Trabalho Sobre Dupla

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FORMANDOS DE PSICOLOGIA FRENTE A DUPLA

EXCEPCIONALIDADE

Camila Incau - Estudante do curso de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia do


Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP Campus
Bauru; E-mail: [email protected]

Categoria de submissão: Dupla Excepcionalidade

RESUMO
Este trabalho, um recorte de uma dissertação de mestrado concluída em 2020, tem como
objetivo apresentar brevemente a concepção de formandos de Psicologia acerca da dupla
excepcionalidade em caso de crianças identificadas com Altas Habilidades/Superdotação
(AH/SD) e diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH). Elegeu-se para este recorte investigativo a fase qualitativa da dissertação,
composta por entrevistas semiestruturadas em formato on-line. Participaram desta fase seis
formandos de Psicologia de Instituições de Ensino Superior (IES) localizadas no Estado de
São Paulo, sendo duas universidades públicas e quatro privadas. A escolha por formandos
de Psicologia decorre da importância do psicólogo na atuação com a dupla
excepcionalidade. Isso porque esse profissional realiza a identificação, a avaliação e o
atendimento especializado, sendo essencial que receba a formação inicial e continuada
adequada. Entretanto, os formandos relataram que não conheciam a dupla
excepcionalidade, consequentemente, não sabiam caracterizar e informar quais
instrumentos e profissionais estariam envolvidos na identificação, avaliação e atendimento
dessa dupla excepcionalidade. Pode-se, portanto, visualizar a necessidade dos cursos de
Psicologia abordarem a dupla excepcionalidade em sua grade curricular, para que os
futuros profissionais tenham, ainda que minimamente, concepções gerais dessa condição
específica.

Palavras–chave: TDAH; AH/SD; estudante de Psicologia.

INTRODUÇÃO
Ainda pouco difundida e abordada no âmbito social, crianças com Altas
Habilidades/Superdotação (AH/SD) podem apresentar uma patologia comportamental e/ou
neurológica como, por exemplo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) (OGEDA, 2020). A presença dessas condições simultaneamente é denominada
como dupla excepcionalidade (ALVES; NAKANO, 2015; HOSDA; CAMARGO;
NEGRINI, 2009; OGEDA, 2020; VILARINHO-REZENDE; FLEITH; ALENCAR, 2016).
Crianças com a dupla excepcionalidade apresentam um desenvolvimento elevado
em algum campo do saber, ao mesmo tempo que expressam comportamentos considerados
patológicos (ALVES; NAKANO, 2015). Elas podem, por exemplo, ter uma excelente
performance na linguagem, na narrativa e na memorização (VILARINHO-REZENDE;
FLEITH; ALENCAR, 2016), contudo, também podem expressar algumas dificuldades
quanto ao desenvolvimento da atenção, da memória e do reconhecimento de emoções
(ALVES; NAKANO, 2015).
Tal condição apresenta-se como grande desafio aos profissionais da área,
sobretudo, para psicólogos, por causa da especificidade para a identificação e para o
atendimento terapêutica que os casos com dupla excepcionalidade demandam
(OUROFINO; FLEITH, 2005; OGEDA, 2020; VILARINHO-REZENDE; FLEITH;
ALENCAR, 2016). Os profissionais que trabalham com esse tipo de criança precisam ter
conhecimento aprofundado, tanto sobre a superdotação quanto sobre o transtorno, ou seja,
saber as características que os diferenciam e as características que os aproximam (HOSDA;
CAMARGO; NEGRINI, 2009).
Vilarinho-Rezende, Fleith e Alencar (2016) afirmam que há características
específicas que os profissionais podem observar para realizar a identificação e o
atendimento da dupla excepcionalidade. Nesse sentido, nas AH/SD, deverá haver o
desenvolvimento da potencialidade da criança, através do programa educacional composto
por atividades incentivadoras da superdotação, conforme preconiza a legislação específica
(BRASIL, 2009, 2011). Além disso, necessita-se de intervenções específicas para os
comportamentos característicos do TDAH (HOSDA; CAMARGO; NEGRINI, 2009).
Compreendendo a importância do psicólogo em casos de dupla excepcionalidade, o
presente trabalho versará sobre o conhecimento de estudantes de último ano de Psicologia
acerca da dupla excepcionalidade. Optou-se por esse recorte porque a literatura considera o
psicólogo como fundamental na identificação, na avaliação e no atendimento das AH/SD e
TDAH, sendo um dos primeiros profissionais a receber os encaminhamentos escolares para
avaliação desses perfis no âmbito público e privado (CARREIRA et al, 2008;
COUTINHO, ARAUJO, 2016; LABADESSA; LIMA, 2017). Além disso, de acordo com
Ogeda (2020), essas crianças sofrem, frequentemente, com o subentendimento de suas
dificuldades e habilidades, podendo ser mal interpretadas, causando angústia e frustração,
quando comparadas com seus pares.

OBJETIVOS
O objetivo geral desta investigação foi entender a concepção de formandos de
Psicologia sobre a dupla excepcionalidade. Para isso, apresenta-se como objetivos
específicos compreender como caracterizam, como realizaram o atendimento
especializado; quais instrumentos utilizariam; como estruturariam tecnicamente as
avaliações e os atendimentos psicológicos; como atuariam com estes perfis em uma equipe
multiprofissional; e como realizariam, quando necessário, os encaminhamentos para o
estabelecimento de uma acolhida multiprofissional.

MÉTODO
Para alcançar os objetivos descritos, foram foco de investigação seis formandos de
Psicologia matriculados em seis IES selecionadas por amostragem por acessibilidade (GIL,
2008). Das IES participantes, duas são Universidades públicas e quatro privadas, estando
as seis alocadas no estado de São Paulo. Todas as IES possuem mais de 30 anos de atuação
no Ensino Superior e seu corpo docente é composto por mestres e doutores. Verificou-se
também que elas ofertam o curso de Psicologia há mais de 10 anos, formando um número
significativo de psicólogos desde então.
Este recorte abrange seis entrevistas semiestruturadas contendo questões acerca dos
objetivos da pesquisa. As entrevistas ocorreram virtualmente, em horário pré-agendado
mais conveniente aos participantes, tendo a duração média de 50 minutos cada entrevista.
Para a transcrição e a análise das entrevistas, elegeu-se como técnica a aplicação do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que captura o discurso e o transcreve como ocorreu,
não havendo correções ou adaptações. Ademais, esse tipo de método apresenta uma
representatividade quantitativa e qualitativa de discursos coletivos (LEFÈVRE;
LEFÉVRE, 2006).

RESULTADOS

Nas entrevistas, foi indagado aos formandos de Psicologia: a) como eles


caracterizam a dupla excepcionalidade; b) quais profissionais podem compor a equipe
multiprofissional em avaliações da dupla excepcionalidade; c) como eles efetuariam o
atendimento em casos de crianças com dupla excepcionalidade.
No que tange a caracterização, os formandos expressaram grande dificuldade em
descrever a dupla excepcionalidade. Todos afirmam que não conheciam esse perfil e que,
por isso, não sabem como caracterizá-la corretamente. Os estudantes informaram ainda
que, para tentar descrever esse público, realizaram a assimilação dos conteúdos sobre o
TDAH e as AH/SD. Com isso, caracterizaram a criança com dupla excepcionalidade
como agitada e inteligente, descrição simplista que não abrange a realidade desse perfil.
Além disso, essa caracterização expressa um mito frequentemente propagado em
nossa sociedade, a imagem da criança superdotada como inerentemente inteligente. Tal
descrição não corresponde à diversidade presente nas AH/S e, no caso da dupla
excepcionalidade, segundo Alves e Nakano (2015), facilita o reconhecimento, em grande
parte, apenas do TDAH. Consequentemente, as AH/SD ficam ocultadas pelos
comportamentos patológicos do TDAH, não sendo trabalhadas.
Sobre os profissionais que podem participar da avaliação, nenhum formando soube
informar quais profissionais realizam a avaliação da dupla excepcionalidade. Alves e
Nakano (2015) afirmam que profissionais como pedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo,
psicopedagogo, neupediatra, terapeuta ocupacional, dentre outros podem atuar com esse
público infantil em diversos espaços dentro de suas especificidades.
Acerca do atendimento especializado, os estudantes não souberam informar como
realizariam o atendimento da dupla excepcionalidade, mas que, possivelmente, fariam
como em casos de crianças com TDAH. Ogeda (2020) alerta que algumas intervenções,
normalmente usadas para crianças com TDAH, podem agravar os problemas relacionados
à dupla excepcionalidade, uma vez que crianças com esse transtorno precisam de pouco
estímulo para desenvolverem suas atividades e crianças com AH/SD precisam de mais
estímulos em sua área de interesse.

CONCLUSÕES

Frente ao exposto, destaca-se o desconhecimento dos formandos sobre a dupla


excepcionalidade e a importância da formação inicial qualificada, assim como a
continuada, isso porque ela possibilita que os estudantes de Psicologia, futuros psicólogos,
saibam distinguir, avaliar e atender a dupla excepcionalidade em várias situações e
instituições. Para isso, é necessário que os cursos de Psicologia apresentem e discutam
quais são as reais necessidades infantis da sociedade brasileira nos diversos espaços que
este profissional está inserido.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ALVES, R.J. R; NAKANO, T.C. A dupla-excepcionalidade: relações entre altas
habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade e transtornos de aprendizagem. São Paulo: Rev. psicopedag., vol.32, n.99,
p. 346-360, 2015.
CARREIRO, L. R. R.; JORGE, M.; TEBAR, M. R.; MORAES, P. F.; ARAÚJO, R. R.;
OLIVEIRA, T. A. E. R.; PANHONI, V. A. C. S. Importância da interdisciplinaridade para
avaliação e acompanhamento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. São
Paulo: Psicologia teor. prat., v. 10, n. 2, p. 61-67, 2008.
COUTINHO, M.K.A.R.G; ARAUJO, D.A.C. Medicalização e TDAH: discussões nos
programas de pós-graduação em educação e em psicologia do Mato Grosso do Sul.
Paranaíba: Revista Interfaces da Educação, v.7, n.19, p.166-190, 2016.
HOSDA, C.B.K; CAMARGO, C.G.; NEGRINI, T. Altas habilidades/Superdotação e
Hiperatividade: possíveis relações podem gerar alguns equívocos. Paraná: IX Congresso
Nacional de Educação, p.4393-4406, 2009.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
LABADESSA, V.M; LIMA, V.A. Queixa escolar: repercussões na escola a partir do
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LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. O sujeito coletivo que fala. Botucatu: Interface, v.10,
n. 20, p. 517-524, 2006.
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Um estudo de indicadores e habilidades sociais. 2020. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e
Ciências, Marília, 2020.
OUROFINO, V. T. A; FLEITH, D. S. Um estudo comparativo sobre a dupla personalidade
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VILARINHO-REZENDE; FLEITH, D. S; ALENCAR, E. M.S.L. Desafios no diagnóstico
de dupla excepcionalidade: um estudo de caso. Lima: Revista de Psicología, v.34, n. 1, p.
61-84, 2016.

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