Cordel - A TEORIA DO CORDEL

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A TEORIA DO CORDEL - Resumo.

Numa tentativa de ajudar aos Compadres e às Comadres que estão começando, e


querem muito aprender e colocar em prática as Regras do Cordel, fiz um resumo da
Teoria.
Espero que seja útil.
Quaisquer esclarecimentos estamos às ordens!

TEORIA DO CORDEL - Resumo


1. - Sextilha:
Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero preferido pelos nossos repentistas,
principalmente no início das apresentações. A Sextilha é uma estrofe com rimas
deslocadas, constituída de seis linhas, ou seis versos de sete sílabas, nomes que têm a
mesma significação. Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si,
conservando as demais em versos brancos (sem rima obrigatória). Leandro Gomes de
Barros, grande escritor da Literatura de Cordel, filho de Pombal, Estado da Paraíba,
escreveu:

Meu verso inda é do tempo


Que as coisas eram de graça:
Pano medido por vara,
Terra medida por braça,
E um cabelo da barba
Era uma letra na praça.

Outro exemplo que daremos é o do ceguinho anônimo, que, após a morte de sua
desventurada mãe e guia, chorou, com os olhos rasos d'alma, seu infortúnio:

Já tive muito prazer,


Hoje só tenho agonia!
Não sinto porque sou cego,
Eu sinto é falta do guia!
Quando mamãe era viva,
Eu era um cego que via!

2. - Sete Linhas, Sete Pés, Septilha ou Setilha.


No início do século atual, o Cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça
Serrador fez uma adaptação à Sextilha, criando o estilo de sete versos, também chamado
de sete linhas ou de sete pés, rimando os versos pares até o quarto, como na Sextilha; o
quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto. Exemplifiquemos com o
próprio criador do gênero:

Amigo José Gonçalves,


Amanhã cedinho, vá
A Coatis, onde reside.
Compadre João Pirauá;
Diga a ele dessa vez,
Que amanhã é fim de mês,
Deus querendo, eu chego lá!
José Duda do Zumbi (Manoel Galdino da Silva Duda), no ocaso da vida, com a
experiência da idade, disse para José Miguel, jovem companheiro, com quem duelava:

Fui moço, hoje estou velho!


Pois o tempo tudo muda!
Já fui um dos cantadores
Chamado Deus nos acuda ...
Este que estão vendo aqui
Foi Zé Duda do Zumbi!
Hoje Zumbi do Zé Duda!

3- Décima de Sete Pés

Embora de origem clássica, é a Décima um estilo muito apreciado, desde os primórdios


da Poesia Popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os
cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estrofe a
receber a denominação de glosa.
Como o próprio nome diz, Décima é uma estrofe de dez versos de sete sílabas, assim
distribuídos: o primeiro, rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o
sexto, com o sétimo e o décimo, e o oitavo, com o nono. Podemos assim representar
essa distribuição: A B B A A C C D D C, ou ainda, na vertical:

A
B
B
A
A
C
C
D
D
C

De Antônio Ugolino Nunes da Costa (Ugolino do Sabugi), primeiro grande Cantador


brasileiro, extraímos esta estrofe, em Décima, de seu famoso poema "As obras da
Natureza":

A - As obras da Natureza
B - São de tanta perfeição,
B - Que a nossa imaginação
A - Não pinta tanta grandeza!
A - Para imitar a beleza
C - Das nuvens com suas cores,
C - Se desmanchando em louvores
D - De um manto adamascado
D - O artista, com cuidado,
C - Da arte aplica os primores
Nota: O Mote:
O Mote é uma sentença ou pensamento, formado de um ou dois versos, com que se
finalizam as estrofes.
O Mote serve também para se dar o tema da estrofe, pois é sobre o seu conteúdo que se
deve versar.
Uma estrofe que responde a um Mote passa a se chamar “Glosa”.
Exemplo: Mote de duas linhas ou dois versos:
“Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar”.

Glosa:

Milagre, na Cantoria
É o tinir da viola!
O Cordel é uma escola
De paz, amor e harmonia!
Seja noite, seja dia,
Prosseguimos a cantar
E o verso vem expressar
Nosso carinho ao labor...
Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar!

4 - Martelo Agalopado
O Martelo Agalopado atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é
uma estrofe de dez versos, em decassílabos, obedecendo à mesma ordem de rima dos
versos da Décima.

A - Quando as tripas da terra mal se agitam,


B - E os metais derretidos se confundem,
B - E os escuros diamantes que se fundem,
A - Da cratera ao ar se precipitam.
A - As vulcânicas ondas que vomitam
C - Grossas bagas de ferro incendiado,
C - Em redor, deixam tudo sepultado
D - Só com o som da viola que me ajuda,
D - Treme o sol, treme a terra, o tempo muda,
C - Eu cantando Martelo agalopado.

5 - Galope a Beira-Mar
Gênero muito apreciado pelos Apologistas da Poesia Popular que, juntamente com o
Martelo, recebeu a denominação de “Décima de Versos Compridos”. O Galope é assim
chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros. É constituído de
estrofes de dez versos de onze sílabas, seguindo a mesma distribuição de rimas da
Décima, sendo que o último verso deve, invariavelmente, terminar com a palavra MAR.
Foi criado pelo violeiro cearense José Pretinho, filho de Morada Nova, vaqueiro do
"coronel" José Ambrósio, falecido em Lavras da Mangabeira. Contam que José
Pretinho, após levar uma surra, em Martelo, de Manoel Vieira Machado, Cantador
piauiense, veio a Fortaleza e, na Praia de Iracema, observou o mar, cujo movimento das
ondas se parecia com o galope dos cavalos da fazenda do "coronel" Ambrósio. Criado o
estilo, procurou o adversário para a desforra. Deixou-o aniquilado. Mergulhão de Sousa
divulgou o gênero por todo o Nordeste. Dimas Batista, cantando no Teatro Santa Isabel,
em Recife, improvisou sob aplausos:

A - Cantando um Galope ninguém me humilha,


B - Pois tudo o que existe no mar aproveito,
B - Na ilha, no cabo, península, estreito,
A - Estreito, península, em cabo e na ilha,
A - Navio, lá na proa, em bússola e milha!
C - Medindo a distância eu vou viajar,
C - Não quero, da rota, jamais me afastar,
D - Porque me afastando o destino saí torto;
D - Confio em Deus pra avistar o meu porto,
C - Cantando Galope na beira do mar!

6 - Metrificação e Ritmo - ATENÇÃO!!!!!


Métrica ou Metrificação é a arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos
medidos. A métrica é obtida pela contagem das sílabas poéticas e o ritmo é obtido pelas
cesuras. (Sílabas tônicas, obrigatórias, nos versos).
Deve-se observar, a princípio, que a contagem de sílabas poéticas difere, em função do
ritmo, da contagem de sílabas gramaticais.
Assim, o verso “ Milena chega em novembro”, gramaticalmente, tem nove sílabas:

( Mi le na che ga em no vem bro).

Mas, na contagem poética ( que obedece ao ritmo do canto ou declamação do verso)


encontramos apenas sete sílabas poéticas:

Mi le na che gaem no vem ( bro).

Vamos entender melhor essa divisão, ao estudarmos as regras abaixo:


Regra 1 – Contam-se as sílabas poéticas somente até a sílaba tônica da última
palavra do verso.
Ou seja: não se contam as sílabas que estiverem depois da sílaba tônica da última
palavra do verso.
A última sílaba que se conta é a tônica da última palavra. Ex.- 7 Sílabas:

Eu vi mi nha mãe re zan (do) 7


Aos pés da Vir gem Ma ri (a) 7
E rau ma San taes cu tan (do) 7
O queou tra San ta di zi (a) 7

Oservação: A sílaba entre parêntesis ( ) não é contada, porque é uma sílaba final átona
( não tônica).

Regra 2 - Embebimento – Junção de vogais


Quando uma palavra termina por vogal átona e a seguinte começa por vogal ou ditongo,
pode-se contar como uma sílaba só. Diz-se que houve embebimento de uma sílaba na
outra. Ex.:
Ouvindo a fala ao vento. OU VIN DOA FA LAO VEN (to) = São seis sílabas poéticas.
Fazer o amor ser verdade – FA ZER OA MOR SER VER DA (de) = sete sílabas
Poéticas.
Meu compadre, atenção, que eu vou dizer – MEU COM PA DREA TEN ÇÃO QUEEU
VOU DI ZER = Dez sílabas poéticas.
Eu nunca falei da sentença do amor – EU NUN CA FA LEI DA SEN TEN ÇA DOA
MOR = Onze sílabas poéticas.

Regra 3 - Hiatos e ditongos - Sinérese e Diérese

Para atender à métrica, hiatos podem transformar-se em ditongos (Sinérese) e ditongos


podem transformar-se em hiatos (Diérese)
Exemplos:
Su-a-ve por Sua-ve (3 viram 2)
Ouvimos suave canto - OU VI MOS SU A VE CAN (to) = 7 sílabas
ou OU VI MOS SUA VE CAN (to) = 6 sílabas
Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 viram 4)
A SA U DA DE MA TA DEI (ra) = 8 sílabas.
A SAU DA DE MA TA DEI (ra) = 7 Sílabas

Cesuras
Não esqueça que o que dá ritmo à poesia são as cesuras.
Cesuras são as sílabas tônicas que devem existir obrigatoriamente no interior dos
versos.
Fazer com que as sílabas tônicas das palavras escolhidas para compor os versos
coincidam com as tônicas originais do estilo em que se está versando ( cesuras), é a
tarefa mais difícil para o poeta.
Exemplos:
Heptassílabos: ( versos de sete sílabas, usados nas trovas, quadras, sextilhas, septilhas e
décimas de sete pés)
Eu vou cantar o meu verso -- Eu vou can tar o meu ver ( so)
Bonito como ele só -- Bo ni to co moe le só
Falando do Universo -- Fa lan do do U ni ver ( so )
Que é feito de pedra e pó. -- Queé fei to de pe drae pó
Devem ser tônicas: a 2ª e a 7ª sílabas. ( 2 e 7)

Decassílabos
= ( Versos de dez sílabas, usados no Martelo Agalopado)
Muito tempo depois de Ele nascer, -- Mui to tem po de pois deE le nas cer
Compuseram a prece pra Maria -- Com pu se ram a pre ce pra Ma ri (a)
Devem sempre ser tônicas: a 3ª, a 6ª e a 10ª sílabas. ( 3, 6 e 10 ).

Endecassílabos
( Versos de onze sílabas poéticas, usados no Galope à Beira Mar).
Eu vou por estradas traçadas no vento -- Eu vou por es tra das tra ça das no ven ( to )
Montado no dorso alado de um verso! -- Mon ta do no dor so a la do deum ver ( so )

Devem ser tônicas: a 2ª, a 5ª, a 8ª e a 11ª sílabas. ( 2, 5, 8 e 11 ).


Nota final:
Desenvolvemos um método simples de se aprender, pelo ritmo da declamação, onde se
localizam as tônicas dos estilos de Cordel estudados neste trabalho:
Basta numerar as sílabas do Estilo e declamar a seqüência numérica, dando ênfase nas
tônicas;
Assim:

Heptassílabos: ( Sextilhas, Septilhas e Décimas de Sete Pés)

1234567

Decassílabos ( Martelo Agalopado )

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Endecassílabos ( Galope à Beira Mar )

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Pesquisa:
Compadre Lemos
[email protected]

Fontes: Academia Brasileira de Literatura de Cordel


http://www.ablc.com.br/index.htm

Jornal de Poesia – Cordel


http://www.revista.agulha.nom.br/cordel.html

Que todos façam bom proveito!!!

Agradecimento:

Agradeço, com alegria,


Ao Senhor da Onipotência,
Todo Amor e Inteligência,
Criador da Poesia!
Depois, a meu pai, que, um dia,
Vendo em mim um Menestrel,
Deu-me, em vez de um anel,
O livro que eu li primeiro:
De um poeta brasileiro,
Escrito em bom Cordel!

Eu só espero merecer
De Deus, tamanha bondade,
E toda a felicidade
De poeta poder ser!
E a meu pai, quero dizer,
Marejando os olhos meus:
Você já me disse adeus,
Mas ainda lhe agradeço
Por me dizer, não esqueço,
“A Poesia vem de Deus!”

Compadre Lemos - Juiz de Fora–MG, novembro/2006.

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