Santos La DR Rcla Par Sub
Santos La DR Rcla Par Sub
Santos La DR Rcla Par Sub
Rio Claro - SP
2020
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Campus Rio Claro – SP
Rio Claro - SP
2020
Santos, Landerlei Almeida
S237g Geomorfologia e geologia do quaternário da planície flúvio-eólica
do médio rio São Francisco, NE do Brasil / Landerlei Almeida Santos.
-- Rio Claro, 2020
123 f. : il., tabs., fotos, mapas
Comissão Examinadora
Conceito: Aprovado.
Agradeço muito a meus pais (Dona Maria e Sr. Janderlei) pela dedicação e esforço
na construção dos alicerces desse longo e audacioso projeto acadêmico e de vida que foi
iniciado há algumas décadas. Também agradeço muito a minha querida irmã (Marisol), e
irmão (Landerson), que infelizmente não está mais entre nós. Outro pilar fundamental
para construção dessa obra foi a minha amada e querida Maura, verdadeira parceira nas
horas mais complicadas. O agradecimento a ela, também é estendido para os meus sogros
(Dona Elenaura e Sr. Antônio) que sempre estiveram à disposição e na torcida. Impossível
concluir esse trabalho sem eles.
A outra base de sustentação desta obra é o Professor e orientador Edgardo
Latrubesse. Reforçou inúmeras vezes que o primeiro passo para fazer ciência de verdade
é ter liberdade de pensamento, respeitar as instituições e trabalhar firme. Manteve uma
verdadeira orientação com questionamentos, muitas vezes duros, fundamentais para o
desenvolvimento da pesquisa. Agradeço muito pelas dicas, principalmente para melhorar
a comunicação científica e avançar numa formação cientifica segura e entender o papel,
responsabilidade, de um pesquisador para a sociedade. Além de permitir o
desenvolvimento de parte da Tese na excelente Nanyang Technological University-NTU
em Singapura. Assim, também estendo o agradecimento special a Asian School of the
Environment-ASE, Earth Observatory of Singapore-EOS, e a todo o “time de
pesquisadores” do Prof. Latrubesse.
Agradeço À UNESP, ao Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio
Ambiente e a CAPES pela concessão da bolsa de doutorado. Tenho muito respeito pela
instituição e concluo meu ciclo na UNESP motivado e preparado para os desafios futuros.
Agradeço ao Laboratório Progeologia-UFS, em especial ao Prof. Antônio Garcia,
Samuel, Mariana e Lucas pelo suporte técnico em etapas da pesquisa.
Agradeço à equipe da empresa JPMAR, especialmente a Dra. Lourdes, Msc Fabio
e a Alexandre pelo grande apoio.
Agradecimento especial para os amigos da região Xique-xique-BA, em especial a
meu amigo Railton e familiares que sempre esteve à disposição. Também agradeço à
UNEB (Campus Xique-Xique), em especial aos Professores Pedro, André e Cícero. Na
cidade de Rio Claro, não posso esquecer de agradecer pelo convívio os amigos Rafael,
Marly, Flavio, Gabriel, Guedes, Biral, Alan, Irakli e Bruno.
Importante destacar que o presente trabalho foi realizado com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Código de Financiamento 001.
“A incerteza foi sempre o chão familiar da escolha”
Zygmunt Bauman
RESUMO
Figura 1.1: (A) Recorte do mapa geológico da região do campo de dunas eólica do
Médio São Francisco (modificado de Moraes Rego, 1926); (B) Áreas onde ocorreram
desenvolvimento de campo eólico ou mares de areias no final do UMG (modificado
de Sarnthein, 1978). ................................................................................................ 18
Figura 1.2: Resultados das datações realizadas no campo de dunas do Médio São
Francisco por Barreto (1996). ................................................................................. 19
Figura 1.3: Classificação geomorfológica e resultados e localizações das datações
(idades em mil anos) realizadas por Barreto (1996) dispostos sobre um novo MDE
baseado em imagens do satélite Alos Palsar (12,5m de resolução). ....................... 20
Figura 1.4: Quadro síntese das datações em depósitos eólicos no médio e sub médio
São Francisco. No quadro azul, resultados de Barreto (1996). No quadro laranja,
idades indicadas por Cabral (2014). No quadro cinza resultados de Ferreira et al.
(2013). ..................................................................................................................... 21
Figura 2.1: Sondagem rasa no campo eólico. A) Carro apropriado para região; B)
Escavação de ~1m de profundidade antes de inserir o tubo amostrador; C) Tubo
amostrador inserido a percussão; D) Separação de amostra para datação LOE. .... 30
Figura 3.1: Mapa de localização da planície eólica-fluvial do Médio São Francisco.
................................................................................................................................. 34
Figura 3.2: Mapa geológico da região estudada apresentando as principais unidades
litoestratigráficas. .................................................................................................... 36
Figura 3.3: (A) Modelo de velocidade dos ventos trimestrais do ano de 2017
(modificado ECMWF ERA 5) em escala continental, disponibilizado pelo Climate
Change Institute (climatereanalyrzer.org), University of Maine. (B) Gráfico de
precipitação e intensidade dos ventos para a região de Xique-Xique (1980-2016)
disponível pelo WeatherSparker (weathersparker.com). ........................................ 40
Figura 4.1: Resultados apresentados por Wang et al (2004) baseados na análise de
espeleotemas............................................................................................................ 45
Figura 4.2: Diagrama sumário da distribuição dos táxons e presença de carvão no
testemunho estudado por De Oliveira et al. (1999). ................................................ 46
Figura 4.3: Sumário palinológico e paleoceanográfico de Behling et al. (2000),
apresentando as fases úmidas e de influxo de pólen. .............................................. 47
Figura 4.4: Quadro síntese do paleoclima no nordeste do Brasil baseado em
diferentes estudos realizados recentemente na região. ............................................ 50
Figura 5.1: Mapa de localização da planície aluvial do médio São Francisco. (A)
MDE realçando as características regionais da planície, marcada por áreas de planície
larga e restritas. (B) MDE da planície flúvio-eólica do médio São Francisco
indicando a área da planície mapeada e a localização das sondagens analisadas. (C)
MDE mostrando a estruturação da planície na área da planície eólica fluvial. (D)
Perfis topográficos transversais característicos no médio Rio São Francisco. ....... 53
Figura 5.2:(a) Imagem Sentinel-2 exibindo a região da planície aluvial investigada
e mapeada. (b) Perfil longitudinal do canal do Rio São Francisco na planície
estudada. Também é apresentado o valor da declividade do perfil (D) e a declividade
especifica na área de maior mudança da declividade (D”). .................................... 55
Figura 5.3: Mapa de caracterização das unidades morfosedimentares do cinturão
aluvial do médio Rio São Francisco. ....................................................................... 57
Figura 5.4: (A) Imagem Landsat 5 (falsa cor) mostrando a disposiçao geral da
planície de acreção de bancos. (B e C) Imgens mostrando a variação no padrão dos
bancos que constituem a U1. As setas estão indicando o alinhamento erosivo que
interpretamos como contato entre unidades. (D e F) Foto, descrição e local de datação
LOE de um barranco na unidade de bancos acrescidos. (F) Sedimentação
característico no topo dessa unidade, dominado por intercalação de silte e argila. 58
Figura 5.5: Imagens Google Earth e MDE mostrando características da Planície de
Interação Flúvio-Eólica. A e B) Reativações eólicas sobre leques aluviais que foram
aportados na planície do Rio São Francisco; C e D) Depósitos de planície de
inundação e dunas eólicas sobre bancos acrescidos; E, F) lagoas alongadas de canais
abandonados e acumulações arenosas retrabalhadas pelo vento. ............................ 60
Figura 5.6: Morfoestratigrafia da Planície de Interação Flúvio-Eólica. (A) Pequenas
dunas eólicas na parte central da planície de acreção de bancos. (B) Comtato entre
os depósitos fluvial e eólico; C) Foto destacando os depósitos intepretados como de
barra lateral sobreposto por depósito de planície de inundação na base do depósito;
D) Perfil estratigráfico da planicie fluvio-eólica ..................................................... 61
Figura 5.7: Imagem Landsat 8 mostrando a localização da planície de espiras de
meandro caracterizada pela presença de dezenas de lagoas alongadas. .................. 62
Figura 5.8: (A) Imagem Sentinel-2 exibindo a larga planície impedida a montante
de Xique-xique. (B) Mapa geomorfológico apresentando apenas as subunidades da
planície impedida na área da imagem Sentinel. Nesse mapa é apresentado elementos
que foram mapeados na escala de detalhes utilizando imagens (PlanetScope). (C e
D) Perfis topográficos esquemáticos de dois setores da planície impedida; (C) Perfil
representativo da área dominado por pântano e canais de planície, e (D) Perfil da área
dominada por canais deltaicos, ilustrando a conecção dos diques de canais de planície
e formação de lagoas rasas. ..................................................................................... 64
Figura 5.9: Áreas representativas dos subambientes da planície impedida. Imagens
Landsat 8, falsa cor (A-D). (A) Área característica da subunidade dominada por
pântano e canais de planícies. Também é destacado a presença de inúmeros bancos
de migração lateral dos canais característica particular dessa subunidade. (B)
Subunidade dominada por canais deltaicos. Uma verdadeira rede de canais que
avançaram sobre uma planície pantanosa e formaram lagos por conexões dos diques,
o que contribui para acelerar o processo de agradação da planície; (C) Área de
interação das subunidades dominada por canais deltaicos e dominada por pântano. É
notável o avanço e espraiamento da frente dos canais deltaicos sobre a planície
pantanosa de pequenos bancos; (D) dominada por canal tributário. (E) Imagem
PlanetScope mostrando feições de bancos antigos que tem sido dissecada por canais
mais jovens. ............................................................................................................. 65
Figura 5.10: Exemplo da resposta da planície impedida durante o evento de cheia.
(A) Registro de inundação da planície impedida durante evento de cheia que ocorreu
em janeiro de 2007 a partir de imagem Landsat 5, falsa cor (R7G4B2). (B) Destaca
as características exibidas pela planície na maior parte do ano no mês de março de
2007. ........................................................................................................................ 66
Figura 5.11: Barranco da unidade da Planície-Ilha laterítica. A) Visão geral do
afloramento analisado; B) Perfil estratigráfico; C) Imagem da laterita em nódulos,
identificada na base do barranco; D) Intercalação de areia quartzosa grossa e areia
média em sets de aproximadamente 30cm. ............................................................. 67
Figura 5.12: Sondagens da região da planície flúvio-eólica do médio São Francisco.
(a) Sequência de sondagens dispostas relativamente paralela ao canal principal, de
montante para jusante (localização na Fig. 5.1b). A partir das sondagens destacamos
a forte variação da profundidade do embasamento rochoso, a sedimentação basal
interpretada como depósito de leques aluviais, e, no topo, uma boa correlação lateral
interpretada como depósitos do sistema flúvio-eólico. (b) seção transversal indicando
a variação de depósitos de leques aluviais na margem direita do Rio São Francisco,
e prováveis depósitos lacustres na margem oposta. (c) Domínio de depósitos de
leques aluviais na margem esquerda. ...................................................................... 69
Figura 6.1: MDE mostrando o contexto regional do campo eólico do médio São
Francisco apresentado num MDE. Adicionalmente uma seção topográfica (Y-Y’)
que mostra claramente as diferenças altimétricas entre as principais superfícies
regionais. ................................................................................................................. 75
Figura 6.2: Evidências da estruturação da planície flúvio-eólica em subsuperfície.
(a) Lineamentos de subsuperfície traçados sobre mapa de magnetometria de
Amplitude do Sinal Analítico (modificado da CPRM,2019). (b) MDE sobreposto por
lineamentos e mapa derivado de magnetometria MDE. (c) Sondagens da planície
aluvial indicando a redução da profundidade do embasamento rochoso entre as
sondagens C-35, C-47 e C-51. Excelente correlação com área da planície em que
exibe uma maior anomalia magnética. (d) Sondagens mostrando variação no tipo de
sedimentação ........................................................................................................... 76
Figura 6.3: Caracterização geomorfológica (a) Mapa em larga escala das principais
unidades da região da planície flúvio-eólica do médio São Francisco. Também
mostra a compartimentação do campo eólico nos corredores de expansões principais.
(b) Mapa geomorfológico dos principais padrões eólicos no campo de dunas do
médio São Francisco. Adicionalmente unidades que representam os limites do campo
eólico. (c) Seções topográficas representativas dos diferentes corredores eólicos e
sequência dos tipos de dunas predominantes. ......................................................... 79
Figura 6.4: Características das dunas source-bordering. (a) MDE da unidade de duna
source-bordering no CE-2. (b) Imagem combinada do MDE e mapa de anomalia
magnética apresentando boa correlação nos setores mais elevados da duna source-
bordering e maiores índices de anomalia. (c) MDE da duna source-bordering do CE-
3. (d) Imagem combinada (MDE-mapa de anomalia magnética) mostrando que os
locais onde afloram cristas rochosas elevadas tem correspondência com alto índice
magnético. (e) seção topográfica da duna source-bordering do CE-2. (f) seção
topográfica da source-bordering no CE-3. .............................................................. 81
Figura 6.5: Características das Megadunas parabólicas. (a) MDE da zona central do
CE-2, destacando a variação no tipo de duna parabólica; (b) Perfil topográfico
representativo de uma Megaduna que exibe a claramente a superimposição de dunas
menores sobre a duna principal e que tendem a aumentar as dimensões à medida que
se aproxima da crista. (c) Dados da frequência do comprimento de megadunas bem
preservadas; (d) Histograma mostrando a altura preservada nas megadunas
parabólicas............................................................................................................... 84
Figura 6.6: Gráfico mostrando a relação de altura e comprimento entre as dunas
parabólicas alongadas e megadunas parabólicas (A) e a relação comprimento e
largura no gráfico (B). ............................................................................................. 85
Figura 6.7: Dunas parabólicas alongadas. (a/b) MDE destacando os tipos de
parabólicas alongadas identificadas (simples e compostas); (c) MDE mostrando o
predomínio de duna parabólica composta na zona em que o CE-3 está em contato
com o CE-2; ((d) (a) MDE realçando geoformas adquiridas por dunas parabólicas
alongadas que foram dissecadas na margem do corredor em que está em contato com
a planície do rio Pimenteiras; (f) Imagem PlanetScope (3m de resolução) de uma
duna parabólica composta no CE-3; (g) Histograma mostrando a frequência do
comprimento das dunas analisadas; (h) Histograma mostrando a relação
comprimento/largura utilizado para caracterizar as dunas parabólicas alongadas. . 86
Figura 6.8: (a) MDE mostrando a superfície plana e extensa do lençol arenoso
marcado por relevos mais elevados ou negativos gerados pelo processo de formação
de dunas blowouts. (b) Perfil topográfico de uma elevada duna blowout, no qual a
bacia de deflação funciona como uma lagoa temporária em períodos de chuva. (c)
Perfil topográfico de uma duna blowout pouco expressiva no relevo. ................... 88
Figura 6.9: Evidências de controle morfotectônico na zona distal do campo eólico.
(a) Imagem combinada (MDE e mapa de anomalia magnética), destacando o
paralelismo dos lineamentos na porção distal do campo eólico. (b) (b) Imagem
Google Earth destacando a concentração de dunas parabólicas alongadas numa faixa
entre lineamentos; (c) Imagem Google Earth de uma área com cadeias de dunas
parabólicas dissecadas. (d) Imagem de radar Alos Palsar revelando uma estruturação
perpendicular (setas) a direção de expansão do campo eólico que tem excelente
combinação com os lineamentos indicados na zona distal (e). ............................... 90
Figura 6.10: MDE apresentando a localização das descrições sedimentares e
datações por luminescência optica. (a) Descrições sedimentares das sondagens
realizadas em diferentes unidades do campo eólico. (b) Perfil topográfico
representativo com localização das descrições e datação, destacando idades obtidas
nas Megadunas. (c) Perfil topográfico regional com várias datações, destacando a
idade do lençol arenoso e as idades das Megadunas. .............................................. 93
Figura 6.11: Afloramento de depósitos flúvio-eólicos às margens do Rio São
Francisco. (a) Imagem Google Earth da área onde foi levantada a seção (Dunas da
Geleia). (b) MDE mostrando o contexto geomorfológico do afloramento. (c) MDE
mostrando que dunas foram ativadas num contexto de um pequeno leque aluvial na
margem do campo eólico. (d) Imagem geral do afloramento investigado. (e) Seção
estratigráfica da área das Dunas da Geleia. (h) área marginal do afloramento
caracterizada pelo truncamento de depósito fluvial e eólico. (f) Sets centimétricos de
areia fina depositada em ambiente fluvial. (g) depósito fluvial argilo-arenoso coberto
por areias eólicas; (h) truncamento de depósito eólico e fluvial. ............................ 95
Figura 6.12: Seções de geofísica rasa (GPR) da unidade de cadeias de dunas
parabólicas dissipadas, interpretadas. (A) sísmica rasa de uma duna dissipada. Foram
identificadas 3 superfícies bem definidas e datadas à unidade do topo (BA-01). (B)
sísmica rasa de uma duna na qual identificamos 3 superfícies e foram controladas
com descrição sedimentar e datação (BA-02a e BA-02b). (C/D) Imagem Google
Earth mostrando a localização das seções sísmicas. ............................................... 97
Figura 6.13: Caracterização detalhada da relação morfosedimentar e cronológica
entre as Megadunas e o lençol arenoso. (a) MDE apresentando localização da porção
do lençol eólico e megadunas datados. (b/c) Imagens Google Earth mostrando
características locais das Megadunas XX-04 e XX-5 e suas respectivas descrições
sedimentares. (d) MDE apresentando a localização topográfica do perfil topográfico
(e). (e) Perfil topográfico de uma porção central do CE-1 que é representativo em
termos de organização morfosedimentar................................................................. 99
Figura 7.1: Correlação entre as datações (LOE e TL) do campo eólico do Médio São
Francisco e registros cronológico e paleoclimático de espeleotemas e travertinos do
último Glacial-Holoceno na região . ..................................................................... 107
Figura 8.1: Representação esquemática dos corredores eólicos e principais padrões
de dunas. Adicionalmente é ilustrado o compartimento do cinturão aluvial do Rio
São Francisco que funcionou como área fonte de expansão do campo eólico. .... 112
SUMÁRIO
Capítulo 1 : INTRODUÇÃO
1.1 Contexto da Tese: Expansão de depósitos eólicos no Quaternário
Figura 1.1: (A) Recorte do mapa geológico da região do campo de dunas eólica do Médio São Francisco
(modificado de Moraes Rego, 1926); (B) Áreas onde ocorreram desenvolvimento de campo eólico ou
mares de areias no final do UMG (modificado de Sarnthein, 1978).
Em termos de comparação, esse campo apresenta uma área cinco vezes maior do
que o campo eólico ativo dos Lençóis Maranhenses. Também tem dimensões que
superam em quase quinze vezes o emblemático campo das dunas de White Sands, e até
mesmo muitas vezes maior que o Parque Nacional das Great Sand dunes, apenas para
mencionar duas áreas emblemáticas que são referências fundamentais na literatura de
depósito eólico.
19
Figura 1.2: Resultados das datações realizadas no campo de dunas do Médio São Francisco por Barreto
(1996).
quadro das datações mostra indícios de que atividades eólicas têm ocorrido na bacia do
Rio São Francisco, no mínimo, desde 60ka AP (Fig.1.4).
Figura 1.3: Classificação geomorfológica e resultados e localizações das datações (idades em mil anos)
realizadas por Barreto (1996) dispostos sobre um novo MDE baseado em imagens do satélite Alos Palsar
(12,5m de resolução).
21
A significância do campo eólico do Médio Rio São Francisco também pode ser
ressaltada devido à interação com uma das maiores planícies aluviais do continente. O
cinturão aluvial na região em que desenvolveu o campo eólico exibe expressiva largura e
características geomorfológicas complexas no segmento em que ocorre a interação.
Portanto, uma investigação do campo eólico, somado a uma análise morfosedimentar da
planície aluvial do Rio São Francisco, podem contribuir substancialmente nas
interpretações da formação das dunas eólicas da região.
Figura 1.4: Quadro síntese das datações em depósitos eólicos no médio e sub médio São Francisco. No
quadro azul, resultados de Barreto (1996). No quadro laranja, idades indicadas por Cabral (2014). No
quadro cinza resultados de Ferreira et al. (2013).
Nas últimas décadas, tem crescido o interesse por pesquisas de interação flúvio-
eólico (AL-MASRAHY e MOUNTNEY, 2015; HOLLANDS et al., 2006; MAROULIS
et al., 2007; NANSON et al., 1995 e outros). No geral, tem mostrado que em áreas onde
ocorreu interação entre esses sistemas, os processos eólicos predominaram em fases
áridas e os fluviais em intervalos de maior umidade. Em contraste, estudos mais recentes
(FITZSIMMONS et al., 2012; LATRUBESSE et al., 2012) têm sugerido que a interação
flúvio-eólica ocorreu principalmente em intervalos de maior sazonalidade climática.
Portanto, examinar em profundidade a geocronologia do campo eólico e explorar
a planície aluvial do Rio São Francisco, controlando a geomorfologia e
morfoestratigrafia, representa uma importante etapa para as pesquisas atuais na região
estudada. Assim, poderão ser obtidos significantes dados para reconstrução
22
1.4 Objetivos
Capítulo 8 : CONCLUSÕES
Figura 8.1: Representação esquemática dos corredores eólicos e principais padrões de dunas.
Adicionalmente é ilustrado o compartimento do cinturão aluvial do Rio São Francisco que funcionou como
área fonte de expansão do campo eólico.
(1) As cadeias de dunas parabólicas representam a unidade das dunas eólicas mais
velhas com morfologia preservadas.
(2) A correlação dos resultados cronológicos do campo eólico e dados de
espeleotemas e travertines demonstraram que as megadunas se desenvolveram
entre o MIS 3 e MIS2. Esse longo período de aridez foi interrompido pela fase
pluvial do HS5 e pela pequena fase do HS4. Concluímos que durante o MIS3
113
ocorreu na região o pico mais importante do clima árido e maior intensidade dos
ventos.
(3) Retrabalhamentos eólicos continuaram no período Holoceno (Barreto, 1996) e
continuam no presente associado não ao clima da região, mas as interferências
humanas e a susceptibilidade da região, principalmente nas margens onde tem
ocorrido erosão o pelo canal do Rio São Francisco.
Em conclusão, a abordagem combinada de dados multyproxies realizada nesta tese
destacou o valor do uso de ambos os proxies, como indicadores complementares de
condições climáticas opostas, sem precedentes na América do Sul tropical.
Demonstramos que a partir da integração de diferentes proxies é possível obter uma
melhor compreensão das reconstruções paleoclimáticas, paleoambientais e
paleogeográficas da América do Sul tropical.
114
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