Movimentos Da Psicologia No Século XX
Movimentos Da Psicologia No Século XX
Movimentos Da Psicologia No Século XX
Algumas práticas da Psicologia são, portanto, restritas aos seus profissionais, mas o
uso do conhecimento, em interseção com outras profissões, após uma formação de
nível superior para atuar na pedagogia, na docência, na gestão de pessoas, no
desenvolvimento de soluções e produtos para as pessoas é possível e desejável. Essa é
nossa proposta para você. Vamos nessa!
Perspectiva e Zeitgeist
Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua
visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de
onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem
olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que
trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que
esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. (BOFF,
1999, p. 4)
Se enxerguei um pouco mais longe, foi por estar em pé sobre ombros de gigantes. (Isaac Newton)
Não é recomendado julgar e/ou refutar um dado histórico se você estiver pensando com
a cabeça do século XXI, a partir de suas ideias preconcebidas e do que você acha certo
ou errado, ou seja, do seu sistema de crenças, de sua perspectiva, eventualmente,
nutrida pelo senso comum, pelo conhecimento popular que não tenha sido testado e
analisado pelo método da Filosofia ou da Ciência.
Com essa postura, você absorverá melhor o conteúdo, compreenderá melhor a nossa
história, e, assim, perceberá o propósito e a utilidade daquele conhecimento para não
cometer os mesmos erros dos nossos antepassados, para prospectar o futuro, ou
compreender como chegamos até o nosso momento histórico do século XXI.
Em ciência, algumas vezes, para acertar é necessário errar. É a partir dos erros que
alguns pesquisadores ficam inquietos, buscam evidências válidas e fidedignas para
refutar o erro e alcançar evidências de maior qualidade. Os erros são tão relevantes
quanto os acertos.
Vamos analisar um exemplo prático do que tratamos até aqui!
Vejamos a seguir um caso interessante de uma ciência que foi relevante no passado,
mas que atualmente já não é tão considerada.
Nos dias atuais, afirmamos que a Frenologia é uma pseudociência, mas, em 1796, o
alemão Franz Joseph Gall (1758-1828) exerceu influência na Psicologia e na psiquiatria
com essa teoria. Com a Frenologia, Gall acreditava ser possível estudar as aptidões
mentais analisando o tamanho e o formato do crânio. Por muitos anos, o tamanho e o
formato do crânio de Gall e de outros estudiosos da Frenologia foram considerados, por
eles mesmos, o padrão de excelência e um exemplo do melhor da espécie humana.
Atualmente, essa ideia é um absurdo. No entanto, não podemos achar que esse
conhecimento seja inútil, pois, em ciência, não chegamos a conclusões simplesmente
por pensarmos que algo é obviamente verdadeiro ou falso. Precisamos buscar
evidências. Isso quer dizer que só foi possível descartar essa teoria porque esta foi
posta à prova.
Entendemos como pseudociência algo que se diz ciência, mas que não é.
Assim, podemos afirmar, em pleno século XXI, com evidências científicas robustas, que
somos seres únicos, ninguém é melhor do que ninguém, existe um lugar no mundo para
os extrovertidos e para os introvertidos. Antigas afirmações foram reavaliadas, por
exemplo:
Não existe raça superior.
O melhor tratamento para o doente mental não é ser descartado em um hospício.
A orientação sexual de uma pessoa só importa a ela mesma.
Entre outras discussões delicadas, só com reflexões e críticas amparadas pela ciência
prosseguimos absorvendo as transformações pelas demandas sociais e atuando de
forma a promover bem-estar e qualidade de vida.
Exemplo
Os doentes mentais, em certas circunstâncias, ficarão internados, mas as comunidades
terapêuticas são uma solução viável, em vez de internações de longa permanência.
Várias estratégias vêm sendo desenvolvidas a partir de erros e acertos, para
promovermos tolerância, compaixão, autocompaixão, saúde, e bem- estar físico e
emocional. Buscamos os acertos e as evidências científicas, bem como caminhos mais
éticos, humanizados, integradores.
Mas, para acharmos a ética, em algum momento da história, foi necessário perdê-la.
Para achar nossa humanidade, em algum momento da história, foi necessário nos
depararmos com práticas desumanas. Para chegarmos às estratégias e ao manejo que
promovem inclusão, foi necessário que vivenciássemos as consequências econômicas,
sociais, éticas e políticas das práticas segregacionistas. Infelizmente, não aprendemos
com todos os erros e, em parte de nossa civilização e de nossa sociedade, ainda
encontraremos mazelas, mas estamos em tempos melhores como humanidade do que
já estivemos em outras épocas.
A história da Psicologia como ciência demonstra como essa área tem sido importante
em diferentes campos:
Na escola, para pedagogos e outros profissionais entenderem o desenvolvimento humano e
designarem estratégias de aprendizagem, atendendo a maturação biológica, funcionamento do
cérebro e perfil cognitivo do aluno.
Para organizações e instituições desenvolverem melhores práticas na gestão de pessoas
Para o estabelecimento de tratamentos mais humanizados na saúde mental, bem como de
práticas para a promoção de saúde, negócios e neuromarketing.
Para psicoterapia, para avaliação psicológica, neuropsicologia, entre outras possibilidades de
atuação dos psicólogos.
Os eventos históricos são fundamentais para evitar equívocos e não repetir algumas
práticas que trouxeram mais confusão do que solução. Analisar a história e
compreender nosso passado nos ajuda a imaginar o futuro e a direcionar melhor nossos
esforços. Essa história é nossa. Ela é sua. É da nossa civilização, para o bem ou para o
mal.
A Psicologia como ciência e profissão, no Brasil do século XXI, tem sido posicionada de
modo a evitar os erros da história, buscando o caminho do bem, promovendo os direitos
universais humanos, a inclusão, a tolerância, a ciência, mas sabendo que: todo ponto de
vista é a vista de um ponto. (BOFF, 1999).
Por onde começamos? A Psicologia, como ciência, foi influenciada por inúmeros
pensadores, cientistas, movimentos e áreas. Veremos a seguir alguns.
Influência da Filosofia
Empiristas
A origem das espécies (1872), livro publicado por Charles R. Darwin (1809-1882),
abordou o desenvolvimento filogenético das espécies, incluindo a espécie humana. Isso
aproxima os seres humanos de outras espécies que habitam o planeta em uma corrida
por adaptabilidade e sobrevivência. Nossa espécie Homo sapiens (homem sábio), com
as características morfológicas atuais, tem 350 mil anos; as características
comportamentais modernas, cerca de 50 mil anos.
Essas evidências são importantes para a delimitação da Psicologia como ciência e para
o movimento do funcionalismo com o estudo do papel adaptativo da consciência, em
vez do seu conteúdo.
Influência da Psicofísica
A Psicofísica demarca uma mudança de abordagem. Eventualmente, você pode ler que
a Psicologia, em sua fundação, rompe com a Filosofia, mas essa afirmação está
equivocada. É a relação entre um estímulo em seu aspecto físico e a resposta
consciente do sujeito. Toda ciência precisa de uma base filosófica consistente para
operar: a isso chamamos de bases epistemológicas .
Para compreender o plano de fundo e o Zeitgeist do século XIX, é preciso considerar que
os métodos das ciências naturais estavam em alta, e a Psicologia precisava seguir esse
caminho. A Fisiologia foi uma resposta possível. O espírito metódico e rigoroso dos
pensadores alemães construiu o ambiente propício para o desenvolvimento de uma
Fisiologia experimental. Aparelhos tecnológicos estavam sendo desenvolvidos. Além
disso, a influência do empirismo inglês, que preconizava a necessidade de se estudar os
sentidos e como podem levar ao erro, foi fundamental em um contexto social em que
havia urgência de se fazer ciência, devido à predominância do espírito positivista, que
defendia o método experimental. Nesse contexto, o conhecimento científico era
considerado a via mais segura para se construir um conhecimento verdadeiro.
Origens e cientistas
Muitos cientistas somaram esforços para delimitar esse campo de estudo no século XIX
e essa nova Psicologia resultou em duas escolas: o estruturalismo e o funcionalismo.
Na transição do século XIX para o início do século XX, a Psicologia alcançou visibilidade
nas universidades dos Estados Unidos e da Europa, notadamente na Alemanha, e o
ritmo de seu desenvolvimento foi marcado pelos movimentos do estruturalismo e do
funcionalismo.
Edward B. Titchener.
Funcionalismo
James acreditava que uma alteração fisiológica no organismo levaria a uma emoção,
ideia que foi corroborada em um estudo independente pelo fisiologista Carl G. Lange
(1834-1900), psicólogo dinamarquês. Na perspectiva desses autores, não
experimentamos uma emoção se não houver uma alteração fisiológica no organismo.
Assim, o corpo reagiria de modo diverso aos eventos ambientais causadores de
emoções, e as experiências emocionais nada mais seriam do que uma tentativa de dar
sentido à alteração no organismo.
Exemplo: Se você escuta um barulho muito alto, como uma explosão, esse evento
ambiental vai aumentar seu batimento cardíaco, causar sudorese, respiração mais
rápida e curta, e o resultante disso é sua percepção de medo. Essa é a teoria James-
Lange para explicar uma emoção.
Nesse pequeno espaço, é difícil contar tudo o que acontecia na Europa e nos Estados
Unidos, pois existiam intercâmbios e influência mútua, mas é uma escolha didática
destacar aquilo que era mais evidente nessas localidades. A marcha da humanidade,
David Alfaro Siqueiros, 1971.
A Psicanálise é uma história à parte da Psicologia, mas que exerce grande influência nos
psicólogos, pedagogos, médicos psiquiatras, neurocientistas, entre outros interessados
no estudo das funções psicológicas humanas.
O Id, como uma estrutura psíquica inata, é regido pelo princípio do prazer e pela busca
da satisfação imediata; representa, por analogia, a pressão da água que chega à nossa
caixa. Essa pressão é constante e buscamos objetos que sejam capazes de satisfazer o
desconforto psíquico. Como não podemos atender às pressões mais primitivas em
busca do prazer, devido à ação do Superego e dos mecanismos de defesa,
eventualmente, adoecemos, pois não podemos buscar os objetos que, de fato,
desejamos. Esse adoecimento, muitas vezes, não apresenta os motivos para
consciência (para o Ego).
A Psicanálise sofreu algumas variações, ao longo do século XX, nas mãos de outros
autores que discordaram de certos aspectos da abordagem de Freud e/ou ampliaram
algo que anteriormente não tinha sido abordado ou aprofundado.
Para encerrar esse tópico, falaremos sobre Carl Gustav Jung (1875-1961), cuja teoria
dos tipos psicológicos é amplamente utilizada como orientação profissional, no
levantamento do estilo de aprendizagem de uma pessoa e dos seus interesses; isso
pode ser utilizado no planejamento de projetos educacionais, bem como na seleção de
pessoas em recursos humanos.
Jung foi um discípulo de Freud, mas romperam relações por divergências teóricas. O
seu sistema é conhecido como Psicologia Analítica, que é aplicada na psicoterapia, em
saúde mental e na avaliação da personalidade. A tipologia de Myers-Briggs
(classificação tipológica de Myers-Briggs) é um instrumento padrão-ouro para avaliação
da personalidade (MBTI). Outro teste que é amplamente utilizado no Brasil é o
questionário de avaliação tipológica (QUATI). Ambos os recursos são de uso restrito do
psicólogo e da psicóloga.
Behaviorismo (comportamentalismo)
Origem do behaviorismo
Podemos dizer que comemos porque sentimos fome. Você já parou para pensar nos
eventos que fazem parte dessa contingência, ou seja, da probabilidade de um evento ser
causado por outro evento?
John Broadus Watson (1878-1958) foi um cientista que fez conferências em que
rejeitava as abordagens estruturalistas e funcionalistas e afirmava o abandono de
métodos introspectivos. Inseriu a Psicologia como uma ciência que deveria ter um
objeto natural e aplicações práticas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Estudou os reflexos aprendidos e as reações emocionais básicas (incondicionadas —
medo, raiva, amor) e complexas (condicionadas).
Seja inato ou adquirido, o comportamento é selecionado por suas consequências. (SKINNER, 1983, p. 155)
Psicologia da Gestalt
Max Wertheimer
1880-1943
Kurt Ko ka
1886-1941
Wolfgang Köhler
1887-1967
Como o movimento aparente não é real, não possui os dados sensoriais concretos de
um movimento.
Todas as perspectivas analisadas até aqui têm por base uma doutrina filosófica — o
determinismo, ambiental no caso do behaviorismo, psíquico no caso da Psicanálise; os
movimentos anteriores recebiam uma influência muito grande da Fisiologia e do
determinismo biológico.
Determinismo
Segundo essa perspectiva, eventos ordenados podem ser explicados por leis simples.
Da mesma maneira, eventos psicológicos e/ou comportamentais são regidos por essas
leis (propriedades).
Na perspectiva desse autor, todos temos tendência a buscar uma realização pessoal,
que só é alcançada quando atingimos as prioridades dos degraus da pirâmide, da base
para o topo. A ideia da hierarquia é criticada, sem dúvida temos necessidades que são
fisiológicas, psicológicas e sociais.
A Psicologia Cognitiva
Sabemos que essa afirmação, por hora, talvez não faça muito sentido. No entanto, a
partir de agora é importante você se lembrar da diferença entre a Psicologia do senso
comum e a Psicologia Científica. Vamos analisar alguns exemplos? Pense nos seguintes
eventos da vida, que são psicológicos:
A dor
A tensão pré-menstrual
A depressão pós-parto
O senso comum, quando utiliza a expressão “é psicológico”, tipicamente está fazendo
menção a uma frescura, a algo que é inventado e/ou que podemos mudar se tivermos
força de vontade. Força de vontade não é um construto que explica um comportamento
motivado — essa é uma visão equivocada do senso comum. Vamos aprender que tudo é
psicológico do ponto de vista da Psicologia Cognitiva (científica).
Você já parou para analisar algo a seu respeito, por exemplo, sobre seu estilo cognitivo?
Pare agora por alguns minutos e pense sobre você. Você já parou para pensar por que
algumas pessoas relatam serem felizes e gozar de bem-estar e outras pessoas não,
mesmo quando as circunstâncias (o meio) estão favoráveis? O que é felicidade? O que é
bem-estar e qualidade de vida? Lembra-se da proposta de viajar pela história da
Psicologia para entender que tudo é psicológico, tudo é cognição? Vamos lá!
A Psicologia Cognitiva pode ser definida como uma área de conhecimento que analisa
os processos internos implicados na forma como as pessoas extraem sentido do
ambiente — interno (fisiológico) e externo (cultura) — e decidem quais ações são
apropriadas. Estuda a atividade e a estrutura do cérebro para compreender a cognição e
o comportamento humano.
Existe diferença entre a Psicologia Cognitiva aplicada à clínica, seus métodos e objetos
de estudo, e a Psicologia Cognitiva enquanto um sistema teórico da Psicologia. A
perspectiva teórica vai explicar o psicológico como um todo, definir e descrever os
processos cognitivos, por exemplo. Gradualmente, ao longo desta leitura, você
compreenderá melhor essa distinção.
Você deve estar dizendo “certo, entendi tudo”, mas, afinal, o que é interpretar e decidir? A
forma como decidimos as ações que são apropriadas e/ou simplesmente como agimos,
nos comportamos e/ou interpretamos os eventos depende de nossa evolução
ontogenética .
A Psicologia Cognitiva adota o determinismo como um pressuposto epistemológico. Eventos no decorrer de nosso desenvolvimento
podem resultar em um ambiente propício para desenvolvermos resiliência ou não, assim como em mais ou menos controle emocional e
psicológico. Podemos ter uma vulnerabilidade a desenvolver transtornos de humor, por exemplo, a depressão. Segundo o paradigma de
diátese-estresse, pessoas vulneráveis cognitivamente desenvolvem psicopatologias ao passar por eventos estressores.
A vulnerabilidade é inata, depende de muitos fatores, por exemplo, eventos do período gestacional e condições hereditárias. Mas, tais
vulnerabilidades se desenvolvem em nossas vidas por gatilhos ambientais, acontecimentos da vida.
A Psicologia trata o tema com base em teorias diferentes, mas podemos entender as
necessidades psicológicas em um âmbito geral como:
Sabe o porquê? Tudo é psicológico, e podemos mudar algumas coisas — outras não, e
há aquelas de difícil mudança. A visão é monista, ou seja, não dualista (mente-corpo).
Trata-se de uma visão integrada e holística. Falar da mente, do psicológico, ou do
cérebro é falar da mesma coisa com vieses diferentes. Vejamos alguns exemplos:
Tomar uma medicação para depressão resulta em mexer na bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio.
Fazer psicoterapia (Psicologia Clínica) também mexe com essa bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio. A psicoterapia resulta em
plasticidade neural.
Nessa perspectiva, não existe um corpo adoecendo uma mente, ou uma mente
adoecendo um corpo. O que vai existir é uma pessoa saudável, relativamente saudável,
ou não saudável, em uma abordagem simplista e didática a respeito dos estados de
saúde e de qualidade de vida de uma pessoa.
o Em um aspecto físico
o Mapeamento neurológico.
o Em um aspecto psicológico
o Sensopercepção, atenção, pensamento, memória, volição, emoções, sentimentos etc.
o Em um aspecto ambiental/funcional
o Mapeamento cultural, socioeconômico etc.
Isso não significa dividir uma pessoa em três coisas diferentes, pois, como
demonstrado, essa divisão é meramente didática. Uma pessoa é inteira e indivisível.
Falar do psicológico, da mente ou do cérebro é falar da mesma coisa, em perspectivas
didáticas diferentes, que permitam trabalhos diferentes. Nada mais, nada menos.
Qual o motivo dessa divisão didática? É simples. Existe uma grande quantidade de
variáveis que exercem influência em como os neurônios codificam as informações, e
isso
gradualmente vai determinar nossa estrutura de personalidade e nosso repertório
comportamental. Tudo isso influencia quem somos, nosso estilo de agir e de tomar
decisões, nossa forma de interpretar os eventos, sejam os externos, sejam os internos
(mudanças do próprio corpo).
Ciência básica
Busca delimitar uma área de conhecimento, definir construtos, construir e testar hipóteses, elaborar
teorias que possam descrever os fenômenos.
Ciência aplicada
Utiliza as diversas formas de conhecimento e a ciência básica para encontrar soluções para a vida das
pessoas. As teorias de uma ciência aplicada são construídas com um viés de prática, ou seja, em
nosso caso, no fazer do psicólogo.
A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas
variáveis que influenciam o comportamento do indivíduo.
Marcos históricos
O ano é 1956. Esse foi um ano de grande relevância para coroar o movimento da
Psicologia Cognitiva.
O cientista cognitivo Noam Chomsky fez uma exposição sobre uma teoria para a
linguagem (um processo cognitivo) para o famoso e internacionalmente conhecido
Massachusetts Institute of Techonology (MIT).
Nessa mesma ocasião, George Miller (1920-2012) apresentou o que ficou conhecido
como o mágico número 7 na memória de curto prazo (outro processo cognitivo), e
Newell (1927-1992) e Simon (1916-2001) expuseram seu modelo de solução de
problemas (General Problem Solver), precursor do desenvolvimento de programas de
inteligência artificial.
Como você viu na cronologia sobre os marcos históricos, Wilhelm Wundt demarcou o
primeiro laboratório de Psicologia. Curiosamente, os objetos de estudo são os
processos elementares da percepção e a velocidade de processos mentais. Isso não
quer dizer que Wundt rompeu com a Filosofia, mas buscou demarcar a Psicologia como
uma ciência experimental. Seu método de estudo era a introspecção.
O movimento que ficou conhecido como revolução cognitivista é mais bem identificado,
por seus métodos, pela analogia ao processamento computacional, pelo uso de
tecnologia para demonstrar suas teorias, e tem como marco a conferência no MIT de
proeminentes cientistas cognitivos em 1956.
A Psicologia Cognitiva resgata a história do estudo da mente que foi negligenciada pela
força do behaviorismo como um sistema teórico dentro da Psicologia. Para entender o
cognitivismo, é necessário compreender a história da Psicologia.
O ponto-chave para entender a revolução cognitivista (uma revolução lenta que demorou
décadas para se consolidar) é perceber os esquemas dos modelos behavioristas. As
contingências behavioristas descreviam diretamente a relação entre um estímulo e uma
resposta sem a mediação do cérebro e/ou de uma cognição.
Ainda existem profissionais que são behavioristas radicais, pois o Cognitivismo não veio
para substituir esse modelo comportamentalista, mas para ampliá-lo. Na década de
1970, os temas do momento eram o Cognitivismo e a Computação. Temas discutidos
com a mesma intensidade que a civilização debate hoje, no século XXI, inteligência
artificial, automação e as Neurociências.
As estruturas como hipotálamo, feixe prosencefálico medial, área septal, córtex cerebral
e córtex pré-frontal esquerdo estão relacionadas à aproximação, enquanto o córtex pré-
frontal direito e a amígdala, à evitação.
Muitas evidências das Neurociências Cognitivas vão apoiar a ideia de que as pessoas
apresentam características que demonstram um sistema de inibição comportamental
(por exemplo, neuroticismo) ou um sistema de ativação comportamental (por exemplo,
extroversão).
Veja a seguir como o sistema dorsal, o sistema ventral e a amígdala influenciam as
respostas comportamentais:
Sistema dorsal
Um sistema dorsal é composto por hipocampo, regiões dorsais do cíngulo anterior e córtex pré-frontal. Esse sistema está relacionado à
regulação dos estados afetivos, eliciando respostas comportamentais contextualmente apropriadas, e também está relacionado à cognição (memória e atenção).
Sistema ventral
O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amígdala, ínsula, corpo estriado ventral, regiões ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal. É um
sistema que está relacionado às etapas de identificação do significado emocional de estímulos e de produção dos
estados afetivos. Esse sistema também recebe aferências de áreas sensoriais primárias e de associação.
Amígdala
A amígdala estimula respostas automáticas diante de um evento ameaçador, por exemplo: ativação do sistema nervoso simpático
estimulando o núcleo hipotalâmico lateral; estimulação do núcleo paraventricular do hipotálamo para liberação de hormônios de estresse; e estimulação do nervo facial
trigêmeo para expressão facial de medo.
Na tarefa de Stroop, o voluntário nomeia a cor na qual o nome das cores é apresentado
– por exemplo, VERMELHO ou VERMELHO. O voluntário é mais rápido em processar e
executar a resposta quando o nome da palavra é congruente com a cor que deve
nomear.
II. Pensamentos automáticos são ideias que invadem sua mente e são um produto
de seu sistema de crenças.
III. Seu sistema de crenças pode ser adaptado e funcional ou produzir distorções
cognitivas.
Por meio de nosso sistema de crenças, interpretamos: a nós mesmos (crenças sobre
nossas próprias capacidades; o outro (o quanto somos otimistas sobre as pessoas); o
meio em que vivemos (o quanto acreditamos que estamos seguros, o meio nos oferece
as condições para vivermos e nos desenvolvermos); e o futuro (o quanto somos
otimistas a respeito do futuro).
A Neuropsicologia
O pensamento é um ponto central para a Psicologia Cognitiva, e saber como ele opera
sobre a motivação parece um bom lugar para começar.
No início dos anos 1970, o Zeitgeist da Psicologia definitivamente era cognitivo, e tais
construtos foram amplamente estudados. A vontade não é um constructo psicológico
capaz de explicar a complexidade e a variabilidade do comportamento motivado
humano, até porque nosso comportamento e nosso perfil cognitivo são
predeterminados em decorrência de nossa evolução ontogenética e de muitas outras
variáveis que exercem influência sobre nós.
São conceitos ideativos e intencionais que foram criados ou são utilizados com uma
finalidade científica com base em uma definição operacional e constitutiva. É o primeiro
passo para a construção de uma teoria. Pense em um adicto (dependente químico).
A Psicologia Cognitiva passa a elaborar modelos teóricos para explicar aquilo que as
Neurociências ainda não conseguem demonstrar, por exemplo, o motivo pelo qual tais
características variam de pessoa para pessoa. A Neurociência Cognitiva pode
demonstrar áreas ativas em um processo criativo, mas não consegue explicar, por
exemplo, como a criatividade acontece, onde ela está no cérebro.
Ainda não é possível fazer ligações, uma a uma, entre as áreas do cérebro e os
processos cognitivos. A forma como o cérebro implementa vários processos cognitivos,
como nosso sistema de crenças, permanece um mistério.
A Psicologia Cognitiva interpretou que uma emoção não ocorre sem a avaliação do
indivíduo e que é esta avaliação que causa a emoção, não o evento. Essa contribuição
teve bastante impacto na Psicologia.
A Psicologia no século XXI
Para chegarmos até o século XXI, gradualmente evoluímos o nosso jeito de pensar. Por
esse motivo, desenvolvemos tecnologias de acordo com a necessidade do ambiente e
sempre em um continuum histórico de acúmulo de conhecimento.
Exemplo: Dominamos o fogo 800 mil anos atrás; 8 mil anos atrás, a agricultura;
atualmente temos smartphones; amanhã, robôs.
No século XIX, vimos a Psicologia demarcar a sua área de conhecimento, não apenas
utilizando os métodos da Filosofia, mas empregando o método científico.
o 1879
O objeto de estudo da Psicologia era a consciência, e o método foi a introspecção.
o 1913
Abandonamos o estudo da consciência e passamos a focar no comportamento,
por meio da observação.
o 1950
Voltamos a estudar a consciência e também o comportamento, mas, então, a
Psicologia era cognitiva.
Entretanto, quando surge uma nova escola de Psicologia, uma nova perspectiva teórica,
a outra não é abandonada por completo, pois as diversas escolas coexistem ou se
transformam. A Psicologia também viu o movimento da Gestalt, a era das testagens
psicológicas (que é forte no século XXI), entre outros movimentos que duram até os dias
atuais.
Maslow reconheceu a limitação de sua teoria dentro de uma perspectiva científica, mas
também identificou que não existiria outra maneira para estudar os aspectos da
autorrealização e, talvez, pudesse ter a esperança de que um dia seus estudos
alcançariam confirmações. Mesmo sem estudos atuais que tragam evidências
contundentes acerca da hierarquia de necessidades, em cinco pontos, empiricamente, a
abordagem de Maslow é amplamente utilizada em certos contextos. Como vimos, a
hierarquia em apenas dois eixos possui evidências que podemos generalizar para
diversas populações.
A Psicologia Positiva tenta compreender alguns adjetivos que são muito admirados
quando os encontramos nas pessoas e superar as limitações pouco científicas do
humanismo.
De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2017), o sistema límbico é descrito como o
principal circuito mediador de nossas emoções. É um conjunto de estruturas situadas
em regiões inferiores ao córtex. Ele integra uma série de áreas e se comunica com todo
o sistema nervoso, demonstrando a interação entre essas áreas e estruturas com a
finalidade de produzir, gerenciar uma função.
A especialização de determinadas áreas do cérebro não é questionada, por exemplo, as
áreas de linguagem e de memória. Mas pensar que é a interação de diversas estruturas
que gerencia aspectos do nosso funcionamento e comportamento é muito atrativo e
atual.
o Sabedoria e conhecimento
Forças que envolvem a aquisição e a utilização do conhecimento. Criatividade, pensamento
crítico, gostar de aprender, curiosidade.
o Coragem
Forças emocionais que envolvem o exercício da vontade para alcançar metas perante a oposição,
externa e interna. Honestidade e perseverança.
o Humanidade
Ajudar os outros. Amar, ser amado, bondade, habilidades sociais.
o Justiça
Ações cívicas para promover uma vida comunitária saudável. Liderança, cidadania, integridade.
o Temperança
A busca pelo equilíbrio, misericórdia, humildade, autorregulação, prudência.
o Transcendência
Perceber a beleza, bom humor, gratidão, espiritualidade.
Isso não significa abandonar os estudos das funções cognitivas e como elas modulam o
comportamento, tampouco abandonar a Psicologia clínica em suas diversas
modalidades. Continuamos em interseção com as Neurociências, com a discussão
sobre a tecnologia, como incorporá-la à Psicologia e o impacto dela em nossas vidas.
Como um projeto para o século XXI, a Psicologia Positiva propõe rompermos com os
discursos tradicionais e buscar novas práticas em como avaliar e desenvolver as forças
de caráter e virtude nas pessoas, nas organizações e nas instituições.
O psicólogo terá toda a bagagem histórica, poderá avaliar a sua personalidade com
cientificidade e tecnicidade. Poderá avaliar o seu perfil cognitivo, as maneiras que você
usa para tomar uma decisão, suas forças de caráter e virtudes, utilizando as práticas
psicológicas refinadas ao longo de mais de um século.
Para a Psicologia Positiva, os pontos fortes de uma pessoa são tão importantes quanto
as vulnerabilidades. Práticas no mercado que atuam com a Psicologia Positiva focadas
nos pontos fortes cometem um erro técnico. Uma avaliação global é necessária.
O profissional de Psicologia possui conhecimento técnico e a prerrogativa profissional
para avaliar sua saúde
mental, seu perfil de personalidade, seu perfil cognitivo e correlacionar com os seus
pontos fortes, suas forças de caráter e virtudes. Esses dois aspectos compõem um
projeto mais sustentável para o seu desenvolvimento pessoal.
Considerações Finais
A Psicologia é plural como profissão e como ciência, fazendo interseção com diversas
outras áreas de conhecimento. Muitas profissões se beneficiam da Psicologia como
ciência: pedagogos, professores, gestores, marketing, entre outros.