Protocolo - Liquen Plano
Protocolo - Liquen Plano
Protocolo - Liquen Plano
diagnóstico16. RESULTADOS
Do levantamento de 8030 prontuários do arquivo do CGDB,
A complicação mais importante desta doença é sua discuti-
foram encontrados 179 pacientes com diagnóstico inicial de
da e controversa possibilidade de transformação maligna, razão
LPO (n=141) e/ou leucoplasia sem confirmação histopatológica
pela qual tem sido considerada uma condição cancerizável3.
(n=38). Destes, 100 (55,86%) foram excluídos da pesquisa por
Considerando a elevada prevalência do LPO, o possível po- um dos seguintes motivos: impossibilidade de comunicação
tencial de malignização da doença e as diversas controvérsias (n=88), por terem faltado às consultas agendadas (n=8) ou por
que a envolvem, induzindo os profissionais a diferentes con- optarem em não participar da pesquisa (n= 4).
dutas clínicas, este trabalho tem como objetivo a criação de um
Dos 179 pacientes iniciais, 79 (44,13%) foram atendidos. Des-
protocolo de atendimento e acompanhamento dos pacientes
tes, 27 (34,17%) foram excluídos por não apresentarem lesões no
com LPO.
momento do atendimento ou por ter sido confirmado, micros-
copicamente, o diagnóstico de leucoplasia. Outros 52 (65,82%)
foram diagnosticados com LPO e incluídos na pesquisa.
MATERIAL E MÉTODO
Esse estudo foi aprovado pelos critérios da Ética com Seres Analisando-se a presença de tratamentos anteriores, especi-
Humanos pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG (CEP- ficamente quanto ao uso de corticóides, observamos que 55,76%
UFG), conforme Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de (n=29) dos pacientes já fizeram uso destes medicamentos, sendo
Saúde, pelo protocolo n° 159/2009. distribuídos de acordo com a Figura 1. Outros 44,23% (n=23)
nunca foram submetidos à terapêutica medicamentosa.
A amostra foi constituída a partir do exame de todos os pa-
cientes com diagnóstico presuntivo ou final de LPO e casos
de leucoplasia sem confirmação histopatológica, pertencentes
ao arquivo do Centro Goiano de Doenças da Boca (CGDB) da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás,
que procuraram este centro de referência durante o período de
agosto de 1998 a abril de 2010. Foram excluídos da amostra os
pacientes com documentação ou contato incompletos e aque-
les cuja avaliação histopatológica mostrou tratar-se de casos de
leucoplasia.
lesões, consideramos este dado alarmante. Os corticóides são amplamente utilizados no tratamento do
LPO sintomático por reduzirem a dor e a inflamação21. Potentes
Neste contexto, ainda que as características clínicas associa- corticóides tópicos como propionato de clobetasol, acetato de fluoci-
das à anamnese sejam, na maioria das vezes, suficientes para o nolona e fluocinonida constituem a primeira linha de tratamento
correto diagnóstico da doença, a análise histopatológica torna-se para lesões sintomáticas de LPO e tem se mostrado como uma
fundamental, tanto para confirmar o diagnóstico clínico, quanto alternativa eficaz e confiável de tratamento. Os corticóides de
para excluir a presença de displasia e transformação maligna. uso tópico desencadeiam efeitos colaterais reduzidos e apresen-
Por se tratar de uma desordem crônica que requer longos perí- tam relação custo benefício positiva em tratamentos longos19,22,23.
odos de acompanhamento e tratamento, a biópsia se torna uma Da mesma forma, corticóides sistêmicos como a prednisona são a
prática clínica prudente, principalmente nos casos atípicos18. primeira linha de tratamento em casos intensos e generalizados
Mesmo sendo reconhecida a importância de se realizar análise de LPO, LP envolvendo outros sítios mucocutâneos ou lesões
histopatológica dos casos de LPO, nosso estudo evidenciou a resistentes à terapia tópica18.
baixa taxa de realização deste exame por parte dos Cirurgiões
Dentistas (48,07%), o que fortalece a necessidade de se estabele- Carbone et al.24 (2003) comparando a eficácia e segurança
cer protocolos de atendimento que reforcem essa prática. Con- no tratamento do LPO utilizando corticóides sistêmicos e tó-
siderando que estes pacientes foram atendidos em um centro picos, observaram resultados similares em relação à completa
especializado em Estomatologia, pode-se supor que a situação remissão dos sintomas, entretanto, um terço dos pacientes do
seja ainda mais crítica nos casos atendidos por cirurgiões com primeiro grupo contra nenhum do segundo desenvolveram
outras especialidades ou clínicos gerais. efeitos colaterais, como aumento da pressão arterial, dor epigás-
trica e retenção de água. Com base nestes resultados, os auto-
O tratamento do LPO não determina a cura da doença, sendo res concluíram que a terapia com corticóide mais adequada é
associado apenas à redução dos sinais e sintomas. É relativa- a tópica, pela facilidade de aplicação e maior custo-benecifio.
mente bem-sucedido, porém de efeitos temporários. Lesões re- Concordando com autores acima citados, os resultados obtidos
ticulares assintomáticas geralmente exigem apenas acompanha- nesse estudo demonstram a predileção dos profissionais pela
mento, enquanto o tratamento das formas atrófica e ulcerada indicação de corticóides, especialmente na forma tópica. Todos
se destina ao alívio dos sintomas e eliminação das úlceras com os pacientes submetidos à terapêutica medicamentosa anterior-
intenção de reduzir o risco de transformação maligna15-16. mente à pesquisa eram tratados com corticóides tópicos, com
destaque para a dexametasona (89,65% dos casos), seguida do
A primeira etapa a ser estabelecida para o tratamento é a eli-
acetato de triancinolona (6,89% dos casos) e propionato de clobetasol
minação de fatores traumáticos próximos à lesão, tais como res-
(3,44% dos casos). Assim como realizado neste estudo, Lodi et
tos radiculares, arestas cortantes, grampos de próteses, restau-
al.25 (2005) sugeriram um protocolo de tratamento e acompa-
rações em excesso ou rugosas, próteses mal adaptadas. Também
nhamento para pacientes com LPO tendo como primeira opção
deve ser instituído um programa de higiene oral e de orientação
terapêutica os corticóides tópicos.
aos pacientes para evitarem a ingestão de alimentos que favo-
reçam o aparecimento de dor ou exacerbação das lesões13,16,19. A candidose oral secundária constitui um efeito colateral co-
mum no tratamento com corticóides por isso, agentes antifúngi-
Diversos agentes têm sido empregados no tratamento do
cos são frequentemente utilizados em associação a esses medi-
LPO20 (Tabela 1), entre eles estão os corticóides tópicos e sistê-
camentos, como forma eficaz de prevenir quadros iatrogênicos
micos, retinóides, agentes imunossupressores e fototerapia.
de candidose26.
Tabela 1. Medicamentos disponíveis para o tratamento do LPO. Fonte: Modificado Os retinóides tópicos e sistêmicos são utilizados apenas como
de Carrozo e Gandolfo, 1999.
terapia coadjuvante ou como segunda linha de tratamento, par-
ticularmente para as lesões reticulares e hiperqueratóticas7. Isso
CORTICÓIDES RETINÓIDES AGENTES
Tópicos: Tópicos: IMUNOSSUPRESSORES se deve ao fato destes agentes serem menos efetivos que os cor-
- Fosfato de - Fenretidina - Ciclosporina ticóides tópicos, além de desencadearem sérios efeitos adver-
betametasona - Isotretinoína - Azatioprina sos, o que deveria proibir seu uso como rotina no tratamento do
- Valerato de - Tretinoína - Tracolimus LPO. Os retinóides são também teratogênicos e, portanto, seu
betametasona - Tazarotene
uso em mulheres em idade fértil é contra-indicado18.
- Propionato de OUTROS
clobetasol Sistêmicos: - Anfotericina A
Algumas formas de LPO podem não responder adequada-
- Acetato de - Acitracina - Dietilditiocarbamato
fluocinolona - Etretinato - Dapsona mente ao tratamento com corticóides. Para estes pacientes, po-
- Fluocinonida - Isotretinoína - Doxicilina tentes imunossupressores como a ciclosporina e o tracolimus po-
- Hemissuccinato de - Tretinoína - Sulfato de hidroxicloroquina dem ser benéficos.
hidrocortisona - Temaroteno - Levamisol
- Acetato de - Gliciricina A ciclosporina pode ser uma alternativa aos tratamentos con-
triancinolona - Griseofulvina vencionais para o controle do LPO, no entanto, não deve ser
- Eticol
considerada como primeira opção terapêutica devido ao alto
Sistêmicos: - Enoxaparina
- Prednisona custo do tratamento em longo prazo e a disponibilidade de ou-
- Metilprednisona tras alternativas eficazes. Além disso, efeitos secundários graves
decorrentes da utilização de ciclosporina sistêmica, como hiper-
tensão e nefro toxicidade, contra-indicam a sua utilização para Protocolo de Atendimento e Acompanhamento do Paciente
LPO25. com Diagnóstico de LPO
Apesar dos resultados positivos, o uso do tracolimus deve ser Exame histopatológico (indicado em casos que não pos-
limitado devido à possibilidade de acelerar a carcinogênese28. suem a forma clássica da doença. Para qualquer caso em que
Diante deste fato, a Food and Drug Administration (FDA) publi- paira a dúvida sobre o diagnóstico, o exame histopatológico é
cou um informativo aos profissionais da saúde e pacientes re- obrigatório).
comendando que a droga seja usada em quantidades mínimas, Imunofluorescência direta/indireta (indicada em casos histo-
apenas por curtos períodos de tempo e de forma descontínua. patologicamente inconclusivos);
A fototerapia já foi sugerida como opção terapêutica para Testes sorológicos para VHC não são realizados como rotina
casos intensos de LPO que não respondem aos tratamentos con- (indicados apenas em casos de exposição a fatores de risco para
vencionais29, todavia os estudos mais recentes não recomendam hepatite C).
esta forma de tratamento devido ao seu potencial oncogênico18.
Figura 2 – Protocolo de atendimento e acompanhamento do paciente com LPO. CGDB/FO/UFG – Goiânia/GO, 2009.
Orientações quanto à higiene oral e sua manutenção: utilizar em longo prazo constitui uma conduta prudente. Desta forma,
creme dental infantil ou menos irritante à mucosa (no caso de os pacientes devem ser examinados a cada seis meses até a re-
sintomatologia dolorosa durante a escovação dentária); missão da lesão;
Buscar melhorias na qualidade de vida, evitando situações O acompanhamento é a conduta indicada para os pacien-
de estresse e desequilíbrio emocional; tes assintomáticos, visto não necessitarem de intervenção
medicamentosa.
Alerta quanto à possível infecção pelo VHC e quanto ao po-
tencial de malignização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adequação do meio bucal
Pela possibilidade, ainda que remota, da transformação
Escariação e selamento de cavidades cariosas; remoção de maligna do LPO, torna-se imprescindível a implementação de
restos radiculares; raspagem e alisamento radicular; padrões rígidos e sistemáticos de acompanhamento destes pa-
cientes com cuidado e em longo prazo (pelo menos a cada 6 me-
Eliminação de fatores traumáticos próximos à lesão (arestas
ses), permitindo o reconhecimento de períodos de exacerbação,
cortantes, grampos de próteses, restaurações em excesso ou ru-
sucesso terapêutico e a detecção precoce de possíveis alterações
gosas, próteses mal adaptadas);
malignas. Atenção especial deve ser dada aos tipos ulcerado e
Realização de um programa de higiene oral; bolhoso.
Em casos de suspeita de reação liquenóide, troca ou remoção Espera-se que este protocolo possa ser validado em estudos
do material associado à lesão e reavaliação. futuros e utilizado de forma rotineira no cuidado ao paciente
com diagnóstico de LPO, proporcionando uma conduta eficaz
Terapêutica medicamentosa e um acompanhamento consciente. Este protocolo pretende ser
uma ferramenta de orientação, entretanto, cada caso deve ser
Pacientes sintomáticos e/ou com lesões erosivas, bolhosas
avaliado cuidadosamente e encaminhado ao estomatologista e/
ou ulcerativas são tratados inicialmente com corticóides tópi-
ou dermatologista em caso de dúvidas.
cos (Elixir de Dexametasona 0,5mg, utilizado como solução para
bochechos por um minuto, 3 vezes ao dia ou Propionato de Clo-
betasol 0,05mg duas vezes ao dia). O tempo de uso é variável a
REFERÊNCIAS
depender da resposta do paciente, podendo, em alguns casos
chegar a 2 ou 3 meses; 01. Duffley DC, Eversole LR, Abemayor E. Oral lichen planus and its
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Não havendo remissão dos sintomas, utilizam-se como se- and treatment implications. Laryngoscope 1996;106:357-62.
gunda linha de tratamento os corticóides sistêmicos (Predniso- 02. Sousa FACG, Rosa, LEB. Perfil epidemiológico dos casos de líquen
plano oral pertencentes aos arquivos da disciplina de patologia bucal
na 50mg/dia). Vale ressaltar todos os cuidados com relação ao
da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – UNESP.
uso prolongado de corticóides sistêmicos, entre eles as indica-
Cienc Odontol Bras 2005; 8(4):96-100.
ções e contra-indicações, o acompanhamento médico e contro-
03. Cortés-Ramírez D, Gainza-Cirauqui ML, Echebarria-Goikouria
le da contagem de leucócitos. Cada paciente deve ser avaliado MA, Aguirre-Urizar JM. Oral lichenoid disease as a premalignant
individualmente. condition: The controversies and the unknown. Med Oral Patol Oral
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Casos intensos, generalizados e/ou que não respondem ao 04. Rhodus NL, Cheng B, Ondrey F. Th1/Th2 cytokine ratio in tissue
tratamento com corticóides, utiliza-se Ciclosporina tópica (5ml transudates from patients with oral lichen planus. Mediators
/500mg por dia, durante 4 semanas) ou Tracolimus tópico (0,1% Inflamm 2007;19854.
duas vezes ao dia, durante 8 semanas); 05. Venturine D, Costa JRS, Tibola J, Tarquínio SBC. Fatores psicogênicos
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tratados com antifúngicos (5ml de solução de Nistatina, 100.000 06. Krasowska D, Pietrzak A, Surdacka A, Tuszyńska-Bogucka
a 600.000 UI, como colutório oral por um minuto, 4 vezes ao dia). V, Janowski K, Roliński J. Psychological stress, endocrine and
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ABSTRACT have never been subjected to drug therapy. The topical dexa-
Lichen planus is a chronic mucocutaneous disease with re- methasone was used in 89.65% of cases. No case had clinical or
latively high prevalence, affecting between 0.02% and 1.2% of histopathologic features of malignant transformation, however
the population. The most important complication is discussed only 26.92% of patients had professional monitoring of their
their possible malignant transformation, which is why a con- injuries and only 48.07% had the diagnosis confirmed by his-
dition has been considered carcinogenic. Objective: The objec- topathology. Conclusions: Although remote, the possibility of
tive of this study was to establish a protocol for treatment or malignancy should be considered. Thus, it is essential to imple-
monitoring of patients with OLP. Methods: The protocol was ment strong standards for monitoring these patients carefully
established by literature review and the study obtained through and long term. It is hoped that this protocol can be validated in
detailed examinations of 52 patients diagnosed with OLP, who further studies and used routinely in patient care with a diag-
sought the Centre Goiano Mouth Disease (CGDB) of FO / UFG, nosis of OLP.
during the period August of 1998 to April of 2010. Results: 52
KEYWORDS: Oral lichen planus, stomatology, cancerous
patients was diagnosed with OLP and included in the survey,
lesions.
55.76% have already made use of corticosteroids, other 44.23%