Propagação de Erros

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Georreferenciamento de Imóveis Rurais – Ajustamento de Observações

Capítulo 4 - Propagação de Erros

4.1 Introdução

Em Topografia, Geodésia, bem como de em muitas outras áreas da ciência e da Engenharia, as


grandezas medidas diretamente no campo são, freqüentemente, usadas para calcular outras grandezas
de interesse. Em muitos casos, o processamento dessas grandezas é feito através de expressões cujas
variáveis são as medidas do campo. Então, se as medidas de campo possuem erros, inevitavelmente, as
grandezas derivadas delas, também, apresentarão erros. A transmissão do erro das medidas de campo
para a grandeza derivada é denominada propagação de erros.

4.2 Função Linear

Suponhamos que x é uma grandeza medida e y é a grandeza derivada, calculada de acordo com a
função:

y  ax  b (4.1)

Representada na Figura 4.1. Os coeficientes a e b são conhecidos.

y
dy d y = a . dx
yi

dx
b
X
i x

Figura 4.1 - Representação gráfica da função.

Supondo que x represente o valor verdadeiro de x , então d x representa o erro, assim:

x  xi  d x (4.2)

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E o valor de yi pode ser expresso por:

y  ax  b (4.1)

Então, substituindo a Eq. (4.2) na Eq. (4.1), e desenvolvendo, temos:

y  a ( xi  d x )  b

y  a  xi  b  a  d x

Substituindo a Eq. (4.3) na equação anterior, temos:

y  yi  a  d x (4.3)

Se d y representa o erro em y, então da Eq. (4.4), temos:

d y  a  d x (4.4)

Se agora calcularmos a derivada da Eq. (4.1), em relação a x , teremos:

y   y (a  x  b) 
y
 a
 (4.5)
x x x

Assim, a Eq. (4.4) pode ser escrita como:

y
dy  dx (4.6)
x

Exemplo aplicativo: Um terreno de formato trapezoidal com as dimensões da Figura 4.2. Para uma
medida d  23,560 m , é necessário determinar a ordenada h. Se o erro na medida da distância é
0,016 m . Calcule o erro corresponde ao valor de h.

A inclinação da linha CD é:

60  20
a   0,5
80

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Para um sistema de coordenadas com origem em A e eixo-X ao longo de AB , a equação da reta CD


será:

h  0,5  x  20

A inclinação da linha CD é:

60  20
a   0,5
80

h
dh d h = a . dx 60,00
h1

C
dx
20,00

A x1 x B
23,56
80,00

Figura 4.2 - Terreno trapezoidal.

A inclinação da linha CD é:

60  20
a   0,5
80

Para um sistema de coordenadas com origem em A e eixo-X ao longo de AB , a equação da reta CD


será:

h  0,5  x  20

Com as constantes 0,5 e 20 sem erro.

Para x  d  23,56 , a correspondente coordenada – y é a ordenada h. então:

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h  0,5  23,56  20  h  31,78 m

Da Eq.(4.5), o erro em h é:

d h  a  dx  0,5  0.016  dh  0,008 m

4.3 Função Não-Linear

Vamos analisar agora uma parábola de 2º grau (função não-linear), mostrada na Figura 4.3:

y  a  x2 (4.1)

y  yi  dy  x 2  ( xi  dx) 2 .

yi  dy  x i 2  2 x dx  dx 2 .

dy  2 x dx  dx 2 (4.2)

y P
dx2

dy y´

2x . dx
T
yi

dx

xi x
Figura 4.1 - Função não linear (parábola de 2º grau)

Da Eq. (4.8), verificamos que 2 x é a derivada de y em relação a x.

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y
dy  dx  dx 2 .
x

Comparando as Eq. (4.8) e Eq. (4.7), verificamos que a diferença entre elas é a parcela adicional ( dx 2 )
que aparece na Eq. (4.8). Na prática, entretanto, o erro dx é muito pequeno em relação à grandeza

medida, de tal sorte que podemos desconsiderar os termos de maior ordem, por exemplo, ( dx 2 ).

Exemplo Aplicativo: Para a determinação da área do terreno quadrado, mostrado na Figura 4.4, foi
medido o lado do quadrado com uma trena de aço de 30 m, resultando a medida de 50,170 m . Esta

medida foi usada para calcular a área do quadrado. A área y  x 2  (50,1702 )  2517,0289 m 2
é representada na Figura 4.4 pelo quadrado ABCD. Se a trena possui um erro para menos de 0,030 m,
pede-se determinar o erro no cálculo da área.
0,050

A B1 B

A´ B´ B2
50,120

C´ C
D
50,120 0,050
50,170

Figura 4.2 - Área do terreno.

Solução:

Como cada trenada é menor 0,030 m, a medida 30,00 m é, na verdade, 29,970 m. Então o
comprimento real do lado do quadrado é:

29,970
xi   (50,170)  50,120 m
30,000

Então, a área correta é:

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yi  xi 2
 (50,1202 )  2512,0144 m 2

O valor do erro exato entre as áreas é:

dy  y  yi  2517,0289  2512,0144  5,0145 m 2 .

Este mesmo valor pode ser obtido, na Figura 4.4, somando-se as áreas dos retângulos A B1 B´A´ e

C B2 B´C´, e o quadrado B1B B2 B´.

Este valor exato, também, pode ser obtido diretamente de d x , o erro em x, usando a Eq. (4.9), isto é:

dx  x  xi  50,170  50,120  0,050 m

Então:

dy  2 . x  (dx) 2


dy  2 . (50,120)  (0.050)  (0,050) 2  5,0145 m

y
Agora usando a Eq. (4.7), nós temos a para xi  50,170 m , então:
x

y  
 
 x 2  2  x  2  50,170  100,340
x x

y
dy  dx  100,340  0,050  5,0170 m2
x

Que na Figura 4.4 é igual a soma dos quadrados A B1 B´A´ e C B2 B´C´.

A diferença entre a determinação exata do erro da área e a determinação de acordo com a Eq. (4.7) é
de apenas 0,0025 m 2 que corresponde a ( dx 2 ), a área do pequeno quadrado B1B B2 B´. Esta
diferença é de apenas 0,05% do erro.

Até agora consideramos apenas o caso de uma variável simples processada como função de uma
variável simples x . Vamos supor agora y representando a área de um retângulo em vez de um
quadrado. Neste caso duas medidas de grandeza, o comprimento x1 e a largura x2 , estão envolvidas, e

y é produto entre elas, isto é, y  x1  x2 .

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Quando mais de uma variável está envolvida na função, a regra da derivada parcial deve ser aplicada.
Assim o erro em y será representado por:

y y y
dy   dx1   dx2  L   dxn (4.3)
 x1  x2 xn

Exemplo aplicativo: Usando o mesmo enunciado do exemplo anterior, considerar o terreno como
retangular, medindo 50,170 m por 61,090 m . Se a mesma trena de 30 m (0,030 m, também, para
menos) é usada para fazer as medidas, avalie o erro no cálculo da área.

Solução:

O cálculo da área:

y  x1  x2  (50,170)  (61,09)  3064,90 m 2

As derivadas parciais são avaliadas como:

y   (x1  x2 ) y
  x2   61,090 m
 x1  x1  x1

y   (x1  x2 ) y
  x1   50,170 m
x2 x2 x2

Os erros, d x1 e d x 2 , são processados na base de 30 m para menos 0,030 m, então:


0,030
dx1   50,170  0,050 m
30
 
0,030

dx2   61,090  0,061m
30

Usando a Eq. (4.10 ) para calcular o erro da área:

 
y y y
dy   dx1   dx2  L   dxn (4.4)
 x1  x2  xn

  
dy  ( 61,090)  (0,050)  (50,170)  (0,061)  dy  6,1m 2

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4.4 Linearização
2
Vimos que a propagação de erro em função não-linear, os termos maiores ( dx ) podem ser
desconsiderados porque são muito pequenos. A propagação de erro em funções não-lineares, omitindo
o termo ( dx 2 ), é uma aproximação. Ao contrário, na função linear o valor da propagação do erro é
exato.

A base teórica para a linearização da função não-linear é a expansão da série de Taylor.

  y 
y  y0     x  termo sup erior (4.1)
  x xo

onde:

y0  f (x0 )

x  x  xo

A forma linearizada inclui somente os dois primeiros termos do lado direito da Eq. (4.11); todos os

termos de ordem superior são desconsiderados. Por exemplo, a forma linearizada da função y  x 2 :

y  x0 2  2 x 0  x

2 y
Onde: y0  x 0 e  2  x0 . A função em questão, mostrada na Figura (4.5), é formada
x
por uma curva até o ponto T, e pela tangente à curva no ponto T (isto é ao longo da linha TP´ ). A
  y 
inclinação da linha TP´ é   .
x  xo

dy
(dx )x O

P
(dydx)x  x
2
y = (xo) +
O

y

yo = (xo)
2
dy
(dx )x  x
O

T
y O

x
X
x O x

Figura 4.1 – Curva até o ponto T e tangente até P´

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Exemplo aplicativo: Linearize a função y  2x3  x 2  4x  7 até x  2 . Se x  2 e o erro


em x é 0,01, calcule o erro em y .

  y 
y  y0     x , então para x  2 , temos:
  x xo

y  (2x 03  x0 2  4x0  7)  (6x 02  2x0  4)  x

y  19  24  x

De acordo com a Eq. (4.7):

 
y
dy   dx  (6x 02  2x0  4)  dx  24  0.01  dy  0,24 m
 x1

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