CESAD Semantica e Pragmatica Aula 5
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AS SUTIS (IM)PROPRIEDADES DO
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‘SIGNIFICAR’ COM AS PALAVRAS
META
Delinear um quadro com alguns dos fenômenos semânticos mais difundidos nos manuais voltados
para a discussão do significado, a partir da apresentação de suas principais características e de seus
exemplos mais recorrentes.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
identificar as principais características de cada um dos fenômenos estudados;
diferenciar os fenômenos trabalhados, destacando sua importância para os estudos linguísticos;
reconhecer em que medida os conceitos tratados podem desvelar para o home a sua capacidade
de ‘intuir’ e refletir sobre a linguagem.
PRÉ-REQUISITOS
A condição para um bom relacionamento com esta aula é exatamente o dobro de atenção para cada
uma de suas assertivas e definições. Por que isso? Ora, porque trabalharemos com muitos conceitos
distintos, de especificidades diversas, mas que, contraditoriamente, podem confundir você.
Semântica e Pragmática
INTRODUÇÃO
Olá!
Nas aulas anteriores, trabalhamos a problemática do significado à luz
de diferentes tipos de Semântica. Logo, aludimos aos principais conceitos
subjacentes a cada uma das correntes tratadas, fizemos exercícios, refleti-
mos sobre as particularidades dos fenômenos estudados, não foi? Agora,
reservamos um espaço para conversarmos sobre conceitos ainda mais cor-
riqueiros nos livros de Semântica, entre os quais destacamos: sinonímia,
antonímia, paráfrase, dêixis, anáfora e outros.
Como a variedade de conceitos é grande, faremos aproximações entre
alguns deles a partir do tipo de seleção que costuma ser feita nos manuais
didáticos, ok? Nossa alegria será a sua satisfação. Boa aula!
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As sutis (Im)propriedades do ‘significar’ com as palavras
Aula
Não só é melhor, dizemos que é mais adequado usar essa última forma, sim?
Mas não seriam palavras sinônimas? Sim, mas quem disse que isso dispensa
a adequação? Bem, outras vezes, reconhecemos como uma mesma palavra
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pode se revestir de diferentes significados, em contextos diferentes. Eis o
que caracteriza a polissemia, por exemplo.
Mas, deixemos de tanta conversa, para nos centrarmos naquilo a que
nos propomos há pouco: fenômenos e/ou propriedades semânticas de que
nos valemos no dia-a-dia para expressarmos os mais diferentes significa-
dos. Como dissemos, focaremos nosso olhar para conceitos que aparecem
nos manuais dedicados aos estudos semânticos. Comecemos, pois, pela
definição do fenômeno da sinonímia, já que foi o primeiro a que aludimos
acima. Vamos lá!
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Semântica e Pragmática
Com base no que diz Ullmann, Oliveira (2008) afirma que, mesmo
quando os sinônimos são muito próximos, essa coexistência não perdura,
exatamente porque isso representaria uma redundância, tornando dispen-
sável uma das formas. Assim, teríamos o desaparecimento de uma delas
ou uma mudança de sentido para outra.
Para Dubois et al (1998), podemos falar de sinonímia em termos de grau
e ela “tornar-se-á, assim, simplesmente a tendência das unidades de léxico
de terem o mesmo significado e de serem substituíveis uma pela outra. A
sinonímia pode, então, ser completa ou não, total ou não”. (DUBOIS et
al, 1998, p. 555).
Do que afirmam esses autores, convém chamarmos a atenção para uma
palavrinha especial: substituição. Isso porque uma tarefa bastante importante
entre os semanticistas e lexicógrafos consiste na delimitação dos sinônimos
e, para darem conta dessa atividade, recorrem quase sempre à substituição
de um sinônimo por outro em contextos distintos. Ou seja, por meio da
substituição, esses estudiosos buscam reconhecer em que medida podemos
usar uma palavra e não em outra em determinados momentos. Basta que
nos lembremos, aqui, do exemplo das tetas, não é mesmo?
Ora, podemos dizer que alguém tem a mama grande ou o seio grande
e isso não causar estranhamento, mas dizer que uma colega da faculdade
fez um exame de teta como forma de prevenção do câncer pode levantar
a suspeita de que estamos ironizando com essa moça e nosso intuito seria
agredi-la, atribuindo-lhe característica de vaca (há pessoas que gostam,
porque esse é o animal sagrado da China – rs), que têm tetas.
Comentários à parte, porque essa seria apenas uma interpretação pos-
sível, o falante bem sabe quando deve empregar uma ou outra forma e
isso acontece de forma automática, intuitiva. Há, sempre, a consideração
de um contexto X.
Ilari e Geraldi (2006) falam que há a “busca da palavra certa”, ante o
conjunto de possibilidades que se apresenta ao usuário para a sua escolha.
Sobre esse peculiar, parece-nos oportuno dar destaque às seguintes palavras
dos autores:
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Uma olhada rápida para essas sentenças já nos faz reconhecer uma
equivalência semântica entre voz ativa e voz passiva, não é mesmo? Temos,
então, um tipo de manifestação de paráfrase.
Agora, observemos outros dois exemplos:
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(11) magro/baixo
(12) alto/baixo
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POLISSEMIA X HOMONÍMIA
Ao contrário da sinonímia, que compreende um significado que pode
ser expresso por diferentes palavras, a polissemia diz respeito ao fenômeno
semântico em que uma única palavra apresenta dois ou mais significados, a
depender do contexto onde é empregada. É o que acontece com a palavra
bicho (s. m.): 1) Designação comum a todos os animais, em especial os ter-
restres; 2) Animal irracional, por oposição a homem; 3) Pessoa muito feia; 4)
Pessoa de mau gênio, intratável; 5) Pessoa de muito valor, ou que se destaca
em alguma atividade; 6) Pop. Sujeito, indivíduo, cara, camarada; 7) Fam.
Piolho; 8) Pop. Cancro; 9) Pênis; 10) Matar o bicho, tomar aguardente ou
outra bebida alcoólica; 11) Virar bicho, tornar-se agressivo; encolerizar-se,
zangar-se (disponível em: http://www.dicionarioweb.com.br/bicho.html).
Ao lado desse fenômeno, costuma aparecer um outro: a homonímia, que
representa a propriedade de duas ou mais palavras de significados distintos
terem ou a mesma pronúncia ou a mesma grafia. No primeiro caso, dizemos
que são homófonas (como em censo e senso); no segundo, chamamos de
homógrafas (como em selo, verbo, e selo, substantivo).
Por vezes, no entanto, os homônimos podem ter a mesma grafia e a mesma
pronúncia, neste caso, são chamados de homônimos perfeitos. Como exemplo,
temos as formas são (verbo ser), são (sadio) e são (forma reduzida de santo).
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AMBIGUIDADE X VAGUEZA
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Tanto em (22) quanto em (23) Tânia pode ser a responsável por fazer as
atividades expressas (fotocopiar os livros e fazer uma escova maravilhosa),
nesse caso, dizemos que ela é agente das ações, como ela pode receber essas
ações de alguém, nesse caso, ela é beneficiária.
Em ambos os casos, reconhecemos uma particularidade: o uso de
verbos que permitem a possibilidade de sermos agentes ou beneficiários
de uma ação X. Já pensou no número de vezes do nosso dia-a-dia em que
dizemos algo dessa natureza e alguém nos questiona “Você mesmo cortou
seu cabelo?!” e nós somos forçados a dar mais esclarecimentos sobre o que
falamos? Caso para pensarmos melhor antes de darmos informação, não é?
Naturalmente, podemos identificar, nas mais diversas situações de
comunicação, co-ocorrência de casos de ambiguidade e isso dificulta a dis-
tinção de cada um dos tipos que apresentamos. Em outras palavras, não é
tão simples diferenciar, nas nossas falas diárias, os tipos de ambiguidades
e, sem dúvida, a preocupação exaustiva com essa tipologia pode se tornar
numa atividade cansativa e desnecessária. A nossa pretensão foi demonstrar
como esse fenômeno está presente no nosso dia-a-dia e, claro, fazê-lo, daqui
em diante, precisar mais determinadas falas.
A propósito de falarmos em ‘precisar’, também queremos realçar a
existência de um outro fenômeno semântico bastante recorrente: a vagueza.
Vagueza associa-se a... um, dois, três, a algo vago, né? Pois bem, quando
falamos em vagueza, estamos nos referindo a um fenômeno relacionado
ao uso de expressões imprecisas diante de um contexto específico. Na
prática, ocorre por meio do uso de adjetivos relacionais (grande, alto, baixo,
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DÊIXIS E ANÁFORA
O termo dêixis tem origem grega e significa ‘apontar’, identificar, situar
no espaço. Dessa forma, os elementos que são validados para registrar
essa particularidade linguística são chamados de ‘dêiticos’. De acordo com
Dubois et al (1998, p.168),
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CONCLUSÃO
RESUMO
Nesta aula, delineamos um quadro com alguns dos mais difundidos
fenômenos semânticos, por meio da apresentação de suas características
e da ilustração de suas ocorrências. Inicialmente, apontamos a sinonímia
como um fenômeno caracterizado pela equivalência e não de igualdade de
significado entre os termos, como consta nos manuais didáticos de língua
portuguesa. Nesse peculiar, também realçamos a paráfrase como um tipo
de sinonímia aplicada no plano sentencial. No lado oposto da moeda,
falamos na antonímia, entendida como a capacidade que as palavras têm
de se colocarem em oposição, destacando seus tipos principais: i) binária
ou complementar; ii) inversa; iii) gradual. Igualmente, mostramos como
esse fenômeno pode originar uma oposição de significado em sentido
amplo (nível sentencial) denominada de contradição. Na sequência, demos
realce à propriedade semântica da polissemia, ou seja, o fenômeno em que
uma única palavra pode comportar dois ou mais significados, conforme
o contexto onde aparece. Ao lado desse destaque, também mostramos o
conceito de homonímia, isto é, propriedade de duas ou mais palavras de
significados diferentes terem a mesma pronúncia (homófonas) ou a mesma
grafia (homógrafas). Aqui, também salientamos o fato de a polissemia e
a homonímia contribuírem para a constituição de um outro fenômeno: a
ambiguidade. Depois, falamos dos tipos – lexical, sintática, de escopo e
semântica – de expressão da ambiguidade e da peculiaridade do fenômeno
conhecido por vagueza como mecanismos da imprecisão linguística. Em
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ATIVIDADES
Muito conceito de uma vez só nesta aula, não foi? E daí? Conheci-
mento nunca é demais - rs. Para deixar você bem aliviado, temos apenas
uma questãozinha, ok? Boa sorte!
1. Você é um escritor e, como tal, vai elaborar uma historinha (conto –rs)
que terá um desenvolvimento enrolado exatamente por causa do mau uso
de certas palavras da língua, mas que será salva em função da avaliação
intuitiva que uma das personagens fará sobre os fenômenos da polissemia,
sinonímia, ambiguidade e vagueza. Trabalhe com pelo menos uma situação
para cada um desses 4 (quatro) fenômenos.
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PRÓXIMA AULA
Como você já deve estar prevendo, na próxima aula, passaremos a lidar
com as teorias e os conceitos ligados à área da Pragmática.
AUTOAVALIAÇÃO
Ih, acabou a aula, mas sempre vem uma proposta de avaliação de de-
sempenho, né? Mesma coisa, mas a sugestão é para o seu bem. Teste seus
conhecimentos sobre o assunto estudado, leia mais se for preciso, resolva
os exercícios e, se julgar que está com muitas dúvidas, crie um fórum no
ambiente virtual de aprendizagem, converse com seus colegas e com o tu-
tor da disciplina. Depois de tudo, as chances que você terá de crescer em
conceito numa escala de 0 a 10 serão bem maiores. Bom trabalho!
REFERÊNCIAS
ANDERSON, John M. The grammar of case: towards a localist
theory. London: CUP, 1977.
BORBA, Francisco da Silva (coord.). Uma gramática de valência
para o português. São Paulo: Ática, 1996.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de linguística e gramática.
18 ed. Petópolis-RJ: Vozes, 1997.
CARVALHO, Maurício Brito de. Considerações sobre a diversidade de
propostas das gramáticas de casos. In: NEVES, Maria Helena de Moura.
Gramática de casos. Araraquara-SP: UNESP, 1987, p.27 – 40.
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica: noções básicas e exer-
cícios. 2 ed. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2008.
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