Este documento apresenta um resumo de um artigo sobre a construção do debate sociológico no Brasil. Ele discute como o pensamento sociológico brasileiro foi sistematizado ao longo do tempo, desde os "intérpretes do país" até a década de 1930, quando a sociologia se tornou uma disciplina acadêmica. Também aborda a institucionalização das ciências sociais no pós-guerra e como a sociologia assumiu um papel central para analisar as causas da pobreza e da fome.
Este documento apresenta um resumo de um artigo sobre a construção do debate sociológico no Brasil. Ele discute como o pensamento sociológico brasileiro foi sistematizado ao longo do tempo, desde os "intérpretes do país" até a década de 1930, quando a sociologia se tornou uma disciplina acadêmica. Também aborda a institucionalização das ciências sociais no pós-guerra e como a sociologia assumiu um papel central para analisar as causas da pobreza e da fome.
Este documento apresenta um resumo de um artigo sobre a construção do debate sociológico no Brasil. Ele discute como o pensamento sociológico brasileiro foi sistematizado ao longo do tempo, desde os "intérpretes do país" até a década de 1930, quando a sociologia se tornou uma disciplina acadêmica. Também aborda a institucionalização das ciências sociais no pós-guerra e como a sociologia assumiu um papel central para analisar as causas da pobreza e da fome.
Este documento apresenta um resumo de um artigo sobre a construção do debate sociológico no Brasil. Ele discute como o pensamento sociológico brasileiro foi sistematizado ao longo do tempo, desde os "intérpretes do país" até a década de 1930, quando a sociologia se tornou uma disciplina acadêmica. Também aborda a institucionalização das ciências sociais no pós-guerra e como a sociologia assumiu um papel central para analisar as causas da pobreza e da fome.
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Aula 30/09: Apresentação do curso, do professor e introdução da discussão:
Há uma agenda no Pensamento Social Brasileiro?
Leitura obrigatória: Elide Rugai Bastos. “A construção do debate sociológico no
Brasil”. Idéias – Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, vol. 1, 2013, p. 287-300. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649424.
➔ Quando entre cientistas sociais nos referimos ao termo construção
imediatamente inferimos que se trata de um processo que se estende ao longo de um tempo ou período e num definido espaço, mobilizando diferentes atores ou agentes. Mais ainda, entendemos que esse processo compreende diferentes dimensões e tratamos de mobilizar algumas delas, entre as quais destacamos a econômica, a social, a política e a cultural. 287 ➔ É a partir dessa perspectiva que retomo aqui a problemática da formação da disciplina Sociologia no Brasil, buscando não estabelecer um salto entre a produção dos autores anteriores a 1930, usualmente denominados “intérpretes do país” lembrando que esse decênio constitui-se em momento privilegiado no processo de sistematização e institucionalização dessa área. Refiro-me, assim, a dois aspectos desse processo de construção – de um lado a sistematização do pensamento sociológico e de outro a institucionalização da sociologia – aspectos que se desenvolvem de forma articulada. 287 ➔ [Sobre o livro de Antônio Cândido “Formação da literatura brasileira” (1981) ] O argumento central do texto é o estabelecimento de uma linha de constituição, onde os elementos autor-obra-público em interação dinâmica operam como um triângulo explicativo do processo de sistematização da literatura brasileira, processo esse que explicita a continuidade de uma tradição de pensamento. Isto é, embora haja uma separação estética entre as diferentes escolas a vocação histórica as aproxima, o que cimenta a unidade sistemática entre essas diferentes expressões. 288 ➔ Esse instrumento permite que o autor mostre como existe um interesse básico na literatura brasileira referido aos períodos que analisa; isto é, trata-se de uma literatura voltada para a construção de uma cultura válida no país, uma cultura nacional. “Quem escreve, contribui e se inscreve num processo histórico de elaboração nacional.” 288 ➔ [...] podemos dizer que a grande indagação presente nos vários momentos de desenvolvimento do pensamento social brasileiro diz respeito à questão do atraso. Porque uso a palavra atraso? Não só porque esse termo aparece explicitamente em muitas das abordagens dos autores, como porque está implícito em quase a totalidade dos textos, mesmo com outra denominação. As temáticas da modernização, os debates sobre o subdesenvolvimento, mas também as mais gerais como a pobreza, o analfabetismo, as diferenças regionais, ilustram bem a questão. 288-289 ➔ Assim, as características da sociedade brasileira nos obrigam a pensar num mesmo movimento a estrutura da sociedade, os problemas que a atravessam e as ideias que interpretam tanto a sociedade como esses problemas, pois estas servem de suporte à institucionalização das medidas que visam o funcionamento político e social. Não é sem sentido que entre nós coube às Ciências Sociais a produção de uma narrativa e uma interpretação do país que ao mesmo tempo ancora discursos, medidas institucionais, comportamentos políticos e o senso comum que fundam a cultura política. É por isso que o estudo sobre os intelectuais e sua interpretação do país é elemento constitutivo da reflexão sociológica brasileira. 289 ➔ Qual ou quais os traços que nos afastam das sociedades ditas “adiantadas”? Essa questão foi respondida através de diagnósticos diferentes, mas que em geral indicavam pontos comuns: a escravidão, os resquícios coloniais, a questão agrária, etc. 289 ➔ Mas será no decênio de 1930 que o processo de sistematização do pensamento sociológico avança, pois as explicações fundadas na sociobiologia e no determinismo geográfico, que servem de suporte para as explicações anteriores, serão questionadas. 290 ➔ [...] É possível afi rmar-se que o movimento de constituição do discurso sociológico na bibliografi a brasileira tem seu momento privilegiado nesse período. Trata-se da linguagem, um dos elementos apontados por Antonio Candido como constitutivo do processo de sistematização. 291 ➔ Passo rapidamente ao processo de institucionalização das ciências sociais que compreende, naturalmente, o da sociologia. Quero enfatizar que não existe uma ruptura de fato na consideração da importância das análises anteriores, nas o contexto de transformação do caminho trilhado está associado às transformações políticas e institucionais desencadeadas pela denominada Revolução de 30. Nesse cenário a Sociologia vai tornar-se disciplina acadêmica, absorvendo as mudanças impostas por esse estatuto. 291 ➔ Não por acaso é esse o momento imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial. Trata-se, sem dúvida, de um período marcado pela crise – ou pelas crises – uma vez que não só é necessária a reconstrução material dos elementos que compõem as esferas econômica, política, social e cultural, como se configura uma tarefa áspera: Fazer um balanço das causas que levaram à barbárie, barbárie relacionada à própria questão do humanismo e, ainda, refletir sobre as formas de evitar-se uma nova queda. Naturalmente, trata-se de uma avaliação sobre a crise nos seus vários momentos, anteriores e posteriores. 292 ➔ Hannah Arendt, afi rma que uma crise nos obriga a voltar às “velhas” questões e fazer dela mesma uma experiência e oportunidade de reflexão Exige respostas novas ou velhas, mas, de qualquer modo, julgamentos diretos. Trata-se de um momento de grande importância na circunscrição e na ampliação do papel do intelectual, quando se coloca o perigo representado pela naturalização do conflito social e a consequente indiferença em relação ao sofrimento humano. Se isso ocorrer perde-se o senso crítico e essa perda traz um esvaziamento da substância constitutiva da atividade intelectual. 292 ➔ Ilustram bem o período pós Segunda Guerra Mundial Jean-Paul Sartre editando a revista “Temps Modernes” e Elio Vittorini, com a publicação de “Il Politécnico”. Essas propostas se pautam por grande amplitude, pois não pressupõe apenas atuar na direção de mudanças nas condições materiais, mas de operar uma espécie de reforma moral referida à emancipação do homem. 292 ➔ A área do conhecimento que ganhou força no sentido de denunciar, diagnosticar, analisar as causas da miséria e da fome, foi a área das Ciências Sociais, na qual a Sociologia assume destaque. 293 ➔ Assim, o grande tema da sociologia, tanto no plano mundial como no nacional é o da mudança social, assunto que alcançou importância dentro e fora dos meios acadêmicos. Nos anos 1950 a Sociologia se tornou linguagem privilegiada para a percepção das transfor amações ocorridas. ➔ [...] O estabelecimento do âmbito e das tarefas da Sociologia procura responder à formulação, presente nas sociedades latino-americanas, sobre a necessidade de planejamento do desenvolvimento. Comentando em 1967 o livro de Celso Furtado “Subdesenvolvimento e Estagnação na América Latina”, Simon Schwartzman (Schwartzman, 1967) lembra que as reflexões do autor – apresentando a tese de que o desenvolvimento espontâneo, depois da fase de substituição das importações não é mais possível e colocando como central a necessidade do planejamento –, são antes devedoras à sociologia política do que à economia. 295 ➔ Sendo o planejamento visto como tarefa não apenas técnica, mas política, envolvendo mudanças sociais, configura-se a tarefa de refletir sobre as articulações entre o Estado e a Sociedade, aquele encaminhando as necessidades, aspirações e reivindicações desta. Naturalmente, a noção supõe a participação ativa dos intelectuais no processo, pois o que estaria em questão seriam os movimentos políticos capazes de alterar as bases das estruturas de poder. Ora, o passo seguinte para a definição desse objetivo é o diagnóstico dos fatores estruturais que impedem o desenvolvimento. Aponta para um movimento de especialização da Sociologia e da Ciência Política, que possibilitaria o aprofundamento das pesquisas, indicando que o problema reside na quase ausência de comunicação entre essas especialidades. Assim, essas disciplinas poderiam assumir a investigação voltada ao diagnóstico, aprofundando o estudo do que está ocorrendo no continente, sem chegar necessariamente a conclusões, mas pelo menos equacionando os problemas existentes. 295 ➔ Nos anos 1970 encontramos uma grande produção sobre a questão agrária, pois diante da censura política o tema apresentava-se como uma das formas de denúncia das assimetrias presentes na sociedade. Em outras palavras, a políticas do governo militar voltadas à modernização e à ocupação territorial, ambas não descoladas das medidas de segurança adotadas, remetem diretamente às temáticas rural e agrária. Um dos eixos importantes da discussão, em grande parte acionado por um documento da CEPAL de 19663, é o das populações marginais. Sem entrar agora no debate que o próprio termo marginalidade provocou, sendo posteriormente substituído por exclusão ou pela formulação mais ampla sobre o processo de excludência, lembro que a discussão sobre “arcaico” e “moderno”, tão presente nas reflexões anteriores decorre dessa definição. 296 ➔ Nos anos 1970 e início dos 80 essa questão ganha outra dimensão. Passa-se a discutir a importância desses atores sociais e dos movimentos sociais que ocorrem no setor agrário como fundamentais para uma nova discussão sobre a política. O encontro das disciplinas – Antropologia, Sociologia, Política e História – redefinem o modo pelo qual se analisa a situação social, tanto no campo como na cidade. ➔ Pós- abertura política, a partir de meados dos anos 1980, ganha força, também graças a um movimento internacional em torno da questão dos direitos, a reflexão sobre a questão democrática, não mais centrada apenas na questão da desigualdade, mas compreendendo, também, a questão da diversidade. Volta-se ao estudo da vida privada, da identidade. Constata-se, naturalmente, o perigo de uma visão fragmentada da sociedade se os dois elementos não forem colocados em discussão de modo simultâneo. Nesse processo se redefine a questão nacional – resumindo, a discussão da necessidade/possibilidade de superposição das fronteiras da sociedade e do Estado. Em outros termos, a sociologia retoma sob outra ótica a questão da representação de todos os setores da população. 297 ➔ Temas culturais e políticos ganham espaço: diferenças culturais, respeito pelos direitos compreendidos nas fronteiras da cultura versus direitos universais, políticas sociais e políticas culturais, inclusão social, transformações do trabalho, questão de gênero, como atenuar os resultados negativos da exclusão histórica de vastos setores da sociedade. 297 ➔ O mundo abre para as Ciências Sociais novos temas. Porém, outra vez, nos países onde a questão democrática chega com atraso – por exemplo o Brasil, países latino-americanos, países africanos – por vários motivos – colonialismo, escravidão e independência e abolição tardias – os desafi os à refl exão são maiores. Por isso as tarefas da nova geração de cientistas sociais que agora está se formando é ampla, importante, necessariamente criativa e deve ter por base o conhecimento, a competência e principalmente o compromisso social e político. Ser cientista social hoje, como sempre, requer um inconformismo face às injustiças do mundo e o empenho com sua superação.