Veritatis Splendor
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Bula
CUM EX APOSTOLATUS OFFICIO
do Papa Paulo IV
sobre a perda de jurisdição dos hereges e dos cismáticos.
Exórdio: O Papa tem o dever de impedir o magistério do erro
Dado que por nosso Ofício Apostólico, divinamente confiado a Nós, ainda que sem mérito algum
de nossa parte, Nos compete um cuidado sem limites do rebanho do Senhor; e consequentemente,
a maneira de Pastor que vela, em benefício de sua grei e de sua salutar condução, estamos
obrigados a uma assídua vigilância e a procurar com particular atenção que sejam excluídos do
rebanho de Cristo aqueles que em nossos tempos, seja já pelo número predominante de seus
pecados ou por confiar com excessiva liberalidade em sua própria capacidade, se levantam contra
a disciplina e a verdadeira Fé de um modo realmente perverso, e transtornam com malévolos
recursos e totalmente inadequados a compreensão das Sagradas Escrituras, com o propósito de
atingir a unidade da Igreja Católica e a túnica inconsútil do Senhor, e para que não prossigam no
ensino do erro, os que desprezam ser discípulos da Verdade.
Considerando a gravidade particular desta situação e seus perigos a ponto que o mesmo Romano
Pontífice, que como Vigário de Deus e de Nosso Senhor tem o pleno poder na terra, e a todos
julga e não pode ser julgado por ninguém, se fosse encontrado desviado da Fé, poderia ser
acusado e dado que donde surge um perigo maior, ali mais decidida deve ser a providência para
impedir que falsos profetas e outras pessoas que detenham jurisdições seculares não tenham
lamentáveis laços com as almas simples e arrastem consigo para a perdição inumeráveis povos
confiados a seu cuidado e a seu governo nas coisas espirituais ou nas temporais; e para que não
aconteça algum dia que vejamos no Lugar Santo a abominação da desolação, predita pelo profeta
Daniel; com a ajuda de Deus para Nosso empenho pastoral, não seja que pareçamos cães mudos,
nem mercenários, ou amaldiçoados maus vinicultores, queremos capturar as raposas que tentam
desolar a Vinha do Senhor e rechaçar os lobos para longe do rebanho.
Depois de madura deliberação com os Cardeais da Santa Igreja Romana, nossos irmãos, com o
conselho e o unânime assentimento de todos eles, com Nossa Autoridade Apostólica, aprovamos
e renovamos todas e cada uma das sentenças, censuras e castigos de excomunhão, suspensão,
interdição e privação, e outras, de qualquer modo adotadas e promulgadas contra os hereges e
cismáticos, pelos Pontífices Romanos, nossos Predecessores, ou em nome deles, incluso as
disposições informais, dos Santos Concílios admitidos pela Igreja, os decretos e estatutos dos
Santos Padres, os Cânones Sagrados, ou por Constituições e Resoluções Apostólicas. E queremos
e decretamos que ditas sentenças, censuras e castigos, sejam observadas perpetuamente e seja
restituída a sua total vigência se estiveram em desuso, e devem permanecer com todo seu vigor. E
queremos e decretamos que todos aqueles que até agora tenham sido encontrados, ou tenham
confessado, ou sejam convictos de terem-se desviado da Fé Católica, ou de haverem incorrido em
alguma heresia ou cisma, ou de terem suscitado ou cometido; ou bem os que no futuro se
apartarem da Fé (o que Deus se digne impedir segundo sua clemência e sua bondade para com
todos), ou incorrerem em heresia, ou cisma, ou os suscitarem ou cometerem; ou bem os que
houverem de ser surpreendidos de ter caído, incorrido, suscitado ou cometido, ou o confessarem,
ou o admitirem, de qualquer grau, condição e preeminência, inclusive Bispos, Arcebispos,
Patriarcas, Primazes, ou de qualquer outra dignidade eclesiástica superior; ou bem Cardeais, ou
Legados perpétuos ou temporais da Sé Apostólica, com qualquer destino; ou os que sobressaiam
por qualquer autoridade ou dignidade temporal, de conde, barão, marquês, duque, rei, imperador,
enfim queremos e decretamos que qualquer um deles incorram nas sobreditas sentenças, censuras
e castigos.
3. Privação ipso facto de todo oficio eclesiástico por heresia ou cisma
Considerando que os que não se abstêm de fazer mal por amor da virtude devem ser reprimidos
por temor dos castigos, e que Bispos, Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de qualquer outra
dignidade eclesiástica superior; sejam Cardeais, Legados, condes, barões, marqueses, duques,
reis, imperadores, que devem ensinar aos demais e servir-lhes de bom exemplo, a fim de que
perseverem na Fé Católica, com sua prevaricação pecam mais gravemente que os outros, pois que
não só se perdem eles, senão que também arrastam consigo para a perdição os povos que lhes
foram confiados; pela mesma deliberação e assentimento dos Cardeais, com esta Nossa
Constituição, válida perpetuamente, contra tão grande crime – que não pode haver outro maior
nem mais pernicioso na Igreja de Deus – na plenitude de Nossa autoridade Apostólica,
sancionamos, estabelecemos, decretamos e definimos que pelas sentenças, censuras e castigos
mencionados (que permanecem em seu vigor e eficácia e que produzem seu efeito), todos e cada
um dos Bispos, Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de qualquer outra dignidade eclesiástica
superior; sejam Cardeais, Legados, condes, barões, marqueses, duques, reis, imperadores, que até
agora (tal como se declara precedentemente) tiverem sido surpreendidos, ou houverem
confessado, ou estejam convictos de se terem desviado (da Fé católica), ou de haver caído em
heresia, ou de haver incorrido em cisma, ou de ter suscitado ou cometido; ou também os que no
futuro se apartarem da Fé católica, ou caírem em heresia, ou incorrerem em cisma, ou os
provocarem, ou os cometerem, ou os que forem surpreendidos ou confessarem ou admitirem
haver se desviado da Fé Católica, ou haver caído em heresia, ou haver incorrido em cisma, ou tê-
los provocado ou cometido, dado que nisto resultam muito mais culpáveis que os demais, fora das
sentenças, censuras e castigos, enumerados, (que permanecem em seu vigor e eficácia e que
produzem seus efeitos), todos e cada um dos Bispos, Arcebispos, Patriarcas, Primazes, ou de
qualquer outra dignidade eclesiástica superior; sejam Cardeais, Legados, condes, barões,
marqueses, duques, reis, imperadores, caíram privados também por essa mesma causa, sem
necessidade de nenhuma instrução de direito ou de fato, de suas hierarquias, e de suas igrejas
catedrais, inclusive metropolitanas, patriarcais e primazes; do título de Cardeal, e da dignidade de
qualquer classe de Legado, e ademais de toda voz ativa e passiva, de toda autoridade, dos
mosteiros, benefícios e funções eclesiásticas, com qualquer Ordem que for que tenham obtido por
qualquer concessão e dispensação Apostólica, seja como titulares, ou como encarregados ou
administradores, e nas quais, seja diretamente ou de alguma outra maneira houverem tido algum
direito, ou os houverem adquirido de qualquer outro modo; caem assim mesmo privados de
qualquer beneficio, rendido ou produzido, reservados ou assinados para eles. E do mesmo modo
serão privados completamente, e em cada caso, de seus condados, baronias, marquesado, ducado,
reino e império, e de forma perpétua, e de modo absoluto. E por outro lado sendo de todo
contrários e incapacitados para tais funções, serão tidos ademais como relapsos e exonerados em
tudo e para tudo, inclusive se antes houvessem abjurado publicamente em juízo tais heresias. E
não poderão ser restituídos, repostos, reintegrados ou reabilitados, em nenhum momento, a
primeira dignidade que tiveram, a suas Igrejas Catedrais, metropolitanas, patriarcais, primazes; ao
cardinalato, ou a qualquer outra dignidade, maior ou menor, ou a sua voz ativa ou passiva, a sua
autoridade, mosteiro, beneficio, ou condado, baronia, marquesado, ducado, reino o império, antes
bem haverão de cair no arbítrio daquele poder que tenha a devida intenção de castigá-los, a
menos que tendo em conta neles os sinais de verdadeiro arrependimento e aqueles frutos de uma
congruente penitência, por benignidade da mesma Sé Apostólica ou por clemência houverem de
ser relegados a algum mosteiro, ou em algum outro lugar dotado de um caráter disciplinário para
fazer ali perpétua penitência com o pão da dor e a água da compunção. E assim serão tidos por
todos, de qualquer dignidade, grau, ordem, ou condição que seja, e incluso, arcebispo, patriarca,
primado, cardeal, ou de qualquer autoridade temporal, conde, barão, marquês, duque, rei o
imperador, ou de qualquer outra hierarquia, e assim serão tratados e estimados, e ademais
evitados como relapsos e exonerados, de tal modo que haverão de estar excluídos de todo consolo
humano.
Quem pretender ter um direito de patrono, ou de nomear pessoas idôneas para as Sedes
Eclesiásticas vacantes por estas cercanias, a fim de que tais cargos, depois de haver sido livrados
da servidão dos heréticos, não estejam expostos aos inconvenientes de uma longa vacância, mas
sejam outorgados a pessoas capazes de dirigir os povos pelas vias da justiça, estão obrigados a
apresentar ao Romano Pontífice os nomes de tais pessoas idôneas, dentro do tempo fixado por
direito, de outra maneira, transcorrido o tempo previsto, a disponibilidade de tais Sedes retorna ao
Pontífice Romano.
Agregamos que se em algum tempo acontecer que um Bispo, inclusive na função de Arcebispo,
ou de Patriarca, ou Primaz; ou um Cardeal, inclusive na função de Legado, ou eleito Pontífice
Romano que antes de sua promoção ao Cardinalato ou assunção ao Pontificado, tivesse se
desviado da Fé Católica, ou houvesse caído na heresia ou incorrido em cisma, ou o houvesse
suscitado ou cometido, a promoção ou a assunção, inclusive se esta houver ocorrido com o
acordo unânime de todos os Cardeais, é nula, inválida e sem nenhum efeito; e de nenhum modo
pode considerar-se que tal assunção haja adquirido validez, por aceitação do cargo e por sua
consagração, ou pela subseqüente possessão ou quase possessão de governo e administração, ou
pela mesma entronização ou adoração do Pontífice Romano, ou pela obediência que todos lhe
tenham prestado, qualquer que seja o tempo transcorrido depois dos supostos sobreditos. Tal
assunção não será tida por legítima em nenhuma de suas partes, e não será possível considerar
que se tenha outorgado ou se outorga algum a faculdade de administrar nas coisas temporais ou
espirituais aos que são promovidos, em tais circunstancias, a dignidade de bispo, arcebispo,
patriarca ou primaz, ou aos que tenham assumido a função de Cardeais, ou de Pontífice Romano,
senão que pelo contrário todos e cada um desses pronunciamentos, feitos, atos e resoluções e seus
conseqüentes efeitos carecem de força, e não outorgam nenhuma validez, e nenhum direito a
nada.
Não tem nenhum efeito para estas disposições as Constituições e Ordenanças Apostólicas, assim
como os privilégios e letras apostólicas, dirigidas a bispos, arcebispos, patriarcas, primazes e
cardeais, nem qualquer outra resolução, de qualquer teor ou forma, e com qualquer cláusula, nem
os decretos, também os de motu proprio e de ciência certa do Romano Pontífice, ou concedidos
em razão da plenitude apostólica, ou promulgados em consistórios, ou de qualquer outra maneira;
nem tão pouco os aprovados em reiteradas ocasiões, ou renovados e incluídos no corpo do direito,
ou como capítulos de conclave, ou confirmados por juramento, ou por confirmação apostólica, ou
por qualquer outro modo de confirmação, inclusive os jurados por Nós mesmos. Considerando,
pois essas resoluções de modo expresso e tendo-as como inseridas, palavra por palavra, inclusive
aquelas que haveriam de perdurar por outras disposições, e enfim todas as demais que se
oponham, por sua vez e de um modo absolutamente especial, derrogamos expressamente suas
cláusulas dispositivas.
A fim de que cheguem noticias certas das presentes letras a quem interessa, queremos que elas,
ou uma cópia (referendada por um notário público, com o selo de algum a pessoa dotada de
dignidade eclesiástica) sejam publicadas e fixadas na Basílica do Príncipe dos Apóstolos, e nas
portas da Chancelaria apostólica, e no extremo da Praça de Flora por algum de nossos oficiais; e
que é suficiente a ordem de fixar nesses lugares a cópia mencionada, e que a dita fixação ou
publicação, ou a ordem de exibir a cópia sobredita, deve ser tida com caráter solene e legitimo, e
que não se requer nem se deve esperar outra publicação.
Portanto, a homem algum seja lícito infringir esta página de Nossa Aprovação, Inovação, Sanção,
Estatuto, Derrogação, Vontade, Decreto, ou por temerária ousadia contradizer-lhes. Porém se
alguém pretender atentar, saiba que haverá de incorrer na indignação do Deus Onipotente e de
seus Santos Apóstolos Pedro e Paulo.
– Dado em Roma, junto a São Pedro, aos 15 de fevereiro do ano da Encarnação do Senhor de
1559, 4º ano de nosso Pontificado.
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