Crime de Ofensas Corporais Beto
Crime de Ofensas Corporais Beto
Crime de Ofensas Corporais Beto
Crime de sequestro
I - O crime de sequestro é um crime contra a liberdade e o de ofensas corporais é um crime que tem em
vista proteger a integridade física.
II - Há concurso real entre os dois ilícitos desde que se verifiquem outras circunstâncias qualificativas do
crime de sequestro para além das ofensas corporais.
III - Hoje o art.º158 do C P de 1995 não tem as agravantes correspondentes às alíneas f) e g) do então
art.º160, pelo que a agravação será feita apenas pela ofensa corporal. Assim sendo, perde autonomia o
crime de ofensas corporais, sob pena de violação do principio "non bis in idem".
31/01/1996
Dolo de perigo
I - Cometeu o crime p. e p. pelo artigo 144 nº 2 "ofensas corporais com dolo de perigo" do Código Penal
de 1982, o arguido que usou uma arma de arremesso e com ela desferiu vários golpes na cara do
ofendido, sendo a mesma considerada meio perigoso ou insidioso.
II - Hoje tal conduta deixou de ser punida como um crime de ofensas corporais com dolo de perigo, mas
antes, um crime de ofensas corporais simples, já que aquela deixou de estar prevista no Código Penal de
1995.
07/02/1996
Ofensas corporais
Dolo de perigo
Dolo eventual
Tentativa
I - No Código Penal de 1995 não existe correspondência ao nº 2 do art.º144 " crime de ofensas corporais
com dolo de perigo " do Código Penal de 1982, pelo que, o ilícito é agora o do art.º143º, do Código
Penal de 1995 "ofensas corporais simples".
II - A arma de fogo é uma agravante das previstas na alínea f) do nº2 do art.º132º do Código Penal. Tal
arma só funciona como tal agravante, se enquadrável no ilícito de perigo comum previsto à data dos
factos no artigo 260º do Código Penal de 1982 e hoje no artigo 275º do Código Penal de 1995.
III - Se a arma não for examinada não pode considerar-se como um ilícito de perigo comum, e como tal
não pode sem mais funcionar como agravante da alínea f) do nº2 do artigo 132 do Código Penal.
07/02/1996
09-05-1996
Qualificação
Furto qualificado
Tentativa
Ofensas corporais
II - O art.º 211 do CP de 95 deixou de punir a violência depois da apropriação quando destinada a eximir
o agente ou algum dos comparticipantes à acção da justiça.
III - Comete em concurso real um crime de furto qualificado na forma tentada e um crime de ofensas
corporais simples, o arguido que penetra no interior de um café e ao ser surpreendido, pela ofendida,
quando se preparava para fazer seus os objectos e valores ali existentes, dá um soco nesta.
23-05-1996
II - Sem que o agente represente o evento, ou pelo menos o preveja, não é possível responsabilizá-lo
subjectivamente.
30-05-1996
Ofensas corporais
Agravantes
Agrava a conduta de arguido autor de crime de ofensas corporais, a circunstância de o ter cometido
para afastar do local onde vivem pessoas que podiam contribuir para dificultar a sua actividade de
tráfico de estupefacientes ou concorrer para a sua descoberta.
19-06-1996
Ofensas corporais
O crime do art.º143 do CP de 1982, ao nível dos elementos subjectivos do tipo legal, pressupõe um
duplo dolo: um dolo quanto á ofensa corporal, ou seja, um dolo de ofender corporalmente e um dolo
quanto ao resultado que advém da ofensa.
20/06/1996
Ofensas corporais
II - Para tal conclusão, necessário seria, ter-se dado como provado que a cicatriz e a diminuição do
volume do nariz são sensíveis à visão, e que prejudicam a estética da vítima, tendo carácter
permanente.
26/06/1996
Legítima defesa
Ofensas corporais
II - Não age com tal animus o arguido que, num primeiro momento, teme que a exibição de uma
granada desactivada por parte do ofendido, lhe possa causar estragos e lesões físicas , neutralizando-o
com um empurrão e apesar disso o continua a agredir a pontapé.
III - O arguido ao agir desta forma comete o crime de ofensas corporais simples.
25-09-1996
Processo nº 46889 -3ª Secção
Ofensas corporais
Provocação
II - As ofensas corporais produzidas por tiro de pistola disparado pelo arguido, logo em seguida a ter
tomado conhecimento daquela provocação, actuando sob o ímpeto de ira, integram o crime de ofensas
corporais privilegiadas, devendo a pena ser especialmente atenuada.
09-10-1996
Atenuação da pena.
Pratica o crime de ofensas corporais graves o arguido que dispara vários tiros de arma de fogo, contra
um grupo de pessoas, que, pela 1 hora da madrugada conversavam em voz alta, perto da sua residência,
ocasionando no ofendido várias lesões designadamente, amaurose do olho esquerdo, com incapacidade
parcial permanente de 30%.
09-10-1996
Processo nº 47455 - 3ª Secção
I - Para se verificar o ilícito do art.º 143º, al. b) do CP de 82, é necessário a existência de dolo quer
quanto à ofensa quer quanto ao resultado.
II - Comete o ilícito do nº 2 do art.º 145º do mesmo diploma o arguido que desferiu um murro no olho
direito do ofendido, cegando-o, embora não tivesse sido sua intenção provocar-lhe tal resultado.
09-10-1996
Matéria de facto
Presunção de matar
Homicídio
Ofensas corporais
I - As expressões "curta distância" e "escassos metros" não traduzem factos, mas sim valorações de
factos, juízos ou conclusões. Enquanto tal, não são admissíveis na decisão sobre a matéria fáctica, pelo
que têm de dar-se como não escritas.
II - Uma presunção médico-legal, independentemente do seu valor, não deixa de ser uma presunção que
pode ser ilidida mediante prova em contrário. Logo, pelo facto de médico-legalmente haver-se de
presumir que o autor das lesões agiu com intenção de matar, não fica vedado a que se dê como não
provado que à actuação daquele tenha presidido aquela intenção, ou que a morte do sujeito passivo
nem sequer tenha sido representada pelo arguido como possível resultado da sua conduta.
III - A intenção de matar contem, consumindo, a de ofender corporalmente, pelo que para o acusado ou
pronunciado por agir com aquela, a imputação da segunda não representa rigorosamente um facto
novo, nada obstando por isso à sua condenação pelo crime menos grave.
16-10-1996
I - Para se verificar o crime de ofensas corporais privilegiadas p.p. art.º 147º do CP de 82, é necessário
que o agente se proponha ao cometimento de tal ilícito movido por compreensível emoção, por
compaixão ou outro motivo relevante social ou moral.
II - Não se verifica qualquer destas situações, quando o arguido que conduz um tractor atropela o
ofendido que estava sentado junto à paragem das camionetas de passageiros, não mostrando qualquer
gesto que pudesse causar receio ou medo no arguido, muito embora, uma hora antes tivesse dado com
um cajado no tractor conduzido pelo arguido, pelo que, com tal conduta cometeu o arguido um crime
de ofensas corporais graves.
30-10-1996
Meio perigoso
I - É meio particularmente perigoso o que envolve a probabilidade de ofensa grave para a vida do
ofendido.
II - A perigosidade do meio afere-se, não só pelas suas características, mas também em função da forma
como é usado.
III - Assim, comete o crime de ofensas corporais simples, o arguido que agride o ofendido com uma
bengala (desconhecendo-se as suas características) na cabeça e num braço.
06-11-1996
Ofensas corporais
Uma bota de couro com biqueira quadrada, que pela sua configuração e dureza foi utilizada pelo
arguido para desferir um violento pontapé na cabeça do ofendido, provocando-lhe a morte, constitui
nas circunstâncias descritas, um meio particularmente perigoso.
13-11-1996
Conflito de competência
A jurisdição dos Tribunais Militares apenas abrange os crimes essencialmente militares, e os crimes
dolosos que a lei, por motivo relevante, àqueles equipare. Consistindo os factos numa agressão
consciente e voluntária a um agente da autoridade, por indivíduo envergando farda do Exercito e à data
cumprindo o serviço militar como soldado, e nada mais se indiciando de relevante, nomeadamente que
o soldado agressor estivesse no exercício de funções, tal conduta não integra ilícito que possa ser
considerado crime essencialmente militar, mas tão só, um crime de ofensas corporais simples p.p. no
art.º142 do CP de 1982 ou 143 do CP actual.
20-11-1996
Ofensas corporais
Prisão ilegal
III - O capacete de um motociclista, como instrumento duro e pesado, não é, segundo as regras da
experiência comum, um meio particularmente perigoso no sentido utilizado no art.º144, nº 2, do CP de
1982.
IV - Não é verdade que este preceito tenha a sua correspondência no art.º146 do CP de 1995, pois que
este último é um preceito novo e o primeiro desapareceu pura e simplesmente, não deixando sucessor;
para além disso, o art.º146 limita-se a introduzir uma circunstância qualificativa em crimes contra a
integridade física cometidos com dolo de dano, ao passo que o art.º144, nº 2, do CP de 1982, pune
crimes praticados com dolo de perigo abstracto.
V - Tanto o CP de 1982 como o revisto de 1995 definem negligência consciente e inconsciente, mas
omitem a definição de negligência grave e negligência grosseira.
VI - Constituindo aquelas duas espécies de negligência realidades distintas, segue-se que a ordem ou
execução ilegal da privação da liberdade devida a negligência grave, não é actualmente punida, visto
que o CP vigente exige como elemento subjectivo, a negligência grosseira do agente.
VII - A conduta do funcionário consistente na recusa de dar conhecimento a quem se encontre privado
de liberdade à sua ordem, dos motivos da detenção, depois de tal lhe ter sido requerido, prevista no
art.º417, nº 2, do CP de 1982, deixou de ser criminalmente punível.
20-11-1996
Cometem o crime p.p. pelos artºs. 145, nº 2, 144, nº 1 e 143, todos do CP de 82, os arguidos que,
actuando conjunta e concertadamente, ofendem corporalmente o ofendida, causando-lhe lesões que
lhe determinaram directa e necessariamente 10 dias de doença com igual tempo de incapacidade para o
trabalho, sendo as mesmas ainda causa directa e necessária de problemas de visão sofrida pela ofendida
no olho esquerdo, tendo de ser submetida a intervenção cirúrgica ficando com uma IPT de 25%, tendo
os arguidos aceitado esse risco, apesar de não quererem a verificação desse resultado.
21-11-1996
Meio perigoso
Ofensas corporais
I - A utilização de um pau com 0,5 m para agredir os ofendidos na cabeça, corresponde ao recurso a um
meio particularmente perigoso, atenta a sua especial potencialidade para a produção de lesões
cranianas graves ou, mesmo, mortais, perigosidade essa que não desaparece mesmo que os ofendidos
pudessem ter as cabeças protegidas por capacetes.
II - Assim, comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p.p. pelo art.º144, nº 2, do CP de 82,
o arguido que com um pau de 0,5 desfere na cabeça dos ofendidos uma pancada, embora estes
tivessem a cabeça protegida por capacetes, causando a um deles ferida contusa da região infra-orbitária
esquerda, determinante de 10 dias de doença e impossibilidade para o trabalho e ao outro escoriações
no couro cabeludo, determinantes de doença por tempo indeterminado mas não superior a 9 dias.
III - No actual Código Penal o crime de ofensas corporais com dolo de perigo do Código anterior deixou
de existir como tal, passando as ofensas corporais a ser contempladas pelo art.º143 (ofensas simples à
integridade física), sendo o crime agravado pelo perigo constante do art.º144, nº 2 do CP de 95, e só é
qualificado quando, em vez de um perigo abstracto, se verifica um perigo concreto para a vida do
ofendido.
IV - Assim, a conduta do arguido descrita em II) integra face ao CP de 95 um crime de ofensas corporais
p.p. pelo art.º143.
28-11-1996
Relator: Sá Nogueira
Tendo as lesões corporais produzidas pelo arguido no ofendido surgido no decurso da luta entre ambos
travada depois da subtracção violenta, sem que por um lado se tenha demonstrado que tivessem
resultado de uma actuação do arguido para conservar ou não restituir as coisas subtraídas ou para se
eximir à acção da justiça, e sem por outro lado existir um nexo de necessariedade ou de adequação
entre a subtracção e a efectivação daquelas ofensas, não cometeu aquele um crime de roubo impróprio
ou violência depois da apropriação, mas um crime de roubo em concurso real com um crime de ofensas
corporais.
28-11-1996
Relator: Sá Nogueira
Ofensas corporais
Amnistia
I - Quando o crime de ofensas corporais voluntárias concorrer com o crime de maus tratos a cônjuges,
fica consumido o crime cuja punição seja menos gravosa.
II - O ilícito p.p. pelo art.º 153, n.º 3 do CP, de 82 não está abrangido pela Lei 15/94, de 11-05.
III - Para a verificação do crime de maus tratos p. e p. pelo art.º 153 do CP, de 82, não basta uma acção
isolada, mas também, não se exige uma habitualidade.
IV - Assim, pratica tal ilícito o arguido que, durante os anos de 1993, 94 e 95, agrediu o seu cônjuge, com
palavras torpes e batendo-lhe com as mãos.
08-01-1997
Prova pericial
I - Não há que fundamentar qualquer divergência entre o tribunal e a perícia médica, quando esta aceita
que o processo usado para a prática da lesão não fosse contundente e o tribunal entender que a lesão
em causa teria sido feita com o uso dos dentes que são corto-contundentes.
II- Juridicamente, integra-se no art.º 143, alínea a), do CP de 82, a lesão de perda de cerca de meio
centímetro de substância ao longo de 75% do bordo do pavilhão auricular esquerdo com consequência
permanente de desfiguração do pavilhão auricular referido devido a perda de quase todo o lobo
inferior.
29-01-1997
I - Meios particularmente perigosos para os efeitos da parte final do n.º 2 do art.º 144 do CP, são todos
aqueles, que em concreto, apresentam intensa probabilidade de lesarem os bens jurídicos, produzindo
um dano ou uma lesão à integridade física grave ou mesmo a morte.
II - A perigosidade dos meios não é só aquela que em abstracto se possa encontrar em determinados
"instrumentos", mas sobretudo aquela que resulta de uma relação de diversos factores, como a
quantidade, o meio, a idade ou o estado de saúde, conhecidos do arguido.
05-03-1997
O arguido que de forma livre e voluntária avança com o seu veículo automóvel em direcção a um agente
da PSP, prevendo que lhe podia causar lesões, como causou, comete o crime de ofensa à integridade
física qualificada p. e p. pelo art.º 146, n.ºs 1 e 2, 143, n.º 1 e 132, n.º 2, al. h) do CP de 95.
16-04-1997
Violação
Ofensas corporais
Concurso
I - A violência constitui um dos meios de execução do crime de violação e pode, só por si, constituir um
crime de ofensas corporais; estas são então ao mesmo tempo, elemento essencial do facto ilícito, no
crime de violação, e integram em si mesmas um crime contra a integridade física.
II - Quando tal acontece, se a valoração da ofensa corporal como meio utilizado de execução do crime
de violação esgotar a sua apreciação jurídica, haverá somente o crime de violação.
III - Afastada porém a possibilidade de serem imputados ao arguido os crimes violação (na forma
tentada), por não se ter provado a intenção de manter cópula com as ofendidas, as ofensas corporais
descritas na acusação como meio de cometer aquele crime recobram plena autonomia (que só tinha
sido retirada pela aplicação ao caso concreto da norma prevalente), sem que isso possa significar
qualquer surpresa para o arguido.
08-05-1997
Do cotejo do art.º 144, n.º 2 do CP de 82 e do art.º 146 do CP de 95 vê-se que no primeiro o legislador
agravou a pena do autor do crime de ofensas corporais em função do risco que normalmente traz o uso
de certos meios agressivos, presumindo juris et de jure o perigo de lesões graves, mesmo que estas no
caso concreto se não verifiquem, enquanto que no segundo preceito o tipo está referenciado à culpa do
agente do crime.
14-05-1997
Ofensas corporais
I - O crime e ofensas corporais graves do art.º 143 do CP de 82, não se verifica quando não se prove que
o arguido com a ofensa, tivesse mutilado o ofendido, lhe retirasse a capacidade para o trabalho, nem
que lhe provocasse doença particularmente dolosa.
II - Comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p. e p. pelo art.º 144, n.º 2 do CP de 82, o
arguido que munido de um pau de cerca de 80 cm de comprimento e cerca de 2 a 3 cm de diâmetro
agrediu o ofendido F... em várias partes do corpo e como consequência necessária dessa agressão
resultaram para o ofendido "ferida incisiva do couro cabeludo, com cerca de 5 cm de comprimento,
traumatismo do membro superior direito, equimoses no braço direito, mama direita, braço esquerdo e
mão esquerda, as quais lhe determinaram um período de 20 dias de doença dos quais 5 com
incapacidade para o trabalho, (hoje crime de ofensas corporais simples p. e p. pelo art.º 143 do CP
revisto).
04-06-1997
Ofensas corporais
I - As circunstâncias qualificativas do n.º 2 do art.º 132 do CP não são de aplicação automática, sendo
necessário um juízo de que as mesmas são susceptíveis de revelar especial censurabilidade ou
perversidade do agente.
II - Assim comete o crime de ofensas corporais simples p. e p. pelo art.º 143 do CP o arguido, agente da
PSP, na altura à civil, e convencido de que o ofendido juntamente com outros o iam agredir, dispara um
tiro de pistola de calibre 7,65 mm contra o arguido, com o propósito de o atingir, embora só para lhe
causar lesões/ferimentos, vindo, efectivamente, a atingi-lo no pavilhão auricular esquerdo, causando-
lhe um período de dez dias de doença, cinco dos quais com incapacidade para o trabalho.
11-06-1997
O crime de condução perigosa de veículo rodoviário p. e p. 291, n.º 1 al. b) do CP de 95, é um crime
doloso de perigo concreto, bastando-se com esse perigo. Se da condução perigosa tivessem resultado
ofensas corporais para determinadas pessoas, essas ofensas integrariam um outro crime.
12-06-1997
Especial censurabilidade
02-07-1997
Homicídio
Ofensa à integridade física qualificada
Dolo eventual
A matéria de facto provada é insuficiente para a decisão de que "o arguido apenas quis ofender
corporalmente o ofendido", ao dar-se simplesmente como não provado "que fosse intenção daquele
tirar a vida deste", sem se indagar da eventual existência de dolo eventual, numa situação em que o
arguido utilizou uma arma de fogo (caçadeira de dois canos), visou o ofendido no braço, portanto, perto
do tórax - onde se alojam órgãos importantes e vitais - disparou dois tiros seguidos a uma distância de
20 metros, era portador de um cinturão onde dispunha de vários cartuchos e agia perturbado.
01-10-1997
Indemnização
I - A utilização de uma pedra é tida por meio particularmente perigoso ou insidioso, dado que,
objectivamente, é apto a provocar ferimentos ou lesões graves.
II - Comete o crime de ofensas corporais com dolo de perigo p. e p. pelo art.º 144 do CP de 82, hoje
crime de ofensa à integridade física qualificada p. e p. pelo art.º 146, com referência ao art.º 143 do CP
de 95, o arguido que, munido de uma pedra na mão, desfere uma pancada com a mesma, na face do
ofendido, e como consequência directa e necessária lhe causou ferida contusa de cerca de 2 cm e
equimose na face dorsal do nariz, bem como equimose na região frontal direita e esquerda, que lhe
causaram 110 dias de doença, todos com incapacidade para o trabalho.
09-10-1997
Indemnização ao lesado
II - Assim, é de fixar por danos não patrimoniais sofridos pelo ofendido, vítima de ofensas corporais, a
indemnização de 150.000$00, quando se prove que o mesmo sofreu dores ao longo de 34 dias de
doença, todos com incapacidade para o trabalho e que os arguidos auferiam, um 90.000$00 e outro
80.000$00 mensais.
16-10-1997
Ofensas corporais
Legítima defesa
I - Em legítima defesa não é incompatível que o arguido tenha agido, para além do propósito defensivo,
também com propósito de agredir, de ferir ou de matar, desde que aquele, o primeiro intuito, apareça
no espírito do agente como objectivo a conseguir por meio do ferimento ou da morte.
II - Não actua em legítima defesa o arguido que, em comunhão de esforços com outra pessoa, desfere
vários pontapés e murros na vítima, deixando-a prostrada no solo, numa altura em que já tinha cessado
a ofensa corporal da segunda ao primeiro (com o recurso a três tiros de pistola), quando àquela fôra
retirada a arma, por faltar o requisito de actualidade da agressão.
III - No quadro circunstancial descrito no ponto III, o arguido também não actua com excesso de legítima
defesa por não se verificar um dos pressupostos da legítima defesa (actualidade da agressão).
22-10-1997
Roubo
Ofensas corporais
I - O crime de roubo apresenta uma natureza mista, tutelando bens patrimoniais e pessoais.
II - Em relação ao ofendido do crime de roubo, pode aceitar-se que a agressão posterior à apropriação
de uma carteira se integra naquele ilícito, mas já o mesmo se não pode afirmar quanto às agressões
sofridas pelas pessoas que vieram em socorro daquele ofendido, que consubstanciam a prática de
crimes de ofensas corporais.
III - Nos crimes que protegem bens de natureza pessoal, como é o caso dos crimes de ofensas corporais,
verificam-se tantos ilícitos quantos os titulares dos bens lesados.
22-10-1997
Matéria de facto
Veículo automóvel
I - Um veículo automóvel em marcha é sempre um perigo para a vida de um peão quando vai na
direcção deste, independentemente da sua velocidade.
II - Pratica dois crimes de ofensa à integridade física grave, na forma tentada, dos art.ºs 144, al. d), e 22,
do CP, o arguido que, conduzindo um veículo automóvel, se dirigiu a duas pessoas, quando estas se
encontravam na berma da estrada, com intenção de nelas embater, o que só não conseguiu por as
mesmas se terem desviado.
29-10-1997
Crime público
Crime semi-público
Procedimento criminal
Homicídio qualificado
Meio insidioso
Crime continuado
Co-autoria
I - O assistente carece de legitimidade, por falta de interesse em agir, para recorrer a pedir a
condenação dos arguidos pelos crimes de genocídio e de ofensas corporais graves, ilícitos diversos
daqueles que foram considerados na decisão recorrida.
II - Apesar de inserido no capítulo dedicado aos crimes contra a integridade física, o art.º 151, do CP,
protege não só a integridade física como também a vida da pessoa humana.
III- O crime de participação em rixa tem a natureza de crime de perigo.
IV - No crime de participação em rixa a morte e a ofensa corporal grave são meras condições objectivas
de punibilidade.
V - Assim, aquele crime consuma-se independentemente da ocorrência de algum dos referidos eventos,
mas, não se verificando algum deles, o crime não é punível.
VII - Na definição legal, a rixa é constituída pelo mínimo de três pessoas formando duas facções que
reciprocamente se agridem fisicamente, não existindo ela quando só um grupo ataca e o outro se
defende.
VIII - Deste modo, não cometeram o crime de art.º 151, do CP, os arguidos que, agindo em comunhão
de esforços, em locais e momentos diferentes, ofenderam corporalmente vários indivíduos sem que
estes tivessem respondido às agressões.
IX - O termo "participação" do art.º 151, do CP, evidencia a acção individual de cada agente. Cada
participante é autor paralelo de um crime de participação em rixa, não é co-autor do mesmo crime
comum.
X - A expressão "quem intervier ou tomar parte em rixa" constante do art.º 151, do CP, significa que é
punido tanto aquele que voluntária e conscientemente deu início à briga, como aquele que interveio
nela depois de iniciada e ainda não terminada.
XI - O autor da morte ou das ofensas corporais graves não é punido como participante em rixa, dada a
regra da consumpção.
XII - O art.º 146, do CP de 1995, não sucedeu ao art.º 144, do CP de 1982, que se extinguiu com a
entrada em vigor da lei nova. O art.º 146, do CP de 1995, é novo e limita-se a introduzir uma
circunstância qualificativa - especial censurabilidade ou perversidade do agente - em crimes contra a
integridade física cometidos com dolo de dano; ao passo que o art.º 144, n.º 2, do CP de 1982, punia
crimes praticados com dolo de perigo abstracto.
XIV - Se o crime pelo qual o arguido vinha acusado - público no CP de 1982 - passou a semi-público no
novo CP, e não tendo o ofendido exercido directa ou indirectamente o seu direito de queixa, o MP
perdeu a sua legitimidade para acompanhar o procedimento criminal.
XV - Para os costumes e tradição do nosso povo e da nossa história, matar um homem só porque ele é
negro, é particularmente censurável e chocante.
XVI - Constitui meio insidioso de provocar a morte, revelando uma especial censurabilidade e
perversidade, o seguinte quadro de circunstâncias:
- se onze homens, cinco dos quais calçando botas com biqueira em aço, pontapeiam e dão murros a um
único homem;
- se, ainda por cima, um dos onze homens pega na base de cimento de um sinal de trânsito e dá com ela
duas vezes na cabeça da vítima;
- se, para além daquilo, três dos onze homens voltam depois atrás para darem ainda mais pontapés na
vítima já agonizante, tudo numa rua que parece deserta e cerca da 1H 30M.
XVII - A continuação criminosa não se verifica quando são violados bens jurídicos inerentes à pessoa,
salvo tratando-se da mesma vítima.
XVIII - São co-autores de cada uma das ofensas corporais ocorridas todos os arguidos que, em bando
predisposto a bater, passavam no local no momento em que cada uma das agressões foi efectuada por
um daqueles.
12-11-1997
I - O art.º 152, do CP, no seu número 2, pune a actuação de quem infligir ao cônjuge maus tratos físicos
ou morais, e a sua redacção teve como propósito a eliminação de algumas dúvidas que
doutrinariamente tinham surgido na interpretação do art.º 153, do CP de 1982, e que conduziram a ter-
se discutido se, no crime de maus tratos a cônjuge, fazia ou não parte do tipo uma certa habitualidade
ou repetição de condutas ofensivas da integridade física ou moral do consorte ofendido, embora, a final,
se tivesse fixado a jurisprudência no sentido de que, mesmo com a redacção de 1982, a referida figura
criminal se poderia verificar com única agressão, desde que a sua gravidade intrínseca a pudesse fazer
qualificar como tal.
II - A actual redacção, por consequência, mais não significa, no caso concreto, do que a incriminação,
decorrente da lei penal, de condutas agressivas, mesmo que praticadas uma só vez, que se revistam de
gravidade suficiente para poderem ser enquadradas na figura dos maus tratos.
III- Não são, assim, todas as ofensas corporais entre cônjuges que cabem na previsão criminal do
referido art.º 152, mas aquelas que se revistam de uma certa gravidade, ou, dito de outra maneira, que,
fundamentalmente, traduzam crueldade ou insensibilidade, ou até vingança desnecessária, da parte do
agente.
IV - Comete o crime p. e p. pelo n.º 2, do art.º 152, do CP de 95, o arguido que, no interior da sua
residência, desfere bofetadas e pancadas com as mãos no corpo da, então, sua esposa, F..., e,
seguidamente, mediante o uso da força, obriga-a a sair da casa, em roupão, indiferente à chuva que caía
e ao frio que se fazia sentir, e a permanecer à porta da residência durante cerca de três horas. Depois
disso, agarrou-a pelos braços, obrigou-a a entrar num automóvel Fiat Panda e, contra a sua vontade,
transportou-a até à PSP de Z..., sem se importar com o facto de ter sozinho em casa um filho do casal, de
5 anos, e alegou tê-la encontrado com um amante, tendo a ofendida sofridos várias lesões, que lhe
provocaram dores e lhe causaram 7 dias de doença, sem impossibilidade de trabalho.
13-11-1997
Relator: Sá Nogueira
Competência
Quando não se descortina nexo de causalidade entre um acto de serviço soldado da GNR que ele
devesse praticar e as ofensas corporais que cometeu, a competência para conhecimento desse
comportamento cabe ao Delegado do Procurador da República na respectiva comarca.
11-12-1997
Acidente de viação
Negligência
Concurso de crimes
Homicídio involuntário
II - Portanto, na definição de concurso efectivo de crimes, não basta o elemento da pluralidade de bens
jurídicos violados; exige-se a pluralidade de juízos de censura.
III- Ora, o número de juízos de censura é igual ao número de decisões de vontade do agente dos crimes.
Uma só resolução, um só acto de vontade, é insusceptível de provocar vários juízos de censura sem
desrespeito do princípio ne bis in idem.
IV- Por isso, no concurso ideal, sendo a acção exterior uma só, a manifestação da vontade do agente,
quer sob a forma de intenção quer de negligência, tem de ser plúrima: tantas manifestações de vontade,
tantos juízos de censura, tantos crimes.
V - Nos termos do art.º 15, do CP, o autor material de um crime culposo viola um dever de cuidado ou
diligência, objectiva e subjectivamente. A manifestação de vontade do agente do crime culposo
consiste, pois, na omissão voluntária de um dever; não tem por conteúdo o facto e as suas
consequências.
VI- Num acidente de viação culposo, a acção voluntária do agente traduz-se no exercício de condução
incorrecta, de consequências não previstas mas que se deviam prever. Sendo uma só a manifestação da
vontade e um só o facto ilícito, ainda que de evento plúrimo, o número de juízos de censura não pode
ultrapassar a unidade.
VII- A acção negligente do arguido, que com culpa grave deu causa ao acidente de que resultou a morte
de uma pessoa e ofensas corporais noutras quatro, dirigiu-se exclusivamente à forma de condução.
Sobre ele recai, portanto, um só juízo de censura como autor de um crime de homicídio por negligência
grosseira. As ofensas à integridade física, porque não fazem parte do tipo de crime, são consideradas
para efeitos do disposto na alínea a), do n.º 2, do art.º 71, do CP, aumentando o grau de ilicitude do
facto.
17-12-1997
Dolo
Dolo genérico
I - O art.º 144, do CP, contempla um tipo de crime doloso, em que o dolo pode assumir qualquer das
formas contidas no art.º 14, do mesmo diploma, entre as quais a forma de dolo necessário.
II - No tipo de crime do art.º 144, do CP, exige-se, apenas, em confronto com o disposto nos art.ºs 13 e
14, do mesmo código, o chamado, por contraposição ao específico, dolo genérico.
III- Esse dolo genérico deve abranger a ofensa do corpo ou saúde de outra pessoa, bem como as
consequências contidas nas alíneas do art.º 144, do CP.
17-12-1997
Medida da pena
Mostra-se equilibrada a pena de três anos e seis meses de prisão imposta a um arguido que disparou um
tiro de caçadeira contra o ofendido, à curta distância de dois metros, atingindo-o na perna esquerda, e
produzindo-lhe lesões que ocasionaram, como consequência necessária, a amputação daquele membro
inferior, mediante intervenção cirúrgica, cometendo um crime de ofensas corporais graves do art.º 143,
al. a), do CP de 1982.
07-01-1998
Danos morais
Indemnização
I - Relativamente aos danos não patrimoniais não há propriamente indemnização, mas compensação da
lesão sofrida, a fixar equitativamente em função não só da gravidade dos danos, como do grau de culpa
do agente, situação económica deste e do lesado e demais circunstâncias do caso (art.º 496, n.º 3, 1ª
parte, em conjugação com o art.º 494, ambos do CC).
II - A perda da vista esquerda, com esmagamento do globo ocular respectivo e evisceração do mesmo,
com a subsequente implantação de uma prótese é, na verdade, ofensa muito grave à personalidade
física, portanto ofensiva em grau elevado dos direitos de personalidade que, por si mesma, deve ser
indemnizada (art.ºs 70 e 483, do CC).
III - Para o cômputo dessa indemnização não pode deixar de considerar-se a idade do ofendido à data
dos factos (30 anos), nem a circunstância de ele ser engenheiro técnico agrário, a par da gravidade da
lesão, da culpa do agressor e qualidade deste (agente da PSP), responsabilidade do Estado, situação
económica do agressor e do ofendido. Atendendo ao que se dispõe nos normativos legais citados, bem
como a todo o circunstancialismo pertinente, tem-se como equitativamente justa a indemnização de
cinco milhões de escudos.
18-02-1998
Dolo
Emoção violenta
I - Se o arguido não só teve o propósito de causar as lesões traumáticas vasculares encefálicas - lesões
de que adveio imediatamente um perigo actual, sério e efectivo de causarem a morte da vítima -, como
sabia que a sua conduta era apta a causar essas lesões, conclui-se que o dolo com que actuou abrange
não só a ofensa como também o resultado que dela adveio, ainda que tão só como dolo eventual, pois
que tendo-o previsto, actuou conformando-se com a sua realização.
II - Para que exista "emoção compreensível", esta, para lá de ser determinante da conduta homicida,
requer uma adequada relação de proporcionalidade entre o facto injusto da vítima e o facto ilícito do
agente.
27-05-1998
Dolo directo
A expressão "o arguido agiu, deliberada, livre e conscientemente, querendo atingir o corpo da vítima
(que se identifica) como atingiu, querendo provocar-lhe consequências no corpo e na saúde e perigo
para a vida", é adequada a exprimir os elementos volitivo e intelectual caracterizadores do dolo directo.
02-07-1998
Meio insidioso
Arma branca
I - A ausência de motivo não pode ser havida, só por si, como correspondente ao conceito legal de
motivo fútil.
II - Tradicionalmente, o recurso a uma navalha, ou canivete, como arma branca que é, que fica quase
sempre escondida na mão, tem sido considerado como utilização cobarde e insidiosa de uma arma de
corte.
III - Tradicionalmente, também, tem sido considerado como indiciador da existência de perigo para a
vida, em consequência de uma agressão física, o facto de, após esta, se tornar necessário proceder a
uma operação cirúrgica de urgência, ainda que de natureza exploratória.
IV - E igualmente com carácter tradicional, tem sido entendido que o corte dos tecidos da cara de que
resulta como consequência permanente uma cicatriz de grandes dimensões que vai desde o mento, ou
queixo, até à região occipital, corresponde ao conceito de desfiguração grave e permanente previsto na
lei (art.º 144, al. a), do CP).
01-10-1998
Relator: Sá Nogueira
Dolo
I - Para que se verifique o crime do art.º 144, do CP/95, é necessário que o dolo do agente abranja não
só a ofensa corporal, mas também as consequências contidas nas alíneas da referida norma.
06-01-1999
I - O erro notório na apreciação da prova consiste em se ter dado como provado algo que notoriamente
está errado, que não pode ter acontecido, sendo o erro detectável por qualquer pessoa minimamente
atenta, resultando tão evidente que não pode passar despercebido ao comum dos observadores.
II - Tal vício não se verifica, quando num acórdão se dá como provado que o arguido "ao desferir o golpe
com a navalha colocou em perigo a vida do ofendido e que sabia dessa virtualidade", quando no auto de
exame, para onde se remete a descrição das lesões, se refere "que a ferida na região lombar não tocou
o osso e na cavidade peritonal", do mesmo modo que não existe oposição, ao dar-se ao mesmo tempo
como provado, que "as lesões acarretaram apenas 19 dias de doença" e "que a lesão era apta a causar a
morte".
III - O disposto no art.º 143, do CP, prevê uma ofensa à integridade física ou psíquica do ofendido,
podendo pois existir ofensa corporal sem lesão externa.
21-02-1999
Violação
Concurso real
Comete, em concurso real, os crimes de violação na forma tentada e ofensa à integridade física grave, o
arguido que, pretendendo ter relações sexuais contra a vontade da ofendida, empurra esta para o
interior da sua residência, fazendo-a cair, fecha a porta à chave, começa a bater-lhe por todo o corpo a
soco e pontapé e procurou arrastá-la para o quarto, apalpou-a, tentou despi-la e apertou-lhe o pescoço
para a asfixiar e quebrar a resistência física, só não conseguindo concretizar os seus propósitos por
circunstâncias estranhas à sua vontade.
11-02-1999
Para a verificação do crime de ofensa à integridade física não é necessário que o ofendido tenha sofrido
quaisquer danos físicos ou dores.
04-03-1999
Veículo automóvel
Instrumento do crime
Condição
Preterintencionalidade
Homicídio privilegiado
I - O perigo para a vida exigido pelo art.º 144, al. d), do CP, é um perigo concreto e não meramente
abstracto.
II - É revelador desse tipo de perigo, a utilização no meio de uma refrega física, de um instrumento
cortante de dois gumes, com 8 cm de comprimento e 1,3 cm de largura, com o qual se atinge a vítima no
peito, no lado inferior esquerdo.
III - O crime preterintencional resulta de um misto de dolo e de culpa, em que a culpa produz um
resultado mais grave, daí a agravação.
IV - Embora o Código Penal não defina o que seja crime passional, pode dizer-se que constitui o
contrário do crime em que a conduta do agente é caracterizada por uma actuação com frieza de ânimo,
ou de uma outra forma, é aquele que é cometido por compreensível emoção violenta provocada por
problemas amorosos.
V - Tendo o arguido agido fortemente influenciado pela dor e pelo despeito que lhe causou o
conhecimento, nesse próprio dia, de que a sua mulher, de quem tinha uma filha, estava a viver com
outro homem, com reputação de mulherengo e tendo esse estado de exaltação sido agravado pela
circunstância de aquele, pouco antes dos factos de que viria a resultar a sua morte, recusado deixar sair
a mulher do arguido de casa, estão reunidos todos requisitos exigidos pelo art.º 133, do CP, para que se
possa ter por verificada uma situação de compreensível emoção violenta.
22-04-1999
Unidade de infracções
Jovem delinquente
Tentativa
I - Da própria inserção sistemática do art.º 347 do CP, conjugada com o seu teor, resulta que o bem
jurídico que a lei especialmente quis proteger com a incriminação que contém é o interesse do Estado
em fazer respeitar a sua autoridade, manifestada na liberdade funcional de actuação do seu funcionário
ou membro das Forças Armadas, militarizadas ou de segurança, e não a integridade física do
funcionário, como bem pessoal deste.
II - Eliminado o art.º 385, do CP/82, a protecção do bem jurídico da integridade física do "funcionário"
agente da autoridade pública passou a ser prosseguida nos termos dos art.ºs 143 e segs. do CP/95, com
a possível qualificação resultante do disposto no art.º 146, n.º 2, referido ao art.º 132, n.º 2, al. j), do
mesmo Código, quando a circunstância de a ofensa ser praticada contra quem tem aquela qualidade
revelar a especial censurabilidade ou perversidade e não for infringida a proibição da dupla valoração de
circunstâncias.
III - Em harmonia com o critério teleológico para distinção entre unidade e pluralidade de infracções
(art.º 30, n.º 1, do CP) a incriminação das ofensas à integridade física do funcionário, que não possa
considerar-se consumida, em termos de concurso aparente, pela incriminação constante do art.º 347 do
referido diploma, concorre com esta, em termos de concurso efectivo, de acordo com as regras gerais.
IV - Comete um só crime de resistência e coacção sobre funcionário, p.p. pelo citado art.º 347, do CP, o
arguido que, numa tentativa de fuga, actua de modo acordado e conjunto com certa pessoa que dirige o
veículo que conduzia na direcção de dois elementos da GNR, sem os atingir, e imediatamente a seguir,
na mesma tentativa de fuga, agora ele próprio, em actuação singular, desfere um tiro com um arma de
fogo para o lado direito do veículo, onde se encontravam mais dois soldados da GNR, sem nestes
acertar, porquanto a descrita actuação de resistência, que se apresenta unitária, corresponde a uma
única resolução criminosa, ainda que cindida em duas acções naturalisticamente diferentes.
V - Perante os factos mencionados no número antecedente, em concurso efectivo com o crime do art.º
347, do CP, pratica ainda o arguido 4 crimes de ofensa à integridade física qualificada, na forma tentada,
cada um deles p.p. pelas disposições conjugadas dos art.ºs 143, 146, n.ºs 1 e 2, 132, n.º 2, al. j), 22, n.ºs
1 e 2, al. b), 23, n.ºs 1 e 2 e 73, n.º 1, al. a), daquele Código.
28-04-1999
29-04-1999
Motivo fútil
Meio insidioso
I - O único facto provado de que os dois arguidos, irmãos entre si, andavam de relações cortadas por
causa de propriedades (estremas de propriedades) não configura - na ausência de prova de factos
reveladores das motivações próximas da actuação de um deles, que, com um machado, desferiu um
golpe no outro, atingindo-o na cabeça, com a parte cortante do mesmo, com o que lhe causou lesões
que determinaram 10 dias de doença - a circunstância qualificativa "motivo fútil" (art.ºs 146 e 132, al. c),
do CP).
II - Meio insidioso é aquele que torna especialmente difícil a defesa da vítima, por traiçoeiro, desleal,
enganador, dissimulado, subreptício, em si mesmo ou na forma da sua concreta utilização.
III - Um machado, composto de cabo de madeira, com 74 cm de comprimento, tendo a lâmina, de ferro,
10 cm de comprimento, não é em si mesmo um meio insidioso, no sentido de traiçoeiro ou desleal,
sendo normalmente bem visível e de previsível efeito agressivo grave.
29-09-1999
Virgílio Oliveira
Mariano Pereira
Leonardo Dias
Recurso penal
Renúncia
Âmbito do recurso
Poderes de cognição
Tendo havido, por parte do arguido, condenado pela prática de um crime de ofensas corporais com dolo
de perigo, e de um crime de ofensas corporais negligentes, uma renúncia ao recurso quanto àquele
crime (art.º 403, n.º 2, alínea b), do CPP), em consequência da limitação do recurso ao outro crime e à
questão da suspensão da execução da pena, isso impede que o STJ, mesmo com os poderes oficiosos de
conhecimento, possa, por qualquer forma, alterar o enquadramento jurídico-penal do crime não objecto
de recurso, por exceder os seus poderes cognitivos, limitados pela lei ao objecto do mesmo recurso, e
sem apoio legal para, em tais circunstâncias, se poder socorrer do preceituado no n.º 3 daquele art.º
403.
21-10-1999
Sá Nogueira (relator)
Costa Pereira
Sousa Guedes
Abranches Martins
Dolo
Arma caçadeira
Meio insidioso
I - As ofensas corporais que apenas determinam, directa e necessariamente, 150 dias de doença com
incapacidade para o trabalho e muitas dores durante o tratamento das lesões e naquele período, sem
quaisquer sequelas posteriores, cabem na previsão do art.º 142 do CP de 1982 e não na do art.º 143 do
mesmo Código.
II - Mesmo no aspecto subjectivo, do referido art.º 143 ressalta que o dolo deve abarcar (mesmo na
forma de dolo eventual) todas as circunstâncias integrantes da descrição típica contida nas suas diversas
alíneas; isto é, deixou de se fazer uma imputação objectiva do resultado (como no CP de 1886), antes se
exigindo que o agente o queira ou, pelo menos, o represente, conformando-se com a sua possível
verificação.
III - O arguido, ao disparar uma caçadeira, alta noite, contra uma pessoa que assoma a uma janela, a
cerca de 10 metros de distância, utiliza, para ferir, um meio particularmente perigoso e insidioso.
28-10-1999
Proc. n.º 843/99 - 5.ª Secção
Abranches Martins
Hugo Lopes
José Girão
Crime complexo
Roubo
II - A expressão "crime diverso", contida na al. f) do art. 1.º do CPP, não corresponde à de "diferente tipo
legal de crime", no sentido substantivo, mas antes de "crime" para efeitos processuais, no sentido de
"facto diverso" dos que integram os limites pré-existentes do objecto do processo, ultrapassando estes.
III - Na hipótese de crime complexo, como o de roubo, fica claramente compreendido entre os limites da
actividade cognitiva do tribunal o conhecimento dos delitos que aquela figura sintetiza.
IV - Assim, se o arguido está acusado de um crime de roubo, constituído por elementos que,
isoladamente, integrariam crimes de furto e de ofensa à integridade física simples, e se é considerada
não provada a subtracção de coisas móveis, mas são provados factos que podem integrar o referido
ilícito de ofensas à integridade física simples, não se verifica alteração substancial dos factos, nos termos
e para os efeitos dos arts. 359.º e 1.º, do CPP, sendo apenas necessário o cumprimento prévio do art.
358, n.º 1, daquele diploma.
03-11-1999
Leonardo Dias
Virgílio Oliveira
Mariano Pereira
Legítima defesa
- No decurso da mesma discussão, o arguido pegou numa caçadeira e dirigiu-se, com ela, a uma varanda
da sua casa;
- Quando a assistente chegou ao patamar da sua porta, o arguido arremessou-lhe um bocado de telha e,
de seguida, sem que a primeira alguma vez tivesse direccionado a arma que detinha ao corpo do
segundo, este apontou a caçadeira que empunhava para a mão onde aquela transportava a pistola e
efectuou um disparo nessa direcção que atingiu a ofendida em diversas partes do corpo, provocando-
lhe variadas lesões;
destes factos resulta com evidência que o arguido não agiu em legítima defesa, por não se verificarem
os requisitos acima indicados.
12-01-2000
Virgílio Oliveira
Armando Leandro
Leonardo Dias