Teoria Geral Dos Direitos Humanos
Teoria Geral Dos Direitos Humanos
Teoria Geral Dos Direitos Humanos
Conceito
Os Direitos Humanos formam um conjunto de normas jurídicas nacionais e internacionais
que buscam assegurar um patamar mínimo de dignidade para todo e qualquer ser humano.
Âmbito internacional
São normas de Direitos Humanos:
a) tratados internacionais;
b) costumes;
c) princípios gerais do Direito Internacional.
Âmbito Nacional
No âmbito interno destacam-se:
a) constituição;
b) leis específicas;
c) atos normativos secundários (decretos executivos).
Características
• Historicidade
• Universalidade
• Irrenunciabilidade
• Inalienabilidade
• Imprescritibilidade
1ª Dimensão 2ª Dimensão 3ª Dimensão
Liberdade Igualdade Fraternidade
Direitos civis e políticos Direitos sociais, Direitos coletivos e difusos
culturais e econômicos
Incorporação
Incorporação dos Tratados (fases):
a) negociação
b) assinatura
c) mensagem ao Congresso
d) aprovação mediante decreto legislativo
e) ratificação
f) promulgação mediante decreto presidencial
Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos, aprovados na forma do
art. 60, da Constituição, equivalem as Emendas Constitucionais (posição hierárquica
constitucional).
Tratados sobre Direitos Humanos aprovado com base no rito tradicional terá estatura
“supralegal”, isto é, estará abaixo da Constituição, mas acima das leis.
Sistemas de Proteção
A ONU (Organização das Nações Unidas) é a responsável pela coordenação do sistema global
(ou universal) de Direitos Humanos.
A OEA (Organização do Estados Americanos) é a responsável pela coordenação do sistema
regional americano.
Sistema Global (ONU)
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão
e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Sistema Interamericano (OEA)
Os Estados americanos adotaram uma série de instrumentos internacionais que se converteram
na base de um sistema regional de promoção e proteção dos direitos humanos, conhecido como
o Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
Sistema Interamericano
Através da OEA foram criados dois órgãos destinados a velar por sua observância:
• Comissão Interamericana de Direitos Humanos
• Corte Interamericana de Direitos Humanos
Comissão Americana
Sua função é promover a observância e a defesa dos direitos humanos e servir como órgão
consultivo da Organização dos Estados Americanos nesta matéria.
Corte Interamericana
Órgão judicial autônomo que tem sede em São José da Costa Rica, cujo propósito é aplicar e
interpretar a Convenção Americana de Direitos Humanos e outros tratados de Direitos Humanos.
De acordo com a Convenção, só os Estados Partes e a Comissão têm direito a submeter um
caso à decisão da Corte.
Sentenças
As sentenças da Corte são insuscetíveis de apelação, possuindo caráter definitivo, inapelável e
vinculante.
História
Ao longo da história, a noção de dignidade da pessoa humana e seus direitos correlatos,
deve-se em grande parte a dor física e ao sofrimento moral da humanidade.
Limitação do Poder
A consciência histórica dos direitos humanos somente aconteceu após extenso trabalho
preparatório, centralizado na limitação do poder político.
Declaração de Direitos
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789) confirma a ideia de liberdade e
igualdade dos seres humanos e reconhece a fraternidade, ou seja, a exigência de uma
organização solidária da vida em comum.
Os direitos declarados em 1789 presumem preexistência. Esses direitos derivam da natureza
humana, são naturais. São direitos abstratos, do Homem, e não apenas de franceses, de
ingleses etc.
Características
São direitos imprescritíveis, não se perdem com o passar do tempo, pois se prendem à
natureza imutável do ser humano.
São inalienáveis, pois ninguém pode abrir mão da própria natureza.
São individuais, porque cada ser humano é um ente perfeito e completo, mesmo se
considerado isoladamente, independentemente da comunidade (não é um ser social que só se
completa na vida em sociedade).
São universais, pois pertencem a todos os homens, em consequência estendem-se por todo o
campo aberto ao ser humano, potencialmente o universo.
Direitos Sociais
Afirmação Histórica
O movimento atual é no sentido de que a liberdade e a igualdade saiam do mundo teórico,
meramente formal e se transponham para o cotidiano das pessoas e, portanto, para vida real.
Origem
A proteção internacional aos direitos humanos teve início com a chamada proteção diplomática,
cuja origem se deu no sistema das cartas de represálias, sistema no qual aquele que sofreu
algum dano em território estrangeiro apela para o Estado de sua nacionalidade para que este
exija a reparação do Estado responsável pelo dano.
Fundamento
O fundamento da proteção diplomática está no dever internacional de todos os Estados de
fornecer um tratamento considerado internacionalmente adequado aos estrangeiros em seu
território. O dano ao estrangeiro é um dano indireto ao Estado de sua nacionalidade.
Natureza Individual
A natureza das obrigações de proteção aos direitos humanos consagra o indivíduo como
principal preocupação da responsabilidade internacional por violação dos direitos humanos.
Regulamentação
Após várias tentativas de codificar esta responsabilidade internacional foi somente em 2001 que
se fez um projeto de convenção sobre o assunto, que possui 58 artigos divididos em quatro
partes.
Justificativa
O conceito de responsabilidade é justificado pelo fato do ser humano ter o direito de ser
respeitado enquanto pessoa e de não ser prejudicado em sua existência.
Fundamento
O fundamento da responsabilidade é alterum nom laedere, honest vivere e suum cuique
tribuere, ou seja, não lesar ao próximo, viver honestamente e dar a cada um o que é seu.
Elementos da Responsabilidade
Ocorrência de um suporte fático, nexo causal entre o fato, ou ato e o dano, além da culpa (em
sentido amplo) da conduta lesiva.
Consequência
Dever de reparação imputado a alguém, não necessariamente ao causador do dano. Além da
pretensão reparatória ou indenizatória, a responsabilidade internacional por violação dos direitos
humanos tem ainda a pretensão punitiva da responsabilidade criminal.
Direito Internacional
A responsabilidade é essencial ao sistema jurídico internacional, sendo seu fundamento o
princípio da igualdade soberana entre os Estados.
Espécies de Responsabilidade
A responsabilidade pode ser dividida em duas grandes espécies, a penal e a civil.
Elementos da Responsabilidade
O fato ilícito é composto por um elemento subjetivo e outro objetivo. O subjetivo é a
identificação da conduta atribuída a determinado Estado e o objetivo é o nexo entre a conduta
estatal e a violação da obrigação internacional.
Imputabilidade do Estado
O Estado enquanto ente público comete atos ilícitos através de seus agentes sendo necessário
avaliar quais desses atos podem vincular o Estado.
Obrigação
O Brasil, ao ratificar tratados internacionais de direitos humanos, assume a obrigação
internacional de respeitar e garantir direitos humanos devendo zelar que os atos dos poderes
executivo, judiciário e legislativo sejam compatíveis com os direitos elencados nestes tratados.
Poder Executivo
O principal infrator dos direitos humanos é o poder executivo. Os agentes públicos deste poder
violam as regras internacionais quando agindo de acordo com as normas internas ou de modo
ultra vires ou ainda se omitindo injustificadamente ofendem direitos humanos.
Ultra Vires
Atos ultra vires ocorrem quando determinado órgão estatal atua excedendo os limites de sua
competência fixados pelo Estado. O Estado pela sua própria conduta em escolher o agente que
ultrapassou as competências oficiais do órgão, responde pela escolha dos mesmos.
Poder Legislativo
Quanto ao Poder Legislativo, a violação de direitos humanos por leis internas é feita, em
geral, de modo indireto. Com efeito, são atos administrativos ou judiciais que, embasados
em leis, violam direitos humanos.
Poder Judiciário
A responsabilização internacional do Estado por violação de direitos humanos originada por ato
judicial pode ocorrer em duas hipóteses: quando a decisão é tardia ou inexistente, ou quando a
decisão judicial viola direitos humanos
Esgotamento Interno
Originalmente esta regra era aplicada aos litígios entre Estado e o estrangeiro, tentando evitar
um possível confronto entre o Estado de origem do estrangeiro e o Estado litigante. Por isso a
necessidade de esgotar os mecanismos internos de reparação, antes de a questão ser
analisada pelo direito internacional.
Investigação e Punição
É dever dos Estados a investigação e punição dos responsáveis por violações dos direitos
humanos, de modo a prover reparações às vítimas de tais violações. Possui caráter preventivo,
combatendo a impunidade para evitar a repetição dos atos que violem os direitos humanos.
Reparação
Entende-se por reparação a consequência maior da violação de obrigação internacional, ou seja,
toda e qualquer conduta do Estado infrator para eliminar as consequências do fato
internacionalmente lícito, o que compreende uma série de atos, inclusive as garantias de não-
repetição.
Titular da Reparação
Discute-se quem deve obter a reparação se o indivíduo ou o Estado, já que são os Estados
os titulares do direito de exigir reparação em face de violação de norma internacional. Na
proteção aos direitos humanos busca-se a responsabilização internacional do Estado a fim de
reparar o dano sofrido pelo indivíduo.
Na área dos Direitos Humanos prevalece à proteção ao indivíduo devendo-se aceitar a
titularidade da vítima no direito a obter a reparação. “A indenização é devida não ao
Estado vítima, mas sim, ao indivíduo titular do direito protegido, que foi violado por conduta
imputável ao Estado autor”.
Danos Morais
Quando a reparação consistir em compensar danos imateriais obtidos por conduta ilícita de um
Estado, se está diante da satisfação, que é a reparação por danos morais que consistem em
danos a dignidade e a honra do Estado.
Satisfação
São exemplos de satisfação o pedido de desculpas, admissão da responsabilidade do Estado, a
declaração de Tribunal da ilegalidade da conduta estatal, garantia de não repetição e o
pagamento de uma soma simbólica pela conduta, feito voluntariamente pelo Estado infrator.
Outras Satisfações
Reabilitação que vem a ser o apoio médico e psicológico às vítimas de violações de direitos
humanos. Estabelecimento de datas comemorativas em homenagem as vítimas e ainda a
inclusão em manuais escolares de textos relatando as violações de direitos humanos.
Sanções
Sanção é toda medida tomada como reação ao descumprimento anterior de obrigação
internacional.
Obrigação Erga Omnes
A violação aos direitos humanos gera obrigação erga omnes, pois nasce da violação de
obrigação perante a comunidade internacional gerando como consequência o direito por parte
de todos os Estados da comunidade internacional de exigir seu respeito.
Sanções Coletivas
Enumeradas no art. 41 da Carta da ONU podem ser: ruptura das relações econômicas e
comerciais entre os Estados, interrupção das comunicações por via aérea, terrestre e
marítima e a proibição de venda de determinados produtos ao país violador, entre outras.
Superação
Antigamente havia uma conexão imediata entre Direitos Humanos e direitos políticos
(direitos de primeira dimensão), contudo essa visão e sua correlação com a democracia,
encontra-se ultrapassada, ao menos no mundo ocidental.
Os Direitos Humanos encontram-se espaçados pela Constituição de 1988. A “humanização”
do constituinte de 1987-88 se deve, principalmente, em razão da celebração de diversos
tratados internacionais de proteção dos Direitos Humanos.
A “democratização” do Brasil recepcionou uma série de Direitos Humanos no texto constitucional
de 1988. A dificuldade atual não é mais positivar os Direitos Humanos, mas sim torná-los
plenamente eficazes.
Princípios Fundamentais
Os princípios fundamentais (arts. 1º ao 4º) revelam a grande preocupação do
legislador constituinte em adequar o texto constitucional brasileiro à realidade
internacional dos Direitos Humanos.
O art. 1º, prevê que o Brasil se constitui em “Estado Democrático de Direito” e
possui, entre outros, os seguintes fundamentos: cidadania (II); dignidade da
pessoa humana (III); os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (IV) e o
pluralismo político (V).
O art. 3º, da CRFB, expõe os objetivos do Brasil.
O art. 4º apresenta os princípios de regência internacional: prevalência dos direitos
humanos (II); autodeterminação dos povos (III); defesa da paz (VI); solução pacífica dos
conflitos (VII); repúdio ao terrorismo e ao racismo (VIII); cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade (IX).
Direitos Fundamentais
A Constituição organizou os direitos fundamentais (gênero) em cinco espécies:
individuais e coletivos (art. 5º); sociais (arts. 6º ao 11); nacionalidade (arts. 12 e 13); políticos
(arts. 14 ao 16) e partidos políticos (art. 17).
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade.
São remédios constitucionais (ações garantidoras): habeas corpus, habeas data,
mandado de segurança (individual e coletivo), mandado de injunção e ação popular.
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
O direito a nacionalidade (nato e naturalizado) é outro Direito Humano assegurado
pela Constituição.
A participação política é outro Direito Humano assegurado pela Constituição nos
seguintes termos: a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
plebiscito, referendo e iniciativa popular.
A Constituição trata dos direitos dos partidos políticos nos seguintes termos: é livre a
criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional,
o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana.
Ordem Econômica
Ordem Social
A Ordem Social entre outros temas trata da previdência social, saúde e assistência
social. Educação, cultura e desporto são temas também relacionados aos Direitos
Humanos tratados nesta parte da Constituição.
Comunicação social, meio ambiente, família, criança, adolescente, jovem, idoso e
índios são temas considerados pela Constituição quando trata da Ordem Social.
Direitos Humanos
A Constituição de 1988 apresenta um texto rígido, mas aberto para as inovações dos direitos
humanos. Os novos direitos que estão surgindo deverão ser em breve positivados no sistema
legal, visto que sua supressão poderá causar discriminação, cerceamento da liberdade e
redução da igualdade.
Interpretação
Interpretar é explicar, esclarecer; dar significado ao vocábulo; reproduzir por outras
palavras um pensamento exteriorizado; revelar o sentido de uma expressão; extrair, de uma
frase, sentença ou norma, tudo o que a mesma contém.
Interpretar os Direitos Humanos significa buscar um equilíbrio entre o direito
natural e o direito positivo, tendo como base fundamental a dignidade da pessoa
humana,
e daí extrair a interpretação mais favorável à proteção do ser humano no caso concreto.
Direitos Humanos
A Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Viena, no ano de 1993 assentou
que “todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-
relacionados”.
Declaração Universal
Com o fim da II Guerra Mundial houve uma tomada de consciência universal, com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, “fundada na garantia da intangibilidade da
dignidade da pessoa humana, na aquisição da igualdade entre as pessoas, na busca da
efetiva liberdade, na realização da justiça”.
Características
O direito positivo não pode contrariar ou negar vigência aos Direitos Humanos consagrados
universalmente por serem indisponíveis e insupríveis, dado ao seu caráter de norma de valor
supraconstitucional ou de natureza supre estatal.
Dignidade Humana
O valor da dignidade da pessoa humana impõe-se como núcleo básico e informador de todo e
qualquer ordenamento jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar a interpretação
e compreensão de qualquer sistema normativo.
Princípio Fundamental
O mais precioso valor da ordem jurídica brasileira, erigido como princípio fundamental pela
Constituição de 1988, foi a dignidade da pessoa humana, que impõe a elevação do ser humano
ao ápice de todo o sistema jurídico, sendo-lhe atribuído o valor supremo de alicerce da ordem
jurídica.
Complementariedade
Quando se trata de Direitos Humanos as normas não se excluem, mas se complementam.
Diante de um conflito de normas, ao invés de aplicar as regras jurídicas de solução de
antinomias (critério cronológico, hierárquico ou da especialidade) ambas as normas devem ser
aplicadas de forma complementar, buscando-se a melhor forma de se proteger a dignidade da
pessoa.
Critério “pro-homine”
No âmbito dos Direitos Humanos os critérios cronológicos, hierárquico ou da especialidade
podem ser desconsiderados na hipótese de conflito entre normas a fim de que se aplique a
norma mais favorável ao ser humano. Essa é a essência de aplicação do princípio “pro-homine”.