Figuras de Linguagem - Parte I

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1. (Fuvest 2021) Leia o texto e responda à questão.

Só a Rosa parecia capaz de compreender no meio do sentir, mas um sentimento sabido e um


compreendido adivinhado. Porque o que Miguilim queria era assim como algum sinal do Dito
morto ainda no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto. Só a Rosa foi quem uma vez
disse que o Dito era uma alminha que via o Céu por detrás do morro, e que por isso estava
marcado para não ficar muito tempo mais aqui. E disse que o Dito falava com cada pessoa
como se ela fosse uma, diferente; mas que gostava de todas, como se todas fossem iguais. E
disse que o Dito nunca tinha mudado, enquanto em vida, e por isso, se a gente tivesse um
retratinho dele, podia se ver como os traços do retrato agora mudavam. Mas ela já tinha
perguntado, ninguém não tinha um retratinho do Dito. E disse que o Dito parecia uma
pessoinha velha, muito velha em nova.

João Guimarães Rosa. Campo Geral.

a) Sabendo que o quiasmo é uma figura de estilo formada por uma dupla antítese cujos termos
se cruzam, identifique um exemplo de quiasmo no texto e explique a sua construção.
b) Nas palavras do crítico Paulo Rónai, o escritor Guimarães Rosa sonda as suas personagens
"num momento de crise, quando, acuadas pelo amor, pela doença ou pela morte, procuram
desesperadamente tomar consciência de si mesmas e buscam o sentido de sua vida". Como
a ausência de Dito desperta a inquietação de Miguilim?

2. (Unicamp 2021) “Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas,


mas todas estas partes são tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem
saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro.”
(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São
Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 79.)

Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os argumentos da


pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas características à morte. Para comover
os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.

Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no sermão.


a) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo.
b) A repetição busca demonstrar aos fiéis o temor de uma vida longeva.
c) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o valor de cada etapa da vida.
d) A repetição busca demonstrar aos fiéis a insegurança de uma vida cristã.

3. (Unicamp 2021) Entre os versos de Gilberto Gil transcritos a seguir, podemos identificar
uma relação paradoxal em:
a) “Sou viramundo virado / pelo mundo do sertão.”
b) “Louvo a luta repetida / da vida pra não morrer.”
c) “De dia, Diadorim, / de noite, estrela sem fim.”
d) “Toda saudade é presença / da ausência de alguém.”

4. (Fuvest 2021) Leia os textos para responder à questão.

TEXTO 1

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TEXTO 2

Uma dentre as várias equações que fundam o Brasil enquanto país é: governar é produzir
incêndios. Marcado por uma ideia de modernidade impulsionada pela crença de que
modernizar é tomar posse de um terreno baldio, amorfo, pretensamente sem culturas
autóctones ditas desenvolvidas, a fim de torná-lo “produtivo”, o Brasil foi criado por incêndios.
Diante das queimadas que agora retomam, devemos nos lembrar que a destruição pelo fogo é
nossa maior herança colonial.

V. Safatle, "Governar e produzir incêndios". Adaptado.

a) Reescreva o fragmento “pretensamente sem culturas autóctones ditas desenvolvidas”,


substituindo as palavras sublinhadas por outras de sentido equivalente.
b) Explique por que tanto o enunciado “É fogo”, no texto 1, quanto “governar é produzir
incêndios”. no texto 2, apresentam mais de um sentido no contexto em que foram
empregados.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Os estatutos do homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida,
E de mãos dadas,
Marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
Inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
Têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
/.../

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
Sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
/.../

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Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
Amar sem amor.

(MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem. São Paulo: Vergara & Riba, 2001.)

5. (G1 - epcar (Cpcar) 2021) A seguir são apresentadas referências a figuras de linguagem
que podem ser encontradas em determinadas partes do texto. Assinale a alternativa em que a
figura proposta NÃO se faz presente no trecho citado.
a) No Artigo I encontra-se exemplo de aliteração.
b) No Artigo VIII encontra-se exemplo de metonímia.
c) No Artigo II encontra-se exemplo de metáfora.
d) No Parágrafo Único encontra-se exemplo de paradoxo.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma
boa palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de
desesperança. Des, definitivamente, não é um bom prefixo.
Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não importa em que dicionário. Doravante
ouviremos falar muito nela.
De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os
busões da cidade, sentido centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal
fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com
fome”, somente com esses substantivos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo.
Dá tempo para você entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida
Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-transporte na catraca e simbora – mais de 30
quilômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um humaníssimo
habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais que a gente bem conhece.
Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de desesperança os leitores, os números
rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há uma
possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez não haja mais jeito
de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país.

(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019.


Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html?
fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snMDUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU.
Acessado em 25/05/2020.)

6. (Unicamp 2021) A crônica instiga o leitor a ficar atento à desigualdade na cidade de São
Paulo. Assinale a alternativa que identifica corretamente os recursos expressivos (estilísticos e
literários) de que se vale o autor.
a) A desigualdade está escrita nas linhas de trens e ressoa nos versos de Solano Trindade:
onomatopeia.
b) No destino dos transportes coletivos no sentido centro subúrbio é possível viver a
desigualdade: eufemismo.
c) A desigualdade se mostra na expectativa de vida dos moradores de bairros bem situados e
periferias: alusão.
d) Na cobertura da imprensa, números da desigualdade perdem para pontos da bolsa de
valores: ambiguidade.

7. (G1 - cftmg 2020) – Meu padrinho é cheio de mistério. Por isso não te contou que eu existia
– ela disse.
– O professor é um homem... engraçado – eu respondi, com um sorriso amarelo.
Ela quase deu uma gargalhada, mas segurou a tempo, como uma boa princesa. Então disse,
com discreta malícia:
– Esse foi o eufemismo do século...

LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 80.

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No diálogo, o adjetivo usado pelo narrador é interpretado como um eufemismo para


a) excêntrico.
b) brincalhão.
c) expansivo.

d) interessante.

8. (G1 - cftmg 2020) Eu li e reli, virei o Rei Lear de cabeça para baixo, e nem sinal da frase
fundamental, se é que ela existia. Mas continuei procurando, como se achá-la fosse o único
jeito de superar o impacto do filme.

Mais duas semanas se passaram. Durante todo esse tempo, eu não liguei para o professor
Nabuco, nem ele para mim. Por um momento, temi que, enquanto eu digeria psicologicamente
a carnificina, ralando, queimando a mufa atrás da tal frase, ele talvez já nem lembrasse mais da
minha existência. [...]

Ao tocar a campainha do sobrado, me senti diferente. É verdade. A peça funcionou para mim
como o buraco de uma fechadura interior, por onde eu olhei e vi mil coisas antes escondidas.
Nem o bom Juca, nem o bom Eça, ninguém me deu, como o Shakespeare, tamanho soco de
humanidade, com tantos vícios, virtudes e sentimentos.

LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 64-65.

No fragmento, a metáfora do buraco de uma fechadura foi usada pelo narrador com o objetivo
de
a) reforçar os enigmas do texto teatral.
b) representar o conhecimento adquirido pela leitura.
c) expressar um comportamento curioso e observador.
d) sinalizar a busca pela frase fundamental de Shakespeare.

9. (Enem digital 2020)

Nessa simulação de verbete de dicionário, não há a predominância da função meta linguística


da linguagem, como seria de se esperar. Identificam-se elementos que subvertem o gênero por
meio da incorporação marcante de características da função
a) conativa, como em “(valeu, galera)!”.
b) referencial, como em “é festejar o próprio ser.”
c) poética, como em “é a felicidade fazendo visita.”
d) emotiva, como em “é quando eu esqueço o que não importa.”

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e) fática, como em “é o dia que recebo o maior número de ligações no meu celular.”

10. (Unicamp 2020) este livro


Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do coração. É
prosa que dá prêmio. Um tea for two total, tilintar de verdade
que você seduz, charmeur volante, pela pista, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro açúcar branco e blue.

(Ana Cristina César, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 29.)

a) No poema “este livro” usa-se um recurso poético chamado aliteração. Explique o que é
aliteração e identifique um exemplo de aliteração presente nesse texto poético.
b) O poema propõe uma definição do próprio livro e inclui algumas “instruções” para o provável
leitor. Identifique dois verbos que instruem o leitor e explique a frase “Não é automatismo”,
com base no conjunto do poema.

11. (Unesp 2020) Examine os cartuns.

a) Explicite o conceito explorado pelo cartum 1. De que modo a imagem ressalta esse
conceito?
b) Que princípio comanda o processo de criação artística ilustrado pelo cartum 2? Tal princípio
remete a qual vanguarda europeia do início do século XX?

12. (Ueg 2020) Observe a tirinha a seguir.

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O sentido global da tirinha é constituído a partir de uma relação


a) sociolinguística, baseada numa variante linguística incompatível com a fala de crianças.
b) antonímica, que se estabelece contextualmente entre as palavras “muros” e “pontes”.
c) sintática, expressa pelo uso da construção adversativa no primeiro quadrinho.
d) dialógica, devido à negação enfática da personagem no segundo quadrinho.
e) morfológica, que se manifesta pela formação do diminutivo de “tijolinho”.

13. (Fac. Albert Einstein - Medicin 2020)

Contribui para o efeito de humor do cartum o recurso à seguinte figura de linguagem:


a) sinestesia.
b) personificação.
c) pleonasmo.
d) eufemismo.
e) paradoxo.

14. (G1 - ifsul 2020) Leia a charge abaixo, do cartunista Junião, para responder à questão:

Por apresentar teor conotativo, a charge pode ser associada a uma figura de linguagem.

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A partir dessa afirmação, é correto afirmar que


a) a árvore cortada e os novos galhos nascendo representam, na charge, metonimicamente a
esperança de uma sociedade mais justa, apesar de ter existido um longo período de
escravidão em nosso país.
b) as raízes profundas, presentes na imagem, representam metaforicamente o quão complexo
é acabar com o racismo no Brasil, pois a ideia de raça foi historicamente construída e
mantida por muito tempo em nosso país.
c) a charge estabelece uma comparação entre a persistência do racismo no Brasil e os
problemas ambientais existentes no país, afirmação possível de ser comprovada, pois os
dois problemas possuem a mesma origem histórica.
d) a imagem presente na charge é uma personificação do racismo, pois atribui vida a uma
ideia, que não existe autonomamente, dependendo de pessoas que sintam e pratiquem o
racismo para que ela possa existir.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Onde estou? Este sítio desconheço:


Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço


De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,


Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;


Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

15. (Unesp 2020) O eu lírico recorre ao recurso expressivo conhecido como hipérbole no
verso:
a) “Quem fez tão diferente aquele prado?” (1ª estrofe)
b) “E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.” (1ª estrofe)
c) “Quanto pode dos anos o progresso!” (2ª estrofe)
d) “Que faziam perpétua a primavera:” (3ª estrofe)
e) “Árvores aqui vi tão florescentes,” (3ª estrofe)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A primeira publicação do conto O Alienista, de Machado de Assis, ocorreu como folhetim na
revista carioca A Estação, entre os anos de 1881 e 1882. Nessa mesma época, uma grande
reforma educacional efetuou-se no Brasil, criando, dentre outras, a cadeira de Clínica
Psiquiátrica. É nesse contexto de uma psiquiatria ainda embrionária que Machado propõe sua
crítica ácida, reveladora da escassez de conhecimento científico e da abundância de vaidades,
concomitantemente. A obra deixa ver as relações promíscuas entre o poder médico que se
pretendia baluarte da ciência e o poder político tal como era exercido em Itaguaí, então uma
vila, distante apenas alguns quilômetros da capital Rio de Janeiro. O conto se desenvolve em
treze breves capítulos, ao longo dos quais o alienista vai fazendo suas experimentações
cientificistas até que ele mesmo conclua pela necessidade de seu isolamento, visto que

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reconhece em si mesmo a única pessoa cujas faculdades mentais encontram-se equilibradas,


sendo ele, portanto, aquele que destoa dos demais, devendo, por isso, alienar-se.

Capítulo IV
UMA TEORIA NOVA
1
Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha buscando o Rio de Janeiro, Simão
Bacamarte estudava por todos os lados uma certa ideia arrojada e nova, própria a alargar as
bases da psicologia. 2Todo o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde era pouco
para andar na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e
virgulando as falas de um olhar que metia medo aos mais heroicos.
Um dia de manhã, – eram passadas três semanas, – estando Crispim Soares ocupado
em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista o mandava chamar.
– Tratava-se de negócio importante, segundo ele me disse, acrescentou o portador.
3
Crispim empalideceu. Que negócio importante podia ser, se não alguma notícia da comitiva, e
especialmente da mulher? 4Porque este tópico deve ficar claramente definido, visto insistirem
nele os cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados
um só dia. 5Assim se explicam os monólogos que fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam
muita vez: – “Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesária? Bajulador,
torpe bajulador! Só para adular ao Dr Bacamarte. Pois agora aguenta-te; anda; aguenta-te,
alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes amém a tudo, não é? Aí tens o lucro, biltre!”. – E
muitos outros nomes feios, que um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si
mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado é um nada. 6Tão depressa ele o recebeu como
abriu mão das drogas e voou à Casa Verde.
7
Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria abotoada
de circunspeção até o pescoço.
– Estou muito contente, disse ele.
8
– Notícias do nosso povo?, perguntou o boticário com a voz trêmula.
O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu:
9
– Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. 10Digo
experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha ideia; nem a ciência é outra
coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois, de uma experiência, mas
uma experiência que vai mudar a face da terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até
agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.
11
Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. 12Depois explicou compridamente a
sua ideia. No conceito dele a insânia abrangia uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu
isto com grande cópia de raciocínios, de textos, de exemplos. 13Os exemplos achou-os na
história e em Itaguaí mas, como um raro espírito que era, 14reconheceu o perigo de citar todos
os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim, apontou com especialidade alguns
célebres, Sócrates, que tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda,
Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula etc., uma enfiada de casos e pessoas, em que de
mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridículas. 15E porque o boticário se admirasse
de uma tal promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa, e até acrescentou
sentenciosamente:
16
– A ferocidade, Sr. Soares, é o grotesco a sério.
– Gracioso, muito gracioso!, exclamou Crispim Soares levantando as mãos ao céu.
17
Quanto à ideia de ampliar o território da loucura, achou-a o boticário extravagante;
mas a modéstia, principal adorno de seu espírito, não lhe sofreu confessar outra coisa além de
um nobre entusiasmo; 18declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou que era “caso de
matraca”. Esta expressão não tem equivalente no estilo moderno. 19Naquele tempo, Itaguaí,
que como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha
dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta
da Câmara, e da matriz; – ou por meio de matraca.
Eis em que consistia este segundo uso. 20Contratava-se um homem, por um ou mais
21
dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão.
De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, 22e ele anunciava o que lhe
incumbiam, – um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo
eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano etc. O sistema tinha
inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que
possuía. Por exemplo, um dos vereadores, – aquele justamente que mais se opusera à criação

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da Casa Verde, – desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás


nunca domesticara um só desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca
todos os meses. 23E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis
dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta
confiança no sistema. 24Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regime
mereciam o desprezo do nosso século.
– Há melhor do que anunciar a minha ideia, é praticá-la, respondeu o alienista à
insinuação do boticário.
E o boticário, não divergindo sensivelmente deste modo de ver, disse-lhe que sim, que
era melhor começar pela execução.
25
– Sempre haverá tempo de a dar à matraca, concluiu ele.
Simão Bacamarte refletiu ainda um instante, e disse:
– Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso
extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da
razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia,
insânia e só insânia.
O Vigário Lopes, a quem ele confiou a nova teoria, declarou lisamente que não
26
chegava a entendê-la, que era uma obra absurda, e, se não era absurda, era de tal modo
colossal que não merecia princípio de execução.
– Com a definição atual, que é a de todos os tempos, acrescentou, a loucura e a razão
estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que
transpor a cerca?
27
Sobre o lábio fino e discreto do alienista roçou a vaga sombra de uma intenção de
riso, em que o desdém vinha casado à 28comiseração; mas nenhuma palavra saiu de suas
egrégias entranhas.
A ciência contentou-se em estender a mão à teologia, – com tal segurança, que a
teologia não soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itaguaí e o universo à beira de uma
revolução.

ASSIS, Machado de. O Alienista. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro / USP. Disponível
em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=1939>. Acesso em: 12/08/2019.

16. (Ime 2020) “Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria
abotoada de circunspeção até o pescoço.” (ref. 7)

A figura de linguagem construída no trecho em negrito é a(o)


a) ambiguidade.
b) apóstrofe.
c) sinestesia.
d) personificação.
e) hipérbato.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Texto para a(s) questão(ões) a seguir.

amora

a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor

a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba

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se não trouxesse em seu corpo


(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar

Marco Catalão, Sob a face neutra.

17. (Fuvest 2020) É correto afirmar que o poema


a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos
amargo e sombrio.
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da
palavra “talvez”.
c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do
sentimento amoroso.
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e
“amar”.
e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema “O sobrevivente”, extraído do livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de
Andrade, publicado em 1930.

O sobrevivente

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.


Impossível escrever um poema — uma linha que seja — de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.


Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda


falta muito para atingirmos um nível razoável
de cultura. Mas até lá, felizmente,
estarei morto.

Os homens não melhoraram


e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

(Poesia 1930-1962, 2012.)

18. (Unesp 2020) a) Explicite a antítese contida em “Há máquinas terrivelmente complicadas
para as necessidades mais simples.” (2ª estrofe).
b) Identifique o pressuposto contido no trecho “E se os olhos reaprendessem a chorar” (4ª
estrofe), relacionando-o com o tema geral do poema.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o excerto do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto.

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Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da
multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A
sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os
seus amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo
ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem
Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele?
Não era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a
sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles
“caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a
sua rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas de que ele não entendia e a
trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards1 dos jornais, tratando de
assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura;
comparando o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas variadas e esquisitas,
lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e
moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma,
só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas,
de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de
medíocre suburbano, de vagabundo doméstico, a quase coisa alguma.

(Clara dos Anjos, 2012.)


1
placards: nome que se dava às tabuletas que traziam resultados de competições esportivas,
publicados nos jornais.

19. (Unesp 2020) a) “no meio da multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta
pressa de quem vai trabalhar” (1º parágrafo). Identifique as figuras de linguagem utilizadas
pelo narrador nas expressões sublinhadas.
b) Reescreva o trecho “lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar” (2º
parágrafo), empregando a ordem direta e adequando-o à norma-padrão da língua escrita.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Uma vela para Dario

Dario vem apressado, guarda-chuva no braço esquerdo. Assim que dobra a esquina,
diminui o passo até parar, encosta-se a uma parede. Por ela escorrega, senta-se na calçada,
ainda úmida de chuva. Descansa na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes à sua volta indagam se não está bem. Dario abre a boca, move
os lábios, não se ouve resposta. O senhor gordo, de branco, diz que deve sofrer de ataque.
Ele reclina-se mais um pouco, estendido na calçada, e o cachimbo apagou. O rapaz de
bigode pede aos outros se afastem e o deixem respirar. Abre-lhe o paletó, o colarinho, a
gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario rouqueja feio, bolhas de espuma surgem
no canto da boca.
Cada pessoa que chega ergue-se na ponta dos pés, não o pode ver. Os moradores da
rua conversam de uma porta a outra, as crianças de pijama acodem à janela. O senhor gordo
repete que Dario sentou-se na calçada, soprando a fumaça do cachimbo, encostava o guarda-
chuva na parede. Mas não se vê guarda-chuva ou cachimbo a seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. 1Um grupo o arrasta para o
táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagará a corrida?
Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede não tem os
sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém informa da farmácia na outra rua. Não carregam Dario além da esquina; a
farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito peso. É largado na porta de uma peixaria.
Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que façam um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e
bebendo, gozam as delícias da noite. Dario em sossego e torto no degrau da peixaria, sem o
relógio de pulso.

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Um terceiro sugere lhe examinem os papéis, retirados com vários objetos de seus
bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficam sabendo do nome, idade, sinal de nascença.
O endereço na carteira é de outra cidade.
Registra-se correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e
as calçadas: é a polícia. O carro negro investe a multidão. Várias pessoas tropeçam no corpo
de Dario, pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproxima-se do cadáver, não pode identificá-lo os bolsos vazios. Resta na
mão esquerda a aliança de ouro, que ele próprio quando vivo só destacava molhando no
sabonete. A polícia decide chamar o rabecão.
2
A última boca repete Ele morreu, ele morreu. A gente começa a se dispersar. Dario
levou duas horas para morrer, ninguém acreditava estivesse no fim. Agora, aos que alcançam
vê-lo, todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso dobra o paletó de Dario para lhe apoiar a cabeça. Cruza as mãos
no peito. Não consegue fechar olho nem boca, onde a espuma sumiu. Apenas um homem
morto e a multidão se espalha, as mesas do café ficam vazias. Na janela alguns moradores
com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço vem com uma vela, que acende ao lado do cadáver.
Parece morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do
rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela
apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair.

TREVISAN, Dalton. 33 contos escolhidos. Rio de Janeiro: Record, 2005

20. (G1 - cp2 2020) Na narrativa ficcional de Dalton Trevisan, nota-se a presença de
metonímia em: A última boca repete Ele morreu... ele morreu (ref. 2).

Assinale a alternativa que indica corretamente o efeito de sentido atingido com o emprego
desse recurso.
a) A comparação de ideias faz uma crítica ao estilo falastrão das pessoas que se
desumanizam.
b) O uso da parte pelo todo dissocia o complexo organismo humano, aludindo à
desumanização das pessoas.
c) O jogo de palavras com contrários personifica a crítica ao processo sofrido de
desumanização das pessoas.
d) O exagero denota uma precipitação na informação ainda não confirmada devido à
desumanização das pessoas.

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Gabarito:

Resposta da questão 1:
a) A expressão “do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto”
configura um quiasmo, figura de estilo formada por uma dupla de termos que se cruzam. O
primeiro segmento sugere que Dito, ainda vivo, era portador de uma sabedoria que lhe
permitia comunicar-se com as pessoas de forma muito peculiar, ao mesmo tempo, portador
de uma percepção acurada atribuída, por muitos, como uma marca de distinção divina que
em breve o chamaria para Si. O segundo, “do Dito morto ainda no Dito vivo”, relaciona-se
com as lembranças dos ditos e pensamentos que Miguilim ainda guarda como valiosos
ensinamentos durante a sua fase de transição de criança para adulto.

b) A morte de Dito atinge Miguilim de forma intensa pela dor da ausência de quem era também
amigo e confidente e sempre disposto a responder aos seus questionamentos de criança. Com
a morte do irmão, Miguilim é obrigado a procurar respostas em diálogo consigo mesmo, o que
contribui para seu amadurecimento e, consequente, emancipação.

Resposta da questão 2:
[A]

Vieira comenta que, apesar de sabermos da inevitabilidade da morte, não podemos prever o
momento em que tal acontecerá, por mais que sejamos jovens, saudáveis e regrados:
”mas todas estas partes são tão duvidosas e tão incertas, que não há idade tão florente, nem
saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro”. A anáfora
constituída pela repetição do advérbio de intensidade “tão” enfatiza essa característica e busca
sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo, como transcrito em [A].

Resposta da questão 3:
[D]

O paradoxo consiste na exposição de ideia ou conceito, aparentemente contraditório a outro ou


ao senso comum. Na frase da opção [D], a caracterização de saudade apresenta conceito
contraditório ao afirmar que ela se define como a "presença da ausência de alguém".

Resposta da questão 4:
a) No segmento, pretensamente sem culturas autóctones ditas desenvolvidas, os termos
sublinhados poderiam ser substituídos por supostamente ou hipoteticamente e tidas como
ou julgadas, respectivamente: supostamente (hipoteticamente) sem culturas autóctones ditas
(julgadas) como desenvolvidas.

b) As expressões ‘É Fogo!”, do primeiro texto, e “governar é produzir incêndios”, do segundo,


podem ser entendidas de forma literal ou com sentido conotativo. Em sentido literal, aludindo a
queima de mato, vegetação e arvoredo, para preparar o solo para o plantio e em sentido
conotativo, como expressão popular para designar problema difícil de resolver em um país.
Associando imagem e texto de Safatle, podemos perceber a crítica à estratégia de
desenvolvimento produtivo do Brasil que remonta ao período colonial e se estende até hoje,
alicerçada em desprezo por culturas autóctones e destruição do meio ambiente para atender a
interesses dos oligopólios, nacionais e estrangeiros.

Resposta da questão 5:
[B]

No Artigo I, vemos a repetição da consoante “v” como um exemplo de aliteração. No artigo II,
vemos uma metáfora quando o eu lírico coloca o domingo de manhã como um momento
alegre, feliz, em contraposição aos dias enfadonhos da semana, como as terças cinzentas. No
Parágrafo Único, vemos um paradoxo no trecho “amar sem amor”, já que não é possível
realizar a ação de amar e não ter amor ao mesmo tempo.

Resposta da questão 6:

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[A]

É correta a opção [A], pois a frase “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com
fome” imita o som das rodas do trem correndo no trilho, o que configura uma onomatopeia.

Resposta da questão 7:
[A]

As reticências na resposta do narrador revelam sua hesitação e busca por uma palavra para
definir o professor, encontrando “engraçado” como eufemismo para “excêntrico”, já que o
homem é uma figura pouco comum.

Resposta da questão 8:
[B]

Ao dizer que a peça permitiu com que ele visse mil coisas antes escondidas, o narrador revela
que a partir dessa leitura conseguiu adquirir um conhecimento, já que conseguiu ver coisas que
não via antes. Assim, a metáfora do buraco de uma fechadura foi usada com o objetivo de
representar o conhecimento adquirido pela leitura.

Resposta da questão 9:
[C]

No texto de João Doederlein observa-se a preocupação no uso de palavras e na composição


do discurso, típica de escritores que utilizam as redes sociais para disseminar uma produção
autoral, moderna e diferente dos princípios mais comuns a essas plataformas digitais. Assim,
nessa simulação de verbete de dicionário, a função metalinguística dá espaço à incorporação
da poética, como exemplificado pela expressão “é a felicidade fazendo visita.”, mencionada na
opção [C].

Resposta da questão 10:


a) A aliteração consiste na repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de várias
palavras na mesma frase ou verso, visando obter efeito estilístico na prosa poética e na
poesia, como acontece em “tea for two total, tilintar” pela repetição do fonema “t”.

b) Os termos verbais “enfie” e “cante” exercem a função conativa que, através do uso uma
linguagem persuasiva, tem o intuito de convencer o leitor de que a poesia ou prosa poética não
resultam de um projeto estrutural racional ou baseado em conceitos formais pré-estabelecidos,
como sintetizado na frase “Não é automatismo”. Ao afirmar que o seu livro é “jazz do coração”
a autora compara o fazer poético à produção de um gênero musical que tem como principal
característica o improviso através da exteriorização espontânea de sentimentos e emoções de
quem o executa.

Resposta da questão 11:


a) O reflexo da figura de um pato, associado vulgarmente à imagem de feiúra e
deselegância, reproduz, de forma invertida, a imagem de um cisne, símbolo de beleza e
harmonia de movimento, estabelecendo relação de oposição entre ambas. Associada à
palavra “paradoxo”, dividida em duas pela linha de água que separa as imagens, o cartum
explora a ideia do contrassenso pela valorização errônea de uma autoimagem que pode não
ser avaliada da mesma forma, por outros, ou sob a mesma perspectiva.

b) O uso de um conjunto de dados para elaborar uma partitura musical demonstra que o
compositor não obedece a um projeto estrutural rígido pré-definido ou a uma estratégia
estabelecida anteriormente, permitindo, ao contrário, que a obra aconteça de forma aleatória.
Também o Dadaísmo,vanguarda europeia do início do século XX, teve como característica
principal a ruptura com as formas de arte tradicionais, valorizando a espontaneidade,
improvisação, desordem, teor ilógico e irracional.

Resposta da questão 12:

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[B]

O sentido global da tirinha é constituído a partir de uma relação de oposição, antonímica, entre
os vocábulos “muros” e “pontes”, pois, enquanto o primeiro apresenta sentido de separação, o
segundo sugere união. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 13:


[B]

Na frase “Elas pulam no seu pescoço”, o uso da expressão “pulam no seu pescoço” constitui
uma personificação, instaurando o humor por atribuir característica humana agressiva ao início
das aulas. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 14:


[B]

Quando olhamos para a charge, vemos a imagem de um pequeno tronco de árvore com a
inscrição “racismo” e, abaixo dele, há muitas raízes, que ocupam quase a imagem toda. Isso
cria uma mensagem metafórica de que, por baixo do racismo, existem muitas raízes, ou seja, o
racismo está muito enraizado na sociedade e o seu combate é bastante complexo.

Resposta da questão 15:


[D]

É correta a opção [D], pois a afirmação de que a primavera seria perpétua, ou seja, duraria
eternamente e não três meses, representa uso de recurso expressivo conhecido como
hipérbole, ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística.

Resposta da questão 16:


[D]

O trecho destacado apresenta a personificação do sentimento de alegria, uma vez que ela
assume característica humana de circunspecção, alguém que analisa algo.

Resposta da questão 17:


[D]

No poema “Amora”, o eu lírico tece considerações sobre os termos “amor”/”amora” e


“amar”/”amargo”, explorando através de figuras sonoras (assonância, aliteração e
paranomásia) as tensões entre amor, sentimento terno e caloroso de uma pessoa por outra e
as adversidades que surgem quando ele é vivenciado no próprio ato de amar. Ou seja, possui
reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”,
como se afirma em [D].

Resposta da questão 18:


a) No trecho “Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.”,
a aproximação de palavras com sentidos opostos configura uma antítese, já que não existe
coerência na fabricação de máquinas muito complicadas para satisfazer necessidades
simples.

b) Na quarta estrofe, o eu lírico alude à sensibilidade com que o ser humano foi dotado em
outros momentos da História, para analisar e se emocionar com o mundo e os seres que o
habitavam, o que parece não acontecer no momento em que se deflagra uma guerra
mundial de consequências trágicas para a Humanidade. Ao estabelecer paralelo com o
episódio bíblico do dilúvio (“E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
dilúvio”), o eu lírico enfatiza o tamanho do desastre e o seu lamento pela desvalorização do
ser humano perante um mundo dominado pelo capital, na ânsia de tecnologia e disputa de
mercados.

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Resposta da questão 19:


a) O termo verbal “jorrava” foi usado em sentido figurado, emprestando noção conotativa de
grande intensidade ao fluxo da multidão que saía das portas da Central, configurando,
assim, uma hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística. Já
na expressão “honesta pressa” o narrador utiliza a personificação para atribuir qualidades
humanas, a honestidade, a seres inanimados, como a pressa.

b) Na ordem direta, o trecho “lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar” (2º
parágrafo) apresenta a seguinte redação: lembrava-se de que nem mesmo sabia pronunciar o
nome delas.

Resposta da questão 20:


[B]

A metonímia é a figura de linguagem marcada pela substituição de uma palavra por outra a
partir de uma relação entre elas, como, por exemplo, a relação parte-todo. Assim, observa-se o
uso da parte pelo todo no trecho em destaque, dissociando o complexo organismo humano
(aqui, o organismo humano é o todo que está substituído pela parte “boca”), aludindo, assim, à
desumanização das pessoas.

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Resumo das questões selecionadas nesta atividade

Data de elaboração: 16/04/2021 às 22:33


Nome do arquivo: Figuras de Linguagem_2021_Parte 1

Legenda:
Q/Prova = número da questão na prova
Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®

Q/prova Q/DB Grau/Dif. Matéria Fonte Tipo

1.............198069.....Média.............Português......Fuvest/2021.........................Analítica

2.............196697.....Média.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha

3.............196699.....Baixa.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha

4.............198065.....Média.............Português......Fuvest/2021.........................Analítica

5.............195776.....Média.............Português......G1 - epcar (Cpcar)/2021......Múltipla escolha

6.............196701.....Média.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha

7.............190896.....Média.............Português......G1 - cftmg/2020...................Múltipla escolha

8.............190895.....Média.............Português......G1 - cftmg/2020...................Múltipla escolha

9.............197916.....Média.............Português......Enem digital/2020................Múltipla escolha

10...........191225.....Média.............Português......Unicamp/2020......................Analítica

11...........190682.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica

12...........196326.....Média.............Português......Ueg/2020..............................Múltipla escolha

13...........194698.....Média.............Português......Fac. Albert Einstein - Medicin/2020 Múltipla


escolha

14...........194573.....Média.............Português......G1 - ifsul/2020......................Múltipla escolha

15...........189927.....Baixa.............Português......Unesp/2020..........................Múltipla escolha

16...........190263.....Baixa.............Português......Ime/2020..............................Múltipla escolha

17...........190043.....Média.............Português......Fuvest/2020.........................Múltipla escolha

18...........190685.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica

19...........190689.....Média.............Português......Unesp/2020..........................Analítica

20...........190347.....Média.............Português......G1 - cp2/2020......................Múltipla escolha

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