Sanar Trauma Torácico
Sanar Trauma Torácico
Sanar Trauma Torácico
Torácico
SUMÁRIO
1. Trauma Torácico................................................................................................. 3
2. Avaliação primária...............................................................................................3
3. Avaliação secundária.........................................................................................16
Referências Bibliográficas................................................................................. 23
1. TRAUMA TORÁCICO
As lesões torácicas são uma das mais frequentes no departamento de emergên-
cia. Possuem elevado potencial de gravidade e alta mortalidade – variando entre
8,4% e 47,5%, a depender do tipo de trauma.
O Trauma torácico é uma das principais causas de morte entre os pacientes que
chegam com vida ao hospital, no entanto, boa parte dessas mortes poderiam ser
prevenidas se houvesse diagnóstico e tratamento adequados.
Os principais sintomas relacionados a esse tipo de Trauma são: hipóxia, hiper-
capnia e acidose, em que a sua avaliação segue o fluxo do atendimento inicial ao
politraumatizado.
2. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA
Vias Aéreas
Obstrução de VA
A obstrução é um dos principais mecanismos que afetam a VA de um paciente e
ela é frequentemente causada por edema, sangramento ou broncoaspiração.
Sua avaliação na parte torácica consiste no próprio exame semiológico:
Trauma Torácico 3
a. Inspecionar a cavidade oral, a faringe e também o tórax para ver se há esforço
respiratório;
Caso seja identificado alguma obstrução, nossa conduta será remover o conteúdo
por aspiração (se for líquido) ou com dedo em garra (sólido) e avaliar a necessidade
VA definitiva.
Lesão Traqueobronquial
As lesões na árvore traqueobronquial são raras e potencialmente fatais, inclusive,
a grande maioria dos pacientes morre ainda em cena. No entanto, aqueles que con-
seguem chegar com vida, normalmente se apresentam com o seguintes sintomas:
Hemoptise
Enfisema subcutâneo
Pneumotórax Hipertensivo
Cianose
Fonte: Elaborado pelo próprio autor
Ventilação
Pneumotórax Hipertensivo
O pneumotórax hipertensivo se desenvolve quando o ar consegue entrar na cavi-
dade pleural através de um mecanismo de válvula unidirecional, ou seja: o ar entra,
mas não sai.
Dessa forma, o ar começa a se acumular, comprimindo o pulmão e empurrando o
mediastino para o lado contralateral. Com toda essa compressão, então, o paciente
sofre uma redução do retorno venoso e, consequentemente, do débito cardíaco, le-
vando a um quadro de choque do tipo obstrutivo.
Trauma Torácico 4
Figura 1. Representação esquemática do pneumotórax hipertensivo
Fonte: Pepermpron/shutterstock.com
Uma vez identificado, nossa conduta será o pneumotórax hipertensivo que requer
descompressão imediata e pode ser gerenciado inicialmente por uma Punção de
Alívio no espaço pleural.
Devido à espessura variável do tórax parede, torção do cateter e outros procedi-
mentos técnicos ou complicações anatômicas, a descompressão da agulha pode
não ser bem-sucedida.
Nesse caso, a “Toracostomia por dedo” (do inglês, Finger Decompression) é uma
abordagem alternativa, que quando bem sucedida converte um pneumotórax hiper-
tensivo em um pneumotórax simples.
Trauma Torácico 5
No entanto, após amabos os procedimentos, é mandatório realizar uma Drenagem
Torácica no paciente. Sendo que tanto a descompressão com dedo quanto a drena-
gem tórácica devem ser realizados no mesmo local que a punção de alívio em adul-
tos: 4º ou 5º espaço intercostal (EIC) anterior à linha axilar média.
PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO
Tratamento Definitivo
Toracostomia com drenagem em selo
d’água
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
Trauma Torácico 6
Pneumotórax Aberto
O mecanismo do pneumotórax aberto é um pouco diferente do hipertensivo. Aqui,
basicamente, vai haver uma lesão na parede torácica (normalmente ≥ 2/3 do diâme-
tro da traqueia) comunicando o espaço pleural com o meio externo, o que acaba fa-
zendo com que a pressão intrapleural se iguale com a atmosférica.
Dessa forma, vai haver uma compressão do pulmão (e consequente prejuízo para
a respiração), mas, como o ar vai conseguir entrar e sair, acaba não acontecendo um
acúmulo muito grande, que é o que justifica não encontrarmos aqui o desvio do me-
diastino e a congestão venosa, por exemplo. Mas, então, quais são os sinais dessa
condição?
Dor torácica
Taquipneia
Dispneia
MV abolido
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
Então, vamos lá para o manejo! O primeiro passo é fechar a lesão que está per-
mitindo a entrada de ar, no entanto, a gente tem que lembrar que também é ela que
permite a sua saída.
Trauma Torácico 7
Dessa forma, nossa conduta inicial deve ser realizar o chamado Curativo de 3
pontas: colocar um material estéril sobre a lesão e fixá-lo em apenas 3 dos seus
lados, deixando um livre. Por que isso? Porque dessa forma, durante a inspiração, o
material é sugado e oclui a entrada do ar, porém, na fase de expiração, o ar empurra
o material para fora e consegue sair pelo lado não fixado do curativo.
Na sequência, é mandatório realizar uma Drenagem Torácica no paciente e fre-
quentemente é também necessário o fechamento da lesão do tórax.
PNEUMOTÓRAX ABERTO
Tratamento Inicial
Curativo de 3 pontas
Tratamento Definitivo
Toracostomia com drenagem em selo d’água
Fechamento da Ferida
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
Hemotórax Maciço
Hemotórax corresponde a presença de sangue na cavidade pleural e a gente o
classifica como maciço quando esse volume de sangue é maior do que 1500mL ou
maior do 2/3 do volume total. A partir daí, o sangue vai se comportar como o ar e
comprimir o pulmão, atrapalhando, assim, o processo respiratório.
Trauma Torácico 8
Mas aí você pode estar se perguntando uma coisa: como é que vamos saber que
lá no espaço pleural tem mais de 1,5L de sangue? Bem…realmente não teremos co-
mo saber isso para podermos definir se é ou não um hemotórax maciço, então na
prática o que a gente faz é suspeitar e tratar essa condição quando o paciente apre-
sentar sinais de hemotórax e sinais de choque - afinal de contas, o paciente está
perdendo sangue!
Então vamos entender um pouco mais dessa condição na letra C!
Circulação
Hemotórax Maciço
Até já entendemos do que se trata o hemotórax maciço, então agora vamos apren-
der a reconhecê-lo.
A primeira coisa que precisamos ter em mente é que o volume de sangue que
vaza para a cavidade pleural dificilmente será parecido com o volume de ar em um
pneumotórax hipertensivo, por exemplo. Ou seja, na maioria das vezes não haverá
um desvio de mediastino significativo a ponto de provocar desvio de traqueia e muito
menos estase de jugular.
Então só para deixar claro: esses dois sinais podem aparecer, mas não é o co-
mum. Mas o que é clássico, então?
A macicez à percussão e os murmúrios vesiculares (MV) abolidos, ambos justifi-
cados pelo fato de haver líquido no local onde deveria estar o parênquima pulmonar.
PNEUMOTÓRAX HEMOTÓRAX
HIPERTENSIVO MACIÇO
Ausculta ↓ ↓
Percussão Hipertimpânico Maciço
Traqueia Desviada Colapsada
Jugular Distendida Colapsada
Tórax Expandido e imóvel Móvel
Trauma Torácico 9
Chegado até aqui, então, nos resta agora aprender a manejar essa condição. Logo
de cara a gente já pensa: Drenagem Torácica! Sim…vai ser preciso descomprimir o
tórax do paciente. No entanto, não podemos perder de vista que o hemotórax maciço
envolve uma perda significativa de sangue e por isso que o indicado é realizar repo-
sição volêmica SIMULTANEAMENTE - usando primeiro cristalóides e, logo depois,
transfusão sanguínea.
HEMOTÓRAX MACIÇO
Tratamento
Toracocentese com drenagem em selo d’água
Fonte: Adaptado de american College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
Tamponamento Cardíaco
O mecanismo por trás do tamponamento cardíaco é bem parecido com do hemo-
tórax e do pneumotórax: basicamente vai haver um acúmulo de fluido dentro do sa-
co pericárdico e isso vai comprimir o coração, comprometendo o seu enchimento e,
por tabela, o débito cardíaco (ou seja: choque restritivo).
Para identificar essa condição, nós vamos procurar pela famosa Tríade de Beck,
que consiste em:
TRÍADE DE BECK
Hipotensão
Estase de Jugular
Abafamento de bulhas
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
No entanto, a estase de jugular pode não estar presente, por conta da hipovolemia
do paciente, e o abafamento das bulhas cardíacas pode ficar inviável de ser identi-
ficada no barulho da sala de emergência. É por isso que a gente precisa se atentar
para outros sinais de tamponamento que são:
Somado isso tudo, temos que a confirmação do diagnóstico pode ser feita por
meio de uma USG Fast, exame capaz de identificar entre 90 e 99% dos casos.
Inclusive: o tamponamento pode se desenvolver a qualquer momento, então repetir
esse exame é essencial!
Enfim…no final das contas, se a gente concluir que o paciente está com um tam-
ponamento, devemos indicá-lo para uma Toracotomia/Esternotomia de Emergência
e é interessante infundir fluido para aumentar um pouco sua pressão venosa e seu
débito cardíaco enquanto aguarda a cirurgia.
Agora, se não houver cirurgião disponível para realizar o procedimento, de-
ve-se optar por realizar uma descompressão através do procedimento de
Pericardiocentese, mas aí deveremos nos atentar para 2 questões:
a. a inserção as cegas está muito associada com complicações e por isso é indi-
cado realizar o procedimento guiado por USG;
b. esse tratamento não é definitivo e o paciente precisa passar por uma aborda-
gem cirúrgica o quanto antes! São métodos adicionais de diagnóstico: ecocar-
diograma e janela pericárdica.
PCR Traumática
A parada cardiorrespiratória proveniente do Trauma é identificada pela junção de 2
sinais: inconsciência e ausência de pulso.
Sendo que no ECG ela costuma se apresentar como AESP, fibrilação ventricular e
assistolia. No entanto, vale frisar que uma vez identificada a PCR, não se deve atra-
sar o manejo para obter ECG ou ecocardiograma. Qual deve ser a nossa conduta,
então? Iniciar o protocolo de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS).
A sistematização do ACLS para o manejo da PCR traumática consiste em iniciar
imediatamente a reanimação cardiopulmonar (RCP) e, concomitantemente, seguir
uma sequência de prioridades muito parecida com a do ATLS, que é o ABCD:
ABCD DO ACLS
A Via aérea Intubação Orotraqueal
B Ventilação Oximetro de pulso e Capnográfo
C Circulação ECG, AVP e Epinefrina (1mg)
D Diagnóstico 5 Hs e 5 Ts
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
RCP Fechada
(via aérea, massagem cardíaca externa, IOT, oxigênio 100%,
acesso venoso, fluidos, Epinefrina)
PCR RCE
Descompressão
Manejo normal
bilateral de tórax
PCR Drenagem
PCR
Torácica
PCR
Manejo normal
Morte depois
Continuar
de 30 min de
reposição pelo PCR
ressuscitação e
acesso venoso
T> 33°C
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Exames Radiológicos
Radiografia Tomografia
USG fast
de tórax Computadorizada
Fonte: Adaptado de American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS). 10a ed.
Chicago - IL: 2018
Visto isso, então, temos que são 8 as principais condições para as quais devemos
nos atentar:
• Pneumotórax Simples
• Hemotórax
• Tórax Instável
• Contusão Pulmonar
• Contusão Cardíaca
• Ruptura Aórtica
• Ruptura Diafragmática
• Ruptura Esofágica por Trauma Contuso
Hemotórax
O hemotórax (não maciço) consiste no acúmulo de menos do que 1,5L de sangue
no espaço pleural. As principais causas para essa condição são as lacerações de
pulmão, de grandes vasos, de vasos intercostais, entre outros.
Contudo, no final das contas esses sangramentos tendem a ser autolimitados, de
modo que o paciente pode apresentar percussão maciça, ausculta com MV abolidos
e também sinal de trauma penetrante.
Uma vez identificados tais sinais, deve-se solicitar radiografia de tórax e a condu-
ta será a Drenagem Torácica com tubo de 28-32 French.
Por fim, nossa conduta será administrar oxigênio umidificado, adequar a ventila-
ção, iniciar reposição volêmica e anestesiar o paciente. Mas atenção com 2 coisas:
b. A anestesia pode ser feita com narcóticos por via intravenosa ou de forma loca-
lizada por bloqueio de nervo (que é a mais indicada pois os narcóticos podem
deprimir o sistema respiratório).
TÓRAX INSTÁVEL
Respiração Paradoxal
Dispneia
Dor ventilatório-dependente
Hipoxemia
Tratamento
Oxigenoterapia
Analgesia
Reposição Volêmica
Ruptura Aórtica
A ruptura de aorta é uma lesão normalmente causada por acidente automobilísti-
co e na grande maioria das vezes ela leva à morte de forma imediata.
No entanto, alguns pacientes podem ter uma ruptura incompleta da aorta ou o
sangramento vazar apenas para dentro do mediastino, o que permite a formação de
um hematoma que o contenha.
Como vamos identificar essa condição? Esse é o problema. A ruptura de aorta não
apresenta sinais e sintomas específicos, então a gente acaba ligando o alerta ape-
nas com a história de desaceleração.
Dessa forma, o seu diagnóstico é feito com base nos achados radiológicos, sendo
que os exames solicitados podem ser 2: a TC e a radiografia de tórax.
A TC é o melhor exame nesse caso, mas é importante a gente atentar de que ela é
contraindicada caso o paciente esteja hemodinamicamente instável e é justamente
aí que entra a radiografia, que pode se apresentar com uma série de sinais:
Uma vez tendo sido feito o diagnóstico, o tratamento dessa condição é com o ci-
rurgião e consiste na sutura da lesão, ou então na colocação de enxerto.
Ruptura Diafragmática
A ruptura diafragmática pode ser gerada tanto por um trauma penetrante quanto
por um trauma contuso, sendo que ela é mais facilmente identificada quando ocorre
do lado esquerdo, até porque o fígado acaba dificultando o acesso a esse músculo
pelo lado direito.
Normalmente, o principal achado que fala a favor dessa condição é a elevação da
cúpula diafragmática e isso a gente pode confirmar através de uma radiografia ou
de uma TC. Caso nenhum desses exames consigam identificar a ruptura, aí pode ser
necessário solicitar um radiografia contrastada.
Métodos diagnósticos minimamente invasivos também podem ser úteis aqui, co-
mo é o caso da laparoscopia e da toracoscopia
Desvio de Traqueia
Estase de Jugular
Drenagem de Tórax Definitivo
Hipotensão Sintomas Tratamento
Punção de alívio Imediato
Dispneia
Sinais de Choque
Retalho costal móvel
hipovolêmico
Sintomas Sintomas
HEMOTÓRAX MACIÇO TÓRAX INSTÁVEL
Tratamento TRAUMA Tratamento
TORÁCICO
Hemotransfusão Analgesia
Pericardiocentese
Drenagem Ferida “aspirante” Bulhas abafadas Tríade de
Beck
Sanar
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