Estimulacao Cognitiva Funcoes Executivas

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Estimulação cognitiva (funções executivas)

Índice
(Última atualização: abril de 2013)

Estimulação cognitiva (funções executivas) – Síntese ................................ i-iii

Desenvolvimento do cérebro e funcionamento executivo


Katie Knapp & J. Bruce Morton .......................................................................... 1-8

As funções executivas na infância


Yuko Munakata, Laura Michaelson, Jane Barker & Nicolas Chevalier ....................... 1-7

Função executiva e desenvolvimento emocional


M. Rosario Rueda & Pedro M. Paz-Alonso ............................................................ 1-7

Papel protetor das habilidades das funções executivas em ambientes de alto risco
Amanda J. Wenzel & Megan R. Gunnar............................................................... 1-7

Status socioeconômico e desenvolvimento das funções executivas


Cayce J. Hook, Gwendolyn M. Lawson & Martha J. Farah ...................................... 1-8

As funções executivas na sala de aula


Clancy Blair .................................................................................................... 1-8

Para ler as Mensagens-chave relativas a este tópico, consulte a Enciclopédia no


endereço:
http://www.enciclopedia-crianca.com/pt-pt/estimulacao-cognitiva-funcoes-
executivas-criancas/mensagens-chave.html

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Estimulação cognitiva (funções executivas)

Síntese
(Publicado on-line em janeiro 2013)

Qual é sua importância?

As funções executivas são as habilidades cognitivas necessárias para controlar e


regular nossos pensamentos, emoções e ações. Alguns estudiosos fazem uma
distinção entre o componente "frio" das funções executivas, que envolve
estritamente as habilidades cognitivas (por exemplo, a capacidade de fazer cálculos
apenas com a mente), e o componente "quente", que reflete a capacidade de regular
as emoções (por exemplo, a capacidade de controlar a raiva).

As funções executivas podem ser divididas em três grandes categorias de


competências:
• Autocontrole: A capacidade de resistir à uma tentação para poder fazer aquilo
que é certo. Essa capacidade ajuda as crianças a prestar atenção, agir menos
impulsivamente e a manter a concentração numa tarefa.
• Memória de trabalho: A capacidade de manter as informações na mente, onde
elas podem ser manipuladas. Essa habilidade é necessária para realizar
tarefas cognitivas, tais como estabelecer uma relação entre dois assuntos,
fazer cálculos apenas com a mente e estabelecer uma ordem de prioridade
entre várias tarefas.
• Flexibilidade cognitiva: A capacidade de usar o pensamento criativo e ajustes
flexíveis para se adaptar às mudanças. Essa habilidade auxilia as crianças a
utilizar sua imaginação e criatividade para resolver problemas.

As habilidades associadas às funções executivas são extremamente importantes para


o desenvolvimento tal como exemplificado pelo fato de que as diferenças iniciais nas
funções executivas prognosticam ao longo do tempo resultados significativos no
desenvolvimento, incluindo o desempenho escolar, os comportamentos relativos à
saúde e o ajustamento social.

O que sabemos?

O desenvolvimento do potencial máximo das funções executivas é um processo que


exige tempo e isso se explica, em parte, pela lentidão do amadurecimento do córtex
pré-frontal. As alterações nas funções executivas são aparentes quando as crianças
se tornam capazes de manter em mente os objetivos importantes (por exemplo,
terminar o dever de casa ao invés de assistir à televisão). Observam-se melhorias
nas funções executivas também quando as crianças desenvolvem a capacidade de
analisar seu ambiente para decidir qual o plano de ação apropriado (por exemplo,
estudar hoje à noite é essencial para a obtenção de uma boa nota no exame do dia
seguinte). Um desenvolvimento deficitário das funções executivas pode explicar por
que as crianças, muitas vezes, parecem teimosas quando, por exemplo, se recusam

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a seguir instruções lógicas, como usar uma touca no inverno. As crianças oriundas de
famílias pobres estão particularmente numa situação de risco de terem dificuldades
associadas a um nível de funções executivas deficiente.

Considerando o longo processo de amadurecimento das habilidades associadas às


funções executivas, as crianças são extremamente sensíveis a experiências cedo na
vida que possam dificultar ou reforçar suas habilidades. O estresse, por exemplo,
pode ser tão prejudicial às funções executivas de uma criança pequena a ponto de
levar a um diagnóstico errôneo de TDAH. Por outro lado, as experiências
reforçadoras, tais como uma relação pais-filho positiva, podem proteger as crianças
contra os efeitos negativos de circunstâncias estressantes, como uma vida difícil do
ponto de vista econômico e, consequentemente, melhoram o funcionamento
executivo. Os filhos de pais receptivos que utilizam métodos brandos de disciplina,
ao invés de severa, e que incentivam a autonomia de seus filhos também tendem a
ter melhores habilidades da função executiva.

Um nível mais elevado de funcionamento executivo está vinculado a diversos


aspectos positivos, tais como competência nos domínios social, emocional e escolar.
Na verdade, ele prognostica o êxito nos primeiros anos de escolaridade, mais do que
a inteligência, e a aprendizagem precoce de leitura e aritmética. As habilidades das
funções executivas permitem que as crianças lidem melhor com seu ambiente em
constante mudança, o que pode ser especialmente importante para crianças em
desenvolvimento em ambientes de alto risco. A eficiência das funções executivas
prediz a saúde, a prosperidade econômica e um baixo número de atos criminosos
posteriormente na vida. Alguns componentes específicos das funções executivas
também são responsáveis pela capacidade das crianças de entender o que as outras
pessoas estão pensando. Por exemplo, o conflito de resposta-funcionamento
executivo é um elemento claramente preditivo da compreensão de falsas crenças nas
crianças, isto é, a noção de que as outras pessoas podem ter uma visão do mundo
diferente da nossa, que é uma habilidade necessária para o sucesso das interações
sociais.

Se, por um lado, um nível elevado de funcionamento executivo está associado a


diversos benefícios, o funcionamento executivo deficiente é uma das características
de vários distúrbios tais como TDAH, problemas de comportamento, dificuldades de
aprendizagem, autismo e depressão. Além disso, é provável que os problemas
associados ao funcionamento executivo nos primeiros anos de vida também
continuem ao longo da infância e da adolescência.

O que pode ser feito?

Ajudar as crianças em idade pré-escolar a melhorar suas funções executivas


apresenta vários benefícios. Os programas de intervenção voltados para o
treinamento das funções executivas são eficientes para melhorar o êxito escolar das
crianças e suas competências sócio-emocionais, e podem levar a mudanças nos
circuitos cerebrais. Além disso, uma intervenção precoce pode atenuar a rapidez e as
dificuldades associadas com distúrbios tais como TDAH e problemas
comportamentais. O treinamento do funcionamento executivo não exige altos
recursos financeiros e pode ser executado em salas de aula comuns com crianças a
partir dos 4 ou 5 anos de idade. As modificações nos currículos escolares das
crianças pequenas deveriam incluir atividades agradáveis e desafiadoras voltadas
para a autorregulação. Yoga, música, aeróbica, dança, meditação, artes marciais, e
contar histórias são exemplos de atividades que podem ajudar a melhorar as

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habilidades de funcionamento executivo fundamentais. Na sala de aula, as crianças


devem passar mais tempo em atividades de aprendizagem ativa e em pequenos
grupos, e menos tempo em atividades com grupos grandes. As crianças com um
nível de funcionamento executivo mais elevado necessitam de um número menor de
intervenções negativas dos professores, o que contribui para criar um ambiente livre
de estresse que ajuda ainda mais o desenvolvimento das funções executivas. As
crianças pequenas também devem ser encorajadas a participar de brincadeiras mais
elaboradas, como jogos de faz-de-conta social, onde elas aprendem a representar
papéis e a se adaptar a uma trama em constante transformação.

Além disso, é essencial entender que as habilidades de funcionamento executivo são


adquiridas gradualmente ao longo do tempo e que até mesmo uma criança
altamente motivada pode ter dificuldades com instruções, tais como não comer um
biscoito antes do jantar, ou manter a concentração durante um período prolongado.

Para citar este documento:

Morton JB, ed. Tema. Estimulação cognitiva (funções executivas) – Síntese. In: Tremblay RE, Boivin M,
Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Montreal,
Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development e Strategic Knowledge Cluster on Early
Child Development; 2013:i-iii. Disponível em: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/sintese-
estimulacao-cognitiva-funcoes-executivas.pdf. Consultado [inserir data].

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com o apoio de:

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Desenvolvimento do Cérebro e Funcionamento Executivo
KATIE KNAPP , MSc
J. BRUCE MORTON, PhD
Western University, CANADÁ
(Publicado on-line em janeiro de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)

Introdução
As funções executivas são processos que apoiam muitas atividades diárias, incluindo o
planejamento, o raciocínio flexível, a atenção concentrada e a inibição comportamental, e
demonstram um desenvolvimento contínuo até o início da idade adulta.1,2 Uma
perspectiva importante para o desenvolvimento dessas habilidades psicológicas é o
desenvolvimento estrutural e funcional do cérebro.3 Uma das regiões cerebrais de
desenvolvimento mais lento é o córtex pré-frontal, uma grande extensão do córtex
localizada na metade frontal do cérebro. O que é notável a respeito desta região do
cérebro é que ela continua a se desenvolver até a terceira década de vida.4,5 A imagiologia
do cérebro6,7 e alguns estudos envolvendo pacientes com danos cerebrais8,9,10 sugerem
que o córtex pré-frontal é fundamental para o controle da atenção, do raciocínio e do
comportamento, em parte devido ao fato de unir os centros de controle da percepção,
emocional e motor localizados em outras partes do cérebro. O fato de o córtex pré-frontal
ter um desenvolvimento lento e, ao mesmo tempo, ser importante para o controle
executivo sugere que o desenvolvimento do funcionamento executivo está intimamente
relacionado ao amadurecimento do córtex pré-frontal.11,12,13 Uma implicação disso é que
os desafios básicos do dia-a-dia como, por exemplo, não brincar com um brinquedo
proibido, serão difíceis, mesmo para as crianças com um desenvolvimento normal.

Assunto
Entender que o córtex pré-frontal é importante para a autorregulação comportamental e
que ele se desenvolve gradualmente pode explicar por que, por exemplo, as crianças têm
dificuldade de: (a) interromper uma atividade e passar para outra atividade; (b) planejar
com antecedência, (c) fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo, (d) concentrar-se por
longos períodos de tempo, e (e) renunciar a recompensas imediatas. Os resultados de
pesquisas sobre a neurociência cognitiva do desenvolvimento sugerem que esses
comportamentos são uma parte normal do crescimento e, até certo ponto, sua origem está
relacionada à forma de funcionamento do cérebro nessa etapa da vida.

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Problemas
Compreender exatamente como o desenvolvimento do córtex pré-frontal contribui para o
progresso das funções executivas constitui um grande desafio. Em primeiro lugar, as
funções executivas são difíceis de definir e medir, em parte porque os conceitos
fundamentais, tais como a inibição e flexibilidade cognitiva, na verdade, são usados mais
para descrever do que para explicar o comportamento. Em segundo lugar, não está claro
se os processos envolvidos na regulação de um tipo de comportamento, tais como a
linguagem, são os mesmos que os processos envolvidos na regulação de outros tipos de
comportamento, tais como as emoções. Em terceiro lugar, as tarefas apropriadas para
testar o funcionamento executivo em uma determinada idade, normalmente, não serão
adequadas para testar o funcionamento executivo em crianças mais velhas. Isso torna
difícil a comparação do funcionamento executivo entre crianças com idades diferentes.
Em última análise, porém, os neurocientistas do desenvolvimento cognitivo estão
interessados em associar as mudanças do funcionamento executivo relacionadas à idade
às alterações no desenvolvimento na função cerebral. Para isso, é necessário não só
definir e medir adequadamente o funcionamento executivo, mas, ao mesmo tempo, obter
uma avaliação direta da função cerebral. Um método possível é a ressonância magnética
funcional (ou fMRI), um meio seguro e relativamente não-invasivo de examinar as
mudanças da atividade cerebral que ocorrem quando as pessoas executam determinadas
tarefas. Embora seja um meio viável e seguro para o uso até mesmo em recém-
nascidos,14,15 a fMRI requer que os participantes permaneçam completamente imóveis
por um período de, no mínimo, 5 a 10 minutos, enquanto as imagens são obtidas.
Quaisquer movimentos bruscos de 5 a 10 mm podem levar à perda da nitidez da imagem,
tornando-a praticamente impossível de ser interpretada. Para complicar ainda mais as
coisas, se as crianças executarem as tarefas prescritas de forma diferente daquela usada
pelas crianças mais velhas, torna-se impossível saber se as diferenças dos padrões da
atividade cerebral relacionadas à idade estão vinculadas apenas às diferenças da idade dos
participantes ou também às diferentes formas de realização das tarefas das crianças mais
velhas e mais jovens. De forma mais simples, instruir crianças de 7 anos de idade a
realizar uma tarefa da mesma forma realizada por crianças de 4 anos, em princípio,
poderia fazer com que se torne impossível diferenciar os padrões da atividade cerebral
das crianças de 7 anos do padrão da atividade cerebral observado nas crianças de 4 anos.
Para atenuar esses problemas, os pesquisadores estão desenvolvendo novos protocolos de
imagem que podem ser administrados de forma rápida e não exigem que as crianças
executem tarefas. Nesses processos denominados ‘em estado de repouso’, as crianças
simplesmente ficam imóveis por apenas cinco minutos com os olhos abertos.16 As
imagens resultantes são usadas para analisar as mudanças relacionadas à idade em
padrões "intrínsecos" da conectividade cortical, que poderão, então, ser associadas a
medições do funcionamento executivo coletadas fora do aparelho de ressonância
magnética.

Contexto do estudo
Os resultados dos estudos de fMRI sobre o desenvolvimento do funcionamento executivo
criam um retrato fascinante e complexo. Alguns estudos, por exemplo, indicam que as
crianças mais jovens exibem um nível menor de atividade do córtex pré-frontal (CPF) no
contexto das tarefas de funções executivas do que os participantes mais velhos. Estas

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descobertas são consistentes com a percepção de que, à medida que a funcionalidade da


região cerebral se desenvolve, verifica-se uma atividade mais forte e um melhoramento
do funcionamento executivo. Outras descobertas sugerem um quadro um pouco mais
complicado, na medida que algumas regiões do CPF exibem uma atividade crescente com
o aumento da idade, enquanto que outras mostram uma diminuição da atividade com o
aumento da idade. Uma interpretação desse padrão é que, no início da vida, o
funcionamento executivo está associado a uma atividade CPF fraca, mas difusa, enquanto
que, no desenvolvimento posterior, o funcionamento executivo está associado a uma
atividade CPF forte, mas concentrada. Assim, no centro de uma região em
desenvolvimento, a atividade aumenta com a idade, enquanto que, na área circundante, a
atividade diminui com o aumento da idade. Outra interpretação é que algumas regiões
dentro do CPF se tornam mais eficientes com a idade. Assim, no início do
desenvolvimento, essas regiões precisam trabalhar muito arduamente para suportar um
determinado nível de desempenho do funcionamento executivo. No entanto, no
desenvolvimento posterior, quando essas regiões funcionam de forma mais eficiente, elas
podem apoiar um nível de desempenho de funcionamento executivo semelhante com um
menor gasto de energia. É evidente que o esclarecimento desse quadro complexo exigirá
um número maior de estudos.

Um resultado consistente dos estudos de fMRI sobre o desempenho do funcionamento


executivo é que muitas outras regiões fora do CPF estão associadas ao desenvolvimento
do desempenho das funções executivas, incluindo o córtex cingulado, o córtex insular e o
córtex motor. Uma interpretação dessa evidência é que as tarefas de desempenho do
funcionamento executivo são muito complexas e envolvem muitos subprocessos
diferentes, como lembrar-se de instruções, responder a alguns estímulos e ignorar outros,
planejar e executar respostas motoras e avaliar o feedback do desempenho. É possível,
então, que as funções do funcionamento executivo estejam associadas à atividade em
várias regiões do cérebro, porque as próprias tarefas envolvem muitos subprocessos
diferentes, cada uma delas associada à atividade de uma diferente região do cérebro. Se
isto for verdade, então o desafio para avançarmos é identificar quais subprocessos estão
sujeitos a mudanças relacionadas à idade, e vincular essas alterações à função de regiões
específicas do cérebro. A segunda interpretação é que o CPF não funciona de forma
independente, mas faz parte de uma rede mais ampla, funcionalmente homogênea. Desse
ponto de vista, independentemente de o participante seguir instruções, planejar uma
resposta ou avaliar um feedback, se observará uma atividade intensa ao longo de toda a
rede. Se isso for verdade, então o desafio para avançar é identificar como a organização
da rede ampliada muda com o desenvolvimento. As possibilidades incluem alterações nas
regiões que constituem a rede ampliada, assim como alterações no número e na
intensidade das conexões entre as regiões que a constituem.

Principais questões para estudo


• Quais são os processos constituintes subjacentes do desempenho das tarefas do
funcionamento executivo?
• Os diferentes funcionamentos executivos são exclusivamente vinculados a
diferentes regiões do cérebro?

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• Como as mudanças na função cerebral contribuem para alterar o funcionamento


executivo?

Resultados de estudos recentes


Os estudiosos começaram recentemente a examinar as mudanças do desenvolvimento em
redes cerebrais consideradas importantes para o funcionamento executivo, examinando as
mudanças nas conexões entre o CPF e as outras regiões comumente associadas ao
funcionamento executivo, como o córtex parietal, córtex cingulado e córtex insular.30
Como essas redes podem ser observadas e medidas, mesmo quando os participantes estão
em repouso, muitos estudos recentes têm utilizado a denominada fMRI do estado em
repouso para investigar a organização de redes de controle cognitivo em diferentes
idades.31,32 Os resultados iniciais sugerem uma reorganização ampla da rede durante o
desenvolvimento, com a formação de novas conexões de longo alcance e eliminação de
conexões pré-existentes de curto alcance ao longo do crescimento das crianças.33 Outras
evidências recentes levaram à análise desses resultados iniciais e sugerem que a
reorganização das redes de funcionamento executivo durante o desenvolvimento pode ser
menos marcante do que se imaginava inicialmente. No entanto, apesar desses passos em
falso iniciais, o estudo da organização da rede durante o desenvolvimento continua a
atrair a atenção, na medida que os pesquisadores reconhecem cada vez mais que as
regiões cerebrais trabalham em conjunto para concretizar um nível elevado de
pensamentos e ações.

Lacunas dos estudos


Talvez a lacuna mais significativa das pesquisas sobre pesquisa de fMRI sobre o
desenvolvimento do funcionamento executivo sejam as evidências obtidas pelos estudos
longitudinais. Ao contrário dos estudos transversais, nos quais um grupo de crianças mais
jovens é comparado com um grupo de crianças mais velhas, os estudos longitudinais
comparam o mesmo grupo de crianças em idades diferentes. Não é necessário dizer que
estudos longitudinais são muito caros, exigem um longo tempo de realização e podem
apresentar muitos riscos, motivos que justificam a existência, atualmente, de tão poucas
evidências longitudinais. Ainda assim, o método longitudinal proporciona muitas
vantagens importantes em relação ao formato transversal. Em primeiro lugar, sempre que
se comparam dois grupos de crianças de idades diferentes, potencialmente, podem surgir
muitos fatores diferenciais além da idade, incluindo diferenças de inteligência,
temperamento/personalidade e status socioeconômico, para citar apenas algumas.
Considerando que todos esses fatores estão relacionados ao funcionamento executivo, as
inferências relativas à importância da idade para explicar as diferenças nos padrões de
ativação cerebral dos grupos se tornam tênues. Em segundo lugar, uma meta importante
do desenvolvimento da neurociência cognitiva é identificar padrões iniciais da
organização psicológica e neural que prognosticam estados futuros, tanto positivos (por
exemplo, intelectual e bem-estar social) como negativos (por exemplo, a psicopatologia).
A identificação desses padrões é mais fácil quando o mesmo grupo de crianças é
acompanhado continuamente ao longo do tempo até que se observe em algumas delas o
resultado de interesse (por exemplo, talentos, vícios, comportamentos sexuais de risco,
etc.). Só então, podemos rever os dados anteriores e observar qual a medição cerebral ou
comportamental coletada que prognostica os resultados futuros.

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Conclusões
O cérebro necessita das duas primeiras décadas de vida para se desenvolver a níveis
adultos. Durante esse tempo, as diferentes regiões do cérebro se desenvolvem em ritmos
diferentes. Juntamente com essas mudanças localizadas, as conexões entre as regiões
cerebrais também se desenvolvem gradualmente ao longo da infância e da adolescência.
Em conjunto com esses desenvolvimentos na estrutura e na função cerebral se verificam
progressos na capacidade de realizar tarefas de funcionamento executivo. As crianças
apresentam melhorias graduais em sua capacidade de planejar com antecedência, de
alternar entre tarefas e de inibir uma resposta quando instruídas a fazê-lo. O estudo das
redes cerebrais e de seu desenvolvimento pode oferecer um caminho útil para quantificar
a relação entre o desenvolvimento do cérebro e o amadurecimento do funcionamento
executivo. Os córtices frontal e parietal precisam se comunicar a fim de realizar
eficazmente as tarefas do funcionamento executivo. A comunicação eficaz entre essas
regiões não está totalmente desenvolvida até o final da adolescência, e isso pode explicar
por que as habilidades do funcionamento executivo não amadurecem até o final da
segunda década de vida.

Consequências para os pais, serviços e políticas


Precisamos ter em mente o fato de que os cérebros das crianças estão em constante
evolução. Todas as medições feitas, tanto da espessura da massa cinzenta, do volume da
massa branca, da densidade sináptica ou de qualquer outra característica anatômica do
cérebro, sofrerão alterações constantes observadas até o início da idade adulta. Essas
alterações irão, obviamente, influenciar o funcionamento cognitivo de uma criança e isso
será especialmente verdadeiro no que se refere ao funcionamento executivo, dada a
complexidade dos processos envolvidos. Considerando a importância do funcionamento
executivo no desempenho escolar e no bem-estar social, a identificação precoce dos
problemas relacionados à autorregulação cognitiva e comportamental é claramente
importante. Ao mesmo tempo, todas as crianças mais jovens terão dificuldade em
planejar com antecedência, resistir às tentações, ajustar suas emoções e persistir na
realização de uma tarefa, pois é assim que o cérebro funciona nessa idade.

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Para citar este documento:

Knapp K, Morton B. Desenvolvimento do cérebro e funcionamento executivo. Morton JB, ed. tema. In:
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Knapp K, Morton B
As Funções Executivas na Infância
YUKO MUNAKATA, PhD
LAURA MICHAELSON, BA
JANE BARKER, MPA
NICOLAS CHEVALIER, PhD
University of Colorado at Boulder, EUA
(Publicado on-line em janeiro de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)

Introdução
As funções executivas são um conjunto de processos cognitivos que dão suporte à
regulação dos pensamentos, emoções e comportamentos. Elas nos ajudam a atingir metas
em nossa vida diária, seja planejando as férias, controlando a raiva ou realizando várias
tarefas ao mesmo tempo. Elas se desenvolvem intensamente durante a infância,1,2 e são
um indicador do desempenho futuro na escola, e em termos de saúde e renda.3 Sob
algumas condições, elas podem também ser ensinadas.4 Ao mesmo tempo, as funções
executivas dependem muito da hereditariedade,5 isto é, as diferenças genéticas entre os
indivíduos contribuem para a existência de diferenças entre suas funções executivas.
Além disso, essas diferenças permanecem estáveis durante o desenvolvimento:6,7 o baixo
nível de funções executivas na infância é um indicador de um baixo nível de funções
executivas décadas mais tarde. Observam-se deficiências nas funções executivas em
crianças oriundas de famílias de baixo status socioeconômico,8 e em casos de vários
distúrbios clínicos como, por exemplo, TDAH (transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade),9 autismo10 e depressão.11

Tópico
Os limites das funções executivas podem fazer com que a criança exiba um
comportamento rebelde ou malicioso como, por exemplo, quando ela insiste em dizer que
não precisa colocar um casaco para brincar do lado de fora, ou pega um biscoito apesar
de estar ciente de que não pode comer biscoitos antes do jantar. As funções executivas
são um indicador do desempenho posterior na vida. As diferenças individuais nas funções
executivas da criança ao começar o jardim de infância prognosticam o desempenho
escolar posterior e podem ser mais críticas para o êxito inicial do que o conhecimento de
números e letras.12-14 Os comportamentos autorreguladores prognosticam as habilidades
sociais, os relacionamentos com os professores e colegas, o empenho escolar, a saúde, a
prosperidade e a criminalidade mais tarde na vida do indivíduo.3,15 Sob algumas
condições, é possível treinar o indivíduo para melhorar o desempenho de suas funções
executivas. Os programas pré-escolares desenvolvidos para melhorar a prontidão

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cognitiva e comportamental escolar e diversos tipos de intervenções na escola


fundamental têm ajudado a melhorar as funções executivas.16-18 A melhoria da função
executiva em crianças tem sido associada também com exercícios aeróbicos, artes
marciais, ioga, dança e intervenções usando jogos específicos para determinadas metas.4
As intervenções de treinamento podem ajudar a reduzir ou eliminar os déficits de função
executiva observados em crianças oriundas de famílias de baixo status
socioeconômico,19,20 embora os resultados dos estudos ecológicos que examinam os
efeitos de intervenções sobre a população ainda não tenham sido publicados.

Problemas
As funções executivas são complexas e criam desafios para a avaliação e o
acompanhamento das mudanças que ocorrem em seu desenvolvimento. Elas abrangem
uma variedade de processos cognitivos de nível superior, incluindo o planejamento, a
tomada de decisão, a manutenção e a manipulação de informações na memória de
trabalho, a observação do ambiente com vistas à obtenção de informações relevantes para
metas específicas, a passagem de uma tarefa a outra, e a inibição de pensamentos, ações e
sentimentos não desejados. Além disso, esses processos de nível superior dependem de
processos cognitivos perceptivos e motores de nível inferior o que torna difícil fazer uma
avaliação específica das funções executivas.21,22 Por exemplo, a capacidade que um
indivíduo tem de resistir à tentação de comer um chocolate quando está fazendo um
regime reflete não somente a capacidade de inibir o impulso de comer, mas também sua
fome e as razões que o levaram a fazer o regime. Essa dificuldade em avaliar
especificamente as funções executivas leva também a uma dificuldade de avaliar as
mudanças que nela ocorrem durante seu desenvolvimento. O desenvolvimento dos
processos de nível inferior juntamente com o desenvolvimento das funções executivas
cria um desafio para a elaboração de avaliações da função executiva que possam ser
usadas com indivíduos de diversas faixas etárias. Por exemplo, não seria possível
acompanhar as mudanças na inibição da infância à idade adulta avaliando as mudanças na
capacidade de manter um regime dietético! Por isso, frequentemente, os pesquisadores
têm usado diversos tipos de avaliação da função executiva com indivíduos de diferentes
faixas etárias avaliando, por exemplo, a inibição na primeira infância no contexto de
manter a atenção diante de elementos de distração,23 e a inibição infantil no contexto de
um jogo do tipo Macaco Mandou, onde, normalmente, os comportamentos de um adulto
são imitados, mas onde, às vezes, deve se fazer o oposto.24 As diferenças entre as
avaliações dificultam a obtenção de conclusões firmes sobre as mudanças do
desenvolvimento das funções executivas.

Contexto da pesquisa
O estudo das funções executivas e de seu desenvolvimento está avançando rapidamente.
A utilização de métodos da neurociência, incluindo modelos funcionais de neuroimagem,
eletroencefalografia e computacionais está proporcionando critérios sobre as mudanças
cerebrais que dão suporte ao desenvolvimento da funções executivas.2,25-27 Para lidar com
a questão da dificuldade de avaliar uma tarefa de forma isolada, os pesquisadores
desenvolveram um conjunto de tarefas que compartilham as exigências de desempenho
das funções executivas, mas que diferem sob outros aspectos. Por exemplo, um conjunto
de tarefas de inibição pode incluir uma tarefa que exija que a criança concentre seu olhar

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sobre um objeto e iniba a vontade de olhar para outro objeto que a distraia, e outra tarefa
que exija que a criança identifique a cor de uma palavra mostrada em uma tela (por
exemplo, a palavra “verde” impressa na cor azul), mas se abstenha de ler a própria
palavra. É possível utilizar técnicas estatísticas para extrair o que há de comum no
desempenho dessas tarefas e, assim, oferecer uma avaliação mais absoluta das funções
executivas.5 Para lidar com a dificuldade na comparação das funções executivas entre
diferentes faixas etárias, os pesquisadores desenvolveram avaliações que podem ser
ligeiramente alteradas para manipular as exigências das funções executivas e manter
inalterados, ao mesmo tempo, todos os outros aspectos da tarefa. Por exemplo, em uma
tarefa onde se solicita que a criança iniba a vontade de olhar para um objeto que a
distraia, o número de elementos de distração pode ser aumentado com a idade. Essas
medidas acrescentam elementos específicos a uma grande amplitude de faixas etárias o
que permite que os pesquisadores observem mudanças quantitativas no desempenho a fim
de acompanhar o desenvolvimento das funções executivas.1

Principais questões para estudo


• Quais os desenvolvimentos observados nas funções executivas durante a infância?
• O que impulsiona esses desenvolvimentos?
• Por que as funções executivas servem de indicadores do funcionamento e da
inteligência em geral no futuro?

Resultados de estudos recentes


Os processos que compõem as funções executivas parecem se tornar mais especializados
ao longo do desenvolvimento: na primeira infância, as crianças usam os mesmos
processos cognitivos em todas as situações que exigem controle, enquanto que, a partir da
infância média, esses processos, progressivamente, especializam-se em componentes
como a supressão de uma ação habitual ou alternância entre tarefas múltiplas.21,28,29 As
funções executivas se tornam também mais autodirigidas (de forma que as crianças
dependem cada vez menos de outras pessoas), e passam de controle reativo (onde as
crianças se ajustam aos eventos conforme ocorrem) a controle proativo (onde as crianças
podem prever e se prepara para eventos que estão para ocorrer).2 Por exemplo, as
crianças mais jovens podem estar propensas a estudar para uma prova da escola somente
em cima da hora e quando os pais exigem, enquanto que as crianças mais velhas podem
começar a estudar com mais antecedência, a fim de se preparar para possíveis problemas.
As alterações no desempenho das funções executivas são impulsionadas, em parte, por
uma crescente capacidade de ter consciência dos objetivos apropriados (por exemplo,
continuar estudando apesar da tentação de jogar videogames), mas também pela
capacidade crescente das crianças de controlar seu ambiente para determinar quais são os
comportamentos apropriados (por exemplo, é importante estudar hoje para a prova de
amanhã).30,31 Essas melhorias são acompanhadas por uma atividade que se torna mais
intensa com a idade em uma rede neural amplamente distribuída que abrange o córtex
pré-frontal, o córtex parietal e os gânglios basais, com maior conectividade entre essas
regiões e variações nos padrões de ativação em todo o desenvolvimento.25,27

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Lacunas dos estudos


Até o momento, temos uma compreensão limitada sobre as interações entre genes e
ambiente nas funções executivas: como as experiências ambientais influenciam a
expressão dos genes que influenciam as funções executivas, e como as variáveis
genéticas influenciam as características ambientais que podem influenciar as funções
executivas.5 Além disso, os estudos têm enfatizado, primariamente, as mudanças
quantitativas na eficiência dos processos subjacentes às funções executivas, assumindo
que todas as crianças utilizam os mesmos processos ou estratégias e que as aplicam de
forma mais bem sucedida à medida que a criança envelhece. No entanto, as estratégias
podem se alterar com a idade e entre crianças da mesma idade, dando origem,
potencialmente, a diferentes vias de desenvolvimento das funções executivas. O grau de
variação da estratégia permanece, em grande parte, inexplorado.32,33 Serão então
necessários mais estudos para entender integralmente quais as alterações cerebrais que
servem de suporte às mudanças nas funções executivas, particularmente durante a
primeira infância, e como essas alterações cerebrais levam a mudanças nas funções
executivas.2

Conclusões
Embora as funções executivas sejam complexas e difíceis de avaliar, progressos
significativos têm sido feitos na compreensão desses processos cognitivos fundamentais
de nível superior durante a infância –como eles mudam durante o desenvolvimento, como
influenciam o comportamento, quais os aspectos do desempenho mais tarde na vida que
eles prognosticam e que tipo de experiências pode influenciar o desenvolvimento. Este
trabalho destacou o papel essencial das funções executivas no desenvolvimento das
crianças. Ainda restam muitas perguntas a serem respondidas por meio de mais estudos
comportamentais e neurocientíficos. Por exemplo, como crianças diferentes diferem no
desenvolvimento de suas funções executivas e as consequências dessas variações, por que
as funções executivas prognosticam o desempenho mais tarde na vida e como a genética,
as influências ambientais e as resultantes alterações cerebrais levam às melhorias radicais
da função executiva observadas durante a infância. Uma melhor compreensão do
desenvolvimento das funções executivas será crucial para o aperfeiçoamento dos
programas de treinamento, estratégias de intervenção e ferramentas de diagnóstico
precoce elaborados para maximizar o potencial das crianças para um desempenho escolar
satisfatório no futuro.

Consequências para os pais, serviços e políticas


Quando as crianças fazem coisas que não deveriam ou quando parecem não estar
ouvindo, elas não estão, necessariamente, sendo rebeldes ou maliciosas. Mesmo nas
crianças altamente motivadas a se comportar de forma adequada, os limites de suas
funções executivas podem prejudicar sua capacidade de fazê-lo. Quando não resolvidos,
os déficits nas funções executivas podem prognosticar um desempenho escolar mais
baixo e podem ajudar a explicar as disparidades persistentes no desempenho escolar entre
alunos de altos e baixos status socioeconômicos. No entanto, os responsáveis pela
elaboração de políticas que contam com recursos limitados podem achar difícil escolher
entre as intervenções disponíveis que visam melhorar as funções executivas. Os dados
para comparação da eficácia de diferentes intervenções são limitados, as intervenções

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podem ter um impacto diferente em crianças de idades diferentes e com trajetórias de


desenvolvimento diferentes e poucos programas passaram da fase de estudos de
demonstração a intervenções no sistema como um todo. As melhorias das ferramentas de
diagnóstico precoce e dos esforços para determinar os impactos duradouros das
intervenções na infância ajudarão a esclarecer qual o momento mais apropriado e qual a
melhor administração das intervenções.

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33. Moriguchi Y, Hiraki K. Longitudinal development of prefrontal function during


early childhood. Dev Cogn Neurosci. 2011;1(2):153–162.

Para citar este documento:

Munakata Y, Michaelson L, Barker J, Chevalier N. As funções executivas na infância. Morton JB, ed.
tema. In: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira
Infância [on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development e Strategic
Knowledge Cluster on Early Child Development; 2013:1-7. Disponível em: http://www.enciclopedia-
crianca.com/documents/Munakata-Michaelson-Barker-ChevalierPRTxp1.pdf. Consultado [inserir data].

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Função Executiva e Desenvolvimento Emocional
1
M. ROSARIO RUEDA, PhD
2
PEDRO M. PAZ-ALONSO, PhD
1
Universidad de Granada, ESPANHA
2
Basque Center on Cognition, Brain and Language, ESPANHA
(Publicado on-line em janeiro de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)

Introdução
O desenvolvimento emocional envolve o aumento da capacidade de sentir, entender e
diferenciar emoções cada vez mais complexas, bem como a capacidade de autorregulá-
las, para que o indivíduo possa se adaptar ao ambiente social ou atingir metas presentes
ou futuras. Muitas vezes, as crianças enfrentam situações em que devem escolher entre
opções conflitantes, como terminar a lição de casa antes de brincar ou comer uma
guloseima naquele momento, ao invés de esperar para ter uma refeição saudável. Ao
tomar tais decisões, elas precisam conciliar o conflito entre escolhas disponíveis que se
opõem no contexto de um conjunto específico de expectativas e regras, bem como
controlar os impulsos para a gratificação imediata em benefício de uma escolha que é
menos imediata e automática. Esse tipo de controle comportamental e cognitivo está
relacionado ao conceito das funções executivas. As funções executivas são processos
multidimensionais de controle cognitivo que se caracterizam por serem voluntários e
exigir um alto esforço. Eles incluem a capacidade de avaliar, organizar e alcançar metas,
bem como a capacidade de adaptar o comportamento com flexibilidade ao ser
confrontado com novos problemas e situações. As evidências do desenvolvimento
cognitivo e da neurociência cognitiva do desenvolvimento têm demonstrado que o
desenvolvimento da regulação da emoção é fortemente apoiado por diversas funções
executivas essenciais, tais como o controle da atenção, a inibição de comportamentos
inadequados, a tomada de decisão e outros processos cognitivos elevados que ocorrem
em contextos emocionalmente exigentes.1,2

Tópico
Como os seres humanos são predominantemente sociais, entender suas próprias emoções
e a dos outros é uma habilidade importante e uma boa parte do cérebro é dedicada a isso.3
As emoções básicas, como a alegria ou o medo, diferem das emoções chamadas morais
(por exemplo, vergonha, culpa, orgulho, etc.), que surgem nas interações sociais, onde
existem normas ou um comportamento ideal estabelecidos de forma implícita ou
explícita. Compreender e administrar as emoções morais exige uma internalização das
normas e princípios morais compartilhados pela comunidade. Também é necessário

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perceber e entender as emoções das outras pessoas (empatia) e fazer atribuições de seus
estados mentais (teoria da mente), incluindo a compreensão de suas crenças e atitudes.
Dessa forma, o desenvolvimento emocional e social estão estreitamente vinculados entre
si. Outro componente importante do desenvolvimento emocional, ou seja, a regulação da
emoção, não é menos importante para a socialização. Nas atividades sociais (por
exemplo, na escola), muitas vezes é necessário controlar as reações emocionais, tanto
positivas (por exemplo, o entusiasmo) como negativas (por exemplo, a frustração), para
que o indivíduo possa se adaptar às normas e aos objetivos. Portanto, o desenvolvimento
do controle executivo é fundamental para a regulação da emoção.

Problemas
A função executiva, muitas vezes, é considerada uma parte geral da função cognitiva.
Isso significa que ela está envolvida na regulação todos os tipos de comportamentos, tais
como aqueles que envolvem a linguagem, a memória, o raciocínio, etc. No entanto,
alguns autores têm sugerido que o comportamento emocional, social e motivado (por
exemplo, decidir-se entre comer um pedaço de bolo ou abraçar um ente querido) pode ser
mais difícil de controlar e até mesmo exigir um tipo diferente de mecanismo em
comparação com condições emocionalmente neutras (por exemplo, decidir se cinco é um
número par ou ímpar). Alguns autores estabeleceram uma distinção entre os aspectos
"frios" (puramente cognitivos) e "quentes" (afetivos) da função executiva.4 Assim, na
resolução de problemas volta para uma meta, a função executiva e a regulação da emoção
têm uma relação recíproca. No entanto, os requisitos específicos da regulação da emoção
dependerão da importância motivacional do problema e de se o próprio problema é
“quente” ou “frio”.1

Contexto do estudo
A natureza multidimensional da construção da função executiva contrasta com a ausência
de um acordo específico sobre um teste padrão de excelência das funções executivas,
apesar da natureza altamente estruturada das tarefas tipicamente usadas para examinar as
cada uma das diferentes funções. Por isso, utiliza-se uma grande variedade de tarefas de
laboratório para medir as diferentes funções executivas, sendo que algumas das tarefas
são uma adaptação daquelas utilizadas com adultos. Uma distinção geral entre as tarefas
de função executiva “frias” e as “quentes” pode ser feita, dependendo de se a tarefa
envolve lidar com informações emocionalmente relevantes ou não.5 Dentro dessa
classificação geral, as tarefas podem ser divididas também de acordo com a função
específica objetivada, por exemplo, memória de trabalho, controle inibitório ou
flexibilidade mental. No entanto, considerando o desenvolvimento prolongado da função
executiva durante toda a infância, uma grande variedade de tarefas estão disponíveis,
sendo elas apropriadas para crianças de uma determinada faixa de idade ou nível de
habilidade.6

Principais questões para estudo


1. O desenvolvimento emocional é apoiado pelo amadurecimento das habilidades
associadas às funções executivas? Como é o desenvolvimento dos principais
aspectos do desenvolvimento emocional (por exemplo, a empatia, a teoria da

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mente, a internalização dos princípios morais, etc.) relacionados ao


amadurecimento do córtex pré-frontal?
2. Quais são os fatores que determinam o desenvolvimento das habilidades
associadas às funções executivas?
3. As diferenças individuais no desenvolvimento da função executiva e da regulação
da emoção são determinadas pelos genes, ou estão vinculadas à experiência?
4. É possível promover o desenvolvimento da função executiva por meio de
intervenções educacionais? Caso sim, a função executiva melhorada poderia
resultar num melhor desenvolvimento emocional?

Resultados de estudos recentes


As evidências de diversos estudos indicam que o amadurecimento dos aspectos do
funcionamento executivo, tais como o controle inibitório e a atenção executiva, está
fortemente relacionado com o aumento da compreensão emocional (de si mesmo e dos
outros) e à regulação emocional. O desempenho das crianças em idade pré-escolar nas
tarefas de laboratório que avaliam o controle inibitório correlaciona-se significativamente
com sua capacidade de regular suas emoções.7,8 Além disso, as crianças com capacidades
de controle de atenção superiores tendem a lidar com a raiva utilizando métodos verbais
não hostis, ao invés de métodos claramente agressivos.9 O maior autocontrole (do inglês
“effortful control”) também se correlaciona positivamente com a empatia.10 Demonstrar
empatia em relação às outras pessoas exige a interpretação de seus sinais de aflição ou de
prazer. De fato, a capacidade do indivíduo de distinguir entre seus próprios e os estados
mentais dos outros indivíduos (Teoria da Mente, ToM), que é outro componente
cognitivo central da empatia,11 está fortemente associada às diferenças individuais de
autocontrole e de controle inibitório.12 No entanto, os estudiosos ainda não chegaram a
um acordo se a ToM está diretamente associada a habilidades mais gerais de regulação da
emoção durante o desenvolvimento inicial da criança.13 Além disso, as diferenças
individuais no controle executivo estão associadas ao desenvolvimento da consciência,
que envolve a interação entre sentir emoções morais e se comportar de forma compatível
com as regras e normais sociais.14 Nesse contexto, o controle internalizado do
comportamento é maior em crianças com maiores capacidades de autocontrole.15 A
interpretação comum é que o autocontrole proporciona a flexibilidade de atenção
necessária para conectar os princípios morais, os sentimentos e as ações.

Além desses estudos, as linhas de pesquisa atuais estão investigando os fatores, tanto
educacionais como constitucionais, que influenciam o desenvolvimento da função
executiva. Os estudos de treinamento de diferentes funções executivas em crianças em
idade pré-escolar e em idade escolar têm demonstrado benefícios diretos nas habilidades
ensinadas, incluindo na atenção executiva,16,17 no raciocínio fluido,18,19,20 na memória de
trabalho21, 22,23 e no controle cognitivo.24

Lacunas dos estudos


É possível que futuros estudos tenham o potencial de iluminar ainda mais a questão das
funções executivas e do desenvolvimento emocional. Embora os estudos transversais
possam ser muito informativos, os estudos longitudinais são necessários para excluir os
possíveis efeitos originados da discrepância individual entre os grupos etários. Portanto,

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os estudos longitudinais podem fornecer informações importantes sobre o


desenvolvimento cognitivo e emocional típico e atípico.25 Outra questão importante, mas
ainda não resolvida, é até que ponto as intervenções educacionais destinadas a promover
a função executiva podem produzir mudanças estáveis na eficiência desse sistema, tanto
em nível estrutural como nos níveis funcionais, ao longo do desenvolvimento. Alguns
estudos têm demonstrado a existência de benefícios derivados do treinamento da função
executiva no nível da função cerebral durante o desenvolvimento,16,17,22,23 que ainda
podem ser observados alguns meses mais tarde, sem treinamento adicional.16 No entanto,
serão necessários estudos adicionais para caracterizar ainda mais os benefícios do
treinamento ao longo do tempo, e se os benefícios do treinamento da função executiva se
transferem para as habilidades de regulação da emoção.

Conclusões
O desenvolvimento emocional envolve uma maior compreensão das emoções do próprio
indivíduo e de outros indivíduos, bem como o aumento da capacidade de regular as
emoções baseando-se em metas atuais e regras compartilhadas socialmente. Na função
hormonal, considera-se que as alterações desempenham um papel fundamental no
ajustamento social e na competência escolar.26, 27 O desenvolvimento adaptável da
emoção está vinculado ao bem-estar da criança, enquanto que as dificuldades com a
regulação emocional estão relacionadas a perturbações do humor e a problemas
comportamentais.27, 28 O desenvolvimento emocional é formado a partir de uma
diversidade de habilidades cognitivas, incluindo a capacidade de regular o
comportamento com flexibilidade, de forma voluntária, exigindo esforço (função
executiva), dependendo fortemente do amadurecimento dos lobos frontais.29 A regulação
cognitiva e emocional parecem se desenvolver em conjunto, exibindo um forte
desenvolvimento durante o período pré-escolar e um curso de desenvolvimento mais
demorado durante a infância posterior e adolescência.30

Consequências para os pais, serviços e políticas


Um número de evidências cada vez maior sugere que a função executiva pode ser
melhorada através de treinamento cognitivo e que essas intervenções têm o potencial de
melhorar a eficiência dos sistemas cerebrais, servindo de base para as habilidades de
regulação comportamental e emocional nas crianças,16 assim como nos adultos23, 31,32
Alguns estudos recentes também demonstram que o desenvolvimento do controle
executivo é afetado por fatores ambientais, como a educação proporcionada pelos pais e a
escolaridade. A qualidade das interações entre pais e filhos na primeira infância parece
estimular o desenvolvimento da função executiva mais tarde. As atitudes dos pais, tais
como a afetividade, a receptividade e a disciplina pacífica, que estão relacionadas para
garantir o vínculo entre pais e filhos e uma reciprocidade positiva, estão vinculadas às
habilidades avançadas da função executiva na criança.33 Da mesma forma, os currículos
escolares que se concentram em ensinar habilidades de regulação têm proporcionado um
aumento significativo do desenvolvimento do controle executivo na idade pré-escolar.24
A plasticidade do sistema neurocognitivo subjacente da regulação cognitiva e emocional
poderia estar relacionada ao seu amadurecimento prolongado durante as duas primeiras
décadas de vida. É importante ressaltar que a suscetibilidade desse sistema
neurocognitivo que pode ser influenciado por uma ampla gama de experiências oferece

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múltiplas oportunidades de estimular a competência social e emocional das crianças Os


dados dos estudos resumidos neste artigo devem encorajar os responsáveis pelo
planejamento e estabelecimento de políticas a promover o uso de programas educacionais
que incluam em seus currículos a abordagem direta da competência sócio-emocional.

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Para citar este documento:

Rueda MR, Paz-Alonso PM. Função executiva e desenvolvimento emocional. Morton JB, ed. tema. In:
Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância
[on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development e Strategic
Knowledge Cluster on Early Child Development; 2013:1-7. Disponível em: http://www.enciclopedia-
crianca.com/documents/Rueda-Paz-AlonsoPRTxp1.pdf. Consultado [inserir data].

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Papel protetor das Habilidades das Funções Executivas em
Ambientes de Alto Risco
AMANDA J. WENZEL , BA
MEGAN R. GUNNAR, PhD
University of Minnesota, EUA
(Publicado on-line em abril de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)
Resiliência

Introdução
Recentemente, o campo de resiliência começou a focar o papel protetor das funções
executivas no sucesso escolar de crianças que enfrentam adversidades. A função
executiva, também denominada controle cognitivo, descreve as habilidades que visam
controlar o comportamento, o pensamento e as emoções.1 Essas habilidades podem ser
observadas na capacidade de reter informações na memória de trabalho, manter ou
alternar a atenção, inibir respostas automáticas para executar uma ação para a qual foram
recebidas instruções ou com um objetivo específico, ou postergar gratificação.

As habilidades da FE se desenvolvem rapidamente no período pré-escolar2 e são


consideradas como sendo uma base para a aptidão cognitiva e comportamental na escola.3
Na sala de aula, as habilidades das funções executivas podem se manifestar como a
capacidade de prestar atenção, de seguir instruções, esperar a vez, e lembrar-se das
regras. Essas habilidades têm demonstrado ser especialmente importantes para as crianças
expostas ao stress nos primeiros anos de vida, e pesquisas recentes sugerem que as
habilidades das funções executivas são mais preditivas da resiliência na escola e da
interação entre pares do que o nível de inteligência.4,5,6,7

Embora estas habilidades sirvam de proteção para crianças em situação de alto risco, o
desenvolvimento das habilidades das funções executivas pode ser prejudicado pela
exposição ao trauma e ao stress crônico.8 Crianças oriundas de distintos contextos
adversos (por exemplo, famílias sem-teto/com alta mobilidade, pobreza, institucionalismo
precoce, maus-tratos, etc.) tendem a ter déficits da função executiva.6,7,9,10,11 Em
conjunto, estes resultados sugerem a necessidade de reduzir a exposição ao stress crônico
e de buscar desenvolver habilidades das funções executivas através da intervenção e de
esforços de prevenção com as crianças.

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Assunto
Jovens em situação de alto risco com habilidades das funções executivas mais
desenvolvidas demostram melhores prontidão e desempenho cognitivo e comportamental
na escola.3,12 Aparentemente, essas habilidades permitem que as crianças lidem melhor
com seu ambiente em constante mudança,9,13 o que pode ser especialmente importante
para crianças em desenvolvimento em ambientes caóticos.

No entanto, pesquisas recentes têm demostrado que as crianças expostas a altos níveis de
adversidade podem estar menos preparadas para obter sucesso na escola, em parte devido
aos déficits nas habilidades da função executiva.6,7,9,10,11 Esses déficits podem minar as
habilidades das crianças para conseguir ser bem sucedidas em termos acadêmicos e
desenvolver relacionamentos positivos com os pares e professores.12,14,15 Isso pode ter
implicações de longo prazo para o sucesso escolar, visto que a diferença de desempenho
tende a persistir e até mesmo ampliar-se ao longo dos anos de vida escolar.16,17

Considerando as evidências de que as habilidades das funções executivas podem ser


modificadas através de intervenções, e que crianças que haviam demonstrado um
desempenho inicial deficiente alcançaram melhores resultados,18 os esforços recentes para
melhorar a transição para a vida escolar de crianças em situação de alto risco têm se
focado em construir habilidades das funções executivas antes do jardim de infância.4,19.
Além disso, as pesquisas sugerem que as habilidades das funções executivas podem ser
influenciadas por intervenções ao longo dos anos escolares.18

Problemas
Estudar o papel protetor da função executiva apresenta vários desafios. Em primeiro
lugar, há poucos meios capazes de captar plenamente as habilidades das funções
executivas das crianças que apresentam atraso no desenvolvimento dessas habilidades.
Visto que a exposição ao stress crônico nos primeiros anos de vida tem sido associada ao
comprometimento das habilidades da função executiva em algumas crianças,8 é
fundamental ser capaz de medir uma vasta gama de funcionamentos para capturar
integralmente a variação dessas habilidades.

As atuais intervenções para melhorar as habilidades das funções executivas empregam


diversos métodos, incluindo treinamento, currículo da sala de aula, ou atividade física.18
Embora esses programas sugiram que as habilidades das funções executivas sejam
flexíveis, eles também demostram um sucesso diversificado na melhoria das
habilidades.20,21,22,23,24 Os programas que utilizam treinamento de base computacional dão
esperanças de melhorar as habilidades das funções executivas, no entanto, as melhorias
são específicas do domínio treinado (por exemplo, memória de trabalho) e não parecem
se expandir para outras áreas mais gerais da função executiva.18

Outros programas destinados a aumentar as habilidades das funções executivas integram


atividades da função executiva ao cotidiano das crianças, tais como o programa pré-
escolar Tools of the Mind.25 Com esse programa, as crianças são incentivadas a utilizar a
fala privada ou lembretes visuais (por exemplo, um desenho de uma orelha, para lembrá-
los que elas precisam ouvir ou prestar atenção) para desenvolver habilidades de controle

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inibitório. Os resultados iniciais sugeriram que as crianças dessas salas de aula


desenvolvem melhor as habilidades da função executiva.26 No entanto, estudos recentes
não conseguiram replicar essas constatações,27 sugerindo possíveis desafios com o
programa ou com a fidelidade de implementação.

Principais Questões de Pesquisa


Estudos de desenvolvimento concebidos para entender o papel protetor da função
executiva, muitas vezes, abordam as seguintes questões:

Qual é o mecanismo através do qual a função executiva prepara as crianças para o


sucesso escolar?
O que ajuda a promover as habilidades das funções executivas em crianças mais jovens
que apresentam defasagens?
O que ajuda a proteger essas habilidades do stress crônico?

Resultados Recentes de Pesquisas


As pesquisas, de forma consistente, indicam que as crianças com habilidades das funções
executivas mais desenvolvidas antes de entrarem para o jardim de infância apresentam
um melhor desempenho escolar.6,7 Para o desempenho acadêmico, essas habilidades
podem servir de trampolim para o sucesso relacionado à linguagem e à matemática.12 De
fato, em uma amostra de crianças de famílias de baixa renda, os pesquisadores
descobriram que as habilidades das funções executivas anteriores ao jardim de infância
são prognosticadoras de maior crescimento das habilidades matemáticas e de
alfabetização em todo o jardim de infância.12 Uma transição bem sucedida para a escola
pode ser particularmente crítica para as crianças que tenham enfrentado altos níveis de
adversidade, e que podem estar em risco de apresentar um desempenho escolar mais
baixo.

Além de fornecer uma base cognitiva para o aprendizado, as habilidades das funções
executivas também podem dar suporte ao sucesso acadêmico através da promoção do
comportamento adequado na sala de aula.3 Muitos professores do jardim de infância
relatam que é mais importante que as crianças saibam se controlar na sala de aula, seguir
instruções e não provocar tumultos do que conhecer o alfabeto ou saber contar até 20.3
Isso sugere que os professores podem achar que as crianças com melhores habilidades
das funções executivas são mais fáceis de ser ensinadas do que as crianças mais distraídas
e mais propensas a tumultuar.3

Além disso, as habilidades das funções executivas podem promover o desenvolvimento


de relacionamentos positivos com o professor e seus pares.28 Os estudos sugerem que há
uma sobreposição entre o desenvolvimento da função executiva e a Teoria da Mente (em
inglês, ToM), que é a capacidade de identificar que os desejos e conhecimentos dos
outros são diferentes dos nossos. Essas habilidades estão associadas a níveis mais baixos
de agressão, melhor habilidades de resolução de problemas e habilidades sociais
positivas.29,30 Além disso, a capacidade de adiar a gratificação pode estar vinculada à
capacidade das crianças para regular a frustração e o stress.31,32

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Lacunas da Pesquisa
Atualmente, há poucas pesquisas sobre a eficácia das intervenções para aumentar as
habilidades das funções executivas em crianças em situações de alto risco. Ao
desenvolver intervenções para essas crianças, pode ser fundamental considerar que as
crianças oriundas de contextos adversos variados podem, de forma consistente, apresentar
deficiências na função executiva.6,7,9,10,11 No entanto, é importante lembrar que as
necessidades de intervenção e as respostas das crianças com diferentes experiências
podem variar. Para as crianças que, atualmente, estão sujeitas ao stress crônico (por
exemplo, de famílias sem-teto/com alta mobilidade), não está claro se é viável se
concentrar nas habilidades da função executiva antes de reduzir o stress e desenvolver
habilidades de enfrentamento. É necessário haver mais pesquisas para saber qual é a
melhor forma de adaptar as intervenções para considerar as necessidades das crianças
com diferentes experiências.

Conclusões
Consistentemente, há estudos que sugerem que a exposição ao trauma ou ao stress
crônico nos primeiros anos de vida pode prejudicar o desenvolvimento das habilidades da
função executiva.6,7,9,10,11 Essas habilidades parecem fornecer a base para a preparação
para a vida escolar através da cognição e do comportamento.3,12 As crianças com
melhores habilidades das funções executivas podem ser mais fáceis de ser ensinadas.3 De
fato, em uma amostra com crianças em situação de alto risco, as crianças com melhores
habilidades das funções executivas no início do jardim de infância demostraram melhores
resultados em relação à alfabetização e números do que as crianças com habilidades
iniciais mais deficientes.12 Considerando que há evidências de que a defasagem de
desempenho persiste e pode até mesmo se ampliar ao longo dos anos escolares,16,17 é
fundamental que as crianças em situação de alto risco comecem sua vida escolar com o
maior índice de sucesso possível.

Por esta razão, tem sido dada uma atenção crescente às intervenções que promovam a
função executiva. Embora haja evidências de que a função executiva é flexível,18,33 há
poucas intervenções que tenham tentado promover as habilidades em crianças que
apresentam níveis de stress tóxico. Os esforços para elaborar intervenções que promovam
a função executiva nessas crianças podem precisar abordar a exposição aos níveis de
stress existente e, simultaneamente, trabalhar para reduzi-lo para obter o máximo
benefício.

Implicações para os Pais, Serviços e Plano de Ação


As pesquisas realizadas até hoje mostram a importância das habilidades das funções
executivas para o sucesso escolar, especialmente para crianças que vivem em ambientes
de alto risco. Os programas destinados a estimular a função executiva têm apresentado
êxito em múltiplos níveis, incluindo o currículo escolar, treinamento baseado em
computador, e até mesmo atividades físicas, como artes marciais.18,33,34 Como no
treinamento baseado em computador, os pais podem ser capazes de promover essas
habilidades com jogos que exijam mudanças na conversação/direção, habilidades de
atenção e memória. Além disso, o tratamento sensível das crianças pode promover essas
habilidades, protegendo-as em algum grau do caos por qual elas estão passando.35

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As habilidades das funções executivas também foram focadas com sucesso através do
currículo escolar na pré-escola26 e do programa escolar Head Start.4,34 Evidências
experimentais sugerem que os programas para a primeira infância, como o Head Start,
podem conseguir construir com sucesso habilidades das funções executivas, fornecendo
mais suporte de auto-regulação na sala de aula (por exemplo, implementando regras e
rotinas claras, redirecionando ou recompensando o comportamento das crianças).34 A
atenção crescente às habilidades das funções executivas nos programas da primeira
infância pode reduzir a defasagem de desempenho aparente antes do início da vida
escolar e que persiste ao longo dos anos escolares.

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Para citar este documento:

Wenzel AJ, Gunnar MR. Papel protetor das habilidades das funções executivas em ambientes de alto risco.
Morton JB, ed. tema. In: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o
Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early
Childhood Development e Strategic Knowledge Cluster on Early Child Development; 2013:1-7.
Disponível em: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/Wenzel-GunnarPRTxp1-Estimulacao-
cognitiva.pdf. Consultado [inserir data].

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Wenzel AJ, Gunnar MR
Status Socioeconômico e Desenvolvimento das Funções
Executivas
CAYCE J. HOOK, BA
GWENDOLYN M. LAWSON, BA
MARTHA J. FARAH, PhD
University of Pennsylvania, EUA
(Publicado on-line em janeiro de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)

Introdução
Alguns estudos recentes sugerem a existência de uma relação entre o status
socioeconômico da criança e suas funções executivas.

Considerando que tanto o status socioeconômico quanto as funções executivas estão


correlacionados de maneira forte e independente ao desempenho escolar e à situação de
saúde, talvez a compreensão de seu inter-relacionamento tenha o potencial de
fundamentar intervenções com o objetivo de reduzir as disparidades e promover o
desenvolvimento saudável de todas as crianças.

Tópico
O status socioeconômico, uma medida da posição social que, geralmente, inclui a renda,
o nível de educação e a profissão, tem sido vinculado a um amplo conjunto de situações
de vida, desde a habilidade cognitiva e o êxito escolar até a saúde física e mental.1-5
Entender as maneiras pelas quais o status socioeconômico na infância influencia as
situações de vida é uma questão de importância fundamental para a educação e a saúde
pública, particularmente quando as tendências econômicas no mundo inteiro forçam um
número cada vez maior de famílias a uma situação de pobreza.6

O nível atual de conhecimento sobre o status socioeconômico e o desenvolvimento da


criança indica que as crianças oriundas de famílias com um status socioeconômico mais
elevado têm funções executivas melhores –a capacidade de dirigir, controlar e regular
ativamente seus pensamentos e comportamento– do que as crianças oriundas de famílias
com um status socioeconômico baixo. Considerando que está demonstrado que a função
executiva é um indicador do êxito escolar futuro7,8 e que está associada à saúde mental,9-
13
é possível que ela possa, em parte, servir de elemento mediador do vínculo bem
estabelecido entre o status socioeconômico e o êxito escolar.

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ESTIMULAÇÃO COGNITIVA (FUNÇÕES EXECUTIVAS)

Problemas
Os estudos sobre esse tópico se defrontam com alguns desafios metodológicos que
resultam em parte da ampla e, por vezes, ambígua natureza dos termos “funções
executivas” e “status socioeconômico”. O termo “funções executivas” engloba os
processos de ordem superior, tais como o controle inibitório, a memória de trabalho e a
flexibilidade de atenção que governam o comportamento intencional. Essa grande
amplitude de habilidades pode ser operacionalizada através de muitas tarefas válidas, tais
como tarefas cognitivas computadorizadas ou relatórios parentais sobre o comportamento
das crianças.14 Da mesma forma, o “status socioeconômico” é um amplo construto que
pode ser medido de diversas maneiras.15 Além disso, como ele não pode ser manipulado
experimentalmente, se torna difícil distinguir os efeitos genéticos dos efeitos ambientais,
assim como as contribuições individuais das várias condições associadas à pobreza (por
exemplo, nível de stress familiar mais elevado, estimulação cognitiva reduzida, má
nutrição, grande número de indivíduos vivendo sob um mesmo teto ou condições
difíceis).16,17 A dificuldade de estabelecer uma causalidade na relação entre o status
socioeconômico e as funções executivas indica a necessidade de estudos amplos, bem
elaborados, e cuidadosamente interpretados.

Contexto da pesquisa
A maioria dos estudos sobre o status socioeconômico e as funções executivas tem
examinado o desempenho comportamental nas tarefas de função executiva para o nível
de desenvolvimento apropriado, embora alguns estudos recentes18-20 tenham usado
avaliações eletrofisiológicas da função cortical pré-frontal. O desenvolvimento das
funções executivas tem sido investigado por meio de estudos transversais e estudos
longitudinais de ampla escala, tais como o Study of Early Childcare do NICHD (National
Institute of Child Health and Human Development) e o Family Life Project. Diversos
estudos de mediação utilizam avaliações de visitas ao ambiente doméstico, como o
inventário HOME21 ou observações sobre as interações entre pais-filhos durante
atividades de lazer livres ou estruturadas.22

Principais questões para estudo


1. Qual a relação entre o status socioeconômico da criança e o desenvolvimento das
funções executivas?
2. Quais os fatores ambientais que servem para mediar a relação entre o status
socioeconômico e as funções executivas?

Resultados de estudos recentes


Qual a relação entre o status socioeconômico infantil e o desenvolvimento das funções
executivas?
Os estudos indicam que o status socioeconômico influencia os sistemas neurocognitivos
de forma não uniforme. Em uma série de estudos recentes,23-25 crianças de jardim de
infância, e alunos dos níveis fundamental e médio de status socioeconômicos diferentes
foram submetidos a uma bateria de testes de avaliação dos sistemas cognitivos
independentes, incluindo as funções executivas, a memória, a linguagem e a cognição
visuoespacial. As habilidades de linguagem e as funções executivas –particularmente nos

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campos de memória de trabalho e controle cognitivo– foram alguns dos aspectos mais
afetados.

As disparidades de status socioeconômico nas funções executivas foram documentadas


em uma ampla faixa de idade, da primeira infância26 até o início da adolescência.27 De
forma consistente, os estudos indicaram que um status socioeconômico mais elevado está
associado a um melhor desempenho das funções executivas em diferentes avaliações do
status socioeconômico (como a relação entre desempenho e necessidades ou a educação
materna) e em diferentes avaliações das funções executivas (como memória de trabalho e
controle inibitório).28-32

As funções executivas são suportadas por uma região do cérebro chamada de córtex pré-
frontal, que passa por um longo período de desenvolvimento pós-natal, 33 e, portanto,
pode ser especialmente suscetível às influências da experiência da infância.

Os pesquisadores usaram potenciais relacionados a eventos (em inglês, ERPs), que


medem a atividade do cérebro através de eletrodos colocados no couro cabeludo para
estudar as diferenças socioeconômicas no processamento neural no córtex pré-frontal.
Dois estudos ERP18,20 compararam avaliações neurais de atenção seletiva em grupos
socioeconômicos. Nos dois casos, não houve diferenças no desempenho da tarefa, mas
evidências do processamento neural indicaram que as crianças com baixo status
socioeconômico prestavam mais atenção a estímulos irrelevantes do que seus colegas
com status socioeconômico mais elevado.

Quais os fatores ambientais que servem para mediar a relação entre o status
socioeconômico e as funções executivas?
Os estudos têm demonstrado que muitos fatores ambientais –como stress, estimulação
cognitiva no lar, ambiente e nutrição pré-natal– variam entre os diferentes níveis
socioeconômicos.16,17 Qualquer desses fatores poderia contribuir para causar disparidades
socioeconômicas nas funções executivas. Alguns estudos recentes tentaram isolar os
fatores ambientais que servem para mediar a relação status socioeconômico-função
executiva. Esses fatores mediadores podem fundamentar as intervenções voltadas para as
disparidades de status socioeconômicos nas funções executivas e o desempenho em
outros aspectos cognitivos e comportamentais.

Vários estudos demonstraram que os diferentes aspectos do ambiente familiar inicial


influenciam o desenvolvimento do status socioeconômico. Por exemplo, constatou-se que
a qualidade das interações entre pais e filhos, especialmente na primeira infância, serve
de mediadora para os efeitos do status socioeconômicos sobre as funções executivas aos
36 meses de idade.22 Além disso, os níveis de stress em bebês (medidos através do
cortisol salivar) explicam parcialmente o efeito do cuidado positivo dos pais sobre as
funções executivas, sugerindo que o cuidado parental pode afetá-la, moldando as
respostas da criança ao stress.28 Outros estudos indicam que o apoio dos pais à autonomia
da criança,34 o suporte concedido pelos pais através de ajuda e orientação não intrusiva e
um ambiente familiar caótico35,36 são importantes indicadores do desempenho futuro das
funções executivas na primeira infância.

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Lacunas dos estudos


• A trajetória das disparidades das funções executivas é amplamente desconhecida. Os
efeitos do status socioeconômico poderiam crescer ao longo do tempo, por exemplo,
caso aumentem durante o desenvolvimento. Inversamente, eles poderiam
permanecer constantes ou diminuir, por exemplo, caso sejam contrabalançados pela
educação formal.
• Os estudos realizados até hoje sugerem que o desenvolvimento das funções
executivas pode ser particularmente suscetível às influências ambientais durante os
anos entre a primeira infância e a pré-escola. Porém, seriam necessários estudos
mais aprofundados para determinar o momento exato e a natureza desse possível
período sensível.
• É difícil distinguir o papel que a genética e os fatores ambientais têm no
desenvolvimento das funções executivas, e a natureza causal da relação entre o
status socioeconômico e as funções executivas ainda não foi inteiramente
determinada. Uma forma de determinar causalidade nessa relação é estudar os
resultados das intervenções que alteram os fatores do ambiente de vida da criança.
• Embora as diferenças nas funções executivas sejam hipoteticamente, no mínimo,
parcialmente responsáveis pelas disparidades no desempenho escolar, serão
necessários estudos mais aprofundados para determinar até que ponto as
intervenções que melhoram as funções executivas levarão a melhorias em outros
aspectos da vida da criança.

Conclusões
As evidências sugerem uma associação clara entre o status socioeconômico na infância e
o desempenho das funções executivas. Essa associação parece ser mediada por aspectos
do ambiente familiar, especialmente os fatores associados com a qualidade do
relacionamento entre pais e filhos e sua capacidade de amortecer o stress. As pesquisas
nessa área estão em seus estágios iniciais e os estudos atualmente em andamento
aprofundarão nossa compreensão sobre a natureza da relação entre o status
socioeconômico e as funções executivas e os fatores ambientais que contribuem para elas.

É importante notar que a existência de diferenças relacionadas ao status socioeconômico


nas funções executivas e função cerebral não significa de nenhuma maneira que essas
diferenças sejam inatas ou imutáveis. O cérebro é um órgão dotado de um alto grau de
plasticidade; de fato, um conjunto de estudos recentes demonstra que os correlatos
neurais de cognição podem ser alterados pela experiência ambiental.37 Esperamos que a
elucidação dos efeitos do status socioeconômico sobre o desenvolvimento cognitivo
permita a aplicação de intervenções que envolvam processos cognitivos e fatores
ambientais mais específicos e, em última análise, ajudem a reduzir as disparidades
socioeconômicas.

Consequências
Até agora, as políticas sociais elaboradas para reduzir as disparidades de status
socioeconômico têm sido direcionadas para o status socioeconômico em si ou para os
resultados gerais de desempenho. Os estudos discutidos neste artigo revelam metas
adicionais: os fatores que servem para mediar a relação entre o status socioeconômico e

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as funções executivas (por exemplo, o ambiente familiar), e as próprias funções


executivas.

Um conjunto de estudos recentes38 indica que as funções executivas em crianças podem


melhorar por meio de intervenções. Entre as intervenções bem sucedidas estão softwares
de treinamento, jogos, ioga e meditação, participação em atividades esportivas e
currículos especializados em sala de aula; as crianças de famílias de baixa renda estão
entre aquelas que apresentam melhorias mais significativas.

De que forma as políticas e os serviços podem combater as causas da lacuna entre o


status socioeconômico e as funções executivas? Considerando que o ambiente familiar
tem efeitos duradouros sobre o desenvolvimento do indivíduo, as políticas que levam em
conta os ambientes mais amplos das crianças –ao invés de se concentrar somente nos
contextos escolar e de cuidado infantil– podem ajudar. Em particular, os estudos de
mediação indicam a necessidade de programas e intervenções que reduzam o stress
parental e aumentem o acesso das crianças a atividades e recursos estimulantes do ponto
de vista cognitivo.39

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Este artigo foi traduzido sob os auspícios do Conselho


Nacional de Secretários de Saúde - CONASS - Brasil.

Para citar este documento:

Hook CJ, Lawson GM, Farah MJ. Status socioeconômico e desenvolvimento das funções executivas.
Morton JB, ed. tema. In: Tremblay RE, Boivin M, Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o
Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early
Childhood Development e Strategic Knowledge Cluster on Early Child Development; 2013:1-8.
Disponível em: http://www.enciclopedia-crianca.com/documents/Hook-Lawson-FarahPRTxp1.pdf.
Consultado [inserir data].

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As Funções Executivas na Sala de Aula
CLANCY BLAIR, PhD
NYU Steinhard, EUA
(Publicado on-line em janeiro de 2013)

Tema
Estimulação cognitiva (funções executivas)

Introdução
As funções executivas são as habilidades cognitivas envolvidas no controle e na
coordenação das informações a serviço de ações voltadas para metas específicas.1,2
Assim, as funções executivas podem ser definidas como um sistema supervisor
importante para o planejamento, a capacidade de raciocínio e a integração de pensamento
e ação.3 Em um nível mais refinado, entretanto, as funções executivas, tal como têm sido
estudadas nas publicações sobre o desenvolvimento cognitivo, têm sido vinculadas às
habilidades específicas de processamento de informações inter-relacionadas que
permitem a resolução de informações conflitantes; ou seja, memória de trabalho, definida
como o armazenamento e a atualização das informações enquanto o indivíduo
desempenha alguma atividade relacionada com elas; o controle inibitório, definido como
a inibição da resposta prepotente ou automatizada quando o indivíduo está empenhado na
execução de uma tarefa; e a flexibilidade mental, definida como a capacidade de mudar a
postura de atenção e cognição entre dimensões ou aspectos distintos, mas relacionados,
de uma determinada tarefa.4,5,6,7

Tópico
As funções executivas despertam um interesse cada vez maior para os pesquisadores do
desenvolvimento infantil como um indicador geral da saúde e do bem-estar da criança e,
específico, de autorregulação. O grau de capacidade que as crianças mais jovens
demonstram para poder resolver adequadamente informações conflitantes e inibir
respostas automáticas quando necessário é visto como um indicador da capacidade de
reflexão e da habilidade para direcionar o comportamento utilizando um raciocínio
voltado para o futuro. Essas habilidades devem, por sua vez, levar a um comportamento
bem regulado e aumentar a adaptação a uma variedade de contextos. Durante as últimas
duas décadas, diversos estudos demonstraram a viabilidade de avaliar as funções
executivas em crianças mais jovens.8,9,10 Da mesma forma, no mesmo período, vários
estudos demonstraram que as funções executivas estão relacionadas de modo
significativo a muitos aspectos do desenvolvimento infantil, incluindo a competência
socio-emocional11,12 e a prontidão para o trabalho escolar na primeira infância.13,14,15 Os
estudos sobre o desenvolvimento do transtorno de déficit de atenção por hiperatividade
(TDAH) e os problemas de comportamento, assim como as pesquisas sobre deficiências

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de aprendizado,16 indicaram que as funções executivas podem ser um aspecto central


desses distúrbios.17

Problemas
Existem várias questões relevantes para o estudo das funções executivas em crianças.
Elas estão relacionadas principalmente com a construção da definição e da validade e
com a necessidade de avaliações adequadas para uso longitudinal. Mais importante ainda,
os estudos anteriores com amostras de adultos submetidos a diversas baterias de testes
indicaram a existência de três fatores distintos mas inter-relacionados no desempenho das
funções executivas, ou seja: a memória de trabalho, o controle inibidor e a flexibilidade
de atenção.18 Entretanto, um trabalho de avaliação semelhante feito com crianças mais
jovens produziu evidência de somente um único fator subjacente associado às funções
executivas.19,20 Essas constatações levantaram questões sobre uma possível diferenciação
das funções executivas de um único fator em distintos fatores na adolescência ou no
início da vida adulta. Elas levantaram também outras questões sobre os limites inerentes à
avaliação das funções executivas em crianças pequenas e a ideia de que tais avaliações
podem se tornar mais precisas com a idade. Além disso, essas questões destacaram a
necessidade de medidas de avaliação das funções executivas que possam ser usadas
longitudinalmente com crianças. A maioria das medidas de avaliação das funções
executivas apropriadas para uso com crianças mais jovens tende a diferenciar a
habilidade dentro de uma faixa etária limitada com efeitos teto e chão em indivíduos mais
velhos e mais jovens.21 Entretanto, várias medidas de avaliação apropriadas para uso
longitudinal foram desenvolvidas recentemente.22,23

Principais questões para estudo


Considerando que a evidência indica que as funções executivas são importantes para a
prontidão para o trabalho escolar e que elas representam um aspecto central de
autorregulação na criança, existem questões fundamentais relacionadas à identificação
das influências relevantes no desenvolvimento das funções executivas e em sua
maleabilidade. São de interesse particular as questões relacionadas às maneiras como a
pobreza afeta o desenvolvimento das funções executivas e a ideia de que os efeitos da
pobreza sobre ele poderiam explicar parcialmente as disparidades no desempenho escolar
nos primeiros anos e na prontidão para o trabalho escolar e relacionadas com o status
socioeconômico.

Resultados de estudos recentes


Os resultados de alguns estudos recentes proporcionam perspectivas valiosas sobre o
desenvolvimento das funções executivas na primeira infância. Várias medidas de
avaliação apropriadas para uso longitudinal com crianças a partir dos 30 meses de idade
foram desenvolvidas e estão sendo validadas. Entre elas, encontram-se uma versão da
tarefa Dimensional Change Card Sort (DCCS), apropriada para uso longitudinal,24 assim
como uma avaliação conhecida como Shape School.25 De forma semelhante,
desenvolveu-se uma bateria de tarefas inovadora com diferentes tarefas designadas para
medir a memória de trabalho, o controle inibitório e a flexibilidade de atenção.

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ESTIMULAÇÃO COGNITIVA (FUNÇÕES EXECUTIVAS)

Os estudos longitudinais de análise do desenvolvimento das funções executivas em


crianças e de sua relação com múltiplos aspectos do desenvolvimento infantil têm levado
a uma maior precisão na definição e avaliação das funções executivas em crianças.
Vários estudos, utilizando diversos tipos de medidas, demonstraram associações nível
moderado a alto entre a capacidade de função executiva e o desempenho escolar nos
primeiros graus do ensino fundamental.13,14,15,26,27 Mais importante ainda, essas
associações foram observadas no controle de inteligência geral ou na verificação de
indicadores do desempenho nos primeiros anos de vida, ou em ambos os casos. Na
verdade, as avaliações das funções executivas atenuaram substancialmente ou levaram
inteiramente em conta a variação dos resultados associados às avaliações da inteligência
geral e da habilidade escolar nos primeiros anos de vida.

Os resultados de vários estudos, incluindo uma amostra longitudinal baseada numa


população de crianças acompanhadas desde o nascimento em lares predominantemente
de baixa renda indicaram que a qualidade dos cuidados dispensados pelos pais às crianças
atua como elemento mediador dos efeitos do risco social e demográfico no
desenvolvimento das funções executivas das crianças com três anos de idade.28,29,30 Da
mesma forma, os resultados do estudo longitudinal demonstram que a fisiologia do stress,
tal como indicado pelos níveis do hormônio cortisol glicocorticoide em crianças, está
relacionada às funções executivas e atua parcialmente como elemento mediador dos
efeitos dos cuidados dispensados pelos pais e do risco nas funções executivas nos
primeiros anos de vida.29

A demonstração das relações entre as experiências nos primeiros anos de vida e as


funções executivas e entre as funções executivas e os resultados socio-emocionais e
escolares deu origem a estudos de intervenção analisando as funções executivas como um
alvo potencial dos esforços para promover a competência socio-emocional e escolar em
crianças com um risco elevado de insucesso escolar. As constatações desses estudos são,
geralmente, positivas, sugerindo ou indicando que as mudanças relacionadas ao programa
em funções executivas servem até certo ponto de mediadores para os efeitos do programa
em resultados escolares e comportamentais.30,31,32

Lacunas dos estudos


Entre as atuais lacunas na literatura, está a necessidade de uma maior precisão na
avaliação longitudinal das funções executivas nos primeiros anos de vida, a identificação
de indicadores precoces do desenvolvimento das funções executivas que possam ser
medidos em bebês e crianças com até três anos e as evidências sobre a maleabilidade ou a
capacidade de treinamento do desenvolvimento das funções executivas. Uma maior
precisão da avaliação longitudinal das funções executivas levará a uma melhor
compreensão do processo de desenvolvimento típico da habilidade das funções
executivas e dos determinantes de mudança nas funções executivas. A identificação de
indicadores do desempenho nos primeiros anos de vida pode ajudar a proporcionar
informações sobre indicadores que possam ser usados para identificar os riscos às
funções executivas e as dificuldades de autorregulação na primeira infância. Podemos
esperar de forma razoável que os cuidados inovadores dos pais ou que os programas de
assistência infantil possam aumentar as funções executivas na primeira infância. Uma

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lacuna central dos estudos sobre o desenvolvimento das funções executivas está
relacionada com a questão de até que ponto elas podem ser modificadas pela experiência.

Conclusões
O número de estudos sobre as funções executivas na primeira infância aumentou
exponencialmente na última década. Em geral, as publicações específicas sobre o
construto indicam que as funções executivas podem ser medidas de forma confiável e
válida na primeira infância e que as avaliações da habilidade das funções executivas estão
significativamente relacionadas a múltiplos aspectos do desenvolvimento infantil,
incluindo os resultados socio-emocionais e escolares. Dessa forma, os estudos realizados
tendem a confirmar que o desenvolvimento das funções executivas é um indicador central
das capacidades de prontidão para o trabalho escolar. Além disso, os estudos sugerem que
os déficits das funções executivas iniciais podem ser indicadores sensíveis de risco de
dificuldades de aprendizado e, talvez, do risco de desenvolvimento precoce de
psicopatologia. Entretanto, serão necessários mais estudos sobre o progresso do
desenvolvimento das funções executivas, não somente na primeira infância, mas durante
toda a infância e adolescência. Da mesma forma, serão necessários mais estudos
relacionados dos aspectos relevantes dos ambientes familiares e escolares das crianças
que podem incentivar ou impedir o desenvolvimento das funções executivas. Uma maior
compreensão das influências experienciais sobre o desenvolvimento das funções
executivas pode ser correlacionada com uma base crescente de estudos sobre a
neurobiologia subjacente da cognição executiva.

Consequências para os pais, serviços e políticas


As evidências indicam que as funções executivas são relevantes para diversos aspectos do
desenvolvimento saudável na infância. Essas evidências destacam uma necessidade
constante de identificação dos aspectos específicos de experiência e abordagens
pedagógicas específicas que exercitem as funções executivas. As evidências que
associam as habilidades das funções executivas à prontidão para o trabalho escolar e ao
desempenho escolar nos primeiros anos de vida sugerem a possibilidade de desenvolver
novas abordagens curriculares ou de modificar as abordagens existentes nos programas
da primeira infância e dos primeiros graus do ensino fundamental para se concentrar mais
explicitamente nas habilidades das funções executivas. As evidências atuais sugerem que
os programas da primeira infância voltados para a autorregulação podem ser eficazes na
promoção das habilidades das funções executivas em crianças.32,33 De fato, é possível que
diversos tipos de atividades, desde a ioga ao treinamento mental, das artes marciais aos
exercícios aeróbicos proporcionem amplos benefícios para as capacidades de mudança do
foco de atenção, de controle dos impulsos e de memória de trabalho envolvidas nas
funções executivas.

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Este artigo foi traduzido sob os auspícios do Conselho


Nacional de Secretários de Saúde - CONASS - Brasil.

Para citar este documento:

Blair C. As As funções executivas na sala de aula. Morton JB, ed. tema. In: Tremblay RE, Boivin M,
Peters RDeV, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Montreal,
Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development e Strategic Knowledge Cluster on Early
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crianca.com/documents/BlairPRTxp1-Funcoes_executivas.pdf. Consultado [inserir data].

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