fragilizou a própria capacidade de
identificar o que seja de fato informação. Em redes digitais repletas de
dados, verdade e mentira se justapõem e se modificam a cada momento,
logo, dialetizá-las é fundamental. (BRITO, 2015, p. 55).
Com a intenção de analisar informações veiculadas através da internet, agências de
fact checking (checagem dos fatos) têm ganhado relevância no debate público. No Brasil, a
primeira foi a Agência Lupa, que fez parceria com a Revista Piauí e o jornal Folha de São
Paulo para prestar assessoria sobre o assunto. O portal de notícias G1, do grupo Globo,
também adotou espaço exclusivo para a seção “Fato ou Fake?”, onde avaliam informações
de grande circulação na web, principalmente através das mídias sociais.
Na América do Norte e na Europa existem iniciativas consolidadas de combate às
notícias falsas, também por intermédio de equipes isentas (por não possuírem
subordinações diretas), como a FactCheck.org. Zattar (2017, p. 289) explica como duas
agências de checagem dos fatos brasileiras expõem seus resultados: “em geral, indicam os
níveis de veracidade. A checagem pressupõe o uso de informações públicas e fontes
confiáveis para verificação de conteúdo, o que resulta em avaliações que visam indicar o
nível de veracidade de uma informação”.
Quanto às categorias elencadas pelas agências, destaca-se que a Agência Lupa1 optou
por classificar as informações que avalia em: Verdadeiro; Verdadeiro, mas...; Ainda é cedo
para dizer; Exagerado; Contraditório; Insustentável; Falso e De olho. Já a Agência Truco2
elencou as seguintes categorias: Verdadeiro; Sem contexto; Contraditório; Discutível;
Exagerado; Distorcido; Impossível provar e Falso. Podemos notar que os extremos
“verdadeiro” e “falso” não dão conta de todas as análises. Existem categorias intermediárias
a serem consideradas. No caso das notícias, uma pode conter verdades e mentiras em
diferentes trechos, assim como uma verdade descontextualizada, o que compromete a
compreensão mais ampla do assunto. Contemplar essas nuances é o que tentam as agências
citadas, o que exige um maior refinamento na apuração.
Em artigo intitulado “How to spot fake news” (“Como identificar notícias falsas”)
publicado em novembro de 2016, o diretor e a editora do website FactCheck.org, Eugene

1
Fonte: http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/.
2
Fonte: https://apublica.org/checagem/
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Kiely e Lori Robertson, fazem menção a oito pontos que julgam ser os mais importantes para
driblar a desinformação. A International Federation of Library Associations and Institutions
(IFLA) encampou a proposta e elaborou um infográfico (Figura 1) inspirado nesse artigo, já
traduzido para mais de 30 idiomas diferentes, inclusive o português.
Figura 1 – Como identificar notícias falsas de acordo com a IFLA

Fonte: IFLA, 20173


A American Library Association (ALA), por intermédio da Association of College &
Research Libraries (ACRL), é outra instituição de relevância internacional que demonstra
preocupação com o tema da desinformação e o seu compartilhamento. Em 2016, a ACRL
disponibilizou sua nova versão da Estrutura para Competência em Informação na Educação
Superior (tradução livre de Framework for Information Literacy for Higher Education), com
seis conceitos: 1. Autoridade é construída e contextual; 2. Criação da informação como um

3
Disponível em: <https://www.ifla.org/publications/node/11174>. Acesso em: 20 jul. 2017.
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processo; 3. Informação tem valor; 4. Pesquisa como investigação; 5. Academia como


conversação; 6. Busca como exploração estratégica.
Entre as muitas disposições descritas e práticas sugeridas, chamamos atenção para
algumas específicas. Logo no primeiro conceito, “Autoridade é construída e contextual”, a
ACRL (2016, p. 4) esclarece que “Os recursos informacionais refletem a experiência e
credibilidade de seus criadores, e são avaliados de acordo com a necessidade informacional
e contexto em que será utilizado”. Ainda no primeiro conceito, na terceira disposição, a
ACRL sugere ao sujeito que está desenvolvendo suas habilidades informacionais
“desenvolver a consciência da importância de avaliar conteúdos com uma atitude ética e
com uma autoconsciência de seus próprios preconceitos e visão de mundo”. Na quarta e
oitava disposição do quarto conceito, “Pesquisa como investigação”, a ACRL (2016, p. 7)
recomenda “manter uma mente aberta e uma postura crítica” e “seguir diretrizes éticas e
legais na coleta e uso de informações”.
As sugestões da ACRL complementam as citadas anteriormente, pois a postura crítica
deve ser quanto ao conteúdo, interlocutores e consigo mesmo, a fim de anular ao máximo
possíveis predileções pessoais que possam influenciar escolhas e a maneira com que lidamos
com as informações de forma seletiva. Interessante notar que essa proposta percebe,
entende e valoriza o aspecto subjetivo do julgamento da qualidade da informação, além de
englobar a dimensão ética envolvida.
Tomaél, Alcará e Silva (2016, p. 30) propuseram parâmetros para avaliar fontes com
base em vasto levantamento bibliográfico a partir da análise dos atributos de qualidade. As
autoras optaram por elencar indicadores juntamente com um conjunto de critérios
pertinentes para a análise da fonte de informação digital. As autoras listaram seis
indicadores: aspectos extrínsecos, aspectos intrínsecos, credibilidade, aspectos contextuais,
representação e aspectos de compartilhamento. Como exemplo, autoridade e
responsabilidade são critérios que indicam credibilidade, enquanto a atualização é um
critério que indica, entre outros aspectos intrínsecos, a relevância de constar a data em que
a informação foi disponibilizada.
Ainda que a mediação seja estabelecida e os instrumentos ofertados, em última
instância, apenas o usuário é plenamente capaz de evoluir em suas habilidades
informacionais para reconhecer os critérios de qualidade adequados, estabelecer os freios e,
assim, não compartilhar desinformação.
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3 METODOLOGIA
A pesquisa foi exploratória e descritiva, com abordagem qualiquantitativa e como
locus a mídia social Facebook, mais especificamente o grupo “Bibliotecários do Brasil”. O
principal motivo para a escolha desse grupo foi por congregar o maior e mais diverso
número de profissionais bibliotecários da rede – 14.690 membros (acesso em 24 jul. 2018).
Quanto à coleta de dados, foi enviado ao grupo convite para participação na pesquisa, por
meio de resposta ao questionário, em forma de postagem e comentário no Facebook,
durante o período de um mês, entre 09 de dezembro de 2017 e 04 de janeiro de 2018.
Foram coletadas 120 respostas, o que corresponde a quase 1% dos participantes do grupo.
O questionário foi composto por perguntas objetivas e abertas que visavam avaliar as
práticas dos bibliotecários quanto ao compartilhamento da informação, além de buscar
conhecer a sua percepção em relação à desinformação. Para as questões fechadas foi
utilizada escala Likert de 0 a 4, onde 0 significa “nunca” e 4 “sempre”. A aplicação do
questionário foi viabilizada por meio da ferramenta Google Docs, que possibilita o acesso
direto às respostas dos participantes. Os critérios listados no questionário foram baseados
no referencial teórico, especialmente nos que mais convergem da literatura citada. A
formulação foi inspirada livremente no infográfico elaborado pela IFLA - de repercussão
internacional - e também pelos critérios indicados por Tomaél, Alcará e Silva (2016).
Quanto à análise dos dados, as médias foram calculadas por questão, separadas de
acordo com os objetivos traçados para a pesquisa. A partir da intensidade da frequência do
uso apontada pelos participantes, analisamos os critérios utilizados para o
compartilhamento da informação. Tendo por base Bartalo et al. (2013), adotamos quatro
frequências e suas correspondentes intensidades, sendo elas: média menor que 1,00 baixa
intensidade; de 1,01 a 2,00, moderada; de 2,01 a 3,00, alta; de 3,01 a 4,00, altíssima. Quanto
às questões abertas, nos apoiamos na análise de conteúdo de Bardin (2011), tendo sido
agrupadas as respostas a partir de algumas categorias de análise.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


De início buscamos conhecer com mais detalhes o perfil dos profissionais, com dados
referentes a faixa etária, sexo e formação acadêmica dos bibliotecários. Dos 120
participantes, a maior parte (n=47), encontra-se na faixa de 30 a 39 anos, enquanto 28 estão
entre 40 e 49 anos, sinalizando que mais da metade da amostra situa-se nesse intervalo.
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Quanto ao sexo, 98 (81,7%) participantes são mulheres, o que confirma a predominância de


profissionais do sexo feminino percebida na área da Biblioteconomia. A participação
masculina nesta pesquisa correspondeu a apenas 22 participantes, menos de um quinto.
Referente a formação acadêmica, a maior parte dos bibliotecários (n=48) declarou ter
concluída especialização, enquanto 31 já concluíram mestrado.
No tocante aos critérios para a seleção e compartilhamento da informação (Tabela
1), os bibliotecários analisaram 12 afirmações que objetivavam expor a avaliação dos
profissionais sobre a sua prática nas mídias sociais.
Tabela 1 – Critérios para seleção e compartilhamento da informação.
Média de
Critérios para seleção e compartilhamento da informação frequência de
uso
Você verifica a procedência/origem antes de compartilhar informações 2,85
Você verifica a autoridade e confiabilidade da notícia (existência fatual do autor e sua credibilidade 2,72
sobre o assunto abordado)
Você se atém a responsabilidade do domínio acessado (identificação da entidade ou pessoa física 2,47
que mantém a fonte e seus interesses)
Você verifica a data da informação compartilhada (se a informação é atual) 2,83
Você verifica a presença de fatos de forma imparcial (se há preconceito ideológico ou pessoal que 2,77
podem afetar seu julgamento)
Você avalia a notícia na íntegra e não apenas sua manchete 2,88

Você avalia se o título da notícia reflete o conteúdo apresentado 2,90

Você identifica referências adicionais nas notícias que compartilha 2,14


Você confere se não se trata de humor (existem sites especializados em veicular notícias reais em 2,91
tom satírico. Ex.: Sensacionalista, “isento de verdade”)
Você consulta especialistas (autores com formação relacionada diretamente com a área da 1,50
informação)
Você busca e compara informações encontradas em diferentes fontes a fim de atestar a sua precisão 2,24
(veracidade, informação correta e objetiva)
Ao buscar informações, você se preocupa em consultar visões contraditórias a respeito do mesmo 2,02
assunto

Fonte: dados da pesquisa.

Próximo da metade dos profissionais (n=56) entende sempre verificar a procedência


ou origem antes do compartilhamento em suas mídias sociais. Apesar do número
razoavelmente expressivo, pela natureza da profissão esperava-se que esse montante fosse
integral, já que “Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza” e “Criticar,
investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos de informação” (BRASIL,
2001, p. 32) são atitudes por excelência do profissional bibliotecário. Preocupa atestar que
30 membros consultados nunca ou raramente têm esse cuidado. A média das respostas foi
de 2,8, o que tange a ideal frequência altíssima, mas ainda é considerada alta. É fundamental
que levemos em consideração aspectos que vão além da informação propriamente dita,
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como o endereço que a veicula e a existência de seção para contato com os consumidores,
conforme a IFLA (2017).
Alguns dos bibliotecários consultados demonstraram estar insuficientemente atentos
quanto a autoridade e credibilidade da fonte, sendo esses fatores prévios preponderantes
para um compartilhamento seguro da informação. A autoridade e confiabilidade são tão
cruciais por apresentarem informações sobre o responsável pela fonte e conferir ao autor
credibilidade em sua especialidade (TOMAÉL; ALCARÁ; SILVA, 2016). Na conduta de 75
bibliotecários esse critério é considerado muitas vezes ou sempre (m= 2,72). Ainda que a
média de frequência de uso seja alta, também está abaixo da expectativa do seleto grupo,
por se tratar de um critério básico para definir a qualidade do material.
A hospedagem da fonte (identificação do domínio) é outro fator que merece atenção,
de acordo com Tomaél, Alcará e Silva (2016). A maioria dos bibliotecários (55%) sinalizou
aderir ao uso desse critério, enquanto, em volume também expressivo, 30% discordam e
não costumam praticar essa ação. A média 2,47 é indicativa de uma frequência alta.
Um critério simples e objetivo como a atualidade da informação pode ser
determinante para que se ateste a pertinência do que se quer compartilhar. Consiste em
identificar a “data em que a informação foi disponibilizada; links precisam estar ativos;
informações atuais; preocupação com a manutenção da fonte” (TOMAÉL; ALCARÁ; SILVA,
2016). 80 bibliotecários foram assertivos quanto a utilização desse juízo para o
compartilhamento versus somente seis que nunca conferem a data das informações, em
média de frequência alta 2,83, que se aproxima da altíssima.
Ainda assim, é temerária a constatação de que mais de 1/4 dos bibliotecários tenham
indicado raramente checar a data das informações que compartilham, pois podemos
considerar esse um critério obrigatório até para leigos, não sendo plausível a comparação.
Moretzsohn (2017, p. 304) adverte que “mesmo pessoas bem formadas tendem a
compartilhar automaticamente informações falsas ou verdadeiras, mas antigas [...], porque
não conferem as datas da publicação nem verificam a origem da informação”.
Ao tocarmos no quesito da imparcialidade, adentramos em ambiente mais subjetivo.
Muitos consideram a neutralidade um mito. Frase creditada ao educador Paulo Freire que
atesta: “Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica”. Tão
célebre quanto controversa, a sentença implica em “evidenciar o quanto a informação
veiculada pelo documento é exata, rigorosa, correta” (VERGUEIRO, 1995, p. 22). A medida
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requer constante esforço por parte de bibliotecários, jornalistas e demais profissionais que
trabalhem com a informação na tentativa de anular seus preconceitos para lidar com o
conteúdo da forma menos manipulativa possível.
Com essa consciência, 78 bibliotecários indicaram frequentemente ou até sempre
conseguirem verificar a presença de fatos da forma mais imparcial possível. Entretanto, 31
admitiram raramente ou nunca serem capazes de se desligar das suas preconcepções. Os
dados resultam em média 2,77 (alta) e são bastante significativos, já que refletem
diretamente no problema da desinformação, que deve prioritariamente ser combatido por
esses mesmos profissionais. Corrêa e Custódio (2018, p. 3) assinalam ser urgente “adquirir
uma maior consciência social em relação à responsabilidade cidadã de replicar informações
verídicas advindas de fontes consideradas fidedignas”. Importante mantermos em mente
que o grupo selecionado é integralmente composto por profissionais com formação em nível
superior e a maior parte já passou por pós-graduação, portanto, de nenhuma forma a má
prática relaciona-se com falta de oportunidade de acesso à educação formal.
Chamadas sensacionalistas são cada vez mais escolhidas para ilustrar as notícias;
prática que ficou conhecida como “click bait” (isca de cliques, em tradução livre), em alusão
a um anzol que fisgaria do leitor. “Isto diz algo sobre as escolhas de ênfase na divulgação de
notícias e sobre os objetivos de causar escândalo, especialmente nesses tempos em que as
informações circulam com uma velocidade estonteante e a maioria não lê nada além dos
títulos” (MORETZSOHN, 2017, p. 301). A preocupação que residia em descobrir o
comportamento denunciado pela autora também é realidade entre os bibliotecários.
É grave a constatação de que profissionais da informação possam coadunar com a
prática de não avaliar se o título de uma notícia de fato converge com o seu conteúdo
integral. Não obstante, 29 membros do grupo “Bibliotecários do Brasil” foram sinceros no
reconhecimento de que nunca ou raramente conferem antes de compartilhar informações
em suas mídias sociais. Como esperado, no entanto, outros 85 afirmaram ter como praxe
essa conduta. Nesse quesito, encontramos média 2,9, uma das maiores médias de todo o
estudo, considerada alta, muito próxima de uma frequência altíssima.
Tão relevante quanto checar a autoridade, atualidade e conteúdo de um texto é
identificar se no seu interior quem escreveu não deixou de citar as fontes que permitiram a
construção dos dados expostos nos seus parágrafos. Essa medida despersonaliza, ao menos
parcialmente, o texto e confere nuances de trabalho coletivo, o que também responsabiliza
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a terceiros pelas informações vinculadas e veiculadas. Dos bibliotecários que participaram


desta pesquisa, 53 procuram continuamente compartilhar informações que trazem fontes
adicionais no seu conteúdo; 44 aparentam não dar a mesma importância para esse critério,
pois nunca ou raramente o adotam como determinante na seleção dos conteúdos que
disseminam. Como consequência dos números apresentados, temos a média de frequência
alta 2,14. Os números quase equivalentes em uma margem de erro demonstram a existência
de dois polos distintos de perfis pessoais dos profissionais.
Até mais alarmante para nossa comunidade é saber que 28 participantes sequer
distinguem se o que compartilham com seus contatos nas mídias sociais se trata ou não de
conteúdo humorístico. Apesar da enorme maioria dos respondentes (83, média alta 2,91) ter
assinalado que frequentemente ou sempre realizam a conferência, um peso maior recai
sobre o dado anterior.
A maior parte dos bibliotecários da amostra (n=68) não consulta autores da área da
informação antes de compartilhar em suas mídias sociais. Apenas 27 disseram agir sempre
ou frequentemente dessa maneira. A média resultante, 1,5, é considerada moderada e pode
implicar em múltiplas interpretações. O motivo de um indivíduo não pesquisar pela opinião
de especialistas no assunto antes de compartilhar, pode ser decorrência de alta confiança na
primeira fonte consultada ou a sensação de falta de tempo, talvez até mesmo necessidade,
para uma busca mais abrangente.
Também é fundamental comparar a informação com outras fontes de notícias que a
tenham transmitido, para razoavelmente atestar sua precisão. Quanto a esse aspecto, 56
bibliotecários participantes indicaram checar a veracidade e objetividade da informação
antes de compartilharem com suas redes de contatos; outros 42 informaram que
dificilmente agem com o mesmo zelo. Ainda que alta, a média 2,24 inspira maior atenção
nas práticas do bibliotecário para que não compartilhe informações sem se certificar da
existência de outras fontes que se responsabilizem pela apuração das informações.
Vimos como é indispensável conferir ao menos uma segunda fonte para confirmar
uma notícia ou informação; mas, para certificarmo-nos de maior qualidade, é imperativo
buscarmos opiniões divergentes ao que foi absorvido na primeira fonte, para que não
formemos nossas percepções diante de argumentos que representem apenas um olhar
sobre determinada questão. Um resultado aquém da expectativa é o que sugere a média
quase moderada 2,02, já que de um grupo de bibliotecários espera-se prática mais frequente
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de busca de múltiplas fontes. Os números expuseram um empate técnico entre os


bibliotecários que raramente ou nunca procuram visões contraditórias sobre um assunto
antes de compartilhar e os que sempre ou frequentemente adotam tal postura.
Entre os critérios para a seleção e o compartilhamento da informação avaliados,
apenas uma média ficou no intervalo considerado moderado, o que atestou frequência alta
na prática do uso de critérios por parte dos bibliotecários. Sobressai também o fato de que
nenhuma média altíssima foi estabelecida. Podemos concluir que o grupo em grande medida
faz uso de critérios para avaliação das fontes antes do compartilhamento em mídias sociais,
ainda que não no nível desejado. Os resultados denunciam que nem toda a categoria está
ciente da sua responsabilidade enquanto mediador da circulação da desinformação.
Embora a análise tenha sido feita com base na média de frequência de uso
encontrada para cada critério, também foi realizada uma análise especificamente em
relação à frequência zero, considerando a relevância de que todos deveriam adotar algum
tipo de critério. Em todas as afirmações houve indicação de frequência nula para os critérios.
O maior destaque negativo fica por conta da consulta de especialistas, em que não menos
do que 30 bibliotecários sinalizaram em hipótese alguma fazer uso desse recurso. A adoção
de critérios de qualidade para avaliação das fontes e da informação é o principal recurso no
combate a circulação da desinformação e principalmente profissionais da Ciência da
Informação não podem negligenciá-los.
Descobrir se o bibliotecário é conhecedor do problema da desinformação e tem em
seu bojo de preocupações a sua disseminação era o foco de todos os objetivos e questão
principal da pesquisa. Assim sendo, questionamos os participantes quanto a esse respeito e
solicitamos que detalhassem seus posicionamentos. Como se tratavam de questões abertas,
em coerência com as análises precedentes, o conteúdo foi organizado a partir do
estabelecimento de algumas categorias para análise, a saber: ciência quanto ao problema da
desinformação; preocupação com a sua disseminação; importância do assunto para a
atuação profissional.
Quase integralmente as respostas afirmativas justificaram o posicionamento dos
bibliotecários no sentido de que acreditam ter responsabilidade social por conta da profissão
que exercem. Foram 116 (96,6%) afirmações mediante a dúvida se estão cientes sobre o
problema da desinformação e preocupam-se com sua disseminação. Dudziak (2007, p. 96)
acredita que “Como agente educacional de transformação, o bibliotecário assume para si,
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além do papel de educador, renovação de sua própria competência informacional, adotando


e disseminando práticas transformadoras na comunidade”.
Mediante semelhante compreensão, um dos profissionais respondeu: “Sim, por que o
mundo atual está saturado de informações e o ser humano tem limite para assimilar
informações. Diante disso, é necessário que se saiba priorizar a atenção a informações de
qualidade e que sejam úteis”. Em tom de crítica à categoria, um colega denunciou “Sim,
ciente e vendo muitos ditos profissionais da informação ajudando a propagar inverdades”.
Muitos relataram sensação de impotência frente ao problema, creditado em grande
parte ao excesso de informações circulantes. Mostraram-se preocupados com o efeito
negativo na sociedade. Poucos indicam já estarem mais inteirados e em busca de formação
complementar sobre o assunto, como participação em oficinas de checagem dos fatos ou
palestras. Temas de estudo da CI, como Competência em Informação, são citados por um
grupo pequeno de profissionais que indicam sua importância para a discussão. Outra
preocupação denunciada é a formação de redutos de confirmação e a intencionalidade nas
informações veiculadas, perigo outrora denunciado por Volkoff (2004, p. 182): “Formam-se
assim na rede comunidades de crença. Assim, o importante é a fidelização”.
Quase nenhum bibliotecário aponta disposição de esclarecimento defronte à
desinformação. Com desprendimento, uma profissional afirma “Estou ciente, mas não
verifico. Quando leio algo suspeito não compartilho”. Em estudo sobre as medidas
estratégicas soviéticas de propagação da desinformação, Shultz e Godson (1984, p. 148)
afirmam que “muitas das falsificações dirigidas contra os Estados Unidos assumiram a forma
de documentos e boletins oficiais do governo americano, de aparência autêntica mas
falsos”. Desse modo, é real que “A desinformação é um problema tal qual a falta de
informação. Uma informação não real (manipulada) é tão preocupante e perigosa quanto a
falta de acesso a informação real”, como acredita um dos questionados.
Em conjunto com a ciência do problema, buscamos também descobrir se os
bibliotecários consideram importante o assunto para a sua atuação profissional e pedimos
que justificassem suas respostas. Novamente, quase 100% dos participantes responderam
positivamente. Podemos constatar um aceno mais recorrente quanto ao protagonismo do
bibliotecário no combate à desinformação, como no seguinte relato: “Sim, Porque coloca o
profissional da informação (enquanto profissional que tem a informação como insumo
fundamental para a profissão) como agente responsável por combater a disseminação de
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informação sem critérios de confiabilidade”. Por outro lado, manifestações de ceticismo


também surgiram: “Sim, considero, mas não pelo fato que a maioria dos profissionais tem
abordado (que é a de que temos o "poder" de verificar as fake news, de avaliar isso). Há
muitos bibliotecários compartilhando este tipo de desinformação, que não sabem sequer
quais fontes consultar, parados no tempo e munidos de um julgamento de valor que beira ao
ridículo. Isso é bastante preocupante, pois se anunciamos para o mundo em nossos textos e
aulas que somos peças importantes neste contexto, mas as timelines estão repletas deste
conteúdo, é uma grande contradição”.
Para nossa pesquisa, tão importante quanto provocar a consciência profissional do
bibliotecário era inspirar nele o cuidado nas mediações em seu círculo privado. Para tanto,
procuramos descobrir se eles consideravam importante o assunto para a sua vida pessoal,
especialmente em suas mídias sociais. Quase todos os participantes declaram se importarem
com a desinformação além do seu ambiente de trabalho: 117 bibliotecários asseguram
considerar importante o assunto para a sua vida pessoal e em suas mídias sociais, com o
reforço de um expressivo número que potencializou a resposta de forma superlativa: “Sim.
Muito importante, visto ser meu trabalho disseminar informações, por esse motivo primar
pela veracidade é fundamental para dar credibilidade ao meu trabalho”. Ainda que três
entendam não refletir em qualquer consequência o fato de não se importarem, como fica
claro na declaração “Pra minha vida pessoal não, não muda nada”.
A maioria das justificativas converge com o que já foi discorrido anteriormente, mas
alguns colegas evidenciaram o dever ético do profissional também enquanto cidadão, com o
adicional de temerem pela perda de reputação se assim não agirem. “[...] o tema também
pode se aplicar à ética nas relações interpessoais, mesmo que seja fora do âmbito
profissional”, relembrando o que o Código de Ética Profissional do Bibliotecário (CONSELHO
FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2002, p. 1) predispõe como princípio de conduta em seu
segundo artigo: “dignificar, através dos seus atos, a profissão, tendo em vista a elevação
moral, ética e profissional da classe”.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em um contexto cada vez mais conectado e globalizado, o assunto tem preocupado
profissionais de variadas áreas e mobilizado também parte da sociedade civil organizada. O
problema da viralização de boatos atinge outro patamar quando assimilamos que a
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desinformação é ainda mais grave, tendo em vista seu caráter premeditado, intencional.
Migramos assim da seara da mais evidente habilidade na forma de lidar com as fontes de
informação para a necessidade do desenvolvimento de uma prática mais sofisticada, que
envolve a avaliação qualitativa e a adoção de múltiplos critérios para avaliação das fontes,
papel que deve ser reconhecido em especial pelo profissional bibliotecário.
Os resultados da pesquisa mostram algumas características importantes em relação
às práticas de compartilhamento desses bibliotecários, tais como a relevância do
enfrentamento da desinformação percebida quase que na totalidade pelos profissionais,
mas concomitantemente a inércia de alguns participantes que sinalizaram nunca ou pouco
utilizar critérios para o compartilhamento da informação em suas mídias sociais. Ao
considerar os critérios para seleção da informação compartilhada, ainda que as médias dos
critérios elencados tenham revelado alta frequência de adoção, esperava-se constatar uma
frequência altíssima de critérios basilares na avaliação da qualidade da informação,
considerando que o grupo respondente era composto exclusivamente por profissionais
graduados em Biblioteconomia, curso que preza pelo ensino dessas práticas. A avaliação da
íntegra do texto com o título das notícias e a conferência quanto ao aspecto humorístico do
conteúdo foram os detaques positivos, com médias 2,9 e 2,91, as mais próximas da
frequência altíssima. Em contrapartida, a média moderada 1,5 desponta negativamente para
a consulta de especialistas, com 30 bibliotecários mencionando nunca procurarem fazer uso
desse critério antes de compartilhar algo em suas redes.
É fundamental que mais pesquisas sejam realizadas sobre a desinformação, o
compartilhamento e a qualidade da informação, não apenas em mídias sociais, mas também
em outras comunidades de bibliotecários. A Ciência da Informação precisa manter-se atenta
ao que está em voga na sociedade e a demanda por estudos relacionados às fake news, suas
causas e implicações certamente fazem parte das demandas atuais.

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