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O PROCESSO DE REDAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO

APROCESSO
O JORNADA DE
EM BUSCADO
REDAÇÃO DE UMA
NOVO
TEOLOGIA RELEVANTE
TESTAMENTO

Aula
Aula 271
1816de
demarço de 2021
Setembro de 2021

Aula
YAGOministrada
MARTINS por
Guilherme Nunes

Transcrição: Pedro Antunes Revisão e adaptação: Débora Oliveira


Transcrição: Júlia Costa | Revisão e adaptação: Alana Lins | Diagramação: Loanny Costa
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O PROCESSO DE REDAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO

Aula 27
A expectativa
canônica de um
Novo Testamento
Esta aula proporcionará uma perspectiva mais profunda da
formação dos Evangelhos e das histórias de Jesus. Nós iremos
aprender o processo de redação do Novo Testamento, sobre como se
deu o processo de escrita. Deixe-nos adiantar que existem milhões de
teorias e debates sobre isso. Os apóstolos inventaram o cristianismo?
Tudo o que diremos para você aqui é como se fosse o arroz cru de toda
a academia, pois é aqui que as coisas começam a ganhar forma. Esse
é um processo denso e tentaremos passar para você da forma mais
tranquila.
Esse processo de redação de escrita do Novo Testamento é
chamado na academia de estudos críticos. Dessa forma, quando se lê na
teologia o nome critica, você já percebe que tem a ver com algum tipo
de metodologia. Nesse caso, crítica é um termo geral para a análise da
Escritura. A crítica bíblica diz respeito, basicamente, às metodologias
que foram criadas para poder tanto interpretar a Bíblia quanto analisar
as suas origens. Existem várias abordagens e métodos diferentes para
como foi criado o Novo testamento e de como iremos interpretá-lo.
Estas várias críticas bíblicas denominamos de metodologias. Nós
temos a metodologia da crítica da forma, a crítica literária, a crítica da
redação, a crítica retórica, a crítica da fonte, a crítica da tradição. O que
você precisa entender nesse ponto é que existem várias metodologias e
que não há necessidade de memorizá-las. Existem as mais e as menos
importantes, por exemplo, a crítica da forma e a crítica da fonte são
muito importantes junto com a crítica da redação. Que nomes são
esses tão densos? É o que nós veremos nesta aula, na qual ensinaremos
o que essas metodologias significam, além de ajudá-lo a interpretá-las,
a fim de que as suas leituras de livros sobre a formação dos evangelhos
se torne mais fácil.
Existem várias metodologias e elas são organizadas em
dois grandes grupos: o primeiro seria a crítica bíblica, que vai lidar
basicamente com a questão de data, manuscritos, quem escreveu o quê,
será que Paulo escreveu Efésios mesmo? Tem gente que argumenta
que, por exemplo, 1 Timóteo não foi uma carta escrita por Paulo, nem
Efésios. A este chamaremos de alta crítica, pois ele vai questionar
tudo o que é de normal. Por outro lado, existe a baixa crítica, que
estuda os manuscritos, as variantes textuais. Até aqui você não precisa

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memorizar nada, mas, até então, temos formas de analisar as origens


dos evangelhos do Novo Testamento e também formas hermenêuticas.
A crítica bíblica consiste na hermenêutica e nas formas de entender a
origem. Na crítica bíblica existem várias metodologias que, ou estão
preocupadas em analisar os manuscritos bíblicos, suas origens e suas
variantes textuais, ou estão preocupados em analisar a própria história,
por exemplo, se Jesus andou sobre as águas, como e porquê. A crítica
aqui não é no sentido de “eu vou falar mal”, mas uma forma de analisar
a Bíblia, tanto seus manuscritos quanto suas origens, e de uma forma
a questionar muitas coisas.
Algumas pessoas, mais do lado reformado, não gostam que
questionemos as datas convencionais dos livros (Efésios tem que ter
sido escrito em 50, Apocalipse tem que ter sido escrito em 90). Toda
vez que alguém questiona essas datas, eles vão dizer que tome cuidado.
Há alguns que ignoram tudo isso, inclusive a ideia de que existem
várias metodologias, dizendo que ler a Bíblia é o suficiente. De certa
forma, sim, uma vez que o estudo devocional para o crescimento
cristão seria isso. Nós não precisamos dessas metodologias, dessa
consciência toda, contudo, se existe uma atitude no coração da pessoa
de ser um líder com uma teologia consistente, é recomendável buscar
o conhecimento sobre tudo o que aconteceu, especialmente entender
o que são estas metodologias. Como se deu o processo? Os apóstolos
escreveram no papel, um deu ao outro e ele se reuniu em um museu?
Eles falaram para que alguém escrevesse ou foram eles mesmo? Estas
são as metodologias, elas vão criar várias hipóteses na tentativa de
dizer como foi que aconteceu. Algumas pessoas dirão: “Não preciso
saber disso. Você já não tem a Bíblia, então para que saber dessas
coisas?”.
Há uma outra atitude que você pode ter diferente dessa que é
utilizar essas metodologias para poder estudar a Bíblia, pegando o que
há de bom em cada uma e de cada teoria de como as coisas aconteceram
e fazer uma grande mistura. Você vai usar a crítica da forma, da
redação, disso e daquilo outro, para poder estudar a Bíblia. Esta é uma
atitude válida também e acreditamos ser a melhor atitude para alguém
que quer aprender. A nossa atitude não precisa ser ignorar isso. Como
os apóstolos escreveram histórias, por exemplo? Como a história que
se passou no monte da transfiguração chegou a Marcos, uma vez que
só haviam três pessoas no local? Ou, como isso chegou na pena de
Lucas? Cada metodologia vai dizer como se deu, cada metodologia
vai ter a sua razão. O que nós fazemos é pegar o melhor de cada uma,
fazendo uma omelete e desfrutando dos pontos fortes de cada uma.
Qual é o cuidado que devemos ter com essas metodologias que iremos
aprender? Essas diferentes abordagens nem sempre são inocentes, na
verdade, nenhuma delas é, uma vez que algumas delas foram criadas
porque as pessoas começaram a duvidar de milagres. Há os que se

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utilizam delas para o mal, ao mesmo tempo que existem maneiras de


usá-las para o bem. O cuidado que você deve ter é que existem pessoas,
com seus pressupostos, que se utilizam dessas metodologias para dizer
o que aconteceu na formação do Novo Testamento, afirmando que o
processo de formação, de escrita, de tradição oral foi de tal jeito, mas
eles vão defender tal posição para concluírem, por fim, dizendo: “...
Portanto, não precisamos crer em milagres”. Isso porque ele tem o
pressuposto de que milagres não existem.
Por que é importante estudar isso? Porque se você está
participando de momentos de liderança no seu ministério, ou é
estudante de teologia, verá muitas pessoas questionando esse processo
de formação: “Como pode não ter ocorrido um ‘microfone sem fio’
nesse processo de formação? Jesus falou no ano 33, os apóstolos
começaram a escrever no ano 50 e, nesse período, ninguém falou uma
história errada um para o outro? Como que isso pode?” Se você tiver
consciência desse processo de formação, desse processo de escrita,
verá que existe como responder direitinho a essas questões. Pessoas,
na igreja mesmo, podem perguntar para você sobre como ocorreu o
processo de formação do Novo Testamento, se foi oral ou não. Daí
a importância de responder a pessoas tanto dentro quanto fora do
cristianismo. A outra importância é que existem muitos comentários
que utilizaram algum desses tipos de metodologia. Grant Osborne
vai usar uma metodologia e D. A. Carson usará outra. Sendo assim,
enquanto estiver lendo um comentário, você se toca quais dessas
metodologias eles estão utilizando para analisar os evangelhos.
Vamos tratar de alguns princípios. Primeiro, nem todos os
métodos que vamos aprender foram desenvolvidos com as mesmas
pressuposições. Como dissemos, nem todos que criaram esses métodos
criam milagres. A maioria, em um horrível ceticismo, simplesmente
parava de crer em milagres. Nem todos utilizavam a mesma
pressuposição. Por isso, cuidado! Em segundo lugar, uma metodologia
crítica de algum tipo é inevitável. A negação de tal é simplesmente
uma recusa em definir seu próprio método. Alguns dizem que não
tem método, mas não é possível chegar na Bíblia sem algum tipo de
método, só se você for algum louco, ou, então não sabe o que está
falando. Contudo, cada um de nós possui um método, a questão é se
esse método é consciente ou não. Cada um tem um método e isso vai
te ajudar a estabelecer uma consciência maior do teu método, da forma
como você tem lido o processo de escrita dentro do Novo Testamento.
O terceiro ponto é que não se pode declarar absolutamente que alguma
metodologia é totalmente legítima. A gente não pode ligar para uma
metodologia e dizer que o que ela está dizendo é totalmente errado e
extremamente inválido, pois cada metodologia dessa tem uma ponta
de verdade. Então, vamos tentar explorar isso.
O ponto primordial para que você entenda toda esta matéria,

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está em Lucas 1.1-4. Se você ler estes versículos, será possível pegar
todos os livros sobre a formação dos evangelhos e vai entender todo
este processo de formação e, a partir disso, compreenderá rapidamente
cada metodologia: “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos
fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos
por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da
palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo,
e decidi escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo,
para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas” (Lucas
1.1-4). Aqui, neste texto, temos os quatro estágios de formação do
Novo Testamento. Onde está o primeiro estágio? Está em “muitos já
se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre
nós”. Qual o segundo estágio? Ele consiste na oralidade e aparece
em “conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início
foram testemunhas oculares”. O terceiro estágio aparece logo no início
do verso (compilação): “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato”.
Houve uma história, fatos que se cumpriram (primeiro estágio),
houveram testemunhas oculares (estágio dois), essas testemunhas
começaram a elaborar um relato (estágio três). Por fim, o estágio
quatro aparece em “para que tenhas a certeza das coisas que te foram
ensinadas”, que é o estágio de transmissão.
O primeiro estágio consiste nos fatos históricos, algo que tinha
que acontecer para que entendêssemos o processo de formação; depois
disso, vem o processo oral. As pessoas veem Jesus andando sobre as
águas e você acha que ninguém falaria nada? Depois disso, começou
o processo de compilação. Algo aconteceu, estão falando sobre isso,
vamos registrar isso e, por último, a forma final, o ensino para a igreja.
Os fatos ocorreram, os apóstolos transmitiram, as pessoas começaram
a compilar e isso foi ensinado para a igreja. Algo foi ensinado para a
igreja porque alguém fez uma compilação daquilo que foi dito pelos
apóstolos sobre aquilo que aconteceu. Estes são os quatro estágios: (1)
História; (2) Oral; (3) Escrito; e (4) Forma final. Isso é incontestável
porque podemos observar o próprio Lucas usando isso, não temos
muito o que argumentar sobre isso, pois Lucas está certo. Vamos
colocar nomes técnicos agora. Quem estuda o primeiro estágio? Quem
se dedica e fez uma metodologia inteira só no primeiro estágio? Quem
se dedica ao primeiro estágio são os estudiosos da crítica histórica.
Eles não têm interesse nos outros estágios, uma vez que vão olhar para
o Novo Testamento somente enquanto história.
Depois, existem aqueles que estudam apenas o período oral, o
período de transmissão dos apóstolos. Nós chamamos isso de crítica
da forma. Quem estuda o período de compilação? A crítica da fonte.
Quem estuda o período da forma final, já ensinada para a igreja? A
crítica da redação. Se você estivesse em uma prova e estivesse escrito
assim: “Qual é o estágio que a crítica histórica estuda?” Você colocaria

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o estágio um, o estágio dos fatos que aconteceram. Qual a crítica que
estuda o período oral, de transmissão das testemunhas oculares? A
crítica da forma. Qual a crítica que estuda o período da escrita, o período
da compilação dos fatos que começaram a ser registrados? A crítica
da fonte. E quem é aquele que estuda só o período da forma final? A
crítica da redação. Mas Lucas não falou tudo? Por que dissemos que
existem abordagens diferentes? O que aconteceu foi que a galera da
crítica da redação, a forma final do texto, vai questionar, “pessoal, por
que vocês estão atrás de história? Nós não temos mais como acessá-la.
Vamos ficar só com a forma final do texto”. Então, eles criaram toda
uma metodologia para estudar só a forma final do texto e é a única
forma válida para eles. Porque, para eles, não adianta estudar história,
ela se perdeu, tudo o que temos é a forma final. A crítica da fonte vai
dizer que a história não importa tanto. Para eles, o mais importante é
saber qual a fonte que Marcos utilizou, por exemplo. Cada uma dessas
metodologias vai dizer que a sua própria metodologia é a melhor. O
que você precisa saber é que houve esse processo e que houveram
escolas críticas em cada um deles.
Existem algumas críticas que não estão tão preocupadas com
o processo de formação, pelo interesse na parte literária do texto,
inclusive iremos citá-las no final. O que você precisa saber agora é
que existem três críticas que são importantíssimas. A crítica histórica
é importante, mas para a nossa aula estaremos deixando-a um pouco
de lado, porque ninguém vai questionar nenhum fato da história. O
que nós vamos tentar investigar agora é a crítica da forma, a crítica
da fonte e a crítica da redação, pois cada uma dessas vai nos ajudar a
entender melhor esses estágios. Temos metodologias que começaram
a estudar um desses estágios e monopolizaram dizendo que só essa é
a correta, mas nesta aula estudaremos cada uma e pegamos o bom de
cada uma. Cada uma dessas metodologias que estudaram esses estágios
têm coisas boas para nos oferecer. As críticas que você deve saber de
cor, como bom estudante da Escola de Teologia do Instituto Schaeffer,
são a crítica da forma, a crítica da fonte e a crítica da redação. E as
outras formas de estudar o Novo Testamento que diremos no final
desta aula? A crítica da redação, a crítica retórica, a crítica canônica,
o estruturalismo, o leitor-resposta, a teologia da libertação, a teologia
feminista, a teologia do desconstrucionismo.
Observemos primeiro a crítica da forma, que diz respeito ao
período de oralidade. Nesse período, havia uma preocupação em
escrever e isso parecia estar na mente dos apóstolos, principalmente na
ressurreição. A consciência de escrever algo, formar um cânon existia
e estava na mente deles. Para estudar esse período, foi criada uma
metodologia chamada crítica da forma. Qual é o problema que criou
a crítica da forma para estudar o período de oralidade? O problema
é que são pessoas que, geralmente, duvidam até de si mesmos, que

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surgiram por conta do iluminismo, que não crê em milagres, que


são céticos. Eles desenvolveram a crítica da forma para estudar os
evangelhos, tendo em vista que esses críticos partem do pressuposto
que entre a época de Jesus e a época da escrita houve um período oral,
um período em que os ensinos de Jesus foram transmitidos em forma
de ditos e histórias. Eles eram ditos de forma independente, é como
se, em uma casa, pessoas estavam conversando e elas vão falar as
palavras de Jesus em forma de ditos, ou em forma de história, ou na
forma de lenda, ou na forma de mito. A maneira que eles conversavam
uns com os outros era uma forma oral. A crítica da forma começou a
dizer (Atenção! Não estamos concordando com isso!) que todo mundo
começou a falar das histórias de Jesus de uma forma que até chegava
a ser contraditória.
Sendo assim, duas pessoas podiam estar conversando e dizer:
“Você viu que Jesus andou sobre as águas?”. Para os alemães da
crítica da forma, outro poderia dizer: “não, ele voou sobre as águas” e
ninguém se importava com isso, pois as pessoas estavam transmitindo
os ditos de Jesus de maneira oral e, nesse período, a única coisa que
ficou preservada foram alguns ditos e esses ditos foram ditos de valor
prático. Aqueles ditos que eram ordens e mandamentos. Esses foram
os únicos que ficaram preservados, pois eram os mais importantes.
O que acontece é que, ao analisar os evangelhos, eles vão tirar tudo
o que não se parece com o ensino prático. Dessa forma, algo como
Jesus andar sobre as águas, eles vão olhar para isso e indagar o porquê
daquilo ter sido preservado e não é porque Jesus andou sobre as águas,
segundo eles. Ninguém sabe, pois isso provavelmente seria algum
ensino que ficou para igreja. Talvez ele esteja querendo dizer que
Jesus tem poder sobre a natureza? Não, temos muito milagre aqui.
Talvez esteja querendo dizer que Jesus cuida dos discípulos? Pronto,
esse é o dito, foi isso que foi preservado.
A crítica da forma começou a dizer que o que chegou até
nós nos evangelhos foram somente alguns ditos e, para estudá-los
hoje, devemos olhar por trás do que os apóstolos escreveram. Dessa
forma, quando Mateus escreveu, por exemplo, ele escreveu, na mente
dele, tudo o que ele tinha que escrever. Qual é o papel do crítico da
forma? É tentar analisar aquilo que se assemelha com um dito de
Jesus que parece que mais seria transmitido oralmente. Como eles
estudam os evangelhos? Eu tenho que destruir essa forma artificial
que possuo, pois foram os apóstolos que fizeram para poder encontrar
os ditos originais. Aqui você percebe que eles não estão interessados
na inerrância das Escrituras. Como isso acontece na prática? Eles
começaram a investigar tudo o que era pronunciamento de Jesus,
separando e dizendo que aquilo parecia ser algo que foi transmitido
realmente. Sendo assim, começaram a separar tudo o que era parábola,
pois a forma da parábola era algo que funcionava bem. Essa forma de

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história foi preservada, e isso significa que ela é importante. Então,


eles separaram os pronunciamentos e as parábolas; separaram, então,
os milagres, ainda que não cressem, pois tinham um forma bem
direitinha e foram preservados; separaram as narrativas da paixão,
porque são histórias que foram bem repetidas e podiam preservar.
Diante disso, começaram a dizer que a única coisa válida eram os
ditos de Jesus, pois eles eram muito bem organizados e possuem uma
forma que parece que foram preservados, enquanto outros, parece
que não. As parábolas, da mesma forma. Percebe que as parábolas
têm a mesma forma? Parece que elas foram preservadas. Logo, eles
começaram a fazer uma “tesourada” nos evangelhos, jogando fora tudo
aquilo que, para eles, não era uma forma digna de ser preservada. Você
começa a observar aí qual é o problema. Eles começaram a entender
as histórias dos milagres de Jesus como lendas e mitos, como coisas
que foram inventadas e tentando pegar só o que foi preservado em
termos de ensino. A crítica da forma, portanto, consiste nos estudiosos
interessados no período de transmissão oral. Todavia, o propósito deles
é destruir essa forma artificial que temos, que chegou em nossas mãos,
e tentar as formas originais nas quais os ditos e os pronunciamentos de
Jesus foram transmitidos. Esse é o processo que autores da crítica da
forma utilizavam.
Nós temos, por exemplo, o texto de Marcos 2.15-17, cujo
pronunciamento tem uma forma muito bem organizada, há uma
história e um pronunciamento logo depois: “Durante uma refeição na
casa de Levi, muitos publicanos e pecadores estavam comendo com
Jesus e seus discípulos, pois havia muitos que o seguiam. Quando os
mestres da lei que eram fariseus o viram comendo com pecadores e
publicanos, perguntaram aos discípulos de Jesus: ‘Por que ele come
com publicanos e pecadores?’ Então, olhe o dito de Jesus: Ouvindo isso,
Jesus lhes disse: ‘Não são os que têm saúde que precisam de médico,
mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores’”.
O que o pessoal da crítica da forma dirá é que esta história foi inventada
para poder adicionar o pronunciamento logo depois, que é o mais
importante para nós. Logo, a história não importa, o que importa é o
pronunciamento. Vamos, então, pegar o pronunciamento do verso 17
e é isso o que iremos analisar, pois o que vem antes não possui padrão.
Para eles, só o verso 17, que é o dito de Jesus, foi preservado, pois segue
uma forma de pronunciamento. Eles pegam todos os pronunciamentos
de Jesus, não importando se isso é antecipado por algum milagre ou
depois, pois tudo isso são formas artificiais inventadas pelos apóstolos
só para poder encaixar os pronunciamentos de Jesus. Perceba essa
ideia em Marcos 1.23-28: “Justo naquele momento, na sinagoga,
um homem possesso de um espírito imundo gritou: “‘O que queres
conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o
Santo de Deus!’ ‘Cale-se e saia dele!’, repreendeu-o Jesus. O espírito

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imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele gritando. Todos


ficaram tão admirados que perguntavam uns aos outros: ‘O que é isto?
Um novo ensino—e com autoridade! Até aos espíritos imundos ele dá
ordens, e eles lhe obedecem!’ As notícias a seu respeito se espalharam
rapidamente por toda a região da Galileia.” Existe um problema nesse
milagre, tem um demônio, depois uma expulsão e, por fim, apresenta
uma solução. A crítica da forma vai ficar só com a solução. Jesus era
alguém que tinha autoridade naquele tempo.
Qual foi o resultado de tudo isso? Por que eles pegaram apenas
os ensinamentos de Jesus? Ele disse que os pronunciamentos foram
guardados, que era isso o mais importante e é isso o que usaremos
em contextos apologéticos. Eles começaram a analisar somente essas
formas deixando de lado muitas coisas. O problema está no fato deles
pegarem apenas pronunciamentos e isso é um padrão muito solto. Qual
é a metodologia que eu uso para ficar apenas com os pronunciamentos
porque tal e tal, partes são falsas? Isso faz com que os documentos
que temos fiquem muito subjetivos. A crítica da forma não recupera
aquilo que foi preservado, pois, na verdade, eles perdem muito do
que foi preservado. Quando eles tentam rasgar manuscritos para poder
ficar só com o que querem, deixam de lado fatores históricos objetivos
importantíssimos. Afinal, qual é o benefício da crítica da forma? É
entender que os autores da Bíblia, a forma como essas histórias foram
transmitidas, foram usadas dentro de uma forma apologética, muitas
vezes. Eles não só falavam da história, eles tinham um propósito
evangelístico e começaram a contar essas histórias da mesma forma.
Jesus usou as parábolas e eles continuaram a falar em parábolas, em
pronunciamentos e assim por diante. O benefício da crítica da forma foi
que eles nos ajudaram a entender que dentro dos evangelhos existem
gêneros, existem formas de parábolas, de narrativas, etc. e isso é um
benefício. Outro benefício foi que eles nos ajudaram a entender que a
Bíblia é organizada em formas, em perícopes, que não podemos pegar
cada versículo isolado, ainda que eles façam isso em algumas coisas,
querendo ficar com os pronunciamentos. Os contras é que eles colocam
em xeque a autoridade da Bíblia, uma vez que a pressuposição deles é
a de que milagres não existem, por isso eles devem tirar os milagres.
Todavia, o maior problema da crítica da forma é achar que durante o
período que Jesus está fazendo milagres ninguém se preocupou em
registrar e organizar isso de uma forma que não fosse corrompido.
Isso é um absurdo, pois, naquele tempo, na própria cultura judaica,
havia a responsabilidade de que os grandes eventos no mundo judaico
fossem registrados. Este é o grande problema, pois eles acham que
todos contavam histórias diferentes e ninguém questionava. Então, as
pessoas poderiam inventar uma história e ninguém contestaria? Isso
não faz sentido porque os eventos que Jesus fez são públicos. A cidade
e as multidões inteiras viram aquilo acontecendo e ninguém falaria

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coisas contraditórias uns para os outros, tendo em vista que haviam


muitas testemunhas oculares. Já havia um processo de preocupação
em transmissão pelos próprios apóstolos. A crítica da forma imagina
que as pessoas já contavam naquele tempo e estavam intencionalmente
contando histórias para perverter. Isso parece refletir mais da mente
dos autores da crítica da forma do que dos autores bíblicos. Outro
problema é a subjetividade: “Este pronunciamento eu vou guardar e
este outro não”, mas por que você não vai guardar a história? “Porque
a história tem milagres e milagres são mitos”. Esse é o problema.
Diante disso, vem a crítica da fonte. Se temos a crítica que estuda
apenas o período oral, temos também a crítica que estuda somente o
período da fonte, que é o período da escrita. Essa é uma metodologia
analítica e o ponto dela não é o período oral, mas estudar quais foram
as fontes dos evangelistas, que fontes eles usaram para escrever os
evangelhos.
Pergunta: Quem são essas pessoas da crítica da forma?
Resposta: Você tem a escola de Bultmann, que é o grande
desenvolvedor. Ernst Käsemann e todos da escola de Tambga.
Vamos à crítica da fonte, que é o reconhecimento de que os
evangelistas, os evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas, se
utilizam de fontes. Lucas, por exemplo, se utilizou de fonte, uma vez
que ele mesmo diz que fez um relato cuidadoso, mas fica a pergunta:
que fontes Mateus e Marcos utilizaram? Foi só Pedro? Não precisou de
mais ninguém? Mateus fez sozinho e não precisou de mais ninguém?
Mateus, sozinho, estava em todos os momentos da vida de Jesus e
não precisou de mais ninguém? Eles começaram a estudar só a parte
escrita. Que fontes eles utilizaram para fazer o Novo Testamento?
Qual é o problema que vemos antecipadamente? Um dos
problemas é que eles começaram a entender o seguinte: Mateus se
utilizou de tantas fontes. Nós acreditamos que isso compromete
a unidade do texto, a unidade literária, os propósitos teológicos de
Mateus. Eles tinham uma ênfase muito grande em estudar as fontes,
mas nós achamos que isso compromete às vezes a unidade do texto
e eles começaram a criar fontes para justificar outras coisas. Outro
problema é que eles começaram a dizer: “Essa fonte que ele utilizou
no milagre de Jesus, foi uma fonte de pessoas que começaram a criar
mitos, por isso que ele a utilizou”. Havia pessoas, também na crítica
da fonte, que começaram a desacreditar em milagres. Afinal, qual é o
valor da crítica das fontes? É que ela nos ajuda a entender as relações
entre os evangelhos e o maior benefício da crítica das fontes se chama o
problema sinótico. Será que Marcos utilizou Mateus? Será que Mateus
utilizou Lucas, ou Lucas utilizou Mateus? Como isso aconteceu? A
crítica da fonte se preocupou profundamente com a relação entre os
evangelhos. Você já percebeu que os evangelhos de Mateus, Marcos e
Lucas são extremamente similares? A questão é: eles são similares por

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que eles utilizaram uns aos outros como fonte? Eles estão repetindo
a mesma história, então faz sentido que sejam similares, mas por que
muitas vezes eles se parecem até nos detalhes, mas em outros detalhes
não? Por exemplo, Mateus 19.13,14 (comparando com Marcos
10.13,14 e com Lucas 18.15,16): “Depois trouxeram crianças a Jesus,
para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos os
repreendiam. Então disse Jesus: ‘Deixem vir a mim as crianças e não
as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a
elas’. Depois de lhes impor as mãos, partiu dali.” Quando comparamos
esse mesmo acontecimento com Marcos, veremos o seguinte: “Alguns
traziam crianças a Jesus para que ele tocasse nelas, mas os discípulos
os repreendiam. Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse:
‘Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de
Deus pertence aos que são semelhantes a elas.’” Você percebe que,
quando começamos a comparar, há muitas semelhanças. As perguntas
que ficam dentro de que fontes eles utilizaram são as seguintes: Os
evangelhos são dependentes entre si? Se eles são dependentes, quem
veio primeiro? A crítica da fonte se preocupa com o período de
escrita: “Quais foram as fontes?” O ponto principal dele é: “Eles são
interdependentes? Se são, quem nasceu primeiro? Marcos? Mateus?
Lucas?”
Todavia, eles parecem ter uma interdependência absurda, pois
concordam em história, em ordem, em comentários sobre o que
aconteceu e até nas alterações das citações do Antigo Testamento. Eles
se parecem, ok, mas, os três primeiros evangelhos, eles sim se parecem
muito uns com os outros. Para se ter uma ideia, 90% do material de
Marcos aparece tanto em Mateus quanto em Lucas, enquanto que 90
% do material de João é único, ou seja, João se parece apenas 10%
com os sinóticos. Sinóticos, para se ter uma ideia, é o ato de colocar
um ao lado do outro e traçar linhas horizontais a fim de encontrar
semelhanças. Quando isso aconteceu nos quatro evangelhos, essas
semelhanças só aconteceram nos três, não em João e, então, esse fato
de 90% do material de Marcos aparecer nos outros dois e 90% do
material de João ser único a João, mostra que João está à parte. Por
isso chamamos de Evangelhos sinóticos.
Existem diferenças entre os evangelho sinóticos, mas a
concordância é absurda. Nós temos concordância de ordem, por
exemplo, todos os três sinóticos apresentam uma série de histórias
polêmicas na mesma ordem perto do início do ministério de Jesus.
Eles apresentam uma série de histórias na mesma ordem tanto por
Mateus, quanto por Marcos e Lucas. Eles fazem os mesmo comentários
parentéticos, ou seja, eles esclarecem sobre o que aconteceu, por
exemplo, Mateus 9.6: “Mas para que vocês saibam que o Filho do
homem tem na terra autoridade para perdoar pecados”—disse ao
paralítico: “Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”. Marcos

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2.10: “Mas, para que vocês saibam que o Filho do homem tem na
terra autoridade para perdoar pecados”—disse ao paralítico...”. Lucas
5.24: “‘Mas para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra
autoridade para perdoar pecados”—disse ao paralítico—“eu digo a
você: Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”. Observe que eles
concordam entre si. Quanto às alterações do Antigo Testamento, eles
concordam entre si. Mateus 3.3: “Este é aquele que foi anunciado pelo
profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para
o Senhor, façam veredas retas para ele’”, concordando com Marcos
e Lucas. Se existe concordância, afinal, qual fonte os evangelistas
utilizaram? Eles podem ter empregado muitas, mas a principal foram
eles mesmos, uma vez que são interdependentes, e não podemos negar
que alguém escreveu primeiro. Alguém foi fonte de alguém e aí vem
a questão da prioridade: Quem nasceu primeiro? Temos duas teorias
para isso. A primeira teoria é que foi Marcos, a segunda é que foi
Mateus. Sendo assim, o nome teológico disso é prioridade marcana e
prioridade mateana.
Dentro da prioridade marcana, da teoria de Marcos, existem
duas possibilidades: a teoria de duas fontes e a teoria de quatro
fontes. Marcos se utilizou de uma fonte Q, que não é uma fonte de
um documento escrito, é apenas uma hipótese, um x de uma variante,
uma fonte qualquer, a qual chamaram de Q. Marcos se utilizou de
Pedro, dele mesmo, do que ele viu e dessa fonte. Esta é uma teoria
de duas fontes. Eles falam isso, pois tem coisas que Mateus e Lucas
não seguem Marcos. A prioridade marcana diz que primeiro veio
Marcos, e que Mateus e Lucas se utilizaram dele. Existem coisas em
Mateus e Lucas que lhe são únicas, Marcos parece que nunca nem viu.
A grande questão é se Mateus e Lucas utilizaram primeiro Marcos,
mas tem coisa em Mateus e Lucas que não está em Marcos. De onde
Marcos tirou as informações que lhe são únicas? Alguns dirão que
foi dele mesmo, enquanto outros vão dizer que ele se utilizou de uma
outra fonte. Existem muitos teóricos que, hoje, defendem a prioridade
marcana, de que Marcos veio primeiro. Temos algumas coisas em
favor disso, pois, embora Mateus e Lucas difiram consideravelmente
um do outro, a maior parte de Marcos é encontrada em um ou outro.
Mateus tem muitas diferenças com Lucas, por outro lado, 90% de
Marcos é encontrado tanto em Mateus quanto em Lucas. A questão é
se Lucas e Mateus têm umas divergências maiores, então não parece
que Lucas está procurando uma dependência primária de Mateus,
pois ele está discordando de Mateus, mas, quando começamos a
comparar Marcos com Lucas, faz sentido. Porque 90% está em Lucas
e 90% de Marcos está em Mateus. A conclusão é que Mateus e Lucas
estão utilizando Marcos. Em segundo lugar, é difícil explicar porque
Marcos, se estivesse pegando emprestado de Mateus e Lucas, deixaria
de fora tanto material aparentemente importante. Se Marcos não foi

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primeiro, por que ele é tão pequeno? E por que ele deixou de fora
tanta coisa importante? Se Marcos está utilizando Mateus, por que
ele deixou tanta coisa de fora? Alguns dirão que ele deixa coisas de
fora porque quis fazer um relato menor, uma suma do que Mateus diz,
e é aí que está o problema, pois, por mais que Marcos seja maior,
as histórias de Marcos são maiores. Quando Marcos vai descrever
alguma história, geralmente, na narrativa, ele fala mais que Mateus.
Ele é menor em termos de conteúdo geral, mas em termos de aspectos
individuais supera o Mateus. Em terceiro lugar, nas histórias que estão
nos três evangelhos, por exemplo, a da negação de Pedro tem nos três
evangelhos. Mateus e Lucas geralmente não concordam entre si, mas
Marcos sempre está concordando com um ou com outro. Tudo isso
é um caso cumulativo, para dizer que Marcos veio primeiro e que
Mateus e Lucas estão dependendo de Marcos. A quarta afirmação diz
que a ordem dos eventos de Marcos parece ser mais original. A quinta
diz que Marcos parece ter um estilo mais pesado. Mateus e Marcos
tendem a alterar algumas leituras de Marcos, por exemplo, Marcos
diz que Jesus ficou irado, já Mateus diz que Jesus ficou transtornado,
parece que ele quer explicar o que significa aquela ira de Jesus. Tem
coisas em Marcos que Mateus parece expandir para explicar melhor,
por isso, Marcos parece ter essa tendência de que foi primeiro. Agora,
Marcos pode ter utilizado uma outra fonte Q? Pode. Outras fontes
distintas? Sim, mas o ponto é que Marcos veio primeiro. Naquilo que
Mateus e Lucas não seguem Marcos é porque ele utilizou uma outra
fonte, contudo, o grande ponto dessa teoria é de que Marcos veio
primeiro.
Outros vão dizer que Mateus veio primeiro e quem falou isso
foi Christian Bart. Ele afirma que, quando começamos a estudar a
história da igreja, Agostinho diz que Mateus veio primeiro. Além disso,
Mateus e Lucas concordam entre si e discordam de Marcos. Poucas
vezes, mas isso acontece. E em terceiro, nós não temos evidência
nenhuma de que Marcos utilizou outra fonte, pois o que ele argumenta
é que Mateus veio primeiro. Marcos utilizou Mateus e Lucas utilizou
Mateus, mas esta explicação não nos convence. Hoje em dia, a maioria
dos estudiosos defende a prioridade marcana e de que Marcos bebeu
muito de Pedro porque ele foi uma testemunha ocular e essa é a crítica
da fonte.
Existem aqueles que estudam os fatos, os que estudam o período
da tradição oral, a crítica da forma e aqueles que vão se ocupar
basicamente nas fontes que os evangelistas utilizaram, mas temos
aqueles que vão atrás da forma final: a crítica da redação. A crítica
da redação é entender que o que nós temos aqui — os evangelhos
— são histórias verídicas, contudo, eles têm propósitos teológicos,
além de ser o reconhecimento de que os evangelistas não estavam
simplesmente contando histórias, mas fazendo teologia. Portanto, eles

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alteram as ênfases, eles mudam, enquanto um fala que havia um cego,


outro fala que haviam dois e, de propósito, mudam a ordem dos textos,
porque eles estão fazendo ênfase. Ou seja, eles estão criando teologia.
Hoje, quando estamos atrás da forma original, indo atrás das fontes,
mas nada disso vale a pena. O crítico da redação vai dizer: “Vamos
estudar a forma que chegou até nós, mas vamos entender como a igreja
primitiva recebeu esses fatos como teologia”. Quais são os passos da
crítica da redação? Eles vão analisar os escritores bíblicos, discernir
as ênfases de cada escritor e tentar entender o propósito de cada um,
além de como o propósito deles servia para a comunidade e para o
cenário de vida teológico daquela comunidade. Muitos acham que a
frase sitz im leben é simplesmente falar de contexto histórico, mas
Sitz im leben é a comunidade para a qual aquela mensagem histórica
carregada de teologia está sendo direcionada e atinge o âmago daquela
comunidade. Quanto a Marcos, parece que sua ênfase é imperial, ou
seja, contrastar Cristo e Nero. Ele vai juntar todo aquele material, toda
aquela redação e fazer uma teologia para mostrar que Cristo e Nero
são opostos. O ponto deles é o seguinte: os teólogos estavam gerando
teologia para poder ensinar à igreja primitiva. Eles não estavam só
descrevendo os fatos, mas utilizando-os para criar teologia e essa é
a crítica da redação. Quem utiliza esta crítica é o Grant Osborne nos
comentários dele. O grande problema é que alguns críticos da redação
a utilizaram de forma errada. Eles começaram a dizer que Jesus tinha
andado sobre as águas, que isso é um mito, que seria o autor tentando
fazer teologia, e então ele criou essa história. Perceba que existe uma
forma boa de usar a crítica da redação e uma forma estranha. A forma
boa é que, realmente, cada um tem uma ênfase diferente. Realmente
cada um está preocupado em escrever para a sua comunidade. Então
vamos tentar entender qual é a ênfase de cada um aqui, porque eles
não estão apenas escrevendo história. Precisamos, então, estudar a
forma final do texto e esta é a crítica da redação.
Temos então a crítica da forma, a crítica das fontes e a crítica
da redação. A crítica da forma estuda o período oral e tenta tirar a
forma artificial que chegou até nós para tentar entender os ditos
de Jesus. A crítica das fontes tenta buscar as fontes que os autores
bíblicos utilizaram e a interrelação entre eles. A crítica da redação
tenta entender a forma como os autores bíblicos “manipularam”
as suas fontes para poder gerar um texto de cunho teológico para
alcançar a sua comunidade, então, esta é uma outra crítica. Podemos
usar isso de forma positiva? Sim. Existia um fato histórico e ele teve
uma transmissão oral. Devemos entender que houve essa transmissão
oral, e existem pessoas do bem que estudam essa transmissão nesse
período, mas houve um período de escrita e, nesse período, fontes
foram utilizadas. Contudo, em todos esses períodos de História, de
transmissão oral e de escrita, o propósito final desses autores, além de

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descrever o que aconteceu, era escrever um fator teológico para a sua


igreja. Não só o que aconteceu, mas, agora, a perspectiva teológica do
que aconteceu e, então, chega a crítica da redação.
A nossa posição para que você veja essas coisas é entender que
Bultmann, quando tenta destruir as formas para encontrar uma forma
por trás, estava errado porque ele compromete a própria metodologia
histórica de pesquisa que considera o documento que chegou em nossas
mãos e não cortá-lo. A crítica da fonte estuda a interdependência e isso
é muito importante. Na crítica da redação, o problema é que achamos
que os autores manipulam o texto para fins teológicos e acabam
criando histórias de mitos para poder embasar questões teológicas,
mas o benefício dela é, se eu tento procurar as ênfases teológicas de
cada autor, então vou olhar cada um como distinto. Alguns gostam de
dizer que Mateus escreve para judeus, mas questionamos isso, uma vez
que Lucas cita o Antigo Testamento tanto quanto Mateus, embora faça
isso de forma diferente. O que nós temos de evidência no Evangelho
de Mateus é que ele foi escrito para discipular a igreja, e é assim que
ele era usado. Todavia, essa ênfase no discipulado era marcada porque
enquanto temos a Torah de cinco livros, Mateus tem cinco discursos.
Cada discurso é feito em um monte e, dessa forma, havia uma “nova
Torah” sendo escrita para o povo, mas isso não era apenas para judeus.
Existia essa importância de um evangelho para mostrar que Jesus era o
Messias, mas colocar isso como a importância única perde-se o ponto
de que existia um propósito de discipulado em Mateus que é muito
claro. Qual o propósito de Lucas? Alguns dirão que é para mostrar que
o evangelho vai além da nação judaica. Sim, isso parece óbvio, mas
será que essa é a grande ênfase de Lucas? Por que Lucas repete tanto a
vida de oração de Jesus, mais do que todos? Dizer que a ênfase inteira
de um livro está só nos seus dois primeiros capítulos não faz sentido.
A crítica da redação é importante porque assim entendemos a ênfase
de cada autor.
Deixe-nos concluir falando de outras críticas atuais que ainda
estão em processo de desenvolvimento de forma breve. Temos a
crítica da narrativa que utiliza teorias linguísticas para estudar o texto,
uma vez que não precisamos de questões históricas porque temos
o texto. Outra crítica é conhecida como retórica e tenta pegar todos
os aspectos retóricos tanto judaicos quanto gregos tentando estudar
a Bíblia, como quiasmos, intercalação, simbolismo e ironia, por
exemplo. Temos também a crítica do estruturalismo, que estuda os
evangelhos sempre procurando algum tipo de estrutura. Que estrutura
está por trás do discurso de Jesus e de Mateus? Como isso se relaciona
com a comunidade e com a cultura? Nesse caso, temos um problema,
pois eles vão tentar estudar estruturas de poder, de patriarcado, por trás
dos discursos de Jesus. Os pós-estruturalistas vão dizer que podemos
interpretar da forma que quisermos, tendo em vista que não temos que

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entender o texto, mas que devemos nos entender e aplicá-lo à nossa


vida, podendo perverter o que foi dito. Além das demais, temos as
abordagens da teologia da libertação e feministas que tentam estudar
um texto através de um viés sempre dos extremos, de um polo. Segundo
estas abordagens, o problema da Bíblia, o problema do mundo é o
patriarcado, portanto, eles sempre estudam a Bíblia em cima disso.
Na teologia da libertação, o pobre é o espectro pelo qual a Bíblia é
lida e assim por diante. Todas estas abordagens atuais, incluindo o
feminismo e a teologia da libertação, são pólos extremos e abordagens
claramente sociológicas de viés político-ideológico em uma tentativa
de usar a Bíblia. Não há um respeito histórico, literário, teológico, não
há nada disso, mas somente polos e extremos.
Esta é, portanto, a nossa aula de metodologia. Lucas 1.1-4 é
o texto que você deve ter em mente, uma vez que o seu desafio é
entender o processo de transmissão que Lucas descreve em quatro
estágios: os fatos que foram transmitidos pelos apóstolos, escritos e
compilados por alguns e feitos de uma forma para ensinar a igreja.
A crítica histórica, a crítica da forma, a crítica da fonte e a crítica da
redação. História, oralidade, escrita e forma final, educacional para
igreja. Esse é o processo de transmissão e cada metodologia que os
estuda, das quais podemos tirar benefícios.
Pergunta: E sobre a teoria de que Mateus foi escrito originalmente
em aramaico ou hebraico?
Resposta: Essa teoria pressupõe que, sendo Mateus um judeu,
ele escreveu para judeus em hebraico, porque temos um pai da igreja
que fala disso, mas, nós não sabemos se o que esse pai da igreja
tem em mãos é o original e nem se isso era um texto que já havia
sido traduzido e chegou a um grupo judaico. Não tem como saber.
Além disso, quando estudamos o propósito de Mateus e pensamos
que aquela carta tinha que circular nas mais de 44 regiões judaicas,
onde boa parte delas já havia até esquecido de como falava o hebraico,
já que crianças, adolescentes e jovens já haviam nascido no mundo
helenístico e se eu faço uma carta para ser transmitida, como faço isso
em uma língua hebraica já que a língua-mãe era o grego? Não temos
noção do quanto o mundo se helenizou, imagina um povo que perdeu
seu estado. O Estado havia sido destruído quando foram levados ao
cativeiro babilônico. Sendo assim, todos os símbolos da aliança foram
destruídos. As sinagogas vêm para tapar buraco, pois temos mais de 54
seitas que surgiram após o cativeiro babilônico e cada uma pensando
diferente e cada uma super-helenizada. Hoje, alguns dizem: “Nós
precisamos encontrar o aramaico por trás do texto grego”, mas isso é
muita besteira, por não compreender o mundo helenizado do primeiro
século e o que Antíoco Epifânio causou ao mundo judaico, uma vez
que foi um divisor de águas. Para se ter uma ideia, na terceira base
de escavação de Jerusalém, foram encontradas placas de sinalização

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da época de Jesus em grego. O que aconteceu com o mundo naquela


época? Por que as crianças eram forçadas a aprender o grego na escola
rabínica? O mundo era helenizado. O único grupo que teve que se
fechar e teve que morar longe não foram os fariseus, não foram os
saduceus, não foram os essênios, foram os qumramitas. Dessa forma,
dizer: “Mateus foi redigido em hebraico, pois ele foi escrito para
judeus” é um reducionismo absurdo de toda complexidade sócio-
antropológica que acontecia no judaísmo rabínico do primeiro século.

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