Monografia Edna
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Faculdade de Letras
Departamento de Línguas e Literaturas Africanas
(Opção: Literatura)
por
(Opção: Literatura)
por
Edna MENEZES
I
AGRADECIMENTOS
MUITO OBRIGADA!
II
ÍNDICE
DEDICATÓRIA..........................................................................................................................I
AGRADECIMENTOS...............................................................................................................II
ÍNDICE......................................................................................................................................III
RESUMO....................................................................................................................................V
ABSTRACT...............................................................................................................................VI
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
0.1. Formulação do problema...........................................................................................1
0.2. Hipótese.......................................................................................................................1
0.3. Objectivos.........................................................................................................................2
0.3.1. Objectivo geral..........................................................................................................2
0.3.2. Objectivos específicos...............................................................................................2
0.4. Relevância do Estudo..................................................................................................2
0.5. Metodologia..................................................................................................................2
0.6. Divisão do trabalho.................................................................................................3
0.7. Estudos Anteriores.................................................................................................3
CAPÍTULO I – A MÚSICA POPULAR ANGOLANA NA DÉCADA DE 60 E 70..............5
1.1. A Música Urbana Angolana no Período Colonial....................................................5
1.1.1. Os autores angolanos no tempo colonial...............................................................6
1.1.2. O Contexto em que Emerge a Música Popular Angolana...................................8
1.2 A Temática da Música Angolana no Período Colonial..................................................9
1.3. A Dimensão Sociocultural da Música Angolana no Período Colonial..................11
1.4. A dimensão Política das Canções de David Zé e Artur Nunes..............................13
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................15
2.1. Literatura.......................................................................................................................15
2.2. Aspectos Preliminares Sobre a Música........................................................................17
2.3. Questões Inerentes ao Processo de Libertação Nacional............................................21
CAPÍTULO III – ANÁLISE TEMÁTICO E ESTRUTURAL DA MÚSICA ANGOLANA
NO PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NACIONAL...............................................................24
3.1. Aspectos Preliminares sobre o Percurso Artístico de David Zé............................24
3.2. Análise Temática das Músicas de Libertação Nacional.........................................27
3.2.1. Sofrimento.........................................................................................................28
3.2.2. Liberdade..........................................................................................................29
III
3.2.3. União..................................................................................................................30
3.2.4. Choro.................................................................................................................30
3.2.5. Soldado....................................................................................................................31
3.3. Estrutura Métrica.....................................................................................................32
3.3.1. Ngongo Mwa Ngola..........................................................................................32
3.3.2. Mamã Kudile....................................................................................................33
3.3.3. 1º de Agosto.......................................................................................................34
3.3.4. Tambi ya Ana N´gola........................................................................................36
3.3.5. Guerrilheiro......................................................................................................37
3.4. Estrutura Rimática...................................................................................................39
3.4.1. Rimas Quanto a Riqueza..................................................................................39
3.4.2. Rimas Quanto a Disposição.............................................................................40
CONCLUSÃO..........................................................................................................................41
SUGESTÕES............................................................................................................................42
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................43
ANEXOS.................................................................................................................................- 1 -
Músicas Analisadas................................................................................................................- 2 -
1. Mamã Kudile..............................................................................................................- 2 -
2. Tambi ya ana Ngola...................................................................................................- 2 -
3- 1º de Agosto....................................................................................................................- 4 -
4 – Guerrilheiro..................................................................................................................- 6 -
5- Ngongo Mwa Ngola Kimbundu....................................................................................- 8 -
IV
RESUMO
V
ABSTRACT
The present study is entitled Thematic and structural analysis of Angolan Music
in the process of National Liberation: the case of David Zé songs, it aims to contribute
to a greater knowledge and dissemination of the historicity of Angolan music. It also
intends to analyze and explain the thematic and structural devices evidenced in the
songs that were used in the national liberation process, essentially the songs of the
singer David Zé. For the collection of data, we used the bibliographic research, which
consisted of collecting useful information for the accomplishment of this work.
Regarding the systematization of the study data, the analytical method was used,
constituting the description of the main aspects related to the thematic and structural
properties in the music of David Zé.
VI
INTRODUÇÃO
0.2. Hipótese
Sabe-se que a hipótese pode ser uma provável resposta, que de maneira hipotética e
provisória responde ao problema levantado no problema de uma pesquisa. Nessa
conformidade formulamos a seguinte hipótese:
- As músicas de David Zé e de tantos outros cantores da época colonial
constituíram num elemento de tomada de consciência para a luta de libertação nacional.
1
0.3. Objectivos
Toda pesquisa deve ter alvos a alcançar, com a de traçar caminhos, em que o
pesquisador deve trilhar para o alcance das metas estabelecidas. Para este trabalho,
traçamos os seguintes objectivos:
0.5. Metodologia
2
2. Transcrição de dados: que consistiu na transcrição e tradução das músicas de
David Zé em análise.
3. Método analítico: que consistiu na análise temática e estrutural das músicas
seleccionadas.
0.5. Limitação e delimitação do estudo
Para evitar imprecisões, procuramos fazer uma análise temática e estrutural nos
discursos musicais no processo de libertação nacional, mas concretamente nas músicas
cantadas por David Zé.
O presente trabalho está constituído por três (3) capítulos. O primeiro capítulo
faz uma abordagem histórica da música angolana no processo de libertação nacional,
desde os seus autores, contextos em que as músicas eram enunciadas até as suas
temáticas. O segundo capítulo debruça-se sobre os aspectos teóricos em torno das
palavras-chaves que norteiam o nosso trabalho. O terceiro e último capítulo apresenta a
análise temática e estrutural do corpus do trabalho.
3
Na sua pesquisa, LOMBAS utilizou o método analítico para descrever de forma
detalhada os aspectos estilísticos-temáticos veiculados nas poéticas musicais de MCK.
Apesar do seu tema estar totalmente ligado às questões estilísticas e temáticas,
LOMBAS, procurou fazer o dialogismo entre a literatura e a música, ou seja, fez uma
relação entre as duas formas de arte (literatura e música) o que é cantado com aquilo
que é escrito. Este trabalho foi bastante importante para nós, porque nos ajudou a ter
uma visão de como se faz uma análise temática, bem como estrutural.
4
CAPÍTULO I – A MÚSICA POPULAR ANGOLANA NA DÉCADA DE 60 E 70
Podemos assim, entender que naquela época o espírito de todo angolano estava
voltado para a luta, ou seja, para o alcance da tão almejada independência, na qual as
artes literárias e musicais serviram de barómetro orientador e motivador para o alcance
desse objectivo.
5
iniciam as revoltas contra a libertação nacional, ou a luta de libertação nacional, datada
de 4 de Fevereiro de 1961, mas antes desta data, já tinham sido travadas algumas
revoltas dos povos indígenas contra o domínio português.
No campo das artes musicais naquela era, Weza (2007:61) explica “a década de
60 foi o período dos grandes êxitos da música mundial. Foi época de grande criatividade
do século XX”.
Nesta linha de pensamento, queremos salientar que naquela altura a música
angolana estava sendo influenciada por vários estilos europeus e americanos, fruto da
tendência musical da época. Outrossim, a década de 60 é tida como período de
referência da música popular urbana angolana, pois naquela altura ela atingiu
igualmente o seu apogeu, como explica Weza (2007:62):
Deste modo, a música popular angolana teve a sua génese nas décadas de 40 a
60, com o agrupamento musical Ngola Ritmos e ganhou repercussão com o surgimento
7
e a afirmação de outros grupos. Podemos ainda afirmar que Liceu Vieira Dias foi uma
das figuras emblemáticas da música angolana.
8
tornando-se uma reserva de mão-de-obra”. Nesta conformidade Rocha (2002) no seu
artigo sobre a música angolana afirma;
Segundo o que se afirma acima, podemos dizer que a música urbana angolana
surgiu nos séculos XVIII e XIX, sendo entoadas em manifestações culturais como nos
carnavais ou ainda em cerimónias tradicionais como nos alembamentos, em rituais de
circuncisão. Para Fortunato (1997):
9
Mateus (1961) no seu artigo sobre o semba angolano pré-independência, relações entre
música e política, “a resistência ao colonialismo pela via cultural deixava de ser
manifestada no carnaval e assumia de vez sua face combativa na figura dos músicos e
cantores de semba”. Nessa luta, os músicos assumiram a responsabilidade de incentivar
e despertar o povo das crueldades portuguesas por meio das suas letras musicais.
10
As mensagens que as músicas traziam tinham um impacto imediato dentro das
comunidades, a título de exemplo acrescenta Weza (2011:51), a música Mbirimbiri dos
Ngola Ritmos, cuja temática gira em torno de um desabafo aos colonos, como diz o
trecho: “kisangela ngetu ni mazundu, Woso wadimuka udya ngô lumoxi” que
literalmente traduzido em português significa não queremos convivências com os sapos,
fazendo referência aos colonialistas portugueses.
A música é e sempre será relevante na vida do homem, não só pelo facto de ser
um agente activo no processo de transmissão e retenção de saberes e de comunicação
em geral, mas também pelo carácter lúdico que ela traz na vida dos cidadãos. No caso
particular de Angola a música teve êxito na luta de libertação nacional, e através dela
atraiu de forma fervorosa os jovens artistas dos vários bairros de Luanda, para que se
juntassem aos movimentos revolucionários e assim alcançou-se a independência.
11
Segundo Fortunato (1997) o “processo de criação artística, que marcou a
geração da independência, e a música acabou por constituir o veículo que elevou, de
forma mobilizadora, os nobres ideais de progresso e de emancipação política”.
Tomando de base o mesmo teórico, ao fazer uma incursão da música no passado relata
“a música popular de Angola, que se actualiza no espaço urbano, foi contaminada e
absorveu, ao longo do seu processo de formação, as técnicas de execução dos
instrumentos musicais ocidentais. Na mesma linhagem de pensamento Silva citado por
Alves (2016:1) afirma “a cultura musical luandense é fruto de vários encontros e que
diversos grupos populacionais chegaram a Luanda provenientes de várias regiões de
Angola”
Apesar dos autores concordarem que a música urbana angolana ao longo do seu
processo de formação, sofreu alterações dado o encontro de várias culturas em Luanda,
desde os anos 40, os tocadores de instrumentos musicais tradicionais, começaram a usar
instrumentos ocidentais que foram de um modo substituindo os instrumentos da tradição
oral angolana, tal como afirma Rocha (2002):
12
“Os músicos, cantores e cantoras, muitos deles oradores dos
musseques (favelas) de Luanda, tiveram tanta ou mais
importância na conquista da independência do que os soldados,
armados, que lutaram nos mayombes florestas) do interior do
país, ou os intelectuais que, vivendo no exterior, projetaram as
Frentes (FNLA), Movimentos (MPLA) e Uniões (UNITA) pela
libertação de Angola”.
Partindo deste ponto de vista, podemos afirmar que a música teve uma dimensão
sociocultural de tamanha importância. Ela para além de entreter tinha um caracter
interventivo político e social dentro das comunidades (musseques) e servia de suporte
transmissor de mensagens e encorajamento a luta contra o regime fascista português. É
através da música que muitos angolanos despertaram e se uniram aos demais
revolucionários para iniciarem os primeiros ataques na cidade de Luanda. A música
tinha na altura, mais aceitação do que qualquer outro comício político. Daí a sua
pertinência e relevância sociocultural na vida do homem.
Apesar do baixo nível escolar que detinha, David Zé foi um compositor e músico
que estava virado para a liberdade da pátria que se encontrava nas mãos do colono e
13
fruto disso é o seu vasto e rico repertório recheado de música de cariz revolucionário.
Tal como confirma Fortunato (2013), “embora não tenha atingido um elevado grau de
escolaridade, David Zé revelou, de igual modo, ser um artista preocupado com as
grandes questões sociais da sua época, sobretudo na fase final da sua carreira, facto que
se depreende pela análise do conteúdo das suas canções de pendor político”.
14
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Literatura
1
Fonte Electrónica, Wickipedia Universo
15
polivalentes, ou metáforas”. Na mesma linhagem de pensamento está Coutinho (1978:9-
10), quando afirma:
16
Outrossim, a literatura pode ser percebida em duas perspectivas diferentes. Ou
seja, em lato sensu ou forma generalizada, isto é a partir da sua etimologia, ou em
stricto sensu, ou forma restrita que abrange os produtos que advém da escrita, como
elucida Souza (2007:48):
17
muito tempo, e provavelmente sempre acompanhou a vida do
homem desde a Pré – História”.
Nessa conformidade podemos afirmar que existe uma relação intrínseca entre a
música e a cultura, ou melhor, a música está fundida na cultura, uma vez que ela faz
parte do mosaico cultural de um povo e cada um é detentor de uma identidade musical.
Toda e qualquer forma de arte transmite o belo que nela há, independentemente
do canal e/ou suporte em que ela se expressa. A arte pode ser expressa de forma visual,
sonora e combinada. Em conformidade com Med (1996), “a arte, como dizem os
antigos, é a revelação do belo. Conforme os meios de expressão, podemos dividir as
artes em:
18
ordem, equilíbrio e proporção dentro do tempo.” Segundo o mesmo autor, a música
deve ser constituída pela melodia, harmonia, contraponto e ritmo.
Assim sendo, para que a música seja perceptível e audível nos ouvidos de quem
vier a ouvi-la é importante que os elementos que a constituem sejam bem ajustados e
não alterando de sonoridade durante o percurso em que ela será ouvida, ou seja, a
música não pode ser tão longa, nem curta mas deve estar dentro de um tempo
equilibrado.
A música até chegar aos ouvidos de quem a vier a consumir ou melhor, para a
sua concretização como tal, é necessário a existência de múltiplos elementos, desde os
compositores, produtores aos intérpretes. Os elementos aqui referenciados, além de
possuírem um dom ou talento, eles devem possuir e aperfeiçoar as técnicas musicais
para que dia apôs dia possam fazer e trazer boas músicas às sociedades em que estão
inseridos. Este pensamento dialoga, com as palavras de Med (1990:4), quando afirma:
No que diz respeito a ciência musical, Correia et all (1983) realçam, “a ciência
musical centra-se na sua matéria específica, que é o som e a escrita. Realizado sob signo
do espírito, nasce de uma inspiração e materializa-se na exteriorização”.
20
2.3. Questões Inerentes ao Processo de Libertação Nacional
21
Já a revolta do 4 de Fevereiro de 1961, teve como acção o ataque a cadeia de São
Paulo, o quartel da companhia móvel da PIDE 2 e a casa de reclusão militar de Luanda.
O ataque praticado por operários unidos de catanas e outros objectos tinha como
intenção o impedimento de possível transferência e a libertação dos seus compatriotas e
nacionalistas que se encontravam presos.
As revoltas não ficaram por aqui, no mesmo ano seguiu-se a revolta popular de
15 Março na região produtora de café no norte de Angola (Uíge). Onde as populações
atacaram as fazendas de café, centros comerciais portugueses. O colono respondeu com
acções desumanas e selváticas. Deste confronto, entre angolanos e portugueses, houve
mortes de ambos lados e do lado angolano verificou-se a emigração de muitos filhos da
pátria para a vizinha República do Congo.
A luta armada angolana pela independência de Angola foi levada acabo por três
movimentos de libertação nacional (FNLA3; MPLA e a UNITA), a luta de libertação de
Angola terminou em 25 de Abril de 1974 pós a queda do regime fascista que imperava
em Portugal.
2
Policia Internacional de Defesa do Estado.
3
Frente Nacional para a Independência de Angola, resultante da junção entre a UPA e a PDA em 1962,
teve como seu primeiro presidente Álvaro Hordén Roberto.
4
Movimento Popular de Libertação de Angola, fundada a 10 de Dezembro de 1956 e teve como primeiro
presidente Mário Pinto de Andrade.
22
Na busca pela construção do país e da nação precisamente para ultrapassar essas
divisões, os três líderes dos movimentos nacionais reuniram-se e assinaram junto das
autoridades portuguesas o acordo de mombassa6 que aconteceu na República do Kenya,
tal como esclarece Pereira (2017:19):
5
União Nacional para Independência Total de Angola, fundada a 13 de Março de 1966 por Jonas
Malheiro Savimbi.
6
Cimeira realizada na República do Kenya de 3 a 6 de janeiro de 1975, teve como mediador Jomo
Kenyata. A ideia era procurar uma plataforma comum de entendimento entre os três movimentos de
libertação nacional que os levasse para o acordo de Alvor.
23
seleccionadas de David Zé. Nele, trazemos ainda os aspectos preliminares sobre o
percurso artístico do músico em estudo.
Durante o seu percurso artístico David Zé, contou com o apoio incondicional da
sua esposa Angélica, esta que infelizmente viera a morrer anos depois. De maneira a
reconhecer os benfeitores e acima de tudo imortalizar o nome da sua esposa, David Zé,
homenageia de forma póstuma a sua amada esposa com uma bela canção de amor,
canção esta que tem como título o nome da homenageada. Com uma carreira musical
brilhante, David Zé não quis viver só, daí então, que decide casar-se em 1972 com
Maria da Piedade, com a qual tive dois filhos mas infelizmente o casamento durou
pouco tempo. Divorciado e a cumprir missões militares em São Tome e Príncipe,
Davide Zé volta a casar-se em 1976, desta vez a privilegiada foi Maria da Trindade,
com quem viveu até a data da sua morte a 27 de Maio de 1977, tal como confirma
Pereira (2017:23):
24
(Forças Armadas Populares de Libertação de Angola). Onde
exerceu a função de diretor musical do agrupamento Aliança
FAPLA-POVO. David Zé morreu, com apenas 33 anos, na
sequência das trágicas ocorrências do dia 27 de Maio de 1977,
deixando quatro órfãos, Miguel Gabriel Ferreira (Michel),
Maria Carolina David Ferreira (Calita), Deolinda David Gabriel
Ferreira e David Gabriel José Ferreira (Chuva) ”.
Todo o artista da era colonial bem como os desta era, procuram trazer as suas
vivências nas suas artes e David Zé não foi excepção. Assim sendo, David Zé abordou,
nas suas canções, factos e ocorrências vividas, transportando para a música, de forma
directa, os problemas sociopolíticos da sua era. Na música “ Guerrilheiro”, o autor
aborda as questões com que os soldados se debatem na mata, valendo os seus sacrifícios
de um homem livre ao defender de todas as formas e maneiras as fronteiras de Angola.
25
É no auge da sua carreira que um músico aproveita afirmar-se no mercado e
lançar vários álbuns musicais mas naquela era, por causa do regime colonial que o país
se encontrava, era difícil a um artista lançar obras discográficas, uma vez que as
músicas eram mais de cariz político, pois elas tendiam para despertar o povo das
atrocidades portuguesas. Para melhor compreender a produção discográfica de David Zé
é preciso dividi-la em dois grandes períodos, como ilustra Pereira (2017:24)
“É possível desdobrar a produção discográfica de David Zé, em
dois períodos distintos: de 1967 a 1974, a primeira fase da
carreira do compositor, David Zé grava, com os Águias Reais,
os singles "Candinha", "Fuma", "Jingondo", "Kuala Kituxe",
"Namorada do conjunto", "Maria rasgadora", "Merengue Santo
António", "Rumba zá tukine", "Malalanza", "Kalumba yó",
"Uma amiga", "Toloya vizinho", e "Monami Vunge". Ainda no
mesmo período grava, desta vez com o conjunto "Jovens do
Prenda", as canções: "Kadika Zeca", "Rosita", uma canção que
lembra a influência rock dos anos sessenta, "Sofredora",
"Kalunga nguma", "Lamento de Angélica", "Dilangue", e
Lamento de Paiva”.
26
3.2. Análise Temática das Músicas de Libertação Nacional
Tomando de base o exposto acima, queremos realçar que os músicos usam como
elemento de partida para passarem as suas mensagens, os seus poemas musicais que
trazem consigo temas que possibilitam o diálogo e/ou comunicação entre os artistas e os
ouvintes.
3.2.1. Sofrimento
27
ou seja, o mesmo é caracterizado pela sensação de dor, mal-estar e infelicidade numa
pessoa.
O tema em questão foi extraído da música Ngongo Mwa Ngola, na qual o artista
faz menção aos variados problemas que os angolanos viveram na era colonial, com
realce para o processo de escravatura. De tanta angústia, dor e acima de tudo cansados
com as chicotadas físicas e psicológicas que sofriam por parte do colono, os angolanos
tiveram que se unir e criar estratégias que os levassem a lutar pela retirada do inimigo
(colono) das suas terras, bem como a libertação dos seus irmãos que se encontravam
presos ou a trabalhar na condição de escravos em fazendas e em casas dos colonos.
Phala o kukaya o ifumbe zi mwa Ngola Para corremos com os bandidos em Angola
3.2.2. Liberdade
É o direito de agir de acordo com o livre arbítrio, com a própria vontade, desde
que não prejudique ou coloque em risco a integridade de outra pessoa. Ou seja, é a
sensação de estar livre e não depender de outrem.
28
Ana a fwila mu ita Os filhos morreram na guerra
3.2.3. União
29
Ambundo, mi milatu os negros e os mulatos
Kate we mi mundele até também os brancos
Ya mu kanza o kafé we vão colher os cafés
Ya mu butula ó miunge vão cortar as canas
Mu bangela omvunda defendem a luta
Omvunda ya Namibia a luta da Namíbia
Mu bangela omvunda defendem a luta
Omvunda ya Zimbabwe a luta do Zimbabwe
Mu bangela omvunda defendem a luta
Omvunda um África a luta em África
3.2.4. Choro
30
O tema analisado foi retirado da música Tambi ya ana N`gola. Faz menção às
mortes dos filhos de Angola que deram as suas vidas em prol da libertação do país que
se encontrava nas mãos do opressor (colono). Outrossim, o tema realça ainda a coragem
e a determinação de David Zé, ao incentivar os demais angolanos a residir em Angola e
os que se encontravam na diáspora por via da sua música, a unirem-se e a chorar pelas
vidas dos bravos guerreiros que tombaram em nome do país. Conquanto, a temática
incentiva ainda os angolanos a pegarem nas armas para o combate contra o colono, a
fim de expulsá-los do país.
3.2.5. Soldado
O tema soldado foi retirado da música o guerrilheiro, este tema musical fala
sobre as dificuldades que os militares enfrentam para defenderem as fronteiras dos seus
países. Outrossim, enaltece os esforços dos soldados angolanos que debaixo das
inúmeras dificuldades que enfrentam, estão dispostos a defenderem as fronteiras
terrestres do país. Por outra, a música apela a união entre os três movimentos de
libertação nacional.
A métrica diz respeito a medida do verso, que se obtém pela contagem das
sílabas métricas. As sílabas métricas só podem ser contadas até à última vogal tónica.
31
Outro aspecto a ter-se em consideração é as sinalefas, ou melhor, unem-se numa só
sílaba métrica as duas sílabas gramaticais. Por outra, a sinalefa ocorre quando uma
palavra terminar em vogal e a palavra seguinte iniciar por uma vogal, ou se a mesma
terminar em consoante e a seguinte em vogal.
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4
Nº de Sílabas métricas: 1 2
Nº de Sílabas métricas: 1 2 3 4 5
32
Nº de sílabas métricas: 1 2 3
7º Verso: Ngongo
Nº de sílabas métricas: 1 2
Está estrofe é uma sétima, extraída da música Ngongo Mwa Ngola, cujos versos
vão alternando o número de sílabas métricas. Ora vejamos, nos três primeiros versos
apresenta o mesmo número de sílabas métricas, quatro, no quarto e sétimo verso, apenas
duas, no quinto verso tem cinco e no sexto verso apenas três. Totalizando vinte e quatro
(24) sílabas métricas no geral.
Nº sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
33
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6
A estrofe é uma quadra, pelo facto de estar constituída por quatro versos, que
alternam o número de sílabas métricas. No primeiro verso apresenta sete sílabas
métricas, no segundo verifica-se em cinco sílabas métricas e nos dois últimos versos
temos o mesmo número de sílabas métricas, nesse caso seis. Totalizando vinte e quatro
(24) sílabas métricas no geral. É uma música heterométrica.
Nesta música, nota-se que o primeiro verso tem sete sílabas métricas então é um
heptassílabo ou redondilha maior. O segundo verso com cinco sílabas métricas é um
pentassílabo ou redondilha menor. O terceiro e quarto versos cada um com seis sílabas
métricas são hexassílabo ou heroicos quebrados.
3.3.3. 1º de Agosto
34
Sílabas métricas: ya/ mu/ ka/ (nza)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3
4º Verso: Ya mu butula ó miunge
Sílabas métricas: ya/ mu/ bu/ tu/ (la)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4
5º Verso: Mu bangela o mvunda
Sílabas métricas: mu/ ba/ nge/ la o/ mvu/ (nda)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
6º Verso: O mvunda ya Namibia
Sílabas métricas: o/ mvu/ nda/ ya/ na/ mi/ (bi a)
Nº sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6
7º Verso: Mu bangela o mvunda
Sílabas métricas: Mu/ ba/ nge/ la o/ mvu/ (nda)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
8º Verso: O mvunda ya Zimbabwe
Sílabas métricas: o / mvu/ nda/ ya/ zi/ mba/ (bu e)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6
9º Verso: Mu bangela o mvunda
Sílabas métricas: Mu/ ba/ nge/ la o/ mvu/ (nda)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
10º Verso: O mvunda mu África
Sílabas métricas: o/ mvu/ nda/ Á/ fri/ (ca)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
Quanto ao número de sílabas métricas, esta estrofe é uma décima, pelo facto de
estar constituída por dez versos. Este número varia em alguns versos, no primeiro,
segundo, sexto e oitavo versos, temos o mesmo número de sílabas métricas que é seis,
no terceiro verso apresenta apenas três, no quarto verso temos quatro sílabas métricas e
por fim, quinto, sétimo, nono e décimo versos, temos o mesmo número de sílabas
métricas que é cinco, totalizando cinquenta e uma (51) sílabas métricas no geral, em
suma é uma música heterométrica.
O primeiro, segundo, sexto e oitavo versos com seis sílabas métricas cada um
são hexassílabos ou heroicos ou quebrados. O terceiro verso com três sílabas métricas é
um trissílabo, o quarto verso com quatro sílabas métricas é um tetrassílabo, o quinto,
35
sétimo, nono e décimo versos cada um com cinco sílabas métricas são pentassílabos ou
redondilha menor.
3.3.4. Tambi ya Ana N´gola
A estrofe em estudo é uma nona, pelo facto de estar constituída por nove versos,
que também apresentam uma alternância quanto ao número de sílabas métricas, isto é,
no primeiro e último verso, o número de sílabas métricas é a mesmo, cinco. O segundo,
quarto, sexto e sétimo versos apresentam também, os mesmos números de sílabas
métricas que é seis. O terceiro verso tem oito, e o oitavo verso é constituido por sete
sílabas métricas, totalizando cinquenta e seis (56) sílabas métricas no geral, e é uma
música heterométrica.
O primeiro e nono versos com cinco sílabas métricas são pentassílabo ou
redondilha menor. O segundo, quarto, quinto, sexto e sétimo versos com seis sílabas
métricas cada são hexassílabo ou heroicos ou quebrados. O terceiro verso com oito
sílabas métricas é um octossílabo, o oitavo verso com sete sílabas métricas é um
heptassílabo ou redondilha maior.
3.3.5. Guerrilheiro
37
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5
2º Verso: Lá na mata do maiombe
Sílabas métricas: lá/ na/ ma/ ta/ do/ ma/ io/ (mbe)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7
3º Verso: Lá nas chanas do leste
Sílabas métricas: lá/ nas/ cha/ nas/ do/ les/ (te)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6
4º Verso: A onde chove todos os dias
Sílabas métricas: a onde/ cho/ ve/ to/ dos/ os/ (dias)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7
5º Verso: Onde os mosquitos não se contam
Sílabas métricas: onde os/ mos/ qui/ tos/ não/ se/ con/ (tam)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7
6º Verso: A gente as vezes passa fome
Sílabas métricas: a/ ge/ nte as/ ve/ zes/ pa/ ssa/ fo/ (me)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7 8
7º Verso: Para libertar o nosso povo
Sílabas métricas: pa/ ra/ li/ ber/ tar/ o/ no/ sso/ po/ (vo)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7 8 9
8º Verso: Este é o preço da revolução.
Sílabas métricas: este é o/ pre/ ço/ da/ re/ vo/ lu/ (ção)
Nº de sílabas métricas: 1 2 3 4 5 6 7
Esta estrofe é uma oitava, pelo facto de estar agrupada em oito versos. O
primeiro verso é constituído por cinco sílabas métricas, o segundo, quarto, quinto e
oitavo versos têm sete sílabas métricas, o terceiro verso tem seis, o sexto oito e o sétimo
verso é composto por nove sílabas, totalizando cinquenta e seis (56) sílabas métricas no
geral. É uma música heterométrica.
O primeiro verso com cinco sílabas métricas é um pentassílabo ou redondilha
menor, o segundo, quarto, quinto e oitavo versos com sete sílabas métricas são
heptassílabo ou redondilha maior. O terceiro verso com seis sílabas métricas é um
hexassílabo ou heróicos quebrados. O sexto verso com oito sílabas métricas é um
octossílabo e o sétimo verso com nove sílabas métricas é um eneassílabo.
38
3.4. Estrutura Rimática
A rima tem a ver com à semelhança de sons no final ou no interior dos versos. Já a
estrutura rimática diz respeito ao tipo de rima que uma estrofe pode ter. Quanto ao
esquema rimático é a atribuição de uma letra a cada rima.
Quanto a tipologia das rimas existem tantas mas para o nosso trabalho, focamo-nos
na classificação proposta por Miguel e Alves (2011:240), classificando-as “quanto a
riqueza e a disposição”. Tomando como base os mesmos teóricos, queremos salientar
que, quando as estrofes não têm rimas são designadas por rimas brancas ou soltas,
conforme se pode verificar nos versos abaixo descritos:
9
Nas músicas recolhidas e analisadas por nós não foi possível encontrarmos exemplo de rima rica.
39
3.4.2. Rimas Quanto a Disposição
10
Durante a nossa análise só nos foi possível encontrar nas músicas analisadas, rimas cruzadas conforme
se pode ver no exemplo acima.
40
CONCLUSÃO
41
SUGESTÕES
42
BIBLIOGRAFIA
CORREIA, Francisco et al, Enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, 13ª Ed, Verbo,
Lisboa, 1983.
KUCHICK; Matheus B., Kotas, Mamás, mais velhos do semba: A música angolana nas
ondas sonoras do Atlântico Negro. Tese de Doutorado. Campinas, 2016.
44
ANEXOS
1
Músicas Analisadas
1. Mamã Kudile
Kimbundu Português
Kimbundu Português
2
Ho tambi ya ana mwangola o óbito dos filhos de Angola
Enyo we yama amu dya atu eles também são animais e comem pessoas
3
Kitute netu, kitutenetu ku kalamau não aceitamos viver com eles
3- 1º de Agosto
Kimbundu Português
Refrão
Refrão
5
Ééé, é tusokolola ojimbuntu ééé, é vamos recordar as sementes
Ééé, é tusokolola ojimbuntu ééé, é vamos recordar as sementes
4 – Guerrilheiro
Lá na mata do Mayombe
Ééé Mangola
Ééé Mwangole
Ééé Mangola
Éé Mwangola
Ééé Mwangole
Ééé Mwangola
6
Angola hoje deu um passo bem em frente
Ééé Mwangola
Ééé Mwangole
Ééé Mwangola
O ano novo lá na mata, o carnaval foi lá na mata Para libertar o seu povo
Ééé Mwangola
Ééé Mwangole
Ééé Mwangola
7
Ééé Mwangola Ééé Mwangola
8
Wawé! Wawé! ngongo, ngongo mwa ngola ai! ai! sofrimento em Angola
Wawé! Wawé! ngongo, ngongo mwa ngola ai! ai! sofrimento em Angola
Mwa akala kadi mwa ngola zé trabalhadores angolanos
Kalakalenu ni ngunzu trabalhemos com força
Mwidi makaji kwatenu trabalhadores do campo
Kumatenu mwa kwa jixikola peguem em enxadas vós professores
Jijilenu ningunzu zé, ni tu zube exigem com força para acabarmos
Ni ngongo mwa ngola com o sofrimento em Angola
Wawé! Wawé! Mwa ngolazé ai! ai! em Angola
Wawé! Wawé! ngongo, mwa ngolazé ai! ai! sofrimento em Angola
Mukonda dya felo devido ao nosso ferro
Ni dyaden ni gaji o diamante e a paz
Andala kutujiba mwangola querem matar-nos em Angola
Wawé! Wawé! ngongo ai! wé sofrimento
Ngongo mwa ngola sofrimento em Angola