Serie Deficiencia Visual Vol5 Cbo BQ
Serie Deficiencia Visual Vol5 Cbo BQ
Serie Deficiencia Visual Vol5 Cbo BQ
DEFICIÊNCIA
VISUAL
Braille!?
O que é isso?
VOLUME V
VOLUME V
Informações
Gerais
AUTOR
Regina Fátima Caldeira de Oliveira
DIREÇÃO EDITORIAL
Itamar Santo Junior
COLABORADORES
Elza Maria de Araujo Carvalho Abreu
Fernanda Christina dos Santos
Maria Cristina Godoy Cruz Felippe
REVISÃO
Bárbara Alves de Carvalho
João Vitor de Andrade
Leticia Nishimoto
IMAGENS
Banco de imagens da Fundação Dorina Nowill para Cegos
I
Apresentação
7
“Agora, a cegueira não é mais uma tragédia”, teria dito o imperador Pedro II de-
pois que José Álvares de Azevedo demonstrou que poderia ler e escrever utilizando
o alfabeto Braille. A singela frase, que não temos certeza se realmente foi proferida
pelo simpático monarca, marcou o início das medidas de prevenção, recuperação e
reabilitação das pessoas portadoras de deficiência visual no Brasil, naquele momento
histórico, materializadas com a inauguração, meses depois, do Imperial Instituto dos
Meninos Cegos, rebatizado de Instituto Benjamin Constant com o advento da República.
De lá para cá, muita coisa mudou e atualmente as pessoas portadoras de deficiên-
cia visual têm inúmeros recursos à disposição, inclusive programas de computador e
aplicativos de celular, que podem tornar suas vidas mais fáceis e pavimentar o caminho
para a Cidadania plena. Na base de todo esse processo, está o alfabeto Braille, sólido
alicerce de um edifício de múltiplas derivações e que está em constante evolução.
Nesta publicação, que se soma às outras quatro que foram editadas por ocasião do
I Fórum Nacional de Atenção à Pessoa com Deficiência Visual (realizado em maio de
2018), a professora Regina Fátima Caldeira de Oliveira nos brinda com uma apresenta-
ção rica e didática sobre o Braille e suas potencialidades e consequências.
“Braille!? O que é isso” editado pela Fundação Dorina Nowill e pelo Conselho Brasi-
leiro de Oftalmologia por ocasião do II Fórum Nacional de Atenção à Pessoa com Defi-
ciência Visual, vem complementar a coleção iniciada no ano passado e marcar a grande
preocupação das entidades envolvidas.
Sabemos que, para a maioria das pessoas portadoras de deficiência visual, ainda
resta um longo caminho a ser percorrido para obter condições razoáveis de mobilidade,
educação, profissionalização, enfim, para a obtenção da Cidadania plena.
Foi para debater as formas de tornar este caminho mais curto que o Conselho Bra-
sileiro de Oftalmologia, a Sociedade Brasileira de Visão Subnormal e outras entidades
promovem este II Fórum e editam este pequeno /grande livro como parte dele.
Boa leitura a todos e um grande encontro para todos nós!
Em 1784, o francês Valentin Haüy fundou, em Paris, o Instituto Real dos Jovens Cegos,
a primeira escola para cegos do mundo. Ali, os alunos eram alfabetizados por meio de
um sistema tátil desenvolvido pelo próprio Haüy, que consistia na impressão dos ca-
racteres comuns em relevo linear nas folhas de papel.
E foi nessa escola de Haüy que ingressou, em 1819, o pequeno Louis Braille, que
transformaria de forma muito importante a vida de todas as pessoas cegas.
12
Sobre Louis Braille
Simon René era um seleiro muito conhecido na
região e sustentava a esposa e os filhos com o fruto
de seu trabalho, realizado em uma oficina localiza-
da na própria casa em que a família morava.
Desde que aprendeu a andar, o pequeno
Louis acostumou-se a ir para a oficina do pai,
onde permanecia por muito tempo brincando
com os retalhos de couro que caíam no chão.
Certo dia, quando estava com três anos de idade,
o garoto resolveu furar um pedaço de couro e, para
Louis Braille, filho do casal Simon René Braille e Monique Baron,
isso, aproveitou-se de um momento de distração de nasceu no dia 4 de janeiro de 1809, em Coupvray, uma cidadezinha
chamado sovela. Aproximando o retalho de couro ao rosto, preparou-se para furá-lo, mas a
sovela resvalou e atingiu seu olho esquerdo, provocando uma grande hemorragia.
Com a ajuda de uma das filhas, Simon socorreu o pequeno Louis e, depois de tratar
o ferimento com remédios caseiros, sem grandes resultados, a família resolveu chamar
o médico de Coupvray, que também encontrou dificuldade para sanar o problema.
Após alguns meses, a infecção que
havia atingido o olho ferido passou
para o olho direito e, embora a família
fizesse todos os esforços para solu-
cionar o problema, aos cinco anos de
idade o menino ficou totalmente cego.
Muito esperto e inteligente, Louis
desde cedo manifestou grande dese-
Ilustração de Louis Braille na oficina de seu pai, momentos antes do acidente que jo de estudar. Em 1815, o velho abade
o deixaria cego.
que havia batizado Louis faleceu e seu
substituto, o abade Jacques Palluy, tornou-se grande amigo da família Braille.
Em 1816, o jovem Antoine Brecheret foi admitido como professor na escola de Cou-
pvray e o abade Palluy pediu-lhe que cuidasse da educação de Louis. Ele concordou e
durante dois anos o menino frequentou a escola como ouvinte.
Ainda preocupado com o futuro da criança, Palluy procurou um rico proprietário da
região, o marquês d’Orvilliers, que concedeu os recursos financeiros para que o menino
fosse levado a Paris onde, aos 10 anos, no dia 15 de fevereiro de 1819, ingressou como
aluno no Instituto Real dos Jovens Cegos.
13
Contudo, o instituto fundado por Valentin
Haüy passava por uma grave crise financeira
e suas instalações eram frias e úmidas. Ali, de
acordo com os padrões da época, a disciplina
era muito rígida. Embora não tenha escapado de
alguns castigos, Braille sempre foi um aluno de-
dicado e brilhante. Entretanto, a falta de livros
e as dificuldades de escrita e leitura o levaram
desde cedo a preocupar-se com a necessidade
de criar um sistema de escrita e leitura que per-
mitisse que as pessoas cegas tivessem uma edu-
Valentin Haüy (1745-1822), fundador da primeira escola para cação de qualidade.
cegos do mundo, o Instituto Real dos Jovens Cegos, de Paris.
Honras militares.
Cerimônia de traslado dos restos mortais de Louis Braille para o Panteão, em 1952. Cerimônia.
IV
A Evolução do
Sistema Braille
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No Mundo
A primeira tentativa de levar o Sistema Braille para fora da França foi do próprio
Louis Braille que, em 1840, escreveu para o diretor da Escola de Cegos de Viena (Áustria)
falando sobre o seu invento, mas, lamentavelmente, não houve qualquer interesse por
parte dos austríacos. A introdução do braille em outros países teve início apenas na
década de 1860, mas no final dos anos 1880 já havia se espalhado por toda a Europa.
Durante o Congresso Internacional de Surdos-Mudos e Cegos de Paris, realizado em
1878, o Sistema Braille foi reconhecido como o melhor método de ensino de escrita e
leitura para cegos em todo o mundo.
Na América do Norte, o braille foi introduzido em 1860, mas a sua aceitação oficial
só aconteceu em 1918.
Na Ásia, entre 1870 e 1880, foram feitas as primeiras tentativas de adaptar o braille
às línguas não europeias. Mas os grandes responsáveis pela introdução do sistema
naquele continente, na África e em outros lugares distantes foram os missionários reli-
giosos, fundadores das primeiras escolas para cegos.
De 1949 a 1951, a Unesco promoveu uma série de reuniões destinadas a padronizar
o braille por grupos linguísticos. O resultado dessas reuniões está registrado no livro A
escrita braille no mundo, publicado pela Unesco em 1953, nos idiomas inglês, francês e
espanhol, reeditado em 1990 e 2013.
A partir da década de 1960, começaram a ser criadas comissões de braille em diferentes
países. Essas comissões, formadas por pessoas que conhecem profundamente o Sistema
Braille e nele reconhecem um instrumento indispensável para a independência, a autonomia
e a educação das pessoas cegas, vêm trabalhando incansavelmente para manter as caracte-
rísticas desse sistema e adaptá-lo à rápida evolução científica e tecnológica de nosso tempo.
Um exemplo dessa preocupação está no símbolo hashtag (#) que, mesmo sendo
bastante recente na escrita em tinta, já possui a sua representação em braille:
No Brasil
O Sistema Braille chegou ao Brasil pelas mãos do jovem
José Álvares de Azevedo, nascido no Rio de Janeiro, em 8 de
abril de 1834. O menino, que já nasceu cego, havia sido en-
viado a Paris aos dez anos de idade para estudar, permane-
cendo lá durante seis anos.
De volta ao Brasil, Azevedo escreveu diversos artigos
para jornais, falando sobre as possibilidades de educação
José Álvares de Azevedo (1834-1854), responsá-
de crianças e jovens cegos. Ele também ensinou o braille a vel pela introdução do Sistema Braille no Brasil.
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diversas pessoas, entre as quais a jovem cega Adélia Sigaud, filha do Dr. Xavier Sigaud,
médico da Corte Imperial.
Azevedo conseguiu, por intermédio do Barão do Rio Bonito, uma entrevista com o im-
perador D. Pedro II, durante a qual fez uma demonstração de leitura e escrita em braille.
Impressionado com o desempenho de Azevedo, o imperador determinou que fossem
tomadas todas as providências para a instalação de uma escola para cegos no Rio de Janeiro.
Assim, no dia 17 de setembro de 1854, foi inaugurado o Imperial Instituto dos Meninos
Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, a primeira escola para cegos da América Latina.
Azevedo, porém, não viu seu sonho
realizar-se, pois faleceu exatamente
seis meses antes do grande acon-
tecimento, no dia 17 de março, em
consequência de uma infecção.
A produção de livros em braille
no Brasil teve início em 1857, com a
instalação de uma tipografia no Im-
perial Instituto dos Meninos Cegos. Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje, Instituto Benjamin Constant, Rio de Janeiro, RJ.
Na Atualidade
No Brasil, o Sistema Braille foi plenamente aceito, empregando-se, a princípio, pratica-
mente toda a simbologia adotada na França. Em 1942, porém, foram necessárias algumas
alterações, em razão da entrada em vigor da reforma ortográfica da Língua Portuguesa. Na
Matemática, passou a ser adotada, nesta mesma década, a Tabela Taylor, de origem inglesa.
Em 1946, iniciou-se uma fase importante no processo educacional de pessoas cegas
no Brasil: a Portaria nº 385, de 8 de junho daquele ano, tornou oficial o Curso Ginasial do
Instituto Benjamin Constant, permitindo aos alunos o acesso aos cursos subsequentes.
Impressora Tiger, que produz, simultaneamente, textos em braille e figuras Publicações em braille que permitem que as pessoas cegas desempenhem
em alto relevo. suas atividades com independência e autonomia.
· Dentro do tema de acessibilidade web, destaque para o Art. 63: "É obriga-
tória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com
sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para
uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações
disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade
adotadas internacionalmente".
· Sobre a produção e edição de livros: "Art. 68. O poder público deve adotar
mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e
à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publica-
ções da administração pública ou financiadas com recursos públicos, com
vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à
informação e à comunicação".
· Sobre os editais de compra de livros: "§ 1º Nos editais de compras de livros,
inclusive para o abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas
em todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o
poder público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação de
editoras que não ofertem sua produção também em formatos acessíveis”.
· Sobre os formatos acessíveis: “§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os
arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares
leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-
-los, permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, dife-
rentes contrastes e impressão em Braille”.
VI
Estrutura
e Uso do
Sistema
Braille
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Cada ponto deve ter 1,5 mm de diâmetro, com altura do relevo em torno de 0,5 mm.
Os sinais do Sistema Braille recebem designações diferentes, de acordo com o es-
paço que ocupam.
Os sinais que ocupam uma só cela denominam-se sinais simples.
Aqueles em cuja constituição figuram os pontos 1 e/ou 4, mas em que não entram
os pontos 3 nem 6, chamam-se sinais superiores.
Os que são constituídos por qualquer conjunto dos pontos 1, 2 e/ou 3, dizem-se
sinais da coluna esquerda.
Os que são constituídos por qualquer conjunto dos pontos 4, 5 e/ou 6, dizem-se
sinais da coluna direita.
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Chamam-se sinais compostos os que se obtêm combinando dois ou mais sinais simples.
1ª série
2ª série
3ª série
4ª série
5ª série
6ª série
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7ª série
A 1ª série é constituída por 10 sinais, todos superiores, pelo que é denominada sé-
rie superior. Serve de base às 2ª, 3ª e 4ª séries, bem como de modelo à 5ª.
A 2ª série obtém-se juntando a cada um dos sinais da 1ª o ponto 3.
A 3ª série resulta da adição dos pontos 3 e 6 aos sinais da série superior.
A 4ª série é formada pela junção do ponto 6 a cada um dos sinais da 1ª.
A 5ª série é toda formada por sinais inferiores, pelo que também é chamada série
inferior, e reproduz formalmente a 1ª.
A 6ª série não deriva da 1ª e desenvolve-se pelos pontos 3, 4, 5 e 6, e consta apenas
de 6 sinais.
A 7ª série, que também não se baseia na 1ª, é formada unicamente pelos 7 sinais
da coluna direita.
A escrita braille se faz ponto a ponto na reglete ou letra a letra na máquina braille
ou no computador.
1. Alfabeto
Quando, no original em tinta, as iniciais das siglas são seguidas de ponto abreviati-
vo, antepõe-se a cada uma delas o sinal simples . Exemplo:
6. Números
Os caracteres da 1ª série, precedidos do sinal , representam os algarismos de um
a zero. Quando um número é formado por dois ou mais algarismos, só o primeiro é
precedido deste sinal.
VII
Técnicas de
Escrita Braille
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As regletes, uma variação do aparelho de escrita inventado por Louis Braille, são
ainda muito usadas pelas pessoas cegas. Sejam modelos de mesa ou de bolso, con-
sistem, basicamente, de duas placas de metal ou de plástico, fixas de um lado com
dobradiças, de modo a permitir a introdução do papel.
A placa superior funciona como uma
primitiva régua e possui os retângulos vaza-
dos correspondentes às celas braille. Dire-
tamente sob cada retângulo vazado, a placa
inferior possui, em baixo-relevo, a configu-
ração da cela braille. Ponto por ponto, com
o auxílio do punção, é possível formar o
Escrita com reglete e punção.
símbolo braille desejado.
Na reglete original, escreve-se da direita para a esquerda, na sequência normal das
letras ou símbolos. Retirado o papel da reglete, coloca-se o relevo para frente e faz-se
a leitura normalmente, da esquerda para a direita.
Na reglete positiva, escreve-se normalmente da esquerda para a direita na sequência
normal das letras e/ou símbolos. Em função da estrutura dessa reglete, automaticamente
o relevo dos pontos já fica sobressalente, não havendo a necessidade de inverter o papel
de lado para leitura.
Conhecendo-se a posição dos pontos correspondentes a cada letra ou símbolo, a
escrita e a leitura do braille produzido por meio de regletes não apresentam maiores
dificuldades. A utilização da reglete e do punção pode tornar-se tão automática para
uma pessoa cega como a utilização do lápis e do papel por uma pessoa com visão
normal (vidente).
Além da reglete, o braille pode ser pro-
duzido por meio de máquinas especiais de
datilografia, que contam com seis teclas
para a produção dos símbolos. O papel é
fixado e enrolado em rolo comum, desli-
zando sempre que pressionada a tecla de
mudança de linha. O toque de uma ou mais
Máquina de datilografia braille, marca Perkins.
teclas, simultaneamente, produz a combi-
nação dos pontos, em relevo, correspondentes ao símbolo desejado. O braille é produ-
zido da esquerda para a direita, podendo ser lido sem a retirada do papel da máquina.
Existem diversos tipos de máquinas de datilografia braille. A primeira delas foi in-
ventada em 1892, por Frank H. Hall, nos Estados Unidos.
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Os avanços tecnológicos representados por softwares especiais, impressoras e
equipamentos como Braille Falado, Braille Light, linha braille e outros, vieram facilitar
o acesso das pessoas com deficiência visual à educação, à informação e à cultura. O
computador tornou-se um instrumento indispensável ao desempenho das atividades
de muitos profissionais cegos.
As novas tecnologias têm também propiciado o au-
mento da oferta de livros em braille. No Brasil, existem
duas grandes imprensas braille: uma na Fundação Dori-
na Nowill para Cegos, considerada a maior gráfica brail-
le da América Latina, em São Paulo, e outra no Instituto
Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. Nessas imprensas,
os livros são produzidos a partir de matrizes de alumí-
nio, formulário contínuo ou folhas soltas, utilizando-se
impressoras de diversos
modelos e de grande ve-
locidade, conectadas a
Revisora utilizando uma linha braille conectada
ao computador. computadores.
A impressão do relevo pode ser feita nos dois lados
do papel ou da matriz (braille interpontado), ficando
os pontos dispostos de tal forma que a impressão de
um lado não coincide com a impressão do lado oposto, Impressora Braille Box V5.
VIII
Técnicas
de Leitura
Braille
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A leitura por meio do Sistema Braille
não apresenta muitas dificuldades em re-
lação à leitura em tinta. Da mesma forma
que a leitura em tinta, a leitura em brail-
le é realizada da esquerda para a direita,
de cima para baixo. Os elementos básicos
do processo de aquisição da leitura são
os mesmos para os cegos e videntes. A
criança, possuindo ou não visão, vai se deparar com símbolos gráficos que, no começo,
carecem totalmente de conteúdo, variando unicamente as vias sensoriais (visão ou
tato). Compreender, experimentar, perceber e conceituar são fatores fundamentais no
processo de ensino-aprendizagem da leitura.
A leitura tátil é realizada letra a letra, e não por meio do reconhecimento de pala-
vras completas, como acontece com a leitura em tinta. Trata-se, portanto, de uma tarefa
lenta, a princípio, e que requer grande concentração. Conseguir maior velocidade não
é apenas questão de esforço, mas também de técnica e prática. Basicamente, são três
as técnicas empregadas:
Durante quase dois séculos, o braille vem sendo utilizado como o meio natural de
escrita e leitura das pessoas cegas, reconhecido como o instrumento mais preciso e
eficaz para que os que já nasceram cegos ou perderam a visão nos primeiros anos de
vida tenham acesso ao conhecimento e formem conceitos sobre seres, objetos, formas
e realidades que a falta da visão lhes torna inacessíveis.
Estudos recentes mostram que a leitura é imprescindível para o desenvolvimento
cognitivo das crianças.
Mesmo diante de um laptop, um tablet, um smartphone, as crianças que enxergam
continuam a ter um contato direto com a linguagem escrita, enquanto as crianças cegas
apenas ouvem.
Cabe aos pais ou responsáveis e aos professores estimular as crianças cegas a utili-
zar o Sistema Braille de maneira adequada e cabe aos governantes oferecer os recursos
indispensáveis para que isto se concretize. Caso contrário, estaremos transformando
estas crianças em analfabetos funcionais.
O rápido avanço tecnológico ocorrido a partir da década de 1950 permitiu que as pes-
soas cegas pudessem se beneficiar de novas formas de leitura. O livro falado (audiobook)
e, mais recentemente, o livro digital acessível DAISY e, agora, em EPUB 3 vieram, sem dúvida,
garantir o acesso mais rápido à cultura, à informação e ao lazer. No entanto, o Sistema Brail-
le continua a ser o meio natural de escrita
e leitura das pessoas cegas, imprescindível
para que elas tenham acesso direto à or-
tografia e à representação da simbologia
científica, musicográfica e fonética.
Além de representar as diferentes sim-
bologias, o Sistema Braille permite a elabo-
ração de gráficos, tabelas, diagramas, figuras Página inicial da Dorinateca ( http://www.dorinateca.org.br/link/241524 ).
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geométricas e outras ilustrações, que contribuem significa-
tivamente para o desenvolvimento pessoal, educacional e
cultural das pessoas cegas. Por meio de pontos em relevo
também é possível a construção de mapas, plantas e ma-
quetes com suas respectivas legendas.
O Sistema Braille tem também um papel relevante no dia
a dia de muitas pessoas cegas: a identificação de embalagens de alimentos, medicamentos,
produtos de maquiagem e cosméticos, de peças do vestuário, de CDs e DVDs, a consulta de
calendários, cardápios (em alguns municípios brasileiros, o cardápio acessível em braille é obri-
gatório por lei), catálogos e programas de apresentações artísticas etc., garantem maior inde-
pendência, autonomia e segurança, fatores indispensáveis à autoestima de todo ser humano.
Já nas séries mais adiantadas, torna-se necessário oferecer aos alunos textos gra-
vados ou digitalizados; no entanto, o braille continua a ser imprescindível para os livros
de línguas estrangeiras, Matemática, Física, Química e Biologia.
A substituição de representações táteis (mapas, gráficos, diagramas, figuras geomé-
tricas) só deve ocorrer quando houver a total impossibilidade de representá-las em
braille. Se necessário substituí-las por descrições, estas devem ser feitas com clareza
e objetividade, sem omissão ou excesso de informações. Daí a necessidade de que os
profissionais que trabalham na produção dos livros sejam devidamente preparados.
Recursos como histórias em quadrinhos, tiras, charges etc. não devem ser omitidos.
Uma descrição fiel e clara faz deles um excelente estímulo à leitura e oferece aos alu-
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nos cegos uma oportunidade de lazer quase tão agradável quanto aquela desfrutada
pelos alunos que enxergam.
Além disso, a produção de livros didáticos em braille merece outros cuidados espe-
ciais, embora nem sempre seja possível seguir alguns deles à risca:
· DAISY Consortium
www.dorinateca.org.br/link/241568
· Dorinateca
www.dorinateca.org.br/link/241524
· Readium Foundation
www.dorinateca.org.br/link/241625
· Soluções em Acessibilidade
www.dorinateca.org.br/link/241636
· Tratado de Marraqueche
www.dorinateca.org.br/link/241647
Bibliografia
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a Língua Portuguesa. Brasília: MEC ; SEESP, 2002. 93 p.
LEMOS, Edison Ribeiro. A educação dos cegos. Revista Contato, São Paulo, ano 6, p.
7-19, set. 2000. Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual.
LEMOS, Edison Ribeiro; CERQUEIRA, Jonir Bechara; VENTURINI, Jurema Lucy; ROSSI,
Teresinha Fleury de Oliveira. Louis Braille: sua vida e seu sistema. 2ª ed. São Paulo:
Fundação Dorina Nowill para Cegos, 1999.
NOWILL, Dorina de Gouvêa. ...E eu venci assim mesmo. Totalidade Editora: São Paulo,
1996. 290 p.
OLIVA, Filipe Pereira. O braille na informação. In: Anais do I Simpósio Brasileiro sobre
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UNESCO; National Library Service for the Blind; Physically Handicapped. World Brail-
le Usage. Library of Congress: Washington, D.C., 1990. 124 p.
46
Sobre as Autoras
Da esquerda para a direita: Regina e Cristina (sentadas), Fernanda e Elza (em pé).