Figuras de Linguagem - Parte I
Figuras de Linguagem - Parte I
Figuras de Linguagem - Parte I
a) Sabendo que o quiasmo é uma figura de estilo formada por uma dupla antítese cujos termos
se cruzam, identifique um exemplo de quiasmo no texto e explique a sua construção.
b) Nas palavras do crítico Paulo Rónai, o escritor Guimarães Rosa sonda as suas personagens
"num momento de crise, quando, acuadas pelo amor, pela doença ou pela morte, procuram
desesperadamente tomar consciência de si mesmas e buscam o sentido de sua vida". Como
a ausência de Dito desperta a inquietação de Miguilim?
3. (Unicamp 2021) Entre os versos de Gilberto Gil transcritos a seguir, podemos identificar
uma relação paradoxal em:
a) “Sou viramundo virado / pelo mundo do sertão.”
b) “Louvo a luta repetida / da vida pra não morrer.”
c) “De dia, Diadorim, / de noite, estrela sem fim.”
d) “Toda saudade é presença / da ausência de alguém.”
TEXTO 1
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TEXTO 2
Uma dentre as várias equações que fundam o Brasil enquanto país é: governar é produzir
incêndios. Marcado por uma ideia de modernidade impulsionada pela crença de que
modernizar é tomar posse de um terreno baldio, amorfo, pretensamente sem culturas
autóctones ditas desenvolvidas, a fim de torná-lo “produtivo”, o Brasil foi criado por incêndios.
Diante das queimadas que agora retomam, devemos nos lembrar que a destruição pelo fogo é
nossa maior herança colonial.
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida,
E de mãos dadas,
Marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
Inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
Têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
/.../
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
Sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
/.../
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Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
Amar sem amor.
(MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem. São Paulo: Vergara & Riba, 2001.)
5. (G1 - epcar (Cpcar) 2021) A seguir são apresentadas referências a figuras de linguagem
que podem ser encontradas em determinadas partes do texto. Assinale a alternativa em que a
figura proposta NÃO se faz presente no trecho citado.
a) No Artigo I encontra-se exemplo de aliteração.
b) No Artigo VIII encontra-se exemplo de metonímia.
c) No Artigo II encontra-se exemplo de metáfora.
d) No Parágrafo Único encontra-se exemplo de paradoxo.
6. (Unicamp 2021) A crônica instiga o leitor a ficar atento à desigualdade na cidade de São
Paulo. Assinale a alternativa que identifica corretamente os recursos expressivos (estilísticos e
literários) de que se vale o autor.
a) A desigualdade está escrita nas linhas de trens e ressoa nos versos de Solano Trindade:
onomatopeia.
b) No destino dos transportes coletivos no sentido centro subúrbio é possível viver a
desigualdade: eufemismo.
c) A desigualdade se mostra na expectativa de vida dos moradores de bairros bem situados e
periferias: alusão.
d) Na cobertura da imprensa, números da desigualdade perdem para pontos da bolsa de
valores: ambiguidade.
7. (G1 - cftmg 2020) – Meu padrinho é cheio de mistério. Por isso não te contou que eu existia
– ela disse.
– O professor é um homem... engraçado – eu respondi, com um sorriso amarelo.
Ela quase deu uma gargalhada, mas segurou a tempo, como uma boa princesa. Então disse,
com discreta malícia:
– Esse foi o eufemismo do século...
LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 80.
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d) interessante.
8. (G1 - cftmg 2020) Eu li e reli, virei o Rei Lear de cabeça para baixo, e nem sinal da frase
fundamental, se é que ela existia. Mas continuei procurando, como se achá-la fosse o único
jeito de superar o impacto do filme.
Mais duas semanas se passaram. Durante todo esse tempo, eu não liguei para o professor
Nabuco, nem ele para mim. Por um momento, temi que, enquanto eu digeria psicologicamente
a carnificina, ralando, queimando a mufa atrás da tal frase, ele talvez já nem lembrasse mais da
minha existência. [...]
Ao tocar a campainha do sobrado, me senti diferente. É verdade. A peça funcionou para mim
como o buraco de uma fechadura interior, por onde eu olhei e vi mil coisas antes escondidas.
Nem o bom Juca, nem o bom Eça, ninguém me deu, como o Shakespeare, tamanho soco de
humanidade, com tantos vícios, virtudes e sentimentos.
LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 64-65.
No fragmento, a metáfora do buraco de uma fechadura foi usada pelo narrador com o objetivo
de
a) reforçar os enigmas do texto teatral.
b) representar o conhecimento adquirido pela leitura.
c) expressar um comportamento curioso e observador.
d) sinalizar a busca pela frase fundamental de Shakespeare.
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e) fática, como em “é o dia que recebo o maior número de ligações no meu celular.”
(Ana Cristina César, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 29.)
a) No poema “este livro” usa-se um recurso poético chamado aliteração. Explique o que é
aliteração e identifique um exemplo de aliteração presente nesse texto poético.
b) O poema propõe uma definição do próprio livro e inclui algumas “instruções” para o provável
leitor. Identifique dois verbos que instruem o leitor e explique a frase “Não é automatismo”,
com base no conjunto do poema.
a) Explicite o conceito explorado pelo cartum 1. De que modo a imagem ressalta esse
conceito?
b) Que princípio comanda o processo de criação artística ilustrado pelo cartum 2? Tal princípio
remete a qual vanguarda europeia do início do século XX?
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14. (G1 - ifsul 2020) Leia a charge abaixo, do cartunista Junião, para responder à questão:
Por apresentar teor conotativo, a charge pode ser associada a uma figura de linguagem.
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15. (Unesp 2020) O eu lírico recorre ao recurso expressivo conhecido como hipérbole no
verso:
a) “Quem fez tão diferente aquele prado?” (1ª estrofe)
b) “E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.” (1ª estrofe)
c) “Quanto pode dos anos o progresso!” (2ª estrofe)
d) “Que faziam perpétua a primavera:” (3ª estrofe)
e) “Árvores aqui vi tão florescentes,” (3ª estrofe)
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Capítulo IV
UMA TEORIA NOVA
1
Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha buscando o Rio de Janeiro, Simão
Bacamarte estudava por todos os lados uma certa ideia arrojada e nova, própria a alargar as
bases da psicologia. 2Todo o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde era pouco
para andar na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e
virgulando as falas de um olhar que metia medo aos mais heroicos.
Um dia de manhã, – eram passadas três semanas, – estando Crispim Soares ocupado
em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista o mandava chamar.
– Tratava-se de negócio importante, segundo ele me disse, acrescentou o portador.
3
Crispim empalideceu. Que negócio importante podia ser, se não alguma notícia da comitiva, e
especialmente da mulher? 4Porque este tópico deve ficar claramente definido, visto insistirem
nele os cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados
um só dia. 5Assim se explicam os monólogos que fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam
muita vez: – “Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesária? Bajulador,
torpe bajulador! Só para adular ao Dr Bacamarte. Pois agora aguenta-te; anda; aguenta-te,
alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes amém a tudo, não é? Aí tens o lucro, biltre!”. – E
muitos outros nomes feios, que um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si
mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado é um nada. 6Tão depressa ele o recebeu como
abriu mão das drogas e voou à Casa Verde.
7
Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria abotoada
de circunspeção até o pescoço.
– Estou muito contente, disse ele.
8
– Notícias do nosso povo?, perguntou o boticário com a voz trêmula.
O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu:
9
– Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. 10Digo
experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha ideia; nem a ciência é outra
coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois, de uma experiência, mas
uma experiência que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até
agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.
11
Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. 12Depois explicou compridamente a
sua ideia. No conceito dele a insânia abrangia uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu
isto com grande cópia de raciocínios, de textos, de exemplos. 13Os exemplos achou-os na
história e em Itaguaí mas, como um raro espírito que era, 14reconheceu o perigo de citar todos
os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim, apontou com especialidade alguns
célebres, Sócrates, que tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula etc., uma enfiada de casos e pessoas, em que de
mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridículas. 15E porque o boticário se admirasse
de uma tal promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa, e até acrescentou
sentenciosamente:
16
– A ferocidade, Sr. Soares, é o grotesco a sério.
– Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim Soares levantando as mãos ao céu.
17
Quanto à ideia de ampliar o território da loucura, achou-a o boticário extravagante;
mas a modéstia, principal adorno de seu espírito, não lhe sofreu confessar outra coisa além de
um nobre entusiasmo; 18declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou que era “caso de
matraca”. Esta expressão não tem equivalente no estilo moderno. 19Naquele tempo, Itaguaí,
que como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha
dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta
da Câmara, e da matriz; – ou por meio de matraca.
Eis em que consistia este segundo uso. 20Contratava-se um homem, por um ou mais
21
dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão.
De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, 22e ele anunciava o que lhe
incumbiam, – um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo
eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano etc. O sistema tinha
inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que
possuía. Por exemplo, um dos vereadores, – aquele justamente que mais se opusera à criação
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ASSIS, Machado de. O Alienista. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro / USP. Disponível
em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=1939>. Acesso em: 12/08/2019.
16. (Ime 2020) “Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria
abotoada de circunspeção até o pescoço.” (ref. 7)
amora
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
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O sobrevivente
18. (Unesp 2020) a) Explicite a antítese contida em “Há máquinas terrivelmente complicadas
para as necessidades mais simples.” (2ª estrofe).
b) Identifique o pressuposto contido no trecho “E se os olhos reaprendessem a chorar” (4ª
estrofe), relacionando-o com o tema geral do poema.
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Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da
multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A
sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os
seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo
ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem
Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele?
Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a
sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles
“caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a
sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas de que ele não entendia e a
trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards1 dos jornais, tratando de
assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura;
comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas,
lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e
moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma,
só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas,
de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de
medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase coisa alguma.
19. (Unesp 2020) a) “no meio da multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta
pressa de quem vai trabalhar” (1º parágrafo). Identifique as figuras de linguagem utilizadas
pelo narrador nas expressões sublinhadas.
b) Reescreva o trecho “lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar” (2º
parágrafo), empregando a ordem direta e adequando-o à norma-padrão da língua escrita.
Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobra a esquina,
diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na calçada,
ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre a boca, move
os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve sofrer de ataque.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo apagou. O rapaz de
bigode pede aos outros se afastem e o deixem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a
gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgem
no canto da boca.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores da
rua conversam de uma porta a outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo
repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-
chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo a seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. 1Um grupo o arrasta para o
táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagará a corrida?
Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede não tem os
sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a
farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria.
Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que façam um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e
bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o
relógio de pulso.
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Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados com vários objetos de seus
bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade, sinal de nascença.
O endereço na carteira é de outra cidade.
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e
as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo
de Dario, pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá-lo os bolsos vazios. Resta na
mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio quando vivo só destacava molhando no
sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.
2
A última boca repete Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario
levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam
vê-lo, todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos
no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem
morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores
com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver.
Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do
rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela
apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.
20. (G1 - cp2 2020) Na narrativa ficcional de Dalton Trevisan, nota-se a presença de
metonímia em: A última boca repete Ele morreu... ele morreu (ref. 2).
Assinale a alternativa que indica corretamente o efeito de sentido atingido com o emprego
desse recurso.
a) A comparação de ideias faz uma crítica ao estilo falastrão das pessoas que se
desumanizam.
b) O uso da parte pelo todo dissocia o complexo organismo humano, aludindo à
desumanização das pessoas.
c) O jogo de palavras com contrários personifica a crítica ao processo sofrido de
desumanização das pessoas.
d) O exagero denota uma precipitação na informação ainda não confirmada devido à
desumanização das pessoas.
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Gabarito:
Resposta da questão 1:
a) A expressão “do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto”
configura um quiasmo, figura de estilo formada por uma dupla de termos que se cruzam. O
primeiro segmento sugere que Dito, ainda vivo, era portador de uma sabedoria que lhe
permitia comunicar-se com as pessoas de forma muito peculiar, ao mesmo tempo, portador
de uma percepção acurada atribuída, por muitos, como uma marca de distinção divina que
em breve o chamaria para Si. O segundo, “do Dito morto ainda no Dito vivo”, relaciona-se
com as lembranças dos ditos e pensamentos que Miguilim ainda guarda como valiosos
ensinamentos durante a sua fase de transição de criança para adulto.
b) A morte de Dito atinge Miguilim de forma intensa pela dor da ausência de quem era também
amigo e confidente e sempre disposto a responder aos seus questionamentos de criança. Com
a morte do irmão, Miguilim é obrigado a procurar respostas em diálogo consigo mesmo, o que
contribui para seu amadurecimento e, consequente, emancipação.
Resposta da questão 2:
[A]
Vieira comenta que, apesar de sabermos da inevitabilidade da morte, não podemos prever o
momento em que tal acontecerá, por mais que sejamos jovens, saudáveis e regrados:
”mas todas estas partes são tão duvidosas e tão incertas, que não há idade tão florente, nem
saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro”. A anáfora
constituída pela repetição do advérbio de intensidade “tão” enfatiza essa característica e busca
sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo, como transcrito em [A].
Resposta da questão 3:
[D]
Resposta da questão 4:
a) No segmento, pretensamente sem culturas autóctones ditas desenvolvidas, os termos
sublinhados poderiam ser substituídos por supostamente ou hipoteticamente e tidas como
ou julgadas, respectivamente: supostamente (hipoteticamente) sem culturas autóctones ditas
(julgadas) como desenvolvidas.
Resposta da questão 5:
[B]
No Artigo I, vemos a repetição da consoante “v” como um exemplo de aliteração. No artigo II,
vemos uma metáfora quando o eu lírico coloca o domingo de manhã como um momento
alegre, feliz, em contraposição aos dias enfadonhos da semana, como as terças cinzentas. No
Parágrafo Único, vemos um paradoxo no trecho “amar sem amor”, já que não é possível
realizar a ação de amar e não ter amor ao mesmo tempo.
Resposta da questão 6:
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[A]
É correta a opção [A], pois a frase “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com
fome” imita o som das rodas do trem correndo no trilho, o que configura uma onomatopeia.
Resposta da questão 7:
[A]
As reticências na resposta do narrador revelam sua hesitação e busca por uma palavra para
definir o professor, encontrando “engraçado” como eufemismo para “excêntrico”, já que o
homem é uma figura pouco comum.
Resposta da questão 8:
[B]
Ao dizer que a peça permitiu com que ele visse mil coisas antes escondidas, o narrador revela
que a partir dessa leitura conseguiu adquirir um conhecimento, já que conseguiu ver coisas que
não via antes. Assim, a metáfora do buraco de uma fechadura foi usada com o objetivo de
representar o conhecimento adquirido pela leitura.
Resposta da questão 9:
[C]
b) Os termos verbais “enfie” e “cante” exercem a função conativa que, através do uso uma
linguagem persuasiva, tem o intuito de convencer o leitor de que a poesia ou prosa poética não
resultam de um projeto estrutural racional ou baseado em conceitos formais pré-estabelecidos,
como sintetizado na frase “Não é automatismo”. Ao afirmar que o seu livro é “jazz do coração”
a autora compara o fazer poético à produção de um gênero musical que tem como principal
característica o improviso através da exteriorização espontânea de sentimentos e emoções de
quem o executa.
b) O uso de um conjunto de dados para elaborar uma partitura musical demonstra que o
compositor não obedece a um projeto estrutural rígido pré-definido ou a uma estratégia
estabelecida anteriormente, permitindo, ao contrário, que a obra aconteça de forma aleatória.
Também o Dadaísmo,vanguarda europeia do início do século XX, teve como característica
principal a ruptura com as formas de arte tradicionais, valorizando a espontaneidade,
improvisação, desordem, teor ilógico e irracional.
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[B]
O sentido global da tirinha é constituído a partir de uma relação de oposição, antonímica, entre
os vocábulos “muros” e “pontes”, pois, enquanto o primeiro apresenta sentido de separação, o
segundo sugere união. Assim, é correta a opção [B].
Na frase “Elas pulam no seu pescoço”, o uso da expressão “pulam no seu pescoço” constitui
uma personificação, instaurando o humor por atribuir característica humana agressiva ao início
das aulas. Assim, é correta a opção [B].
Quando olhamos para a charge, vemos a imagem de um pequeno tronco de árvore com a
inscrição “racismo” e, abaixo dele, há muitas raízes, que ocupam quase a imagem toda. Isso
cria uma mensagem metafórica de que, por baixo do racismo, existem muitas raízes, ou seja, o
racismo está muito enraizado na sociedade e o seu combate é bastante complexo.
É correta a opção [D], pois a afirmação de que a primavera seria perpétua, ou seja, duraria
eternamente e não três meses, representa uso de recurso expressivo conhecido como
hipérbole, ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística.
O trecho destacado apresenta a personificação do sentimento de alegria, uma vez que ela
assume característica humana de circunspecção, alguém que analisa algo.
b) Na quarta estrofe, o eu lírico alude à sensibilidade com que o ser humano foi dotado em
outros momentos da História, para analisar e se emocionar com o mundo e os seres que o
habitavam, o que parece não acontecer no momento em que se deflagra uma guerra
mundial de consequências trágicas para a Humanidade. Ao estabelecer paralelo com o
episódio bíblico do dilúvio (“E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio”), o eu lírico enfatiza o tamanho do desastre e o seu lamento pela desvalorização do
ser humano perante um mundo dominado pelo capital, na ânsia de tecnologia e disputa de
mercados.
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b) Na ordem direta, o trecho “lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar” (2º
parágrafo) apresenta a seguinte redação: lembrava-se de que nem mesmo sabia pronunciar o
nome delas.
A metonímia é a figura de linguagem marcada pela substituição de uma palavra por outra a
partir de uma relação entre elas, como, por exemplo, a relação parte-todo. Assim, observa-se o
uso da parte pelo todo no trecho em destaque, dissociando o complexo organismo humano
(aqui, o organismo humano é o todo que está substituído pela parte “boca”), aludindo, assim, à
desumanização das pessoas.
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Legenda:
Q/Prova = número da questão na prova
Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®
1.............198069.....Média.............Português......Fuvest/2021.........................Analítica
2.............196697.....Média.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha
3.............196699.....Baixa.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha
4.............198065.....Média.............Português......Fuvest/2021.........................Analítica
6.............196701.....Média.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha
10...........191225.....Média.............Português......Unicamp/2020......................Analítica
11...........190682.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica
12...........196326.....Média.............Português......Ueg/2020..............................Múltipla escolha
15...........189927.....Baixa.............Português......Unesp/2020..........................Múltipla escolha
16...........190263.....Baixa.............Português......Ime/2020..............................Múltipla escolha
17...........190043.....Média.............Português......Fuvest/2020.........................Múltipla escolha
18...........190685.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica
19...........190689.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica
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