Proater Livro Metodologias ATER

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 100

Metodologias de ATER e Pesquisa com

Enfoque Participativo
EMATER-PARÁ
-
Edição Especial -

GOVERNO DO

PARA
A extensão rural brasileira, em
suas diversas fases, sempre foi um dos
mais peculiares serviços públicos
existentes no país. É notório que a partir
da construção e implementação da
Política Nacional de Assistência Técnica
e Extensão Rural-PNATER, passamos a
vivenciar o momento que consolida, no
serviço de ATER, o protagonismo dos
agricultores nos diversos processos de
desenvolvimento.
A Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural do Estado do Pará
(EMATER-PARÁ), na reconstrução e
revisão de sua postura, está externando a
sua metodologia de trabalho, apontando
de forma clara e objetiva como é, e será, a
práxis dos seus extensionistas, por meio
do acúmulo e experiência de longos anos
de extensão rural. Os próprios autores,
cientistas que são, observaram a
necessidade de construir e sistematizar
uma proposta metodológica que desse
conta dos desafios de ser extensionista
no tempo da PNATER, extensionista do
século XXI, profissional que superou a
fase da transferência e difusionismo .
Este livro é um manual de
extensão moderno que deverá ser
compreendido, debatido e internalizado
por aqueles que têm compromisso com a
agricultura familiar, com a reforma agrária
e com o desenvolvimento sustentável e
solidário, assim como por aqueles que
interagem e respeitam os cidadãos do
campo, convivendo harmoniosamente
com as raças, gerações, gênero e
diversidade étinica.
Faz-se necessário a aplicação
definitiva de um modelo de
desenvolvimento rural sustentável, a
definição cristalizada do papel da
extensão rural pública, a articulação e
convergência das políticas públicas, de
modo que sejam apropriadas e
protagonizadas pelos agricultores e
assentados da reforma agrária e termos a
consciência de que os extensionistas têm
um papel decisivo nesse processo. Esta
publicação aconteceu num momento
extremamente oportuno, em que a
postura dos agentes foram revistas e os
conceitos se consolidadando. Por isso,
não se fará extensão rural de vanguarda
no Pará e no Brasil sem consulta a esta
publicação
Argileu Martins da Silva
Diretor da DATER
Secretário de Agricultura Familiar
Substituto.
EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DO PARÁ
EMATER-PARÁ

Metodologias de ATER e Pesquisa com


Enfoque Participativo
EMATER-PARÁ
EDIÇÃO ESPECIAL

MARITUBA - PARÁ
2012
© 2012 EMATER-PARÁ

1ª edição (2007)
2ª edição (2007)
Edição Especial (2012)

Coordenação: Eng. Agrº Márcia de Pádua Bastos Tagore

Comissão de Sistematização:
Ana Lúcia da Costa Guerreiro (Pedagoga)
Edir Santana Pereira de Queiroz Neto (Eng. Ftal.)
Maria da Graça Loureiro Amaral (Socióloga)

Comissão de Revisão e Atualização da Edição Especial


Antônio Carlos Braga Macedo (Eng. Agrº)
Baziléa de Nazaré Araújo Rodrigues (Socióloga)
José Henrique da Silva Soares (Sociólogo)
Norma Iracema Silva da Rosa (Eng. Ftal.)

Revisão Técnica da Edição Especial


Cristina Reis dos Santos
Ivanete Ferreira Alves

Capa: NDI
Ilustrações: Nelson Jerônimo dos Santos Filho
Normalização Bibliográfica: Ana Cristina Ferreira (Bibliotecária) – CRB2/1420
Supervisão Gráfica: José André de Sousa

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará EMATER-PARÁ


Escritório Central - Rodovia BR 316-km 12 - Marituba - Centro - CEP.: 67105970 Tel.: (91) 3256-
1931/5660 - www.emater.pa.gov.br - [email protected]

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos
autorais (Lei nº 9.160).

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Biblioteca da EMATER, Marituba – PA
_________________________________________________________________________________

M593 Metodologias de ATER e Pesquisa com Enfoque Participativo EMATER-PARÁ


Coordenadora Márcia de Pádua Bastos Tagore . - Belém: Gráfica da EMATER-PA, 2012.
96 p. il.

Inclui Bibliografias.

ISBN 978-85-65455-008

1. Extensão Rural. 2. Metodologia. 3. EMATER. I.Tagore, Márcia de Pádua Bastos.

II. Título.
AUTORES

Ana Lúcia da Costa Guerreiro


Pedagoga, Especialista em Gestão Escolar e Supervisão de Ensino.
Escritório Central – Coordenadoria Técnica – Núcleo de Metodologia e Comunicação
[email protected]

Edir Santana Pereira de Queiroz Neto


Engenheiro Florestal, Especialista em Georefereciamento e Avaliação de Territórios Rurais.
Escritório Central – Coordenadoria de Operações
[email protected]

Erika de Santana de Souza


Técnica em Documentação/Bibliotecária
Escritório Central - COTEC/NDI.
[email protected]

Felipe José Soares Bezerra


Engenheiro Agrônomo, Especialista em Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável.
Escritório Central – Assessoria da Presidência
[email protected]

Franceli de Souza Silva


Cientista Social com ênfase em Ciência Política
Escritório Regional de Marabá
[email protected]

Francisca Fernandes Leite


Engenheira Agrônoma, Especialista em Agricultura Integrada da Amazônia
Escritório Central – Assessoria da Presidência
[email protected]
Lucival Solin C. Chaves
Engenheiro Agrônomo, Especialista em Floricultura como Agronegócio.
Escritório Regional das Ilhas – Local de Benevides
[email protected]

Magareth Oliveira do Nascimento


Socióloga, Especialista em Educação em Saúde Pública.
Escritório Regional de Conceição do Araguaia – Local de Santa Mª das Barreiras
[email protected]

Márcia de Pádua Bastos Tagore


Engenheira Agrônoma, Especialista em Agricultura Familiar, Educação Ambiental e
Crescimento de Vegetais.
Escritório Central - COTEC/NMC.
[email protected]

Maria da Graça Loureiro Amaral


Socióloga, Especialista em Teoria Sociológica, Desenvolvimento de Comunidade e Educação
Rural e Profissionalização de Agricultores.
Escritório Central – CPLAN/NEA

Milton Guilherme da Costa Mota


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia na área de concentração de Genética e
Melhoramento de Plantas.
Escritório Central – Assessoria da Presidência
[email protected]

Paulo Sergio Campos de Melo


Engenheiro Agrônomo, Especialista em Heveicultura e Fitossanitarismo
Escritório Regional de Santarém
[email protected]
Raimundo Nonato da Silveira Ribeiro
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciências Florestais na área de concentração de Manejo

Florestal e Silvicultura e Especialista em Extensão Rural e Gestão Estratégica.

Escritório Central – Assessoria da Presidência

[email protected]

Vicente de Paula Paiva Neto


Engenheiro Florestal, Especialista em Exploração Vegetal

Escritório Regional de Tocantins

[email protected]

Wildes dos Santos Brito


Engenheiro Agrônomo, Bacharel em Ciências Econômicas, Especialista como Agente de

Inovação e Difusão Tecnológica e em Agricultura Integrada na Amazônia

Escritório Central – COPER/NSE II

[email protected]
LISTA DE SIGLAS

ABCAR Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural, criada em 1956


ACAR Associação de Crédito e Assistência Rural do Pará, criada em 1995
ATER Assistência Técnica e Extensão Rural
ABC Agencia Brasileira de Cooperação
ASBRAER Associação Brasileira das Entidades Estaduais de ATER
DC Dia de Campo
DM Demonstração de Métodos
DRP Demonstração Técnica
DT Demonstração Técnica
EMATER-PARÁ Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MRE Ministério das Relações Exteriores
NMC Núcleo de Metodologia e Comunicação
PROGATER Programa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural Pública
PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
SIBRATER Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural
UD Unidade Demonstrativa
UE Unidade de Experimentação
UO Unidade de Observação
Não há saber mais ou saber menos.
Há saberes diferentes.
Paulo Freire

A atividade mental humana é uma parte, pequena e periférica parte,


da matéria da ciência. É igualmente verdadeiro, todavia, que o todo da
ciência também é somente uma parte (...) da atividade humana.
Geoffrey Vickers
DEDICATÓRIA

Aos agricultores familiares e


extensionistas rurais que, por
sua luta, dedicação e
compromisso, vêm buscando
transformar a realidade rural
rumo à construção do
desenvolvimento sustentável.
AGRADECIMENTOS

À Diretoria Executiva (DIREX)


pela viabilização do trabalho

À Diretoria Técnica (DITEC)


por ter acreditado na proposta e se
empenhado para a efetivação da mesma.

À Coordenadoria Técnica (COTEC)


pelo apoio e acompanhamento.

A todos que colaboraram direta


ou indiretamente para a construção
desta publicação.
Sumário

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 21
2 A EXTENSÃO RURAL E SUAS FUNDAMENTAÇÕES .................. 24
2.1 FUNDAMENTAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E ECONÔMICAS ........ 24
2.2 FUNDAMENTAÇÃO SOCIOCULTURAL ....................................... 27
2.3 FUNDAMENTAÇÃO SOCIOEDUCACIONAL ................................ 28
2.4 FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICA ........................................................30
2.4.1 Enfoque agriecológico para a produção de base familiar ..............31
2.4.2 Mercados e produtos diferenciados da produção familiar ............31
2.4.3 Organização/participação/solidariedade ......................................32
3 ABORDAGENS INTER, MULTI E TRANSDISCIPLINAR ............ 33
4 A CONVIVÊNCIA PARTICIPATIVA NA EXTENSÃO RURAL ......36
5 A COMUNICAÇÃO E A METODOLOGIA ....................................... 37
6 METODOLOGIAS DE ATER E PESQUISA ..................................... 40
6.1 METODO DE ATER E PESQUISA ..................................................... 40
6.1.1. Contato.................................................................................... 40
6.1.2. Reunião ........................................................................................ 42
6.1.3. Visita .............................................................................................. 43
6.1.4. Curso .............................................................................................. 45
6.1.5. Diagnóstico Rural Participativo - DRP .......................... 46
6.1.6. Dia de Campo - DC ....................................................................... 48
6.1.7 Excursão ...................................................................................... 50
6.1.8. Feira ................................................................................................ 52
6.1.9. Festival .........................................................................................53
6.1.10. Intercâmbio ............................................................................. 55
6.1.11. Oficina ......................................................................................... 56
6.1.12. Semana Especial ..................................................................... 57
6.1.13. Seminário ................................................................................... 59
6.1.14. Unidade Demosntrativo (UD) ............................................ 61
6.1.15. Unidade de Experimentação (UE) ....................................63
6.1.16. Unidade de Observação (UO) .............................................65
6.2. TÉCNICAS DE ATER E PESQUISA ................................................. 67
6.2.1. Demonstração Técnica (DT) ................................................ 67
6.2.2. Entrevista .................................................................................. 68
6.2.3. Palestra ........................................................................................ 69
6.3. FERRAMENTAS DE ATER E PESQUISA ....................................... 72
6.3.1.Brainstorming ou Tempestade de Idéias...................... 72
6.3.2.Diagrama de Venn .................................................................... 73
6.3.3.Fofa ................................................................................................. 75
6.3.4.Iceberg ......................................................................................... 76
6.3.5.Linha da Vida ............................................................................... 78
6.3.6.Mapa Falado ................................................................................ 80
6.3.7.Metáfora ..................................................................................... 81
6.3.8.Paisagem Organizacional ................................................... 83
6.3.9.Pesquisa de Fatos ...................................................................... 84
6.3.10.Seis Campos ................................................................................ 86
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 88
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 91
GLOSSÁRIO ............................................................................................ 95
PREFÁCIO À EDIÇÃO ESPECIAL

“Metodologias de ATER e Pesquisa com Enfoque Participativo” é o


livro que traduz o resultado expressivo da participação e produção coletivas de
um grupo de extensionistas rurais da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Pará, EMATER-PARÁ, que, em oficina técnica,
ocorrida em agosto de 2007, teve o desafio de refletir e teorizar sobre o
instrumental metodológico utilizado nas comunidades de agricultores
familiares do Pará.

Ressalto inicialmente a preocupação salutar em considerar e associar


aspectos que qualificam esta leitura, do ponto de vista técnico, como o pensar
sistêmico, a interdisciplinaridade e os saberes da vivência de campo,
construídos na relação entre as interfaces da extensão rural e a realidade dos
sujeitos agricultores familiares, além de agregar ensinamentos valiosos ao
repensar o papel do extensionista com base nas diretrizes da nova Lei Nacional
de Assistência Técnica e Extensão Rural, Ater [nº12.188/2010], que preconiza,
entre outras orientações, a adoção de metodologia participativa com enfoque
multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da
cidadania e a democratização da gestão da política pública.

Do ponto de vista dos fundamentos teóricos, destaco a preocupação de


suscitar no leitor a compreensão dos aspectos metodológicos da extensão
rural, a partir da reflexão crítica sobre as abordagens sócio-históricas,
centradas nas concepções e paradigmas que permeiam as tendências
metodológicas no âmbito da extensão rural pública, proporcionando a
incursão sobre os modelos de extensão rural situados na trajetória histórica do
cenário brasileiro que determinam e condicionam os métodos, técnicas e
ferramentas de ATER, possibilitando, ainda, a reflexão sobre os processos
metodológicos que convergem para uma proposta construtivista, participativa
e relacionada aos princípios agroecológicos e ao desenvolvimento rural
sustentável.

É o momento no qual tenho a honra de referendar esta obra que


efetivamente representa o comprometimento e o profissionalismo com a
construção de processos educativos, técnicos e tecnológicos que possam
contribuir, substancialmente, com um modelo de extensão rural pública,
gratuita e de qualidade.

A obra, além da importância ímpar que representa para o cenário


extensionista paraense, traduzida no total apoio dispensado pelo Governo do
Estado ao processo de reelaboração e lançamento da edição especial, traz um
formato moderno, com a assinatura de revisão feita por técnicos especialistas
atuantes em áreas diversificadas da EMATER-PARÁ, com ampla experiência
na atividade de campo e comprometimento profissional voltado ao
desenvolvimento da missão da Empresa em prol da agricultura familiar do
Pará.

Este trabalho surge como um dos marcos da produção científica


editorial da extensão rural Amazônica, porque representa o acúmulo de
décadas em que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
Pará, EMATER-PARÁ, vem buscando estabelecer a relação entre teoria e
prática, referente à sua atuação e realidade da agricultura familiar paraense.
Organiza o conhecimento trocado entre o saber científico e os saberes dos
sujeitos das comunidades rurais e qualifica o acervo de conhecimentos
coletivamente corroborados entre a instituição e sua gama de extensionistas
rurais.

Desta forma, tenho orgulho de estar à frente desta Empresa Pública no


momento do lançamento da edição especial deste livro, que tem a perspectiva
de contribuir com o fazer extensionista por meio da atualização teórica deste
trabalho e do lançamento inovador diferenciado pela edição e publicação, com
versão digital e bilíngüe.

Ressalto ainda o especial apoio do Ministério das Relações Exteriores


(MRE), que, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), fez a
tradução do livro para a língua inglesa, proporcionando-nos uma ocasião tão
especial para o pré-lançamento desta publicação, que figurará como material
didático referencial do Curso de Metodologias de Ater e Pesquisa com
Enfoque Participativo na primeira capacitação internacional, realizada pela
EMATER-PARÁ e destinada a extensionistas rurais de países da África do Sul.
No evento, a Empresa representará a Associação Brasileira das Entidades
Estaduais de ATER, ASBRAER, por meio da cooperação técnica.

Agradeço profundamente pelo compartilhamento deste momento


significativo na trajetória da EMATER-PARÁ e parabenizo a todos que
contribuíram, direta e indiretamente, com a revisão, tradução e publicação da
edição especial deste livro, que certamente será o referencial metodológico
dos programas e projetos de cada escritório local e regional, somando-se ao
processo de fortalecimento do trabalho valoroso que o Governo do Pará vem
fazendo em benefício da agricultura familiar amazônica.

Cleide Maria Amorim de Oliveira Martins


PRESIDENTE DA EMATER-PARÁ
1 INTRODUÇÃO

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará,


EMATER-PARÁ, mediada pelos princípios do Programa de Assistência
Técnica e Extensão Rural Pública do Estado do Pará, PROGATER-PA, é vista
no cenário social como resultado da iniciativa compartilhada entre setores
governamentais e não governamentais.

Ressaltando o papel atuante dos movimentos sociais, a EMATER-


PARÁ desenvolve atividade social de atendimento ao segmento produtivo de
base familiar, pautada na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural, PNATER, tornando pertinente, neste momento, a reflexão acerca dos
procedimentos metodológicos utilizados nas atividades direcionadas ao
campo, objetivando-se dar conta do universo multifacetado em que consiste a
agricultura familiar.

Considerando os procedimentos metodológicos, a complexidade no


atendimento deste segmento torna-se um desafio, haja vista que é preciso
refletir sobre a participação coletiva, os pressupostos da economia solidária, o
apoio a práticas produtivas na forma sustentável, a valorização do espaço
local-territorial e o paradigma da agroecologia, nos contextos: institucional,
técnico, político, ambiental e social.

Neste entendimento, o presente trabalho, coordenado pelo Núcleo de


Metodologia e Comunicação da Empresa – NMC, visa, como meta principal,
possibilitar a revisão das práticas de Assistência Técnica e Extensão Rural -
ATER e pesquisa da EMATER-PARÁ com enfoque na participação efetiva
dos sujeitos sociais. Pretendendo, assim, criar subsídios às práticas de campo,
repensando conceitos, posturas e o aprimoramento das ações extensionistas,
face às novas ruralidades demandadas atualmente.

Além da referência profissional, da qualificação técnica e da


experiência vivenciada no campo, outros aspectos foram considerados na
composição da equipe organizadora deste material: equidade na relação de
gênero, entre sujeitos; a multi e a interdisciplinaridade, articulando e
valorizando a diversidade de saberes e saberes diferenciados e a
21
EDIÇÃO ESPECIAL
a interpretações a partir de cada realidade, embora voltadas a um objetivo em
comum.
Vale destacar que estas variáveis estão projetadas para outros
momentos, além deste de construção, por serem entendidas como elementos
constituintes e imprescindíveis à práxis e prática de extensão rural pública.
O livro, propriamente dito, é recurso de consulta para orientar o
planejamento do trabalho de extensão, de forma participativa e coletiva, e
como suporte teórico, destinado à seleção e à utilização de métodos e
procedimentos específicos desta atividade. Nessa lógica, visa contribuir com a
melhoria da eficiência, referente à comunicação e à interação entre sujeitos no
contexto da ATER.
Para embasamento destas proposições, apresenta, inicialmente, o
entendimento da ATER pública pelo víeis da história, segundo os fundamentos
sociopolíticos, econômicos, sociocultural, socioeducacional e técnico,
descrevendo, em seguida, o entendimento metodológico, iniciando com o
material produzido na oficina. A idéia central é remeter o leitor à reflexão
crítica a partir dos cenários, dos sujeitos e das instituições sociais, bem como
da relação intrínseca e indissociada que se estabelece entre eles, ou seja, do
ponto de vista deste processo, as mudanças e transformações relacionadas a
qualquer atividade social somente ocorrem por conta da historicidade própria
dos sujeitos e pela efetiva participação social em resposta a determinado
contexto.
Nos fundamentos sociopolíticos e econômicos estão descritos os
variados cenários e condicionantes que caracterizam a história da extensão
rural pública no Brasil e os acontecimentos relevantes que contribuíram para
institucionalizar a atividade, direcionando o atendimento às comunidades
rurais de base familiar.
A abordagem do contexto socioeducacional, essência da extensão rural
pública, visa estimular a reflexão, do ponto de vista da superação de
paradigmas educativos, que propõe a organização do trabalho de campo em
sentido vertical, unilateral e de forma disciplinar, dissociada da realidade dos
sujeitos. Propõe, também, repensar a prática extensionista a partir da
22
EDIÇÃO ESPECIAL
concepção holística, que busca compreender o sujeito da história em sua
totalidade.

Na dimensão técnica, o livro faz abordagem de princípios que a prática


metodológica deve considerar, vislumbrando transformações desejáveis e
coerentes ao momento. Neste sentido, discute o enfoque agroecológico em
seus diversos componentes no contexto da extensão: a produção de base
familiar, a partir do entendimento da multifuncionalidade, que lhe é própria; a
agricultura familiar, do ponto de vista de mercado e produtos diferenciados; a
organização, participação e solidariedade, como processos indissolúveis a
promoção da cidadania, e o desenvolvimento rural sustentável, como
conseqüência de todos esses fatores.

23
EDIÇÃO ESPECIAL
2 A EXTENSÃO RURAL E SUAS FUNDAMENTAÇÕES

No que concerne às fundamentações teórico-metodológicas sobre a


extensão rural no Brasil, tomamos, como referência, as denominações
referendadas por Costa Neto e Brandão dos Anjos (2002) que consideram as
dimensões sociais como partes constitutivas da noção de sustentabilidade.
Considerar os aspectos sociais dissociados daqueles que fundamentam as
relações políticas, econômicas, culturais, educacionais, técnicas, além de outras
que, de forma integrada e articulada, fundamentam os diversos contextos
experenciados pela história da extensão rural brasileira, é desconsiderar o que é
fato: as questões sociais estão se sobrepondo às questões tecnológicas.
Não podemos conceber, como “seres ao mesmo tempo físicos, biológicos,
sociais, culturais, psíquicos e espirituais” (MORIN, 2005), a simplificação ou a
fragmentação das multidimensões que, de forma complexa, se “imbricam” numa
interdependência entre os aspectos sociais e a cultura socioeconômica,
sociopolítica, socioeducacional, para um fazer técnico embasado no respeito às
diferentes etnias que compõem o universo rural brasileiro, com ênfase na
humanização desses sujeitos, construtores e reconstrutores de uma história “de
desenvolvimento rural e de agricultura que assegurem maior sustentabilidade
ecológica e equidade social”... levando-se “em conta as realidades dos distintos
agroecossistemas”. (CAPORAL e COSTABEBER, 2007)
Diante desse contexto, a análise das fundamentações sociais sobre a
história da extensão rural justifica-se pela abrangência e relevância dos diferentes
aspectos, enfoques, conceitos e abordagens aqui apresentadas.

2.1 FUNDAMENTAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E ECONÔMICAS

No Brasil, a extensão rural nasce marcada pela necessidade de


contribuir com a nova ordem mundial, pós 2ª grande guerra (1939-1945), em
que a expansão de mercados e o aumento das exportações traduziam o foco da
conjuntura socioeconômica deste contexto histórico. Com esta finalidade, o
discurso sobre a importância da modernização agrícola, inserida nas
estratégias voltadas à política de industrialização do país, foi acentuado e
amplamente difundido para a sociedade.
24
EDIÇÃO ESPECIAL
Torna-se necessário a organização de um corpo técnico para contribuir
diretamente com os aspectos relacionados à agricultura, possibilitando a
criação, em 1956, da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural –
ABCAR. É importante frisar que a história da extensão brasileira não nasce das
entranhas da realidade nacional, mas é um modelo imposto pelos interesses
imperialistas do pós-guerra.
Em nosso país, a extensão rural, apesar da existência de fortes e
significativas organizações de ATER estaduais, foi, durante muitos anos,
centralizada pelo governo federal, possivelmente refletindo a necessidade dos
“Programas de Ajuda” do governo norte - americano.
A influência desses “programas de ajuda” ao “desenvolvimento” do
terceiro mundo construiu a caracterização do serviço de ATER nacional que,
segundo Simões (2003), apresenta os seguintes modelos categorizados por
Schmitz:
1) Modelo clássico (1948-1956): voltado para o crédito supervisionado
e tinha como principal objetivo o aumento da produção e produtividade. Foi
abandonado por causa dos resultados insatisfatórios;
2) Modelo difusionista-inovador (1956-1967): direcionado a pequenos
e médios produtores, com o sucessivo processo de expropriação e crédito rural
orientado. Este modelo perdeu seu sentido e a extensão mudou sua clientela;
3) Modelo de transferência de tecnologias (1968-1978): se concentrou
na transferência de tecnologia numa visão orientada apenas ao aumento da
produção, sendo o objetivo assistir o agricultor que explorasse
comercialmente sua propriedade ao invés dos pequenos e médios produtores,
cuja evolução era considerada demorada e retardava o avanço econômico. Nos
planos governamentais desta época, a agricultura era pensada, ao mesmo
tempo, como mercado para máquinas e insumos agrícolas e fonte de divisas.
Assim, o êxito da modernização conservadora foi alcançado, pagando
altos custos sociais e ambientais: ao invés de fixar o homem no campo – um
dos objetivos principais da criação do serviço de extensão – reforçou ainda
mais sua saída. Fica superada a etapa de uma ação mais ampla diante da
ambiência do produtor rural e sua família; o trabalho com jovens, no âmbito de
25
EDIÇÃO ESPECIAL
comunidade, não se justificava mais.
Vale ressaltar que a partir dos anos finais da ditadura militar brasileira
se inicia o modelo do “repensar” da extensão rural, caracterizado pela luta de
diversos setores em função da redemocratização. Novamente, o público
preferencial é modificado, assim como o foco nos serviços e atividades são
definidos: pequenos e médios agricultores e juventude rural, dando-se ênfase à
produção de alimentos básicos e às atividades que levam ao fortalecimento de
estruturas comunitárias. Portanto, as atividades da extensão rural voltam a
priorizar o enfoque social.
O planejamento participativo, a importância do saber do agricultor e os
princípios educativos de Paulo Freire, como a relação horizontal entre
educador-educando, marcam o discurso de uma parte da extensão rural.
Infelizmente estas propostas ficaram apenas no discurso e o modelo do
repensar não conseguiu evitar o desmantelamento do serviço, apesar da luta
interna de alguns agentes da ATER.
Neste contexto, o fortalecimento da sociedade civil, organizada no
meio rural, impulsiona o Estado a formular uma PNATER, baseada em um
novo paradigma que orienta tanto a ATER estatal quanto a não estatal. Tem
como público alvo a agricultura familiar, busca a construção da cidadania,
utilização de metodologias participativas e os princípios da transição
agroecológica. Portanto, conforme Caporal e Ramos (2006), “uma nova ATER
precisa ser, verdadeiramente, democrática e participativa”.
Diante desta breve síntese, podemos afirmar que a ATER pública e
gratuita continua sendo um dos principais instrumentos de intervenção,
ordenação e controle do Estado sobre o meio rural. O aspecto político se refere
a isso: ao exercício do poder, quando debatemos o meio rural, estamos
debatendo sobre o poder no meio rural. Na fase atual, é fato que há o
fortalecimento da sociedade civil por meio de representatividade política,
capacidades de negociação e manifestações, com apoio de vários intelectuais
que animam o debate acerca da PNATER, que surge baseada em um paradigma
construtivista e com ênfase nos princípios éticos e agroecológicos.
A partir de junho de 2003, a ATER é redirecionada do Ministério da
26
EDIÇÃO ESPECIAL
Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, para o Ministério do
Desenvolvimento Agrário - MDA, iniciando todo processo de construção da
nova política, sistematizada na PNATER.
Construída por meio de uma ação social coletiva, a PNATER tem seu
foco no atendimento de interesses, necessidades e expectativas comuns.
Portanto, considera a dinâmica do caráter participativo na geração e
construção social de conhecimentos e tecnologias.
A importância da centralidade da Agricultura Familiar no contexto da
nova ATER está associada à dimensão espacial do desenvolvimento, porque
permite uma distribuição populacional mais equilibrada no território, em
relação à agricultura patronal, normalmente vinculada à monocultura, que gera
grandes vazios populacionais, diminuição da qualidade de vida social e
ambiental nos espaços rurais, estendendo-se aos centros urbanos.
Os agricultores familiares são tradicionais tanto no trabalho com a terra
quanto em seu modo de vida. Tal tradição inclui uma relativa autonomia e uma
organização familiar que compreende, dentre outros aspectos: o trabalho da
família na propriedade; a produção de alimentos para consumo próprio; a
produção destinada ao mercado e uma forma de sociabilidade, centrada nas
comunidades rurais.
Assim, a agricultura familiar é entendida como aquela que combina a
propriedade da terra com mão de obra familiar. Está organizada em torno da
família, por uma lógica que reúne saberes e valores que asseguram a
reprodução da unidade familiar, de produção e a da permanência do
patrimônio. A terra tem um significado especial para os agricultores, de modo
que, mesmo havendo a possibilidade de se manter ou de progredir, por meio do
exercício de atividades não agrícolas, na unidade de produção familiar ou fora
dela, a terra não perde seu sentido, ou seja, continua sendo à base do patrimônio
familiar sobre a qual se constrói a família e o trabalho.

2.2 FUNDAMENTAÇÃO SOCIOCULTURAL

As formas de perceber cenários sociais, acontecimentos e o ambiente


natural são processos determinantes que influenciam sobre o modo de ser,
pensa e agir no mundo, com o mundo e para o mundo. Da mesma forma,
27
EDIÇÃO ESPECIAL
tornam-se responsáveis pela construção do referencial cultural de determinado
grupo social, influenciando o sujeito na maneira de interagir com os outros e
com o ambiente.
Nesse sentido, Caporal e Costabeber (2002) consideram que os
saberes, os conhecimentos e valores locais precisam ser analisados,
compreendidos e utilizados como ponto de partida nos processos de
desenvolvimento. Nesse contexto, as possíveis intervenções devem respeitar e
valorizar a cultura local, a diversidade e visão de mundo das diferentes etnias e
populações, sem prejudicar a organicidade e totalidade do segmento
agricultura familiar.

2.3 FUNDAMENTAÇÃO SOCIOEDUCACIONAL.

Entender as abordagens metodológicas, que fundamentam o fazer da


ATER na dimensão socioeducacional, perpassa essencialmente pelo
conhecimento e reflexão da trajetória histórica que envolve esta atividade
social.
O paradigma da revolução verde incentivou o modelo químico,
biológico e mecânico de agricultura industrial, com vistas à “modernização da
agricultura”, por meio dos pacotes tecnológicos advindos dos grandes centros
de pesquisa.
Cabe à extensão rural, como atividade social, atuar de forma
comprometida com o desenvolvimento rural sustentável e a serviço dos
beneficiários, principais sujeitos de todo o processo metodológico de (re)
construção do conhecimento.
Isto quer dizer que a extensão rural, como processo educativo, não
ocorre de forma neutra. A opção metodológica, por essência, é intencional e
atrelada a uma visão de mundo. Portanto, é uma ação política tanto quanto
educativa, que tem finalidade de mediar à construção do saber comum e do
saber técnico, procurando corresponder à determinada realidade e contextos
(políticos, econômicos, culturais, ambientais). A escolha metodológica é
sinalizadora do caráter político e social que a extensão rural adquire na prática
de campo.
28
EDIÇÃO ESPECIAL
A história mostra que o modelo de educação vigente no país, até
meados dos anos 80, esteve pautado nos ideais europeus e norte-americano,
dissociado da realidade e necessidades emanadas no país. O pressuposto
tecnicista, com a predominância da técnica sobre os demais componentes do
processo ensinar-aprender, e indiferente às variadas dimensões que se
conjugam nesta relação, inspirou todo o sistema e práticas educativas do
momento. O ensino tido como a atividade principal e o educando
compreendido como sujeito passivo, um receptor de conhecimentos prontos e
acabados. A educação, nesta concepção, é entendida como processo neutro e
especificamente comportamental, centrada no fazer a partir de modelos pré-
estabelecidos.
Neste mesmo processo, a criação e implantação do modelo de extensão
rural no Brasil, correspondendo ao modelo econômico vigente, o modo
capitalista, sofrem influência do paradigma funcionalista-estruturalista norte-
americano. O importante era corresponder às expectativas da conjuntura com
relação à atividade produtiva: eficiência, eficácia e produtividade.
A ação do extensionista, nesta perspectiva, toma, como orientação,
práticas reprodutivistas de modo unilateral; o saber técnico é repassado como
verdade absoluta, sem considerar o conhecimento popular e a realidade local.
O fundamento técnico das metodologias tem suporte na demonstração ─ o que
e como fazer ─ de forma pontual, isolada, fragmentada e, basicamente, pela
exposição oral. Entretanto, já nesse momento existia um movimento de
contestação a esse modelo unilateral de orientação prática, que vem se
consolidar a partir da década de 80, com a redemocratização do país e outras
transformações conjunturais, como a ampliação da atuação dos movimentos
sociais do campo e na cidade e a amplitude do conceito de participação.
Novos paradigmas surgem reorientando a reflexão e discussão em
torno das práticas de extensão rural no território brasileiro. Assim, se descobre
as contribuições dos grandes teóricos da educação, como: Piaget, Vigotsky,
Gramsci e Paulo Freire. Estas contribuições estimulam novas interpretações e
posturas diferenciadas emergem, reforçando e reconhecendo o sentido
histórico do sujeito do campo como construtor do próprio conhecimento e da
história.
29
EDIÇÃO ESPECIAL
A extensão rural é fortemente influenciada pelas novas correntes
pedagógicas que anunciam elementos diferenciados na relação ensinar-
aprender. A participação, o diálogo, a construção intrínseca, a flexibilidade e a
interdisciplinaridade passam a orientar a práxis crítica e reflexiva na ação
extensionista, considerando determinante o envolvimento e a participação dos
agricultores familiares como sujeitos, em todo processo de trabalho da ATER.
O enfoque participativo, que possibilita a expressão do pensamento, de
problematizar a própria realidade, e o construtivo, o sujeito é o construtor do
próprio conhecimento, são pautados nas discussões subjacentes a um contexto
diferenciado da extensão rural.
Considerando o caráter educativo, que lhe é inerente, a extensão rural
deve primar por práticas metodológicas que possibilitem a ação-reflexão-
ação, dando, ao próprio sujeito, a oportunidade de construção e reconstrução
dos saberes necessários à vida social e à atividade produtiva de forma
consciente.
Os procedimentos metodológicos, na perspectiva da participação, têm
como diferencial o comprometimento político e social, deixando de
representar o centro do processo como um fim em si mesmo, passando a ser
compreendido como meio, um caminho para possibilitar a participação e
emancipação dos sujeitos do campo.

2.4 FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICA

A abordagem técnica fundamentada no uso das metodologias


participativas passa por profundo processo de reflexão sobre as práticas
extensionistas desde os meados do século XX, décadas de 40 e 50, até o início
dos anos 80. O surgimento dos movimentos sociais, a luta pela anistia, as
diretas já, a plena efervescência da questão ambiental no mundo, o surgimento
da Agroecologia, como ciência ou disciplina científica, ferramenta
fundamental para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento,
influenciam novas formas de produção e de relações socioambientais. Neste
processo, a agricultura de base familiar assume destacada relevância.
A base teórica, que fundamenta o uso das práticas metodológicas de

30
EDIÇÃO ESPECIAL
ATER e de pesquisa ação, passa necessariamente pelo entendimento holístico
do sistema natural e das relações que se estabelecem na evolução das
sociedades humanas, bem como no uso dos recursos naturais, para a produção
de alimentos e matéria-prima pelas gerações presentes e futuras, permeando
todo o processo de planejamento, que deve ponderar os seguintes princípios
e/ou enfoques:

2.4.1 Enfoque agroecológico para a produção de base familiar.

Este enfoque veio em contraposição ao paradigma da Revolução


Verde, baseado na industrialização química e produção de insumos modernos
a partir de uma visão de mundo unilateral, em que a noção de conhecimento
único e verdadeiro está centrada no conhecimento científico, deixando à
margem a experiência e o conhecimento dos agricultores, tornando-os
invisíveis do ponto de vista político, social e econômico.
Ao centrar sua ênfase no enfoque agroecológico, a PNATER
estabelece os fundamentos para a produção de base familiar, considerando-a
unidade de produção e consumo, o que determina que o cultivo de bens desse
setor significativo da agricultura deve levar em conta as suas exigências, como
consumidor, e as suas necessidades, como produtor de bens, de tal sorte que na
discussão das práticas desenvolvidas pela ATER sejam consideradas não só a
visão de mercado, mas também a situação do agricultor familiar, tal qual uma
unidade de produção e consumo;

2.4.2 Mercados e produtos diferenciados da produção familiar

Nas relações com o mercado, a agricultura familiar, conforme o que


determina a PNATER, deve adotar estratégias que impliquem não só
vantagens econômicas, mas que tenha noção de que os sistemas e arranjos
produtivos locais são os mais adequados, em relação à manutenção da
biodiversidade, à potencialização e à agregação de valor aos produtos em que
há o maior acúmulo de experiências, contribuição de tradições, consideradas
milenares, que possibilitem menor custo e maior acessibilidade ao mercado;

31
EDIÇÃO ESPECIAL
2.4.3 Organização/participação/solidariedade

Uma das heranças deixadas pelo paradigma da Revolução Verde à


agricultura Familiar está relacionada a práticas de organização próprias, que a
adoção dos pacotes tecnológicos retirou do processo de produção familiar, que
estava intimamente ligado ao modo sistêmico de produzir desses agricultores.
A prática do cultivo por produto eliminou modos de organização internos à
produção familiar, como: a prática do mutirão, a troca de dia, dentre outros, que
serviam como estratégia de potencialização da mão de obra e estilo a práticas
organizativas de caráter solidário.

2.4.4 Desenvolvimento local/territorial

O termo desenvolvimento local/territorial possui uma ambigüidade,


tendo em vista que o desenvolvimento local não se dá de forma isolada, imune
a qualquer referência externa. Ao falarmos de desenvolvimento local,
especificamente da comunidade, vamos encontrar elementos que não fazem
parte do contexto local, mas sim do município, do estado ou do país.
A introdução da noção de território, por ser mais abrangente,
envolvendo várias comunidades, municípios, regiões, tem uma dimensão mais
ampla da realidade, envolvendo aspectos físicos, espaciais, históricos,
políticos, ambientais e culturais. Geralmente, esses aspectos característicos de
uma determinada comunidade, município ou região se assemelham, exigindo
um aporte de políticas públicas que atenda o conjunto e não apenas uma
unidade, de forma isolada.
Essa noção de desenvolvimento relaciona-se a idéia de que o
desenvolvimento tem que estar centrado na realidade local, nos costumes,
hábitos e tradições locais, sem perder de vista as estratégias que devem estar
articuladas a fatores externos como forma de impulsionar e estimular o
desenvolvimento local, considerando o aspecto de sustentabilidade.

32
EDIÇÃO ESPECIAL
3 ABORDAGENS INTER, MULTI E TRANSDISCIPLINAR

“A linguagem disciplinar [...] não deu conta de provocar a interação


entre os conhecimentos das várias disciplinas criadas pela ciência moderna.”
(BARBOSA, 2001)
Sabe-se que “O mundo acadêmico é o mundo das disciplinas”. O
avanço da ciência e o progresso tecnológico devem, em boa parte, à verdadeira
explosão da pesquisa disciplinar.
“A complexificação dos problemas tornou necessária a aproximação e
a associação gradual das disciplinas, em diferentes graus, do mais simples - o
da multidisciplinaridade, ao mais completo - o da transdisciplinaridade”
(CHAVES, 1988)
Segundo Magalhães (2005), em um mundo de velocidade,
imediatismo e tempo real na socialização do conhecimento, no qual os
indivíduos têm, mais e mais, necessidade de reter uma grande quantidade de
informações, as práticas pedagógicas disciplinares precisam ser repensadas.
Considerando que a extensão rural assenta-se em processos educativos
complexos, faz-se necessário dar ênfase a importância de se trabalhar os
diferentes olhares dentro de uma perspectiva de solução de um mesmo
problema, definindo a abordagem multi, inter e transdisciplinar, tomando por
base Piaget (apud CHAVES, 1988), que considera que há ocorrência da
multidisciplinaridade quando “para a solução de um problema, torna-se
necessário obter informação de duas ou mais ciências ou setores do
conhecimento, sem que as disciplinas envolvidas no processo sejam elas
mesmas modificadas ou enriquecidas”; designa a interdisciplinaridade como
“o nível em que a interação entre várias disciplinas ou setores heterogêneos de
uma mesma ciência conduz a interações reais, a certa reciprocidade no
intercâmbio levando a um enriquecimento mútuo”; o que concerne à
transdisciplinaridade, o conceito envolve “não só as interações ou
reciprocidade entre projetos especializados de pesquisa, mas a colocação
dessas relações dentro de um sistema total, sem quaisquer limites rígidos entre
as disciplinas”, portanto, em sua amplitude, é o que está entre as disciplinas,
meio de diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas, num contexto de
33
EDIÇÃO ESPECIAL
complexidade que “imbrica” ciências exatas, humanas, arte, literatura, poesia
e experiência anterior.
As formas de inserção e abordagens relacionadas à extensão rural
pública e gratuita são determinadas pelo modo como o trabalho em si é
organizado no âmbito da ação dos extensionistas. Estas formas, seja na
dimensão teórica ou na dimensão técnica, podem se manifestar de maneira
diversa, dependendo da concepção que se tem sobre o papel da extensão rural e
sobre os sujeitos nela envolvidos.
Do ponto de vista da totalidade que circunda a natureza humana nas
suas contradições, limitações, necessidades e interesses, o trabalho de
extensão rural quando organizado predominantemente em áreas específicas,
para atender fatos isolados e circunstanciais, se mostra fragmentado. A
atividade especializada, isolada, tende a concentrar o atendimento em
demandas pontuais, independente de outras necessidades que naturalmente
compõem o mesmo contexto da realidade rural. São ações, por vezes,
dissociadas do todo e que não admitem interpretações de outros saberes e/ou
áreas de conhecimento sobre o processo.

Desenho 1 – Representação da concepção de educação tradicional, na qual o EDUCADOR é


tido como TRANSMISSOR de informações
Fonte: EMATER-PARÁ
34
EDIÇÃO ESPECIAL
O ponto de partida para a organização das ações, nesta concepção,
toma como referência primeira a especificidade, seja da área de conhecimento
especializado, da tecnologia ou do fazer técnico, e não o contexto total, maior,
que diz respeito à realidade das comunidades rurais. Alguns saberes são
projetados como de maior valor em relação a outros e representados em áreas
compartimentalizadas, ocasionando dicotomias irreparáveis ao contexto da
extensão, tanto nas várias disciplinas que as compõem quanto na questão
corporativa. Exemplo desta circunstância é o distanciamento que se estabelece
entre o campo das Ciências Humanas e Sociais e o campo da Agronomia e
Ciências afins — a área social e a área econômica - que faz parte da história da
extensão rural pública no Brasil. É a negação do diálogo e da integração entre
campos de saberes, que, na perspectiva de conjunto, possibilitam a
qualificação da ATER.

Desenho 2 – Representação da concepção de educação tradicional, na qual o sujeito é tido


como RECEPTOR, passivo, de informações.
Fonte: EMATER-PARÁ

Assim como a condição humana, as próprias relações sociais não se


processam em partes, isto é, não se vivencia, por exemplo, o aspecto
emocional, o social e o profissional em momentos isolados e dissociados, da
mesma forma, os conhecimentos devem ser canalizados para atender a
natureza humana em sua totalidade.
35
EDIÇÃO ESPECIAL
4 A CONVIVÊNCIA PARTICIPATIVA NA EXTENSÃO RURAL

A convivência participativa na ATER tem, em si mesma, um conteúdo


ambivalente. Por um lado, a individualidade de um sujeito que é único, o
técnico, portador de cultura, de visões de mundo, de expectativas, sonhos e
experiências concebidas e vivenciadas, geralmente, a partir da visão urbana de
mundo; do outro, também um sujeito que é único, o agricultor, portador de
cultura, visões de mundo, expectativas, sonhos, experiências concebidas e
vivenciadas numa visão rural, de profunda interação com a terra, a natureza e,
não raro, mediado pelo conflito e a violência.
Por serem, esses indivíduos, de mundos diferentes, há de se ter um
conjunto de medidas de natureza comportamental que oriente a relação entre
ambos e facilite a comunicação entre eles. Base, portanto, de uma participação
orgânica que impulsione todos na direção de um objetivo comum:
desenvolvimento rural sustentável construído de forma participativa, sem
perder de vista a necessidade de modelos de gestão mais participativos,
resgatando a importância do compromisso e da responsabilidade do técnico
que induz a uma ação mais reflexiva e criativa, estabelecida em processos de
desenvolvimento sustentável e não apenas de execução de tarefas.
Ainda que a prática pedagógica esteja embasada na troca de saberes,
ela só será possível se a linguagem utilizada for decodificada e entendida por
todos. Assim, mesmo que, por hábito ou conhecimento especializado, o
mediador tiver que usar a linguagem técnica, deverá fazê-lo de forma
inteligível ao público orientado, sempre que possível.
No processo de convivência, ser compreensível e respeitoso em
relação às crenças, hábitos, costumes e ideologias expressos nas práticas
comunitárias, sem que isso signifique uma atitude de neutralidade, e não
assumir posicionamentos, atividades e tarefas específicas da comunidade.

36
EDIÇÃO ESPECIAL
5 A COMUNICAÇÃO E A METODOLOGIA

A comunicação e a metodologia são temas intrínsecos e suporte


transversal ao trabalho de ATER que é desenvolvido no Estado do Pará. É fato a
impossibilidade de separação destes processos em termos reais e práticos,
visto que nenhum arcabouço metodológico pode ter sustentação sem
considerar um processo eficaz e eficiente de comunicação entre sujeitos.
Em se tratando da agricultura familiar, um segmento social de
múltiplas faces ao incorporar no seu interior as populações tradicionais
(indígenas, quilombolas e extrativistas), há necessidade de um novo olhar e
uma nova prática do extensionista, tendo em vista que os processos de
comunicação dessas populações possuem signos e códigos próprios que
precisam ser desvendados e compreendidos, a fim de que a construção da
mensagem mostre a visão coletiva dessas populações e sua natureza totalitária
que, dentro da perspectiva da interculturalidade, a sua realidade, os seus
hábitos e costumes possam ser parte ativa e não integrativa no processo de
desenvolvimento rural sustentável cuja essência deve preservar a
autodeterminação e autonomia dessas populações.
Embora se tenha presente os aspectos tecnológicos como indutores do
desenvolvimento e os processuais como gestão da sustentabilidade, da
interdisciplinaridade e totalidade, outros aspectos igualmente importantes
devem ser considerados, no que diz respeito à comunicação e às metodologias
aplicadas na extensão rural, ou seja, é preciso fazer a interface com a cultura, a
política, a economia (sob a ótica do comércio justo e solidário), a gestão
participativa e o respeito à natureza em seus diversos inter-relacionamentos.
Torna-se necessário que esse contexto complexo e exigente, quanto ao
uso de metodologias participativas, atenda ao universo variado e, ao mesmo
tempo, único da agrobiodiversidade, entendida aqui como a infindável
manifestação de vida, em cadeias interativas, constituídas de atividades
agrícolas, não agrícolas e extrativistas que fazem parte do cenário rico e
variado que envolve a biodiversidade amazônida.

37
EDIÇÃO ESPECIAL
Contudo, a nova política de ATER define como funções da Extensão Rural:
Estimular, animar e apoiar iniciativas de desenvolvimento rural
sustentável, que envolvam atividades agrícolas e não agrícolas,
pesqueiras, de extrativismo, e outras, tendo como centro o
fortalecimento da agricultura familiar, visando à melhoria da
qualidade de vida e adotando os princípios da Agroecologia
como eixo orientador das ações (BRASIL, 2004).

A agricultura amazônica é multivariada por natureza e mediada por


práticas milenares que, face ao contexto da questão ambiental, adquirem
relevância como ponto de partida para refletir e impulsionar atividades e
práticas sustentáveis, cuja divulgação e intervenção devem estar
consubstanciadas em ações participativas.
Instrumentos, processos e metodologias participativas, nada adianta se
a prática for de encontro ao discurso. A participação pressupõe uma mudança
de postura, de comportamento, em que todos são respeitados de forma
igualitária, não existindo a hierarquia de poder, assim, pois:
“[...] quando trabalhamos com enfoque participativo,
nossa atenção não deve estar centrada nos instrumentos, métodos
e técnicas, mas naquilo que constitui a questão central da
participação: o poder. Ou melhor, as disputas sobre o poder.
Instrumentos participativos têm como função principal ajudar a
estruturar as disputas sobre poder entre atores sociais, torná-las
mais transparentes e, dessa forma, contribuir para uma
distribuição mais eqüitativa de poder.” (BROSE, 2001).

Para efeito didático, a seleção da metodologia apresentada neste


referencial foi orientada pelos três princípios, a seguir expostos: o grau de
intensidade do uso do método, a abrangência da aplicabilidade e o custo de
utilização. Por outro lado, há que se considerar que não há uma rigidez no uso
do método, da técnica ou da ferramenta.
Há momentos, principalmente em relação aos dois primeiros
princípios citados anteriormente, que um método, ou técnica, pode ser
utilizado durante a aplicação de outro método, como forma de subsidiar sua
execução, sem descaracterizar o objetivo principal, cabendo ao extensionista
adequar as ações a cada realidade observada.

38
EDIÇÃO ESPECIAL
Podemos citar, por exemplo, a utilização do método palestra como
técnica metodológica para execução do Dia de Campo.
Determinados métodos e técnicas não são considerados
especificamente como de ATER, mas, devido à natureza e à aplicabilidade,
foram incorporados e vêm sendo utilizados com bastante propriedade na
extensão rural.

39
EDIÇÃO ESPECIAL
6 METODOLOGIAS DE ATER E PESQUISA

Representam o conjunto de métodos aplicados à extensão rural e


pesquisa, sendo um processo que analisa a funcionalidade, potencialidades,
limitações e possibilita avaliar os pressupostos ou implicações de suas
utilizações.
Possuem, também, uma definição entendida como a abordagem teórica
do conjunto procedimental e instrumental para comunicação e interação com
sujeitos do campo.
Segundo Kummer (2007), quando se usa o termo “metodologia
participativa”, fala-se de um conjunto de métodos com características
semelhantes usados para atingir o mesmo objetivo, baseado no princípio
fundamental da participação.

6.1 MÉTODO DE ATER E PESQUISA

Caminho previamente planejado que orienta a utilização de diferentes


técnicas, meios e procedimentos para alcançar um fim determinado na
extensão rural.
Os métodos são instrumentos de apoio escolhidos como recurso para
comunicação e interação entre as especificidades rurais e os sujeitos do campo.
Todavia, a opção metodológica deve ser escolhida considerando cada
realidade, compreendendo as especificidades socioculturais e o interesse de
pessoas, ou grupo de pessoas, e com finalidades pré-estabelecidas. Entre eles
destacamos:

6.1.1. Contato

Método de comunicação e relacionamento que se realiza por meio de


conversa formal ou informal, de forma planejada ou ocasional, em locais
diversificados. Sua principal característica é que o público atendido pode, ou
não, estar inserido no planejamento local de ATER da instituição.

40
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 3 – Representação do cenário com aplicação do método CONTATO.
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Estabelecer a comunicação com o público em geral, possibilitando a


troca de informações, esclarecimentos e orientações diversificadas com
relação a ATER.
Pode ser utilizado de modo eventual, em local indeterminado, quando
existir demandas de atendimento aos indivíduos que busquem informações
específicas, e no próprio escritório, quando necessário realizar qualquer
atendimento previamente programado. Neste contato, o extensionista informa
previamente ao interessado o motivo desta forma de atendimento, assim como,
deve deixar evidente a importância da comunicação entre eles para
esclarecimentos e orientações afins. Já no contato eventual, o processo ocorre
conforme a necessidade da atividade institucional.

Processo de organização e execução

Em ambas as formas, o extensionista deverá dispensar atenção devida


ao público, demonstrando interesse e segurança à natureza do atendimento,
41
EDIÇÃO ESPECIAL
fortalecendo a qualidade do relacionamento e do diálogo, a confiabilidade e
credibilidade no atendimento técnico à instituição.

Tempo e número de participantes sugerido


O tempo sugerido à utilização da técnica deve variar entre 10 a 15
minutos, para atendimento a uma ou duas pessoas por contato, no máximo.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo


Em função do tempo, não se recomenda técnicas e ferramentas
auxiliares.

6.1.2. Reunião

Método de comunicação participativa, interativa e reflexiva, no qual


duas ou mais pessoas se agrupam para tratar, discutir, debater, e/ou informar
diferentes assuntos, cujos encaminhamentos poderão, ou não, ser consensuais,
tendo por base interesses e necessidades dos envolvidos.

Desenho 4 – Representação do cenário com aplicação do método REUNIÃO.


Fonte: EMATER-PARÁ

42
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Desenvolver processo de reflexão a partir de questionamentos,


confrontos e associações de ideias, informando e debatendo, para solucionar,
deliberar e/ou assumir compromissos. Quando for necessário, informar,
discutir problemas e propor soluções e/ou encaminhamentos.

Processo de organização e execução

Planejamento participativo estabelecendo: objetivo, seleção do


público, indicativo de pauta, data, local, materiais, convites e divulgação,
avaliação e registro.
Abertura da reunião com a leitura da pauta, apresentação do
coordenador, do secretário e a dinâmica de participação e registro em ATA.

Tempo e número de participantes sugerido

Em situação normal, até 2 horas; em situações extraordinárias,


dependendo da natureza da reunião, pode se prolongar por mais tempo. Pode
ser de grande abrangência, dependendo do objetivo do trabalho.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Palestra, FOFA, Dinâmicas de grupo, entre outras.

6.1.3. Visita

Método de atendimento programado e planejado previamente,


utilizado para atendimento específico do público fim, objetivando assistir
tecnicamente a unidade de produção familiar, os projetos em
desenvolvimento, as organizações rurais nas formas de grupos, associações e
cooperativas, entre outros.

43
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 5 – Representação de cenário com aplicação do método VISITA
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Diagnosticar situações localizadas, informar, trocar experiências,


prestar assistência, acompanhar, avaliar, redirecionar ações e assessorar.
Apesar de ser um método eficiente, deve ser levado em consideração o
alto custo de sua execução comparativamente aos demais. Deve ser realizada
conforme o planejamento do extensionista (calendário de atividades) ou,
eventualmente, em função de demanda específica.

Processo de organização e execução

Planejar objetivos, ferramentas e recursos necessários ao bom


desenvolvimento da atividade. O extensionista deve obter informações previas
à execução da visita e dispor do cadastro da propriedade, para
acompanhamento das informações e demais registros necessários.

Tempo e número de participantes sugerido

A realização desta atividade é relativa. Está atrelada ao tempo que for


necessário para cumprimento da programação e ao número de participantes a
atender.

44
EDIÇÃO ESPECIAL
Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Demonstração técnica, questionários, mapa falado, entrevistas e


outros.

6.1.4. Curso

Método para processo de formação inicial e continuado que utiliza um


conjunto de atividades teóricas e práticas de natureza educativa, com
programação específica. Organizado em determinada carga horária e deverá
ser ministrado por especialista no assunto.

Desenho 6 – Representação de cenário com aplicação do método CURSO


Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e Aplicabilidade

Possibilitar a (re)construção de conhecimentos sobre tecnologias,


saberes ou saberes complementares, assim como práticas que contribuam para
qualificação ou aperfeiçoamento do trabalho no campo e melhoria da
qualidade de vida. Além disso, durante sua execução, permitir à capacitação
de um número significativo de pessoas em menor espaço de tempo, dando mais
celeridade à difusão do conhecimento compartilhado e/ou construído.

45
EDIÇÃO ESPECIAL
Utilizado para capacitação técnica nos diversos temas existentes na
Extensão Rural, com ênfase na Agricultura Familiar.

Processo de planejamento e execução

Na organização, identifica-se o público e definem-se os recursos


(humanos, materiais e didáticos); convite aos participantes e aos instrutores;
identificação do conteúdo, metodologia e carga horária e da infraestrutura
necessária; levantamento de custos e divulgação; acompanhamento e
avaliação.
Na execução ocorre: a apresentação dos participantes, a definição do
acordo de convivência coletiva, a apresentação da programação geral do curso
(conteúdo, metodologia, carga horária), a entrega do material e a avaliação.

Tempo e número de participantes sugeridos

Mínimo de 40 horas de duração, porém, quando se tratar de cursos de


natureza modular/presencial, haverá flexibilidade da carga horária,
extrapolando esse período mínimo estabelecido. Se destinado ao pequeno
público, formar turmas de no máximo 40 participantes; para grande público,
utilizar recursos da capacitação massiva, formando turmas com até 100 ou
mais participantes.
Contudo, as experiências de campo têm demonstrado que ao se
trabalhar com um número acima de 25 participantes, principalmente quando a
metodologia requer conteúdo prático, infraestrutura limitada do local e
poucos recursos didáticos disponíveis, poderão ocorrer problemas, como
dispersão e evasão de pessoas.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Palestra, seminário, dinâmicas de grupo, demonstração técnica,


METAPLAN e outras.

6.1.5. Diagnóstico Rural Participativo - DRP

Método de pesquisa participativa que utiliza um conjunto de técnicas e

46
EDIÇÃO ESPECIAL
ferramentas, contribuindo para a construção de diagnóstico nas comunidades
rurais a partir de uma matriz, na qual os participantes poderão compartilhar
informações, registrando a percepção do grupo sobre problemas e
potencialidades da comunidade, da região, do município ou do território, além
de permitir às pessoas, ou grupo de pessoas, a (re)descoberta da história de sua
comunidade e subsidiando o gerenciamento comunitário participativo, com
vistas ao desenvolvimento rural sustentável.

Objetivo e aplicabilidade

Sistematizar ideias e informações sobre a realidade da comunidade,


região, município ou território no processo de construção do planejamento
participativo, com encaminhamentos de ações, a partir de problemas e
potencialidades identificados pelos participantes.
O diagnóstico exige do moderador a postura imparcial no
gerenciamento das discussões e de possíveis conflitos, sem indução de
respostas ou resultados, prezando sempre pelo caráter participativo e
igualitário, com respeito ao conhecimento endógeno, promovendo a
participação de todos.
A aplicação do DRP é sugerida quando há a necessidade de
identificação de demandas dos sujeitos, que irão orientar o planejamento na
perspectiva do Desenvolvimento Sustentável, com a participação dos
diferentes atores sociais envolvidos neste processo

Processo de organização e execução

Realizar reunião preparatória para decidir, discutir e negociar a


metodologia para auxiliar a realização do diagnóstico; identificar e mobilizar
os representantes dos diferentes grupos da comunidade; escolher local para
realização do DRP; elaborar cronograma de execução; indicação e preparação
da equipe moderadora do processo; identificar as expectativas dos
participantes do DRP.
É necessário organizar as informações, elegendo, hierarquizando e
priorizando problemas e potencialidade por campo, interpretar os dados,
47
EDIÇÃO ESPECIAL
identificar alternativas de ação diante das demandas apresentadas, sistematizar
e socializar as informações obtidas durante o DRP à comunidade.
Entende-se que a devolução e socialização das informações para a
comunidade devem ser feitas logo após o processo de sistematização, pois um
longo período sem contato com o grupo pode levá-lo ao esquecimento e
colocar em descrédito a instituição.

Tempo e número de participantes sugeridos

O tempo é variável de acordo com a comunidade na qual o DRP será


aplicado e em função do número de pessoas envolvidas no processo de
aplicação do referido diagnóstico, para reconhecimento e interpretação das
informações. O número de participantes, portanto, é variável de acordo com a
realidade de cada comunidade.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Metáfora, Diagrama de Venn, Tempestade de Ideias, METAPLAN e


outras.

6.1.6. Dia de Campo – DC

Método que permite abordagem simultânea dos aspectos teóricos e


práticos, envolvendo um determinado tema que requer tanto a orientação
técnica quanto a demonstração prática.
É realizado numa propriedade rural, na qual as práticas e/ou
tecnologias divulgadas sejam utilizadas nas condições locais, possibilitando
aos participantes a observação, a discussão e a análise das questões
apresentadas.

48
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 7 – Representação de cenário com aplicação do método DIA DE CAMPO.
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Divulgar resultados e/ou inovações tecnológicas que, por sua


complexidade, necessitem ser expostos sequenciadamente, com a finalidade
de provocar nos participantes o interesse e a motivação para a adoção da
tecnologia apresentada.
O método é estruturado na forma de estações, nas quais os assuntos
tratados são detalhados, caracterizados e demonstrados na sua especificidade.

Processo de organização e execução

A equipe extensionista, a comunidade e os parceiros trabalham juntos


no processo de organização deste método e deverão utilizar os recursos
disponíveis no local, bem como dividir as atividades em equipes
(coordenação, infraestrutura, técnica, recepção, alimentação, transporte,
mobilização e divulgação).
Na execução, organiza-se o tema principal, dividindo-o em estações
identificadas por placas. Haverá guias para conduzir os participantes a essas
49
EDIÇÃO ESPECIAL
estações, formando um circuito de informações no local, no qual cada
expositor irá apresentá-las por meio de recursos pedagógicos, como o álbum
seriado.
É importante definir os expositores e o tempo para as exposições e
debates, para que os grupos percorram, de maneira sincronizada, as diversas
estações; ao final, realizar plenária com todos os convidados e expositores para
esclarecimentos afins e avaliação da atividade.

Tempo e número de participantes sugeridos

O tempo de realização deste método é de 04 a 06 horas. Pela sua


complexidade, é indicado para 80 participantes, aproximadamente.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Reunião, Visita, Dinâmica de Grupos, Palestras e Demonstração


Técnica e outras.

6.1.7. Excursão

Método planejado que visa demonstrar e divulgar as experiências


rurais bem sucedidas a um grupo de pessoas com interesses comuns, por meio
de visita orientada que permite a observação, reflexão e troca de informações e
saberes afins.

Desenho 8 – Representação de cenário de aplicação do método EXCURSÃO


Fonte: EMATER-PARÁ
50
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Munir os grupos de agricultores e gestores de informações e


conhecimentos, tendo como referência uma experiência vivenciada por grupos
em condições semelhantes.
A excursão ocorrerá quando ficar evidente a necessidade de promover a
troca de experiência com outros grupos de agricultores familiares, gestores e
atores sociais que tenham afinidades com o tema, bem como para estimular a
discussão no grupo a partir da visualização e conhecimento de um fato novo.

Processo de organização e execução

Planejar de forma coletiva, com antecedência, a fim de atingir os


objetivos previstos; orientar claramente o que deve ser observado durante a
excursão e a posterior utilidade; selecionar o local a ser visitado (que pode ser
uma propriedade rural, um campo experimental, uma agroindústria etc.), de
acordo com o perfil e interesse do visitante; verificar as vias de acesso aos
locais de interesse e a existência de oportunidades educativas;
acompanhamento e avaliação conjunta.
Ao iniciar a excursão, deverá ser distribuído material de identificação
(crachá) aos excursionistas; apresentar ao grupo o croqui (mapa), com
orientações para o deslocamento até a propriedade e dos espaços a serem
visitados; fazer a entrega do material informativo aos agricultores, contendo
um resumo das práticas e resultados que deverão ser observados no local;
apresentar o proprietário do local ao grupo de visitantes; conduzir os
excursionistas para as várias etapas previstas no roteiro da excursão, que se
constituem dos vários locais e/ou técnicas a serem vistas na propriedade
visitada; estimular o grupo a fazer perguntas, trocar idéias e esclarecer as
dúvidas.
É importante que no contato prévio com o proprietário ou
administrador do local, sejam pontuadas, caso existam, as regras internas de
postura e comportamento para visitantes, no intuito de que o técnico as repasse
aos participantes no início da excursão, evitando, assim, possíveis imprevistos
ou constrangimentos.
51
EDIÇÃO ESPECIAL
Tempo e número de participantes sugeridos

Deve ser realizada no período de 01 a 03 dias. A quantidade de


participantes é relativa, dependendo de vários fatores. Porém, a excursão não
deve ser programada com um número substancial de participantes, pois poderá
prejudicar os objetivos e a finalidade da excursão.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Caminhada, Palestra, Dinâmica de Grupo, Demonstração Técnica e


outras.

6.1.8. Feira

Método de socialização que facilita relações de troca, exposições,


negociações e demonstrações de produtos e serviços, podendo ocorrer de
formas: eventual, periódica ou permanente; considerando, também, o
calendário agrícola e o período de maior ocorrência de determinado produto.

Desenho 9 – Representação de cenário de aplicação do método FEIRA


Fonte: EMATER-PARÁ

52
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Possibilitar visibilidade, oportunidade de negociação e


comercialização dos produtos e serviços produzidos pelas famílias rurais.
É feita por meio de exposição, demonstração ou divulgar dos produtos
e serviços das comunidades rurais, de acordo com a produtividade.

Processo de organização e execução

O processo de planejamento deste método compreende: comissão


organizadora, regimento, autorização, divulgação, alocação de espaço,
infraestrutura, limpeza, transporte e logística.
No momento da execução, é necessário o credenciamento das pessoas
que irão trabalhar na feira; organizar o espaço para escoamento dos produtos e
materiais; organizar e dividir o espaço para acomodar os produtores rurais;
dividir o espaço da feira por categoria de produtos e serviços a serem
mostrados, conforme o número de pessoas participantes; certificar a qualidade
dos produtos e serviços que serão disponibilizados ao público; manter local
limpo e organizado; monitorar o fluxo de venda e consumo, bem como a
satisfação do consumidor e realizar avaliação contínua.

Tempo sugerido e número de participantes

Sugere-se o período de 01 a 05 dias de funcionamento, dependendo do


objetivo e da abrangência da “feira”. O número de participantes será definido
conforme o espaço disponível, o tema e a finalidade dela.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Semana Especial, Reunião, Visita, Cursos, Oficinas, Painéis e outras.

6.1.9. Festival

Método de caráter comemorativo e festivo. Tem por finalidade dar


visibilidade às questões culturais, tecnológicas, sociais, econômicas,
ambientais, étnicas de uma determinada sociedade, comunidade ou grupo
social.

53
EDIÇÃO ESPECIAL
Açaí

Desenho 10 – Representação de cenário de aplicação do método FESTIVAL


Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Divulgar, promover, valorizar, socializar informações, conhecimentos


e práticas culturais. Realizado por ocasião das datas festivas, comemorativas e
do calendário sazonal das culturas produzidas na região ou quando houver
necessidade de oferecer espaço público às comunidades rurais de modo que,
além de comercialização direta, sirva, também, de vitrine para os produtos,
atividades e culturas da zona rural.

Processo de organização e execução

O processo de organização deste método constitui: diagnosticar,


compor comissões, programar, divulgar, realizar, acompanhar e avaliar.
O planejamento inicia-se por meio de formação da comissão de
coordenação que, em conjunto com os representantes das comunidades locais,
irá planejar o festival; definir local e duração do evento; divulgá-lo com
antecedência mínima de 1 mês; realizar as atividades programadas e promover
a avaliação no local, envolvendo todos os participantes.

54
EDIÇÃO ESPECIAL
Tempo e número de participantes sugerido

De 1 a 7 dias. Por ser de livre participação do público, se bem planejado


e divulgado, é de grande amplitude.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Reuniões, Oficinas, Palestras, exposições e cursos.

6.1.10 Intercâmbio

Método que enfatiza a troca de experiências, conhecimentos e técnicas,


de forma participativa e coletiva, sendo o assunto temático de interesse das
partes envolvidas.

Desenho 11 – Representação de cenário de aplicação do método INTERCÂMBIO


Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Aperfeiçoar, socializar conhecimentos e experiências. Aplica-se o


método quando diagnosticado o interesse comum entre grupos.

Processo de organização e execução

No processo de execução, a comissão organizadora do intercâmbio


deve orientar sobre os assuntos que interessam ao grupo e que deverão ser
55
EDIÇÃO ESPECIAL
abordados; selecionar as propriedades; levantar custos e material necessário;
acompanhar e avaliar com todos os envolvidos; informar sobre deslocamento,
refeições e outras questões pertinentes; estimular o grupo a fazer perguntas,
trocar ideias e esclarecer todas as dúvidas.

Tempo e número de participantes sugeridos

De acordo com a natureza do intercâmbio, realiza-se entre 1 e 3 dias.


Devido o deslocamento e cumprimento da programação, o número de
participantes sugerido é de 30 a 40, levando em consideração a necessidade de
permitir o diálogo e participação fluente.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Contato, Visita, Reunião e Palestras.

6.1.11. Oficina

Método de ATER desenvolvido com grupos de pessoas. Aborda


assunto de interesse comum para construção de um produto final, cujas
expectativas do grupo devem ser evidenciadas, portanto, terá as características
inerentes ao grupo envolvido. É orientado a partir de discussão de problemas e
potencialidades. A oficina é caracterizada pela formação de um espaço
coletivo.

Desenho 12 – Representação de cenário com aplicação do método de OFICINA


Fonte: EMATER-PARÁ
56
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Possibilitar a construção intelectual, tais como: conceitos, planos,


instrumentos, material informativo como cartilhas, formulários, ou produção
de material, por exemplo, produtos resultantes das habilidades manuais,
maquinários etc., de forma coletiva e participativa. Utilizada nos momentos
em que tenha a necessidade de articular teoria e prática, considerando a
natureza educativa da extensão rural.

Processo de organização e execução

No processo de organização da oficina, deve-se definir tema de


interesse a partir da necessidade diagnosticada. Sua execução perpassa:
programação (materiais e métodos facilitadores), infraestrutura (espaço físico,
deslocamento, hospedagem e alimentação dos participantes), divulgação,
acompanhamento e avaliação.
Ao iniciar este método, deve-se fazer: auto-apresentação dos
participantes, definição do acordo de convivência coletiva, apresentação da
programação, exposição do conteúdo, formação de grupos de trabalho para
construção do produto final, socialização do produto final e avaliação.

Tempo e número de participantes sugeridos

A oficina pode ser realizada de 01 a 07 dias. O número de participantes


dependerá, principalmente, da metodologia adotada e da complexidade do
tema tratado, podendo variar de 15 a 40 pessoas.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Dinâmicas de Grupo, Palestra, FOFA, Diagrama de Venn, Mapa


Falado e outras.

6.1.12. Semana Especial

Método comemorativo, festivo e técnico, composto por um conjunto de


atividades pedagógicas, teóricas e práticas, visando à motivação,
aprendizagem, reflexão, construção, troca do conhecimento e ao
57
EDIÇÃO ESPECIAL
desenvolvimento de habilidades no período de uma semana. Possibilita
abordagem simultânea dos aspectos teóricos e práticos, envolvendo um
determinado tema que requer tanto a orientação técnica quanto a demonstração
prática.
É realizado simultaneamente na sede do município e nas comunidades
rurais, em que as práticas e/ou tecnologias divulgadas sejam utilizadas nas
condições locais.

Objetivo e Aplicabilidade

Divulgar, promover, valorizar, socializar informações, conhecimentos


e práticas culturais. Promover a troca de experiência com outros grupos de
agricultores familiares, gestores e atores sociais que tenham afinidades com o
tema, no sentido de estimular a discussão no grupo a partir da visualização e
conhecimento de um fato novo.
Realizado por ocasião das datas festivas, comemorativas e do
calendário sazonal das culturas produzidas na região, promovendo debate
sobre aspectos relevantes, apresentando informações, buscando soluções ou
alternativas referentes ao tema e fomentando o desenvolvimento de hábitos
saudáveis, como: leitura, dança, questões ligadas à saúde, à produção de
orgânicos etc.

Processo de organização e execução

O método Semana Especial acontece a partir de um diagnóstico prévio


da comunidade que aponte o tema central para aplicação do método. Após a
obtenção desse diagnóstico, convocar-se-á uma reunião com todos os
possíveis parceiros.
Ainda no planejamento, determina-se o período, combinam-se
métodos, técnicas e ferramentas necessárias ao atendimento dos objetivos,
elabora-se projeto que demonstre o detalhamento dos itens necessários à
realização do evento, incluindo a responsabilidade de cada parceiro ou
instituição envolvida.

58
EDIÇÃO ESPECIAL
Tempo e número de participantes sugeridos

O método tem duração de 5 a 7 dias, dirigido a um grande público no


campo e da cidade, atendidos nos diversos momentos pelo método mais
adequado.

Sugestões de técnicas e ferramentas a serem utilizadas no processo

Palestra, Seminário, Dinâmicas de Grupo, Demonstração Técnica,


Reunião, Demonstração Técnica, Cursos, Oficinas, Painéis, Exposições, Mesa
Redonda, entre outras.

6.1.13. Seminário

Método de socialização e aperfeiçoamento de saberes, planejado com


exposição oral, coordenado por pessoas com conhecimento sobre o assunto,
desenvolvido por meio de apresentações, de sessões de estudos e uso de
técnicas auxiliares específicas.

Desenho 13 – Representação de cenário de aplicação do método SEMINÁRIO.


Fonte: EMATER-PARÁ
59
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Identificar problemas, explorar e discutir aspectos relevantes,


apresentar informações, buscar soluções ou alternativas relativas ao tema em
debate.
Sensibilizar os participantes para o espírito científico, para o trabalho
em grupo e para a reflexão dos processos que envolvem o tema comum,
aprofundando o conhecimento.

Processo de organização e execução

Identificação do problema ou assunto a ser aprofundado, compor


equipes ou comissões para elaboração de agenda e cronograma de execução,
definir o objetivo do debate acerca do problema ou do assunto, definir o tema
central do seminário, organizar a programação e a estrutura do evento,
selecionar os expositores e convidados que farão a exposição dos assuntos,
organizar o espaço para realização do seminário, de acordo com a expectativa
de número de participantes, organizar os recursos materiais necessários,
programar momentos para o debate e esclarecimentos de questões e/ou
assuntos que estão sendo apresentados.

O evento deve ser dividido em três momentos distintos, conforme


descritos a seguir:

1) Sessões Plenárias: é o momento que os expositores fornecem


informações a fim de possibilitar a reflexão e discussão pelos
participantes;
2) Trabalho de Grupo: neste momento, procede-se a leitura e
discussão do texto-roteiro para debates em pequenos grupos,
geralmente são formados grupos de trabalho para ampliar as
discussões e/ou construções de propostas, referentes às temáticas
em discussão, nas quais cada grupo deverá ter um coordenador para
moderar as discussões e um secretário para anotar as conclusões
particulares sugeridas pelo grupo. Os grupos de trabalho deverão
ser orientados para a socialização das construções após o debate;
60
EDIÇÃO ESPECIAL
3) Plenária Final: nesta fase, serão apresentadas as conclusões dos
grupos de trabalho e validação das propostas, valendo-se para isso das
mais variadas técnicas, como: exposição oral, METAPLAN, mídia
eletrônica, cartazes, filmes e outros.

Tempo e número de participantes sugeridos

De 01 a 03 dias, dependendo do objetivo que se pretende com o


seminário. Como método massivo de amplo alcance e considerando a relação
custo/benefício, deverá ter no mínimo a presença de 50 participantes.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Palestras, exposição, mesa redonda, painéis, trabalhos de grupo,


dinâmicas, entre outras.

6.1.14. Unidade Demonstrativa (UD)

Método para demonstração e experimentação de resultado científico


validado em outro lugar ou na própria região. A UD pode ser instalada numa
propriedade rural de um agricultor ou de um grupo de agricultores que utilizará
o mesmo processo de produção já testado, entretanto, deverão ser consideradas
as peculiaridades socioambientais e econômicas de cada unidade produtiva nas
quais serão instaladas as UDs. A propriedade passa a ser caracterizada como
unidade de referência para aquelas práticas ou sistema produtivo, servindo
como fonte estimuladora para aprendizagens diferenciadas e adoção das
práticas ou do sistema pelos demais agricultores familiares.

61
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 14 – Representação de cenário com aplicação do método de Unidade Demonstrativa
(UD)

Objetivo e aplicabilidade

Apresentar um exemplo vivo mediante a demonstração e


experimentação de métodos, técnicas ou práticas de comprovada eficiência e
eficácia na geração de resultados positivos em gestão de produção.
É utilizado para minimizar a elevada resistência do agricultor em
adotar técnicas, práticas e ou processos que tenham gerado resultados positivos
e significativos, comparativamente com as práticas em uso na região objeto de
instalação.

Processo de organização e execução

No atual processo de organização de UD, o planejamento participativo


passa a ser parte integrante deste processo. Na elaboração do projeto é
necessário considerar: tema, objetivo, localidade, tamanho da área, descrição
de metodologia e métodos, registro fotográfico, preenchimento de fichas de
compilação de dados, elaboração de relatórios sistemáticos e contínuos e
avaliação permanente.
A comunidade deve escolher a propriedade a ser implantada,
lembrando que o perfil do agricultor, proprietário da área a ser instalada a UD,
62
EDIÇÃO ESPECIAL
deve contemplar as seguintes características: ser representativo do grupo
comunitário, ser pessoa idônea, observadora, determinada, organizada,
comprometida e inovadora, com predisposição para receber visitas frequentes.
A sistematização dos resultados é fundamental como instrumento de
comprovação e validação da pesquisa, devendo ser publicado e divulgado.

Tempo e número de participantes sugeridos

Dependerá do tipo de cultura e atividades em experimentação, porém


não se recomenda duração inferior a um ano. Quanto ao número de envolvidos,
deve ser amplo, mas será implantada em apenas uma área individual ou da
comunidade.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Dia de Campo, DM, Excursão, Visita, Reunião, Entrevista e outras.

6.1.16. Unidade de Experimentação (UE)

Espaço destinado ao compartilhamento das ações dos extensionistas e


agricultores familiares para a construção e/ou reconstrução de conhecimento
científico que fundamentem o processo e/ou prática produtiva e social. É um
método experimental, não há, portanto, ainda registro de comprovação
científica.

Desenho 15 – Representação de cenário com aplicação do método de Unidade de


Experimentação (UE)
63
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Experimentar processos tecnológicos e práticas sustentáveis de


natureza econômica, social e ambiental, com avaliação dos resultados
alcançados, comparativamente com as tecnologias em uso.
Utilizada quando há a necessidade da apresentação de processos
diferenciados para enfrentamento de uma situação relevante da família ou da
comunidade, de natureza diversificada, relacionada às perspectivas futuras da
própria comunidade.

Processo de organização e execução

Delimitação do problema de forma conjunta, extensionista e


agricultores e/ou comunidade, negociação sobre as tecnologias e/ou práticas,
considerando a relevância do problema, viabilidade da experimentação,
interesse e comprometimento do grupo, potencialidades locais, capacidade
econômica, valores socioculturais e tradições.
Elaborar o Plano de Ação – Projeto de Pesquisa Participativa;
implantar a unidade de execução da pesquisa conforme o projeto, entendendo
que pode ser de natureza física (espaço experimental de tecnologias) ou
processual (debates e construção de aprendizagens diversificadas); realizar o
acompanhamento e controle, procedendo as avaliações dos resultados;
elaborar e apresentar relatórios; divulgar os resultados e publicá-los.
A Unidade de Experimentação deve ser realizada, preferencialmente,
em espaços comunitários, propriedade de um dos participantes ou, ainda, em
espaços do poder público pré-estabelecidos que serão referências das
experiências construídas.

Tempo e número de participantes sugeridos

Varia de 01 a 02 anos, considerando a natureza da experimentação, com


abrangência coletiva.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Intercâmbio, Reunião, Visita, Excursão e as demais.


64
EDIÇÃO ESPECIAL
6.1.16. Unidade de Observação (UO)

Método de observação e aplicação de resultados de pesquisa ou de


práticas exitosas, devidamente experimentadas em outras regiões (validação
de resultado). A UO deve ser implantada em uma comunidade ou região que
ainda não pratique aquela atividade, pois, a característica fundamental é que os
agricultores sejam envolvidos por meio da observação na construção de
aprendizagens e na adaptação de práticas a partir das tecnologias, técnicas,
práticas, ferramentas e respectivos resultados ao longo do desenvolvimento da
UO. Do ponto de vista da área de instalação, a UO poderá ser estruturada numa
unidade familiar ou em área comum da comunidade, entretanto o
acompanhamento deverá ser compartilhado com os agricultores locais, para
vivenciar os processos e procedimentos técnicos utilizados e a comparação
com as práticas usuais locais.

Objetivo e aplicabilidade

Comprovar resultados de experimentações exitosas e realizadas em


condições socioambientais diferentes que, comparativamente, se mostram
vantajosos em relação à prática local utilizada. Podem ainda ser empregados
para comprovar, ou não, fenômenos sociais identificados em estudos e
diagnósticos participativos de comunidades rurais.
Este método será aplicado quando for necessário observar e validar os
processos e técnicas socioeconômicas e ambientais de caráter agrícolas, não
agrícolas ou sociais, desenvolvidos com sucesso em outros locais.

Processo de organização e execução

Diagnosticar a comunidade ou a propriedade; fazer o levantamento de


experiências bem sucedidas em outras regiões; socializar e discutir a
possibilidade de aplicação na comunidade; selecionar os interessados na
atividade; elaborar o projeto e demarcar a área da Unidade de Observação ou da
abrangência do estudo, com elaboração de cronograma de atividades a ser
executado pelos técnicos e famílias de agricultores; explicitar as técnicas e/ou
práticas para experimentação; fazer a instalação da UO e revisar as técnicas
65
EDIÇÃO ESPECIAL
e/ou práticas a serem introduzidas de acordo com as situações em que se utiliza
a UO.
O processo de execução da UO deve ser acompanhado de forma
constante e sistemática, pois os resultados devem ser publicados na forma de
notas técnicas, relatórios de pesquisa, artigos e outros instrumentos de
credibilidade que possam se tornar referência na geração de conhecimento,
subsidiando o caráter científico da pesquisa.

Tempo e número de participantes sugeridos

Tempo mínimo para a realização do método é de 1 ano e precisará de


uma família executora e de pessoas interessadas nas tecnologias e/ou nas
práticas introduzidas.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Visita, Reunião, Palestras, DM e as demais.

66
EDIÇÃO ESPECIAL
6.2. TÉCNICAS DE ATER E PESQUISA

Conjunto de procedimentos para apoio ao desenvolvimento dos


processos de ATER e pesquisa, consideradas como meio para
operacionalização dos métodos ou recursos de natureza técnica. Tem
finalidade de auxiliar os extensionistas na condução das atividades previstas,
facilitando a interação com a abordagem metodológica, a participação dos
envolvidos e o alcance dos objetivos estabelecidos.

6.2.1. Demonstração Técnica (DT)

Procedimento didático utilizado para estimular o envolvimento dos


participantes e facilitar o desenvolvimento de habilidades, por meio da
demonstração prática e repetição de determinada técnica na presença de todos
os sujeitos, facilitando, assim, a difusão do conhecimento de forma dialogada.

Desenho 16 – Representação de cenário com aplicação da técnica de Assistência Técnica e


Extensão Rural (ATER) – Demonstração Técnica (DT)
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Desenvolver habilidades por meio da observação e da repetição das


ações, considerando o erro como uma prática construtiva.
67
EDIÇÃO ESPECIAL
Processo de organização e execução

Esta técnica divide-se em três fases: Planejamento Participativo


(tema e viabilidade, público, local, hora, demonstrador, materiais e métodos,
roteiro sequencial e custos); Realização (revisão de objetivos, identificação de
material e demonstração propriamente dita, conforme roteiro, repetição pelos
participantes) e Avaliação (debates e conclusões).

Tempo e número de participantes sugeridos

O tempo sugerido à realização deste procedimento é de 1 a 4 horas, com


a participação de 5 a 20 pessoas, no máximo.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Em função de sua natureza, recomenda-se o uso de dinâmicas de grupo


de integração.

6.2.2. Entrevista

Técnica de pesquisa oral, planejada, que pode ser estruturada (com uso
de roteiro preestabelecido), semi-estruturada (com roteiro de questões que
permita a flexibilidade) ou aberta (livre, mas com objetivo a ser considerado).

Desenho 17 – Representação de cenário com aplicação da técnica de ATER - ENTREVISTA


Fonte: EMATER-PARÁ
68
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Levantar dados e informações que possibilitem a ampliação do


conhecimento sobre determinada situação ou fatos da comunidade, região,
município ou território. Utilizada quando há necessidade de obtenção de dados
para auxiliar a construção de diagnóstico e planejamentos participativos.

Processo de organização e execução

Planejamento da atividade: definição da natureza da entrevista


conforme finalidade, escolha do entrevistado ou grupo de pessoas que
fornecerão informações, identificação dos dados a serem levantados,
elaboração do roteiro ou questionário, definição do local, horário e data para
realização da entrevista.
Com relação à execução, o extensionista deve atentar para algumas
questões que facilitam o uso da técnica, como explicar ao entrevistado o
objetivo e a relevância do levantamento de dados para orientar o trabalho de
ATER, estabelecer relação de confiança mútua, evitando perguntas
tendenciosas; não supor o que será respondido pelo entrevistado e, sobretudo,
desenvolver habilidade de fazer perguntas e ouvir, durante o processo da
entrevista, valorizando o que as pessoas têm para informar.

Tempo e número de participantes sugeridos

Aplicar a técnica no tempo de 1 a 2 horas, no máximo; a entrevista,


porém, poderá ser individual ou coletiva, desde que representativa do universo
no qual está inserida. Em função da particularidade da técnica, não é necessária
a utilização de outras técnicas ou ferramentas de apoio.

6.2.3. Palestra

Técnica de exposição oral sobre assunto previamente selecionado e


destinado a público específico. Considerando o objetivo pretendido, o
palestrante deverá ser especialista no assunto a ser abordado.

69
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 18 – Representação de cenário de aplicação da técnica de ATER - PALESTRA.
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Informar e esclarecer as pessoas sobre determinado assunto ou tema de


interesse comum. Utilizada quando há necessidade de interagir com número
significativo de pessoas para abordar assuntos específicos.

Processo de organização e execução

A escolha do tema deve ocorrer de forma participativa entre os


interessados, assim como a indicação dos palestrantes. Antes de iniciar, checar
o funcionamento dos instrumentos de apoio, no caso de uso de multimídias.
Informar sobre o tempo disponível para o palestrante e plenária, solicitando o
apoio para registro e controle do tempo.

Tempo e número de participantes sugeridos

O tempo de uma Palestra pode durar até 4 horas, desde que seja
interativa e com a utilização de dinâmicas de grupos. É realizada para um

70
EDIÇÃO ESPECIAL
público a partir de 20 pessoas.

Sugestões de técnicas e ferramentas utilizadas durante o processo

Dinâmicas e uso de ferramentas multimídia.

71
EDIÇÃO ESPECIAL
6.3. FERRAMENTAS DE ATER E PESQUISA

É o conjunto de instrumentos utilizados na prática de ATER e pesquisa


que apóiam a geração de informação sobre a realidade das comunidades rurais,
auxiliando no alcance dos objetivos da extensão rural. As ferramentas de ATER
constituem-se em recursos de caráter didático que dão suporte à aplicação das
metodologias afins, com a finalidade de facilitar a comunicação, a exposição
individual, ou em grupo, de ideias, a reflexão sobre aspectos da realidade dos
envolvidos, entre outras.
Servem principalmente para dar sustentação à abordagem
participativa, que deve permear a comunicação entre a extensão rural e as
famílias e/ou grupo de agricultores familiares. O uso das ferramentas
participativas de ATER estimula o respeito mútuo entre sujeitos, sendo
assegurado o espaço do falar, do ouvir, de forma igualitária, não existindo a
hierarquia de poder. Parte-se do pressuposto que, apesar de todo o instrumental
metodológico participativo de ATER, a extensão rural não cumprirá sua função
educativa se o discurso extensionista for contrário a sua prática de
comunicação no campo.

6.3.1 Brainstorming ou Tempestade de Ideias

Ferramenta bastante utilizada com grupo de pessoas para associação e


interpretação de ideias, facilitando a expressão oral ou escrita dos envolvidos
no processo.

Objetivo e aplicabilidade

Estimular a participação coletiva no processo de construção de ideias


sobre questões comuns ao grupo, de maneira reflexiva.
Utilizada em circunstâncias que exijam ampliar o esclarecimento
grupal e organizar a interpretação, individual e coletiva, sobre determinada
questão da realidade.

Processo de Organização e execução

O agente monitora o fluxo de ideias de forma livre e criativa,


72
EDIÇÃO ESPECIAL
assegurando a participação de todos. O objetivo deve estar claro e orientado
por uma pergunta-chave, a qual fica exposta para que todos reflitam sobre ela e
coloquem suas sugestões em tarjetas ou em local e estrutura adaptada, de forma
objetiva, por meio de palavras-chave ou frases curtas.

Perguntas orientadoras

Deve ser escrita uma pergunta-chave em função do tema que se deseja


abordar, que leve o grupo à reflexão.

Tempo e número de participantes sugeridos

1 hora (30 minutos para a reflexão e produção de ideias, sem


consideração de seu mérito, e o restante para organizá-las por grupos, debater
sobre elas, ressaltando as notas que o grupo achar conveniente). Deve ser
escrita uma ideia por ficha.

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, flipchart, tarjetas e pincéis atômicos.

6.3.2. Diagrama de Venn

Ferramenta de interpretação e análise das inter-relações sociais, de


forma participativa e reflexiva.

Desenho 19 – Representação de cenário de aplicação da ferramenta de ATER – DIAGRAMA


DE VENN.
Fonte: EMATER-PARÁ
73
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Identificar, por meio da representação simbólica, o grau de


relacionamento (importância e proximidade) entre os sujeitos e as instituições,
bem como entre os sujeitos e outras organizações externas.
Usada quando necessário debater sobre o papel das instituições e
organizações sociais no processo de desenvolvimento local.

Processo de organização e execução

Deve-se propor a construção do diagrama, explicando os objetivos e


procedimentos, garantindo a participação de todos. Discutir com o grupo o
papel de cada instituição e sua forma de atuação na comunidade. Solicitar para
que o grupo escreva nos círculos de papel ou desenhe, em forma geométrica, o
nome de cada instituição, lembrando que o tamanho do círculo representa o
grau de importância dentro da comunidade. Colocar a forma geométrica
relativa à organização no centro e distribuir ao redor da mesma as demais
figuras, de acordo com seu grau de proximidade, de forma que as que ficam
mais perto da organização são as que têm um melhor nível de relacionamento.
Pode-se ainda trabalhar com setas para identificar o sentido.

Perguntas orientadoras:

Quais as instituições que têm atuação direta com a organização?


Quais as que têm atuação indireta?
Quais as que são mais importantes para a sua organização?
Quais as de menos importância?
Quais as que estão mais próximas e mantêm mais contato?
Quais as que estão menos próximas e mantêm menos contato?
Tempo e número de participantes sugerido
1 hora dividida entre a montagem, reflexão e análise.

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, flipchart, tesoura e pincéis atômicos.

74
EDIÇÃO ESPECIAL
6.3.3. Fofa

Ferramenta que auxilia nos processos de discussão, análise e


sistematização grupais, relativa à organização social da comunidade.

Objetivo e aplicabilidade

Identificar, analisar e demonstrar visualmente as ideias do coletivo


sobre questões comuns à organização social da comunidade, utilizando matriz
padrão para representar as construções grupais.
Utilizada para priorizar temas identificados em distintos campos de
ação: o da “governabilidade” e de “fora da governabilidade” da organização. A
sigla significa: (F) Fortalezas, (O) Oportunidades, (F) Fraquezas e (A)
Ameaças.

Processo de organização e execução

É solicitado ao grupo que identifique pontos importantes e coloque-os


dentro do quadrante, de acordo com as considerações de possibilidade reais de
interferência.
Durante a execução, os participantes manifestam suas ideias quanto às
situações externas favoráveis, respondem à questão, descrevendo quais as
oportunidades existentes. Focalizando o ambiente externo, os participantes
analisam a atual conjuntura, identificando as principais situações
desfavoráveis para a organização e que, se não forem eliminadas, minimizadas
ou evitadas, podem se tornar ameaças e, portanto, afetá-la negativamente. Os
participantes identificam os principais aspectos internos que a organização
possui, que consideram pontos fortes, devendo, portanto, mantê-los para
garantir sua sobrevivência. Os participantes identificam os principais
problemas internos existentes, considerados como aspectos negativos ou
forças restritivas, que devem ser minimizados para evitar influência negativa
sobre seu desempenho. Cabe ressaltar que a FOFA mostra a situação atual. Em
outro determinado momento, o que hoje é uma ameaça poderá ser uma
oportunidade e vice versa.

75
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 20 – Matriz representativa da FOFA
Fonte:EMATER-PARÁ

Perguntas orientadoras:

Quais pontos são considerados positivos ou fortes na organização ou


que têm interferência direta?
Quais pontos são considerados negativos ou fracos na organização ou
que têm interferência direta?
Quais são considerados importantes e positivos, mas não estão sobre o
controle da sua organização?
Quais são considerados irrelevantes e negativos, mas não estão sobre o
controle da sua organização?

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos para levantamento e análise.

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, tarjetas, flipchart, lápis e pincéis atômicos.

6.3.4 Iceberg

Ferramenta para interpretação, discussão e análise coletiva sobre


contextos expostos e os não expostos de determinada organização social.

76
EDIÇÃO ESPECIAL
Desenho 21 – Representação de cenário de aplicação da ferramenta de ATER – ICEBERG.
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Elaborar diagnóstico a partir dos aspectos concretos, observáveis


diretamente, como: objetivos, tamanho, organograma, recursos financeiros,
produtos, atribuições, entre outros, e os aspectos abstratos que coexistem na
organização, como: as relações de poder, as influências, as interações, as
normas do grupo, a confiança, o compromisso e os demais.
Utilizada quando precisamos analisar os aspectos visíveis e os que
estão ocultos que influenciam e determinam o processo de funcionamento da
organização.

Processo de organização e execução

Inicialmente, o agente esclarece que o desenho do iceberg tem parte que


é reconhecida de imediato e outra oculta, bem maior, que precisa ser percebida
e identificada. Da mesma forma, isto ocorre nas organizações sociais. O agente
pode trabalhar com o grupo total de participantes ou dividir de forma aleatória
ou estratégica, em grupos menores, com repetição.
77
EDIÇÃO ESPECIAL
Perguntas orientadoras:

Quais os aspectos que são visíveis?


Quais os invisíveis?
Qual a importância de cada aspecto apontado para a organização e para
o processo de mudança?
Qual a influência de cada aspecto?
Quais os aspectos que são facilmente mudados e os que são difíceis?

Tempo e número de participantes sugeridos

60 minutos.

Recursos que podem ser usados durante o processo

Folhas de cartolina ou kraft e pincéis.

6.3.5. Linha da Vida

Ferramenta de demonstração visual e representação simbólica,


construída no coletivo. Consiste no apanhado histórico sobre os
acontecimentos e fatos de relevância para os moradores, baseado no relato das
pessoas mais antigas da organização.

Desenho 22 – Representação de cenário de aplicação da ferramenta de ATER – LINHA DA


VIDA
Fonte: EMATER-PARÁ
78
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Possibilita a reflexão sobre a comunidade a partir da representação


simbólica dos fatos, transformações e mudanças significativas que
influenciaram o processo de desenvolvimento local.
Esta ferramenta é de fácil aplicação e apropriação. É utilizada para
proporcionar a visão simbólica sobre a história da organização.

Processo de organização e execução

O agente solicita que os membros desenhem uma linha com a data


inicial das atividades da organização e, a partir daí, pontuem os fatos
importantes na vida da organização a partir de uma data de referência, definida
pelos participantes. Consiste num apanhado histórico baseado na vivência
contada pelas pessoas mais antigas da organização, acontecimentos e fatos de
relevância para os moradores. É importante buscar a representatividade da
comunidade.

Perguntas orientadoras:

Quais os acontecimentos mais importantes na vida da organização até a


presente data?
Quem, quando e como foi fundada?
Quais as mudanças e impactos mais importantes?
Como aconteceram essas mudanças?
Quais os pontos positivos e negativos?
Após análise sobre o que conseguiram perceber de novo, é feita
avaliação sobre a situação atual a partir dos pontos fracos e fortes.

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos (preparação e análise).

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, pincéis, revistas, jornais, fotos etc.

79
EDIÇÃO ESPECIAL
6.3.6. Mapa Falado

Ferramenta para facilitar a interação e produção coletiva,


representando, simbolicamente, as experiências comunitárias dos
participantes.

Desenho 23 – Representação de cenário com aplicação da ferramenta de ATER – MAPA


FALADO
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Dar oportunidade à reflexão coletiva sobre a comunidade por meio da


representação simbólica dos elementos que a compõe.
Demonstrar, por intermédio de formas estruturas, desenhos, traços e
cores, conforme os mapas geográficos, os problemas, as interações de
relacionamento, os fatos marcantes, entre outros, representando a dinâmica da
vivência comunitária.

Processo de Organização

É solicitado aos participantes que coloquem no centro da folha a idéia


principal, via analogia visual. Nas margens, as menos importantes. Faça
círculos ao redor dos conceitos. Podem ser utilizados, para definir relações,
setas e traços. Devem ser usadas cores diferentes para destacar alguns pontos.

80
EDIÇÃO ESPECIAL
Perguntas orientadoras:

Qual o patrimônio da organização?


Quantos membros possuem?
Quais os parceiros?
Quais os principais problemas?
Quais os pontos fortes da organização?
Quais os pontos fracos?
Com a identificação das fortalezas e fraquezas, define-se a maneira de
intervir na organização.

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos (preparação e análise).

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, pincéis de diferentes cores.

6.3.7. Metáfora

Ferramenta para facilitar a reflexão e interpretação coletiva, dos


sentidos e significados, iniciando-se por figuras e/ou imagens previamente
selecionadas.

Desenho 24 – Representação de cenário de aplicação da ferramenta de ATER – METÁFORA


Fonte: EMATER-PARÁ
81
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Mostrar, por meio da simbologia, como as pessoas percebem a


associação ou a comunidade as quais pertencem, fazendo relação com uma
figura/imagem que possa expressar o sentido desta percepção.
Discutir e refletir, quando necessário, sobre mudanças possíveis e
necessárias ao fortalecimento da organização.

Processo de organização e execução

Formação de grupos para trabalhar a composição da metáfora por


setores da organização. O grupo escolhe uma imagem, compara a associação e
explica o significado da relação.
Utilizar perguntas orientadoras para estimular a reflexão, a construção
e a exposição dos grupos, como:
Se sua organização fosse um animal/cultura, que animal/cultura seria?
O que essa metáfora (animal ou cultivo) tem de forte ou de fraco?
O que é bom e ruim nessa metáfora (animal, cultivo)
Qual o estado atual da metáfora?
Como está o ambiente fora?
O que faz esse animal/cultivo?
Querem acrescentar algum desenho à imagem?
Podem ser feitas outras perguntas, sempre fazendo a correlação e se
referindo ao desenho, por exemplo, quem cuida ou determina o que o animal
vai fazer. Para finalizar, é importante analisar conjuntamente o desenho e fazer
a reflexão sobre o que a metáfora está demonstrando e o que precisa ser
mudado.

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos (para construção do desenho/aplicação do questionário e


análise/ reflexão)

82
EDIÇÃO ESPECIAL
Recursos que podem ser usados durante o processo

Folhas de cartolina ou papel kraft e pincéis.

6.3.8. Paisagem Organizacional

Ferramenta utilizada para auxiliar o mapeamento das estruturas que


compõem as organizações sociais da comunidade, identificando a inter-relação
dos seus condicionantes.

Desenho 25 – Representação de cenário com aplicação da ferramenta de ATER – PAISAGEM


ORGANIZACIONAL
Fonte: EMATER-PARÁ

Objetivo e aplicabilidade

Estimular a percepção da dinâmica dos processos sociais e dos


condicionantes que interferem na evolução das organizações comunitárias,
possibilitando aos participantes a análise coletiva dos aspectos relevantes,
limitações, problemas, recursos, pontos positivos e negativos presentes nestes
processos.
Esta ferramenta é utilizada para obter informação sobre o passado e o
presente da organização, com relação a suas deficiências ou as suas faltas, e o
futuro dela, concernente às expectativas de melhorias, abrangendo três campos
de atuação: familiar ou comunitária (onde estão situados os organismos), tais
como: igreja, lazer, organizações afins etc.; políticas públicas (todos os
segmentos: municipais, estaduais e federais) e o setor privado que atende a
83
EDIÇÃO ESPECIAL
comunidade (empresas de transporte, supermercados, etc.).

Processo de organização e execução

Orientar os participantes que serão feitos três triângulos,


representando: o presente, passado e futuro das organizações, que serão
utilizados para registro e comparação. Utilizar tarjetas para que os partícipes
descrevam as instituições com as quais a comunidade mantém contato e
posicione-as dentro do triângulo que simboliza a situação presente e, após
reflexão, analisar a situação anterior destas organizações e as perspectivas de
futuro para elas. Ao analisar o futuro, identificam-se os problemas e entraves. A
condição de proximidade aos vértices indicará a situação da organização. Após
essa etapa, estimular o grupo a discutir sobre mecanismos a serem adotados na
comunidade para alcançar o futuro desejado.

Sugestão de perguntas orientadoras:

Quais organizações mantêm relacionamento significativo com a


comunidade?
Quais organizações não estabelecem relações, mas são importantes
para a comunidade?
Onde a organização se situa? Triângulo presente
Onde a organização estava situada? Triângulo passado
Onde gostariam que a organização estivesse? Triângulo futuro

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos (preparação e análise)

Recursos que podem ser usados durante o processo

Cartolina, papel kraft, pincéis e tarjetas.

6.3.9. Pesquisa de Fatos

Ferramenta de pesquisa social e participativa que auxilia no


levantamento de informações pertinentes à comunidade.

84
EDIÇÃO ESPECIAL
Objetivo e aplicabilidade

Obter informações básicas sobre a comunidade no início do trabalho.


Serve para conhecer a organização e, também, para verificar o grau de
envolvimento e participação dos membros.

Processo de organização e execução

O técnico vai sinalizando e escrevendo em uma folha de cartolina para


que todos acompanhem. Em caso de não obtenção de todas as respostas, o
técnico deverá buscá-las nos documentos oficiais da organização.

Perguntas orientadoras:

Quando e como surgiu a organização?


Quais os objetivos?
Quais os documentos oficiais da organização?
Qual a escolaridade dos sócios?
Qual a infra-estrutura da associação (terreno, bens, veículos)?
Quantos sócios existem (ativos e inativos)?
Quais as profissões que estão representadas dentro da organização?
Quais foram os acontecimentos importantes da organização e o que
mudou?
Quais os aspectos positivos e negativos?
Quais os impactos?
Como aconteceu a mudança?
Quem participou? Quem definiu? Quem não concordou?

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos.

Recursos que podem ser usados durante o processo:

Cartolina, papel kraft e pincéis.

85
EDIÇÃO ESPECIAL
6.3.10. Seis Campos

Esta ferramenta levanta informações no campo dos objetivos, estrutura,


relações interpessoais, plano de cargos e benefícios, meios de apoio,
gerenciamento, entre outros, a partir de perguntas diretas feitas para pessoas-
chave da instituição, levando-se em consideração alguns itens, como: cargos de
direção, antiguidade, respeitabilidade, sociabilidade, etc.

Objetivo e aplicabilidade

É utilizada para diagnosticar a organização a partir de informações


sobre a estrutura e rotina dos grupos, principalmente, para, após a análise,
propor encaminhamentos, fortalecendo as potencialidades e buscando
solucionar entraves e problemas.

Processo de organização e execução

Escolhem-se pessoas-chave, marcam-se as entrevistas de forma isolada


e aplica-se o questionário orientador.

Perguntas orientadoras

Objetivos:
Quais os três objetivos mais importantes da organização?
A organização tem condições de alcançar esses objetivos?
Quais os principais entraves?
Estrutura organizacional:
Quem faz o que na organização?
O que está faltando para funcionar de forma adequada?
Relações interpessoais:
Como você se relaciona com os colegas?
Como se relaciona com seus superiores hierárquicos?
Como você se relaciona com seus auxiliares?
Quais os principais problemas que interferem na relação de cooperação
e trabalho?
Plano de cargos e benefícios:

86
EDIÇÃO ESPECIAL
Como são recompensados os esforços dos funcionários e membros?
Existem sanções na organização?
Quais os benefícios e sanções você acrescentaria ou retiraria?
Estrutura física, financeira e pessoal:
Quais os materiais e estrutura disponíveis?
Quem administra?
O que está faltando?
Gerenciamento?
Como você qualifica o gerenciamento?
Existem lideranças informais?
Os membros estão satisfeitos com a forma de gerenciamento?

Tempo e número de participantes sugeridos

120 minutos.

Recursos que podem ser usados durante o processo

Folha de papel e caneta.

87
EDIÇÃO ESPECIAL
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração deste trabalho deu oportunidade a um grupo de


profissionais de áreas diversificadas da EMATER-PARÁ vivenciar um
processo de plena participação coletiva, por meio da interação democrática, da
inter-relação com variadas experiências, de vida e profissional, e a construção
da certeza do alcance dos objetivos previstos. Do ponto de vista da integração
institucional, este livro representa a somatória do esforço coletivo direcionado
ao encontro de um propósito único e comum: construir um referencial
metodológico de apoio à organização do trabalho de ATER desenvolvido na
Empresa.
Os debates promovidos proporcionaram a troca de experiências entre o
grupo, tornando possível observar que a participação coletiva é fator
determinante à qualidade de ATER prestada por qualquer instituição, assim
como o eixo para consolidação do movimento de transição que caracteriza a
extensão rural pública contemporânea.
Um importante ponto a ser ressaltado, neste momento, diz respeito ao
entendimento que se deve ter diante de qualquer proposta de transformação e
adequação das práticas sociais, isto é, o contexto e as mudanças devem ser
compreendidos e (re) pensados sob o ponto de vista do tempo e espaço aos
quais se situam e se destinam, respectivamente.
É fato que o modelo de extensão rural, que busca desenvolver o manejo
dos recursos naturais na perspectiva agroecológica, não se supre mais por meio
de práticas centradas na “difusão e transferência” de conhecimentos para o
campo, inerentes aos sujeitos e sua realidade. O esforço, nesta direção, exige
práticas diferenciadas e um profissional de extensão consciente das múltiplas
responsabilidades presentes no seu papel ─ político, técnico e social ─, no qual
as atividades possam considerar, prioritariamente, a justaposição entre a
dimensão social e as demandas técnicas advindas do agroecosistema.
Outra questão é o reconhecimento da diversidade de identidades que
compõe a realidade do campo e dos indivíduos como autores e sujeitos da
própria história, composta por agricultores rurais, extrativistas, pescadores,
aquicultores, artesãos e artesãs, quilombolas, indígenas, entre outros,
88
EDIÇÃO ESPECIAL
detentores de saber, que embora na condição de saber comum, popular, devem
ser respeitados e considerados nas variadas formas de interação da atividade de
extensão rural. Significa dizer que qualquer procedimento metodológico
utilizado na prática de campo, deve, antes de tudo, possibilitar a participação
dos envolvidos em todo o processo.
É neste cenário que a participação, como fundamento da metodologia
de ATER, constitui-se em importante e indispensável ferramenta, para
promover o protagonismo destas identidades na apropriação de outros saberes,
ou saberes elaborados, possibilitando processos de emancipação e inclusão
social.
Diante deste imperativo, a realização da oficina de metodologia de
ATER e pesquisa na extensão rural, sob o enfoque participativo, vieram
contribuir com o atual contexto, mostrando a relevância da pesquisa, do
diálogo, da reflexão, da troca de experiência, como elementos estruturantes da
extensão rural que visa o desenvolvimento local.
A pesquisa, processo de investigação-reflexão-ação recentemente
incorporado às atribuições da EMATER-PARÁ, é outro aspecto que na oficina
pôde ser discutido como um recurso metodológico de caráter participativo, que
poderá consolidar o diferencial na atividade de campo, aqui entendida como
um processo de observação, experimentação e comprovação ─ com meios
específicos ─ da relação teoria-prática. A pesquisa, como método de extensão,
é recurso indispensável à (re) construção das alternativas para fortalecimento
dos sistemas produtivos de base familiar, na perspectiva da viabilidade e
sustentabilidade socioambientais.
Nestas reflexões, os métodos, as técnicas e ferramentas, reconhecidas
como metodologia de ATER, foram reelaboradas do ponto de vista conceitual,
do objetivo e da aplicabilidade, sob a ótica da participação, da concepção
sistêmica da unidade de produção familiar. Nesse sentido, vale ressaltar que o
instrumento, por si só, não se basta. A função e o fim com que se utiliza o
recurso metodológico é que caracteriza a sua essência e orienta o objetivo ao
qual se destina, tornando-o um ato político e educativo.
De modo geral, o resultado principal foi a revisão e a contextualização
da metodologia adotada na EMATER-PARÁ e o estímulo às discussões e às
89
EDIÇÃO ESPECIAL
reflexões acerca da ação extensionista como agente facilitador de processos, na
perspectiva do desenvolvimento sustentável local. De outro modo, significa
dizer ainda que, como recurso técnico, o livro está construído, mas não está
terminado e nem dissociado da perspectiva histórica e social, inerente ao
contexto de contínua transformação e reconstrução que caracteriza a
agricultura familiar no Estado do Pará.

90
EDIÇÃO ESPECIAL
REFERÊNCIAS

ALTIERI. M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa.


Rio de Janeiro: PTA/FASE, 1989.

BARBOSA, Laura Monte Serrat. 2001. O manifesto da


t r a n s d i s c i p l i n a r i d a d e . D i s p o n í v e l e m :
<http://www.psicopedagogia.pro.br/Ambito> Acesso em: 17 out. 2011.

BARROS, Edgard de Vasconcelos. Princípios de Ciências Sociais para a


Extensão Rural. Viçosa, MG: UFV, 1994.

BIASI, Carlos Antonio Ferraro. Métodos e meios de comunicação para a


extensão rural. Curitiba, Ascarpa, 1986. v.1.

BRANDAO DOS ANJOS, Maylta; COSTA NETO, Canrobert. Referenciais


teórico-metodológicos para a caracterização de assentamentos rurais sustentáveis
no Brasil. In: Mundo Rural e Cultura [Org.] Roberto José Moreira; Luiz Flávio de
Carvalho Costa. Rio de Janeiro, 2002.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA. Secretária de


Agricultura Familiar-SAF. Grupo de Trabalho Ater. Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural: Brasília, DF, 2004.

BROSE, Markus. Metodologia participativa: uma introdução a 29


instrumentos. Porto Alegre: Tomo, 2001.

________. Participação na extensão rural: experiências inovadoras de


desenvolvimento local. Porto Alegre: Tomo, 2001.

CAPORAL, F. R. COSTABEBER, J. A. Agroecologia: Enfoque científico e


estratégico para apoiar o desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre:
EMATER-RS, 2002.
91
EDIÇÃO ESPECIAL
CAPORAL, F. R. COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e
princípios. Brasília, DF: MDA/SAF/DATER-IICA, 2007.

________. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: perspectivas


para uma nova Extensão Rural. Agroecologia e Desenvolvimento Rural
Sustentável. Porto Alegre, v. 1, n. 1. 2000.

CAPORAL, F. R.; RAMOS, L. F. Da extensão rural convencional à extensão


rural para o desenvolvimento sustentável: enfrentar desafios para romper a
inércia. In.: MONTEIRO, Dion Márcio Carvaló; MONTEIRO, Maurílio de
Abreu (Org.). Desafios na Amazônia: uma nova Assistência Técnica e
Extensão Rural. Belém: UFPA/NAEA, 2006.

CHAVES, Mário M. Complexidade e transdisciplinaridade: uma


abordagem multidimensional do setor saúde. 1988. Disponível em
<www.ufrrj.br/leptrans/3.pdf>. Acesso em 17 out. 2011.

DIAGNÓSTICO organizacional participativo: relatório final. Belém:


EMATER-PA, 2006.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

_________. Extensão ou comunicação. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

_________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

_________. Pedagogia do oprimido. 12ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1983.

G A R B O S S A N E TO , Â n g e l o ; S I LV E S T R E , F e r n a n d o S é rg i o ;
ANZUATEGUI, Ivan Andrade. Métodos e meios de comunicação para a
extensão rural. Curitiba: [s.n.], 1986. v.2;

HENDERIKX, Elisabeth Maria Gerarda Johanna. Álbum seriado. Curitiba:

92
EDIÇÃO ESPECIAL
EMATER-Paraná, 1996. 28 p. (Informação Técnica, 30).

KUMMER, L. Metodologia participativa no meio rural: uma visão


interdisciplinar, conceitos, ferramentas e vivências. - Salvador: GTZ, 2007.

LOPES, Edna Bastistella. Cartaz: dizer o máximo com o mínimo. 2. ed.


Curitiba: EMATER-Paraná, 1996. 28 p. (Informação Técnica, 30).

LOPES, José Luiz do Carmo; MONTEIRO, Maria. Metodologia em extensão


rural: convênio MDA/EMATER/PA. Cametá: EMATER, (Curso de
Metodologia em Extensão Rural), 2006.

MAGALHÃES, Everton Moreira. Interdisciplinaridade: por uma pedagogia


n ã o f r a g m e n t a d a . D i s p o n í v e l e m :
<http://www.ichs.ufop.br/AnaisImemorial.>. Acesso em: 17 out. 2011.

METODOLOGIA de extensão rural: coletânea. In.: EMATER. Manual de


Metodologia da EMATER-PR e da EMATER-MG. Belém: EMATER,
1983.

PARÁ. Secretária executiva de Agricultura. Planejamento e


Desenvolvimento Local. Belém, 2002.

RUAS. Elma Dias et al. Metodologia participativa de extensão rural para o


desenvolvimento sustentável - MEXPAR. Belo Horizonte: EMATER, 2006.

SIMÕES, Aquiles. Coleta Amazônica: iniciativas em pesquisa, formação e


apoio ao desenvolvimento rural sustentável na Amazônia. In: SCHMITZ,
Herbert. Assistência técnica para a agricultura familiar. Belém: Alves,
2003.

TAGORE, Márcia; LUCENA, Rosangela. Diagnostico Organizacional


Participativo. Belém: EMATER-PARÁ, 2006.
93
EDIÇÃO ESPECIAL
VERDEJO, Miguel Expósito. Diagnóstico Rural Participativo: guia prático-
DRP. Brasília, DF: MDA, 2006-2007.

94
EDIÇÃO ESPECIAL
GLOSSÁRIO
AMBIVALENTE - Ter entendimentos de ambos os lados de uma questão.

CAPACITAÇÃO MASSIVA – Metodologia estruturada para alcançar


populações com baixos níveis de escolaridade e qualificação profissional.
Objetiva, em curto prazo e a baixo custo, trabalhar com um grande número de
pessoas, com finalidade de incorporá-las ao mercado produtivo, mediante
organização em empreendimentos associativos de produção e/ou prestação de
serviço, a partir das condições reais e das potencialidades dos indivíduos, dos
grupos e da própria comunidade, na perspectiva da inserção social.

DIFUSIONISTA-INOVADOR – Termo citado na história da ATER brasileira


que expressa à influência do modelo de desenvolvimento econômico da época,
via modernização da agricultura. Têm como características básicas a difusão
extensiva de inovações tecnológicas, no sentido apenas de divulgar ou impor a
adoção de técnicas ou práticas referentes à utilização intensiva de insumos e
máquinas agrícolas, na perspectiva do aumento da produtividade, sem levar em
conta as experiências e os objetivos das pessoas atendidas.

ECO-92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o


Desenvolvimento, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992. O
objetivo principal da Conferência foi buscar meios de conciliar o
desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos
ecossistemas da Terra.

ESTAÇÕES (Dia de Campo) – Recurso técnico e laboratorial da metodologia


Dia de Campo, apresentada em momentos sequenciados e áreas interligadas,
com finalidade de demonstrar a relação teoria e prática.

ESTRUTURALISMO – Abordagem teórica, filosófica, de interpretação da


realidade que toma como referência os condicionantes reguladores de
determinada estrutura social, dissociada de uma visão mais ampla. Há nesta
concepção a não consideração pelos determinantes históricos e os papéis
individuais e grupais como sujeitos sociais.
95
EDIÇÃO ESPECIAL
EXTERNALIDADES – Circunstância involuntária decorrentes da ação
humana, de caráter positivo ou negativo, que se sobrepõe à realidade inerente a
vontade dos sujeitos.

FITOTERÁPICOS – Produtos medicinais a base de ervas naturais, com


manipulação artesanal, utilizado tanto na medicina humana quanto animal.

FUNCIONALISMO – Corrente de interpretação sociológica, que estabelece


uma analogia entre o corpo humano e a sociedade, pressupondo uma
integração e um equilíbrio. Todos os indivíduos e instituição existentes devem
contribuir funcionalmente para a manutenção da organização social.

HOLÍSTICO – Concepção de que os atores sociais são de natureza complexa


e que, portanto, precisam ser compreendidos em suas múltiplas necessidade e
realidade. Na perspectiva metodológica é o princípio da totalidade que se
contrapõe a visão dualista, segmentada, presente nas práticas conservadoras.

PARADIGMA – Conhecimento que origina o estudo de um campo científico;


uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como
modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.

PARTICIPAÇÃO – Associada à natureza, ao grau, a forma de um indivíduo


fazer parte de determinado grupo, com espaço para a exposição de opiniões e a
tomada de decisões.

SISTEMATIZAÇÃO – Processo de organização, qualificação e formatação


de informações, dados, registros, textos, para editoração e publicação.

SOLIDARIEDADE – relação de responsabilidade entre pessoas unidas por


interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na
obrigação moral de apoiar o(s) outro(s).

IMBRICAR - Disposição de objetos, sobrepondo-se em parte uns aos outros.

96
EDIÇÃO ESPECIAL
Metodologias de ATER e Pesquisa com
Enfoque Participativo
EMATER-PARÁ
EDIÇÃO ESPECIAL

Você também pode gostar