Ebook - ADM Parte Geral
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Sumário ................................................................................................................... 0
1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 3
1.1 - Como estudar direito administrativo ............................................................................ 3
1.2 - APRESENTAÇÃO PESSOAL .............................................................................................. 4
2 - NOÇÕES GERAIS DE DIREITO ADMINISTRATIVO .................................................. 5
2.1 - Apresentação: Os quatro autores mais importantes para sua prova........................... 5
2.2 - Conceito de Direito Administrativo ............................................................................... 8
2.3 - Natureza jurídica ou taxonomia do Direito Administrativo ........................................ 11
2.4 - Direito Administrativo versus Ciência da Administração ............................................ 12
2.5 - Administração Burocrática versus Administração Gerencial ...................................... 13
2.5.1 - “Estado em rede” .................................................................................................................................. 16
1
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2.20 - SISTEMAS ADMINISTRATIVOS ................................................................................... 59
2.20.1 – Sistema da jurisdição una ................................................................................................................... 59
2.20.2 - Sistema do contencioso administrativo .............................................................................................. 59
2.20.3 - Como se cria um contencioso.............................................................................................................. 62
2.21 - Competência para legislar......................................................................................... 62
2.22 - Reserva de lei complementar no Direito Administrativo .......................................... 63
2.23 - Iniciativa do projeto de lei ......................................................................................... 65
2.24 - Função administrativa ............................................................................................... 66
2.24.1 - Conceito de função administrativa...................................................................................................... 69
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1 - INTRODUÇÃO
Olá, tudo bem com você? Este é um material exclusivo da Escola do Mazza
(www.escoladomazza.com.br), feito com muito carinho para você.
O objetivo deste material é oferecer uma base sólida em Direito Administrativo para sua
aprovação nos concursos públicos mais concorridos do Brasil.
O Direito Administrativo costuma ser uma das maiores disciplinas dos editais e, por várias
razões, os candidatos temem nossa matéria. Mas não será o seu caso. Vamos trabalhar um
conteúdo bastante completo e profundo, como você nunca viu, mas de forma bastante
didática, resolvendo seu problema com a matéria.
Não são poucos os obstáculos que uma preparação em altíssimo nível em Direito
Administrativo apresenta: falta de um código sistematizando a disciplina, diplomas
normativos caóticos e de má qualidade, divergência doutrinária, jurisprudência confusa.
Isso sem falar que você ainda tem todas as demais matérias para estudar. Não é fácil. Mas
vou te ajudar.
E vamos começar de um jeito diferente. Você encontrará daqui a pouco uma apresentação
do perfil dos quatro autores fundamentais do Direito Administrativo para concursos: Hely
Lopes Meirelles, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Celso Antônio Bandeira de Mello e José dos
Santos Carvalho Filho. As bancas extraem questões doutrinárias das obras desses autores,
muitas vezes divergentes entre si.
Gosto também de apresentar os publicistas estrangeiros mais renomados. Você encontrará
perfis explicativos de juristas como León Duguit, Gaston Jèze, Santi Romano, Renato Alessi,
Hans Kelsen, Carré de Malberg, entre outros. Saber isso vai ser um diferencial nas provas
discursivas e exames orais, além de facilitar a compreensão de temas-chave que foram
especialmente desenvolvidos por esses gigantes do direito.
O ponto de partida para construção dos meus materiais é sempre o que tem sido perguntado
recentemente pelas bancas. Meu objetivo é que você passe rapidamente no concurso dos
seus sonhos estudando o essencial e indispensável para atingir esse objetivo. Não precisa
saber tudo, nem aprofundar exageradamente como se fosse uma pós-graduação, mas tem
que saber exatamente o que cai na prova. E quanto a isso não se preocupe porque essa é a
minha parte. Vamos combinar assim: você faz a sua parte dando 100% ao estudar e a minha
parte é dar meus 100% oferecendo um conteúdo incrível e focado na sua aprovação.
Combinado?
Eu PRECISO QUE VOCÊ PASSE.
Então, bom trabalho e vamos começar.
Abs,
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Mazza.
Bom, agora que você já sabe como nosso curso vai funcionar, vou me apresentar.
Eu sou Alexandre Mazza, tenho 44 anos. Sou casado com a Tatiana, que é Procuradora do
Estado/SP, e temos duas filhas, a Duda (12) e a Luísa (7).
Sou bacharel (1998), Mestre (2003) e Doutor (2009) em Direito Administrativo pela PUC/SP,
tendo como orientador no Mestrado e Doutorado o Professor Celso Antônio Bandeira de
Mello. Tive também o privilégio de estudar no exterior fazendo meu Pós-Doutorado em
Coimbra (2018) e Salamanca (em conclusão). No meu Mestrado escrevi sobre o Regime
Jurídico das Agências Reguladoras; no Doutorado defendi a tese sobre a Relação Jurídica de
Administração Pública, ambos trabalhos publicados em livro pelas Editoras Malheiros e
Saraiva, respectivamente.
No Pós-Doutorado em Coimbra/Portugal pesquisei sobre a intersecção entre Direito
Administrativo e a teoria dos Direitos Humanos, sustentando que todas as decisões da
Administração Pública contrárias aos Direitos Humanos são juridicamente inexistentes
autorizando desobediência civil pelos particulares. Em Salamanca/Espanha, minhas
pesquisas são sobre Direito Administrativo na perspectiva dos direitos sociais.
Embora eu tenha me dedicado bastante à formação acadêmica, minha grande paixão sempre
foi dar aula. Logo que me formei em 1998, um mês depois eu já era professor de cursinho.
Todo o restante da minha vida profissional – como livros, palestras, pesquisas,
aperfeiçoamento – surgiu em função das minhas aulas e d@s alun@s. Meu objetivo central
é ser um professor cada vez melhor, ensinando os temas mais sofisticados de maneira clara
e objetiva.
Tenho cerca de 20 livros publicados, sendo os mais conhecidos o Manual de Direito
Administrativo e o Manual de Direito Tributário, ambos pela Editora Saraiva, feitos para
aprovação em concursos públicos.
É importante te dizer isso: sempre dei aula em cursinho. Há 20 anos essa é minha maior
paixão: ajudar @s alun@s a conseguir aprovação nos concursos mais concorridos do Brasil. E
quero te ajudar também!
Exerci algumas outras atividades na área jurídica: fui assessor parlamentar do Presidente da
Câmara Municipal de São Paulo; advoguei dando consultoria a um grande escritório na área
de contratos de infraestrutura; já dei centenas de palestras em praticamente todos os
Estados brasileiros (só faltam 2 para fechar o Brasil todo!). Mas eu gosto mesmo é de dar
aula.
Nos últimos anos tenho investido também na utilização de estratégias diferenciadas para
memorização de conteúdo jurídico, como audiolivros, paródias jurídicas, além do uso
intensivo das redes sociais para difundir gratuitamente conteúdo a alun@s de todo Brasil.
4
121
Agora que você já me conhece um pouco melhor, saiba que fico à disposição para dúvidas e
esclarecimentos sobre nosso conteúdo. Basta me procurar via Instagram, meu perfil é
@ProfessorMazza (Instagram e Twitter), e faço questão de operar pessoalmente minhas
redes. Então sou eu mesmo postando e te respondendo, ok?
Conte sempre comigo,
Eu PRECISO QUE VOCÊ PASSE!
Abs,
Do seu professor de Direito Administrativo,
Alexandre Mazza.
Querid@ alun@, você sabe que as bancas extraem muitas perguntas de livros de doutrina.
No Direito Administrativo brasileiro praticamente só quatro autores são utilizados como
fonte pelas bancas:
a) Hely Lopes Meirelles (HLM);
b) Maria Sylvia Zanella Di Pietro (MSZP);
c) Celso Antônio Bandeira de Mello (CABM);
d) José dos Santos Carvalho Filho (JSCF).
Vamos estudar tanto as opiniões dos quatro grandes que deixei entre parênteses as siglas
que muitas vezes vou utilizar para abreviar seus “nomões”: HLM, MSZP, CABM e JSCF.
Embora não seja preciso você estudar por esses quatro autores, porque sempre vou te trazer
aqui a visão deles, considero importante que você saiba um pouco sobre cada um:
5
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Com a morte do autor em 1990, as edições posteriores à 15o edição vêm sendo atualizadas
por terceiros, mas já sem despertar tanto interesse entre acadêmicos e profissionais. Curioso
que até hoje é comum observar em exames orais (magistratura e MP, por exemplo),
arguidores com o livro do Hely aberto fazendo perguntas aos candidatos provavelmente
porque estudaram na graduação pelo Hely, que ainda é a grande referência para muitos
examinadores, mesmo após mais de 30 anos da sua morte. Costumo dizer que “se alguma
banca perguntar um tema de que você nunca ouviu falar, procura no Hely Lopes porque está
lá”. Atualmente, alguns estudiosos torcem o nariz para certos posicionamentos defendidos
pelo autor antes da redemocratização do Brasil (sobre o exercício do poder de polícia dentro
das universidades públicas, por exemplo), mas estou certo que, se vivo fosse, o grande Hely
já teria revisto algumas de suas opiniões mais polêmicas. Tome cuidado com citações do
pensamento de HLM sobre temas mais atuais porque, morto em 1990, vale lembrar que o
autor nunca poderia ter escrito sobre temas mais recentes como as Leis 8112/90 (Estatuto
do Servidor), 8666/93 (licitação e contratos), 8429/92 (improbidade), Lei 9784/99 (processo
administrativo), nem sobre agências reguladoras, PPPs, Organizações Sociais, Oscips etc.
Mesmo com sua obra sendo atualizada por terceiros, citar o HLM em algum desses assuntos
pode pegar mal.
6
121
MSZP conta sua história:
http://www.direitodoestado.com.br/tvdireito/depoimentos-magistrais/maria-
sylvia-zanella-di-pietro
7
121
José dos Santos Carvalho Filho (Carvalhinho):
José dos Santos Carvalho Filho, ou simplesmente
“Carvalhinho” para quem tem intimidade com
sua obra, é o único, entre os quatro grandes do
Administrativo, que não é de São Paulo. Nascido
no Rio de Janeiro, o Professor Carvalhinho fez
carreira no Ministério Público Fluminense,
aposentando-se como Procurador de Justiça.
Deu aulas na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e escreveu o livro de Direito
Administrativo mais utilizado pelas bancas de
concurso público, o seu consagrado Manual de
Direito Administrativo (Ed. Atlas). O Manual é o
mais extenso entre os “quatro grandes”, sendo um verdadeiro “tijolaço”. Prima pela enorme
variedade de temas, que os demais livros não abordam, revelando capacidade única para
desdobrar um assunto em itens e subitens, tudo com riquezade detalhes. O livro do
Carvalhinho é muito utilizado para extrair questões de concurso público, sendo o autor
predileto do Cespe e das provas elaboradas no Estado do Rio Janeiro (MP, Procuradorias e
Magistratura fluminenses), Estado onde exerce grande influência entre os juristas. Sinto-me
na obrigação de fazer um alerta sobre sua obra... o Manual do Carvalhinho vende muito bem
e, por isso, alcançou grande número de edições (já passou da 30a). Por causa da prodigiosa
capacidade de trabalho, uma característica do autor é alterar grandes trechos do Manual de
uma edição para outra, mudando de opinião ou retirando passagens inteiras. Por isso, ao
estudar o livro e, principalmente, se for citar algum entendimento de JSCF tenha o cuidado
de verificar na edição mais recente se aquela continua sendo a opinião do autor. Uma citação
desatualizada ou, pior, contrária ao entendimento mais recente pode ser desastrosa para a
nota!
8
121
compreensão caracterizando um conceito”1. Difícil, né? O conceito é uma ideia;
definição é o processo de enunciar corretamente essa ideia. Vamos entender
melhor. Tome como exemplo a licitação. Qualquer concurseiro sabe o conceito de
licitação, conhece a ideia geral por trás do nome. Se no edital aparece o tema
Licitação todo mundo lamenta (rs) porque sabe o conceito de licitação (uma
disputa, uma competição, um rito). Agora, a definição correta de licitação exige
muito mais conhecimento (procedimento administrativo concorrencial
estabelecido pelo Estado para escolha de seus contratados), tanto que sempre
estudamos definições elaboradas pelos grandes autores. Curioso perceber que os
editais costumam listar os subitens do tema licitação iniciando com “conceito de
licitação”, quando na verdade deveria dizer “definição de licitação”. Isso mostra
que na realidade dos concursos públicos a diferença entre conceito e definição
pode ser desconsiderada. Usarei o termo “conceito” indistintamente e recomendo
que você faça o mesmo na sua prova!
Como não há um conceito previsto na legislação, a doutrina diverge bastante nesse tema, de
modo que cada administrativista destaca certos elementos conceituais que julga mais
relevantes. Mas nunca vão te perguntar em prova qual o conceito certo ou errado. Aprendi
com o Professor Celso Antônio Bandeira de Mello que conceitos não são certos ou errados,
mas úteis ou inúteis, convenientes ou inconvenientes. Como cada estudioso tem liberdade
para apresentar o conceito que considera mais adequado para seus estudos, há bastante
variedade conceitual.
Gosto sempre de mostrar a opinião dos nossos quatro grandes administrativistas brasileiroS.
Veja se você nota o que cada autor busca enfatizar nos conceitos abaixo:
Vamos começar com o clássico Hely Lopes Meirelles:
Note que o Hely destaca o elemento finalístico no conceito “realizar os fins desejados pelo
Estado”, podendo-se dizer que é um conceito teleológico (do grego “telós” longe, distante,
final + “logos” palavra, estudo, conhecimento... assim teleológico seria uma “compreensão
que olha longe, olha além, para o fim das coisas”, um conceito finalístico). Curioso, no
entanto, que o autor trata do Direito Administrativo como um “conjunto harmonioso de
princípios”, deixando fora do conceito as simples regras jurídicas não principiológicas (não se
preocupe: falaremos depois da diferença entre norma, princípio e regra). Sabendo que o
1
LALANDE, André. Vocabulaire technique et critique de la philosophie, pp. 160 e 207, apud Fernando Menezes de.
2
Direito administrativo brasileiro, p. 38.
9
121
Direito Administrativo brasileiro tem algumas dezenas de princípios e milhares (talvez
milhões) de regras específicas (não principiológicas), o conceito parece um tanto simplista.
Agora é a vez de Celso Antônio Bandeira de Mello:
Bem ao estilo do Celso Antônio, esse conceito centraliza-se na função estatal que nosso ramo
jurídico disciplina, a função administrativa.
Com a palavra Maria Sylvia Zanella Di Pietro:
“o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas
jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade
jurídica não contenciosa que exercer e os bens de que se utiliza para a consecução
de seus fins, de natureza pública” 4.
Repare que Maria Sylvia enfatiza que o objeto do Direito Administrativo é uma função estatal
“não contenciosa”. Mas, por que a autora diz isso? O objetivo dela é diferenciar a função
administrativa (não contenciosa) e a função jurisdicional (contenciosa). Essa diferença
preocupa a doutrina no mundo inteiro porque, das três funções estatais básicas (legislar,
julgar e administrar), a mais fácil de distinguir é a função legislativa porque esta, de fato, é a
única de cria a norma, a única que inova originariamente na ordem jurídica (lembra do artigo
5o, II, da CF? “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”). As outras duas funções (julgar e administrar) pressupõem a norma criada
pelo Legislativo. Por isso a diferença: enquanto a função jurisdicional aplica a lei a partir de
uma provocação da parte interessada em solucionar um conflito (contencioso vem de
contenda, conflito), a função administrativa aplica a lei sem necessidade de provocação (a
aplicação pode ser de ofício), sem conflito prévio a ser solucionado.
Por fim, vamos ver a formulação de José dos Santos Carvalho Filho:
3
Curso de direito administrativo, p. 37.
4
Direito administrativo, p. 47.
5
Manual de direito administrativo, p. 8.
10
121
“relações jurídicas entre pessoas e órgãos do Estado”... gosto porque a compreensão do ramo
a partir das “relações jurídicas” é uma tendência bem moderna, atual, avançada... (escrevi
minha tese de Doutorado sobre “Relação Jurídica de Administração Pública”, publicada com
o mesmo nome pela Editora Saraiva), lembre que relação jurídica é um vínculo entre sujeitos
de direito (pessoas). Por isso, quando você centraliza o conceito de Direito Administrativo na
figura da “relação jurídica” entre os particulares (administrados) e o Estado (Administração),
você reconhece que nós particulares somos verdadeiros “sujeitos de direito”, ou seja, temos
direitos e deveres perante o Estado, uma constatação óbvia, mas que é secundária na visão
clássica do Direito Administrativo. Lembre que tradicionalmente concebe-se a Administração
como “autoridade”, como “poder público”, como alguém cheio de prerrogativas e que está
numa posição de supremacia em relação ao particular, este um subordinado, um
“administrado”, praticamente só com deveres. Acredite: reconhecer no particular um
“sujeito de direito” dentro de uma relação jurídica é um tremendo avanço diante da
tradicional concepção de Administração exclusivamente autoritária (cheia de autoridade,
poderosa, suprema, incontrastável).
Sei que a essa altura você deve estar se perguntando: tudo bem, Mazza, mas o que desejo
saber é qual conceito uso no meu concurso? Calma (rs), lembre que não pode haver uma
pergunta do tipo “assinale a alternativa correta sobre o conceito de Direito Administrativo”
porque, como te expliquei, não existe conceito certo ou errado, mas útil ou inútil,
conveniente ou inconveniente. Agora, numa prova discursiva, ou mesmo num exame oral,
precisando mencionar algum conceito de Direito Administrativo, recomendo que utilize um
conceito bem simples e que funcione como uma espécie de síntese dos quatro grandes
autores:
O que é natureza jurídica, Mazza? Natureza jurídica é o mesmo que taxonomia ou taxinomia.
A palavra vem do grego “taxio” (ordenar, organizar) + “nomos” (nome), significando algo
como colocar os temas em ordem, classificar determinados objetos. Assim, definir a natureza
jurídica ou taxonomia consiste em classificar um instituto dentro das grandes categorias da
6
Perceba que, no conceito, utilizei “Direito Administrativo” com maiúsculas porque estou me referindo ao ramo da
ciência jurídica (assim como nas outras áreas fala-se em Medicina, Psicologia, Geografia, ramos do conhecimento
humano). Nesse primeiro sentido temos o Direito Administrativo-Ciência. Por isso disse que o Direito Administrativo
“estuda” os princípios e regras. Mas lembre que o mesmo nome “direito administrativo”, preferencialmente com iniciais
minúsculas, pode também ser utilizado para mencionar o objeto do Direito Administrativo-Ciência, o que ele estuda: os
princípios e regras reguladores da função administrativa. Temos aqui o direito administrativo-norma ou direito
administrativo-objeto. Consegue enxergar a diferença? É a velha distinção feita pelos estudiosos entre direito-ciência
(ramo do conhecimento) e direito-norma (conjunto de normas, ordenamento). Em síntese: o Direito Administrativo-
Ciência estuda o direito administrativo-norma.
11
121
Ciência do Direito. O objetivo é um só: definir o regime jurídico (conjunto de normas)
aplicável a certo instituto.
Fica mais fácil se pensarmos num exemplo: se o examinador perguntar a você “qual a
natureza jurídica (ou taxonomia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ?”. O
examinador, com essa pergunta, quer saber o que a UFRJ é para o Direito. Para responder,
você deve encaixar o instituto (UFRJ) em alguma das grandes categorias do Direito (ato,
contrato, bem, pessoa etc). Consultando o Estatuto da UFRJ pela internet7podemos constatar
que a UFRJ foi criada como autarquia de regime especial, ou seja, sua natureza é de pessoa
jurídica de direito público interno de âmbito federal. Pronto! Essa é a taxonomia da UFRJ e,
com isso, podemos concluir que o regime jurídico aplicável à UFRJ é o de autarquia federal,
regime este basicamente estabelecido pelos artigos 5o e seguintes do DL 200/67 (Lei da
Organização Pública Federal).
Agora fica mais fácil estudar quais as normas aplicáveis à UFRJ. Interessante, não? Pronto!
Agora você já sabe o que é, para que serve e como se dá o processo de definição da natureza
jurídica de certo instituto.
Voltando ao que nos interessa...
O Direito Administrativo tem natureza de ramo do direito público, pois é assim que deve ser
classificado cientificamente. Você deve saber que, quanto à taxonomia, os ramos do Direito-
ciência se dividem em duas grandes classes: ramos de direito público e ramos de direito
privado.
Ramos de direito público são todos aqueles voltados ao estudo do regramento das atividades
estatais. Diante do agigantamento das funções do Estado Moderno, são muitíssimos os
ramos de direito público, por exemplo: Constitucional, Penal, Processo Penal, Processo Civil,
Tributário, Administrativo, Financeiro, Urbanístico, Ambiental, entre outros.
Já os ramos de direito privado interessam-se pela normatização das atuações de particulares.
Atualmente, consideram-se de direito privado no Brasil somente o Civil, o Empresarial e o
Trabalhista.
7
Vide: https://ufrj.br/estatuto-da-ufrj
8
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 56.
12
121
Em dado momento histórico, autores italianos (Federico Persico, Lorenzo Meucci), espanhóis
(Vicente Santamaria de Paredes) e portugueses (Guimarães Pedrosa) chegaram a defender a
incorporação da Ciência da Administração ao objeto do Direito Administrativo 9. Atualmente,
porém, são reconhecidamente ramos distintos na medida em que as técnicas estudadas pela
Ciência da Administração não têm cunho jurídico-normativo.
É possível, todavia, identificar conexões entre os dois campos. Isso porque, em linhas gerais,
o Direito normatiza e cria limites ao exercício da administração.
A Administração Privada é juridicamente normatizada pelo Direito Empresarial. Cabe, porém,
ao Direito Administrativo definir os limites dentro dos quais a gestão pública (Ciência da
Administração) pode ser validamente desempenhada.
9
Idem.
10
O mais importante estudioso da burocracia como fenômeno social foi o sociólogo alemão Max Weber.
13
121
a) toda autoridade baseada na legalidade;
b) relações hierarquizadas de subordinação entre órgãos e agentes;
c) competência técnica como critério para seleção de pessoal;
d) remuneração baseada na função desempenhada, e não nas realizações
alcançadas;
e) controle de fins;
f) ênfase em processos e ritos.
Outra coisa: não caia no erro de associar o nome “burocrática” ao sentido pejorativo que o
termo ganhou hoje, ou seja, burocracia como entrave, procrastinação, ineficiência. Trata-se
de uma concepção tradicional, baseada nos ensinamentos do sociólogo Max Weber, em que
a organização administrativa tem estrutura piramidal e hierarquizada, exatamente como
previsto a Constituição de 1988 (arts. 76 a 91), com o Presidente da República no ápice da
hierarquia da Administração Federal, logo abaixo os Ministros (auxiliares diretos do
Presidente), seguidos de incontáveis órgãos inferiores subordinados e de execução da
vontade superior.
Claramente, a Administração burocrática foi o modelo de organização administrativa
adotado pela Constituição de 1988, resultando num Estado estruturalmente inchado e
raramente eficiente.
Com a aprovação da reforma administrativa promovida pela Emenda Constitucional n. 19/98
e a necessidade de buscar maior eficiência na máquina pública, houve uma clara tentativa de
introduzir em nosso ordenamento pelo menos alguns instrumentos que apontassem direção
nova: o modelo do gerencialismo ou administração gerencial11. Como exemplos de institutos
de Direito Administrativo introduzidos pela Emenda 19/98 como reflexo da concepção
gerencialista podemos mencionar:
a) princípio da eficiência;
b) contrato de gestão;
c) agências executivas;
d) instrumentos de parceria da Administração;
e) redução de custos com pessoal;
f) descentralização administrativa;
g) ampliação do estágio probatório de 2 para 3 anos.
11
CUIDADO: É bom alertar que o modelo da administração gerencial, inspirador da Emenda n. 19/98, é acusado por
muitos administrativistas de servir como pretexto para flexibilizar os controles jurídicos sobre a Administração Pública.
Aparentemente simpática, a ideia de administração gerencial pressupõe gestores públicos mais éticos, confiáveis, bem-
intencionados, será que faz sentido?
14
121
Papel de destaque no gerencialismo é exercido pelo princípio da subsidiariedade, segundo o
qual não se deve atribuir ao Estado senão as atividades que a iniciativa privada não queira ou
não possa desempenhar. O artigo 173 da CF/88 é apontado como fundamento do princípio
da subsidiariedade em nosso sistema constitucional:
Licitação,processo
Contrato de gestão, agências
Institutos típicos administrativo, concurso público
executivas e princípio da eficiência.
e estabilidade.
15
121
2.5.1 - “Estado em rede”
A teoria do “Estado em rede” foi desenvolvida pelo Governo de Minas Gerais, a partir de
2003, para dar um “choque de gestão” com medidas de rápido impacto visando estimular o
desenvolvimento econômico, político e social naquele Estado12.
Foi criada como um esforço de aperfeiçoamento no modelo da administração pública
gerencial. Superando a simples busca por resultados, o Estado em rede defende uma gestão
aberta à cidadania, transformando os indivíduos de destinatários das políticas públicas em
“protagonistas na definição das estratégias governamentais”. Entre seus objetivos está
incorporar a participação da sociedade civil organizada na priorização e na implementação
de estratégias governamentais, fomentando a gestão regionalizada e a gestão participativa,
por meio de institutos como consultas e audiências públicas.
Em síntese, o Estado em rede se propõe a oferecer uma alternativa à já saturada polarização
administração burocrática versus gerencialismo, posicionando a ideia de “gestão
participativa”, em vez da lei (burocratas) ou da eficiência (gerencialistas), como valor central
na remodelação do Estado.
12
O Estado em Rede na lógica do Direito Administrativo vivo, artigo publicado por Ana Luiza Gomes de Araujo, Evaristo
Caixeta Pimenta, Luciana Moraes Raso Sardinha Pinto e Maria Isabel Araújo Rodrigues, na Revista de Direito
Administrativo e Constitucional, ano 14 – n. 57, julho/setembro - 2014.
13
Direito administrativo, p. 35-37.
16
121
autônomo de órgãos julgadores (contencioso administrativo) cujas decisões ajudaram a
construir os principais institutos do Direito Administrativo moderno. A teoria do desvio de
poder, a teoria dos motivos determinantes, as cláusulas exorbitantes nos contratos
administrativos e a responsabilidade do Estado são alguns exemplos de temas que nasceram
a partir das decisões do contencioso administrativo francês. No Brasil não existe nada similar
ao contencioso administrativo, pois aqui todas as causas são decididas pelo Poder Judiciário
(modelo inglês da jurisdição una). Lembre do que diz o artigo 5 o, XXXV, da CF/88: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Por isso, entre nós o
Direito Administrativo tem como fonte primária a lei (“bloco da legalidade”14) e não os
precedentes administrativos ou jurisdicionais, sendo bem menos expressiva a importância
das decisões judiciais para a compreensão das questões de Direito Administrativo.
14
Car@ amig@, falaremos mais pra frente sobre a diferença entre lei e “bloco da legalidade”. Apenas para matar sua
curiosidade, saiba que hoje o princípio da legalidade obriga a Administração a cumprir normas emanadas de várias fontes
além das leis ordinárias e leis complementares (Constituição Federal, Constituições Estaduais, medidas provisórias,
tratados e convenções internacionais, decretos e regulamentos). A essa ampliação do conteúdo tradicional do princípio
da legalidade dá-se o nome de “bloco da legalidade” ou “princípio da juridicidade”.
17
121
4ª) é influenciado secundariamente pelos precedentes administrativos e judiciais,
sendo a lei a única fonte primária. É bom lembrar que nunca vigorou no Brasil o
modelo norte-americano da “common law” (ou “stare decisis”), no qual as
decisões judiciais criam precedentes com força vinculante para casos futuros.
No entanto, a criação no Brasil das chamadas Súmulas Vinculantes (art. 103-A da CF),
promovida pela Emenda Constitucional 45/04, modificou significativamente a importância
sistêmica dos precedentes judiciais como fonte do Direito Administrativo brasileiro. Antes da
EC 45/04, a jurisprudência era uma referência indicativa para o processo decisório da
Administração, agora por decisão de dois terços dos membros do STF, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, pode ser aprovada súmula com efeito vinculante em
relação ao Judiciário e à administração pública direta e indireta (art. 103-A da CF). Com isso,
as decisões judiciais, pelo menos aquelas condensadas em súmulas vinculantes, adquiriram
força normativa cogente para a administração pública. Mas cuidado: mesmo com o advento
das súmulas vinculantes, a lei (“bloco da legalidade”) ainda ocupa com exclusividade o status
de fonte primária do Direito Administrativo brasileiro.
15
A nova LINDB e a incorporação da teoria dos precedentes administrativos ao país, in www.conjur.com.br
18
121
2.7 - CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DO OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Acabamos de ver que o Brasil nunca adotou o modelo francês de controle, mas nosso Direito
Administrativo foi muito influenciado pelas decisões do contencioso daquele país. Lembre
que na França as causas de interesse da Administração cabem, não ao Poder Judiciário, mas
a um conjunto independente de órgãos administrativos (contencioso administrativo).
Assim, na França, sempre foi fundamental identificar um critério específico capaz de
estabelecer os assuntos que integram o direito da administração pública para saber quais
causas cabem ao Poder Judiciário e quais serão julgadas pelo contencioso.
Além disso, o esforço de conceituação do Direito Administrativo, e consequente identificação
de seu objeto, cumpriu ainda duas funções básicas na história: afirmar a autonomia do Direito
Administrativo-ciência como ramo investigativo, diferenciando-o da Ciência da
Administração e do Direito Constitucional; reconhecer a existência do Direito Administrativo-
norma como complexo normativo especial16.
Em síntese, a busca por um critério capaz de estabelecer o objeto e definir o conceito do
Direito Administrativo cumpriu historicamente, em especial durante o século XIX e início do
XX, três funções fundamentais:
a) identificar as causas de competência do contencioso administrativo francês;
b) afirmar a autonomia do Direito Administrativo-ciência;
c) reconhecer a existência do Direito Administrativo-norma como fenômeno normativo
específico.
Sendo atualmente consensuais a autonomia científica e a existência do Direito Administrativo
como complexo normativo específico, a abordagem conceitual perdeu ênfase e mudou de
foco passando modernamente a atender outras finalidades. Para Fernando Menezes de
Almeida17, professor titular da Universidade de São Paulo, a busca de um conceito de Direito
Administrativo cumpre hoje dupla função:
a) reforçar a percepção da administração pública enquanto fenômeno jurídico;
b) substituir uma investigação mais formal do conceito por uma investigação sobre o
conteúdo do Direito Administrativo.
16
Fernando Menezes de Almeida, Conceito de Direito Administrativo, p. 15, Enciclopédia Jurídica da PUCSP, Tomo 2.
17
Conceito de Direito Administrativo, p. 15, Enciclopédia Jurídica da PUCSP, Tomo 2.
19
121
I - identificar as
causas de
competência do
contencioso
administrativo
francês;
III - reconhecer a
existência do Direito
Administrativo-
norma como
fenômeno
normativo
específico
I - reforçar a percepção da
administrção pública
enquanto fenômeno
jurídico;
FUNÇÕES MODERNAS DO
CONCEITO DE DIREITO
ADMINISTRATIVO
II - substituir uma
investigação mais formal do
conceito por uma
investigação sobre o
conteúdo do Direito
Administrativo.
20
121
Vamos estudar agora quais os critérios identificados pela doutrina para definir o Direito
Administrativo.
Diogenes Gasparini18 menciona seis critérios/correntes principais para definição do objeto do
Direito Administrativo: legalista, do Poder Executivo, das relações jurídicas, do serviço
público, teleológico e residual. Podemos acrescentar ainda os critérios do Poder Executivo,
da hierarquia e da atividade não-contenciosa. Desse modo, podemos falar ao todo em oito
critérios ou correntes principais para conceituação do Direito Administrativo:
1) critério legalista, exegético, francês, empírico ou caótico: tipicamente associado ao
modelo francês do contencioso administrativo, o critério legalista foi defendido pela “Escola
da Exegese”, que teve como expoentes os franceses Barão de Gerando, Macarel, Foucart, De
Courmenin, Dufour, Batbie e, no Brasil, Pimenta Bueno 19.De acordo com o critério legalista,
o objeto do Direito Administrativo corresponde à somatória das leis administrativas
existentes no país em dado momento histórico.Em outras palavras, o Direito Administrativo
seria sinônimo de direito positivo20.O critério legalista e a Escola da Exegese, explica Maria
Sylvia, foram fruto do um momento histórico peculiar, a era das grandes codificações,
durante todo o século XIX, sem condições de prosperar com as mudanças ocorridas no início
do século XX21.
CRÍTICA: O critério exegético é reducionista. De um lado, porque transfere ao legislador (que
não é técnico) a tarefa de delimitar o objeto do Direito Administrativo; de outro, desconsidera
a existência dos princípios implícitos e das demais fontes normativas reconhecidas pelo
ordenamento, como a doutrina, a jurisprudência e os costumes. Evidentemente que o Direito
Administrativo não se esgota nas leis e regulamentos administrativos22;
2) critério do Poder Executivo: vincula o Direito Administrativo ao complexo de leis
disciplinadoras da atuação do Poder Executivo.
CRÍTICA: o equívoco desse critério é evidente, pois deixa de considerar que o Poder Executivo
desempenha atipicamente atividades legislativas e jurisdicionais, cujo estudo não cabe ao
Direito Administrativo, mas ao Direito Constitucional e ao Direito Processual,
respectivamente. Além disso, a função administrativa também é desempenhada, ainda que
excepcionalmente, pelo Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas,
Defensoria e até particulares por delegação estatal (concessionários e permissionários).
18
Direito administrativo, p. 3-6.
19
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 54.
20
Idem.
21
Idem.
22
José Cretella Júnior, apud Maria Sylvia Zanella di Pietro, idem.
21
121
A prova de Analista Judiciário do TJ/CE de 2014 elaborada pelo Cespe considerou
ERRADA a afirmação: “De acordo com o critério do Poder Executivo, o direito
administrativo é conceituado como o conjunto de normas que regem as relações
entre a administração e os administrados”. COMENTÁRIO: A afirmativa está errada
porque o critério do Poder Executivo vincula o Direito Administrativo ao complexo
de leis que disciplinam o Poder Executivo, e não as relações jurídicas entre a
administração e os administrados. Na verdade, o Cespe descreveu o critério das
relações jurídicas com o nome de critério do Poder Executivo
Como já comentei com você que, eu, Mazza, defendo a teoria da relação jurídica
como uma nova forma de compreensão do Direito Administrativo, não mais
centrado na autoridade, e sim no reconhecimento de que o particular é um titular
de direitos frente a Administração. Eu te disse até que Relação Jurídica de
Administração Pública foi o tema da minha tese de Doutorado, que virou livro pela
Editora Saraiva, lembra? Agora, isso não significa que a relação jurídica possa ser
utilizada como critério único para definir o objeto do Direito Administrativo.
22
121
de entender é o contrato de locação. Nele, o locador ocupa a posição subjetiva
ativa (credor) e o locatário, a posição subjetiva passiva (devedor). A locação,
porém, é um caso clássico de relação jurídica bilateral em que o locador tem um
“direito subjetivo” (situação ativa) ao cumprimento do “dever” (situação passiva)
de pagamento pelo locatário. Não havendo pagamento, o locador pode fazer valer
judicialmente o seu direito subjetivo. Pense agora em casos mais difíceis: “ônus”
da prova no direito processual; “prerrogativa” de servidor público; “expectativa
de direito” à nomeação de candidato em concurso público; “interesse” de agir no
processo civil; “interesse legítimo” ao respeito à coisa pública. Ônus, prerrogativa,
expectativa de direito, interesse e interesse legítimo também são situações
subjetivas. O ônus é uma situação subjetiva passiva; os demais, situações
subjetivas ativas. Mas note que são situações subjetivas unilaterais (não-
relacionais) criadas pelo Direito. Seus titulares, na verdade, vinculam-se com o
ordenamento. São fragmentos de relações jurídicas, ou relações incompletas por
falta de alteridade (existência do outro polo). No processo civil, por exemplo, o
autor tem o ônus de provar fatos constitutivos de seu direito (art.373 do CPC), mas
não há credor desse ônus. O descumprimento do ônus tem o efeito apenas de
privar seu titular da fruição de determinada vantagem23.
4) critério do serviço público: considera que o Direito Administrativo tem como objeto a
disciplina jurídica dos serviços públicos. Na França, o critério do serviço público foi muito
utilizado na primeira metade do século XX para definir o objeto do Direito Administrativo e,
por consequência, fixar as competências do contencioso administrativo daquele país. Em
torno da ideia da centralidade do serviço público como eixo fundamental do Direito
Administrativo formou-se na França a famosa “Escola do Serviço Público” ou “Escola de
Bordeaux”, liderada pelo administrativista Leon Duguit (leia Leôn Diguí), tendo importantes
doutrinadores como Gaston Jèze (leia Gastôn Jéze), Laferrière (leia Laferriér) e Rolland (leia
Rolã).
CRÍTICA: Serviço público é uma atividade estatal ampliativa, criadora de benefícios materiais
aos destinatários (usuários), tais como saúde pública, educação, saneamento, energia
elétrica e fornecimento de água. Embora no desenrolar do século passado, especialmente
após a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), os países orientados à construção de um
Estado Social (Welfare State, Estado de Bem-Estar ou Estado-Providência), como o Brasil,
tenham ampliado significativamente o rol de serviços públicos disponibilizados à população,
criando um verdadeiro “Estado Prestador”, as tarefas estatais restritivas (segurança pública,
poder de polícia, fiscalização) não foram abandonadas pelo Poder Público. No século XX, o
Estado-Prestador (atuações ampliativas) não substituiu completamente o Estado-Polícia
(atuações restritivas), mas passou a existir um equilíbrio entre essas duas faces do Poder
23
Para aprofundar no difícil tema das situações subjetivas em Direito Administrativo: Relação Jurídica de Administração
Pública, Alexandre Mazza, Editora Saraiva; Manual de Direito Administrativo (capítulo 11 é inteiramente dedicado ao
tema), Alexandre Mazza, Editora Saraiva. No Direito Comparado, por todos, veja o incomparável Fragmentos de un
diccionario juridico, Santi Romano, Ediciones Jurídicas Europa (edição argentina).
23
121
Público: prestador de serviços público e limitador das liberdades individuais. Assim, fica fácil
compreender que o critério do serviço público mostra-se insuficiente para definir o objeto do
Direito Administrativo na medida em que a Administração Pública moderna desempenha
muitas atividades de outra natureza, como o poder de polícia, a exploração direta de
atividade econômica (art. 173 da CF/88) e as atuações de fomento (incentivo a determinados
setores sociais);
6) critério negativista ou residual: sendo difícil identificar um critério único capaz de definir
o objeto do Direito Administrativo, é comum encontrar estudiosos sustentando que o ramo
somente pode ser conceituado residualmente ou por exclusão, nesse sentido caberiam ao
Direito Administrativo todos os temas de direito público não pertencentes ao objeto de outro
ramo jurídico.
CRÍTICA: toda conceituação baseada em critério residual é, por natureza, insatisfatória.
Imagine, por exemplo, definir a função administrativa como o conjunto de atividades estatais
excetuadas a legislação e a jurisdição. Nada é dito objetivamente sobre a função
administrativa em si. Na tentativa de revelar o que o Direito Administrativo é, o critério
residual limita-se a indicar o que ele não é.
24
121
jurisdicionais, porém excluindo as atividades legislativas”. COMENTÁRIO: A
afirmativa está errada porque o critério negativo ou negativista conceitua o objeto
do Direito Administrativo como as atividades estatais residuais, excluindo-se
legislação e jurisdição (e o texto menciona a inclusão das atividades jurisdicionais)
Você vai perceber que menciono frequentemente, ao lado dos três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), outros três órgãos estatais: Ministério Público,
Tribunal de Contas e Defensoria. Faço isso porque, como veremos no módulo de
Organização Administrativa, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria
Pública são casos raros de “órgãos públicos primários” que, mesmo previstos na
Constituição Federal, não integram nem o Legislativo, nem o Executivo, nem o
Judiciário. Formam, assim, uma categoria bastante peculiar.
7) critério da hierarquia: entende que cabe ao Direito Administrativo o estudo dos órgãos
públicos inferiores (destituídos de autonomia e dotados de atribuições meramente
executórias) ao passo que o Direito Constitucional estudaria os órgãos públicos superiores
(autônomos ou independentes, dotados de atribuições decisórias)
CRÍTICA: falha ao deixar de fora do conceito de Direito Administrativo toda a estrutura estatal
descentralizada, como autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista etc.,
cuja autonomia escapa da verticalização hierárquica comum na Administração centralizada.
8) critério da atividade não-contenciosa: por esse critério o Direito Administrativo estudaria
o conjunto de atividades estatais não-litigiosas (não-contenciosas ou não-resistidas)
enquanto que ao Direito Processual caberiam as atuações estatais envolvendo alguma
espécie de lide.
CRÍTICA: embora boa parte da função administrativa seja de fato não-contenciosa, há casos
de atuação da Administração em que a litigiosidade é inegável, como no processo
administrativo disciplinar e nos processos sancionatórios em geral (sanções a particulares no
âmbito do poder de polícia ou punições a contratados). Além disso, se o critério da
litigiosidade é útil para distinguir a atividade administrativa (não-contenciosa) da atividade
judicial (contenciosa), revela-se insatisfatório para diferenciara função administrativa da
função legislativa.
25
121
Além dos critérios acima indicados, inúmeros outros podem ser encontrados na doutrina,
como o patrimonial (ou dos bens públicos), o funcional e o subjetivo.
Depois de estudarmos tudo isso, você deve estar perguntando: o, Mazza, o que eu faço se o
examinador me perguntar qual desses critérios predomina entre os administrativistas
brasileiros?
Vou te explicar. Na atualidade, não há consenso quanto ao critério mais apropriado para
conceituar nosso ramo. Seguindo tendência iniciada na Alemanha, a doutrina europeia
passou a dirigir seus esforços no sentido de sistematizar a matéria do Direito Administrativo,
definindo seus institutos específicos e princípios informativos 24. Dá-se o nome de critério
técnico-científico a essa metodologia de investigação hoje amplamente majoritária. Seus
expoentes são, na França, Maurice Hauriou, Henri Berthélemy, Leon Duguit, Gaston Jèze e
Roger Bonnard. Na Itália, Orlando, Enrico Presutti, Oreste Ranelleti, Attilio Bruniatti e
Federico Cammeo. Entre os alemães, Otto Mayer, Carl Gerber, Sarwey e Loening. O critério
técnico-científico também é o mais utilizado pelos administrativistas brasileiros25.
Com base nos diferentes critérios usados para de limitar o objeto e definir o conceito do
Direito Administrativo, o administrativista carioca Diogo de Figueiredo Moreira Neto
apresenta um panorama das diversas escolas26 administrativistas27.
Perceba que algumas escolas recebem o mesmo nome do critério utilizado para
definir o Direito Administrativo, como no caso da “Escola Legalista”. Mas há
escolas que não estão associadas especificamente a algum critério, assim como
24
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 54.
25
Idem.
26
O termo “Escola” é utilizado no sentido aristotélico de pensadores com afinidade intelectual. Obviamente, não se trata
de uma instituição física localizada no tempo e no espaço. Segundo Jacques Chevallier, toda escola consiste na
cristalização de um movimento artístico ou de uma corrente de pensamento com as seguintes características: a) coesão
de ideias; b) continuidade; c) afinidade intelectual; d) existência de mecanismos de transmissão do saber. (La Fin des
Ecoles?, Revue du Droit Public, n. 3, pp.679-700)
27
Curso de direito administrativo, p. 44. A estrutura do quadro evolutivo e a conceituação das diferentes escolas é uma
reprodução adaptada de trechos do citado administrativista.
26
121
critérios que não deram origem a escola. Isso explica algumas semelhanças com o
item anterior.
1) Escola Francesa: conhecida também como Escola legalista, clássica, exegética, empírica ou
caótica, propõe um alcance restritivo do conceito de Direito Administrativo, limitando-o ao
estudo das normas administrativas de determinado país. Como visto no item anterior, seus
mais importantes defensores foram, na França, o Barão de Gerando, Macarel, Foucart, De
Courmenin, Dufour, Batbie e, no Brasil, Pimenta Bueno. Assim, a Escola Francesa uso critério
legalista para conceituar o Direito Administrativo;
2) Escola Italiana: adepta igualmente de um conceito restritivo, compreende o Direito
Administrativo como o ramo dedicado a estudar os atos do Poder Executivo. Seus principais
expoentes são Lorenzo Meucci, Oreste Ranelletti e Guido Zanobini. A Escola Italiana vale-se
do critério do Poder Executivo na conceituação do Direito Administrativo;
3) Escola do Serviço Público: chamada também de “Escola de Bordeaux”, considera o Direito
Administrativo como o estudo do conjunto de regras disciplinadoras dos serviços públicos.
Na França, como visto, o serviço público foi utilizado na primeira metade do século XX para
definir o objeto do Direito Administrativo e, por consequência, fixar as competências do
contencioso administrativo daquele país. A Escola de Bordeaux tem entre seus adeptos Léon
Duguit, Gaston Jèze e Bonnard. Segundo Maria Sylvia, a Escola inspirou-se na jurisprudência
do Tribunal de Conflitos francês, especialmente no famoso Aresto Blanco (8 de fevereiro de
1873), a partiu do qual se fixou a competência dos tribunais administrativos em função da
prestação de serviços públicos. Na visão de Duguit (1859-1928), o direito público restringe-
se à disciplina normativa dos serviços públicos, entendidos como a atividade ou organização,
em sentido amplo, de todas as atuações estatais independentemente do regime jurídico28. O
Direito Administrativo é direito dos serviços públicos, dizia. Influenciado pela obra do
sociólogo Émile Durkheim, de quem era amigo, Duguit adota de uma visão mais ampla do
serviço público como fato social, não se limitando à perspectiva estritamente
jurídica,metodologia que explica seu conceito tão alargado.Gaston Jèze, ao contrário,
conceitua serviço público como a atividade ou organização, em sentido estrito, de natureza
material realizada pelo Estado para satisfazer as necessidades públicas e sujeitas ao Direito
Administrativo29. A diferença conceitual entre os dois maiores expoentes da Escola de
Bordeaux é notável. Para Duguit, qualquer atividade atribuída ao Estado constitui serviço
público, de modo que o seu conceito inclui atuações materiais (serviço público em sentido
estrito), restritivas (poder de polícia), legislativas e jurisdicionais. É um conceito
excessivamente abrangente que agrupa sob o mesmo rótulo (serviço público) prestações
estatais completamente distintas entre si. Já o conceito de Jèze aproxima-se da noção atual
de serviço público, restringindo-o às atividades ampliativas submetidas ao regime jurídico-
administrativo, de modo a excluir do conceito o poder de polícia (por não ser ampliativo), a
28
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 74
29
Idem.
27
121
legislação e a jurisdição (não são atuações materiais). A Escola de Bordeaux é uma doutrina
finalística, pois a prestação de serviços públicos dirige-se à satisfação do interesse público;
30
Idem, p. 73
31
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 73
32
Jacques Chevallier, La Lin des Ecoles?, in Revue du Droit Public, 1997, n. 3, pp. 679-700.
28
121
atue somente “secumdum legem” (quando a lei autorizar).O ordenamento deve assegurar
que as regras limitadoras que o Estado impôs a si mesmo (a lei é uma auto limitação
estatal)possam ser invocadas pelos administrados, ante autoridade jurisdicional, com a
finalidade de anular, reformar ou não aplicar atos administrativos ilegais, defendendo o
cidadão contra a arbitrariedade das autoridades estatais 33.
Apogeu: França, século XX Apogeu: França, século XIX Apogeu: França, século XX
DA conceituado a partir do
DA conceituado a partir do Direito como limitação que o
critério da potestade pública
critério do serviço público Estado impõe a si mesmo
(“puissance publique”)
Duguit, Jèze, Bonnard, Rolland, Hauriou, Laferrière, Batbie, Carré de Malberg, Einsenmann,
Réglade Berthélemy, Vedel, Rivero Burdeau, Prélot, Capitant
6) Escola do Interesse Público: entende que a noção fundamental para conceituar o Direito
Administrativo é a ideia de bem comum ou interesse público, cuja proteção seria a finalidade
última do Estado. A Escola do Interesse Público emprega o critério teleológico ou finalístico
em seu conceito de Direito Administrativo;
7) Escola do Bem Público: defendida por André Buttgenbach, entende que a noção-chave
para conceituação do Direito Administrativo é a de bem público. A Escola do Bem Público
parte do critério patrimonial para conceituar o Direito Administrativo;
8) Escola dos Interesses Coletivos: sustenta que a defesa dos interesses coletivos é a base
para conceituar o Direito Administrativo. A Escola usa o critério do interesse público para
conceituar o Direito Administrativo;
33
Carré de Malberg, Teoría General del Estado, p. 449.
29
121
9) Escola Funcional: associa o conteúdo do Direito Administrativo ao estudo da função
administrativa. A Escola vale-se do critério do funcional na conceituação do Direito
Administrativo;
10) Escola Subjetiva: defendida por importantes administrativistas brasileiros, como Ruy
Cirne Lima e José Cretella Júnior, utiliza como eixo conceitual para o Direito Administrativo
as pessoas, agentes, entidades e órgãos encarregados do exercício das atividades
administrativas;
11) Escola Exegética: sustenta que o objeto do Direito Administrativo consiste na
“compilação das leis existentes e a sua interpretação com base principalmente na
jurisprudência dos tribunais administrativos”34;
12) Escolas Contemporâneas: as escolas mais atuais tendem a utilizar diversos critérios
combinados para oferecer um conceito mais abrangente de Direito Administrativo capaz de
incluir todas as atividades desempenhadas pela Administração Pública moderna.
34
Cespe: Prova do TJ/CE.
35
Vide, por exemplo, Norberto Bobbio, Teoria do ordenamento jurídico.
36
É o caso, entre outros, de José dos Santos Carvalho Filho, Manual de direito administrativo, p. 18.
37
Entenda por “força cogente máxima” a suficiência da regra jurídica para, por si só, disciplinar comportamentos. Os
princípios administrativos são bastantes em si mesmos para produzir eficácia sem necessidade de outras regras que
viabilizem sua aplicação.
30
121
Imagine, por exemplo, que o governador expede um decreto, mas não envia o ato para
publicação no Diário Oficial. A “simples” violação ao princípio da publicidade (art. 37, “caput”,
da CF) é suficiente por si só para tornar o decreto nulo, mesmo que nenhuma outra norma
do sistema seja violada.
O Direito Administrativo, como todo ramo jurídico, possui dois tipos de normas: os princípios
e as regras. Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência são exemplos
de princípios administrativos (art. 37, caput, da Constituição Federal: “A administração
pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência”). Cada um desses princípios aplica-se a diversas modalidades de
manifestações da função administrativa. O princípio da legalidade, por exemplo, é aplicável
nas licitações, nos contratos firmados pela Administração, na gestão de bens públicos, no
processo disciplinar, etc. Nota-se que o alto grau de abstração do conteúdo da legalidade (“a
Administração só pode agir quando a lei autoriza”)estende sua incidência a inumeráveis
situações concretas, ocorridas em diversos setores da atividade administrativa. Por isso, a
legalidade é um princípio.
Por outro lado, o artigo 8o da Lei 8429/92, segundo o qual “o sucessor daquele que praticar
improbidade administrativa está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da
herança”, é um exemplo de regra porque seu conteúdo é aplicável somente a uma situação
específica (falecimento do autor da improbidade), não se espraiando para outros contextos
da atividade administrativa.
31
121
É possível diferenciar princípios e regras a partir de vários critérios:
a) quanto à abrangência: os princípios aplicam-se a uma maior quantidade de casos
concretos, ao passo que as regras incidem sobre um número menor de situações práticas;
b) quanto à abstração do conteúdo: os princípios têm um conteúdo mais aberto, dotado de
acentuado nível de abstração; já as regras têm um conteúdo reduzido à disciplina de
condutas específicas;
c) quanto à importância sistêmica: os princípios veiculam os valores fundamentais de
determinado ramo jurídico; enquanto as regras não cumprem tal papel dentro do sistema,
apenas regulam condutas específicas;
d) quanto à hierarquia no ordenamento jurídico: os princípios ocupam posição
hierarquicamente superior à das regras, prevalecendo sobre elas em caso de conflito; as
regras posicionam-se abaixo dos princípios na organização vertical do ordenamento, tendo a
validade de seu conteúdo condicionada à compatibilidade com os princípios;
e) quanto à técnica para solucionar antinomias 38: os princípios enunciam valores
fundamentais da ordem jurídica de modo que, havendo antinomia entre dois ou mais
princípios, emprega-se a técnica da cedência recíproca, aplicando-se ambos
simultaneamente, mas com os conteúdos em parte mitigados; a antinomia entre regras
enseja uma questão de validade, utilizando-se da técnica do tudo ou nada, de modo que uma
regra é aplicada afastando a incidência da outra;
f) quanto à criação: os princípios são revelados pela doutrina num processo denominado
abstração indutiva, pelo qual as regras específicas são tomadas como ponto de partida para
identificação dos valores fundamentais inerentes ao sistema (princípios). Por isso, o papel
desempenhado pelo legislador na criação de um princípio jurídico é indireto, pois, após criar
as diversas regras do sistema, cabe à doutrina extrair os princípios fundamentais ali contidos.
Por isso, o fato de um princípio estar expresso ou não na legislação tem sistemicamente
pouca relevância, pois o princípio teria a mesma força jurídica se o legislador não o tivesse
explicitado; ao contrário das regras, que são criadas diretamente pelo legislador;
g) quanto ao conteúdo prescritivo: os princípios têm conteúdo valorativo que, em geral, não
prescreve uma ordem específica para regulação de comportamentos; enquanto o conteúdo
das regras sempre normatiza certa conduta por meio de um dos três modais deônticos
38
Antinomia é o conflito entre regras jurídicas dentro de determinado sistema. De acordo com Norberto Bobbio, existem
três critérios para solucionar antinomias: 1) critério cronológico: norma posterior revoga norma anterior; 2) critério
hierárquico: norma de nível superior revoga norma inferior; 3) critério da especialidade: norma especial revoga norma
geral de dois princípios. Pode, entretanto, haver conflito entre os critérios. Se o conflito for critério hierárquico x critério
cronológico, o hierárquico prevalece (se a norma anterior superior é antinômica em relação à norma posterior inferior,
prevalece a norma anterior superior). Se o conflito for critério da especialidade x critério cronológico, prevalece o critério
da especialidade (se a norma anterior especial é incompatível com uma norma posterior geral, prevalece a norma
anterior especial). Mas se o conflito for critério hierárquico x critério da especialidade, não existe uma solução predefinida
(se norma superior geral entra em conflito com norma inferior especial, como os dois critérios são fortes, a melhor saída
somente poderá ser avaliada diante do caso concreto). Norberto Bobbio, Teoria do ordenamento jurídico, p. 105-110.
32
121
existentes: permitido, proibido e obrigatório. Toda regra jurídica permite, proíbe ou obriga
determinada conduta humana.
Modais deônticos são os comandos possíveis de uma norma jurídica: permitido
(representado, em termos lógicos, pela letra P), proibido (letra V, inicial de “verboten”,
palavra alemã que significa proibido) e obrigatório (O).
PRINCÍPIO REGRA
Conforme leciona Diogo de Figueiredo Moreira Neto, os princípios são capazes de produzir
as seguintes espécies de eficácia:
33
121
6) Eficácia mediata sistêmica: interconecta o conteúdo de todos os preceitos do
ordenamento, garantindo unidade e coerência ao sistema;
7) Eficácia mediata integrativa: diz respeito ao preenchimento de lacunas.
Quando determinado ramo jurídico é subdividido, dando origem a novos ramos, recebe o
nome de “direito comum” o ramo-mãe, que permanece servindo de referência externa para
a solução de questões que não possam ser resolvidas pela técnica própria do ramo
especializado. Os problemas mais importantes envolvem a integração normativa (integração
é o processo técnico-jurídico utilizado para preencher lacuna sem determinado ramo).
Havendo alguma lacuna a ser preenchida, o direito comum é uma das fontes às quais se deve
recorrer para suprir lacuna existente em ramo especializado.
Historicamente, o Direito Administrativo surgiu a partir de decisões do contencioso francês
derrogatórias do direito comum (direito civil). Desse modo, o Direito Civil é o direito comum
para o Administrativo.
Ocorre que a conhecida repartição didático-científica do Direito em dois blocos, Direito
Público e Direito Privado, cria uma ressalva nesse processo de importação de soluções
(integração). Se um ramo é de Direito Público, não faz tanto sentido recorrer às normas
análogas presentes no Direito Civil. As soluções jurídicas aplicáveis a problemas privados não
servem de modelo para dirimir adequadamente controvérsias que envolvem o Estado.
Por isso, embora o tema não seja abordado pela doutrina nacional, defendo a tese que o
Direito Administrativo é o direito comum dos ramos do Direito Público material– como
39
Celso Antônio Bandeira de Mello utiliza a expressão “regime jurídico-administrativo” no sentido de conjunto de
princípios e regras do Direito Administrativo.
34
121
Tributário, Urbanístico, Ambiental, Econômico, Financeiro – na medida em que nasceram
tendo o Direito Administrativo como ramo de origem40.
Portanto, o Estado de Direito e a Tripartição de Poderes têm status de “conditio sine qua non”
(condição “sem a qual não” ou condição indispensável) para a existência do Direito
Administrativo.
Não havia sentido falar em Direito Administrativo durante a Idade Média, período
característico do Estado Absolutista ou Estado de Polícia, quando inexistiam regras jurídicas
colocadas acima da vontade dos monarcas.
Com a Revolução Francesa, em 1789, o fortalecimento dos Parlamentos criou condições para
estabelecerem-se regras limitadoras da atuação da administração pública.
Ocorrida pouco antes da Revolução Francesa, no mesmo século XVIII, tem sido também
apontada pelos estudiosos como decisiva para o nascimento da ideia de um Direito
Administrativo a publicação da obra O espírito das leis (L’esprit des lois, 1748), de Charles-
Louis de Secondat, ou Charles de Montesquieu, mais conhecido como Barão de
Montesquieu. Na obra, Montesquieu defende a necessidade de uma distribuição do poder
estatal entre órgãos distintos como um antídoto contra a concentração de poderes e os
abusos que caracterizavam as monarquias absolutistas. Segundo o autor, a experiência dos
povos evidencia que quem tem o poder possui uma tendência a dele abusar, pondo em risco
a liberdade do homem. Desse modo, torna-se necessário frear essa inclinação natural por
meio de um sistema de controle do poder pelo poder. Alguns autores sustentam que
Montesquieu não teria sido o primeiro a idealizar a tripartição de poderes, sendo comum
apontar A república (século IV a.C.) de Platão e os Tratados sobre governos civis (1689), do
inglês John Locke, como a legítima origem da famosa teoria. É inegável, todavia, que a
aceitação universal da repartição dos poderes estatais entre órgãos distintos, admitida como
eficiente instrumento de contenção de abusos, deveu-se à obra de Montesquieu.
40
Mas essa é uma opinião minha e, certamente, essa discussão essencialmente acadêmica não tem chance de cair em
concurso. De qualquer forma, se te perguntarem na prova diga que, por razões históricas, o Direito Civil é o ramo de
direito comum para o Direito Administrativo.
35
121
2.13 - AUTONOMIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Durante o final do século XIX e início do XX, período em que surgiu o Direito Administrativo a
partir das decisões do contencioso francês, havia grande controvérsia acerca da autonomia
do Direito Administrativo frente o direito comum (Direito Civil).
Atualmente é consensual a autonomia didática e científica do Direito Administrativo diante
dos demais ramos jurídicos. A existência de um objeto próprio (normas disciplinadoras do
exercício da função administrativa) e a identificação de princípios específicos (legalidade,
impessoalidade, moralidade etc.) são fatores suficientes para conferir status de ramo
autônomo.
Car@ amig@ alun@, não sei se você já notou, mas os conceitos de “Estado”, “Governo”,
“Poder Executivo”, “Administração Pública”, “administração pública” (com minúscula) e
“poder executivo” (com minúscula) tendem a ser o primeiro tópico de Direito Administrativo
previsto nos editais de concurso público. A capacidade de distinguir tais noções umas das
outras é indispensável para compreender diversos temas do Direito Administrativo.
Vamos entender o que cada uma delas significa.
Denomina-se Estado o povo situado em determinado território e sujeito a um governo. O
conceito de Estado compõe-se de três elementos:
a) povo: é a dimensão pessoal do Estado, o conjunto de indivíduos unidos para formação da
vontade geral do Estado. Povo não se confunde com população, conceito demográfico que
significa um contingente de pessoas que, em determinado momento, estão no território do
Estado. Estado é diferente também de nação, conceito que pressupõe uma ligação cultural
entre os indivíduos;
b) território: é a base geográfica do Estado, sua dimensão espacial;
c) governo: é a cúpula diretiva do Estado.
Assim, sempre que o povo tiver um território seu e for liderado por um governo, pode-se
falar em “Estado”.
Importante lembrar que o Estado, para organiza-se, precisa estar sujeito a uma ordem
jurídica consistente no complexo de normas de direito cujo fundamento maior de validade é
a Constituição. Já soberania é o atributo estatal de não conhecer entidade superior na ordem
externa, nem igual na ordem interna (Jean Bodin).
36
121
indissociáveis do Estado”. A prova de Técnico de Administração/PA elaborada pelo
Cespe considerou CORRETA a afirmação: “O Estado brasileiro é um ente
personalizado formado pelos elementos povo, território e governo soberano”.
Não confunda Estado com governo. Governo é um conceito que sofreu importante
alteração de conteúdo. A visão clássica considerava que governo era sinônimo de
Estado, ou seja, a somatória dos três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
Atualmente, porém, governo em sentido subjetivo é a cúpula diretiva do Estado,
responsável pela condução dos altos interesses estatais exercendo o poder
político. Na República, a composição do governo pode ser modificada a cada
eleição. Nesse sentido, pode-se falar em “governo FHC”, “governo Lula”. O
governo muda, mas a estrutura estatal permanece. Já na acepção objetiva ou
material, governo é a atividade diretiva do Estado.
37
121
diminui o poder decisório. Do espeque à cúspide diminuem os órgãos, mas
aumenta o poder decisório.
Administração Pública (com iniciais maiúsculas) é um conceito que não coincide com Poder
Executivo. Atualmente, o termo Administração Pública pode ser utilizado em duas acepções.
Em sentido subjetivo, orgânico ou formal, Administração Pública é o conjunto de órgãos e
agentes estatais no exercício da função administrativa, independentemente de serem
pertencentes ao Poder Executivo, ao Legislativo, ao Judiciário, ou a qualquer outro organismo
estatal (como Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensorias Públicas). Assim, por
exemplo, quando o Supremo Tribunal Federal realiza uma licitação, embora pertença ao
Poder Judiciário da União, a comissão licitante integra a Administração Pública Federal
porque exerce essa função administrativa.
Administração pública (com iniciais minúsculas) ou poder executivo (com minúscula) são
expressões sinônimas de função administrativa.
E, por fim, o conceito de Poder Público em sentido orgânico ou subjetivo, segundo Diogo de
Figueiredo Moreira Neto, é “o complexo de órgãos e funções, caracterizado pela coerção,
destinado a assegurar uma ordem jurídica, em certa organização política considerada” 41.
Pode-se dizer que o autor considera Poder Público, em sentido subjetivo, como sinônimo de
Estado. Porém, na acepção funcional ou objetiva, poder público significaria a própria
coerção característica da organização estatal.
Como visto, a expressão “Administração Pública” pode ser empregada em dois sentidos
diferentes42:
41
Curso de direito administrativo, p. 8.
42
Adotamos, aqui, a classificação proposta por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Direito administrativo, p. 54-58.
38
121
1º – Administração Pública em sentido subjetivo, orgânico ou formal é o conjunto de
agentes, órgãos e entidades estatais no exercício da função administrativa;
Em face das duas acepções para “Administração Pública” é correto dizer que
particulares nunca podem INTEGRAR a Administração Pública (o verbo “integrar”
dá a ideia de estrutura, por isso estamos diante do sentido subjetivo – lembrando
que a Administração Pública em sentido subjetivo é composta por agentes, órgãos
e entidades ESTATAIS, nunca por particulares). Mas o direito brasileiro admite que,
por delegação estatal, particulares EXERÇAM a administração pública, como no
caso de concessionário e permissionários de serviço público (o verbo “exercer”
remete a atividade, por isso estamos falando do sentido objetivo da administração
pública)
39
121
os nomes Ministério da Fazenda, Procuradoria da Fazenda Nacional e Vara da Fazenda
Pública.
Mais frequentemente na área jurídica, porém, o termo “Fazenda Pública” é utilizado em
sentido estrito para designar o Estado em juízo, ou seja, as entidades governamentais quando
figuram no polo ativo ou passivo de ações judiciais, assim como órgãos despersonalizados
dotados de capacidade processual especial.
43
Manual de Direito Administrativo, p. 1044.
40
121
jurídico próprio do serviço público (regime jurídico-administrativo) derroga parcialmente as
regras privadas, razão pela qual algumas características normativas são diferentes daquelas
aplicáveis às exploradoras de atividades econômicas.
41
121
Administração Pública introversa e extroversa:
A prova da Polícia Civil do Acre, organizada pelo Ibade, em 2017, utilizou o conceito
de “Administração Pública introversa”, no sentido do conjunto de relações
existentes entre o Poder Público e seus agentes. Já “Administração Pública
extroversa” seria o complexo de vínculos entre a Administração e os particulares44.
2ª) serviço público: a partir da primeira metade do século XX, após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), como resposta à crise econômica causada pela guerra, surgiram as
denominadas Constituições Sociais (mexicana, de 1917, e alemã, ou de Weimar, de
1919),passando a atribuir ao Estado, além do exercício da polícia, o oferecimento de
benefícios às empobrecidas populações do pós-guerra,por meio da prestação de serviços
públicos, como saúde, ensino, previdência, transporte e energia elétrica. Em substituição ao
Estado-Gendarme, essencialmente restritivo e sancionador, nasce um Estado-Prestador;
3ª) fomento (ou incentivo): na segunda metade do século XX, o desenvolvimento do Estado-
Prestador trouxe um agigantamento do aparelho estatal agora encarregado de numerosos
serviços públicos. A solução encontrada para combater a ineficiência de uma máquina pública
44
Concurso da Polícia Civil do Estado do Acre, banca Ibade.
42
121
inchada foi, ao invés de o Estado assumir mais tarefas, o Poder Público estimular o
desenvolvimento de setores da sociedade civil no desempenho de atividades de interesse
coletivo. Essa nova missão assumida pela Administração Pública chama “fomento” e consiste
no incentivo público a setores sociais específicos, estimulando o desenvolvimento da ordem
social e econômica;
4a) Atuação interventiva: embora não seja consenso entre os grandes administrativistas, os
concursos públicos começaram a fazer referência a uma quarta tarefa fundamental da
Administração moderna: a atividade de intervenção, subdividida nas categorias:
a) intervenção na propriedade privada: conjunto de ações estatais de limitação da
propriedade em favor do interesse público, visando o cumprimento do princípio da “função
social da propriedade” (art. 5º, XXIII, da CF);
b) intervenção no domínio econômico (regulação): atividades estatais de disciplina,
normatização e fiscalização dos mercados e seus agentes econômicos;
c) intervenção no domínio social: atuação do Estado voltada a apoiar os economicamente
hipossuficientes com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais.
43
121
2.17 - INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Você lembra de diferença entre norma (conteúdo) e lei (veículo), certo? Então, para se chegar
à norma jurídica é preciso extrair do texto legal, ou de qualquer outro veículo normativo, o
seu conteúdo. Esse processo de extrair a norma a partir do texto chama-se interpretação.
Dizendo de um modo mais técnico: interpretação é o processo técnico que revela, a partir
do texto legal, o sentido e o alcance das normas jurídicas e suas sanções. Hermenêutica é a
parte da Filosofia do Direito que estuda a interpretação de normas jurídicas.
A interpretação das normas do Direito Administrativo está sujeita aos princípios
hermenêuticos gerais estudados pela Filosofia do Direito e, apenas subsidiariamente 45, às
regras interpretativas próprias do Direito Privado.
Hely Lopes Meirelles46aponta três pressupostos que devem ser observados na interpretação
de normas, atos e contratos de Direito Administrativo, especialmente quando utilizados
princípios hermenêuticos privados para compreensão de institutos administrativos:
1º) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados: ao contrário do que
ocorre no direito privado, a relação jurídica básica no Direito Administrativo é marcada pelo
desequilíbrio entre as partes, pela hipossuficiência do administrado ou verticalidade da
relação;
2º) a presunção de legitimidade dos atos da Administração: a presunção de legitimidade é
o atributo do ato administrativo que tem o poder de inverter o ônus da prova sobre a validade
do ato administrativo, transferindo ao particular o encargo de demonstrar eventual vício do
ato administrativo;
3º) a necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao interesse
público: na competência discricionária, a lei confere ao agente público uma margem de
liberdade para que, diante do caso concreto, escolha a melhor maneira de defender o
interesse público. Essa pluralidade de comportamentos válidos, presente na prática de atos
administrativos discricionários, deve ser levada em consideração na interpretação das
normas de Direito Administrativo, especialmente para compreensão dos limites traçados
pela lei para o exercício das competências administrativas.
45
Aplicação subsidiária, ou secundária, é aquela permitida somente na hipótese de ausência de regra específica. Em
outras palavras, primeiro o intérprete deve tentar utilizar as regras hermenêuticas da Filosofia do Direito (aplicação
primária) e, somente no caso de lacuna, a aplicação subsidiária (secundária) da regras privadas é possível.
46
Direito administrativo brasileiro, p. 47-48.
44
121
necessariamente, três pressupostos: 1º) a desigualdade jurídica entre a
Administração e os administrados; 2º) a presunção de legitimidade dos atos da
administração; 3º) a necessidade de poderes discricionários para a Administração
atender ao interesse público”. COMENTÁRIO: Nessa questão, o TJ/PR admite que
o Direito Civil atua como “direito comum” em relação ao Direito Administrativo,
ou seja, o Direito Civil é o ramo a que se deve recorrer quando não forem
suficientes as regras e técnicas do Direito Administrativo
No Brasil, assim como ocorre na maioria dos países modernos, o Direito Administrativo não
está organizado em um diploma único, ou seja, nosso Direito Administrativo não está
codificado.
Para Hely Lopes Meirelles47 existem três fases de um ramo jurídico rumo à codificação:
1º) Legislação esparsa: as normas pertencentes ao ramo jurídico estão espalhadas em
diplomas legislativos diversos, sem qualquer sistematização. Exemplo: Direito Ambiental;
2º) Consolidação: após a fase da legislação esparsa, o ramo avança para as codificações
parciais, conferindo alguma organização à disciplina normativa de temas específicos dentro
do ramo jurídico. A seguir, costuma ocorrer de as leis mais importantes do ramo serem
agrupadas em um diploma único chamado de “consolidação” ou “coletânea”. A consolidação
não é um verdadeiro código, pois não tem unidade lógica e sistematização, impossíveis de se
obter com a simples justaposição de leis distintas. Como regra, a consolidação é outorgada
por ato do Poder Executivo, e não promulgada por lei (a CLT, por exemplo, foi editada
durante a ditadura Vargas por força do Decreto-lei 5.452/43). Exemplo: Direito do Trabalho;
3º) Codificação: por fim, vencidas as etapas da legislação esparsa e da consolidação, a
codificação do ramo é promovida pelo Poder Legislativo em diploma legal
único,sistematizando racionalmente os princípios e regras fundamentais para o ramo.
Exemplos: Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Penal, entre outros. A codificação não
exclui a possibilidade de existirem leis extravagantes. O código disciplina os temas centrais,
sem prejuízo de outros diplomas normativos disciplinarem assuntos específicos a partir das
regras gerais codificadas. Serve de exemplo a situação do Direito Civil brasileiro, ramo
codificado (Lei n. 10.406/2002 – Código Civil), mas com diversas leis esparsas, como a Lei de
Locações (8.245/91) e a Lei do Bem de Família (Lei n. 8.009/90).
45
121
A codificação não tem relação direta com o estágio evolutivo ou a antiguidade
do ramo. A ausência de um código não significa atraso ou falta de
amadurecimento científico. A não-codificação pode ser resultado de uma simples
opção política do legislador. Veja o caso, por exemplo, do nosso Direito Tributário,
ramo muito mais recente e nascido como especialização do Direito Administrativo,
não obstante já está codificado (o Código Tributário Nacional surgiu por força da
Lei 5172/66).
Outra dica importante é que a falta de codificação não prejudica a autonomia do ramo. O
Direito Administrativo é ramo autônomo, mas não está edificado.
Por isso que não devemos confundir as fases rumo à codificação com o processo de
reconhecimento da autonomia.
O reconhecimento da autonomia de determinado ramo exige os seguintes pressupostos:
Vantagens da codificação:
1) segurança jurídica;
2) transparência no processo decisório;
3) previsibilidade das decisões;
4) estabilidade social;
5) acesso facilitado da população para conhecimento das regras vigentes;
6) visão panorâmica do ramo;
48
Direito administrativo brasileiro, p. 46.
46
121
7) melhor controle da atuação estatal.
Desvantagens da codificação:
1) certa estagnação do ramo;
2) desatualização do código diante da aprovação de posteriores leis
extravagantes;
3) a competência concorrente para legislar sobre Direito Administrativo
impossibilitaria a codificação aplicável a todas as esferas federativas;
4) diversidade de temas, dificultando o trabalho de compilação.
Acesso da população
Visão panorâmica
Diante de tantos argumentos você deve estar perguntando, Mazza, o que defendo
na minha prova? Sugestão: Por causa da maior quantidade e qualidade da
argumentação, recomendo que você sustente a posição FAVORÁVEL À
CODIFICAÇÃO. Além das vantagens, lembre que essa é a opinião de Hely Lopes
Meirelles (um dos poucos autores importantes que se manifestou sobre a
controvérsia) e, se lembrar, faça referência à experiência positiva do Código de
Procedimento Administrativo em Portugal49. Mas não se esqueça, sendo possível,
de enumerar também as desvantagens da codificação, mostrando ao examinador
que, mesmo não sendo sua opinião, você tem domínio completo do assunto!
49
O Código de Procedimento Administrativo português foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 442/91, de 15 de novembro e
revisto pelo Decreto-Lei n.º 6/96, de 31 de janeiro.
47
121
2.19 - FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Foi Hely Lopes Meirelles o autor que no Brasil difundiu a teoria quadripartite das
fontes administrativas (lei, doutrina, jurisprudência e costumes). As fontes
raramente são estudadas nos manuais tradicionais porque é um assunto
considerado mais afeto à Filosofia do Direito e à Teoria Geral do Direito. Além do
que é costume entender que o papel do jurista é estudar o Direito Positivo, a
norma posta, de modo que a discussão sobre as fontes normativas seria anterior
ao objeto dos ramos jurídicos específicos.
Tecnicamente falando, fontes são os fatos jurídicos de onde as normas emanam. Segundo a
classificação de Hely Lopes Meirelles as fontes jurídicas podem ser de dois tipos:
Importante destacar que no Direito Administrativo somente a lei constitui fonte primária
porque todas as demais fontes (secundárias) estão a ela subordinadas. São fontes
secundárias doutrina, jurisprudência e costumes.
50
Antônio Martinz de Rezende, Dicionário do Latim Essencial, Ed. Autêntica Clássica, p. 149.
51
Especialmente para provas escritas e exames orais é importante mostrar ao examinador conhecimento sobre a origem
linguística de expressão de nosso idioma. É um excelente início para respostas, vai impressionar positivamente a banca
e aumentar sua nota. Experimente!
52
Maria Helena Diniz, Enciclopédia Jurídica da PUCSP, Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito.
48
121
A prova do TJ/CE elaborada pelo Cespe considerou ERRADA a afirmação: “São
considerados fontes primárias do direito administrativo os atos legislativos, os
atos infralegais e os costumes”. COMENTÁRIO: A afirmação está errada porque
fonte primária do Direito Administrativo é só lei
I) Lei
Como ensina Maria Sylvia Zanella di Pietro53, no sistema da “civil law” adotado no Brasil a
principal fonte do Direito é a lei aprovada no Parlamento, e não a jurisprudência
administrativa (como no contencioso da França), nem o precedente judicial (como nos países
da “common law”, tais como Inglaterra e Estados Unidos).
Somente alei é o meio adequado para criar originariamente deveres e proibições, obrigações
de fazer ou não fazer no Direito Administrativo. É o que estabelece o art. 5º, II, da
Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”.
Mas é preciso tomar cuidado porque o termo “lei” está aqui empregado em sentido amplo.
Lei aqui é qualquer veículo normativo geral e abstrato que expresse a vontade popular (art.
59 da CF/88), ou seja:
Constituição Federal;
Emendas Constitucionais;
Constituições Estaduais;
Leis Orgânicas;
Leis Ordinárias;
Leis Complementares;
Leis Delegadas;
Decretos Legislativos;
Decretos Regulamentares;
Resoluções;
Medidas Provisórias;
53
Direito Administrativo, p. 59.
49
121
Tratados e Convenções Internacionais
Como regra, a exigência de lei para autorizar condutas da Administração Pública (princípio da
legalidade) exige uma lei ordinária, exceto quando a Constituição Federal expressamente
invocar a necessidade lei complementar.
Mas, em qualquer caso, a lei somente será válida se aprovada pelo Poder Legislativo
competente, em outras palavras, observando-se as normas constitucionais de distribuição de
competências entre as entidades federativas54.
II) Doutrina
A palavra “doutrina”, do latim “doctrina”, tem origem do verbo “doceo” que significa fazer
aprender, instruir, ensinar. Assim, etimologicamente a doutrina é um ensinamento, um
método, uma formação teórica55. No âmbito do Direito, doutrina é o conjunto de saberes
produzidos pelo trabalho intelectual dos juristas. Especialmente no caso de leis confusas ou
obscuras, a interpretação dada por renomados doutrinadores tende a produzir um impacto
na comunidade jurídica similar ao da criação de outra norma.
É bastante conhecida a posição de autores que rejeitam o papel da doutrina como fonte do
direito. Para Paulo de Barros Carvalho, por exemplo, o discurso descritivo da doutrina não
altera a natureza prescritiva do direito, visto que apenas ajuda a compreendê-lo sem,
entretanto, modificá-lo, colocando-se como uma sobre linguagem que fala da linguagem
deôntica da ordenação jurídica vigente56.
Todavia, as bancas de concurso têm utilizado, sem críticas, a visão tradicional de Hely Lopes
da doutrina como fonte do Direito Administrativo.
Embora Hely Lopes Meirelles, o “pai da matéria” no Brasil, trate todas as fontes
como espécies de um mesmo gênero, claramente a doutrina não cria norma,
apenas interpreta o conteúdo das normas já existentes de modo a revelar seu
sentido e alcance. O mesmo pode ser dito das demais fontes. Seria mais
apropriado fazer a distinção entre fonte de criação da norma (lei) e fontes de
conhecimento/compreensão da norma (doutrina, jurisprudência etc.). Porém, tal
54
Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, p. 60.
55
Antônio Martinz de Rezende, Dicionário do Latim Essencial, Ed. Autêntica Clássica, p. 115.
56
Curso de Direito Tributário, p. 34.
50
121
diferença não ocorreu ao grande Hely Lopes Meirelles, de modo que as quatro
fontes são até hoje estudadas no Brasil como tendo força jurígena (força jurígena
= poder de criar norma).
III) Jurisprudência
O termo “jurisprudência” tem origem no latim “iuris” (direito) + “prudentia” (sabedoria),
significando “dizer o direito sabiamente”.
A jurisprudência é o entendimento consagrado de um tribunal em casos similares. Por isso,
tome muito cuidado: nunca podemos usar o termo jurisprudência para fazer referência a uma
decisão só. A decisão isoladamente considerada é um “julgado”. Uma série de julgados, de
um mesmo tribunal, em determinado sentido forma “jurisprudência”. Por exemplo: está
correto falar na “jurisprudência do STF sobre responsabilidade dos concessionários de serviço
público”, mas não está correto chamar o Recurso Extraordinário n. X de jurisprudência. Evite,
pela mesma razão, falar em “jurisprudências” pois o uso correto do vocábulo raramente
admite plural.
A jurisprudência não tem a mesma força cogente de uma norma criada pelo legislador, mas
na prática pode determinar decisivamente o modo como as leis em sentido amplosão
interpretadas e aplicadas. Especialmente na interpretação dos princípios administrativos e
no caso dos “espaços jurídicos em vazios” (lacunas na lei), as orientações jurisprudenciais
exercem enorme influência na comunidade jurídica.
A leitura do art. 103-A da CF/88 deixa claro que a súmula vinculante não obriga:
51
121
a) o Poder Legislativo: pois sempre poderá ser criada nova lei modificando o
tratamento normativo do tema objeto da súmula, que perde força vinculante para
casos futuros quanto àquilo que contrariar a nova lei;
b) o Supremo Tribunal Federal: na medida em que o STF pode, a qualquer tempo,
promover alterações de conteúdo ou cancelar suas súmulas vinculantes;
c) o Poder Constituinte originário ou derivado: igualmente não está vinculado à
sumula na hipótese de ser criada nova constituição ou ao emendar a constituição
vigente.
IV) Costumes
Os costumes são práticas reiteradas da autoridade administrativa capazes de estabelecer
padrões obrigatórios de comportamento. Ao serem repetidos constantemente, criam o
hábito de os administrados esperarem aquele modo de agir, causando incerteza e
instabilidade social sua repentina alteração. É nesse sentido que os costumes constituem
fontes secundárias do Direito Administrativo. Importante relembrar que os costumes não
têm força jurídica igual à da lei, razão pela qual só podem ser considerados vigentes e
exigíveis quando não contrariarem nenhuma regra ou princípio estabelecido na legislação.
Existem três tipos de costumes:
57
Curso de direito administrativo, p. 75.
52
121
Enquanto, para o autor, o costume caracteriza-se pelo uso e a convicção generalizada da
necessidade de sua cogência, a praxe administrativa é basicamente uma prática burocrática
rotineira adotada por conveniência procedimental, desprovida do reconhecimento de sua
indispensabilidade. De modo geral, a praxe administrativa não é considerada fonte do Direito
Administrativo, mas pode ser utilizada como um meio útil para solucionar casos novos, desde
que não contrarie alguma regra ou garantia formalmente estabelecida.
Indelegável Indelegável
53
121
Age mediante provocação Age de ofício ou por provocação
54
121
§ 2º A vinculação da administração tributária federal na forma prevista no caput
dar-se-á a partir da publicação do ato do Ministro de Estado da Fazenda no Diário
Oficial da União”.
Recentemente foi aprovada a Lei 13.655/18 que alterou a Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (Decreto-lei 4657/42). Agora, o artigo 30 da LINDB contém um comando
geral impondo às autoridades administrativas a necessidade de conferir maior segurança nas
decisões por meio da edição de súmulas administrativas:
“Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas. Parágrafo único. Os instrumentos
previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou
entidade a que se destinam, até ulterior revisão”
O nome “stare decisis” vem da fórmula latina “stare decisis et non quieta movere”
(respeitar aquilo que foi decidido não alterando o que se estabeleceu) e designa a
teoria da vinculação aos precedentes. Originária do sistema da “common law”, a
“stare decisis” foi introduzida no direito brasileiro pela Emenda 45/04 como
fundamento das súmulas vinculantes e, mais recentemente, pela Lei 13.655/18
acrescentando o art. 30 à LINDB que prevê as súmulas vinculantes administrativas.
58
A nova LINDB e a incorporação da teoria dos precedentes administrativos ao país, in www.conjur.com.br
55
121
Segundo o autor59, existem quatro hipóteses em que o novo art. 30 da LINDB é aplicável na
criação de precedentes administrativos:
Uma vez firmado o precedente vinculante (holding), agora a autoridade somente poderá
deixar de aplicar a solução se proferir uma decisão fundamentada, na qual demonstre que
existem diferenças substanciais entre o precedente e o caso atual, que justifique uma decisão
diversa (distinguishing) ou a necessidade de aprimoramento/superação do precedente
(overruling), quer por razões jurídicas, quer econômicas, ou ainda pela cambialidade da
situação de fato60. É o que se extrai também do art. 50, VII, da Lei 9784/99, segundo o qual
devem ser obrigatoriamente motivadas as decisões administrativas que “deixem de aplicar
jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e
relatórios oficiais”61
59
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
60
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
61
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
56
121
estatais ou não estatais; voluntárias ou imperativas; organizadas ou inorganizadas; próprias
ou impróprias.
Fontes primárias, maiores, originárias ou principais: dão origem à norma administrativa,
inovando de forma originária e imediata na ordem jurídica. Inovar originária e imediatamente
na ordem jurídica é tratar de um “espaço jurídico vazio”, disciplinando um tema não
legislado, ou então, modificar o tratamento normativo dado pela lei. Assim, as fontes
primárias criam deveres e proibições, servindo de fundamento de validade para as fontes
secundárias. Como visto, a lei em sentido amplo é a única fonte primária em nosso Direito
Administrativo.
Fontes secundárias, menores, derivadas ou acessórias: não podem inovar originária e
primariamente na ordem jurídica, sendo acessórias, subordinadas e posteriores às fontes
primárias das quais extraem validade. É o caso da doutrina, costumes e jurisprudência.
Fontes formais: são aquelas por meio das quais o direito é exteriorizado, são os veículos
introdutores de normas no ordenamento jurídico. Exemplos: leis, medidas provisórias e
decretos.
Fontes materiais ou reais: são os fatores sociais, históricos, religiosos, naturais, demográficos,
higiênicos, políticos, econômicos e morais que produziram o surgimento da norma jurídica 62.
Em outras palavras, são os elementos valorativos e circunstanciais externos ao ordenamento
(exógenos) que levaram à criação da norma. Exemplo: manifestações sociais pelo fim da
corrupção que resultaram na criação da Lei da Ficha Limpa (LC 135/10). Pode-se dizer, nesse
caso, que o clamor da população foi a fonte material ou real da Lei.
Fontes formais autônomas ou introversas: As fontes formais podem ser autônomas ou
heterônomas. Fontes formais autônomas ou introversas são aquelas criadas pelo próprio
destinatário. Exemplo: um ato normativo expedido para regramento das condutas de agentes
públicos é fonte autônoma (introversa) para a Administração.
Fontes formais heterônomas ou extroversas: criadas por pessoa diferente do destinatário.
Exemplo: a lei é fonte heterônoma ou extroversa para o particular.
Fontes internas ou nacionais: originadas no ordenamento jurídico do próprio país, como a lei;
Fontes externas ou internacionais: têm origem nos órgãos supranacionais. Exemplos:
tratados e convenções internacionais.
Fontes estatais: são aquelas que nascem dentro da estrutura do Poder Público. Dividem-se
em fontes legislativas (leis, emendas constitucionais etc.) e jurisprudenciais (sentenças,
súmulas vinculantes etc.)63.
Fontes não-estatais: têm origem fora da estrutura do Estado, como os costumes e a doutrina.
Fontes voluntárias: são fruto de uma vontade expressa de criar a norma, como a lei.
62
Maria Helena Diniz, Fontes do Direito, Enciclopédia Jurídica da PUCSP, Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito.
63
Idem.
57
121
Fontes involuntárias: não decorrem expressamente de uma vontade de criar a norma, mas
vão se impondo como consequência do convívio social. Exemplo: costumes.
Fontes imperativas: são impostas coercivamente aos particulares pelo Estado. Exemplo: lei.
Fontes organizadas: são estruturadas institucionalmente pelo Estado. Exemplo: a lei, na
medida em que o próprio Estado tem um processo específico para sua criação (processo
legislativo).
Fontes inorganizadas: surgem do convívio social sem qualquer estruturação ou procedimento
formal de criação. Exemplo: costumes e doutrina.
Fontes próprias, diretas ou puras: aquelas existem especificamente para a criação de normas.
Exemplo: a lei;
Fontes impróprias, indiretas ou impuras: não existem especificamente para criar normas, mas
tem força jurígena indireta atribuída pelo ordenamento. Exemplo: jurisprudência.
Por fim, quanto aos precedentes administrativos (súmulas administrativas vinculantes) sua
taxonomia é de fonte secundária, formal autônoma, interna, estatal, involuntária, organizada
e própria.
58
121
2.20 - SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
No sistema inglês da jurisdição una todas as causas, mesmo aquelas que envolvem interesse
da Administração Pública, são julgadas pelo Poder Judiciário. Conhecido como modelo
inglês, por ter como fonte inspiradora o sistema adotado na Inglaterra, é a forma de
controle existente atualmente no Brasil.
A unidade de jurisdição está prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. O comando atribui ao
Poder Judiciário o monopólio da função jurisdicional, ainda que a demanda envolva interesse
da Administração Pública.
Como a Separação de Poderes é cláusula pétrea (art. 60, § 4º, III, da CF) fácil notar que o art.
5º, XXXV, do Texto Maior, proíbe definitivamente a adoção do contencioso administrativo no
Brasil, já que este sistema representa uma diminuição das competências jurisdicionais do
Poder Judiciário, de modo que a emenda constitucional que estabelecesse o contencioso
administrativo seria tendente a abolir a Tripartição de Poderes. A única hipótese para adoção
do contencioso administrativo em nosso país seria com a promulgação de uma nova
Constituição Federal, fruto do poder constituinte originário.
59
121
O sistema do contencioso administrativo foi criado na França em conseqüência de
particularidades históricas daquele país. Antes da Revolução (1789), a França era uma
monarquia absolutista com todos os poderes estatais centralizados na figura do rei. Os
magistrados eram nomeados pelo monarca e raramente decidiam contrariamente ao
interesse da Coroa. Com a Revolução Francesa e a superação do Antigo Regime foi aprovada
uma lei no ano de 1790 que proibia os juízes de decidir causas de interesse da Administração
Pública.
Cabe lembrar que a França é o berço da Teoria da Tripartição de Poderes de Montesquieu,
cuja aplicação foi radicalizada a ponto de considerar-se uma interferência indevida na
independência do Poder Executivo o julgamento de suas demandas pelo Poder Judiciário. Foi
criado, então, um conjunto independente de órgãos decisórios formando uma justiça
especial somente para decidir causas de interesse da Administração.
Acima do Conselho de Estado e dos órgãos do Poder Judiciário situa-se, na estrutura francesa,
o Tribunal de Conflitos, com atribuições para julgar conflitos de competência entre as duas
justiças.
60
121
exemplo, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - Carf (segunda instância
administrativa do Fisco). No Brasil, as decisões dos tribunais administrativos estão sujeitas a
revisão judicial. Assim, constitui grave erro referir-se a qualquer modalidade de contencioso
administrativo em nosso país. Repito: no Brasil não há dualidade de jurisdição.
Embora o Brasil nunca tenha adotado o modelo francês, é comum utilizar aqui o
termo “contencioso”, não para fazer referência a algum conjunto separado de
órgãos julgadores, mas no sentido de “litigioso”. Daí falarmos, por exemplo, que
“fulano atua no contencioso cível”. Evidentemente, nesse exemplo o termo está
empregado em outra acepção.
A Constituição Federal de 1988 adotou o sistema da jurisdição una (art. 5º, XXXV).
Entretanto, já houve previsão constitucional de contencioso administrativo no
Brasil. Sob a égide da Carta de 1967, a Emenda Constitucional n. 7, de 13 de abril
de 1977, autorizou a criação de contenciosos administrativos31 federais e
estaduais para decisão de questões fiscais, previdenciárias e de acidentes de
trabalho, mas que nunca chegaram a existir (“Art. 203. Poderão ser criados
contenciosos administrativos, federais e estaduais, sem poder jurisdicional, para a
decisão de questões fiscais e previdenciárias, inclusive relativas a acidentes do
trabalho”).
61
121
2.20.3 - Como se cria um contencioso
62
121
Além da desapropriação, exemplo mais relevante para concursos, também compete
privativamente à União legislar sobre os seguintes temas afetos ao Direito Administrativo
(incisos do art. 22 da CF):
Vamos entender agora quais temas do Direito Administrativo só podem ser disciplinados por
meio de lei complementar. É a chamada reserva de lei complementar.
63
121
É importante saber isso porque enquanto a lei ordinária é aprovada por maioria simples (art.
47 da CF/88), a lei complementar exige maioria absoluta para aprovação (art. 69 da CF/88).
Como regra geral, o Direito Administrativo é basicamente disciplinado por meio de lei
ordinária, promulgada pelo parlamento da entidade federativa competente para legislar
sobre a matéria.
Como consequência, no âmbito federal, é possível a edição de medidas provisórias sobre
praticamente todos os temas do Direito Administrativo. Você deve lembrar que a própria
CF/88 proíbe a edição de MPs sobre temas reservados à LC (art. 64, § 1 o, III). Além disso,
também está proibido editar MPs sobre as seguintes matérias(art. 62, § 1º, da CF):
Embora o uso de lei ordinária seja regra geral, alguns temas de Direito Administrativo estão
constitucionalmente submetidos à reserva de Lei Complementar. É o caso, principalmente,
da definição das áreas de atuação das fundações governamentais (art. 37, XIX, da CF).
64
121
A prova de Fiscal do Trabalho elaborada pela Esaf considerou CORRETA a
afirmação: “Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), a
distinção entre a lei complementar e a lei ordinária não se situa no plano da
hierarquia, mas no da reserva de matéria”. COMENTÁRIO: Na verdade, já é
consensual, na doutrina e na jurisprudência, que não existe hierarquia entre lei
ordinária e lei complementar, mas temas diferentes atribuídos a cada uma. E,
claro, a jurisprudência do STF entende na mesma linha
65
121
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas
gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções,
estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva.
Vimos que o Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que estuda princípios e regras
disciplinadoras do exercício da função administrativa.
Chegou a hora de entender melhor o que é a função administrativa.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o termo “função” no direito designa toda atividade
exercida por alguém na defesa de interesse alheio. Ensina o autor: “Existe função quando
alguém está investido no dever de satisfazer dadas finalidades em prol do interesse de
outrem”64.
Assim, o Direito regula basicamente dois tipos de atividades:
a) atividades comuns: exercidas em nome próprio na defesa de interesse próprio; e
b) atividades funcionais ou simplesmente funções: desempenhadas em nome próprio na
defesa de interesse de terceiros.
64
Curso de direito administrativo, p. 71.
66
121
d) o tutor, na defesa dos interesses do tutelado;
e) o curador na defesa dos interesses do curatelado.
Mas, Mazza, por que a ideia de função é tão importante no Direito Administrativo?
Entenda: a ideia de função é importantíssima para nós na medida em que o Direito
Administrativo, ao contrário de outros ramos jurídicos, estuda SOMENTE atividades
funcionais. Pense comigo, o agente público exerce uma função porque atua em nome
próprio na defesa dos interesses da coletividade (interesse público primário). Fácil notar que
a função administrativa é exercida pelos agentes governamentais na defesa do interesse
público.
Tome muito cuidado: existe uma diferença fundamental entre interesse público
primário e interesse público secundário. Interesse público primário é o interesse
da coletividade, enquanto interesse público secundário é o interesse patrimonial
do Estado como pessoa jurídica. A distinção é relevante porque os interesses do
Estado podem não coincidir com os da sociedade. São exemplos de interesse
público secundário: a interposição de recurso com finalidade estritamente
protelatória, o aumento excessivo de tributos e a demora para pagamento de
precatório65.
65
A jurisprudência do STJ é rica em decisões que distinguem interesse público primário de interesse público secundário.
1 – Considerando que a AGU é incumbida da defesa do interesse público patrimonial secundário da União (REsp
1.074.750/RO).
2 – O interesse estatal de não realizar o pagamento de indenização à qual foi condenado constitui interesse público
secundário (REsp 1.046.519/AM).
3 – No julgamento do MS 11.308/DF, o tribunal detalha sua compreensão sobre interesse público secundário no seguinte
trecho: “O Estado, quando atestada a sua responsabilidade, revela-se tendente ao adimplemento da correspectiva
indenização, coloca-se na posição de atendimento ao ‘interesse público’. Ao revés, quando visa a evadir-se de sua
responsabilidade no afã de minimizar os seus prejuízos patrimoniais, persegue nítido interesse secundário,
subjetivamente pertinente ao aparelho estatal em subtrair-se de despesas, engendrando locupletamento à custa do dano
alheio”.
67
121
A diferença entre interesse público primário e
secundário foi difundida por Renato Alessi, sendo
adotada pela totalidade dos nossos autores. Renato
Alessi é um conhecidíssimo administrativista
italiano, sem dúvida, o mais influente autor
estrangeiro do século XX para os administrativistas
brasileiros. Sugestão de leitura: Sistema
istituzionale del diritto amministrativo italiano, em
italiano, Editora Giuffrè. Existe também uma
raríssima tradução para o espanhol. Sugestão de
leitura: Instituciones de derecho administrativo,
Bosch Casa Editorial.
66
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, Curso de direito administrativo, p. 7.
67
Arbitragem e administração pública: contribuição para o sepultamento do tema. Revista trimestral de direito público,
v. 54, Editora Malheiros, p. 200.
68
121
Só pode ser defendido quando coincidir com o
Deve sempre ser defendido pelo agente
primário
1) A função administrativa é exercida típica mas não exclusivamente pelo Poder Executivo
O constituinte utilizou duas qualificações para se referir à relação dos Poderes entre si: são
independentes e harmônicos. Se fossem somente independentes, teriam funções exclusivas
atribuídas a cada um. Se fossem só harmônicos, as três tarefas governamentais básicas
seriam atribuídas a cada um deles sem funções típicas. Porém, os Poderes serão
independentes e harmônicos.
69
121
Na CF/88 de 1988 existem mecanismos para preservar a independência dos Poderes e ao
mesmo tempo ferramentas para garantira harmonia.
A principal fonte de independência é atribuir a cada Poder uma função típica, exercida
predominantemente por um deles sem interferência externa.
Por outro lado, a garantia de harmonia é assegurada ao se permitir que cada Poder, além de
sua função típica, exerça também, em caráter excepcional, atividades próprias dos outros
dois.
Em síntese: as funções típicas são instrumento garantidor da independência, enquanto que
as funções atípicas constituem ferramenta para viabilizar a harmonia entre os Poderes.
Agora vamos entender melhor o que vem a ser função típica.
Função típica é a atividade principal de cada Poder.
A função típica do Poder Legislativo é criar a norma, inovando originária e primariamente
na ordem jurídica68. Qualquer ato jurídico, mesmo praticado por particulares, inova no
ordenamento, pois desencadeia o surgimento de direitos e obrigações predefinidos na
legislação. Porém, o ato jurídico privado enseja uma inovação derivada ou secundária na
ordem jurídica, pois os efeitos produzidos pelo ato já estavam latentes na ordem jurídica.
Porém, a inovação originária e primária, caracterizada pela criação inaugural de efeitos
jurídicos, é virtude exclusiva da lei.
Nesse sentido, somente o Legislativo exerce uma função primária, no sentido de que sua
função típica é a única que estabelece novas normas, ao passo que o Judiciário e o Executivo
aplicam a norma que o parlamento criou.
O caráter primário da função legislativa remonta à origem do Estado de Direito.
Historicamente os parlamentos surgiram como representantes do povo, enquanto o Poder
Executivo, herdeiro da função antes exercida pelos monarcas, representava diretamente os
interesses do Estado e da nobreza. O efeito principal da Revolução Francesa e dos
movimentos constitucionalistas foi a ampliação das competências do parlamento em relação
aos outros Poderes. Assim, atualmente, considera-se que as leis constituem manifestação da
vontade popular (art. 1º, parágrafo único, da CF), e a primariedade da função legislativa
reforça que Executivo e Judiciário são meros aplicadores da vontade do povo.
68
O conceito é de Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, desembargador do TJ/SP e professor da PUC/SP, era pai do
professor Celso Antônio Bandeira de Mello.
70
121
Independência: significa uma
Instrumento garantidor:
atuação sem interferências,
Art. 2º da Constituição Funções típicas.
sem submissão.
Federal: a relação entre
os poderes é classificada
por dois valores
fundamentais Harmonia: indica uma atuação Instrumento garantidor:
cooperativa, sem choques. Funções atípicas.
69
Cabe reforçar que o caráter “secundário” das funções administrativa e judicial diz respeito somente à necessidade da
existência de norma anteriormente criada. Secundário em termos lógicos e cronológicos. Obviamente, em termos de
importância dentro do sistema jurídico as três funções estatais básicas tem exatamente a mesma relevância.
71
121
por exemplo, a Administração é ao mesmo tempo “juíza” e “parte”. Por isso, não
existe imparcialidade na função administrativa
Importantíssimo destacar que cada função típica possui um núcleo decisório fundamental
onde reside o cerne de independência do Poder que a exerce em caráter predominante.
O núcleo fundamental da função típica do Legislativo é a decisão sobre criar ou revogar uma
lei. Exceto nos casos raros em que a Constituição determina, ninguém pode obrigar o
legislador a legislar. Não existe no Brasil um direito à emanação de normas a que corresponda
o dever legislativo de legislar. Essa exclusividade na tomada da decisão de legislar é que
garante a independência do Poder Legislativo. É o cerne de sua função típica.
De semelhante modo, o núcleo da função típica do Poder Judiciário é a autoridade da coisa
julgada. No Estado de Direito ninguém pode interferir na definitividade dos pronunciamentos
jurisdicionais, sob pena de esvaziamento da independência do Poder Judiciário. É nesse
sentido que deve ser entendida a norma do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal: “a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Vale dizer, nem o
72
121
legislador pode desrespeitar a autoridade da coisa julgada. É o cerne da função típica do
Judiciário garantia maior de sua independência.
No caso do Poder Executivo, o núcleo decisório fundamental da função administrativa é o
juízo de conveniência e oportunidade feito sempre que se tornar necessária a tomada de
decisão a respeito do melhor caminho para defesa do interesse público. Em outras palavras,
o núcleo decisório fundamental da função administrativa é o mérito dos atos
discricionários. Denomina-se mérito do ato discricionário é o juízo de conveniência e
oportunidade quanto à sua prática. Tomando como exemplo de ato discricionário o decreto
expropriatório (ato que inicia a desapropriação), é inadmissível que qualquer outra
autoridade interfira nas decisões sobre quando, como, para que e qual imóvel o Chefe do
Executivo vai desapropriar. Esse é o mérito do decreto expropriatório, cuja análise representa
o núcleo da independência que o Executivo tem em relação aos demais Poderes.
Poder Judiciário:
Núcleo essencial:
solucionar
Funções Típicas definitividade da
definitivamente conflitos
decisão.
de interesse.
Núcleo essencial:
Poder Executivo: aplicar
mérito do ato
de ofício a lei.
discricionário.
Lembre, porém, que os Poderes não são somente independentes, mas também harmônicos.
Por isso, além da função típica (garantia de independência), cada Poder exerce também, em
caráter excepcional, atividades próprias de outro Poder, denominadas funções atípicas
(garantia de harmonia).
73
121
Judiciário”. COMENTÁRIO: A afirmativa está correta. Os crimes de
responsabilidade, por exemplo, são julgados pelo Poder Legislativo
Vamos entender isso a partir de um exemplo. Pense no caso da medida provisória. Ao afirmar
que as medidas provisórias editadas pelo Presidente da República “têm força de lei”, o art.
62 da CF/88 destacou o caráter materialmente legislativo dessa espécie normativa. As
medidas provisórias inovam primária e originariamente o ordenamento jurídico, constituindo
função legislativa atribuída atipicamente ao Poder Executivo. Lembre que o Presidente da
República é o Chefe do Executivo federal.
74
121
A prova da DPU elaborada pelo Cespe considerou ERRADA a afirmação: “A função
administrativa é exclusiva do Poder Executivo, não sendo possível seu exercício
pelos outros poderes da República”. COMENTÁRIO: A afirmação está errada
porque o Legislativo e o Judiciário também exercem atipicamente a função
administrativa. Exemplos: concurso público, licitação, gestão de bens públicos
•“§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário da União, quando no desempenho de função administrativa”.
Querid@ alun@, tudo que nós vimos até aqui diz respeito à primeira característica da função
administrativa, lembra? A função administrativa é exercida típica, mas não exclusivamente
pelo Poder Executivo.
Vamos avançar para os demais elementos conceituais...
2) A função administrativa é exercida em caráter infralegal
A característica mais marcante da função administrativa é a sua absoluta submissão à lei. Por
força do princípio da legalidade, a atividade administrativa está subordinada aos ditames
legais. Como você deve lembrar, trata-se de uma importante garantia do Estado de Direito:
a Administração Pública só pode fazer o que o povo autoriza, por meio de leis promulgadas
75
121
por seus representantes eleitos. É o caráter subordinado ou infralegal da função
administrativa.
De acordo com a conhecida lição de Hans Kelsen, o ordenamento jurídico é similar a uma
pirâmide, pois as normas estão verticalmente dispostas em diferentes níveis hierárquicos.
Pirâmide Kelseniana:
Constituição
Leis
Atos Administrativos
76
121
Assim, os atos administrativos são hierarquicamente inferiores aos dispositivos legais. Por
isso, será inválido todo ato administrativo que violar norma legal. Em nosso Direito não
existe nenhum caso em que, havendo conflito entre a lei e o ato administrativo, o ato
prevaleça sobre a lei. É sempre a lei que prevalece, anulando o ato administrativo.
E, por fim, o último elemento conceitual da função administrativa.
3) A função administrativa é exercida mediante prerrogativas instrumentais
O exercício da função administrativa exige poderes especiais capazes de sujeitar a liberdade
dos particulares ao interesse público. Por isso, a lei atribui ao agente público prerrogativas
especiais cujo uso está vinculado à defesa do interesse coletivo.
É bom lembrar que, em Direito Administrativo, o termo “privilégio” pode ser usado
como sinônimo de prerrogativa, de poder, não tendo o sentido pejorativo de
vantagem indevida.
Os poderes legalmente atribuídos ao agente público não são personalíssimos, nem atribuídos
“intuitu personae”. Não se trata de poderes conferidos em favor da pessoa do agente, mas
em razão da função pública. Tais prerrogativas estão sempre atreladas ao cumprimento de
deveres. São instrumentos a serviço da função pública. É por isso que, estando o agente fora
da função, os poderes não são mais aplicáveis.
No Direito Administrativo não existem competências ou atribuições puramente potestativas,
ou seja, poderes que o agente exerce se e quando quiser. Todo poder é atrelado a um dever,
é vinculado ao cumprimento de uma obrigação legal. É por isso que Santi Romano fala em
poder-dever.
Porém, considerando que o dever tem primazia no Direito Público sobre o poder, Celso
Antônio Bandeira de Mello propõe uma inversão na ordem dos termos para enfatizar o
elemento de maior relevância. Celso Antônio propõe o uso do nome dever-poder70.
O mais importante, no entanto, é registrar que se o agente usar os poderes do cargo para
defesa de interesse alheio ao interesse público, o ato será nulo por desvio de finalidade,
desvio de poder ou tredestinação ilícita.
70
Curso de direito administrativo, p. 72.
77
121
“s”. Em vão. Na sua prova, escreva e fale “tredestinação” porque esse nome é o
mais comum. Mas etimologicamente a grafia usada pelas bancas está errada!
Car@ alun@, cabe agora um rápido comentário sobre a diferença entre função
administrativa e função de governo.
Governo, em sentido objetivo, é a atividade de condução dos altos interesses do Estado. É a
atividade diretiva do Estado. O ato de governo ou ato político difere do ato administrativo
por duas razões principais:
78
121
A função política ou de governo é desempenhada pelo Poder Executivo, mesmo Poder
encarregado do exercício típico da função administrativa. Então, as diferenças entre ato
administrativo e ato de governo estão no regime jurídico, não na competência para sua
prática.
Car@ alun@, seguem agora dez dicas fundamentais sobre a parte geral do Direito
Administrativo para você relembrar na véspera da sua prova:
1) Todo procedimento administrativo deve garantir contraditório e ampla defesa: em razão
do art. 5º, LV, da Constituição Federal, os princípios do contraditório e da ampla defesa são
aplicáveis a todos os tipos de procedimentos administrativos, tais como desapropriação,
licitação, concurso público e processo administrativo disciplinar. Em regra, o contraditório e
a ampla defesa são assegurados antes da tomada de decisão, porém, em caso de risco
iminente é possível a Administração adotar medidas acauteladoras decidindo primeiro para
abrir processo depois (art. 46 da Lei 9784/99);
2) Predominam no Direito Administrativo prazos de 5 anos: há uma tendência na legislação
brasileira à quinquenização dos prazos no Direito Administrativo e no Tributário.
Praticamente todos os prazos existentes nesses dois ramos têm duração de 5 anos.;
3) A Administração Pública age de ofício: devido ao caráter dinâmico de suas atuações, a
Administração Pública sempre pode atuar sem necessidade de provocação da parte
interessada;
4) A responsabilidade na prestação de serviços públicos é objetiva: na prestação de serviços
públicos a responsabilidade por danos causados ao usuário e a terceiros independe da prova
de culpa ou dolo, não importando quem seja o prestador;
5) Na delegação de serviços públicos a responsabilidade principal é do prestador, e o Estado
responde subsidiariamente: sempre que o Estado delega a terceiros a prestação de serviços
públicos, como ocorre nas hipóteses de concessão e permissão, a responsabilidade por
prejuízos decorrentes da atividade cabe diretamente ao prestador. Nesses casos, Estado
funciona como um garantidor da indenização, um responsável subsidiário, podendo ser
acionado no caso de o devedor principal não ter patrimônio suficiente para pagar a aa dívida;
79
121
6) A atividade da Administração Pública está sujeita a controle judicial: qualquer atuação
da Administração Pública pode sofrer controle no âmbito do Poder Judiciário. Entretanto,
não cabe ao juiz ingressar na análise da conveniência e oportunidade (mérito) das decisões
administrativas discricionárias, sob pena de violar a Tripartição de Poderes;
7) A Administração não precisa de autorização judicial para agir: as atividades da
Administração Pública, em especial no que diz respeito à anulação e revogação de seus
próprios atos, podem ser exercidas sem necessidade de ordem judicial;
8) Na dúvida, marque “lei ordinária”: a CF/88 definiu a lei ordinária como o instrumento
normativo padrão. O uso da lei complementar é excepcional (art. 47 da CF). Assim, em caso
de dúvida, deve-se marcar na prova a alternativa que afirma caber à lei ordinária a disciplina
de determinado tema;
9) Na dúvida, assinale “competência da União”: o federalismo brasileiro é desequilibrado
porque atribuiu à União uma quantidade maior de competências. Por isso, em caso de
dúvida, marque a competência da União!
10) Em provas de múltipla escolha, sempre marque a alternativa “diferente”
(heterogênea): se você não souber a resposta correta deve marcar a alternativa que faça
referência a um tema de natureza diferente daqueles tratados nas demais assertivas. Por
exemplo, se três alternativas mencionam modalidades licitatórias... (a) pregão... (b) convite...
(c) tomada de preços... e a alternativa restante faz referência a critério de julgamento... (d)
melhor técnica... quase com certeza a resposta correta é a letra “d”.
2.27 - JURISPRUDÊNCIA
No capítulo das Noções Gerais de Direito Administrativo são muito raras as manifestações de
tribunais com alguma relevância para a matéria. No máximo, iremos encontrar referências
no corpo das decisões a determinados pontos que estudamos neste módulo. Abaixo eu listei
alguns julgados seguidos de comentários.
Hoje, pode-se dizer que existem duas tendências opostas, revelando mais um
paradoxo do direito administrativo: a) de um lado, os neoliberais, sob inspiração
do direito estrangeiro, propugnam pela ampliação da discricionariedade: a idéia
de substituir a Administração burocrática pela Administração gerencial depende,
em grande parte, do reconhecimento de maior liberdade decisória aos dirigentes.
[...]; b) de outro lado, há a tendência também bastante forte dos chamados
"conservadores", calcada no direito positivo e na Constituição, que defende
maiores limites à discricionariedade administrativa, exatamente pelo fato de que
a sua atuação tem que ter fundamento na lei, mas também tem que observar os
limites impostos pelos princípios e valores adotados explícita ou implicitamente
pela Constituição. Hoje a discricionariedade é limitada por princípios como os da
80
121
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, interesse público, impessoalidade,
segurança jurídica, sem mencionar os valores inseridos nos artigos 1º a 4º da
Constituição [...]. Essa mesma dualidade de tendências verifica-se com relação à
chamada discricionariedade técnica: os da primeira corrente defendem a
impossibilidade de apreciação judicial, exatamente por envolver aspecto técnico
que compete à Administração Pública definir; os da segunda corrente defendem,
com razão, a possibilidade de apreciação judicial, já que não se trata de verdadeira
discricionariedade; se é técnica, pode levar a uma solução única com o auxílio de
peritos. Onde não existe possibilidade de opção para a Administração Pública
entre duas ou mais soluções válidas perante o direito não se pode falar em
discricionariedade. Em consequência, a apreciação judicial é sempre possível.
(Direito Administrativo. 27ª Ed., São Paulo: Atlas, 2014, pp. 30/31). (MS 23.042 -
DF (2016/0336082-7). REL. MINISTRA REGINA HELENA COSTA. J. 10/09/2018).
81
121
ausência de dolo. O gestor público, consciente e deliberadamente, buscou
favorecer fundação dirigida por seus familiares, com a doação de imóvel público
cuja destinação estava afetada à construção de quadra poliesportiva, nos termos
do respectivo registro. VII - O princípio da impessoalidade veda, à Administração
Pública e seus representantes, a concessão de tratamentos ofensivos à isonomia,
como perseguições, preconceitos, favorecimentos e privilégios. VIII - O princípio
da moralidade administrativa exige do administrador público conduta pautada na
boa-fé e na lealdade com os administrados. IX - Na situação examinada, verifica-
se a violação aos princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa,
porquanto o réu, ao tomar a iniciativa da doação de imóvel público para o
funcionamento de rádio gerida por seus familiares, feriu o dever de isonomia na
sua atuação, concedendo benefício patrimonial público por motivos particulares,
e não agiu com boa-fé e lealdade com os administrados ao desconsiderar a
afetação de interesse social que restringia a destinação do bem.
(...) (REsp 1693167/CE, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04/12/2018, DJe 12/12/2018)
82
121
174.274-SP, DJ 22/11/2004, e REsp 151.567-RJ, DJ 14/4/2003. REsp 520.553-RJ,
Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/11/2009.
COMENTÁRIO:O julgado acima faz referência ao artigo 6º, XI, da Lei nº 8.888/1993, que
afirma ser Administração Pública “a administração direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, abrangendo inclusive as entidades com personalidade
jurídica de direito privado sob controle do poder público e das fundações por ele instituídas
ou mantidas”. O conceito legal, estatuído para especificamente para a Lei de Licitações,
reflete a definição de Administração Pública (com iniciais maiúsculas), isto, é, o de conjunto
de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa.
4. Conceito de Fazenda Pública
83
121
pessoal. É preciso frisar que a prerrogativa de intimação pessoal é prevista nas leis que criam
e regulamentam as Advocacias Públicas federais (AGU e PGFN), e a ECT é representada
judicialmente por advogados contratados.
5. Administração Pública introversa e extroversa
COMENTÁRIO: Fica claro no julgado transcrito que a expressão “forma extroversa” diz
respeito à relação entre a Administração Pública e os particulares.
6. Tarefas precípuas da Administração Pública Moderna
84
121
COMENTÁRIO: Apesar de antigo, o acórdão proferido na ADI 1.717 traz exemplos de tarefas
precípuas da Administração Pública, caracterizando-as pela indelegabilidade a particulares.
No caso, o STF se viu diante de uma questão tormentosa: como classificar os conselhos de
fiscalização profissional (CREA, CRECI, CRM, COREN, etc.)? A ideia principal foi a de que não
poderiam ser consideradas entidades privadas justamente porque exerciam as tarefas de
fiscalizar (poder de polícia), tributar e punir filiados, que são atribuições estatais típicas e
indelegáveis. E dentre as opções de entidades de direito público, acabou prevalecendo o
enquadramento como espécie de autarquia – sui generis, todavia, pois os conselhos não
possuem vinculação à União.
No julgado acima, submetido ao regime de repercussão geral, o STJ deixa claro que o princípio
da supremacia do interesse público sobrepõe-se não só a normas-regra, mas também a
normas-princípio. Veja que, no caso, ele prevaleceu sobre o princípio da autonomia da
vontade, pois este, por ter conteúdo eminentemente privado, cede lugar àquele, o qual
resguarda o interesse de todos, o interesse público.
Na mesma temática:
85
121
EXECUÇÃO MOVIDA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (ART. 741, CPC). PLANILHAS
PRODUZIDAS PELA PGFN COM BASE EM DADOS DA SRF E APRESENTADAS EM
JUÍZO PARA DEMONSTRAR A AUSÊNCIA DE DEDUÇÃO DE QUANTIA RETIDA NA
FONTE E JÁ RESTITUÍDA POR CONTA DE DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. (...) 2.
Em sede de embargos à execução contra a Fazenda Pública cujo objeto é a
repetição de imposto de renda, não se pode tratar como documento particular
os demonstrativos de cálculo (planilhas) elaborados pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional - PGFN e adotados em suas petições com base em dados
obtidos junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil - SRF (órgão público que
detém todas as informações a respeito das declarações do imposto de renda dos
contribuintes) por se tratarem de verdadeiros atos administrativos enunciativos
que, por isso, gozam do atributo de presunção de legitimidade. 3. Desse modo,
os dados informados em tais planilhas constituem prova idônea, dotada de
presunção de veracidade e legitimidade, na forma do art. 333, I e 334, IV, do CPC,
havendo o contribuinte que demonstrar fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito da Fazenda Nacional, a fim de ilidir a presunção relativa, consoante o
art. 333, II, do CPC. (...) 5. Recurso especial parcialmente provido. Acórdão
submetido ao regime do art. 543-C, do CPC, e da Resolução STJ n. 8/2008. (REsp
1298407/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/05/2012, DJe 29/05/2012)
86
121
EMENTA DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA MUNICIPAL QUE VEDA QUE O MUNICÍPIO
CELEBRE CONTRATO COM AGENTES PÚBLICOS MUNICIPAIS E RESPECTIVOS
PARENTES, ATÉ O TERCEIRO GRAU. DISCUSSÃO ACERCA DA COMPETÊNCIA DO
MUNICÍPIO PARA CRIAR NORMAS RESTRITIVAS EM MATÉRIA DE CONTRATAÇÕES
PÚBLICAS. VEDAÇÃO AO NEPOTISMO NAS CONTRATAÇÕES PÚBLICAS. PRESENÇA
DE REPERCUSSÃO GERAL.
(RE 910552 RG, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 28/06/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-169 DIVULG 17-08-2018 PUBLIC 20-08-2018)
Em seu voto, a Ministra Cármen Lúcia afirmou que, se os princípios do artigo 37, caput, da CF
não precisam de lei para serem aplicados, não há razão para reconhecer vício de iniciativa
em norma editada com o objetivo de torná-los eficazes. Como o nepotismo é prática que
viola especialmente o princípio da moralidade, não haveria óbice, portanto, à edição de
norma sobre a matéria pelo Poder Legislativo, não detendo o chefe do Poder Executivo
competência exclusiva para propor o projeto de lei.
10. Função administrativa e função de governo
87
121
DECISÃO (...) 2. Inexistência de simetria entre a situação dos autos, envolvendo
Chefe do Executivo Municipal, Tribunal de Contas Estadual e Câmara de
Vereadores, com situações envolvendo Chefe do Executivo da União, Tribunal de
Contas da União e Congresso Nacional, ou Chefe do Executivo Estadual, Tribunal
de Contas Estadual e Assembleia Legislativa. É necessário estabelecer
distinguishing entre as funções de governo e de gestão rotineiramente exercidas
pelos Prefeitos Municipais, dicotomia inocorrente em relação ao Presidente da
República e Governador de Estado. É que os Prefeitos Municipais, a par da
função político-administrativa de chefia do governo local, também costumam
exercer atuações tipicamente administrativas, igualmente traduzidas nos atos de
empenhar, liquidar e pagar. Em outros termos, atuam como ordenadores de
despesas. (Apelação Cível 70054135223, Relatoria do Des. Armínio José Abreu
Lima da Rosa). (AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.167.605 - RS
(2017/0229299-0) RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES. PUBLICADO EM
04/12/2017)
88
121
parametrizada pela integralidade regulada, de modo que fora da regulação o
acesso à saúde deve ser tradado como direito de natureza assistencial; 3- Por força
de disposição legal (Lei 8.080/90, arts. 19-M e 19-O), a integralidade de acesso à
saúde sujeita-se aos critérios intransponíveis da medicina baseada em evidência -
MBE, considerada a eficácia, a acurácia, a segurança e a efetividade daquilo que
se pretende, ainda se observando os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
- PCDT, os quais somente podem ser desprezados quando relatórios específicos
indiquem a peculiaridade de cada caso; 4- O princípio da inafastabilidade da
jurisdição (CF, art. 5º, XXXV) não se limita ao acesso à justiça ou direito à ordem
jurídica justa, compreende também a garantia da duração razoável para a
satisfação da pretensão processual (CF, art. 5º, LXXVIII, CPC/15, art. 4º); 5- Em
observância ao art. 22, da LINDB, é necessário ponderar as dificuldades para o
cumprimento da decisão. (TJMG - Remessa Necessária-Cv 1.0471.16.003900-
7/001, Relator(a): Des.(a) Renato Dresch , 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
25/04/2019, publicação da súmula em 30/04/2019)
O tribunal mineiro já possui alguns precedentes sobre a aplicação das novas normas da LINDB
ao caso que envolvam direito à saúde e políticas públicas. Pelo disposto no referido artigo 22,
ao se interpretarem normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e
dificuldades do gestor e as exigências das políticas públicas, sem prejuízo dos direitos dos
administrados.
Nesse contexto, podem ocorrer o que alguns doutrinadores denominam “escolhas trágicas”.
As tragic choices envolvem a tomada de decisão - pelo administrador público, em sua atuação
como gestor, e pelo Poder Judiciário, ao dirimir uma demanda -, em que devem ser
ponderadas a necessidade e concretização dos direitos fundamentais e os recursos públicos
existentes. As escolhas trágicas, portanto, também estão relacionadas ao princípio da reserva
do possível.
2.28 - ESQUEMATIZANDO
89
121
realizar concreta, direta e que exercer e os bens de coletividades a que
imediatamente os fins que se utiliza para a devem servir.”
desejados pelo Estado.” consecução de seus fins,
de natureza pública.”
DIREITO ADMINISTRATIVO
Direito Administrativo é o ramo do direito público que O Direito Administrativo tem natureza de ramo do
estuda princípios e regras reguladores do exercício da direito público (que são todos aqueles voltados ao
função administrativa. estudo do regramento das atividades estatais).
ESTADO EM REDE
Superando a simples busca por resultados, o Estado em rede defende uma gestão aberta à cidadania,
transformando os indivíduos de destinatários das políticas públicas em “protagonistas na definição das
estratégias governamentais”. (iniciativa desenvolvida pelo Governo de MG)
• Ramo recente;
• Não codificado;
• Largamente jurisprudencial
90
121
• É influenciado secundariamente pelos precedentes administrativos e judiciais, sendo a lei a única fonte
primária. É bom lembrar que nunca vigorou no Brasil o modelo norte-americano da “common law” (ou
“stare decisis”), no qual as decisões judiciais criam precedentes com força vinculante para casos futuros
MEDIATO IMEDIATO
O Direito Administrativo é o direito comum dos ramos Historicamente, o Direito Administrativo surgiu a
do Direito Público material– como Tributário, partir de decisões do contencioso francês
Urbanístico, Ambiental, Econômico, Financeiro – na derrogatórias do direito comum (direito civil). Desse
medida em que estes nasceram tendo o Direito modo, o Direito Civil é o direito comum para o
Administrativo como ramo de origem. Administrativo.
91
121
PRESSUPOSTOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCEITOS
PODER ADMINISTRAÇÃO
ESTADO GOVERNO “administração pública”
EXECUTIVO PÚBLICA
É um povo Em sentido
situado em subjetivo, orgânico
determinado é o conjunto Administração pública
ou formal,
território e hierarquizado de (com iniciais
Administração
sujeito a um órgãos estatais, minúsculas) ou poder
Pública é o
governo. O verticalmente executivo (com
é a cúpula conjunto de órgãos
conceito de estruturados de minúscula) são
diretiva do e agentes estatais
Estado compõe- forma piramidal, expressões sinônimas
Estado no exercício da
se de três sob a direção de função
função
elementos: povo, superior do administrativa.
administrativa,
território e “Chefe do
independentement
governo. Executivo”
e do poder a que
pertençam.
92
121
b) intervenção no domínio
econômico (regulação);
c) intervenção no domínio social.
* essa tarefa não é consenso
entre os grandes
administrativistas.
O Direito Administrativo no Brasil está na fase da codificação parcial (um subestágio dentro da fase da
consolidação). *Essa é também a opinião de Hely Lopes Meirelles.
No Direito Administrativo somente a lei constitui fonte primária porque todas as demais fontes (secundárias)
estão a ela subordinadas. São fontes secundárias doutrina, jurisprudência e costumes.
Lei (em sentido estrito): fonte primária, formal heterônoma (extroversa) para o particular e autônoma
(introversa) para a Administração, interna, estatal, voluntária, imperativa para o particular, organizada e
própria.
Doutrina: fonte secundária, material, interna, não-estatal, involuntária, inorganizada e imprópria.
Costume: fonte secundária, material, interna, não-estatal, involuntária, inorganizada e imprópria.
Jurisprudência fonte secundária, material, interna, estatal, involuntária, inorganizada e imprópria.
*ATENÇÃO: Súmulas vinculantes são fonte secundária, formal extroversa (jurisprudência é material), interna,
estatal, voluntária (jurisprudência é involuntária), imperativa para a Administração, mas não para o particular
(jurisprudência não é imperativa), organizada (jurisprudência é inorganizada) e imprópria.
SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
93
121
COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR
EM REGRA a competência legislar sobre Direito Administrativo é CONCORRENTE entre a União, os Estados e
o Distrito Federal. Os Municípios, que não participam de competências concorrentes, também legislam sobre
Direito Administrativo, não com base na competência concorrente, mas a partir do interesse local.
Como regra geral, o Direito Administrativo é basicamente disciplinado por meio de lei ordinária, promulgada
pelo parlamento da entidade federativa competente para legislar sobre a matéria. Como consequência, no
âmbito federal, é possível a edição de medidas provisórias sobre praticamente todos os temas do Direito
Administrativo.
Regra geral no Direito Administrativo: a competência para iniciativa do projeto de lei é comum entre o
Legislativo e o Executivo.
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
A função administrativa é aquela exercida pelos agentes governamentais na defesa do interesse público
primário (interesse da coletividade).
94
121
5) Na delegação de serviços públicos a responsabilidade principal é do prestador, e o Estado responde
subsidiariamente. acionado no caso de o devedor principal não ter patrimônio suficiente para pagar a aa
dívida;
6) A atividade da Administração Pública está sujeita a controle judicial.
7) A Administração não precisa de autorização judicial para agir.
8) Na dúvida, marque “lei ordinária”.
9) Na dúvida, assinale “competência da União”.
10) Em provas de múltipla escolha, sempre marque a alternativa “diferente” (heterogênea).
95
121
O direito administrativo é formado por muitos conceitos, princípios, elementos, fontes e
poderes. As principais fontes formais do direito administrativo, segundo a doutrina
majoritária, são
a) os princípios gerais de direito, a jurisprudência, a lei e os atos normativos da administração.
b) os costumes, a lei e os atos normativos da administração.
c) a Constituição, a lei e os costumes.
d) a doutrina, a jurisprudência e a Constituição.
e) a Constituição, a lei e os atos normativos da administração pública.
96
121
O Estado, consoante o Direito Administrativo, possui três elementos originários e
indissociáveis:
a) povo, território e governo soberano.
b) povo, nação e governabilidade.
c) povo, território e governabilidade.
d) Governo soberano, independência e nação.
e) povo, soberania e governo independente.
97
121
O tribunal de justiça, ao requisitar a inclusão na lei orçamentária anual dos valores decididos
judicialmente a título de precatório, atividade de natureza
a) judicial, mas, ainda assim, se submete à fiscalização pelos tribunais de contas.
b) judicial decorrente de decisão judicial definitiva ou provisória.
c) administrativa, submetendo-se, assim, à fiscalização pelos tribunais de contas.
d) judicial, razão por que não se sujeita à fiscalização pelos tribunais de contas.
e) administrativa decorrente de decisão judicial provisória ou definitiva.
98
121
( ) Errado
99
121
c) Administração Pública
d) Poder Público
e) Governo
Questão 17. (DEPSEC - 2018 – UNIFAP)
Julgue os itens abaixo:
I. Administração pública, em sentido estrito, inclui órgãos e pessoas jurídicas que
exercem função meramente administrativa, de execução dos programas de
governo.
II. Governo, de acordo com a concepção clássica, é sinônimo de Estado, sendo
constituído pela somatória dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
III. Administração pública, em sentido material, é a atividade estatal consistente em
defender concretamente o interesse público.
a) Os itens I e II estão corretos.
b) Os itens I e III estão corretos.
c) Os itens II e III estão corretos.
d) Apenas o item II está correto.
e) Todos os itens estão corretos.
100
121
Questão 20. (FUNDATEC – 2018 – PC-RS)
Acerca da formação histórica do Direito Administrativo, analise as seguintes assertivas:
I. O Direito Administrativo tem origem na Idade Média, período histórico em que a
vontade do monarca passa a se subordinar à lei.
II. O direito francês se notabiliza com a principal influência na formação do Direito
Administrativo brasileiro, de onde importamos institutos importantes como o
conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos, da responsabilidade
civil do Estado e da submissão da Administração Pública ao princípio da legalidade.
III. Devido à organização do Estado brasileiro, composto por diferentes entes políticos
dotadas de competências legislativas próprias para disciplinar suas atividades
administrativas, a codificação do Direito Administrativo em âmbito nacional se
torna inviável.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
101
121
d) Diferentemente do sistema francês, que segrega a função jurisdicional e administrativa,
no Brasil considera-se o sistema inglês de tripartição dos poderes, com preponderância do
sistema administrativo sobre os demais poderes.
e) São poderes soberanos e independentes entre si a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios.
102
121
( ) Errado
103
121
2.30 - GABARITOS
ERRADO D E ERRADO E
A ERRADO D C C
C E E E D
B E ERRADO ERRADO A
QUESTÃO 26
104
121
( ) Certo
( ) Errado
GABARITO: ERRADO
No Direito Administrativo, somente a lei constitui fonte primária, de maneira que
as fontes secundárias estão a ela subordinadas. Consideram-se fontes secundárias
a jurisprudência, a doutrina e os costumes.
Os costumes são práticas reiteradas da autoridade administrativa capazes de
estabelecer padrões obrigatórios de comportamento. É nesse sentido que os
costumes constituem fonte secundária do Direito Administrativo, uma vez que não
têm força jurídica igual à da lei.
GABARITO: D
a) ERRADA. A tripartição de funções não é absoluta no âmbito do aparelho do
Estado, pois há interferência de um Poder sobre o outro, de acordo com a Teoria
dos Freios e Contrapesos.
b) ERRADA. Do ponto de vista subjetivo (orgânico ou formal), a Administração
Pública é o conjunto de agentes, órgãos e entidades públicas que exercem a
função administrativa.
c) ERRADA. Estado é um povo situado em determinado território e sujeito a um
governo; administração pública é a atividade consistente na defesa concreta do
interesse público (ela persegue os objetivos estatais, mas não os cria).
d) CORRETA. Governo é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução
dos altos interesses estatais e pelo poder político; administração é a atividade
consistente na defesa concreta do interesse público, tendo como uma de suas
características ser técnica (e não política).
105
121
e) ERRADA. Os elementos apontados como constitutivos do Estado são: povo,
território e governo soberano. Nesse sentido, Estado é caracterizado como um
povo situado em determinado território e sujeito a um governo. Uniformidade
linguística não é elemento conceitual do Estado.
GABARITO: E
As fontes do Direito Administrativo se dividem em dois tipos: primárias e
secundárias. As primárias são consideradas as principais fontes, quais sejam, a
Constituição, a lei e os atos normativos da Administração Pública (“lei” em sentido
amplo). Isso porque se considera “norma” qualquer veículo normativo que
expresse vontade popular: emendas constitucionais, Constituição Federal, atos
normativos, leis complementares e delegadas, dentre outras.
Fontes primárias: Também conhecidas como maiores ou diretas, são o
nascedouro principal e imediato das normas.
Fontes secundárias: Também conhecidas como menores ou indiretas, constituem
instrumentos acessórios para originar normas, derivados de fontes primárias.
GABARITO: ERRADO
O critério teleológico ou finalístico considera que o Direito Administrativo deve ser
conceituado a partir da ideia de atividades que permitem ao Estado alcançar seus
fins. Acrescenta-se que essa concepção é inconclusiva, tendo em vista a
dificuldade em definir quais são os fins do Estado.
106
121
Questão 05. (FCC – 2018- SEFAZ-SC)
As relações e negócios jurídicos celebrados pela Administração pública são regidos pelo
direito:
a) público, ainda que se tratem de instrumentos ou institutos oriundos do direito privado, em
razão da predominância do critério subjetivo para definição do regime jurídico aplicável.
b) privado, quando se tratar de atividade de intervenção no domínio econômico ou delegação
de serviços públicos à iniciativa privada, a fim de não caracterizar tratamento diferenciado
ou concorrência desleal.
c) público, tanto quanto pelo direito privado, pelo critério de prevalência dos interesses,
independentemente do objeto, incidindo o princípio da supremacia do interesse público.
d) privado, quando uma das partes for empresa estatal, e pelo direito público, quando se
tratar de autarquias e fundações públicas.
e) público no que se refere ao exercício de suas funções típicas e prestação de serviços
públicos, direta ou indiretamente, o que não se aplica à atividade-fim para sociedades de
economia mista exploradoras de atividade econômica, que atuam em regular competição no
mercado.
GABARITO: E
As relações e negócios jurídicos celebrados pela Administração Pública são regidos
pelo Direito Público. Isso porque o Direito Administrativo é ramo do Direito
Público, de maneira que seus princípios e normas regulam o exercício de
atividades estatais, especialmente a função administrativa. No caso das estatais
exploradoras de atividade econômica, sendo empresas de mercado, sua atividade
finalística é regida preponderantemente pelos Direito Civil e Empresarial.
Exemplos: Banco do Brasil e Petrobras. Porém, as empresas estatais estão
obrigadas a seguir algumas regras de Direito Público quanto a funções-meio, como
licitação, concurso público, fiscalização etc.
GABARITO: A
107
121
Povo é a dimensão pessoal do Estado, o conjunto de indivíduos unidos para
formação da vontade geral do Estado. ATENÇÃO! Não confundir povo com
população (conceito demográfico que significa contingente de pessoas que estão
no território do Estado em determinado momento).
Território é a base geográfica do Estado, sua dimensão espacial.
Governo é a cúpula diretiva do Estado. A soberania refere-se ao atributo estatal
de não conhecer entidade superior de ordem externa, nem igual na ordem interna
(Jean Bodin).
GABARITO: ERRADO
Administração Pública, em seu aspecto orgânico, é o conjunto de agentes, órgãos
e entidades públicas que exercem a função administrativa.
O conceito mencionado na questão acima é de administração pública em seu
aspecto objetivo. Confira-se a diferença entre eles:
Sentido Objetivo: Também conhecido como sentido material ou funcional, é a
atividade estatal consistente em defender concretamente o interesse público (o
mesmo que função administrativa).
Sentido Subjetivo: Também conhecido como orgânico ou formal, é o conjunto de
agentes, órgãos e entidades públicas que exercem a função administrativa.
108
121
integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens
de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública.
e) O direito administrativo visa à regulação das relações jurídicas entre servidores e entre
estes e os órgãos da administração, ao passo que o direito privado regula a relação entre os
órgãos e a sociedade.
GABARITO: D
a) ERRADA. O sistema francês, também conhecido como contencioso
administrativo, caracteriza-se pela repartição da função jurisdicional entre o Poder
Judiciário e tribunais administrativos.
b) ERRADA. Sistema de Jurisdição Una: Também conhecido como modelo
inglês, é o sistema de controle existente atualmente no Brasil, de modo que todas
as causas, mesmo aquelas que envolvem interesse da Administração Pública, são
julgadas pelo Poder Judiciário. Sistema do Contencioso Administrativo: Também
conhecido como modelo francês, caracteriza-se pela repartição da função
jurisdicional entre o Poder Judiciário e tribunais administrativos. Nunca existiu no
Brasil.
c) ERRADA. Os costumes constituem fonte secundária do direito administrativo.
d) CORRETA. Os costumes “secundum legem” e “praeter legem” são fontes
secundárias do Direito Administrativo. Costumes “contra legem” não são aceitos
em nosso ordenamento
e) ERRADA. O Direito Administrativo é ramo do Direito Público que estuda
princípios e regras reguladoras do exercício da função administrativa.
O direito privado trata do regramento jurídico dos particulares.
GABARITO: C
No caso em questão, o Poder Judiciário, por meio do Tribunal de Justiça,
desempenha função administrativa atipicamente, pois não se trata mais de
solucionar conflito de interesses (função jurisdicional) mas de ordenar despesas
públicas (função administrativa).
109
121
Considerando a origem, a natureza jurídica, o objeto e os diferentes critérios adotados para
a conceituação do direito administrativo, assinale a opção correta.
a) No direito administrativo adota-se o modelo francês de jurisdição como forma de controle
da administração.
b) O direito administrativo disciplina direitos consolidados e estáveis.
c) O objeto do direito administrativo é o estudo da função administrativa.
d) O direito administrativo é ramo recente do direito e a aplicabilidade da legislação a ele
pertinente restringe-se ao Poder Executivo.
e) As leis e normas do direito administrativo encontram-se consolidadas em código
específico.
GABARITO: C
a) ERRADA. O direito administrativo adota o modelo inglês de jurisdição como
forma de controle da administração, também conhecido como jurisdição una.
b) ERRADA.O direito administrativo não disciplina direitos consolidados e estáveis,
uma vez que não há códigos específicos e é possível utilizar os costumes como
fonte do direito administrativo.
c) CORRETA. O objeto do direito administrativo é o estudo dos princípios e normas
reguladoras do exercício da função administrativa.
d) ERRADA. O direito administrativo é um ramo recente, porém sua aplicabilidade
não se restringe ao Poder Executivo, sendo aplicado também pelos poderes
Legislativos e Judiciário quando exercem função administrativa.
e) ERRADA. O direito administrativo brasileiro não está codificado. As leis e normas
do direito administrativo não se encontram consolidadas em código específico,
mas constam de diplomas esparsos e diversas codificações parciais.
GABARITO: B
As tarefas precípuas da administração pública são: o exercício do poder de polícia,
a prestação de serviços públicos e a realização de atividades de fomento. Essa é a
visão tradicional do tema. Alguns autores incluem ainda a atividade interventiva
110
121
(tem menor importância, consiste nas intervenções do Estado na propriedade
privada, no domínio econômico e no domínio social).
Confira:
Exercício do Poder de Polícia: O poder de polícia consiste na limitação e no
condicionamento, pelo Estado, da liberdade e propriedade privadas em favor do
interesse público (atividade restritiva).
Prestação de Serviços Públicos: A prestação de serviços públicos consiste no
oferecimento de utilidades e comodidades fruíveis individualmente pelos
usuários. É sempre uma atividade ampliativa Ex.: transporte público.
Realização de Atividades de Fomento: Fomento é o incentivo, dado pela
Administração, a setores sociais específicos, estimulando o desenvolvimento da
ordem social e econômica. Ex.: repasse de recursos públicos a organizações não-
governamentais.
GABARITO: CERTO
A constitucionalização do Direito Administrativo é uma tendência recente a incluir
dentro da Constituição Federal assuntos da nossa disciplina. Pode ocorrer: a) pela
presença temas administrativos no texto original da Constituição, como o art. 37
da CF/88; b) inclusão por emenda constitucional; c) releitura de institutos
administrativos a partir de princípios constitucionais.
GABARITO: ERRADO
As normas jurídicas administrativas em sentido estrito são o mesmo que atos
administrativos normativos, como decretos, regulamentos, regimentos internos,
111
121
instruções normativas etc. Podem emanar tanto do Executivo (ex.: decreto),
quanto do Legislativo (ex.: resolução do Senado) ou do Judiciário (ex.: regimento
interno de tribunal). Serão sempre infralegais, manifestando o exercício da função
administrativa. Não incluem, portanto, as leis (manifestação da função legislativa).
GABARITO: CERTO
Podem ser considerados como fontes inorganizadas (indiretas, não escritas) os
costumes, que devem ser sempre subordinados à Constituição e às leis. Todavia,
a praxe administrativa não é considerada fonte do Direito Administrativo, mas
pode ser utilizada como um meio útil para solucionar casos novos, desde que não
contrarie alguma regra ou garantia formalmente estabelecida.
GABARITO: CERTO
O direito administrativo é o ramo do direito público que tem por objeto a
disciplinados órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública no campo jurídico não-contencioso.
112
121
d) Poder Público
e) Governo
GABARITO: C
a) administração pública (com letra minúscula) designa a atividade consistente na
defesa concreta do interesse público (o mesmo que função administrativa).
b) Poder Executivo é o complexo de órgãos estatais verticalmente estruturados
sob direção superior do Chefe do Executivo (Presidente da República, Governador
ou Prefeito, dependendo da esfera federativa analisada).
c) Administração Pública (com letra maiúscula) é o conjunto de órgãos e entidades
estatais no exercício da função administrativa.
d) Poder público é o complexo de órgãos e funções caracterizado pela coerção,
destinado a assegurar uma ordem jurídica, em certa organização política.É
sinônimo de Estado.
e) Governo é a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução dos altos
interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada
mediante eleições.
GABARITO: E
Administração Pública (em sentido material): Designa a atividade consistente na
defesa concreta do interesse público.
Administração Pública (em sentido estrito): É o conjunto de órgãos e agentes
estatais no exercício da função administrativa.
113
121
Governo: É a cúpula diretiva do Estado, responsável pela condução dos altos
interesses estatais e pelo poder político, e cuja composição pode ser modificada
mediante eleições.
GABARITO: E
A administração pública extroversa é o complexo de vínculos entre a
Administração e os particulares. As quatro primeiras alternativas descrevem
atuações estatais externas, exercidas em face de particulares (administração
extroversa). Somente a gestão de pessoal (lidar com agentes públicos) é uma
questão interna (introversa).
GABARITO: E
Apesar de mal formulada, a questão trata do conceito de Administração Pública.
A Administração Pública, sendo avaliada sob o aspecto formal ou subjetivo,
consiste nos sujeitos que integram sua estrutura (entidades e órgãos).
114
121
conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos, da responsabilidade
civil do Estado e da submissão da Administração Pública ao princípio da legalidade.
VI. Devido à organização do Estado brasileiro, composto por diferentes entes políticos
dotadas de competências legislativas próprias para disciplinar suas atividades
administrativas, a codificação do Direito Administrativo em âmbito nacional se
torna inviável.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
GABARITO: D
I. ERRADA. O direito administrativo surgiu na França logo após a Revolução
Francesa e não durante a Idade Média, período em que inexistiam regras jurídicas
colocadas acima da vontade dos monarcas.
II. CORRETA. A principal matriz de nosso Direito Administrativo é a França.
Lembrando que o Direito Administrativo Moderno surgiu a partir de decisões
sucessivas prolatadas pelo Conselho de Estado francês.
III. CORRETA. Um dos maiores obstáculos à codificação do Direito Administrativo
no Brasil é a nossa forma federativa de Estado. Sendo um ramo sujeito à
competência legislativa concorrente entre União, Estados e Distrito Federal
(Municípios também legislam a partir do interesse local), é até difícil pensar como
um código seria capaz de sistematizaro Direito Administrativo simultaneamente
em todas as esferas de governo. Por isso que, pode reparar, os ramos codificados
são sempre de disciplinas sujeitas a competência privativa da União para legislar
na matéria (Direito Civil, Direito Penal, Processo Penal, Processo Civil). O único
caso no Brasil de ramo codificado submetido a competência concorrente é o
Direito Tributário.
115
121
c) No Brasil, pela tripartição dos poderes, adota-se o pressuposto de que cada um dos
poderes é responsável pelo exercício de sua função típica, de maneira autônoma.
d) Diferentemente do sistema francês, que segrega a função jurisdicional e administrativa,
no Brasil considera-se o sistema inglês de tripartição dos poderes, com preponderância do
sistema administrativo sobre os demais poderes.
e) São poderes soberanos e independentes entre si a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios.
GABARITO: B
a) ERRADA. O Poder Judiciário possui o monopólio da função jurisdicional, mas não
possui competência para editar atos normativos primários (leis).
b) CORRETA. Os Poderes não são somente independentes, mas também
harmônicos entre si. Por isso, além de sua função típica (que garante
independência), cada Poder exerce também, em caráter excepcional, atividades
próprias de outro Poder, denominadas funções atípicas (garantidoras da
harmonia).
c) ERRADA. Como se sabe, o art. 2º da Constituição Federal enunciou o princípio
da Tripartição de Poderes nos seguintes termos: “São Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
d) ERRADA. Não há preponderância do sistema administrativo sobre os demais
poderes. É no sistema francês que as decisões proferidas pelos tribunais
administrativos não podem ser submetidas à apreciação pelo Poder Judiciário.
Bastante diferente do que ocorre com os tribunais administrativos brasileiros, por
exemplo, o Conselho de Contribuintes (segunda instância administrativa do Fisco).
No Brasil, as decisões dos tribunais administrativos sempre estão sujeitas a
controle judicial.
e) ERRADA. A forma federativa de Estado, adotada pela Constituição de 1988,
associada à estrutura descentralizada de nossa Administração Pública, caracteriza-
se pela coexistência de múltiplas personalidades jurídicas estatais. Nos termos do
art. 1º da CF/88: A República Federativa do Brasil tem como um de seus
fundamentos a soberania e é formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em Estado Democrático de
Direito. Ou seja, não há que se falar em soberania dos Estados, Distrito Federal e
Municípios.
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b) Governo pode ser definido como a instituição cuja atividade é voltada à tomada de
decisões discricionárias.
c) Administração pode ser definida como a instituição voltada à tomada de decisões
vinculadas.
d) No Brasil, ao contrário de outros países, o Poder Judiciário também compõe o Governo do
ponto de vista constitucional, exercendo tais prerrogativas como sua função típica.
e) A Administração Pública brasileira é composta de entes políticos e entes administrativos,
que, por sua vez, são compostos por órgãos públicos.
GABARITO: E
a) ERRADA. É a administração pública em sentido objetivo, material ou funcional,
mais adequadamente de defender concretamente o interesse público e distingue-
se do conceito de Governo, enquanto poder executivo.
b) ERRADA. Atualmente, pode-se dizer que Governo é a cúpula diretiva do Estado,
responsável pela condução dos altos interesses estatais e pelo poder político.
Logo, apesar de possuir margem para tomar decisões discricionárias, certo é que
está submetido ao princípio da legalidade e possui inúmeras decisões de caráter
vinculado a serem tomadas no exercício de suas funções.
c) ERRADA. Nem sempre as decisões serão vinculadas, há que se considerar a
hipótese de discricionariedade, em que o legislador atribui certa competência à
Administração Pública, reservando uma margem de liberdade para que o agente
público, diante da situação concreta, possa selecionar entre as opções
predefinidas qual a mais apropriada para defender o interesse público.
d) ERRADA. Conforme estabelece o art. 2º da Constituição Federal ao enunciar o
princípio da Tripartição de Poderes: “são Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Governo, por sua vez,
é a cúpula diretiva do Estado que não abrange o Poder Judiciário.
e) CORRETA. O termo “Administração Pública” designa o conjunto de órgãos e
entidades estatais no exercício da função administrativa, independentemente do
Poder a que pertençam. Na Administração Direta as entidades são políticas porque
exercem simultaneamente as três funções estatais. Na Administração Indireta,
temos pessoas exclusivamente administrativas, pois não exercem legislação nem
jurisdição.
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GABARITO: ERRADO
A assertiva traz o conceito de Administração Pública em sentido subjetivo,
(também denominado orgânico ou formal). Em sentido objetivo, (também
denominado material ou funcional), a expressão “Administração Pública” significa
a atividade estatal consistente em defender concretamente o interesse público.
Ainda neste sentido, pode-se distinguir a administração pública em sentido amplo
(lato sensu), que compreende tanto a função administrativa quanto a função
política (ou de governo), da administração pública em sentido estrito (stricto
sensu), abrangendo exclusivamente o desempenho da função administrativa
propriamente dita.
GABARITO: ERRADO
Como regra, não cabe ao Judiciário ingressar na análise do mérito dos atos
discricionários. Porém, se a decisão discricionária violar princípios administrativos
nada impede seu controle judicial. Como a questão trata da aplicação concreta de
um princípio não se trata de mérito, mas da compatibilidade ou não da decisão ao
conteúdo principiológico do sistema. Nada impede, assim, que o Judiciário avalie
a correção da aplicação concreta da moralidade.
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e) toda ação administrativa tem que ser de bom atendimento.
GABARITO: A
O princípio da legalidade no Direito Administrativo impede que a Administração
Pública pratique qualquer conduta sem previsão legal. Ao contrário do direito
privado, em que o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe,os agentes
públicos (Direito Administrativo) só podem fazer o que a lei autoriza. É, portanto,
o mesmo que dizer “a Administração Pública só pode ser exercida em
conformidade com a lei”.
GABARITO: D
Durante a Idade Média não havia sentido falar em um Direito Administrativo, pois
o referido período se caracteriza exatamente pelo absolutismo estatal em que
inexistiam regras jurídicas colocadas acima da vontade dos monarcas. Foi somente
após a Revolução Francesa (1789) que o fortalecimento dos Parlamentos criou
condições para estabelecerem-se regras limitadoras da atuação da administração
pública, de modo que o surgimento do Direito Administrativo, entendido como o
complexo de regras disciplinadoras da atividade administrativa, somente foi
possível devido a dois pressupostos fundamentais: 1) a subordinação do Estado às
regras jurídicas (sendo esta característica surgida com o advento do Estado de
Direito); e 2) a existência de divisão de tarefas entre os órgãos estatais. Está
correto falar que tal evolução foi estimulada por autores contratualistas, como
Hobbes e Rosseau, cujas construções teóricas afirmavam a existência hipotética
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de um “contrato social” em que os indivíduos transferiam ao Estado parcela de
sua liberdade como condição para viabilizar a vida em sociedade.
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