Uma História Emocionante Sobre Letras
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Direito
RESUMO
O verbo Castrar tem origem do latim castro, que significa privar por corte ou outro
processo, dos órgãos da reprodução. Existem dois tipos de castração a química e a
física. A física consiste na remoção cirúrgica completa dos órgãos reprodutores, já a
castração química, objeto deste estudo, é feita mediante a aplicação de substâncias
que inibem e controlam o comportamento e o desejo sexual. No Brasil ganhou força
e repercussão com o projeto de lei 5398/2013, proposta pelo deputado Jair Bolsonaro
do Partido Progressista, apresentada em 2013. Historicamente, as mulheres são trata-
das como objetos, seus corpos e opiniões são descartáveis, não sendo valorizadas em
seus campos de atuação. Dentro da questão cultura do estupro, a mulher é tratada
como objeto sexual do homem. É a educação que molda o homem, ela condiciona às
suas atitudes e é fundamental para instruir o convívio em sociedade. O Estado deve
se preocupar não somente em punir, mas também em combater a necessidade de
encontrar uma desculpa para imputar o fato criminoso a vitima, fazendo isso através
da educação. Dessa forma, tornar as leis mais duras não anula a cultura do estupro.
É preciso educar os homens para não estuprarem e imputar a eles punições bárbaras
e cruéis.
PALAVRA-CHAVE
ABSTRACT
The verb “castrate” comes from the Latin castro, which means to deprive, by cut
or other process, the organs of reproduction. There are two types of castration:
chemistry and physics. Physics consists of the complete surgical removal of the
reproductive organs, and the chemical castration, object of this study, is made
through the application of substances that inhibit and control sexual behavior
and desire. In Brazil it became popular with the legal project 5398/2013, propo-
sed by Representative Jair Bolsonaro, presented in 2013. Historically, women are
treated as objects, their bodies and opinions are disposable, not being valued in
their fields of action. Within the culture issue of rape, the woman is treated as the
sexual object of man. It is an education that shapes man, it conditions his attitu-
des and is fundamental to instruct society in living together. The State should be
concerned not only with punishing but also with combating the need to find an
excuse to impute the criminal fact to the victim by doing so through education.
In that way, making laws harder does not nullify the culture of rape.It is necessa-
ry to educate men not to rape and punish them barbarous and cruel punishments.
KEYWORD
1 INTRODUÇÃO
Para que se possa abordar melhor o tema proposto, faz-se necessário um en-
tendimento acerca do conceito e dos tipos de castração existentes, bem como seu
funcionamento.
Existem dois tipos de castração a química e a física. A física consiste na remo-
ção cirúrgica completa dos órgãos reprodutores, retirando nos homens o pênis e
testículos. Extremamente invasiva e irreversível, incapacitando-o completamente e
permanentemente. Em algumas civilizações eram usados os macetes, tipos de bastão
usados para esmagar os testículos daquele que fosse condenado à prática de crime
sexual. Marques (2010) afirma que:
Os que defendem a castração química, afirmam que por ser feita por
meio de substâncias seriam menos gravosas e trariam menos agressão física,
já que utilizam como medicamento um hormônio chamado de medroxipro-
gesterona ou popularmente conhecido como Depro Provera, para que haja a
perda da libido sexual e por consequência a não reincidência desta pessoa nos
crimes de cunho sexual.
Vale ressaltar que o efeito da medicação só dura enquanto houver a apli-
cação das substancias no tratamento, ou seja, sem o devido cuidado e sem a
continuação dos procedimentos, mesmo impotente o violador sexual pode
voltar a cometer novos abusos.
Há estudos médicos e científicos acerca do tema, como se vê abaixo:
Uma das principais críticas quanto ao uso da castração química diz res-
peito à violação da integridade física do indivíduo, independente de suas con-
dutas e que está expressamente garantido em lei pela Constituição Federal do
Brasil de 1988. Ocorre que, muitos dos crimes sexuais são praticados contra
crianças, e o ordenamento jurídico, visando proteger estes seres indefesos,
começou a discutir a possibilidade da previsão de penas mais cruéis para os
abusadores sexuais, conforme se observa abaixo:
Do mesmo modo, outros estados nos EUA, adotam a castração química, como
Florida, Texas, Luisiana, Montana, entre outras, cada qual, regimentando de acordo
com as leis especificas já estabelecidas nos estados. Ainda neste contexto, alguns paí-
ses na Europa, adotaram a castração química em seus códigos penais, como a França
que além da administração dos medicamentos, ainda regulamenta e indica tratamen-
to psicológico. A Suécia e a Dinamarca admitem a castração em casos extremos. E
a Grã-Bretanha, que além de permitir que seja feita a emasculação ainda possui um
cadastro dos abusadores sexuais.
4 A CULTURA DO ESTUPRO
situação evoluiu, entretanto, ainda há muito para que uma igualdade social entre os
direitos dados a homens e mulheres seja alcançada. Esta desvalorização do gênero
feminino fica clara por meio da erotização de seus corpos, por exemplo, pois, ainda
há muitos dogmas que são impostos às mulheres que as privam da liberdade de es-
colha sobre o que devem ou não fazer com seus corpos, o que vai de encontro com
o princípio da Dignidade da Pessoa Humana e com a liberdade, que é um Direito
garantido pela Carta Magna.
Dentro da questão cultura do estupro, a mulher é tratada como objeto sexual
do homem. São privadas muitas vezes do seu direito de ir e vir para onde quise-
rem. Além de também serem limitadas com relação à vestimenta e comportamentos,
onde, quando sofrem qualquer tipo de abuso de cunho sexual, de modo que a culpa
por sofrerem estes tipos de violência recai sobre elas e não sobre os homens que co-
meteram o ato. Elas acabam sendo culpabilizadas por tais atos.
Ao longo dos anos os movimentos feministas têm se engajado na luta de cons-
cientizar a sociedade que em casos de estupro, a culpa nunca será da vítima. Recen-
temente foi divulgada uma pesquisa que foi realizada pela Datafolha e encomenda-
da pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ela informou que cerca de 30% das
mulheres que responderam a esta pergunta concordam que aquela que usa roupas
provocativas não poderá reclamar se for estuprada, já quando a pesquisa foi feita com
homens, esse percentual é ainda maior, cerca de 42% acreditam que a culpa é da ví-
tima e de suas atitudes.
O resultado desta pesquisa demonstra que ainda hoje as mulheres estão sub-
metidas às vontades dos homens e deixa ainda mais claro que este tipo de pensa-
mento está intrínseco à sociedade, que carrega em seu âmago a ideia de que as
mulheres deverão se comportar de maneira submissa e não subversiva.
como o Brasil, onde mulheres convivem diariamente com a cultura do estupro, não
é algo que possa ser feito. Pois o estupro vai além da conjunção carnal, ele tam-
bém se dá por meio de pequenas atitudes, que constrangem a vítima, mas passam
despercebidas pela sociedade, pois se tornaram algo comum para a cultura. Então,
cantar mulher na rua deveria ser considerado assédio e não elogio, mas, infeliz-
mente não é o que é passado para os homens quando estão desenvolvendo sua
personalidade, pois estes são educados desde criança para o machismo e relação
de superioridade ao gênero feminino.
Não é possível afirmar que estes crimes contra a dignidade sexual acontecem
somente motivados por um aumento de produção do hormônio masculino, a testos-
terona, no organismo do homem, na maioria dos casos estes crimes possuem uma
estrita ligação como a relação de poder entre homem e mulher estabelecida pela
cultura e perpetuada pela educação nas escolas. Portanto, o abusador, na maioria dos
casos não se encaixa na condição de pessoa com patologia, como nos casos onde há
a existência de parafilia – distúrbios sexuais que levam o indivíduo a praticar condutas
criminosas sem possuir total capacidade para responder por estes como capazes e
imputáveis – a sociedade o educa para ser abusador em potencial, existe a banaliza-
ção da violência contra a mulher, é o que se pode chamar de cultura do estupro.
Dessa forma, legalizar a castração química não é punir, mas sim tornar inimpu-
tável o abusador, é perpetuar a cultura do estupro a partir da “patologização” da con-
duta do homem. Ela é somente um método paliativo que não reeduca, nem semeia
condição para que o sujeito seja reinserido na sociedade e não reincida.
A educação é o meio pelo qual os antecessores transmitem valores culturais por
meio da comunicação para os seus sucessores. É a educação que molda o homem, ela
condiciona às suas atitudes e é fundamental para instruir o convívio em sociedade.
A diferenciação de papéis ainda na primeira infância, quando meninas rece-
bem como brincadeira a participação nas tarefas domésticas e aos meninos só é
atribuído o valor do trabalho, é fator que dá início a exclusão simbólica – condição
de exclusão presente na sociedade, onde ela se dá de forma tão sutil que nem
mesmo o próprio sujeito excluído tem noção dela – fazendo com que a condição
de submissão das mulheres se perpetue.
Segundo o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a cada onze minutos uma
mulher sofre algum tipo de violência no Brasil, dessa forma, é possível perceber que os
números referentes à violência contra a mulher são um puro reflexo da Cultura do Estu-
pro e do Patriarcado construída na sociedade brasileira e completamente arraigada nela.
Dado a cultura do estupro arraigada na sociedade, é preciso redefinir o concei-
to de estuprador, tornando todo homem um potencial agressor, uma vez que eles
encontram-se condicionados a isso graças à educação patriarcal que recebem.
Portanto, o combate aos crimes de estupro não pode se dar somente tornando
as penas mais rígidas, é preciso que se estabeleça um estudo entre a conduta crimi-
nosa e suas motivações. O Estado deve se preocupar não somente em punir, mas
também em combater a necessidade de encontrar uma desculpa para imputar o fato
criminoso a vitima.
6 CONCLUSÃO
Duas questões bem atuais que têm promovido debates entre os interessados em
direitos humanos são a castração química e a cultura do estupro. Elas têm feito os teóri-
cos questionarem até que ponto é considerada a liberdade do indivíduo e até que pon-
to o Estado pode intervir na integridade psicológica e física de infratores de cries sexuais
Pode-se concluir por meio do texto que a castração química não é solução para
os crimes de teor sexual, pois estes não se resumem ao que seria punido por ela, ou
seja, os hormônios, ela vai, além disso. Está ligada a uma questão sociocultural em
que homens e mulheres são ensinados desde crianças a estabelecer uma relação de
submissão entre os gêneros, onde o masculino se sobrepõe. Então crimes sexuais
não se resumem a motivação hormonal
Independente da motivação percebe-se que aplicar a castração química como
medida punitiva e como meio de reprimir outros possíveis crimes sexuais não é ga-
rantia da diminuição da violência e abusos contra qualquer indivíduo que conviva em
sociedade. É necessária a aplicação correta e efetiva das medidas penais cabíveis que
já existem.
Criar novas leis, criar meios cruéis para impor um comportamento digno em
sociedade e fazer com que as pessoas entendam essas condutas como imorais e cri-
minosas não se fazem por meios bárbaros, o direito penal, infelizmente, não resolve
todos os males.
REFERÊNCIAS
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brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n.1400, 2 maio 2007. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9823>. Acesso em: 3 nov. 2016.
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em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito - Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009, p.59.
SERAFIM, Antonio de Pádua; SAFFI, Fabiana; RIGONATTI, Sergio Paulo; CASOY, Ilana;
BARROS, Daniel Martins de. Perfil Psicológico e Comportamental de Agressores
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<http://law.justia.com/california/codes/pen/639-653.1.html>. Acesso em: 3 nov. 2016.