Leandro Antonio Grass Peixoto Mestrado
Leandro Antonio Grass Peixoto Mestrado
Leandro Antonio Grass Peixoto Mestrado
EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Orientadora
Profª Dra. Maria de Fátima Rodrigues
2
Peixoto, Leandro Antonio Grass
O engajamento ecológico como possibilidade
de formação da politicidade dos jovens/ Leandro Antonio
Grass Peixoto.
Brasília, 2011
Xxx p.: il.
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta tese e emprestar ou
vender tais cópias, somente para propósitos acadêmicos e científicos. O(a) autor(a) reserva outros
direitos de publicação e nenhuma parte desta tese de doutorado pode ser reproduzida sem a
autorização por escrito do(a) autor(a).
________________________
Leandro Antonio Grass Peixoto
3
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Aprovada por:
________________________________________
Maria de Fátima Rodrigues, Doutora (CDS-UnB)
(Orientadora)
________________________________________
Izabel Cristina Bruno Bacellar Zaneti, Doutora (CDS-UnB)
(Examinadora interna)
________________________________________
Philippe Layrargues, Doutor (FNP-UnB)
(Examinador externo)
4
DEDICATÓRIA
5
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Maria de Fátima Grass, que me deu a vida, ora todos os dias por mim
e me ajuda a desenvolver algumas das virtudes mais valiosas de um ser humano.
Ao meu pai, Célio Peixoto, que por seu esforço e trabalho me permitiu ter uma vida
digna, sem me deixar perecer em nenhum momento.
Ao meu irmão, Cristiano Grass, por ser parceiro e em boa parte de minha vida, o
maior modelo de pessoa a ser seguido.
À minha irmã, Karine Peixoto, que mesmo não estando perto, está sempre próxima.
Aos meus tios e primos, fonte de amizade e peças fundamentais do meu caráter.
Aos meus amigos, que são muitos, por todo amor, respeito, carinho e alegria.
6
À Maria de Fátima Rodrigues, minha orientadora paciente, inteligente, comunicativa
e jovial, para com a qual nutro profundo respeito e profunda admiração, e com quem
me identifico na disposição e no interesse pelo que é social.
Ao meu mestre e professor Pedro Demo, pelo seu brilho, disposição e em quem
busco inspirações para ser mais do que o sistema espera que eu seja.
Aos meus amigos Marcelo Rebelo, Lucas Baeta e André Grass, por tornarem as
idas a Goiânia mais do que simples excursões ao campo de pesquisa.
Por fim, agradeço a todos aqueles que, de algum modo, participaram dessa difícil
caminhada e contribuíram para a realização dessa pesquisa.
7
(...) Juventude, rosto do mundo,
Teu dinamismo logo encanta quem te vê
A liberdade aposta tudo
Não perde nada na certeza de vencer
Jorge Trevisol
8
RESUMO
9
ABSTRACT
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
11
LISTA DE TABELAS
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
13
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
1. A JUVENTUDE NO CONTEXTO DA MODERNIDADE ................................. 27
1.1 JUVENTUDE E JUVENTUDES .................................................................... 30
1.2 O CONTEXTO DA MODERNIDADE ............................................................. 36
1.3 JUVENTUDE E NOVAS TECONOLOGIAS .................................................. 41
2. A POLITICIDADE E A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO ................ 46
2.1 POBREZA POLÍTICA .................................................................................... 48
2.2 ASPECTOS CONSTITUTIVOS DA POLITICIDADE ..................................... 53
2.3 SUJEITO ECOLÓGICO: UM CAMINHO PARA A CIDADANIA .................... 61
3. CIDADANIA VIA ECOLOGIA ......................................................................... 68
3.1 OS COLETIVOS JOVENS E SUA ORGANIZAÇÃO ..................................... 69
3.2 ARTICULAÇÃO EM REDE ........................................................................... 75
3.3 COLETIVO JOVEM-GO: POLITICIDADE VIA MEIO AMBIENTE ................. 79
CONCLUSÃO ..................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 96
ANEXOS ............................................................................................................. 100
14
INTRODUÇÃO
Por isso, a devastação ambiental não é um ato isolado, mas fruto das
relações sociais, econômicas, políticas e tecnológicas da sociedade. Assim, como
todo esse processo é fruto de um conjunto de intervenções e decisões
fundamentadas em motivos políticos, econômicos e culturais, a recuperação desse
quadro só seria viável também através de uma ação social e política, fundamentada
numa perspectiva complexa e integral. Sendo a Educação Ambiental um dos
caminhos para a reversão desse quadro, também não poderia ser concebida de
maneira desprendida de todas as dimensões contidas na produção deste, em
especial no que tange a dimensão política.
15
não gira em torno da ausência de possibilidades, mas da própria negligência ou da
falta de motivação em ocupar os espaços de debate e intervenção política. No
entanto, pouco se tem questionado se o atual desinteresse coletivo pelas questões
públicas trata-se realmente de um fator vinculado à juventude ou se, na verdade, é
um sentimento que perpassa toda a sociedade.
16
A presença de uma associação de jovens com fins de participação social e
política, mesmo que motivada e estimulada pelo Estado, como é o caso dos
Coletivos Jovens do Meio Ambiente, desperta profundo interesse e reflexão quanto
ao nível de protagonismo juvenil em nossa sociedade nos dias atuais. Porém, mais
do que salientar sua existência, se faz necessária uma avaliação do nível de
engajamento ecológico dessa associação, verificando o perfil de atuação desses
grupos para avaliar se os mesmos tendem a contribuir para a criação de novos
conceitos acerca do próprio perfil da atual geração, atualmente vista como
desinteressada e desengajada politicamente, e também para a confirmação do
espaço ambiental como um espaço político no imaginário social, e não somente de
posturas individuais.
17
Institucionalizados como uma Rede e como uma política pública do MMA, estava
assegurado aos jovens, um espaço efetivo de participação em processos e
Conferências. O foco dos Coletivos fundamenta-se na construção de uma sociedade
sustentável, justa e igual para todos, baseada nas realidades das diversas
comunidades e regiões, e no diálogo entre esses Coletivos Jovens.
19
De forma a sistematizar a abordagem aqui citada, o presente trabalho foi
dividido em três etapas centrais de análise, uma em cada capítulo. No primeiro
capítulo, pretende-se detalhar as características da categoria social estudada: a
juventude. A relação entre engajamento ecológico e politicidade será analisada
dentro de um segmento da juventude brasileira, que são os jovens integrantes do
Coletivo Jovem-GO. No Brasil, atualmente, existem 34 milhões de jovens entre 15 a
24 anos (IBASE, POLIS, 2005), divididos nas diversas camadas e setores da
sociedade. Os jovens que farão parte do processo são parte da pluralidade que
constitui a realidade juvenil, o que possibilita falar de “juventudes” e não apenas de
“juventude”.
21
Uma característica vital da atual geração de jovens é a sua familiaridade e
proximidade dos ambientes virtuais. A importância que a internet, as comunidades
virtuais e a redes tomaram dentro do espaço juvenil é inegável. As novas
tecnologias têm qualidades descentralizadoras e flexíveis (Castells, 2003), o que vai
de encontro aos princípios da ordem moderna das relações sociais. No campo
virtual, o que vale não é o argumento da autoridade, mas sim a autoridade do
argumento. Qualquer um pode ser autor, qualquer assunto pode ser discutido e não
há barreiras para a criação.
Todos esses aspectos caíram nas graças da atual geração de jovens, que
encontra na grande rede não só possibilidades de uma nova relação identitária,
como também de novas formas de articulação e organização, como no caso do
campo ambiental. Leff (2002) indica que o próprio discurso ambientalista se
apropriou das novas tecnologias, nas quais a internet serve como uma estrutura
dialógica, transparente e interativa e que pode ser útil enquanto instrumento de
organização social.
22
para a promoção de certo nível de crítica e autocrítica, estabelecendo a qualidade
política, esta oposta e negadora da pobreza política.
23
debate, seja ele institucional ou não, referente às temáticas sociopolíticas. A
verificação desse aspecto ocorrerá pela compreensão do modo de organização dos
coletivos e sua interação com a rede. Cabe questionar, aqui, como ocorrem os
processos decisórios, o nível de autonomia e democracia dentro dos grupos e a
forma como deliberam suas ações.
24
convencional, centrada no indivíduo, tal como afirma Loureiro (2005), na busca de
uma harmonia que “pressupõe a existência de finalidades previamente, e
estabelecidas na natureza e de relações ideais que fundamentam a pedagogia do
consenso”.
Figura 1
26
1. A JUVENTUDE NO CONTEXTO DA MODERNIDADE
Pretende-se criar uma base que confronta a realidade encontrada nos jovens
pesquisados com as categorias e os instrumentos de análise e, a partir daí,
estabelecer uma leitura interpretativa da realidade pesquisada. Perceber a teoria
como algo que está a serviço da pesquisa e não ao contrário, é justamente aquilo
28
que abre espaços e possibilidades para a dimensão subjetiva dos agentes, e que
aqui se põe como meta.
29
Uma vez construído um parâmetro de compreensão da juventude, será
possível posteriormente criar zonas mais amplas de entendimento acerca do
fenômeno estudado. Será possível, assim, dizer com mais propriedade quem são os
agentes tidos como objeto do estudo aqui referido. A conclusão do perfil da
juventude se dará através da significação do atual contexto histórico-social, o qual
denominaremos de modernidade.
Por fim, essa etapa da discussão se encerrará com uma análise acerca da
relação dos jovens com os novos recursos tecnológicos, em especial com aqueles
vinculados à rede mundial. A relação com o mundo virtual é um traço essencial da
atual geração. Serão demonstrados diversos aspectos que comprovam essa estreita
relação entre juventude e tecnologia no mundo atual, uma vez que a própria
tecnologia é traço constituinte que alimenta o estado de liquidez da sociedade.
31
se assim de um período com profundas e marcantes transformações tanto no campo
sociocultural quanto biossocial. Segundo documento da UNESCO (2004),
33
juvenil. Demonstrar como os jovens são diversos na variedade de espaços sociais
que ocupam. Seja pelo lazer, pela educação, pela religião, pelo modo de ação e
participação política, na relação com a tecnologia, no trabalho, ou na sexualidade.
Em todos esses aspectos os jovens demonstram sua capacidade de criar
diversidade.
(...) chama a atenção para o fato de o jovem pobre percorrer uma série de
provas individuais para permanecer no sistema escolar. Para ele, essas
provas são sempre um “jogo de cartas marcadas”. A reivindicação de
reconhecimento na escola é um espaço das identidades para que se possa
sobreviver nesse jogo. O reconhecimento de identidades é o único modo de
conciliação possível frente às desigualdades, principalmente se pensarmos
que a interação que surge nas escolas também acumula capital social, já
que ali se constroem relações sociais, redes de amigos e contatos (p. 58)
34
No que diz respeito ao acesso e ao tempo de estudo, os dados que seguem
abaixo demonstram a grande quantidade de jovens que ainda estão excluídos das
etapas mais avançadas do ensino, o que leva a crer que, apesar de existir a oferta
na educação, certamente existem fatores que dificultam o acesso dos jovens ao
ensino.
Tabela 1
35
(...) a juventude é pensada como um processo de desenvolvimento social
pessoal de capacidades e ajustes aos papéis adultos, são as falhas nesse
desenvolvimento e ajuste que se constituem em temas de preocupação
social. É nesse sentido que a juventude só está presente para o
pensamento e para a ação social como “problema”: como objeto de falha,
disfunção ou anomia no processo de integração social; e, numa perspectiva
mais abrangente, como tema de risco para a própria continuidade social
(p.29).
No entanto, o atual cenário caracterizado acima não pode ser entendido sem
uma causa. O que há de se considerar adiante são as condições sociais que
proporcionam tamanha diversidade no âmbito identitário e social dos indivíduos, em
especial dos jovens. Trata-se do entendimento do contexto, entendido como
Modernidade.
Grande parte dos conceitos presentes nos estudos das Ciências Sociais exibe
diversas abordagens, a partir de diferentes correntes de interpretação. E com o
conceito de Modernidade não é diferente. O que se considera como moderno pode
estar vinculado a uma perspectiva ao mesmo tempo histórica, social, econômica,
política e cultural. Algumas correntes de pensamento consideram a modernidade
como um período já em fase de desconstrução, em passos do que se considera
36
como “pós-modernidade”. Já outras afirmam que a modernidade e seus reflexos são
a principal marca dos dias atuais.
O ser humano se obriga a lidar com uma obra-prima de sua própria autoria,
mas sob a qual não tinha domínio nem total conhecimento. Algoz de sua própria
sociedade, o indivíduo da modernidade se vê diante de novas formas de
desigualdade social, instrumentos tecnológicos que são substituídos a uma
velocidade sem precedentes, novas formas de organização do poder, entre outras
novidades, tudo isso em meio à reformulação dos valores tradicionais e sólidos que
regeram boa parte da história da sociedade ocidental.
37
A quebra da tradição e de uma ordem social herdada por um longo período na
sociedade ocidental é uma marca fundamental do chamado contexto moderno. Tal
como afirma Giddens (1991),
39
visto que não havia um desejo de se romper com as tradições da sociedade. Porém,
agora, em um contexto marcado justamente pela quebra dessa solidez tradicional, a
juventude acaba por ressignificar seu papel, uma vez que não está mais presa a
uma situação estática, fundada em uma educação baseada na transferência da
tradição, mas sim em um protagonismo que não possui mais limites, em especial no
que diz respeito à expressão e ao conhecimento.
40
que sendo fruto da modernidade, também intermedia processos profundamente
marcados pela liquidez e pela inovação.
Podemos afirmar que a juventude atual pode ser chamada de a geração “i”,
absolutamente adaptada às novas tecnologias, e em diálogo constante com elas.
Ela se difere da chamada geração “net” (em virtude da internet) que nasce nos anos
1980 e 1990. Levam boa parte de seus dias imersos em um contato constante com
a mídia, o entretenimento, a comunicação, entre outros elementos eletrônicos. Já
nasceram em meio à tecnologia, e a cada momento acrescentam novas ferramentas
em seu repertório de códigos, linguagens e instrumentos. Habitam as redes sociais
como o Facebook, o MySpace, o Second Life, o Twitter, agregando contatos e
recriando inúmeras formas de comunicação e manifestação. Enviam SMS´s e tuitam
através de seus celulares praticamente tudo o que veem.
Se quiser falar com minha filha maior do ensino médio, tenho de usar
mensagem de texto. Não responde ao celular, sequer escuta a caixa de
mensagem. O único jeito de ter sua atenção é através de mensagem de
texto. Tive de aprender a lidar com isso no celular, sendo para mim muito
frustrante. Mas é seu mundo e tenho de deslocar-me para lá se a quiser
encontrar. (Rosen, 2010, p.14).
O que não se pode negar é que a vida online é um traço fundamental da atual
geração. É uma geração que está conectada em todos os momentos, seja na aula,
seja entre as aulas e após a aula, em seus carros (mesmo que seja ilegal em
motoristas), desvelando habilidade inacreditável diante da tecnologia. Tal como
revelam alguns dados,
Dois terços dos adolescentes dizem que seu celular é sua tecnologia mais
essencial e metade o via como chave para sua vida social. O celular só
fica em segundo lugar em comparação com sua roupa em termos de
representação do status social. Atribuem até elementos identitários a seus
celulares, com capas caprichosas e baixam tons de discar para cada
amigo (...). (Rosen, 2010, p.36)
O que pode se pode notar é que a relação com as novas tecnologias tem
servido não somente para ampliar o leque de fontes de entretenimento e
aprendizado para a juventude. Eventos recentes da história mundial e brasileira no
campo político indicam que a internet também tem servido como um facilitador para
a participação da juventude em assuntos de ordem pública. A eleição de Barack
Obama nos Estados Unidos, o envolvimento de jovens na campanha de Marina
Silva no Brasil e as recentes mobilizações a favor da democracia no Egito são bons
exemplos de como o ambiente virtual também serve àqueles que desejam provocar
mudanças e influências no campo político.
44
A referência acima constitui o espaço da WikiREJUMA, referenciada
anteriormente. E através dos tópicos, é possível perceber parte dos objetivos
pretendidos com tal iniciativa. A apresentação de conceitos como E-Governança e
Territorialidade são indicadores da tentativa de construção de um processo não
apenas comunicativo, mas também educativo, com forte viés político. Esse aspecto
fortalece a tese de que os recursos virtuais podem ser bem aproveitados no
processo de construção de inciativas educacionais, e aqui de caráter
socioambiental, bem como podem servir para dar unidade nos processos de
intervenção.
45
2. A POLITICIDADE E A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO
46
tem como principal objetivo o desenvolvimento de iniciativas de caráter educativo
como foco na perspectiva ambiental.
47
pobreza política se liga à dificuldade do pobre em superar a manipulação, e esta
face da pobreza é pouco encarada nas políticas sociais que se mostram tecnocratas
e reproduzem o caráter elitista da sociedade.
Dessa forma,
52
aspectos da realidade tornam-se de difícil mensuração nesse processo. Pouco se
aprofunda na chamada pobreza subjetiva, embora hoje os institutos de pesquisa já
considerem o termo como foco de pesquisa, ainda não conseguem muito
detalhamento.
Dessa forma, caberá, por seguinte, expor os elementos que permitirão tal
superação, e que constituem a qualidade política, representada naquilo que se
considera como politicidade. Uma habilidade que dá ao sujeito não só a capacidade
de ler, pensar e questionar sua realidade, mas principalmente de ser capaz de
intervir em níveis não só individuais, mas principalmente coletivos, em forma de
associação e mobilização.
55
sua pobreza política (Demo, 2002). A capacidade de pensar pode render ao
indivíduo não somente uma posição no mercado, mas também de elaborar outras
oportunidades que vão para além da renda própria. Assim sendo, o principal impacto
da educação não se dá na dimensão econômica, mas em especial na dimensão
política.
56
figura do educador é central nesse processo. Segundo Demo (2002), “é preciso que
o os sujeitos sejam orientados em parceria, pois criar autonomia exige a
colaboração de outrem. Orientação de tal modo que o orientando necessite cada vez
menos da orientação”. É preciso evitar o instrucionismo.
57
Por trás de um texto próprio bem arquitetado emerge a habilidade de,
interpretando crítica e autocriticamente a história, produzir outra, alternativa.
Há nisto, pois, um sentido primeiro prático imediato: forjar alunos com
habilidade reconstrutiva própria de sujeito auto-referente e autopoiético,
dotado da capacidade de questionar e autoquestionar-se. Autoria significa
neste ato buscar no aluno sua oportunidade de sujeito reflexivo e que lhe
permite apresentar-se como produtor de ideias criativas, com base na
autoridade do argumento. Mas há um sentido mais abrangente em jogo, não
menos prático: exercitar a cidadania que sabe pensar, tendo em vista mudar
a sociedade. Paulo Freire resumia ambas as pretensões na idéia de “ler” a
realidade: implica saber interpretar crítica e criativamente, para poder mudá-
la, aprimorando as condições de confronto. (2008, p. 5)
58
A boa aprendizagem não representa um processo que se estabelece apenas
a partir do próprio indivíduo, mas que necessita de outro, porém sem se constituir
como relação de dependência. Nesse processo, o educador há de orientar o
educando de forma a que este necessite cada vez menos de orientação (Demo,
2002). Embora essa relação não se traduza em independência total, também não se
pode confundi-la com instrucionismo, prática esta contrária à proposta reconstrutiva
do conhecimento e negadora da boa aprendizagem. Sendo assim, é impensável
imaginar um aluno que aprenda sem ter vivido um bom processo de elaboração
própria, que tenha despertado sua capacidade de crítica e autocrítica. O bom
aprendizado implica em uma elaboração autônoma, e que deve ser ainda mais
eficaz se partir do universo simbólico e cultural do sujeito.
59
e formação de sua prática. Tais elementos citados tenderiam a caracterizar uma
aprendizagem fundamentada e sólida.
60
orientação popular e democrática, reforçando a tese de que um Estado democrático
que assuma um projeto com participação popular facilita o exercício do controle
social em detrimento dos interesses do mercado (SOARES, 2004).
Porém, estabelecer uma tipologia que relacione estes elementos pode servir
como um importante qualificador de práticas e processos ocorridos em meio à
sociedade civil. E na presente pesquisa, essa abordagem será útil para indicar em
que aspectos as práticas do Coletivo Jovem-GO contemplam a dimensão da
politicidade.
61
A Sociologia Política estabelece, em sua tradição teórica, a sociedade civil
como sendo um dos três agentes centrais da sociedade, ao lado do Estado e do
mercado. Nesse sentido, compreende-se a sociedade civil como um conjunto
múltiplo de forças sociais e segmentos heterogêneos, atuando em torno de aspectos
ligados à cidadania, seja pela conquista ou pela consolidação de direitos.
63
ecopedagogia; educação ambiental crítica; transformadora; emancipatória;
educação no processo de gestão ambiental; conservacionista; ao ar livre; educação
para gestão ambiental; entre outras. (LAYRARGUES, 2004).
64
neste capítulo. Em primeiro lugar, pela própria dimensão educativa. E nesse aspecto
serão indicados no capítulo seguinte, situações e processos que contemplam
fortemente essa dimensão, a partir do grupo estudado.
A militância no campo ambiental tende a ser marcada pelo seu forte ativismo
cultural (Carvalho, 2008). Esta se constitui tanto como uma visão de mundo quanto
uma perspectiva diretamente associada vinculada a autonomia perante a situação
social dada. Trata-se de uma posição que reorganiza a vida social, criando uma
espécie de habitus ecológico. Layrargues (2000) em sua análise a respeito da
reprodução social da educação ambiental estabeleceu uma tipologia relacional entre
elementos da mudança cultural e da mudança social, em uma configuração que
permite identificar a maneira como aspectos conceituais e ligados a superestrutura
se realizam na esfera da infraestrutura, nos elementos da vida social:
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
65
natureza natureza
Sociedade funcionalista e atomizada: primado do Sociedade conflituosa e desigual: sujeitos sociais
indivíduo e homem genérico específicos
Ética ecológica Cidadania e justiça ambiental
Dever moral de proteger a natureza Direito legal de ter a natureza protegida
Mudar a visão de mundo Mudar a ação no mundo
“Eu não vou degradar o ambiente” “Nós não vamos deixar que degradem o
ambiente”
MUDANÇA AMBIENTAL
Quadro 1 - Educação e Mudança Ambiental - Fonte: (Layrargues 2000, p. 98)
Por isso se considera que o sujeito ecológico seja o modelo que viabiliza a
relação entre politicidade e campo ambiental. Mas para consolidar essa relação é
necessário promover uma educação ambiental crítica e emancipatória, em que os
saberes possam ser elaborados e constituídos de maneira dinâmica, a partir de
construções coletivas e cooperativas, de modo contínuo, interdisciplinar, participativo
e democrático, a fim de favorecer a configuração de sociedades sustentáveis.
(TONZONI-REIS, 2006, p. 93).
66
Situar o jovem nesse contexto também agrega uma série de novas
perspectivas. Uma vez que a juventude, no contexto da modernidade, passa por
uma indefinição de modelos e referências, justificadas pela própria liquidez dos
tempos atuais, emerge um campo que dá a ela possibilidades muito interessantes.
67
3. CIDADANIA VIA ECOLOGIA
68
de incentivo do Ministério do Meio Ambiente, atualmente os Coletivos Jovens estão
espalhados em todas as regiões do país, promovendo iniciativas que favorecem a
participação política e o envolvimento ambiental de inúmeros jovens.
Uma possível interpretação desses dois princípios poderia ser a de que com
eles se pretende isolar os jovens das demais categorias e esferas sociais. No
entanto, a real pretensão é que seja negada a dependência, mas que seja
estabelecida uma relação de parceria. Nesse sentido emerge um terceiro principio,
70
afirmado como “Uma geração aprende com a outra” (MMA, 2005). Até mesmo para
que os jovens compreendam que a realidade hoje dada é fruto de um processo
histórico e que o diálogo aberto tende a possibilitar uma melhor interpretação do
mundo e, por conseguinte, uma atuação mais eficaz.
Em 2004 e 2005, foi realizada uma pesquisa que procurou levantar a situação
dos participantes desses grupos. A pesquisa “Perfil e Avaliação dos Conselhos
Jovens de Meio Ambiente” foi uma iniciativa do governo federal, por meio dos
Ministérios da Educação – MEC e do Meio Ambiente – MMA, elaborada com o apoio
do grupo articulado da Rede da Juventude pelo Meio Ambiente – REJUMA e a
participação nacional da Rede Brasileira de Educação Ambiental – REBEA. Tratou-
se de um estudo quantitativo e qualitativo realizado com integrantes dos então
chamados “Conselhos Jovens – CJs” de todas as unidades federativas no período
de dezembro de 2004 a janeiro de 2005. (Brasil, 2006)
72
indivíduos do ponto de vista socioeconômico e cultural, mas também no que diz
respeito à perspectiva que elaboram quanto à causa em que estão envolvidos.
Tabela 3 – Temas dos grupos e associações escolhidas pelos jovens - Fonte: Brasil, 2006
73
Notado o destaque da área ambiental na atuação dos jovens, também foram
levantados os motivos que levam os jovens a atuarem nessa área. Percebeu-se que
a identificação e a afinidade destacam-se, com 21%, seguidamente do argumento
de ser útil à comunidade e referir-se ao espírito altruísta, com 18%. Em seguida, as
respostas “promover mudanças” 16%; trocar experiências e construir novos
conhecimentos, 12%. Existem algumas possibilidades para se estabelecer
compreensão em relação a esses indicativos. Uma hipótese possível refere-se ao
destaque que a causa ambiental vem adquirindo nos últimos anos na mídia, em
especial pela emergência de certas problemáticas que vem se tornando
insustentáveis, como o lixo e a poluição.
Quanto à maneira pela qual ficaram sabendo dos Coletivos Jovens, indica-se
que a Conferência Nacional Infanto-Juvenil foi o principal meio, com 26%. Já 23%
responderam que a ciência se deu através de amigos e colegas, enquanto 19%
indicaram ter conhecido através de instituições diversas, ONG, escola, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
universidade, dentre outras.
74
ambiental com jovens, tendo como base princípios, maneiras de gestão e
metodologias que se diferenciam das propostas tradicionais, que muitas vezes
simplificam a juventude, muito semelhante ao instrucionismo escolar, e que pouco
considera da diversidade juvenil hoje existente.
Essa experiência comprova que alguns princípios passaram a ser pauta dos
projetos de educação ambiental com a juventude. Primeiramente, passa-se a
considerar a complexidade da realidade atual e de suas temáticas, bem como a
própria diversidade juvenil e as diferentes propostas de educação ambiental. Isso
acaba por seguinte viabilizando a reconstrução da visão, muitas vezes estereotipada
que se tem dos jovens. Em seguida emerge a possibilidade de empoderamento da
própria juventude e de suas respectivas organizações. Abrem-se espaços e
oportunidades para a construção de processos com os jovens envolvidos, com foco
na prática da cultura de redes estimulando ações de caráter cooperativo e com fluxo
livre de informações.
75
horizontalmente, as dinâmicas de trabalho das redes supõem atuações
colaborativas e se sustentam pela vontade e afinidade de seus integrantes,
caracterizando-se como um significativo recurso organizacional para a estruturação
social.” (p.1)
77
§ a realização do Pró-Jovem, programa de formação de jovens com ensino
fundamental incompleto, com alguma inserção da temática ambiental;
§ a ampliação do número de organizações para com juventude incorporando
a pauta ambiental. (Carvalho, 2006)
78
Tomando como referência as informações atuais, a tendência é que as ações
na área de Juventude e Meio Ambiente avancem, criando espaços e oportunidades
reais, e facilitando processos de reflexão sobre o papel dos cidadãos e das
organizações no mundo atual. A compreensão de que a questão socioambiental é
por si só um causa que contempla e dirige a uma visão mais ampla da sociedade, o
campo também tem servido como uma alternativa de participação para a juventude,
na medida em que amplia concepções, expande ideias e visões de mundo,
questiona e propõe novos valores, levando os sujeitos a perceberem e integrarem
diferentes assuntos, questões e problemas ambientais.
A presente etapa do trabalho foi colocada em último lugar não obstante pela
sua importância, mas porque caberá aqui estabelecer a relação entre todos os
elementos abordados anteriormente, na análise do objeto central da pesquisa: o
Coletivo Jovem de Goiás. Tendo em vista que o objeto de pesquisa está
diretamente inserido em um conjunto de relações sociais, não caberia, portanto, uma
metodologia que se fundamentasse essencialmente em aspectos quantitativos e
objetivos. Isso se justifica justamente pela carga subjetiva em que as relações
sociais estão dotadas em sua dinâmica concreta. Além disso, todos os conceitos
fundamentais da pesquisa necessitam ser aplicados e analisados sob uma
perspectiva forneça inovação, frutificada de uma investigação que vá além de
observações simplistas. (Rey, 2005).
79
O objetivo foi, de fato, gerar “novas zonas de sentido” em relação ao objeto
estudado. (Rey, 2005). A compreensão dos jovens a partir do espaço de disputa e
discussão política, especificada na dimensão ambiental, como aqui será
demonstrado, fortalece o rompimento com determinados paradigmas que tendem a
situar os jovens como sujeitos coadjuvantes das trajetórias políticas da realidade
social.
80
aspectos que buscarão evidenciar as características da atuação do CJ, bem como
os aspectos que constituem sua interface com a dimensão da politicidade.
O Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás, assim como outros vários Cj´s
espalhados pelo Brasil, foi criado em 2003 durante a I Conferência Nacional Infanto-
Juvenil pelo Meio Ambiente – CNIJMA, promovida pelos Ministérios do Meio
Ambiente (MMA) e da Educação (MEC). Os jovens dos CJs foram corresponsáveis
pela organização de todo processo de conferência no estado de Goiás, seguindo os
princípios estabelecidos no mesmo evento, e aqui já destacados.
Atuar em Rede faz parte do cotidiano deste coletivo, por isto CJ-GO é
articulado na Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade -
Rejuma e também é elo da Rede de Educação e Informação Ambiental de
Goiás – REIA-GO , da Rede de Educação Ambiental do Cerrado –
Reacerrado e da Rede Brasileira de Educação Ambiental – Rebea , além de
compor em diversos espaços de articulação da Educação Ambiental (EA)
em Goiás, como a Comissão Organizadora Estadual - COE, responsável
pelas Conferências Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente no estado e a
Comissão Estadual Interinstitucional de Educação Ambiental de Goiás –
CIEA.
<http://coletivojovemgoias.blogspot.com/p/sobre-o-cj-go.html>. Acesso em
10/06/2011.
81
o - 5ª edição em Rio Verde (2010).
§ I e II Conferência Estadual Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, junto à
SEDUC-GO, SEMARH-GO, IBAMA e Fórum de ONG’s Ambientalistas;
§ I, II e III Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente;
§ Encontro Nacional “Os Olhares da Juventude sobre o Tratado de Educação
Ambiental”, preparatório para o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental,
Pirenópolis (GO), em 2007;
§ Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, capacitando mais de 400
escolas de todo o estado de Goiás desde 2003, formando as “Com-Vidas” e a
Agenda 21 nas Escolas;
§ Coordenação da Rede de Educação e Informação Ambiental de Goiás (REIA-
GO), de 2007 até os dias atuais;
§ I Congresso Goiano de Educação Ambiental, com mais de 1000 inscritos de
todas as regiões do Estado e visitantes de diversos Estados Brasileiros, na
UFG.
§ Encontros Nacionais de Juventude pelo Meio Ambiente (2006, 2007, 2008,
2009 e 2010);
§ V e VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiente (2004 e 2009);
§ Acompanhamento cotidiano das Redes de Educação Ambiental e Popular e
diversos eventos a nível local, estadual e nacional.
82
envolvimento em outros grupos, anteriormente à entrada no Coletivo, bem como se
deu sua chegada até o mesmo, onde foram obtidas as seguintes respostas:
Há três anos teve uma notícia na escola que teve uma oficina da comissão
de meio ambiente e da qualidade de vida nas escolas e quem estaria
fazendo essa oficina seria o coletivo jovem de meio ambiente. Na época era
localmente, eu não conhecia os meninos aqui de Goiânia. E foi no coletivo
Jovem de Meio Ambiente lá de Rio Verde, de onde eu era. E foi assim, uma
experiência muito transformadora e impactante porque até então eu não
tinha ouvido falar de política de meio ambiente nem de educação ambiental
e de nenhum dos processos político-pedagógicos, digamos assim, que
foram usados na oficina e me interessou muito. Desde então eu comecei a
participar das reuniões.
Givago (Entrevista realizada pelo pesquisador)
Apesar disso, não se pode afirmar com plena certeza que foi graças ao
envolvimento na causa ambiental que os jovens tiveram um aumento de sua
percepção e inserção no debate político. Porém, é inegável que o fato de estarem no
Coletivo contribui diretamente para essa questão. Para se concluir a respeito do que
veio primeiro, a consciência política ou o envolvimento com a causa ambiental,
outros fatores precisariam ser considerados, diretamente ligados a trajetória
83
particular da vida de cada um dos jovens, bem como as atribuições de sentido que
os mesmos dariam a cada experiência que tiveram, sem talvez chegar a uma
conclusão precisa e exata.
84
a metodologia pronta e nós começamos a atuar. Quem mexeu com a parte
de estrutura, financiamento, essas partes mais burocráticas foi o pessoal de
Rio Verde que organizou. Então, esse processo ele também é muito
libertário para o jovem. Porque a partir do momento que você entra numa
organização horizontal, você tem um espaço muito grande para mostrar
aquilo que você pensa e de não ser criticado se tiver errado. Você é
colocado num caminho de aprendizado, mas você não é criticado por
aquilo. Você passa por um processo de educação, reeducação muito
importante porque ali não tem uma pessoa falando “oh você tem que fazer
isso”, “agora você vai fazer isso”. É sempre aberto pra você mostrar suas
ideias, mostrar sua opinião e falar: “oh, isso eu não concordo, vamos tentar
fazer desse jeito?” Colocar de uma forma que você acha e ajudar no grupo,
no coletivo mesmo. Pra mim foi importante essa coisa do CJ porque me
ajudou a me socializar com outras pessoas, meio que me colocar como
agente social, socializar com o meio.
Givago (Entrevista realizada pelo pesquisador)
[...] passei por um processo de transformação dessa coisa que eu era muito
retraído, tímido, não tinha muita atuação, muita conversa. Depois que eu me
envolvi no CJ eu passei a ter vontade de escrever sobre o que eu pensava,
de querer atuar, de perguntar para as pessoas coisas para eu poder
escrever depois. Então, eu acho que essa coisa do espaço é muito
importante.
Givago (Entrevista realizada pelo pesquisador)
[...] Essa coisa do blog, ela mostra, se você olhar o blog do CJ, ela mostra
bem como é nossa realidade mesmo. Lá tem texto de todo mundo, artigo de
todo mundo. E não tem uma denominação da coordenadora de
comunicação: você vai fazer matéria sobre determinado assunto. É
espontaneamente. De vez em quando eu vejo: ah, esse blog está meio
parado aí eu top sem idéia. De repente vem alguém e posta uma coisa lá e
eu vejo depois. Funciona assim, tudo no CJ, não só no blog, mas funciona
assim, muito voluntariamente, todo mundo é muito autônomo para fazer
aquilo que tem em mente.
Thaís (Entrevista realizada pelo pesquisador)
85
Além disso, cria uma nova percepção do uso das tecnologias, concebidas como
recurso de promoção e divulgação do que se produz. Tanto no portal REJUMA
quanto nos blogs, todos podem ser autores, divulgando seus trabalhos. E aí, o que
vale não é o argumento de autoridade, mas sim a autoridade do argumento.
Estimulando o valor do conteúdo por si só e não pela posição de quem a escreveu.
[...] a Rejuma [...] foi uma organização que nasceu dentro de uma política
publica do governo, mas que hoje em dia já praticamente expandiu num
nível muito maior do que poderia acontecer se continuasse naquela coisa ali
de governo. Então acho que a partir do momento que se tornou uma rede
nacional de jovens do movimento social, porque inclusive a maioria dos CJ
que se organizam a partir dos pressupostos da horizontalidade não se
institucionalizou, não pegam CNPJ e continuam como Movimento Social.
Então acho que a partir dessa forma de organização há o espaço do
crescimento, porque se você focaliza ali naquela hierarquia, naquela
institucionalização, você dá espaço pára pessoas vieram ganha proveito em
cima daquilo, nome em cima daquilo e o trabalho vem se perdendo nesse
tempo. A gente tem exemplos de organizações que se perderam nisso, mas
eu acho que pro CJ não corre mais esse risco mais, porque enraizou, que é
um termo que a gente usa muito. A gente já esta enraizado com esses
ideais da juventude de meio ambiente então acho que a gente não corre
risco de morrer. [...] hoje o CJ já não é mais uma política pública, a gente
não recebe mais apoio financeiro, nem moral, nada. Tá difícil até de
conversar. A gente ainda tem alguma relação geralmente tem algum apoio
institucional principalmente do Ministério da Educação, às vezes do
Ministério do Meio Ambiente, mas assim, já deixou de ser uma política
pública há muito tempo. Durou enquanto a primeira conferência durou. E
depois disso decidiram continuar existindo então acho que a mudança de
governo não vai influir na existência dos CJ. Ela pode influenciar talvez na
sua atuação, porque pode dificultar um pouco.
Givago (Entrevista realizada pelo pesquisador)
A última grande coisa que a gente fez foi o 5º Encontro Estadual. Pelo 5º
ano consecutivo a gente realizou o encontro de Juventude e Meio Ambiente
aqui em Goiás. O último foi em Rio Verde, coordenado pelo Givago. E a
gente teve lá cerca de 70 pessoas como público participante, de maneira
atípica, porque geralmente nossos encontros tem 100, 200 pessoas. Cada
encontro é uma realidade diferente. Esse encontro foi metodologicamente
muito rico, o mais rico que a gente fez até agora. A gente trabalhou os eixos
que a gente se organiza. A gente tem feito agora reuniões semanais com o
núcleo de comunicação. E tem se preparado para construir esse Programa
de Juventude e Meio Ambiente para torná-lo uma política pública de
juventude meio ambiente no futuro. Então nossos esforços agora estão
concentrados nesses aspectos. [...] A gente está construindo esse
87
documento e a gente pensa em dois caminhos para viabilizá-lo. Um é
estrategicamente conversar com gestores da área, gestor de juventude no
estado, o gestor de educação no e o gestor de meio ambiente. O outro
caminho seria por meio políticos mesmo, um deputado levar essa proposta
para ser aprovado como lei na assembléia.
Maíra (Entrevista realizada pelo pesquisador)
O conjunto dos relatos aqui descritos leva a uma percepção animadora dos
jovens em questão, quando tomada como principio uma proposta de educação
ambiental crítica e transformadora. O que se nota é que participar e se envolver com
a causa ambiental ultrapassa as dimensões intimistas, alcançando níveis complexos
de repercussão social. Porém, esse alcance certamente só faça sentido se
considerarmos que o envolvimento dos jovens com o CJ e, consequentemente, com
os debates políticos, está sendo movido a partir de um forte vínculo idealista e
pessoal.
89
Alguns desses elementos puderam ser comprovados mediante um
aprofundamento a respeito das ações do grupo, e principalmente pelo discurso das
lideranças que participaram da pesquisa. Tratando-se de uma pesquisa no campo
das ciências sociais e da educação ambiental, não se pode afirmar categoricamente
que os indicativos aqui apresentados são precisos e permanentes. Trata-se de um
recorte dentro do amplo conjunto das relações sociais, que permite vislumbrar novas
perspectivas a respeito do papel do jovem na sociedade.
90
CONCLUSÃO
Quem sabe um dia, a internet e as redes sociais terão sido apenas algumas
dentre as ferramentas que ficaram no passado, e que influenciaram no modo de agir
do homem na sociedade. Pode ser que conceitos como autonomia e protagonismo
cheguem a ser uma constante e não mais uma busca. Enfim, não sabemos ao certo
o que serão dos temas aqui desenvolvidos num futuro próximo ou distante.
91
No que diz respeito às possibilidades oferecidas e vivenciadas dentro dos
Coletivos como um todo, e em especial no CJ-GO, as principais questões
destacadas são:
92
§ O envolvimento com a causa ambiental, através do CJ, promove a negação
da pobreza política, em especial pela capacidade de organização autônoma;
Tal como pode ser constatado pelo relato dos jovens, a caminhada dentro do
CJ-GO deu aos mesmos a possibilidade de desenvolverem textos, vídeos e
materiais próprios, promoverem sua capacidade de criação, tendo espaços de
demonstrar e partilhar o que realizam. Isso gera, não somente um notável
crescimento pessoal, bem como fornece bases de referência para os demais
sujeitos que desejam conhecer melhor a rede e os Coletivos. Os materiais são
publicados nos blogs e nos sítios. Isso, além de dar visibilidade aos jovens, aumenta
o estímulo para a criação.
Sendo assim, julga-se que a iniciativa aqui proposta possa ter contribuído
para a compreensão da relação entre juventude e meio ambiente. Porém, trata-se
93
de uma questão que não necessariamente se encera aqui. Considero que o
presente trabalho pode ser fonte de novas possibilidades de investigação dentro de
uma perspectiva futura. O conhecimento da juventude, sua caracterização enquanto
categoria social tende a ser sempre algo inacabado, justamente por se tratar de uma
categoria geracional, o que faz dela uma ocupação acadêmica circunstancial. No
caso aqui relatado, algo possível de se investigar no futuro seria talvez a colocação
social dos agentes envolvidos atualmente no processo descrito.
O grupo aqui estudado gera por si só uma liberdade de reflexão que pode se
consolidar em vários aspectos. Algo que poderia ser investigado futuramente é até
que ponto o envolvimento desses jovens com causas socioambientais, condicionou
sua posição social. Se houve reflexo de seu engajamento ecológico dentro de seu
projeto de vida, e de que maneira isso se consolidou. No entanto, são apenas
possibilidades que permitem à abordagem realizada não se encerrar.
Saber que a causa socioambiental tem sido uma importante alternativa para
os jovens, enquanto participação política e social, faz emergir consequentemente a
necessidade de se ampliarem espaços semelhantes aos que eles encontram nos
Coletivos Jovens. Na verdade, é justamente no fortalecimento desses grupos que
encerra uma necessidade fundamental dos projetos de educação ambiental para
jovens. Muitas vezes, como também foi constatado no caso estudado, os sujeitos
carecem de vias estruturais, como espaço, recursos financeiros e materiais, apoio
logístico, dentro outros elementos que viabilizem suas atividades. E aí habita uma
situação que exige uma dimensão central na formação da autonomia. É necessário
criar condições sem criar dependência. É louvável o esforço dos jovens do CJ-GO
em levar em frente seus trabalhos, mesmo sem o apoio necessário. Porém, a
riqueza de sua experiência merece e necessita de uma maior atenção, para que
cada vez mais oportunidades sejam criadas a outros jovens que estão por vir.
94
politicidade. Obviamente que esse processo está condicionado a uma série de
variáveis. Mas essa possibilidade leva a crer que a sociedade pode caminhar em
novos rumos que levem ao fortalecimento da cidadania, em especial de uma
juventude que quer e sabe ser cidadã.
95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
96
CARVALHO, I. C. M.. Ambientalismo e juventude: o sujeito ecológico e o
horizonte da ação política contemporânea In: Novaes, Regina e Vannuchi,
Paulo (orgs). Juventude e Sociedade; trabalho, educação, cultura e participação.
Fundação Perseu Abramo e Instituto da Cidadania, São Paulo, 2004.
LYRA, Jorge et al. A gente não pode fazer nada, só podemos decidir sabor de
sorvete. In: Adolescentes: de sujeito de necessidades a um sujeito de direitos.
Cad. CEDES [online]. 2002, vol.22, n.57, pp. 9-21. ISSN 0101-3262.
ROSEN, L.D. Rewired – Understanding the iGeneration and the way they learn. Palgrave,
New York., 2010.
98
ROUANET, P. S. Ilustração e modernidade. ________. In: Mal-estar na
modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SHIRKY, C. 2008. Here Comes Everybody – The power of organizing without organizations.
Penguin, New York.
99
ANEXOS
ANEXO A
Eixos Centrais
100
ANEXO B
ENTREVISTAS
Entrevista 1
Entrevistada: Thaís Cruvinel
Articuladora do Coletivo Jovem-GO
Há quanto tempo você participa do Coletivo Jovem e da Rejuma? Qual foi seu
caminho até chegar lá?
Da Rejuma tem aproximadamente dois anos e meio que eu participo e eu conheci a
Rejuma através do CJ de Meio Ambiente. Como as pessoas que faziam parte do CJ
participavam da Rejuma, eu entrei em contato e comecei a participar.
De lá pra cá que experiência que você teve que você considera de mais
importante?
Foram muitas as experiências principalmente no sentido de participação de eventos
e de troca de experiências nesses eventos, perceber como outros coletivos se
organizam, outros movimentos de juventude atuam. Mas o que dá para sentir de
experiência principal nisso tudo é ver a juventude fazendo e acontecendo. Ver a
juventude sendo massa de transformação de uma realidade ou outra.
101
que eu tinha participado do CJ e o contato com esses amigos que me levaram a
conhecer mais de perto o CJ e depois decidi permanecer.
102
Como vocês estão prevendo isso?
A gente está construindo esse documento e a gente pensa em dois caminhos para
viabilizá-lo. Um é estrategicamente conversar com gestores da área, gestor de
juventude no estado, o gestor de educação no e o gestor de meio ambiente. O outro
caminho seria por meio políticos mesmo, um deputado levar essa proposta para ser
aprovado como lei na assembléia.
Vocês tem contato com parlamentar? Tem pessoas que apóiam vocês ou
vocês ainda vão fazer essa aproximação?
Ainda vamos fazer. Mas, em outros municípios como Anápolis, por exemplo, já há
uma disponibilidade desse contato político.
ENTREVISTA 2
Entrevistada: Maíra Cruvinel
Coordenador de Comunicação - Coletivo Jovem-GO
103
No último encontro, no 5º Encontro, sempre tem uma reunião, em todos os
encontros tem, onde se avaliam a coordenação, decide se vão continuar ou não e se
não escolhem outros coordenadores.
104
eu tive uma visão nacional do que a Educação Ambiental está fazendo. Durante o
mesmo período teve um outro encontro que participamos e o Manifesto. O manifesto
foi no Fórum quando o Minc teve no fórum a gente fez um manifesto contra a
política. Uma manifestação silenciosa, se caracterizou, fizemos jornais e entramos
silenciosamente com esses jornais, por exemplo, queremos aprovação da PEC do
cerrado e várias outras questões como não pela transposição do rio são Francisco, a
volta da educação ambiental do IBAMA. Entramos silenciosamente e fomos lá no
cantinho e pedimos a palavra. Como não deram a palavra, fizemos barulho. Ai
quando a gente fez barulho, deram a palavra e a gente leu o discurso e depois ele
nos respondeu. Passou a maior parte da palestra dele nos respondendo.
De tudo o que vocês fazem, você acha que hoje essas ações tocam mais as
pessoas individualmente ou tem influencia na sociedade como um todo?
Acho que as ações agora estão tocando mais a gente. Porque as pessoas que vão
para os encontros e conhecem nossas praticas, nossas ações, normalmente ficam,
a maioria fica. Então assim, até onde a gente consegue falar, até onde eles nos
escutam, a gente consegue trazer isso pra dentro do Coletivo e eles motivados
tentam motivar outras pessoas.
Está todo mundo no mesmo ideal, você consegue promover essas idéias nos
outros lugares que você está?
Vamos falar do colégio. Lá no colégio, todas as pessoas que me perguntam às
vezes eu falo: ah, vou para o encontro e me perguntam mas como, você vai porque?
E eu explico que é pelo CJ, explico o que o movimento faz e ele se interessa. Mas,
105
na maioria das vezes como são muito jovens, 15, 16 anos, os pais não motivam e
com isso eles acabam se desmotivando também. Nos outros lugares eu nunca falei
é mais no colégio onde a gente tem um convívio mais diário. Sempre se interessam,
só que normalmente não tem um apoio familiar para prosseguir nessas idéias.
ENTREVISTA 3
Entrevistado Givago Barbosa
Coordenador de Formação do Coletivo Jovem-GO
Como você chegou no coletivo, qual foi seu caminho até lá, quem te levou
porque que você está lá?
Há três anos teve uma notícia na escola que teve uma oficina da comissão de meio
ambiente e da qualidade de vida nas escolas e quem estaria fazendo essa oficina
seria o coletivo jovem de meio ambiente. Na época era localmente, eu não conhecia
os meninos aqui de Goiânia. E foi no coletivo Jovem de Meio Ambiente lá de Rio
Verde, de onde eu era. E foi assim, uma experiência muito transformadora e
impactante porque até então eu não tinha ouvido falar de política de meio ambiente
nem de educação ambiental e de nenhum dos processos político-pedagógicos,
digamos assim, que foram usados na oficina e me interessou muito. Desde então eu
comecei a participar das reuniões.
107
Na árvore dos sonhos você começa com uma pergunta provocativa, perguntando o
que você sonha, o que você deseja para aquela realidade da sua escola. O que
você precisa mudar a nível ambientar ou não. As aulas, como precisa para ter uma
inserção de temas de meio ambiente. E os alunos, os próprios estudantes falam
muito sobre isso e começam a se posicionar sobre aqueles assuntos que eles talvez
não tinham voz para falar, eles começam a ter uma comunicação que eles não
tinham vivido ao participar dessas oficinas. Na oficina pedras no caminho ela
começa com a dificuldade, o que impede aquele sonho se tornar realidade. Então, a
partir do pedras no caminho, você coloca objetivos, metas para eles executarem
praquele sonho que eles pensaram se concretizar na escola.
108
sempre teve aquilo na vida dela só que ela não sabia como atuar e como participar
naquilo. A partir do momento que ocorre essa transformação, ela quer participar, ela
quer ajudar a disseminar aquilo e transformar aquelas idéias e colocar as idéias dela
também em prática, no que ela se sente disponível a transformar junto com a
educação ambiental. Pra mim a educação ambiental é acima de tudo uma
ferramenta transformadora de cidadãos.
109
Esses termos mesmo, coordenador, presidente, não tem uma relevância no CJ
porque pra gente ver mesmo como isso acontece na prática: no encontro estadual
eu era o coordenador e quem praticamente me ajudou e fez a metodologia foram a
Thaís, a Maíra e o João. Que praticamente trouxeram a metodologia pronta e nós
começamos a atuar. Quem mexeu com a parte de estrutura, financiamento, essas
partes mais burocráticas foi o pessoal de Rio Verde que organizou. Então, esse
processo ele também é muito libertatório para o jovem. Porque a partir do momento
que você entra numa organização horizontal, você tem um espaço muito grande
para mostrar aquilo que você pensa e de não ser criticado se tiver errado. Você é
colocado num caminho de aprendizado, mas você não é criticado por aquilo. Você
passa por um processo de educação, reeducação muito importante porque ali não
tem uma pessoa falando oh você tem que fazer isso, agora você vai fazer isso. É
sempre aberto pra você mostrar suas idéias, mostrar sua opinião e falar: oh isso eu
não concordo, vamos tentar fazer desse jeito? Colocar de uma forma que você acha
e ajudar no grupo, no coletivo mesmo. Pra mim foi importante essa coisa do CJ
porque me ajudou a me socializar com outras pessoas, meio que me colocar como
agente social, socializar com o meio.
Você vai fazer história, né? Você acha que tem a ver com a trajetória do
Movimento?
Foi o CJ que me ajudou a decidir. Eu entrei sem rumo no movimento. Praticamente
na primeira reunião que eu participei no CJ foi mais para implicar com um amigo
meu que a gente tinha discutido. Eu não conhecia aquele Movimento. O assunto de
um jovem falando lá na frente que me chamou atenção na hora. Então assim, uma
coisa que eu tinha ido só porque o coleguinha vai, naquela hora me transformou.
Então foi muito importante porque a partir daí eu comecei a pensar no meu caminho.
O CJ ele te incita muito a isso, a pensar pro seu futuro, o que você quer para a vida.
Eu sempre fui apaixonado por história e descobri a pouco tempo que tem história
ambiental. E comecei a pesquisar o que era e descobri que na Universidade Federal
de Goiás já tem um núcleo de história ambiental e professores que eram formados
no exterior e que dão aula aqui hoje. Então foi um caminho que eu quero me
especializar nisso que é história ambiental.
110
Vocês tem relação com sindicatos, partidos políticos, empresas que apóiam
vocês ou por enquanto é mais o grupo mesmo sem muito envolvimento com
outros setores da sociedade?
Quando chega nos encontros estaduais que a gente precisa de dinheiro para fazer
as coisas e é um encontro que dá visão, que dá o campo de ótica maior para as
pessoas, ocorre muito. Ah, que euro fazer isso, eu quero entrar em parceira com o
CJ. E quando eu fui coordenador surgiu muito dessa coisa, mas chega na hora a
pessoa, a empresa ou até o partido político ele quer aparecer ali mas não quer
entrar com o suporte, com uma contrapartida daquilo que ele quer fazer. Essa
também foi uma realidade triste que a gente vê, que tem muitas pessoas que lucram
em cima da questão ambiental e da questão juventude. Que não agem por vontade
de transformar aquilo, mas sim por um ganho pessoal. Essa realidade infelizmente
eu vivi quando eu participei na superintendência da juventude da cidade. Que eles
entravam com um papo muito legal de vamos ajudar no encontro, mas no final.
Como é que é?
Participei na organização do encontro. A gente levou o projeto a eles, eles quiseram
sim ajudar. Ajudaram em muitas coisas, mas ficou muito no boca a boca, naquela
coisa do político mesmo. Então acho assim, os nossos encontros sempre foram
muito sucesso porque a gente mesmo deu a cara a tapa, quis acontecer e fez
acontecer. Teve muita ajuda de empresa algumas vezes, mas sempre foi a gente
trabalhando e atuando.
111
Essa parte do núcleo de educação ambiental do Seduc, sempre foi muito importante
porque até eles contribuíram para o nosso crescimento pessoal. Não foi só no CJ,
acho que foi uma construção de várias pessoas e alguns movimentos que ajudaram
transformar as pessoas do grupo do CJ.
112
da pauta ambiental agora no debate político nas eleições presidenciais e
também locais?
(Intervenção – Thaís Cruvinel) A característica do CJ é ser um movimento
apartidário. Então, enquanto coletivo a gente não se posicionou nem em nível
estadual nem nível nacional. Mas, a gente é apartidário, mas não é apolítico. A
grande maioria de nós éramos Marineiros, éramos do Movimento Marina Silva e
tentamos ao Maximo não influenciar o CJ nisso. Onde a gente ia, éramos o CJ,
individualmente a gente trabalhava em prol da campanha da Marina Silva. No
aspecto ambiental eu acho que a discussão ficou muito vaga ainda, mas pelo menos
houve alguma discussão e isso se deu principalmente pela candidatura da Marina
Silva porque se não fosse a candidatura dela, a questão ambiental não seria nem
discutida. Então a candidatura dela teve essa relevância no meu ponto de vista
pessoal de trazer a questão ambiental a tona para a gente discutir porque
dificilmente essa questão é levantada e depois dela, depois daquela expressiva
votação que ela teve, todo mundo ficou verde: o PT ficou verde, o PSDB ficou verde,
o discurso ficou uma gracinha, mas na prática a gente sabe que não costuma ser
feito isso. Acho que houve um crescimento da área ambiental nesse último governo
por ser um governo mais participativo, mais aberto. Essa Conferência que o Givago
falou foi desse processo de conferencia que nasceu o CJ. As conferencias por si são
o meio de ouvir a população e geralmente não se tinha essa prática nos outros
governos. Não votei nesse governo porque não acho que ele é o ideal ainda. Decidi
anular meu voto, mas acho que já houve um grande salto.
113
Vocês acham que o CJ são independentes e autônomos?
Sim. Um exemplo disso é a Rejuma porque ela também foi uma organização que
nasceu dentro de uma política publica do governo, mas que hoje em dia já
praticamente expandiu num nível muito maior do que poderia acontecer se
continuasse naquela coisa ali de governo. Então acho que a partir do momento que
se tornou uma rede nacional de jovens do movimento social, porque inclusive a
maioria dos CJ que se organizam a partir dos pressupostos da horizontalidade não
se institucionalizou, não pegam CNPJ e continuam como Movimento Social. Então
acho que a partir dessa forma de organização há o espaço do crescimento, porque
se você focaliza ali naquela hierarquia, naquela institucionalização, você dá espaço
pára pessoas vieram ganha proveito em cima daquilo, nome em cima daquilo e o
trabalho vem se perdendo nesse tempo. A gente tem exemplos de organizações que
se perderam nisso, mas eu acho que pro CJ não corre mais esse risco mais, porque
enraizou, que é um termo que a gente usa muito. A gente já esta enraizado com
esses ideais da juventude de meio ambiente então acho que a gente não corre risco
de morrer.
E o que você leva disso pra sua vida? Deu para ver que tem relação com seu
projeto de vida em si? Quais são as marcas do grupo em você?
O movimento teve 99% de impacto pessoal e 1% de impacto social. Porque ele me
transformou, as pessoas, como eu já disse, que surgiram na minha vida me
transformaram bastante. As ideias que essas pessoas trouxeram... Eu não tinha
aquela coisa de personalidade formada eu acho que depois do CJ, tem muita gente
que passa por pequenos processos de reconhecimento, mas o meu foi total e só se
deu pela minha entrada no CJ então acho que influenciou em todas as áreas da
minha vida tanto sociais, quanto pessoais quanto religiosas. Todas essas áreas me
transformaram por conta do CJ de Meio Ambiente.
114