Brasil para Maiores #5: para Mulheres, Dinheiro. para Homens, Um Sonho: Como Nasce Um Ator Pornô
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Tony Tigrão começou a fazer pornô porque era seu sonho de infância. Já Fabi
Thompson topou fazer o primeiro filme de sexo explícito depois de receber
uma proposta irrecusável de um olheiro. Um teve o apoio da família, a outra
teve de aguentar comentários horríveis de conterrâneos.
Neste episódio de "Brasil Para Maiores", os repórteres Marie Declercq e Tiago
Dias conversam com atores e atrizes pornôs que já estavam na indústria antes
da entrada dos famosos, nos anos 2000, para entender como era a rotina e a vida
pessoal de quem fazia as engrenagens do mercado girar.
Você pode ouvir o podcast "Brasil para Maiores" em plataformas
como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts, Amazon Music e YouTube.
Confira abaixo o roteiro do episódio 5:
Tiago Dias: Ela, começou como modelo no Rio Grande do Sul e nunca
imaginou fazer pornô
Uma indústria que não era feita de Ritas e Frotas, mas sim por muita gente que
já tinha fama no meio antes das celebridades.
Uma indústria feita por quem trabalha na área por anos, entrando e saindo de
set, equilibrando a vida afetiva e a profissional e dando a cara pra bater em uma
sociedade onde o desejo e o desprezo andam lado a lado.
Tiago Dias: Nesse episódio, você vai conhecer o pornô como ele é.
Tiago Dias: Eu sou o Tiago Dias. E esse é o podcast Brasil para Maiores. Uma
reportagem em áudio do UOL TAB que resgata a explosão da pornografia
brasileira e o surgimento do pornô de celebridades.
Quando assistia a alguma produção, Antônio sentia que os caras não tavam
dando tudo de si, e achava que podia se sair melhor.
Essa função era bastante comum nos anos 2000, mas hoje praticamente deixou
de existir por causa das redes sociais.
A proposta era muito boa para ser recusada e a jovem partiu pra São Paulo onde
gravaria uma cena pra Buttman.
Mal sabia ela que dali alguns anos ela seria uma das atrizes mais conhecidas do
pornô nacional, atendendo pelo nome artístico de Fabiane Thompson.
Mas outra coisa que a Fabi não sabia era o tamanho da bucha que ela iria
encarar.
[Entrevista com Fabi Thompson]
Fabi: É. Eu topei, mas eu não sabia o que eu tinha topado.
Tiago: Mas assim, eles explicaram o que era?
Fabi: É, só que na prática são outras coisas, né? Tipo, é bem diferente você
ouvir, aí você pensa no dinheiro, mas tudo o que você tem que fazer, você tem
que se expor, você tem que se sacrificar, então tipo? quando eu realmente
precisei fazer foi difícil, achei difícil. Fiquei, nossa, fiquei muito chocada,
fiquei arrasada, né?
Tiago: As histórias da Fabi e do Tony ilustram o início de carreira de 99% dos
atores e atrizes pornôs: eles seguindo um sonho, elas entrando pela grana.
Mas o que ninguém sabe é que, na real, é muito difícil ser ator pornô.
Não é só chegar e comer todo mundo, botar a roupa e ir pra casa. Tem que
saber a posição certa pro diretor filmar uma cena de penetração e tem saber
conduzir a transa sem se destacar mais do que a atriz. Além de tudo isso,
conseguir manter uma ereção por horas e, claro, ter presença de cena, ou seja,
um pau grande.
M. Max: É. Olha acho que a única pessoa que tinha 18 centímetros para
trabalhar comigo foi o Pikachu. O Big Mac e o Kid Bengala são 30
centímetros de piroca. Trinta, medido na Régua.
Marie: Mesmo com uma exigência física mais? rígida, os atores do pornô
hétero tendem a ganhar menos do que as atrizes. E é por um motivo bem
simples: o nível de exposição.
Pensa bem: muitas atrizes pornô fazem em um mês mais filmes que uma atriz
de Hollywood faz em um ano. Elas estão sempre na capa, no trailer, em 100%
das cenas. Sem as mulheres, não teria filme, não teria indústria, não teria nada.
Então faz sentido.
Agora, imagina se fosse o contrário? Uma adolescente conta para o pai o sonho
de ser atriz pornô e o pai não só apoia como sai ligando para as produtoras e
dizendo "olha só, minha filha quer ser atriz, ela é muito boa, dá uma chance pra
ela?" Cara, qual a chance disso acontecer?
Prova disso é a história do Pitt Garcia, galã do pornô dos anos 2000 que
também contou com o apoio familiar.
A Fabi, por exemplo, tava no auge da carreira dela e não achou ruim ter que
contracenar com famosos bem menos experientes do que ela. E não só pela
visibilidade, o cachê dela aumentou junto.
Foi meio difícil conseguir um valor exato que pagavam pras mulheres na época.
Ninguém fala até hoje, talvez até para não causar um climão. Mas a gente sabe
que pelo menos até o ano passado participar da "Casa das Brasileirinhas"
variava entre 3 mil a 5 mil reais. Isso para um pacote de cinco dias, sendo
filmada 24 horas por dia.
A Belinha Baracho, atriz que estava no dia que visitamos o reality das
Brasileirinhas, trabalha há mais de 21 anos na indústria. Ela disse que quando
entrou em 2005 recebia um cachê bem mais alto e tinha muita cena pra gravar.
Para as que fazem programa, a pornografia também serve para aumentar o valor
cobrado dos clientes.
Acho que vale dizer aqui que é muito difícil encontrar uma atriz novata que
acha que vai ficar rica fazendo pornô no Brasil, especialmente o mais
tradicional, aquele dentro das produtoras. Isso deixou de ser um plano de
carreira, agora é mais marketing mesmo.
Mas assim, sendo celebridade ou não, todos os atores e atrizes com quem a
gente conversou falam de umas regras básicas de trabalho: respeitar horários,
não usar drogas. E indo contra o que muita gente fantasia, todos relatam a
mesma coisa: o set, no fim, tem clima familiar.
Marie: De firma mesmo.
A Bruna Ferraz, outra atriz pornô com quem a gente bateu um papo, lembra
dessa época com saudade:
[Entrevista Bruna Ferraz]
Bruna: Eu fui em várias locadoras para dar autógrafos? Foi muito legal, os
caras iam na locadora, se escondiam lá pra tirar foto e a mulher também
estava no carro, era uma curió também. Era uma coisa assim muito, muito
glamurosa, foi muito glamour a pessoa? Imagina, as pessoas vendo naquele
VHS a atriz e a atriz podendo ir lá naquela locadora do bairro. Aí vê a pessoa?
Nossa, era tanta fila? Era tanta foto? Era tanta coisa.
Tiago: Uma das coisas mais importantes nas gravações era garantir que todo o
elenco estivesse com os exames em dias. Isso era primordial em todo trabalho.
Sem exame para detectar ISTs e HIV, ninguém gravava.
[Entrevista Fabi Thompson]
Fabi: O exame era bem rotineiro mesmo. Para tudo o que você fosse, era
gringo, tinha laboratórios específicos que a gente ia. Que você já podia ir.
Tinha produtoras que pegavam a turma toda e ia fazer, você esperava todo
mundo junto receber o seu exame. Tudo junto. E tinha uma coisa que era, as
pessoas pareciam que elas eram mais profissionais, tipo os atores levavam
bem a sério.
Tiago: é um teste muito amplo na verdade, né?
Fabi: Isso, de muitas coisas, exatamente. Várias doenças, de tudo o que for
possível detectar ali para você.
Marie: É uma prática comum no mercado. Até hoje, as produtoras pagam todos
os exames dos atores e todo mundo confere o resultado antes de gravar.
Inclusive, eu vi isso acontecendo na Casa das Brasileirinhas: todo mundo ficou
em volta de uma mesa conferindo o resultado dos testes antes de assinar o
contrato.
Mas não é infalível. Em 2004, caiu uma bomba no pornô, quando a atriz
brasileira Bianca de Biaggi foi acusada de contaminar um ator norte-americano,
causando todo um efeito dominó que levou a outras 6 pessoas contraírem HIV.
A Bianca sumiu de cena logo depois que as denúncias estouraram, mas segundo
uma reportagem da Revista Época, a transmissão rolou por causa de uma
exigência da indústria americana de gravar as cenas sem camisinha. Numa
dessas, algum ator deve ter furado a entrega de exames e deu merda.
Usar ou não camisinha nos filmes pornôs é uma questão complicada. Nos
Estados Unidos, chegaram a banir a gravação de filmes sem preservativo em
Los Angeles, mesmo sob protestos dos trabalhadores da indústria. No Brasil, as
autoridades não têm nenhuma preocupação em saber se tão usando camisinha
ou não num filme pornô - mas, é um item mais comum de aparecer.
A própria Brasileirinhas, por exemplo, exige o uso em todas as produções desde
2014. Eles ainda pedem os exames, mas, pra evitar estresse, tem que usar
camisinha.
Tiago: Em fevereiro de 2022, a indústria brasileira teve que parar mais uma
vez. Segundo reportagem do Ricardo Feltrin pra Folha, três atrizes descobriram
que estavam com HIV. Quando a notícia saiu, todo mundo teve que parar e
revisar os cuidados e exames antes das gravações.
O caso nunca foi esclarecido, mas em off nós ouvimos de gente da área que é
muito mais provável que as atrizes tenham contraído HIV fora da pornografia
ou trabalhando em paralelo, pra pessoas que têm canais no XVideos.
Fora os exames, tem outra coisa super importante que precisa estar em dia pra
todo mundo: a higiene. E claro, as exigências são muito maiores para as
mulheres: tem que se depilar inteira, fazer a unha, a ducha vaginal e anal, a
famosa chuca. Já o homem você sabe como é.
Já essa outra história do Tony Tigrão contou pra gente, eu tenho certeza que
representa o pesadelo de 10 entre cada 10 homens sexualmente ativos, e acho
que mostra também que transar pode ser um esporte radical:
Quando comecei a escrever sobre pornografia dez anos atrás, eu fui com a
cabeça muito focada em ouvir depoimentos de estupro e abuso nos sets de
gravações, mas eu sempre voltava das entrevistas com respostas muito mais
complexas vindas das atrizes.
O lance é que elas me descreviam uma rotina tediosa e normal de trabalho, com
dias bons e ruins. Os abusos rolavam em zonas cinzentas. Às vezes tava
rolando tudo normal no set, mas vinha um diretor ou produtor exigir coisas que
não estavam no contrato ou que simplesmente a garota não queria fazer.
Uma história clássica que a Fabi contou pra gente é quando convenciam uma
garota a fazer pornô com a desculpa de que o filme só seria vendido em outros
países, mas na hora que o filme saía, era outra história.
É por isso que o Clayton, dono da Brasileirinhas, diz que já se antecipa e tenta
desmotivar a garota que tá querendo entrar pro mundo do pornô.
Não, ele não é um cara bonzinho, é só alguém que quer evitar dor de cabeça
depois.
O Tony, por exemplo, não é um cara que passa despercebido na multidão. Ele
tem 44 anos, é um cara alto, corpulento, sorridente e, né, ele tá mais de duas
décadas fazendo pornô. Mas ele não é reconhecido e tietado como as atrizes.
Tiago: É, exceto pelos gays. O próprio Tony falou pra gente que é o público
gay que não deixa essa memória morrer. E eles adoram.
Marie: Obrigada, gays.
[Entrevista Tony Tigrão]
Tony: Porra, demais. O que alimenta o nosso público. Nosso público é 100%
praticamente gay assim.
Marie: Você percebia isso porque isso aí sei lá para coisa de autógrafo em
locadora e era muito muito cara gay? Como é que você percebeu?
Tony: Exatamente. Eu percebi porque quando eu saia assim em algum lugar,
sempre eu era reconhecido mais por gay do que que por homem. Aí eu falava
meu como que era pros hétero reconhecer mais, né? Não os gays. E aí eu
percebi assim.
Marie: A Fabi também chama a atenção. Ela é um mulher bonita, morena de
cabelos longos, traços finos, super fitness. Mas ela faz o inverso do Tony. Hoje,
aos 39 anos, Fabi prefere se misturar na multidão, ser discreta mesmo.
Desde que parou de fazer pornô em 2018, ela diz que evita contato
desnecessário com homens que ela não conhece.
[Créditos]
O podcast "Brasil para Maiores" tem apresentação, roteiro e pesquisa de
Marie Declercq e Tiago Dias. O roteiro também foi feito por Fernando
Cespedes que adaptou o projeto para podcast. O desenho de som e a
montagem são do João Pedro Pinheiro. A produção é da Marie Declercq, da
Natália Mota e do Tiago Dias. O design é do Marcos Antonio Alves de Lima
Júnior. A direção de arte é da Gisele Pungan e do René Cardillo. A
coordenação é da Juliana Carpanez e da Olívia Fraga. O projeto também
conta com Alexandre Gimenez e Antoine Morel, gerentes de conteúdo, e
Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL.
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