Jardins Filtrantes Rodrigues

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

FITORREMEDIAÇÃO: JARDINS FILTRANTES COMO SOLUÇÃO PARA ÁGUAS

CINZAS

Janaina Vitor Rodrigues¹, Jeane de Fátima Cunha Brandão2.

¹Graduanda em Tecnólogo em Gestão Ambiental, FACIG, [email protected]


2
Doutorado em Meio Ambiente, UFV, [email protected]

Resumo – Um dos maiores problemas em relação ao meio ambiente é a poluição dos recursos naturais,
agravando-se ainda mais quando se trata de poluição da água, um bem limitado que permite a existência da
vida no planeta e, a falta de saneamento básico contribui para que se piore a situação da saúde da
população em geral, porque influi diretamente não só para resolver o problema da sede, mas também para
a produção de alimentos. Conjugando problemas e ao mesmo tempo procurando soluções, pode-se ter um
resultado altamente agradável aos olhos e ao bolso, utilizando plantas para tratar efluentes
(fitorremediação), técnica que pode contribuir para que a água devolvida aos cursos d’águas estejam menos
contaminadas. Dessa forma, o objetivo do trabalho é mostrar algumas técnicas de fitorremediação de águas
cinzas (esgoto). Uma delas é utilizando o aguapé (Eichornia crassipes). A utilização de plantas tem como
vantagens, o baixo custo de implantação; alta eficiência de melhoria dos parâmetros que caracterizam os
recursos hídricos e alta produção de biomassa que pode ser utilizada na produção de ração animal, energia
e biofertilizantes. A técnica aqui apresentada, não é uma solução e sim, mais uma alternativa de proteger os
cursos d’água do descontrole ambiental. Ainda há muito que se progredir em relação aos estudos da
fitorremediação, o que não impede de levarmos a sério as propostas vigentes em relação ao tema.

Palavras-chave: Jardim filtrante; Fitorremediação; Tratamento de efluentes; Wetlands.

Área do Conhecimento: Ciências Agrárias – Gestão Ambiental

INTRODUÇÃO decorativos, promovendo o equilíbrio do


ecossistema.
A necessidade de conservação e recuperação Na maior parte das cidades brasileiras o esgoto
da água que os seres vivos precisam para sua é lançado diretamente nos rios, sem nenhuma
sobrevivência é o que leva à obrigatoriedade de forma de tratamento acarretando morte de peixes,
conhecer a natureza desse recurso que nos é mau cheiro, impacto visual e proliferação de
oferecido gratuitamente. O grande passo para que microorganismos e doenças de veiculação hídrica.
se mantenha a conservação e se dê a Diante dessa problemática a aplicação de
recuperação dos recursos hídricos ou qualquer técnicas que auxiliam uma redução da
outro recurso natural é o conhecimento sobre seu contaminação dos corpos d’água é muito
funcionamento, suas fragilidades e sobre maneiras importante. Os “jardins filtrantes” ou wetlands é
de realizar o seu reaproveitamento de forma uma técnica promissora para o tratamento de
sustentável. várias formas de esgoto (industrial, sanitário,
O nosso planeta é chamado Planeta Água por doméstico, entre outros), nesse trabalho o foco
ter 75% de sua superfície coberta por mares, rios, será o esgoto proveniente de pias, tanques e
lagos, entre outros. O Brasil seria considerado a chuveiros. Nessa técnica as plantas e organismos
capital desse planeta por ter 15% da água doce trabalham juntos na depuração da água e, por ser
mundial concentrada em seu território uma técnica ainda pouco difundida o objetivo da
(ZAMPIERON, VIEIRA. 2007). Apesar de pesquisa é apresentar o sistema e divulgar suas
abundante o potencial hídrico do país está mal aplicações.
distribuído e também se encontra bastante
poluído, sendo um dos principais problemas TÉCNICAS UTILIZADAS NA
ambientais da atualidade. FITORREMEDIAÇÃO DE SISTEMAS
Segundo Goulart (2007), [...]as áreas verdes AQUÁTICOS
urbanas são um ajuste para o equilíbrio ecológico.
O paisagismo favorece o meio ambiente e é Segundo Tavares, Andrade e Mahler (2007), a
necessário aplicá-lo corretamente e com muita utilização de rios, córregos, lagos e represas e sua
seriedade, não se limitando a projetos meramente conservação com relação à qualidade de água de
forma a atender o uso múltiplo de seus recursos, é

I Seminário Científico da FACIG – 29, 30 e 31 de Outubro de 2015


hoje um dos grandes desafios em todo o mundo. A todas as plantas que estão todo o tempo
água é um recurso natural que está se tornando submersas em água ou por alguns meses em
cada vez mais escasso em várias partes do cada ano, são abundantes, tem alta produtividade
mundo, indispensável à produção e um recurso contribuem para a diversidade biológica, o seu
estratégico para o desenvolvimento econômico, manejo desastroso pode prejudicar os múltiplos
ela é vital para a manutenção dos ciclos usos de lagos, represas e rios, mas tem tido uma
biológicos, que mantêm em equilíbrio os vasta utilização em sistemas de tratamento de
ecossistemas (MARTINS, 2003). efluentes, recuperando ambientes degradados e
De acordo com Phillip jr. (2005) as como plantas ornamentais, são ainda utilizadas
modificações ambientais criam através de como bioindicadoras de ambientes aquático e
disposição inadequada de resíduos sólidos e o estão classificadas em macrófitas flutuantes,
lançamento de efluentes com tratamento submersas e emergentes, as quais as primeiras
inadequado, ambientes propícios à existência de são plantas com tecidos fotossintéticos flutuantes
vetores de interesse para a saúde pública [...] e com raízes longas, livres (enraizadas no fundo,
ainda citando Phillip jr. (2005) é necessário podendo ser levadas pela correnteza, vento ou
estabelecer políticas públicas de maior eficiência, animais) ou enraizadas (fixas no fundo com caule
tornando assim o saneamento do meio uma e/ou folhas flutuantes), dependendo da
importante estratégia na mitigação ou reversão profundidade do local; as segundas são tipos
dos impactos causados, controlando os fatores do completamente imersos (fixas, enraizadas no
meio físico do homem. fundo e livres não enraizadas) e as terceiras são
Natal, Menezes e Mucci (2005) afirmam que os enraizadas no fundo (parcialmente submersas e
organismos vivos experimentam vários tipos de parcialmente fora da água).
adaptações em suas áreas de ocorrência, Em um sistema de tratamento pode-se optar
podendo extinguir-se ou experimentar novas por usar essas plantas isoladamente ou
versões, sendo esse processo regido pelas leis do combinadas entre si, sendo importante.
equilíbrio ecológico [...]. Quando ocorrem A contribuição maior para esse trabalho é do
mudanças no ambiente, geralmente há tempo livro Fitorremediação que, procurou preencher
hábil para a adaptação da biota, onde apesar do uma lacuna de informações em português sobre
desequilíbrio provável, há a volta do estado de essa tecnologia, os autores Julio Cesar da Matta e
equilíbrio, cuja inserção e concentração da Andrade, Sílvio Roberto de Lucena Alves e
presença do homem no meio favorece a produção Cláudio Fernando Mahler apresentam de forma
de águas servidas e, não havendo tratamento didática definições, conceitos e princípios da
adequado, há preocupações que levantam sobre técnica de fitorremediação de maior destaque
os impactos sofridos pelo meio e os riscos à saúde nacionais e internacionais.
humana. Dentro desse parâmetro estão na figura 01 os
Ainda segundo os autores acima citados principais grupos de macrófitas (formas biológicas)
necessita-se urgentemente de que os princípios que são utilizadas para a fitorremediação aquática,
ecológicos sejam priorizados e não contrariados, assunto dessa pesquisa.
com metas autossustentáveis e menos agressivas.
“O uso de vegetais para a melhoria das
condições físico-químicas de meio aquoso é muito
conhecido e aplicado no tratamento de efluentes”
(ANDRADE, TAVARES E MAHLER, 2007, p.24),
ainda que pouco difundido no Estado de Minas
Gerais. Ainda de acordo com os autores acima
citados, esse tratamento visa a remoção de cor,
sólidos suspensos, nitrogênio, fósforo, material
orgânico, entre outros.
Dentro dessas concepções, esse fenômeno
acontece de modo natural em águas residuárias,
onde as plantas interagem com as bactérias, onde
por meio da fotossíntese é produzido a maior parte
do oxigênio utilizado pelas bactérias aeróbicas na
degradação da matéria orgânica, outro fator que
pode otimizar a eficiência da fitorremediação das
águas é a presença de micorrizas, aumentando a
absorção de água e elementos inorgânicos pelas
plantas. Esse sistema utilizam macrófitas, as quais
de acordo com Tavares, Andrade e Mahler são

I Seminário Científico da FACIG – 29, 30 e 31 de Outubro de 2015


Figura 01

1 – Anfíbias: vivem tanto em área alagada


como em solo seco; 2 – emergentes: plantas
enraizadas no fundo, parcialmente fora da água
e submersas; 3 – Flutuantes fixas: enraizadas
no fundo com caule e folhas submersas; 4 –
submersas livres: não enraizadas no fundo,
com caules e folhas submersas; 5 – submersas
fixas: enraizadas no fundo, totalmente
Fonte: Dinardi et. al.
submersas; 6 – flutuantes livres: Enraizadas no
fundo, podendo ser levadas pela correnteza,
A utilização de plantas aquáticas para o
vento ou animais; e 7 – Epífitas: instalam-se
tratamento de água justifica-se por sua intensa
sobre outras plantas aquáticas. (VIANA apud
capacidade de absorver nutrientes e pelo
Irgang et al, 1984. Adaptado).
crescimento acelerado, oferecendo também
Dessa forma pode-se implantar os sistemas
facilidades na sua retirada e pelo amplo uso de
únicos ou mistos.
sua biomassa. (DINARDI et. al. 2003).
Figura 02 – Sistema Baseado em macrófitas
Figura 5 (a-f): Plantas aquáticas (hidrófitas)
aquáticas flutuantes (enraizadas ou livres)
providas de rizomas

Fonte: Tavares, Andrade e Mahler (2007)

Figura 03 – Sistema baseado em macrófitas


aquáticas submersas.

Fonte: Tavares, Andrade e Mahler (2007)

Figura 04 – Sistema baseado em macrófitas


emergentes nas suas 3 formas de
apresentação.

I Seminário Científico da FACIG – 29, 30 e 31 de Outubro de 2015


liga plástica, elástica e flexível como o PVC
(policloreto de vinil), EPDM (Borracha de
Etileno Propileno Terpolímero) ou equivalente.
Antes da entrada do Jardim Filtrante, deve ser
instalada uma pequena caixa de decantação
(50 a 100 litros) que serve para retenção de
sólidos e uma caixa de gordura. Após percorrer
essas caixas o liquido passará por uma
tubulação em forma de cachimbo conhecida
popularmente como monge que também regula
o nível da água no jardim. As tubulações de
entrada e saída serão em pontos opostos da
caixa. A caixa deve ser preenchida com brita e
areia grossa que agem como filtros físicos para
o material particulado, sustentação para as
plantas e na formação do biofilme (conjunto de
bactérias que crescem e formam uma espécie
de capsula de proteção)
Ainda nas palavras do pesquisador para evitar
Fonte: http://www.hortirelva.pt/etares.htm que enxurradas entrem no sistema deve-se
fazer uma pequena curva de nível em torno do
De acordo com o pesquisador Wilson Tadeu jardim sobre a geomembrana. O jardim filtrante
Lopes Silva, deve-se inicialmente fazer uma deve então ser saturado com água, mas deve
vala no solo com aproximadamente 1 m² de se evitar a formação de lamina d’ água para
área superficial por habitante. Essa caixa deve não permitir a procriação de mosquitos.
possuir o fundo impermeabilizado com uma
geomembrana que consiste em uma manta de

Figura 05 - Esquema: Valentim Monzane

Fonte: EMBRAPA.
um esquema de trabalho aberto e flexível, em que
METODOLOGIA
as decisões são tomadas na medida e no
momento em que se fazem necessárias. Não
Esse trabalho é bibliográfico e, para que fosse
existem normas prontas sobre como proceder em
concretizado foi necessária uma pesquisa cada situação específica e os critérios para seguir
qualitativa inerente a essa abordagem. Para essa ou aquela direção são geralmente muito
desenvolver um estudo de caso "qualitativo" o
pouco óbvios (ANDRÉ, 2005, p. 38).
pesquisador precisa antes de tudo ter uma enorme
tolerância à ambiguidade, [...] ele tem que aceitar

I Seminário Científico da FACIG – 29, 30 e 31 de Outubro de 2015


DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
Apesar do crescimento tímido da implantação
dos “jardins filtrantes” ou “wetlands”, no Brasil já
ANDRADE. Julio cesar da Matta e. TAVARES,
existem trabalhos substancialmente importantes
Sílvio Roberto de Lucena. MAHLER, Cláudio
desde 1982, quando Salati e Rodrigues (1982)
Fernando. Fitorremediação: o uso das plantas na
construíram um lago artificial no Rio Piracicamirim,
melhoria da qualidade ambiental. São Paulo:
Piracicaba/ SP, com o resultado inicial satisfatório,
Oficina dos textos, 2007.
continuou-se o projeto a partir de 1985. Outros
trabalhos que continuam a ser desenvolvidos no
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estudo
país são do Instituto Nacional de Tecnologia –
de caso em pesquisa e avaliação educacional.
ROQUETE PINTO et. al, (1998) UNICAMP –
Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2005.
VALENTIM & ROSTON (1998) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul – GIOVANNINI &
MAURO, J. B. N.; GUIMARÃES, J. R. D. Aguapé
MOTTA (1998)
agrava contaminação por mercúrio. Ciência
Outros trabalhos com jardins filtrantes também
hoje, v. 35, n. 150, p.68-71, junho, 1999.
foram e vem sendo realizados no Brasil e no
mundo, sem contar os trabalhos de várias
PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo (ed). Saneamento,
Universidades em alguns estados brasileiros,
saúde e ambiente: fundamentos para um
voltados para os mais diversos poluentes.
desenvolvimento sustentável / Sanitation, health
Trabalhos que vem sendo considerados de grande
and environment: basis to a sustainable
avanço na comunidade científica nacional e
development.-v.2. Barueri: USP. 2005.
internacional. A utilização de plantas tem como
vantagens, o baixo custo de implantação; alta
POMPÊO, M.L.M. Culturas hidropônicas, uma
eficiência de melhoria dos parâmetros que
alternativa, não uma solução. Anais Seminário
caracterizam os recursos hídricos e alta produção
Reg. Ecol., São Carlos, SP. 8 73 a 80, 1996.
de biomassa que pode ser utilizada na produção
Disponível em <http://www.ecologia.ib.usp.br/>.
de ração animal, energia e biofertilizantes.
Acesso em 30/08/2015.
Com todo esse avanço é inevitável que
aconteçam discussões sobre as técnicas
SALATI, Eneas. Controle de qualidade de água
envolvidas, uma delas é sobre o aguapé
através de sistemas de wetlands construídos.
(Eichornia crassipes), para uns considerados uma
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
praga e para outros a solução de seus problemas.
Sustentável. [S.I.] 2006. Disponível em
A má reputação do aguapé é devido ao seu
http://www.fbds.org.br/. Acesso em 28 de julho de
uso indiscriminado, que pode causar sérios riscos
2015.
ambientais, foi o que mostraram os estudos de
________. FILHO, Eneas Salati. SALATI Eneida.
Mauro e Guimarães (1999) no qual comprovaram
Utilização de wetlands contruídas para
que uma forma mais tóxica de mercúrio é
tratamento de águas. Piracicaba. SP. 2009.
produzida pelos micoorganismos presentes nas
Dísponível em
raízes da planta. De outra forma o aguapé possui
<www.ambiente.sp.gov.br/pactodasaguas>.
um sistema radicular que funciona como um filtro
Acesso em 28 de julho de 2015.
mecânico e pode ser usado de modo controlado,
com “[...] necessidade de planejamento,
VIANA, Sabrina Mieko. Riqueza e distribuição de
otimização de custo/ benefício, em conformidade
macrófitas aquáticas no rio Monjolinho e
com o local e a área disponíveis, qualidade e
tributários (São Carlos, SP) e análise de sua
carga do efluente [...]” (POMPEO, 1986, P.80) e
relação com variáveis físicas e químicas. 2005.
sua biomassa tem várias utilidades, entre elas o
Dissertação (Mestrado em Ciências da Engenharia
uso como fertilizantes, geração de energia
Ambiental) - Escola de Engenharia de São Carlos,
(biogás) entre outros.
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.
Disponível em:
CONCLUSÃO <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/181
39/tde-16112005-105845/>. Acesso em: 2015-09-
A técnica aqui apresentada, não é uma solução 03.
e sim, mais uma alternativa de proteger os cursos
d’água do descontrole ambiental. Ainda há muito
que se progredir em relação aos estudos da
fitorremediação, o que não impede de levarmos a
sério as propostas vigentes em relação ao tema.

I Seminário Científico da FACIG – 29, 30 e 31 de Outubro de 2015

Você também pode gostar