A Biotecnologia e A Guerra Biológica

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A BIOTECNOLOGIA E A GUERRA BIOLÓGICA

Tanos Celmar Costa França* e Clóvis Eduardo Godoy Ilhaa*


a
Seção de Engenharia Química, Instituto Militar de Engenharia, Praça General Tibúrcio 80,
22290-270, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
b
Estado-Maior do Exército, Quartel General do Exército, Bloco A, Setor Militar Urbano.
70630-901, Brasília (DF), Brasil.
*[email protected]

RESUMO

O espantoso avanço no conhecimento dos processos biológicos em nível mo-


lecular testemunhado no final do século XX e seus impactos ainda inimagináveis
sobre a humanidade não deixam a menor dúvida de que o século XXI será con-
sagrado como o século da biotecnologia. Soluções para problemas crônicos que
sempre desafiaram a humanidade agora batem a porta. Nunca houve uma pers-
pectiva tão animadora quanto à produção de alimentos em quantidade e qualida-
de suficientes para por fim a fome no mundo nem tampouco tanta esperança no
diagnóstico e cura de doenças. Tudo isso fruto do revolucionário desenvolvimento
da tecnologia do DNA recombinante. Todavia, como toda descoberta humana, essa
tecnologia tem dois lados. Ao mesmo tempo em que pode significar a redenção
da humanidade pode também levar à sua perdição na medida em que o seu mau
uso pode desenterrar pragas do passado e até mesmo criar novas pragas, levan-
do a guerra biológica a um patamar nunca antes imaginado. No presente trabalho
procuramos fazer uma reflexão sobre esse risco que aparentemente tem passado
despercebido nas discussões atuais (muito focadas em interesses econômicos,
políticos e ideológicos) sobre as implicações da tecnologia do DNA recombinante.

Palavras chave: Biotecnologia, Tecnologia do DNA recombinante, Guerra


biológica.

ABSTRACT

The amazing advances on the knowledge of biological processes at the atomic


level witnessed at the end of the last century and its still unimaginable impacts on
humankind made clear that the XXI century will be considered the century of biote-
chnology. Solutions for chronic issues that always challenged humankind are now
at the front door. We never had a so good perspective regarding food production
both in quantity and quality enough to end world famine and, also, so many hopes
regarding the diagnosis and cure of diseases. All this thanks to the revolutionary
development of the recombinant DNA technology. However, like every single human
discovery, this technology has two faces. It could lead to humanity’s redemption as
it could also lead to our destruction, considering that its bad use could bring back
plagues of the past or even create new plagues, promoting the biological warfare to
a new level never thought before. In the present work we make reflect on this risk

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apparently ignored in today discussions, most focused on the economic, politic and
ideological aspects, of the technology of recombinant DNA.

Keywords: Biotechnology, Recombinant DNA technology, Biological warfare.


*[email protected]; **[email protected];

INTRODUÇÃO

A utilização de organismos geneticamente modificados (OGM) tem provoca-


do grande polêmica no Brasil, despertando acaloradas discussões na mídia, na
academia e mesmo nos tribunais. Para a sociedade, o foco do problema são os
impactos dos alimentos transgênicos sobre a saúde humana e ao meio ambiente.
Contudo, as possibilidades da engenharia genética ultrapassam as questões da
biossegurança, repercutindo em aspectos econômicos, científicos, militares e até
filosóficos.
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) (Dias, 2000)
entende-se biotecnologia como qualquer aplicação tecnológica em que sistemas
biológicos, organismos vivos ou seus derivados, são usados para fabricar ou mo-
dificar produtos ou processos para utilização específica. Num entendimento mais
amplo, pode-se afirmar que há milhares de anos a humanidade atua em processos
biotecnológicos, com o desenvolvimento das técnicas de fermentação na produção
de vinhos, queijos e pães. Todavia foi somente a partir da publicação de experi-
mentos conduzidos pelo monge Gregor Johann Mendel, no final do Século XIX,
que a ciência começou a compreender a atuação dos genes na transmissão de ca-
racterísticas hereditárias (Nicholl, 2006). Décadas se passaram até que, em 1944,
Oswald Avery, Colin Macleod e Maclyn McCarty esclareceram aspectos da nature-
za química do ácido desoxirribonucleiro (DNA), identificando-o como o responsável
por transformações em bactérias (Avery, 1944). No início dos anos 1950, os pesqui-
sadores James Watson e Francis Crick, empregando técnicas de cristalografia por
raios X, desvendaram a estrutura tridimensional da molécula do DNA. Num artigo
publicado pela Revista Nature em 1953 (Watson & Crick, 1953), eles propuseram
uma estrutura com duas cadeias helicoidais enroladas num mesmo eixo. O conhe-
cimento dessa estrutura serviu de base para a genética molecular. No início dos
anos 1970, houve o desenvolvimento de técnicas de isolamento de fragmentos de
DNA e de manipulação de genes. Já em 1972, o microbiologista Ananda Chakra-
barty, da Universidade de Illinois, empregou métodos da engenharia genética para
obter um microorganismo (MO) capaz de degradar componentes do petróleo bruto.
Por decisão da Suprema Corte dos EUA, em 1980, esse MO foi o primeiro ser vivo
patenteado naquele país (Kevles, 1994).
A chamada engenharia genética oferece novas possibilidades nos campos da
ciência e da economia. No ramo científico, destaca-se o Projeto Genoma Humano
(PGH), um consórcio internacional de pesquisas, iniciadas na década de 1990,
com o objetivo básico de desvendar o genoma humano, ou seja, toda a informação

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hereditária codificada na sequência de DNA dos cromossomos dos seres humanos.
A ampliação das capacidades dos meios informatizados permitiu que praticamen-
te todo sequenciamento do genoma humano fosse concluído em 2003 graças ao
empenho da empresa Celera Genomics, fundada pelo geneticista Craig Venter que
conseguiu combinar sua capacidade de pesquisador com um talento de empresá-
rio. Indo além do projeto genoma Venter também fundou um instituto que, em maio
de 2010, anunciou a criação de uma célula bacteriana com genoma artificial. Os
pesquisadores implantaram um genoma criado em laboratório na célula de uma
bactéria que teve seu genoma original totalmente retirado. O anúncio provocou per-
plexidade. Para a ciência, a bactéria sintética representa um avanço importante na
compreensão dos mecanismos da vida, porém, o feito também despertou discus-
sões sobre seus riscos potenciais, inclusive no desenvolvimento de novas formas
de armas biológicas.
A criação da bactéria sintética teria custado 15 anos de trabalho e US$ 40 mi-
lhões em investimentos. Após o anúncio do feito, o grupo de Venter teria recebido
recursos de algumas centenas de milhões de dólares de uma companhia petrolífe-
ra, para pesquisas em engenharia genética com algas que possam ser utilizadas
na produção de combustíveis.
A genética molecular representa hoje um campo relativamente novo e promis-
sor do conhecimento humano. O desconhecimento quanto a seus riscos opõe-se
à percepção de seu potencial, o que provoca diferentes reações nos que acompa-
nham seus progressos ou se surpreendem com suas realizações. Ao mesmo tem-
po em que uns se preocupam fortemente com a biossegurança, outros alimentam
esperanças que a biotecnologia ofereça soluções para os problemas do homem e
da natureza. As implicações são inimagináveis. Só para citar algumas, o desenvol-
vimento dessa tecnologia possibilitará a produção de alimentos em maior quanti-
dade e qualidade e em praticamente qualquer ambiente, a eliminação das perdas
com pragas, o aumento do valor nutricional (através da produção de alimentos com
maiores teores de vitaminas e minerais e até mesmo contendo anticorpos contra
doenças, servindo também como vacinas), o desenvolvimento de novos materiais,
novos medicamentos, novos combustíveis, novas formas de prevenção e tratamen-
to de doenças e a criação de inúmeros novos produtos, mais baratos e de melhor
qualidade.
Dentre as infinitas possibilidades abertas com a manipulação genética de se-
res vivos a que causa maior preocupação no meio militar é a eventual criação de
novos e mais letais agentes de guerra biológica. Com essa tecnologia é possível
tanto trazer de volta pragas do passado (como a peste negra e a varíola, por exem-
plo), através da criação de cepas mais virulentas e resistentes à quimioterapia exis-
tente, como também criar MO novos e mais letais capazes de causar doenças para
as quais não haveria quimioterapia disponível. Agrava ainda mais a situação o fato
de que o conhecimento necessário para a aplicação dessa tecnologia está farta-
mente disponível na literatura científica e na internet, além de não demandar muita
infraestrutura nem grande aporte de recursos, como no caso do desenvolvimento
de armas nucleares. Isso torna o desenvolvimento de novas armas biológicas irre-
sistível para países não signatários da Convenção para a Prevenção de Armas Bio-

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lógicas (CPAB) (http://www.armscontrol.org/treaties/bwc) e para grupos terroristas.

A GUERRA BIOLÓGICA

O emprego de agentes biológicos como arma de guerra data da antiguidade.


Há diversos relatos na literatura sobre exércitos tentando provocar doenças no
lado inimigo com o uso de material contaminado. Todavia apenas a partir de fins
do século XIX, com o advento da industrialização e o avanço científico tecnológico,
passou a ser possível a pesquisa, produção e emprego em larga escala desses
agentes. Nesse contexto merece destaque o desenvolvimento de armas biológicas
pelo Exército Japonês, desde a década de 1930 até o final da 2ª Guerra Mundial.
A literatura cita as Unidades 100 e 731, destacadas na Manchúria ocupada e que
utilizaram prisioneiros chineses para diversos experimentos com agentes causa-
dores de Antraz, botulismo, brucelose e outras doenças (Eitzen, 1997). Ainda na
última grande guerra, alemães e britânicos acusaram-se mutuamente de fazer uso
de armas biológicas, o que era proibido pelo Protocolo de Genebra, de 1925. Esse
protocolo fora assinado por 108 nações que se comprometaram a não empregar
substâncias asfixiantes, venenosas e outros gases, assim como métodos bacterio-
lógicos como armas de guerra (Eitzen, 1997).
Durante a Guerra Fria, o temor pelo emprego de armas de destruição em
massa, levou a Inglaterra, em 1969, a apresentar ao Comitê de Desarmamento das
Nações Unidas uma proposta de proibição à produção, desenvolvimento e estoca-
gem de armas biológicas, que previa inspeções no caso de violação de seu texto.
As nações do pacto de Varsória fizeram igual proposta, porém omitindo a possibili-
dade de verificações de cumprimento do acordo (Sobreiro, 2011).
Os EUA foram os grandes impulsionadores da proposta britânica e, em 10
de abril de 1972, foi aberta para assinaturas a “Convenção sobre a Proibição do
Desenvolvimento, Produção e Estocagem de Armas Bacteriológicas (Biológicas)
e à Base de Toxinas e sua Destruição”, ou, simplesmente, Convenção sobre a
Proibição de Armas Biológicas – CPAB. Essa convenção ampliou as restrições do
Protocolo de Genebra de 1925, pois pretendia não somente banir o emprego de
armas biológicas, mas também proibir as pesquisas científicas ofensivas (Almeida,
2006). Mesmo tendo sido assinada pelas grandes potências e quase a totalidade
dos países, a CPAB ainda não é efetiva, justamente por não prever cláusulas de
verificação de conformidade.
Em 1979, um acidente no Instituto de Microbiologia e Virologia, instalação so-
viética militar em Sverdlosk, provocou uma epidemia de Antraz que causou a morte
de pessoas que moravam e trabalhavam a cerca de 4 km daquele instituto, assim
como do gado a 50 km do local. O fato expôs o programa soviético de pesquisa e
desenvolvimento de armas biológicas (Sobreiro, 2011).
Outros países também violaram os dispositivos da CPAB. Na década de 1990,
a UNSCOM, Comissão Especial da ONU formada logo após a Primeira Guerra do
Golfo, realizou inspeções no Iraque em busca de armas de destruição em massa.
Em 1995, os inspetores relataram que o país de Saddam Hussein havia produzido,

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para emprego como armas, 10.000 litros de toxina botulínica em forma concen-
trada, 6.500 litros de antraz concentrado e 1.580 litros de aflatoxina concentrada
(Linn, 2000).
Também em 1995, ocorreu o atentado terrorista do metrô de Tóquio. Em 20
de março daquele ano, membros da seita Verdade Suprema lançaram nos trens da
metrópole japonesa cerca de 45 Kg do agente químico Sarin, causando milhares
de vítimas dentre as quais 12 foram fatais. Nas investigações que se seguiram,
as autoridades policiais descobriram que aquela organização havia, anos antes,
dedicado-se ao desenvolvimento de armas biológicas, já tendo, em 1993, tentado
dispersar o Antraz em Tóquio. Esse fato demonstrou que grupos terroristas podiam,
sim, empregar armas químicas e biológicas em seus ataques (Ilha, 2002).
A capacidade do terrorismo empregar agentes biológicos ficou patente em
2001, poucos dias após o atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro, quando
várias cartas contaminadas com Antraz foram enviadas de uma caixa postal em
New Jersey, endereçadas ao Congresso dos EUA, a outras autoridades políticas
e a redações de jornais. O terrorista foi bem sucedido. Aquelas cartas provocaram
o fechamento da câmara dos deputados, causaram a morte de pelo menos 5 pes-
soas e a contaminação de outras 18, mas seu maior dano foi o grande temor que
provocaram na população, tanto a norte-americana como a de outros países. Um
ano depois desse fato, o alemão Eckard Wimmer, radicado nos EUA, conseguiu o
feito de ser o primeiro pesquisador a sintetizar um vírus, o da poliomielite, em la-
boratório. Em 2010, quando soube da síntese da bactéria pelo grupo de cientistas
liderado por Craig Venter, Wimmer deu uma entrevista relatando otimismo e apre-
ensão. Para ele, a engenharia genética é o campo mais promissor para os avanços
na área de saúde; por outro lado, também é factível que grupos terroristas possam
encomendar fragmentos de DNA para, com base nos sequenciamentos genéticos
disponíveis na internet, montar vírus para ataques biológicos (Menchen, 2010).

A TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE

O que possibilita todas as maravilhas da manipulação genética de seres vivos


é a chamada tecnologia do DNA recombinante. Essa tecnologia consiste em um
conjunto de técnicas que permitem a criação de novas combinações gênicas ine-
xistentes na natureza através da localização, isolamento, alteração e transplante
de segmentos de DNA de uma espécie para outra. Tudo começou quando em 1972
Paul Berg e colaboradores (Jackson, 1972) demonstraram que é possível cortar in
vitro fragmentos de DNA de diferentes organismos e ligar esses fragmentos entre
si, obtendo-se moléculas híbridas de DNA chamadas de DNA recombinante. Essas
moléculas podem em seguida ser inseridas numa célula viva (normalmente uma
bactéria) que poderá expressá-las, ou seja, produzir a(s) proteína(s) codificada(s)
por aquela(s) seqüência(s) de DNA. Em 1973 Stanley Cohen e colaboradores (Co-
hen, 1973) tornaram isso realidade através da transferência de genes de resistência
aos antibióticos streptomicina e sulfonamida de uma cepa da bactéria Escherichia
Coli para outra. A cepa que recebeu o plasmídeo passou a expressá-lo, desenvol-
vendo, assim, resistência a esses antibióticos. Esse foi o primeiro experimento de

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engenharia genética da história.
O que viabilizou o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante foi
a descoberta no final dos anos 60 das chamadas enzimas de restrição (endonu-
cleases) que atuam como tesouras moleculares e são capazes de reconhecer uma
sequência específica de nucleotídeos (bases que compõem o DNA) e cortar os
dois filamentos da sequência de DNA na ligação açúcar-fosfato produzindo os frag-
mentos de DNA. Elas são usadas toda vez que fragmentos de DNA precisem ser
cortados ou unidos. A função dessas enzimas na natureza é justamente proteger
as bactérias da ação de vírus, que as infectam através da inserção de seu material
genético para se incorporar ao DNA bacteriano, induzindo a bactéria a produzir
novos vírus. As enzimas de restrição são capazes de reconhecer os fragmentos de
DNA viral e recortá-los para fora do DNA da bactéria, evitando, assim, a infecção
viral. Essa capacidade torna-as extremamente úteis também para identificar e re-
cortar fragmentos em qualquer molécula de DNA, tornando possível a identificação
e isolamento de qualquer gene de interesse. Mais de 1000 enzimas de restrição de
diversos tipos diferentes já foram identificadas e isoladas de bactérias e as mais
importantes, e também mais usadas para a tecnologia do DNA recombinante, são
as enzimas de restrição do tipo II (Nicholl, 2006).
O processo de restrição é muito simples e consiste basicamente em adicionar
uma pequena quantidade da enzima a uma solução concentrada do DNA de inte-
resse purificado e aquecer a mistura a 37 oC. Em poucas horas a enzima cortará
todos os sítios de restrição no DNA produzindo uma mistura de fragmentos de DNA
(Pierce, 2004). Esses fragmentos podem ser identificados e separados através de
técnicas de eletroforese e, então, utilizados para a construção da molécula de DNA
recombinante. Para isso eles são unidos a uma molécula capaz de se reproduzir
quando introduzida na célula bacteriana. Essa molécula geralmente é um plasmí-
deo bacteriano, que pode ser facilmente isolado da bactéria em grandes quanti-
dades e apresenta poucos e limitados sítios de restrição (Burns & Bottino, 1991).
Tanto o plasmídeo quanto a molécula de DNA de interesse são submetidas à ação
da mesma enzima de restrição que produzirá extremidades complementares. Des-
sa forma os fragmentos do DNA de interesse (exógeno) poderão se unir facilmente
ao plasmídeo. Isso é feito pela ação da enzima DNA-ligase, resultando na molé-
cula de DNA recombinante (Figura 1). O plasmídeo contendo o fragmento de DNA
exógeno é agora chamado de vetor e, ao ser introduzido numa célula bacteriana,
pode se replicar à medida que essa célula se reproduz em meio de cultivo. Para
selecionar apenas aquelas células bacterianas que contêm o plasmídeo mutante,
são usados no processo de construção da molécula de DNA recombinante apenas
plasmídeos que contenham genes que conferem resistência a antibióticos. Dessa
forma, quando se cultiva as células bacterianas em um meio contendo antibiótico,
apenas as bactérias transformadas com o plasmídeo vetor sobrevivem e crescem.
Esse processo leva à produção de uma grande quantidade de células bacterianas
mutantes contendo o mesmo fragmento de DNA exógeno de interesse. Como as
bactérias se reproduzem por mitose, produzindo cópias idênticas de si mesmas, ou
clones, esse processo é chamado de clonagem molecular (Nicholl, 2006).
As bactérias mutantes irão, portanto, expressar os genes incorporados le-

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vando à produção das proteínas desejadas. Se o gene incorporado for o gene que
codifica a produção da insulina humana, por exemplo, a bactéria mutante passará
a produzi-la.

Figura1. Ilustração do processo de produção de um OGM. Adaptado de: Encyclopaedia Britanica Inc., 2002.

A mesma manipulação descrita acima para células bacterianas também é


possível com células vegetais e animais. Uma aplicação imediata dessa tecnolo-
gia foi a possibilidade de se produzir alimentos em maior quantidade e qualidade
em função da inserção de genes que tornem a planta mais resistente a condições
ambientais, pragas, herbicidas e/ou aumentem o seu valor nutricional. O desen-
volvimento dessas plantas OGM revolucionou a agricultura moderna, criando um
mercado bilionário disputado hoje por grandes multinacionais como Monsanto e
Syngenta.

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A REGULAMENTACAO DO DESENVOLVIMENTO E USO DE OGM

Mesmo considerando todos os possíveis benefícios da engenharia genéti-


ca para a medicina e outros campos da atividade humana e apesar do potencial
enorme de surgimento de novas armas biológicas, o lado mais evidente dos OGM
reside na agricultura. A discussão do tema hoje em dia no mundo todo gira princi-
palmente em torno das implicações da produção e consumo desses organismos
sobre o meio ambiente e a saúde humana e no aspecto econômico, que tem sido
um forte motivador das pesquisas com OGM. Nesse aspecto, o Brasil vem ocupan-
do uma posição cada vez mais importante.
Em 1994, houve o lançamento comercial da primeira planta geneticamente
modificada, um tomate, no mercado americano. Desde então, houve o desenvol-
vimento de plantas projetadas para maior resistência a herbicidas e insetos, com
alterações na maturação de frutos e flores e outras características inseridas pela
modificação de seus genes (Nepomuceno, 2007).
O sucesso dos OGM motivou uma forte expansão dos chamados alimentos
transgênicos. A área plantada com OGM no mundo passou de menos de 60 mi-
lhões de hectares, em 2002, para alcançar 160 milhões, dez anos mais tarde. Nes-
se mesmo período, a área no Brasil passou de 3 milhões para mais de 30 milhões
de hectares.
Cerca de dois terços da área com OGM no Brasil corresponde a plantações
de soja; pouco menos de um terço, de milho; e cerca de 600 mil hectares de algo-
dão. Em 2011, estavam autorizados no Brasil, para uso comercial, 5 modalidades
de semente de soja geneticamente modificadas; 9 de algodão; 18 de milho e 1 de
feijão (Coelho, 2012).
Mesmo após quase duas décadas desde seu lançamento, sem que se tenha
registros relevantes de sua nocividade, ainda persistem dúvidas quanto à segu-
rança do consumo de alimentos transgênicos. Além disso, as possibilidades de
grandes lucros pelas empresas fabricantes de produtos geneticamente modifica-
dos motivam a discussão sobre o uso da tecnologia do DNA recombinante. Parte
da oposição a essa tecnologia deve-se a questões ideológicas de grupos antica-
pitalistas; suspeita-se, também, que Organizações Não Governamentais (ONG)
opõem-se à pesquisa com transgênicos por receberem financiamento de governos
e grupos empresariais interessados em deter o monopólio da exploração dessa
tecnologia. Por fim, também há os que se opõem aos OGM por uma genuína preo-
cupação com a saúde humana e a preservação do meio ambiente. Seja como for,
o fato é que o tema é polêmico. Isso conduziu governos de vários países a criar
suas comissões de biossegurança, que são invariavelmente constituídas por espe-
cialistas do ramo da biotecnologia, com o objetivo principal de avaliar os riscos que
a produção de determinado OGM pode acarretar para o meio ambiente e para a
saúde humana e animal.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)


O braço técnico da biossegurança no Brasil é a Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança (CTNBio), subordinada ao Conselho Nacional de Biossegurança

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(CNBS).
A Lei nº 8.974, de 05 de janeiro de 1995, foi o primeiro instrumento jurídico
que estabeleceu normas para o uso das técnicas de engenharia genética e para a
liberação de OGM no meio ambiente. Aquela Lei também autorizou o Poder Execu-
tivo a criar a CTNBio, no âmbito da Presidência da República. Na sua regulamen-
tação pelo Decreto nº 1752, de 20 de dezembro de 1995, a CTNBio ficou vinculada
ao Gabinete do Ministro da Ciência e Tecnologia sendo efetivamente constituída
e passando a trabalhar. Enquanto seus pareceres se limitaram a autorizar plantio
de cultivares transgênicos apenas para caráter experimental, não houve maiores
reações ao seu funcionamento. Contudo, em 1º de outubro de 1998, a Comissão
expediu um parecer autorizando o plantio comercial de uma variedade de soja re-
sistente a um herbicida. A partir de então, começou uma longa batalha jurídica que,
alguns anos mais tarde, culminou no encerramento das atividades da comissão.
Pode-se entender pelo menos parcialmente os motivos que levaram à inter-
rupção da CTNBio. No final dos anos 1990, havia forte desconfiança quanto aos
transgênicos. Por um lado, tratava-se de uma tecnologia muito recente, com fortes
implicações ambientais e para a saúde humana. Contudo, a forte campanha lan-
çada contra a primeira CTNBio também tinha forte componente econômico, com a
expectativa de conquista de mercados pelos alimentos convencionais, cultivados
no Brasil, face à forte rejeição do mercado europeu aos OGM. O trabalho da CTN-
Bio teve de ser interrompido, mas suas atribuições eram indispensáveis. Por isso,
a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, restabeleceu a Comissão, redefinindo
sua finalidade e atribuições. Agora, a finalidade da CTNBio é prestar apoio técnico
consultivo e assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e
implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a OGM, bem como
no estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos refe-
rentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente
para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação,
transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de
OGM e seus derivados.
A CTNBio é composta por especialistas nas áreas de saúde humana e ani-
mal, vegetal e ambiental, saúde pública, meio-ambiente, biotecnologia e saúde do
trabalhador, além de 02 representantes (um titular e um suplente) de cada um dos
Ministérios/Secretarias que compõem o CNBS [Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do
Meio Ambiente (MMA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDICE), Ministério da Defe-
sa (MD), Ministério da Aqüicultura e Pesca e Ministério das Relações Exteriores
(MRE)].
O Ministério da Defesa também se faz representar na CTNBio através de 02
membros escolhidos dentre os especialistas em temas selecionados nos quadros
técnicos das 03 forças. Cabe a esses representantes zelar pelos interesses do MD
junto a CTNBio no tocante a defesa nacional, tendo em mente o lema: “desenvolvi-
mento com proteção”.
Como ilustração do trabalho da CTNBio, a Tabela 1 elenca as liberações co-

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merciais de plantas geneticamente modificadas já feitas pela comissão desde 1998.

Tabela 1. Plantas geneticamente modificadas já liberadas pela CTNBio para consumo humano e animal.

Data Planta Geneticamente Modificada

soja Roundup Ready, bem como de qualquer germoplasma derivado da linhagem “glypho-
20/08/1998 sate tolerant soybean”(GTS) 40-30-2 ou de suas progênies geneticamente modificadas para
tolerância ao herbicida Roundup

17/03/2005 Algodão Bollgard Evento 531, resistente às principais pragas da Ordem Lepidoptera

milho tolerante ao herbicida glufosinato de amônio, geneticamente modificado, bem como de


todas as progênies provenientes do evento de transformação T25 e suas derivadas de cru-
16/05/2007
zamento de linhagens e populações não transgênicas de milho com as linhagens portadoras
do evento T25

milho geneticamente modificado resistente a insetos da ordem Lepidoptera (Milho Bt11,


Evento Bt11), bem como de todas as progênies provenientes do evento de transformação
20/09/2007
Bt11 e suas derivadas de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de milho
com linhagens portadoras do evento Bt11

milho geneticamente modificado resistente a insetos da ordem Lepidoptera (Milho Guardian,


Evento MON810), bem como de todas as progênies provenientes do evento de transforma-
16/08/2007
ção MON810 e suas derivadas de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas
de milho com linhagens portadoras do evento MON810

algodão geneticamente modificado para tolerância ao glufosinato de amônio (Algodão Li-


bertyLink Evento LLCotton25), bem como de todas as progênies provenientes do evento de
21/08/2008
transformação Evento LLCotton25 e seus derivados de cruzamento de linhagens e popula-
ções não transgênicas de algodão com linhagens portadoras do evento LLCotton25

algodão geneticamente modificado (Algodão Roundup Ready, Evento MON 1445) bem como
de todas as progênies provenientes do evento de transformação evento MON 1445 e seus
18/09/2008
derivados de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de algodão com linha-
gens portadoras do evento MON 1445

milho geneticamente modificado tolerante ao glifosato (Milho GA21, Evento GA21), bem
como de todas as progênies provenientes do evento de transformação GA21 e suas deri-
18/09/2008
vadas de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de milho com linhagens
portadoras do evento GA21

milho geneticamente modificado tolerante ao glifosato, Milho Roundup Ready 2 Evento


NK603, bem como de todas as progênies provenientes do evento de transformação NK603
18/09/2008
e suas derivadas de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de milho com
linhagens portadoras do evento NK603

milho geneticamente modificado resistente a insetos da ordem Lepidoptera (milho Bt Cry1F


1507– Evento TC1507), bem como de todas as progênies provenientes do evento de trans-
11/12/2008
formação TC1507 e seus derivados de cruzamento de linhagens e populações não-transgê-
nicas de milho com linhagens portadoras do evento TC1507

1o Trimestre de 2014 – 67
Data Planta Geneticamente Modificada

algodão geneticamente modificado resistente a insetos e tolerante ao herbicida glufosinato


de amônio, bem como de todas as progênies provenientes do evento de transformação 281-
19/03/2009
24-236/3006-210-23 e suas derivadas de cruzamento de linhagens e populações não trans-
gênicas de algodão com linhagens portadoras do evento 281-24-236/3006-210-23

algodão contendo os eventos MON 531 x MON 1445, que conferem resistência a insetos e
29/04/2009
tolerância ao glifosato

algodão geneticamente modificado resistente a insetos (Algodão Bollgard, evento MON


15985), bem como de todas as progênies provenientes do evento de transformação MON
21/05/2009
15985 e seus derivados de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de al-
godão com linhagens portadoras do evento MON 15985

milho geneticamente modificado resistente a insetos, bem como de todas as progênies pro-
17/09/2009 venientes do evento de transformação MIR 162 e suas derivadas de cruzamento de linha-
gens e populações não transgênicas de milho com linhagens portadoras do evento MIR 162

milho contendo o eventos MON810 e NK603, que conferem resistência a insetos e tolerância
17/09/2009 a herbicidas, respectivamente, combinados por via sexual, bem como de todas as progênies
provenientes destes

milho geneticamente modificado para resistência a insetos e tolerância a herbicida (Milho


Bt11 x GA21), bem como de todas as progênies provenientes do evento de Bt11 x GA21 e
17/09/2009
seus derivados de cruzamento de linhagens e populações não-transgênicas de milho com
linhagens portadoras do evento Bt11 x GA21

milho contendo os eventos TC 1507 e NK 603, que conferem resistência a insetos e tole-
15/10/2009 rância a herbicidas, respectivamente, combinados por via sexual, bem como de todas as
progênies proveniente

15/10/2009 milho resistente a insetos, designado Milho MON 89034,


soja geneticamente modificada tolerante aos herbicidas do grupo químico das imidazolino-
10/12/2009
nas, Soja CV127, Evento BPS-CV127-9
soja geneticamente modificada tolerante ao glufosinato de amônio, bem como de todas as
progênies provenientes do evento de transformação A2704-12 e seus derivados de cruza-
11/02/2010
mento de linhagens e populações não transgênicas de soja com linhagens portadoras do
evento A2704-12
soja geneticamente modificado tolerante ao glufosinato de amônio, bem como de todas as
progênies provenientes do evento de transformação A5547-127 e suas derivadas de cruza-
11/02/2010
mento de linhagens e populações não transgênicas de soja com linhagens portadoras do
evento A5547-127
soja resistente a insetos e tolerante a herbicida, contendo os eventos geneticamente modifi-
20/08/2010
cados MON 87701 e MON 89788

68 – 1o Trimestre de 2014
Data Planta Geneticamente Modificada
milho MON 89034 x NK 603, que confere resistência a insetos e tolerância a herbicida, bem
18/11/2010
como todas as progênies dele provenientes

milho Bt11xMIR162XGA21, resultante do cruzamento, através do melhoramento genético


18/11/2010
clássico, dos parentais de milho geneticamente modificados

algodão geneticamente modificado tolerante a herbicidas denominado GHB614 ( Algodão


09/12/2010
GlyTol®)

milho geneticamente modificado resistente a insetos e tolerante a herbicidas contendo os


16/12/2010
eventos MON 89034 × TC1507 × NK603

milho geneticamente modificado resistente a insetos e tolerante ao glifosato MON88017,


16/12/2010
bem como de quaisquer progênies dele derivados

algodão geneticamente modificado T304-40 x GHB119, resistente a insetos e tolerante ao


17/02/2011
herbicida glufosinato de amônio, designado Algodão TwinLink

algodão geneticamente modificado tolerante ao herbicida glufosinato de amônio e ao herbi-


16/03/2011
cida glifosato denominado GlyTol x LibertyLink (GTxLL)– evento GHB614 x LLCotton25

algodão geneticamente modificado tolerante a herbicidas e resistente a insetos denominado


11/05/2011
GlyTol x TwinLink – Evento GHB 614 x T304-40 x GHB119

milho TC1507 x MON810 x NK603, que confere resistência a insetos e tolerância a herbici-
16/06/2011
das, bem como todas as progênies dele provenientes

16/06/2011 algodão geneticamente modificado tolerante ao glifosato MON88913

milho geneticamente modificado TC1507 x MON810, que confere resistência ao ataque de


11/08/2011 insetos e tolerante ao herbicida glufosinato de amônio, bem como todas as progênies dele
provenientes
milho geneticamente modificado MON 89034 × MON 88017, resistente a insetos e tolerante
15/09/2011
ao herbicida glifosato, bem como todas as progênies dele provenientes

feijoeiro geneticamente modificado resistente ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro


15/09/2011
(Bean golden mosaic vírus - BGMV), evento de transformação Embrapa 5.1

algodão geneticamente modificado resistente a insetos e tolerante ao glifosato MON 15985


16/08/2012
x MON 8891

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Da mesma forma como é possível conferir uma característica positiva a um


MO através da tecnologia do DNA recombinante também é possível atribuir uma
característica negativa. A introdução de genes que proporcionem resistência a an-
tibióticos, por exemplo, pode ser usada para a criação de MO resistentes à quimio-
terapia que se tornariam perigosos patógenos. Esse fato por si só já é motivo de
apreensão em função da possibilidade de ressurgimento de pragas do passado,

1o Trimestre de 2014 – 69
como a bactéria Yersinia pestis (causadora da peste negra que assolou a Europa
em 03 grandes epidemias) na forma de cepas resistentes a quimioterapia exis-
tente. Todavia o ponto mais crítico é a possibilidade de criação de novos e mais
virulentos MO para os quais não seja possível o desenvolvimento de vacinas ou
quimioterapia. Tais MO seriam a arma biológica perfeita e, nas mãos erradas, po-
deriam eventualmente levar à extinção da humanidade. Todavia nota-se que esse
risco potencial é muito pouco discutido nos fóruns mundo afora que discutem a
regulamentação e as implicações da tecnologia do DNA recombinante. As discus-
sões nesses fóruns sempre giram em torno das questões econômicas, políticas e
ideológicas. Entendemos que cabe, portanto, aos órgãos de segurança chamar
a atenção para a importância desse ponto e convocar a comunidade acadêmica
a uma discussão mais profunda das implicações dessa tecnologia para a guerra
biológica e quais medidas práticas podem ser tomadas para evitar (se é que isso é
possível) que a arma biológica perfeita venha a ser criada a partir da tecnologia do
DNA recombinante.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq, a CAPES, a FAPERJ e ao Instituto Militar


de Engenharia pelo apoio financeiro e institucional.

70 – 1o Trimestre de 2014
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1o Trimestre de 2014 – 71
72 – 1o Trimestre de 2014

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