Proibição Nos Oceanos

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Como os oceanos podem ser

recuperados após todo o estrago


causado pela ação humana

CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Os oceanos do planeta eram repletos de peixes gigantes menos de um século atrás.


Article information

• Author,Zaria Gorvett
• Role,BBC Future
• Há 2 horas

O professor de ciências marinhas Stephen Palumbi, da Universidade Stanford,


nos Estados Unidos, observava o azul do mar profundo com a misteriosa
sensação de que algo estava errado.
Palumbi participava de uma expedição no verão de 2016, mergulhando no
Pacífico Central para verificar o estado de um obscuro trecho de recife.
O que ele e seus colegas pesquisadores encontraram foi um mundo esquecido,
com surpreendente abundância de vida marinha. Havia cardumes de peixes-
papagaio nadando, jardins de corais em crescimento, peixes-napoleão do
tamanho de bebês rinocerontes... e tubarões – muitos tubarões.
“Você não conseguia olhar em nenhuma direção sem observar um ou dois
deles”, relembra o professor.
Mas havia também uma atmosfera incomum – estranhas indicações
espalhadas de que aquele era um lugar diferente.
“Sempre que você se virava, havia algo estranho acontecendo”, relembra
Palumbi. Como uma rachadura misteriosa no recife. Pequenas fissuras
irregulares não são incomuns, mas aquela era uma linha reta perfeita – um
fosso harmonioso com pelo menos 1,5 km de comprimento.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

A vida na lagoa de Bikini agora está aumentando, possivelmente devido às décadas sem
pesca no local.
E houve também um incidente com a navegação. Mais cedo, a equipe de
pesquisa estava a bordo do barco de mergulho, perto de lançar âncora na
lagoa, a vários quilômetros de distância da terra mais próxima. Foi quando o
sistema de navegação começou a alertar que, segundo seus cálculos, eles
haviam encalhado – o que não era verdade.
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Fim do Podcast
Palumbi estava mergulhando em um dos lugares mais radioativos do planeta: o
Atol de Bikini, nas ilhas Marshall. Cerca de sete décadas antes, aquele anel de
ilhas – até então, o arquétipo do paraíso tropical – serviu de local de testes
para a bomba atômica.
Nas décadas de 1940 e 50, os Estados Unidos passaram 12 anos detonando
nas suas águas tranquilas e no atol vizinho 67 bombas nucleares, equivalentes
a 210 megatons de TNT – mais de 7 mil vezes a potência empregada em
Hiroshima, no Japão.
O sistema de navegação de Palumbi ficou desorientado porque algumas ilhas,
ainda registradas nos mapas mais antigos, foram completamente vaporizadas
pelas explosões.
Este passado obscuro deixou um legado devastador para os habitantes de
Bikini. Eles não conseguiram voltar para casa desde aquela época.
Mas o experimento também criou acidentalmente um santuário – um local onde
a vida selvagem é protegida pela própria toxicidade da região. E, há quase 70
anos, ninguém pesca naquele local.

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Em terra, a maior parte da humanidade não depende mais de caçar e coletar


há milênios. Para o norte-americano médio, por exemplo, atirar em um tatu
para o jantar seria algo bastante incomum.
Mas não é o caso dos oceanos. À medida que a nossa população aumenta,
cresce também a quantidade de alimentos marinhos que consumimos.
Atualmente, os peixes e frutos do mar representam uma parte significativa da
alimentação de três bilhões de pessoas em todo o mundo. Mas esse almoço
grátis trouxe consequências radicais.
Em menos de um século, ecossistemas antes florescentes ficaram desertos.
Um dos peixes favoritos dos seres humanos, o atum, está perto da extinção. E,
na Terra Nova, no Canadá, a pesca de bacalhau entrou em colapso, com seu
volume histórico anual reduzido em até 810 mil toneladas.
A verdade é que os seres humanos transformaram completamente os oceanos
do planeta, reduzindo a biomassa total dos peixes em cerca de 100 milhões de
toneladas desde os tempos pré-históricos. Acredita-se que 90% dos estoques
de peixe do planeta já tenham sido consumidos.
Mas existe um movimento crescente para mudar esta situação.
Em 2023, as Nações Unidas assinaram um acordo histórico: o Tratado do Alto
Mar, que pretende proteger a vida marinha em áreas de mar aberto que não
são controladas por nenhum país.
Esta vasta porção da superfície da Terra representa mais de dois terços dos
oceanos do planeta. Segundo o tratado, ela irá deixar de ser uma área
comum acessível para qualquer pessoa – ou, pelo menos, esta é a intenção.
É claro que a humanidade não pretende deixar completamente de pescar. Mas
qual seria a aparência dos mares se decidíssemos nos abster
permanentemente da pesca?
Esta é uma questão simples que pode oferecer uma ideia surpreendente do
profundo impacto que causamos atualmente sobre os oceanos – o maior
ecossistema do planeta. E também revela o que podemos fazer para ajudar na
sua recuperação.

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