LIU, Chau-Tsi - A Reforma Agrária Na China

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06/03/23, 21:18 A Reforma Agrária na China

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A Reforma Agrária na China


Li Chau-Tsi
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 30 - Outubro de 1950 .
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente
garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

Camaradas!

Membros do Comitê Nacional!

O programa geral do Conselho Consultivo Político Popular prevê


que a República Popular da China, "deve passar progressivamente
do sistema feudal e semi-feudal de posse da terra para o sistema da
propriedade camponesa". No inverno último, o governo popular
completou, ou realizou no essencial, a reforma agrária nas regiões vizinhas das
cidades da China do Norte e em outras regiões da China do Norte, bem como na
metade do território da província de Hunan. Essa reforma atingiu a 26 milhões
de habitantes do campo.

Durante a realização da reforma agrária, no inverno último, não se observou


nenhum desvio grave. A reforma foi efetuada regularmente e não houve senão
alguns casos de infrações às normas estabelecidas. O povo, sobretudo os
camponeses, que recebeu a terra e outros meios de produção, ficou satisfeito
com a reforma agrária. Alem disso, nas regiões recentemente libertadas, o
governo popular e o Exercito Popular de Libertação efetuaram uma campanha
para liquidar o banditismo, para lutar contra os déspotas locais, para abaixar os
preços do arrendamento e criar associações camponesas. Segundo as
informações recebidas da China oriental, bem como da China central e
meridional, perto de 24 milhões de pessoas já se reuniram em associações
camponesas nessas duas regiões. Foi criada ali também uma milícia popular de
cerca de um milhão de homens. Nas regiões em que se realizaram essas
campanhas, efetuaram-se conferências de representantes do povo de toda a
região, do distrito e do "hsiang" (unidade administrativa compreendendo diversas
aldeias — Nota da Red.), alem de conferências camponesas. Entre os
camponeses surgiu um grande numero de elementos ativos. A reforma
administrativa foi executada em mais de 30.000 "hsiangs" e rapidamente se
desenvolveu a consciência das massas camponesas. No inverno deste ano, serão
preparados cerca de 180.000 quadros para realizar a reforma agrária na China
oriental e na China Central e Meridional. É por isso que nós pensamos que, nos
lugares onde se desenvolveu o movimento camponês e onde o trabalho
preparatório foi efetuado, a reforma agrária poderá ser começada neste inverno.

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Na situação atual, a reforma agrária foi completada ou realizada no essencial


num território com uma população de cerca de 145 milhões de habitantes (para
uma população global de cerca de 160 milhões de habitantes). Num território
com perto de 264 milhões de habitantes rurais (para uma população total de
cerca de 310 milhões de habitantes), não foi ainda realizada a reforma agrária.

Em diversas regiões, abrangendo aproximadamente 300 distritos, com uma


população rural de cerca de 100 milhões de habitantes, sendo 3.500.000 na
China do Norte, 8 milhões na China do Noroeste, 35 a 40 milhões na China do
Leste e 46 a 56 milhões, na China do Centro e do Sul, foi pedida autorização
para fazer a reforma agrária no inverno deste ano. Estes pedidos devem ser
discutidos pelo Comitê Nacional e a decisão a respeito deve ser tomada pelo
governo popular central. Alem dessas regiões, resta um território com uma
população rural de perto de 164 milhões de homens onde não se espera realizar
nesse inverno a reforma agrária. Na maior parte desse território, ela poderá ser
realizada após o outono de 1951. E numa pequena parte, depois do outono de
1952. Numa pequena parte do território restante, onde se acham concentradas
principalmente as minorias nacionais, a reforma agrária será posta em pratica
mais tarde. A reforma agrária foi realizada nas regiões da China do Nordeste,
habitadas por coreanos e mongóis e poderá sê-lo nos lugares onde a maioria das
minorias nacionais o pedirem.

Contudo, não se pode decidir ainda hoje sobre a data da reforma agrária nas
regiões habitadas por minorias nacionais compreendendo cerca de vinte milhões
de pessoas. Esta questão devera ser decidida depois que se efetuar um trabalho
entre as minorias nacionais e de acordo com a consciência política das massas
populares. Devemos dar mais tempo às minorias nacionais para que elas possam
refletir e se preparar para a reforma. Não devemos nos precipitar. O projeto de
lei sobre a reforma agrária que propomos, prevê igualmente que a lei não se
estenderá às regiões das minorias nacionais. Isto quer dizer que temos a
intenção de terminar a reforma agrária, no essencial, mas não completamente,
no conjunto da China, em dois anos e meio ou três anos, a contar do atual
inverno. Não se trata senão de um plano aproximativo. Se for realizado, será
uma grande vitoria histórica do povo chinês e se poderá considerar que a
principal tarefa histórica da Revolução Chinesa terá sido resolvida, não muito
lentamente, mas bastante depressa.

Esse plano aproximativo é indispensável. Permite aos órgãos do poder


popular e às organizações populares das diversas regiões recentemente
libertadas que se preparem como é necessário e façam o que devem fazer.
Propomos que nas regiões onde se decidiu não realizar a reforma agrária este
ano, seja aplicada essa decisão. Se os camponeses tomam a iniciativa de
executar a reforma agrária, deve-se dissuadi-los disso. Nas regiões onde se
decidiu fazer a reforma agrária no atual inverno, deve-se concentrar todos os
esforços no trabalho preparatório do verão e do outono para que se possa
empreender imediatamente areforma agrária após a colheita do outono e a
rápida entrega dos fornecimentos de cereais ao Estado. Alem disso, deve-se

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fazer tudo para terminar no essencial e de maneira satisfatória, no inverno desse


ano, a reforma agrária num território abrangendo uma população rural de 100
milhões de habitantes. Se, quando a reforma agrária começar, aparecerem, em
certas regiões, desvios e uma certa confusão, que não sejam suscetíveis de
serem liquidados rapidamente, será preciso paralisar a realização da reforma
agrária nessas regiões, a fim de corrigir esses desvios e de completar o trabalho
preparatório que permitirá realizar a reforma agrária no ano seguinte.

De um modo geral, em nosso futuro trabalho de realização da reforma


agrária, não se deverá deixar que se estabeleça a desordem e não se deverá
tolerar por muito tempo os desvios e a desordem onde quer que eles surjam,
sem combatê-los. A reforma agrária deve se realizar sob uma direção eficiente,
de um modo planificado e organizado, de pleno acordo com as leis e os decretos
promulgados pelo governo popular central e pelos órgãos populares do poder em
todos os escalões, bem como de acordo com os princípios, a política e as
decisões aprovados por esses órgãos. Considerando que nossa próxima reforma
agrária se realizará na mais ampla escala que a historia conhece, somente
nessas condições ela poderá corresponder aos interesses da imensa maioria do
povo.

Para que a próxima reforma agrária seja realizada de um modo dirigido e


organizado, o governo popular central deve promulgar a lei sobre a reforma
agrária e uma série de outros documentos. O Comitê Central do Partido
Comunista da China elaborou um projeto de lei sobre a reforma agrária que foi
submetido ao exame e a discussão do Comitê Nacional. Quando o projeto de lei
alcançar a aprovação unânime, será apresentado ao Conselho governamental
Popular Central, para ser ratificado e posto em vigor. Para facilitar a
compreensão do projeto de lei e das questões que se devera levar em conta por
ocasião da realização da reforma agrária, eu gostaria de esclarecer as questões
seguintes:

I — Por Que se Deve Realizar a Reforma Agrária?

A reforma agrária consiste em confiscar as terras dos grandes proprietários


de terras para distribuí-las entre os camponeses sem terra ou mal aquinhoados.
Assim, os grandes proprietários territoriais são suprimidos da sociedade como
classe e o sistema da grande propriedade baseado na exploração feudal é
substituído pelo sistema da propriedade camponesa. Uma reforma como essa é
realmente a mais grandiosa e a mais completa que a China conheceu durante
sua historia milenar.

Por que se deve realizar esta reforma?

Pode-se responder a essa pergunta em poucas palavras: porque o antigo


regime da propriedade territorial na China é extremamente irracional. Em geral
pode-se caracterizar do seguinte modo a antiga propriedade territorial na China:
os grandes proprietários territoriais e os camponeses ricos, que constituem
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menos de 10 por cento da população rural, possuíam cerca de 70 a 80 por cento


da terra, da qual eles se utilizavam para explorar barbaramente os camponeses.
Quanto aos camponeses pobres, trabalhadores agrícolas, camponeses médios e
outros que constituíam 90 por cento da população rural, não possuíam mais de
20 a 30 por cento da terra. Sacrificando-se o ano inteiro, apenas ganhavam para
mal se alimentarem. Desde há uns dez anos, após a guerra anti-japonesa e a
guerra de libertação nacional, essas condições se modificaram um pouco. Com
exceção das regiões onde a reforma agrária já se realizou, em diversas regiões
como no Sechuan, por exemplo, a terra se concentrou ainda mais nas mãos dos
grandes proprietários territoriais, que possuem 70 a 80 por cento de toda a área.

Em outras regiões, como no curso médio e inferior do rio Yang-Tse, a terra foi
um pouco mais dividida. Segundo o recenseamento que fizemos ultimamente
numa serie de aldeias da China Oriental, Central e Meridional, pode-se
caracterizar a situação de maneira bastante esquemática, da seguinte forma: 30
a 50 por cento das terras pertencem aos grandes proprietários territoriais e à
coletividades; 10 a 15 por cento, aos camponeses ricos; 30 a 40 por cento, aos
camponeses médios, pobres e trabalhadores agrícolas; 3 a 5 por cento a pessoas
que cedem em arrendamento pequenos lotes de terra.

As terras arrendadas nas regiões rurais constituem cerca de 60 a 70 por


cento da superfície. Perto de 3 a 5 por cento são entregues em arrendamento
pelos camponeses ricos que cultivam, por sua própria conta, cerca de 10 por
cento.

Isto mostra que 90 por cento da terra são cultivados pelos camponeses
médios, pobres e uma parte dos trabalhadores agrícolas; eles não possuem
senão uma parcela da terra e a grande maioria das terras não lhes pertence.
Essa situação é ainda muito grave.

Esta e a razão por que nosso país se tornou um objeto de agressão e de


opressão, e se converteu num país pobre e atrasado. Este é também o principal
obstáculo à democratização, à industrialização, à independência, à unidade e ao
progresso de nosso país. Se não mudarmos, essa situação será impossível
consolidar a vitoria da revolução popular chinesa, libertar as forças produtivas
das regiões rurais, industrializar a nova China, e o povo não poderá gozar os
principais resultados da vitoria da revolução.

Mas, para mudar essa situação, devemos fazer o que está previsto no artigo
primeiro do projeto de lei sobre a reforma agrária:

"O sistema de propriedade e de exploração feudal da terra pela classe


dos latifundiários será abolido, sendo instituído o sistema da posse da
terra pelos camponeses a fim de liberar as forças produtivas rurais,
desenvolver a produção agrícola e preparar o caminho para a
industrialização da nova China".

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Justamente partindo dessa razão principal e,tendo em vista esse objetivo


principal, é que devemos realizar a reforma agrária. Há muito tempo que o Dr.
Sun Yat-sen lançou a palavra de ordem da "igualdade dos direitos à propriedade
da terra", e mais tarde, de "a terra aos que a trabalham!". A industrialização da
China deve-se apoiar num amplo mercado nas regiões rurais da China e será
impossível industrializar a nova China, sem uma reforma agrária completa. Isto é
absolutamente claro e não necessita de grandes explicações.

Na situação atual, deve-se ainda explicar a razão principal e o objetivo


principal da reforma agrária, para mostrar o caráter errôneo dos diversos
argumentos lançados contra a reforma agrária, das dúvidas levantadas a respeito
de sua justeza e dos motivos invocados para justificar a existência da classe dos
latifundiários. Na atualidade, encontram-se ainda objeções e dúvidas em relação
à reforma agrária.

De acordo com essa razão principal e esse objetivo principal da reforma


agrária, compreende-se que os crimes cometidos no passado pela classe dos
latifundiários têm suas raízes no antigo sistema social. Os latifundiários serão em
conjunto privados apenas de suas propriedades feudais e serão liquidados como
classe social, mas não serão destruídos fisicamente. Aqueles que os tribunais
populares devem condenar à pena de morte ou à prisão, os déspotas locais que
cometeram crimes e graves atos ilegais, bem como os elementos criminosos que
são adversários encarniçados da reforma agrária, não passam de uma ínfima
minoria. Por isso, o projeto de lei sobre a reforma agrária prevê que, após a
confiscação da terra e dos outros meios de produção dos latifundiários, estes
últimos receberão como todo o mundo, uma certa quantidade de terra e de
outros meios de produção, para que possam viver de seu trabalho e se reeducar
pelo trabalho. Após um longo período de trabalho, os latifundiários podem se
reeducar e se tornar homens novos.

Esse modo de compreender a razão principal e o objetivo principal da


reforma agrária tem como único objetivo melhorar a situação dos camponeses
pobres. O Partido Comunista sempre lutou em defesa cios interesses dos
camponeses trabalhadores, mas as idéias dos comunistas se distinguiram
sempre das dos filantropos. Os resultados da reforma agrária são proveitosos
para os camponeses trabalhadores pauperizados. Esses resultados podem ajudar
os camponeses a resolver em parte o problema de sua miséria. Contudo o
objetivo principal da reforma agrária não é somente aliviar a situação dos:
camponeses pobres. Ela tem por objetivo libertar as forças produtivas da
agricultura, ou mais precisamente: libertar os trabalhadores do campo, a terra e
os demais meios de produção, das cadeias do sistema da grande propriedade
feudal, para favorecer o desenvolvimento da produção agrícola e abrir caminho
para a industrialização da China. O problema da miséria dos camponeses não
será definitivamente resolvido a não ser quando a produção agrícola for
consideravelmente desenvolvida, quando a nova China for industrializada,
quando o nível de vida do povo de todo o país for elevado e quando a China
marchar finalmente pelo "caminho do desenvolvimento socialista. A reforma

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agrária, por si só, pode resolver apenas o problema da miséria dos camponeses
parcialmente e não de maneira completa.

A razão principal e o objetivo principal da reforma agrária são determinados


pelas necessidades da produção. Por conseguinte, cada passo para a frente na
realização da reforma agrária deve levar em conta o desenvolvimento da
produção agrícola e ser feito em ligação estreita com esse desenvolvimento.
Partindo justamente dessa razão principal e desse objetivo principal é que o
Comitê Central do Partido Comunista da China propõe que, na futura realização
da reforma agrária, sejam mantidas as explorações dos camponeses ricos. Não
se deve suprimir as explorações dos camponeses ricos. Isto se explica pelo fato
de que a existência das explorações de camponeses ricos e seu desenvolvimento
dentro de certos limites é favorável ao desenvolvimento da economia nacional de
nosso país. Por isso ela é também favorável às amplas massas do campesinato.

São estas, resumidamente as minhas explicações sobre as razões da reforma


agrária.

II — Confiscação e Requisição da Terra

DE acordo com o projeto de lei sobre a reforma agrária, são as seguintes as


terras sujeitas à confiscação e à requisição:

1. — as terras dos latifundiários;


2. — as terras pertencentes aos santuários dos antepassados, aos
templos, mosteiros, igrejas, escolas, administrações e demais terras
pertencentes à coletividades, nas regiões agrícolas;
3. — as terras das regiões rurais que pertencem a industriais e
comerciantes;
4. — as terras das pessoas de outras profissões ou que, não
empregando mão de obra, dão em arrendamento lotes que
ultrapassam em superfície ao dobro do que cabe em media a cada
habitante na respectiva localidade, assim como as terras cedidas em
arrendamento pelos camponeses ricos quase latifundiários. Com
exceção desses casos a terra e os demais bens dos camponeses ricos
devem permanecer inteiramente invioláveis.

A terra e os demais bens pertencentes aos camponeses médios, aos


camponeses pobres, aos operários agrícolas e aos demais habitantes do campo,
devem permanecer invioláveis.

Nesse caso, permitimos que sejam arrendadas pequenas parcelas de terra


sem requisitá-las. Isto tem uma influencia levemente desfavorável para a
produção agrícola, mas essa influencia é ínfima porque, de acordo com nossos
cálculos, a quantidade global das terras arrendadas em pequenos lotes não
ultrapassará de 3 a 5 por cento da superfície cultivada. Alem disso, deve-se ter
em consideração a situação dos soldados do exercito revolucionário e das

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famílias dos heróis mortos na revolução, assim como a situação dos operários,
funcionários, intelectuais e outros cidadãos que dão em arrendamento pequenos
lotes porque exercem uma outra ocupação ou não têm mão de obra para cultivá-
los. Isso é necessário porque, na China, ainda não existe previdência social para
os desempregados e os inválidos. Alem do que, na maioria dos casos, esses lotes
de terra foram comprados por pessoas que os pagaram com o dinheiro ganho por
seu trabalho. Por isso, pode-se autorizar essas pessoas a manter os seus lotes de
terra e a continuar arrendando-os ou cultivando-os por sua conta.

No que diz respeito à terra e outros bens dos camponeses ricos, o artigo seis
do projeto de lei de reforma agrária estabelece:

Em primeiro lugar, toda a terra pertencente aos camponeses ricos e cultivada


por eles ou com a ajuda de uma mão de obra assalariada, assim como os outros
bens dos camponeses ricos são protegidos pela lei e devem permanecer
invioláveis. A economia dos camponeses ricos só pode ser mantida por esse
meio.

Em segundo lugar, todos os pequenos lotes de terra arrendados pelos


camponeses ricos devem ser por eles conservados e permanecerão invioláveis.
Contudo, em certas regiões particulares, uma parte da terra ou toda a terra dada
em arrendamento pelos camponeses ricos pode ser requisitada com a aprovação
das autoridades populares provinciais ou superiores.

A quantidade de terra arrendada, sob a forma de pequenos lotes, pelos


camponeses ricos, em seu conjunto, não é grande. E para neutralizar
efetivamente os camponeses ricos e proteger os camponeses médios e as
pessoas que dão em arrendamento pequenos lotes, deve-se deixar aos
camponeses ricos a propriedade dos lotes de terra que eles cedem em
arrendamento.

Todavia, em certas regiões particulares, a situação é diferente. As terras


cedidas em arrendamento pelos camponeses ricos alcançam dimensões
consideráveis e se não forem requisitadas, os camponeses pobres não poderão
receber a quantidade de terra necessária. Por isso, nessas regiões uma parte da
terra ou toda a terra cedida em arrendamento pelos camponeses ricos pode ser
requisitada com a aprovação das autoridades populares provinciais ou
superiores, a fim de resolver o problema agrário.

Em terceiro lugar, as terras dadas em arrendamento por alguns camponeses


ricos, que reservam a tal fim grandes superfícies, devem ser requisitadas. Assim
se o camponês rico dá em arrendamento mais terra do que ele próprio cultiva
sozinho ou com a ajuda de seus assalariados não é simples camponês rico, mas
um camponês rico do tipo quase latifundiário. Por isso, a lei agrária prevê que
nos lugares onde a superfície das terras dadas em arrendamento pelos
camponeses ricos do tipo quase latifundiário ultrapassa a superfície das terras
que cultivam sozinhos ou com a ajuda da mão de obra assalariada, essas terras
arrendadas devem ser requisitadas.
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Há também proprietários de terra que durante todo o ano se ocupam


essencialmente dos trabalhos agrícolas, cultivam um lote de terra, embora dando
em arrendamento a maior parte das terras que lhes pertencem. Deve ser tomada
em relação a eles uma atitude particular. Depois de um conveniente
regulamento, deve-se deixar-lhes a maior parte das terras que cultivam sozinhos
e confiscar o restante.

Os animais de tração, os aparelhos agrícolas, os cereais excedentes, e as


casas que eles possuem em excedente no campo devem ser confiscados ao
mesmo tempo que a terra. Os moveis serão também confiscados e distribuídos
juntamente com as casas, mas, se for necessário serão repartidos de uma outra
maneira. Por excedentes de cereais, entende-se o que sobra aos latifundiários,
acima de suas necessidades pessoais, depois do pagamento dos arrendamentos
e dos fornecimentos ao Estado. Por excedentes de casas, entende-se todas
aquelas de que o latifundiário e sua família não têm necessidade. Esses
excedentes de cereais, assim como as casas,, os moveis, os animais de tração,
os aparelhos agrícolas, devem ser confiscados ao mesmo tempo que a terra e
repartidos (deve-se contudo, deixar ou dar um lote de terra aos latifundiários).

Isto é necessário, porque se trata aqui de meios de produção agrícolas muito


importantes. Desde que os camponeses recebam a terra e antes mesmo de
poder dedicar-se ao trabalho, deverão receber também esses meios de produção.
É evidente que não basta repartir simplesmente entre os camponeses os meios
de produção que pertenciam aos latifundiários. Para resolver o problema da
produção agrícola, os camponeses devem por si mesmos trabalhar
obstinadamente, dar-se uma ajuda mutua. Deve ser determinada uma ajuda,
alem disso, da parte do governo.

Com exceção do que foi indicado acima, os outros bens dos latifundiários,
inclusive suas empresas industriais e comerciais, não devem ser confiscadas.
Evidentemente, durante longos anos de exploração, a maioria dos latifundiários
adquiriram muitos outros bens. Pela experiência dos anos passados, sabemos
que se esses bens dos latifundiários caem sob o golpe da confiscação e da
repartição eles os esconderão e dispersarão, e os camponeses serão obrigados a
procurá-los. Isto pode provocar facilmente a desordem, uma imensa quantidade
de riqueza social pode desaparecer e ser destruída. Por isso, é mais razoável
permitir aos latifundiários guardarem esses bens. Assim, eles poderão tirar seus
meios de existência ou utilizá-los na produção. Isto beneficiará, ao mesmo
tempo à sociedade. Em relação ao que se fez no passado, essa atitude para com
os latifundiários durante a realização da reforma agrária no futuro é muito mais
liberal.

Todavia, é possível que numerosos latifundiários oponham uma resistência


encarniçada à reforma agrária, que a sabotem. Talvez eles se oponham
decididamente também às medidas do governo popular e as sabotem. Nós
devemos punir severamente esses latifundiários reacionários; não devemos

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mostrar nenhuma tolerância em relação a eles, não devemos deixar-lhes


nenhuma liberdade de ação.

Alguns latifundiários recorrerão, durante e depois da reforma agrária, a atos


de sabotagem como à liquidação em massa dos animais de tração, à derrubada
das arvores, à destruição dos aparelhos agrícolas, das obras de irrigação, dos
edifícios, da colheita e dos móveis. As autoridades populares devem adotar
medidas precisas para combater esses atos.

Os latifundiários devem ser considerados responsáveis pela conservação dos


bens que permanecem em suas mãos. Alem disso, não devem destruir nem
esconder, nem dispersar, nem vender esses bens. Devem pagar uma multa ou
serem punidos por qualquer infração a esses regulamentos, assim como devem
ser punidas todas as pessoas culpadas de participarem da destruição desses
bens.

III — Conservação das Explorações dos Camponeses Ricos

OS diferentes dispositivos do projeto de lei sobre a reforma agrária relativos


à terra e aos demais bens dos camponeses ricos, têm por objetivo manter as
explorações dos camponeses ricos e durante a reforma agrária, neutralizar
politicamente os camponeses ricos, proteger ainda melhor os camponeses
médios e as pessoas que dão em arrendamento pequenos lotes de terra, a fim
de isolar desse modo a classe dos latifundiários, reunir o conjunto do povo para a
realização da reforma agrária e liquidar de maneira sistemática o regime feudal.
Por que, anteriormente durante a reforma agrária, permitíamos aos camponeses
requisitar as terras e os bens excedentes dos camponeses ricos e por que,
atualmente, queremos manter no decurso da próxima repartição da terra, as
explorações dos camponeses ricos? Em primeiro lugar, porque a situação política
e militar mudou bastante.

Anteriormente (passaram-se apenas dois anos desde então), as forcas


revolucionárias do povo e as forças da contra-revolução, desenvolviam ainda
entre elas uma guerra encarniçada. As forças populares se achavam então numa
situação relativamente pior e o desenlace da guerra ainda não era claro. Naquele
momento, os camponeses ricos não acreditavam ainda que o povo pudesse
triunfar e continuavam a se voltar para o lado dos latifundiários e de Chiang Kai-
Shek, eram contra a reforma agrária e contra a guerra revolucionaria popular.

Por outro lado, a guerra revolucionaria popular exigia dos camponeses que
aceitassem grandes sacrifícios em efetivos (soldados) que cumprissem as
entregas de cereais ao Estado e que garantissem, pelo seu trabalho, a guerra e a
luta pela vitoria. A luta pela vitoria militar era o objetivo principal do povo chinês
e tudo devia a isto se subordinar. Somente nessas circunstancias, é que
autorizamos aos camponeses requisitar as terras e os bens excedentes dos
camponeses ricos e confiscar todos os bens dos latifundiários para satisfazer em
certa medida às exigências dos camponeses necessitados, para fazer com que os
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camponeses participassem com o maior entusiasmo revolucionário da guerra


popular de libertação, para que contribuíssem para a liquidação do regime de
Chiang Kai-Shek, sustentado pelo imperialismo americano.

Naquela época, era necessário e justo, pois se uma reforma agrária radical
não fosse realizada nas regiões libertadas, e se as reivindicações dos
camponeses mais pobres não fossem inteiramente satisfeitas, teria sido difícil
superar todas as dificuldades que surgiram.

A situação atual difere especialmente da situação passada. A guerra


revolucionaria do povo terminou em suas grandes linhas no continente e não
resta a menor dúvida de que o bando de salteadores de Chiang Kai-Shek está
fadado a um fim inevitável. Os dois pesados encargos que recaiam sobre os
camponeses: serviço militar e obrigação de trabalhar para as necessidades
públicas foram abolidas no conjunto e o fardo do fornecimento de cereais ao
Estado foi um pouco suavizado.

No momento atual o povo de todo o nosso país tem por tarefa essencial
concretizar a edificação econômica, reerguer e desenvolver a economia nacional.
A luta pela posse de Taiwan (Formosa) continua a ser uma tarefa muito
importante, mas o exercito popular de libertação é suficientemente forte para
executá-la. As dificuldades que defrontamos neste momento, diferem, por seu
caráter, daquelas com que nos defrontamos, no passado, durante a guerra. São,
em sua maior parte dificuldades de ordem financeira e econômica, que surgiram
durante o reerguimento, a transformação e o desenvolvimento da economia.

Ao mesmo tempo, cimentou-se, no plano político e de organização uma


grande unidade revolucionaria de todas as nacionalidades, de todas as classes
democráticas, de todos os partidos e grupos democráticos, de todas as
organizações populares democráticas do país. Deve-se observar alem disso, que
certas modificações se verificaram na atitude política dos camponeses ricos.

A execução pelo governo popular, de uma política de manutenção das


propriedades dos camponeses ricos, permitirá, no conjunto, neutralizar estes
últimos e será possível, dessa forma, proteger de modo mais eficaz os
camponeses médios e fazer desaparecer entre os camponeses, no período do
desenvolvimento da produção, a uma agitação inútil. Eis por que, na situação
atual, é preciso adotar no plano político e econômico uma política que vise
manter as propriedades dos camponeses ricos por ocasião da próxima reforma
agrária. Essa política será relativamente vantajosa para o país e para o povo e
será vantajosa porque permitirá superar as dificuldades econômicas e financeiras
atuais.

No período compreendido entre julho de 1946 e outubro de 1947, em


numerosas regiões da China do Norte, de Shantung e do Nordeste da China as
massas camponesas e nossos militantes no campo não puderam, ao realizar a
reforma agrária, seguir as diretivas publicadas a 4 de maio de 1946 pelo Comitê

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Central do Partido Comunista da China, diretivas que mandavam considerar


como invioláveis, no essencial, a terra e os bens dos camponeses ricos.

Procederam à sua maneira e confiscaram a terra e os bens dos camponeses


ricos, assim como dos latifundiários. Isso é bastante compreensível. Tais fatos,
sucederam porque se passaram no período da mais encarniçada luta entre o
povo chinês e a reação do Kuomintang. Foi justamente nesse período que se
verificou o maior numero de desvios na realização da reforma agrária, que os
interesses de parte dos camponeses médios foram frustrados, que a industria e o
comercio ficaram em parte desorganizados nas zonas rurais e que se
registraram, em certas regiões, espancamentos e execuções indiscriminadas.

Em seu conjunto, esses fatos refletiam a tensão da situação política e militar


do momento, assim como a falta de experiência da maioria dos militantes do
campo na realização da reforma agrária. Eles não souberam determinar, de
maneira justa, a situação de classe nas zonas rurais e, em muitos casos,
cometeram o erro de colocar os camponeses ricos entre os latifundiários e os
camponeses médios entre os camponeses ricos.

Foi por isso que, a 10 de outubro de 1947, o Comitê Central do Partido


Comunista da China publicou o programa de lei sobre a reforma agrária,
programa que traça uma linha de demarcação entre os camponeses ricos e os
latifundiários, mas que permite a requisição dos excedentes de terra e de bens
dos camponeses ricos.

No inverno desse mesmo ano o Comitê Central do Partido Comunista da


China publicou um documento que assinalava as diferenças na situação de classe
nas zonas rurais. O presidente Mao Tse-tung publicou uma declaração sobre a
situação atual e nossas tarefas e o camarada Jen Pi Shi pronunciou um discurso
a propósito da reforma agrária.

Daí por diante as manifestações de desordem cessaram nas zonas rurais e a


reforma agrária entrou por um bom caminho.

É preciso chamar a atenção para o estudo da experiência dos anos


precedentes, a fim de que nossos camaradas não se esqueçam dos erros
passados quando estiverem trabalhando na realização da reforma agrária nas
regiões recentemente libertadas.

No momento atual nós nos encontramos em condições inteiramente novas, e


é absolutamente necessário, nos termos da lei que propomos sobre a reforma
agrária, adotar uma política de abolição do regime feudal e de manutenção da
economia dos camponeses ricos.

Não é preciso dizer que a política de manutenção das propriedades dos


camponeses ricos, por nós adotada, não é uma política provisória, mas uma
política de longo prazo. Em outras palavras, as propriedades dos camponeses
ricos serão mantidas durante todo o período da nova democracia. A necessidade

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06/03/23, 21:18 A Reforma Agrária na China

de manter as propriedades dos camponeses ricos não se fará sentir senão


quando estiverem amadurecidas as condições para a utilização ampla de
maquinas na agricultura, para a organização de fazendas coletivas e para a
reforma socialista nas regiões agrícolas, mas isso exigirá tempo bastante longo.

Eis por que defendemos atualmente uma política de manutenção das


explorações dos camponeses ricos.

É claro que nas regiões onde a reforma agrária já foi concluída, não será
permitido aos camponeses ricos aproveitar-se dessa situação, para apoderar-se,
novamente, das terras distribuídas aos camponeses, e se tais tentativas
ocorrerem, deve-se pôr-lhes termo, com a maior energia.

IV — Algumas Questões Relativas à Distribuição das


Terras

NO que concerne à distribuição de terras é preciso esclarecer, em primeiro


lugar, que a distribuição se faz pela redução de certos domínios, pelo aumento de
outros e por meio de uma revisão apropriada, levando-se em conta as dimensões
das terras pertencentes aos proprietários territoriais e os interesses destes
últimos. A divisão da terra, efetuada sobre esta base permitirá evitar mudanças
exageradas e inúteis na posse de lotes de terra e será útil à produção.

No caso em que as terras tomadas em arrendamento pelos lavradores sejam


incluídas no conjunto das terras destinadas a serem repartidas, será necessário
levar em conta os interesses desses lavradores. É preciso que a terra entregue
ao lavrador, acrescentada à sua própria, se ele possui alguma, constitua, no
total, uma extensão pouco maior do que os lotes entregues aos camponeses sem
terra ou proprietários de pequenas extensões de terra, por ocasião da
distribuição. Assim, em principio, esses lavradores terão uma quantidade de terra
igual, em média, àquela que cabe a cada pessoa da localidade em questão. A
requisição de uma parte excessivamente grande da terra arrendada pelos
lavradores, poderia causar-lhes um prejuízo, enquanto que se procedermos com
relação a eles da maneira acima indicada eles não sofrerão mais do que um
prejuízo insignificante, ou mesmo nenhum prejuízo. E isso é necessário.

Alem disso, depois da reforma agrária, restará ainda uma certa quantidade
de terra a ser arrendada. Essa terra poderá ser dada em arrendamento, a titulo
de complemento ou de compensação, aos lavradores cujos bens tiverem sido
muito reduzidos.

Os melhores lotes de terra pertencentes aos lavradores não devem ser


reduzidos, ou sê-lo apenas ligeiramente. A experiência demonstra que os
lavradores ficam satisfeitos quando se adota essa atitude justa com relação a
eles.

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Os lavradores ficarão muito satisfeitos porque a terra que arrendavam de


outros, tornar-se-á de sua propriedade. Não mais terão necessidade de pagar o
arrendamento e de se humilhar diante do latifundiário; sua situação social
melhorará, eles receberão terras e viverão melhor.

Por ocasião da distribuição da terra e de outros meios de produção, dever-


se-á examinar, de maneira adequada, certos problemas específicos que surgem
diante dos habitantes das regiões agrícolas que tem pequenas extensões de terra
ou não têm nenhuma terra. Se as condições locais o permitirem, dever-se-á
conceder mais terra a certas categorias de pessoas, por exemplo, aos
camponeses solteiros mais pobres e às mais pobres famílias de dois membros.

Determinadas pessoas, tais como os artesãos rurais, os pequenos


comerciantes, os intelectuais e suas famílias, os funcionários dos serviços
administrativos do governo popular e das organizações populares que recebem
salários, mas cujas famílias vivem no campo, e outras pessoas que moram
noutro lugar, mas cujas famílias se encontram no campo, podem receber menos
terra ou não receber nenhuma. As pessoas que têm rendas suficientes para viver
não devem receber terra; mas as pessoas que têm rendas irregulares ou
insuficientes para viver, podem receber lotes de terra que, por suas dimensões,
podem ser menores que os lotes ordinários dos camponeses.

A fim de dar uma justa solução a esses problemas, é preciso levar em conta
as condições concretas da aldeia em questão e a situação de cada pessoa, e as
decisões concretas devem ser tomadas por meio de consultas e discussões com
os camponeses e as pessoas interessadas.

As famílias dos combatentes que tombaram na luta pela causa da revolução,


e das quais se trata no projeto de lei sobre a reforma agrária compreendem os
parentes diretos mais próximos dos combatentes mortos durante as diferentes
revoluções depois da revolução de 1911, durante a guerra anti-japonesa e a
guerra de libertação nacional. O combatente morto deve ser considerado como
um membro da família e seu lote de terra deve ser atribuído à sua família como
uma forma de compensação. Isso tem uma importância primordial.

Os desempregados e suas famílias, que regressam ao campo munidos de


certificados da municipalidade, de outras autoridades populares ou dos
sindicatos, devem receber um lote de terra e outros meios de produção, da
mesma forma que os camponeses, se eles pedirem terra, se são aptos ao
trabalho do campo e se as condições locais o permitirem. Assim, será resolvido o
problema de uma parte dos desempregados, o que é vantajoso para a sociedade.

Os monges, as freiras e os padres das regiões rurais, os latifundiários, as


outras pessoas que colaboraram com o inimigo e fugiram, mas regressaram às
aldeias, e os membros de suas famílias, devem ser também beneficiados com
um lote de terra e outros meios de produção, em condições de igualdade com os
camponeses — se não têm outro meio de existência, se são capazes de trabalhar
na agricultura e se são capazes de fazê-lo. Em caso contrario, se transformarão
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em vagabundos sem trabalho, perturbarão a ordem publica e se tornarão


elementos nocivos à sociedade.

A titulo de punição, não deve ser concedida terra àqueles que possuem casas
no campo mas que o governo popular qualificou de colaboracionistas, de
traidores, de criminosos de guerra e de contra-revolucionários, que são culpados
dos mais graves crimes, assim como os criminosos que tenham sabotado
sistematicamente a reforma agrária. Alem dessas pessoas que foram
identificadas, existem outros elementos que também devem ser identificados
durante a realização da reforma agrária. Os organismos populares locais devem
levar a efeito uma investigação minuciosa e examinar o seu passado.

Os organismos do poder popular local terão por tarefa, fazer com que, sem
demora, seus funcionários estabeleçam um controle sobre a terra e os outros
bens que, nos termos do projeto de lei sobre a reforma agrária, devem ser
nacionalizados ou que não têm proprietário, a fim de evitar a destruição ou a
dilapidação desses bens.

Se as pessoas incluídas nas categorias acima citadas podem utilizar essa


terra e se, provisoriamente, o Estado não tem necessidade delas, os antigos
proprietários podem continuar gozando da sua posse, mas não têm o direito de
arrendá-la, vende-la ou deixá-la abandonada. Se eles não têm necessidade
dessa terra, esta deve ser devolvida ao Estado.

Os organismos do poder popular local devem munir-se de pessoal necessário


para exercer o controle dos lugares históricos e pitorescos, assim como dos
monumentos e objetos históricos, se os mesmos estiverem sem conservação e
se necessitam de cuidados para prevenir a sua destruição.

Eis aí o que se tornava necessário esclarecer a propósito de certas questões


relativas à distribuição da terra.

V — Alguns Pontos Que Devem Merecer Atenção Durante a


Reforma Agrária

A reforma agrária é uma luta sistemática e encarniçada. Nossa principal


orientação na realização da próxima reforma agrária deve ser a seguinte: apoiar-
se nos camponeses pobres e nos operários agrícolas, estabelecer aliança com os
camponeses médios, neutralizar os camponeses ricos, destruir progressivamente
o regime de exploração feudal e desenvolver a produção agrícola.

São principalmente as associações camponesas que devem preparar e


realizar a reforma agrária. As conferências camponesas em todos os escalões, os
comitês das associações camponesas e as conferências dos representantes do
povo em todos os escalões devem servir de centros na execução da reforma
agrária. Com o auxilio dos quadros enviados pelas autoridades superiores para a

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realização da reforma agrária nas regiões rurais, os camponeses ativos e


conscientes devem ser a força principal na aplicação dessa reforma.

Nas diferentes províncias onde se faz a reforma agrária, os órgãos dirigentes


superiores, devem se pôr em ligação telefônica com as regiões rurais e manter
um estreito contato com os órgãos inferiores. Elementos responsáveis e brigadas
de inspeção devem ser enviados, por todos os órgãos, aos órgãos inferiores
correspondentes, para dirigir praticamente o movimento.

É preciso elaborar antecipadamente as medidas a serem tomadas e os planos


da reforma agrária desde o "hsiang" indo até em cima, medidas e planos que
serão aplicados depois da aprovação dos órgãos superiores. Em caso de surgir
um problema qualquer que não seja de competência do órgão inferior, este deve
pedir a orientação do órgão superior. O órgão superior deve enviar
imediatamente alguém para ajudar na solução desse problema. É preciso, antes
de mais nada, resolver as questões de maior importância, aquelas que estão
maduras para serem resolvidas, que se tornaram claras e que atingem a maioria
do povo.

Os problemas que não foram ainda devidamente esclarecidos, ou a propósito


dos quais existam divergências de pontos de vista, aqueles que interessam a
uma minoria de pessoas, devem ser solucionados mais tarde, de modo a impedir
que os problemas complexos, que atingem uma minoria não dificultem a solução
daqueles que interessam à maioria.

Tais são os pontos que devem ter constantemente no pensamento todos


aqueles que dirigem a realização da reforma agrária.

Antes de proceder à execução da reforma agrária em suas linhas essenciais,


os organismos dirigentes dos distritos e os organismos superiores devem ensaiar
medidas em certos "hsiangs", a fim de adquirir uma experiência que possa ser
utilizada na formação de quadros e na direção da reforma agrária.

É indispensável fiscalizar a pureza da direção das associações camponesas


em todos os escalões. Onde essa pureza for maculada, é necessário mobilizar as
massas para elegerem uma nova direção. Nesse caso, a expressão "pureza" não
quer dizer afastar os trabalhadores agrícolas, os camponeses pobres ou médios
que tenham cometido qualquer falta e eliminá-los, por isso, das associações. Ao
contrario, é preciso levá-los a fazer parte das associações, educá-los e organizá-
los. A expressão "pureza" quer dizer, nesse caso, que é preciso não permitir a
entrada dos latifundiários, dos camponeses ricos e seus agentes nas associações
camponesas, e muito menos permitir-lhes o acesso aos postos de direção nessas
associações.

Os principais dirigentes das associações camponesas devem ser eleitos entre


os camponeses pobres e os trabalhadores agrícolas. Entretanto, é necessário
estabelecer uma verdadeira aliança com o camponês médio e, em primeiro lugar,
proteger sua terra e seus bens, inclusive a terra e os bens de camponeses

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médios, abastados, contra qualquer atentado. Ao mesmo tempo, devem ser


levados à direção das associações camponesas, os camponeses médios que se
mostram ativos. Deve ser previsto que um terço da direção das associações
camponesas, em todos os escalões, deve ser constituído de camponeses médios.
Tal coisa é absolutamente necessária. Nenhuma associação de camponeses
pobres deve ser criada à margem das associações camponesas. Não se deve,
igualmente, organizar sindicatos no campo.

Pode-se convocar, nas associações camponesas, reuniões de camponeses


pobres, de trabalhadores agrícolas, de artesãos ou de seus representantes para
discutirem as questões que lhes dizem respeito. Entretanto, os representantes
dos camponeses médios devem ter acesso a essas reuniões.

As associações camponesas devem se empenhar em atrair para suas fileiras


as mulheres das famílias camponesas, fazendo participar as mais ativas da
direção das associações. Deve-se convocar nas associações camponesas reuniões
de mulheres eu reuniões das suas representantes para defender os direitos
sociais da mulher e discutir todos os problemas que lhes dizem respeito.

As associações camponesas devem atrair para suas fileiras, os camponeses


pobres, os intelectuais revolucionários e os outros trabalhadores, das zonas
rurais. Alem disso, as associações camponesas devem congregar, numa frente
anti-feudal única, todos os elementos que são contrários ao feudalismo mas que
não fazem parte dessas associações, inclusive a parte esclarecida da pequena
nobreza que apoia a reforma agrária, para uma luta em comum contra o sistema
de exploração feudal.

As autoridades populares devem convocar os camponeses ricos do lugar,


fazê-los tomar conhecimento da política do governo e explicar-lhe a atividade
das associações camponesas, a fim de dissipar as suas duvidas. As autoridades
populares devem igualmente convocar os latifundiários, expor-lhes a sua política
e falar-lhes, dos decretos do governo para que eles possam compreender a
significação e os métodos da realização da reforma agrária.

É preciso preveni-los, alem do mais, de que não devem resistir nem se


entregar à atividades de sapa, mas aplicar lealmente os decretos do governo
popular e as decisões das associações camponesas. Nesse caso o governo
popular adotará, com relação a eles, uma atitude liberal.

Apenas os latifundiários, os agentes secretos e os elementos contra-


revolucionários que se propõem resistir e desenvolver uma atividade de sapa,
devem ser esmagados sem piedade, e qualquer resistência de sua parte deve ser
esmagada em tempo.

Durante a reforma agrária, deve ser feito um amplo trabalho de


esclarecimento, não apenas nas zonas rurais, como também entre todas as
camadas da população urbana e nas unidades do exercito de libertação popular.
A política de reforma agrária e os decretos do governo popular devem ser

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explicados aos operários, aos estudantes, aos funcionários, aos industriais, aos
comerciantes, aos oficiais e aos soldados das forças armadas, a fim de fazê-los
compreender a reforma, para despertar sua simpatia, com relação aos
camponeses e não aos latifundiários, e para levá-los a ajudar os camponeses. É
ainda mais importante impedi-los de defender, os latifundiários em geral, assim
como aqueles que sejam seus parentes ou amigos. É preciso dizer a esses
latifundiários, que, se não querem estar sujeitos a punição devem respeitar
lealmente as leis do governo popular e as decisões das associações camponesas
e que não devem resistir nem se entregar a atividades de sapa.

Esse é também um elemento de grande importância na organização da


frente única contra o feudalismo.

Deve-se fazer com que participem da reforma agrária os quadros de todos os


partidos e grupos democráticos, os membros do ensino e os outros elementos
democráticos das cidades desejosos de participar desse trabalho. Não serão
obrigados a abandonar por isso seu país natal. Esse trabalho será para eles, bem
como para as massas camponesas, uma prova útil e uma boa escola.

Devem ser criados tribunais populares para reprimir e punir em tempo os


que resistem e realizam atividade de sapa, os déspotas, os agentes secretos, os
elementos contra-revolucionários e os latifundiários, e para examinar as
acusações que os camponeses levantarão contra eles durante a reforma agrária.

Antes de se pronunciar os tribunais populares devem levar perante os


tribunais ordinários e os órgãos de segurança publica, as causas criminais e
cíveis comuns e sobretudo aquelas que são complicadas e exigem um exaustivo
exame; isso lhes permitirá concentrar sua atenção sobre as violações da lei
durante a realização da reforma agrária e sobre a manutenção da ordem
revolucionaria nas regiões rurais.

Os tribunais populares devem funcionar de acordo com as regras


promulgadas pelo governo, não devem julgar criminosos a seu bel prazer. Com
exceção aos tribunais populares e dos serviços de policia, nenhuma organização
ou instituição deve prender nem julgar os criminosos ou examinar sua conduta
passada. Os órgãos populares do poder em todas as escalas devem ajudar a
reforçar e a formar quadros para os tribunais populares, a fim de que estes
possam executar a tarefa que lhes cabe. Em caso contrario pode acontecer que,
durante a reforma agrária, não estejamos em condições de manter a ordem
necessária.

A definição da situação de classe nas regiões agrícolas é um trabalho


complexo e extremamente importante durante a reforma agrária. Os órgãos
dirigentes em todas as escalas devem tratar dele seriamente, de acordo com as
decisões tomadas pelo governo popular central. Deve-se dar demonstração de
uma grande prudência, ao definir a situação de classe dos latifundiários, pois isto
leva à confiscação de suas terras e dos demais meios de produção.

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Mas a situação de classe da maioria da população das regiões rurais é


perfeitamente clara e pode ser facilmente determinada sem grandes divergências
de opiniões. A situação de classe deve ser determinada em primeiro lugar. Se a
situação de classe de um pequeno numero de pessoas não é clara, se é difícil
determiná-la e se existem divergências de opiniões, poderá ser determinada
mais tarde, depois de um estudo sério e de uma consulta às autoridades
superiores. Não deve haver pressa na determinação da situação de classe dessas
pessoas, pois arrisca-se a cometer erros que provocarão seu descontentamento.
Em resumo, não se deve cometer erros ao determinar a situação de classe, e, se
um erro qualquer foi cometido, deve-se corrigi-lo.

O melhoramento do estilo de trabalho de nossos quadros e sobretudo a


liquidação do autoritarismo, aí está a chave da boa execução dessas tarefas,
alem de outras, dentro da reforma agrária. O movimento pela reeducação já
tomou vulto em numerosas regiões. Se o estudo da reforma agrária for bem
conduzido, penso que a reforma agrária de grande amplidão que se prepara será
realizada sem duvida de um modo organizado e sistemático, com a devida
perspicácia e de acordo com as leis e decretos do governo popular central. A
realização da reforma agrária criara as condições necessárias para o
melhoramento radical da situação financeira e econômica do nosso país. Além
disso, a reforma permite organizar no plano político, as amplas massas
camponesas. Nosso país e nosso governo popular tornar-se-ão assim mais
vigorosos e mais unidos do que nunca.

Este é o meu informe sobre a questão da reforma agrária. Espero que todos
os camaradas o discutam.

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"O povo chinês é valente e corajoso, o Partido Comunista da China é um partido


valente e corajoso e libertarão para sempre a China das cadeias do
imperialismo". — MAO TSE-TUNG. (1948).

Inclusão 21/10/2009
Última alteração 23/02/2015

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