Fala, Pretxs! - N.5
Fala, Pretxs! - N.5
Fala, Pretxs! - N.5
NA AMÉFRICA LADINA*
Venho de um lugar que não me imagina como sendo "de lá". Não tenho os olhos azuis e os cabelos
loiros que estão no imaginário social sobre "a mulher gaúcha". Sempre gostei de pensar em
imaginários, talvez por que acreditasse que não cabemos nos olhares dos outros e às vezes
desaguamos em palavras que, nada sutilmente, reinscrevem as gentes dentro de "fronteiras
imaginárias". A expectativa do viver posto em prática, "ousando" conhecer outros mundos possíveis,
é o ponto chave deste capítulo que carinhosamente escrevo para todes que por ventura leiam os
desalinhos de um amefricana ao sul do Sul, encantada em encontrar negritudes e pretinhosidades
para além do espelho.
Sonriza, Arena [1] e eu chegamos à Rodoviária de Pinotepa Nacional um dia antes do início do
evento. Estava ansiosa. De San Cristóbal fomos nós – Arena e eu – e uma outra pesquisadora
negra colombiana, estudante do doutorado em Estudos Feministas, que chegou alguns dias depois
em Corralero. Em San Cristóbal haviam várias organizações de mulheres se articulando para outros
dois encontros: o 2º Encontro Nacional de Mulheres em Veracruz e o II Encuentro de Mujeres que
luchan, em território zapatista.
Sobre o Encontro de Mulheres Negras, as únicas pessoas que de fato falavam sobre ele eram as
pessoas negras. Arena e eu nos questionávamos: o que fazia com que não houvesse divulgação do
evento em San Cristóbal? Porque as mulheres não estavam também se organizando para ir ao
Encontro ou tentar saber mais sobre?
A primeira conclusão chegamos foi que por tratar-se de um encontro de mulheres afromexicanas,
pessoas de diferentes gêneros e localizações raciais não se sentiram convidados a participar.
Porém o silêncio sobre o evento em si era o que chamava a atenção, visto que algumas das
principais organizações e projetos que pautam as desigualdades étnico-raciais em relação a
população negra atuam no contexto de San Cristóbal.
Posteriormente, quando retornei a Corralero para uma estadia mais longa, em novembro, soube que
mesmo dentro da comunidade haviam mulheres que não sabiam previamente o que estava
acontecendo. Esse evento, que é organizado por coletivos e movimentos sociais, especialmente o
Movimento Negro Mexicano, advém de uma crescente ação interseccional, onde as mulheres
negras mexicanas tem papel central para as ações em torno do reconhecimento constitucional da
afromexicanidade como uma identidade legitimamente mexicana. A autodefinição em relação a sua
mulheridade coexiste com a autoafirmação de sua africanidade ou negritude nacional.
Assim, compartilho aqui reflexões etnográficas a partir
da participação no III Encuentro Nacional de Mujeres
Afromexicanas, em que pude conhecer algumas
referências do movimento de mulheres negras
mexicanas, a comunidade corralense e suas questões
urgentes, tanto por meio das atividades que
compuseram o programa do encontro, quanto no
convívio com a família de Nzinga e as hermanas da
coletiva Flores de Jamaica, que ali também estiveram.
Comecei este capítulo falando sobre imaginários e compartilho aqui com vocês algumas
inquietações. Tanto a experiência do encontro com mulheres negras de outros lugares, quanto o
questionamento da minha própria existência como mulher negra gaúcha, se articulam no confronto
com os episódios da vida cotidiana. Porque eu não imaginava que poderia estar junto com mulheres
negras mexicanas? Porque fomos ensinadas a limitar, inclusive geograficamente nossa existência
no mundo? Porque nutrir uma ilusão incabível em existências transatlânticas? Perguntas que
mobilizam, juntamente com outras perguntas, vontades de virar letra e encontrar gentes, mesmo
depois de cambiar de existência, virar vento ou mar.
Pertinente compartilhar neste julho de 2021, registros de encontros entre mulheridades negras da
Améfrica Ladina, para nos lembrarmos de que somos sementes e estamos semeadas ao largo do
mundo, simbólica e materialmente, no ontem e no hoje. Seguimos florescendo e nos polinizando
amor negro como cura. Ofereço carinhosamente este capítulo reinventado, para as mulheres negras
que me forjaram, as que me nutrem constantemente, as hermanas que generosamente me
receberam e principalmente para minhas mães: Vera Lúcia Costa de Moura e Yemanjá.
*O trecho citado no texto é parte do trabalho de conclusão de curso "Encontros entre Améfrica y Abya Yala:
negritude e mexicanidade de mulheres negras", escrito por Aline de Moura Rodrigues para o Bacharelado em
Ciências Sociais, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2021). Em breve estará disponível no
repositório virtual da Universidade.
[1] Nomes fictícios utilizados para resguardar a identidade das pessoas retratadas no trabalho.
Meu nome é Ana Claudia Santos Gonçalves,
Licenciada em História pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB. É importante destacar
que toda a minha educação/formação se deu
em escola pública. Me formei no ano de 2012,
ingressando na universidade através das cotas
em 2014. Filha de mãe separada e feirante fui a
primeira da minha família a ingressar no ensino
superior.
Desta forma assim podemos conhecer a história de uma mulher preta, que lutou em vida e foi
silenciada em morte, pois ela foi esquecida dos "annales" de História, e a certeza que fica é que a
história do Brasil foi por muito tempo escrita pelo homem branco.
Os feitos de Maria Felipa de Oliveira jamais devem ser esquecidos, pois sua historia é de fundamental
importância para a representação da mulher preta. A partir do tratamento que historiadores e
historiadoras deram às mulheres ao longo da história, surgiu um questionamento sobre a ausência de
Maria Felipa na Escrita História. Será que o esquecimento acerca da personagem se deve à sua
condição de mulher? A História do Dois de Julho tem duas personalidades femininas
conhecidíssimas: a soldado Maria Quitéria e a soror Joana Angélica, ambas tiveram participação nos
embates na Bahia. Então, a ausência se deve ao fato de Maria Felipa ser uma mulher negra,
marisqueira, capoeirista? Ou decorre da suposta inexistência de provas documentais que
comprovem a sua existência?
Imagem do Google
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