QUÂNTICA

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Mecânica Quântica

A mecânica quântica é a teoria física que obtém sucesso no estudo dos sistemas físicos
cujas dimensões são próximas ou abaixo da escala atômica, tais como moléculas, átomos,
elétrons, prótons e de outras partículas subatômicas, muito embora também possa
descrever fenômenos macroscópicos em diversos casos.

A Mecânica Quântica é um ramo fundamental da física com vasta aplicação. A teoria


quântica fornece descrições precisas para muitos fenômenos previamente inexplicados tais
como a radiação de corpo negro e as órbitas estáveis do elétron. Apesar de na maioria dos
casos a Mecânica Quântica ser relevante para descrever sistemas microscópicos, os seus
efeitos específicos não são somente perceptíveis em tal escala.

Por exemplo, a explicação de fenômenos macroscópicos como a super fluidez e a


supercondutividade só é possível se considerarmos que o comportamento microscópico da
matéria é quântico. A quantidade característica da teoria, que determina quando ela é
necessária para a descrição de um fenômeno, é a chamada constante de Planck, que tem
dimensão de momento angular ou, equivalentemente, de ação.

A mecânica quântica recebe esse nome por prever um fenômeno bastante conhecido dos
físicos: a quantização. No caso dos estados ligados (por exemplo, um elétron orbitando em
torno de um núcleo positivo) a Mecânica Quântica prevê que a energia (do elétron) deve ser
quantizada. Este fenômeno é completamente alheio ao que prevê a teoria clássica.

Princípio da incerteza de Heisenberg

O princípio da incerteza consiste num enunciado da mecânica quântica formulado em 1927


por Werner Heisenberg. Tal princípio estabelece um limite na precisão com que certos pares
de propriedades de uma dada partícula física, conhecidas como variáveis complementares
(tais como posição e momento linear), podem ser conhecidos. Em seu artigo de 1927,
Heisenberg propõe que em nível quântico quanto menor for a incerteza na medida da
posição de uma partícula, maior será a incerteza de seu momento linear e vice-versa.

O princípio da incerteza é um dos aspectos mais conhecidos da física do século XX e é


comumente apresentado como um exemplo claro de como a mecânica quântica se
diferencia das premissas elementares das teorias físicas clássicas. Isso porque na
mecânica clássica quando conhecemos as condições iniciais conseguimos com precisão
determinar o movimento e a posição dos corpos de forma simultânea. Ainda que o princípio
da incerteza tenha sua validade restrita ao nível subatômico, ao inserir valores como
indeterminação e probabilidade no campo do experimento empírico, tal princípio constitui
uma transformação epistemológica fundamental para a ciência do século XX.

Expressão

Pode-se exprimir o princípio da incerteza nos seguintes termos:


O produto da incerteza associada ao valor de uma coordenada xi e a incerteza associada
ao seu correspondente momento linear pi não pode ser inferior, em grandeza, à constante
reduzida de Planck. Em termos matemáticos, exprime-se assim:

A explicação disso não é fácil de se entender, e fala mesmo em favor da intuição, embora o
raciocínio clássico e os aspectos formais da análise matemática tenham levado os cientistas
a pensarem diferentemente por muito tempo. Quando se quer encontrar a posição de um
elétron, por exemplo, é necessário fazê-lo interagir com algum instrumento de medida,
direta ou indiretamente. Por exemplo, faz-se incidir sobre ele algum tipo de radiação. Tanto
faz aqui que se considere a radiação do modo clássico - constituída por ondas
eletromagnéticas - ou do modo quântico - constituída por fótons. Caso se queira determinar
a posição do elétron, é necessário que a radiação tenha comprimento de onda da ordem da
incerteza com que se quer determinar a posição.

Neste caso, quanto menor for o comprimento de onda (maior frequência), maior será a
precisão. Contudo, maior será a energia cedida pela radiação (onda ou fóton) em virtude da
relação de Planck entre energia e frequência da radiação

e o elétron sofrerá um recuo tanto maior quanto maior for essa energia, em virtude do efeito
Compton. Como consequência, a velocidade sofrerá uma alteração não de todo previsível,
ao contrário do que afirmaria a mecânica clássica.

Argumentos análogos poderiam ser usados para se demonstrar que ao se medir a


velocidade com precisão, alterar-se-ia a posição de modo não totalmente previsível.

Resumidamente, pode-se dizer que tudo se passa de forma que quanto mais precisamente
se medir uma grandeza, forçosamente mais será imprecisa a medida da grandeza
correspondente, chamada de canonicamente conjugada.

Algumas pessoas consideram mais fácil o entendimento através da analogia. Para se


descobrir a posição de uma bola de plástico dentro de um quarto escuro, podemos emitir
algum tipo de radiação e deduzir a posição da bola através das ondas que "batem" na bola
e voltam. Se quisermos calcular a velocidade de um automóvel, podemos fazer com que ele
atravesse dois feixes de luz, e calcular o tempo que ele levou entre um feixe e outro. Nem
radiação nem a luz conseguem interferir de modo significativo na posição da bola, nem
alterar a velocidade do automóvel. Mas podem interferir muito tanto na posição quanto na
velocidade de um elétron, pois aí a diferença de tamanho entre o fóton de luz e o elétron é
pequena. Seria, mais ou menos, como fazer o automóvel ter de atravessar dois troncos de
árvores (o que certamente alteraria sua velocidade), ou jogar água dentro do quarto escuro,
para deduzir a localização da bola através das pequenas ondas que baterão no objeto e
voltarão; mas a água pode empurrar a bola mais para a frente, alterando sua posição. Desta
forma torna-se impossível determinar a localização real desta bola, pois a própria
determinação mudará a sua posição. Apesar disto, a sua nova posição pode ser ainda
deduzida, calculando o quanto a bola seria empurrada sabendo a força das ondas
obtendo-se uma posição provável da bola e sendo provável que a bola esteja localizada
dentro daquela área.

Natureza da medida em mecânica quântica

Como se pode depreender da argumentação acima exposta, a natureza de uma medida


sofre sérias reformulações no contexto da mecânica quântica. De fato, na mecânica
quântica uma propriedade leva o nome de observável, pois não existem propriedades
inobserváveis nesse contexto. Para a determinação de um observável, é necessário que se
tenha uma preparação conveniente do aparato de medida, a fim de que se possa obter uma
coleção de valores do ensemble de entes do sistema. Se não puder montar, ao menos
teoricamente (em um Gedankenexperiment) uma preparação que possa medir tal grandeza
(observável), então é impossível determiná-la naquelas condições do experimento.

Uma comparação tornará mais clara essa noção. No experimento de difração da dupla
fenda, um feixe de elétrons atravessando uma fenda colimadora atinge mais adiante duas
outras fendas paralelas traçadas numa parede opaca.

Do lado oposto da parede opaca, a luz, atravessando as fendas simultaneamente, atinge


um anteparo. Se se puser sobre este um filme fotográfico, obtém-se pela revelação do filme
um padrão de interferência de zonas claras e escuras. Esse resultado indica uma natureza
ondulatória dos elétrons, resultado esse que motivou o desenvolvimento da mecânica
quântica.

Entretanto, pode-se objetar e afirmar-se que a natureza dos elétrons seja corpuscular, ou
seja, composta de partículas. Pode-se então perguntar por qual fenda o elétron atravessou
para alcançar o anteparo. Para determinar isso, pode-se pôr, junto de cada fenda, uma
pequena fonte luminosa que, ao menos em princípio, pode indicar a passagem dos elétrons
por tal ou qual fenda. Entretanto, ao fazê-lo, o resultado do experimento é radicalmente
mudado. A figura de interferência, antes presente, agora dá lugar a uma distribuição
gaussiana bimodal de somente duas zonas claras em meio a uma zona escura, e cujos
máximos se situam em frente às fendas.

Isso acontece porque as naturezas ondulatória e corpuscular do elétron não podem ser
simultaneamente determinadas. A tentativa de determinar uma inviabiliza a determinação
da outra. Essa constatação da dupla natureza da matéria (e da luz) leva o nome de princípio
da complementaridade.

Essa analogia serve para mostrar como o mundo microfísico tem aspectos que diferem
significativamente do que indica o senso comum.

Para se entender perfeitamente o alcance e o real significado do princípio da incerteza, é


necessário que se distingam três tipos reconhecidos de propriedades dinâmicas em
mecânica quântica:
Propriedades compatíveis: são aquelas para as quais a medida simultânea e
arbitrariamente precisa de seus valores não sofre nenhum tipo de restrição básica.
Exemplo: a medição simultânea das coordenadas x, y e z de uma partícula. A medição
simultânea dos momentos px,py e pz de uma partícula.
Propriedades mutuamente excludentes: são aquelas para as quais a medida simultânea é
simplesmente impossível. Exemplo: se um elétron está numa posição xi, não pode estar
simultaneamente na posição diferente xj.
Propriedades incompatíveis: são aquelas correspondentes a grandezas canonicamente
conjugadas, ou seja, aquelas cujas medidas não podem ser simultaneamente medidas com
precisão arbitrária. Em outras palavras, são grandezas cujas medidas simultâneas não
podem ser levadas a cabo em um conjunto de subsistemas identicamente preparados
(ensemble) para este fim, porque tal preparo não pode ser realizado. Exemplos: as
coordenadas x,y e z e seus correspondentes momentos px,py e pz, respectivamente. As
coordenadas angulares θi e os correspondentes momentos angulares Ji.

Observáveis e operadores

No formalismo matemático da mecânica quântica, os observáveis são representados por


operadores matemáticos sobre um espaço de Hilbert.

Esses operadores podem ser construídos a partir de seus equivalentes clássicos.

Na formulação de Heisenberg, as relações da incerteza podem ser dados na forma de um


operador comutador, que opera sobre dois outros operadores quaisquer:

onde A e B são operadores quaisquer.

No caso das relações de incerteza:

Dirac notou a semelhança formal entre o comutador e os parênteses de Poisson. Sabedor


da equivalência usada por Schrödinger quando este postulou a forma da equação de onda,
Dirac postulou as seguintes equivalências, que valem como receita para se acharem os
operadores quânticos correspondentes a grandezas clássicas:

A descrição ondulatória dos objetos microscópicos tem consequências teóricas importantes,


como o princípio da incerteza de Heisenberg. O fato de os objetos microscópicos, em
muitas situações, terem uma localização no espaço mesmo que aproximada, implica que
não podem ser descritos por uma onda com um só comprimento de onda (onda plana), pois
esta ocuparia todo o espaço. É necessária uma superposição de comprimentos de ondas
diferentes para se obter um "pacote" de ondas mais bem localizado e que represente o
objeto microscópico.

O papel do princípio da incerteza nas formulações da mecânica quântica

Hoje em dia, o princípio da incerteza é importante principalmente por dois motivos: um


histórico e outro didático. Ambos são análogos: o princípio da incerteza mostra de maneira
clara que concepções clássicas a respeito da medida devem ser abandonadas.

No entanto, o princípio da incerteza *não* é um bom princípio (ou postulado) da mecânica


quântica, já que é inexato e pouco geral. A mecânica quântica não-relativística é totalmente
descrita com alguns postulados, dos quais as relações de incerteza de Heisenberg surgem
de forma pouco natural. Mas o espírito do princípio da incerteza é mantido: não se pode ter
um sistema que, ao ser medido, tenha a probabilidade 1 de se encontrar tanto uma ou outra
grandeza, se essas grandezas corresponderem a operadores que não comutam. Iremos
explicar isto melhor adiante:

Todas as grandezas que podem ser medidas correspondem aos chamados "autovalores" de
certos objetos matemáticos chamados de operadores (na verdade, a natureza requer que
esses operadores sejam de uma classe especial, a dos "observáveis"). Chamemos um
operador qualquer de A, e chamemos seus autovalores de a_n (a_1 é um autovalor, a_2 é
outro e assim por diante). Existem estados quânticos, chamados "autoestados" (que
representaremos por

do operador A, nos quais uma medida tem 100% de chance de encontrar o valor a_n. Esses
autoestados e esses autovalores são definidos pela seguinte equação:

Um operador é dito um observável se esses autoestados

formarem uma "base". Diz-se que um grupo qualquer de estados quânticos formam uma
base se qualquer outro estado quântico puder ser escrito como uma superposição deles. Ou
seja, para qualquer estado quântico

Onde os coeficientes

em geral complexos, indicam o quanto os autoestados correspondentes


influenciam no estado resultante,

Um dos postulados da mecânica quântica diz que a probabilidade de uma medida da


grandeza A revelar o valor a_n é:

Quando o sistema está no autoestado

postulado acima mostra que a probabilidade de se encontrar o valor a_n correspondente é


100%. Assim, pode-se dizer que o sistema *possui a grandeza A bem definida*.

Agora consideremos dois operadores A e B, como o operador da posição e o operador do


momento. Em geral, os autoestados de um operador não são os mesmos autoestados do
outro operador. Consequentemente, se o sistema está em um estado quântico onde a
grandeza A é bem definida, a grandeza B não será bem definida. Ou seja, haverá uma
"incerteza" na grandeza B.

Mas, e se o sistema estiver num estado onde a grandeza A é bem definida, e efetuarmos
uma medida na grandeza B? Pode-se pensar que, então, saberemos exatamente o valor de
ambas as grandezas. Mas isso está errado, devido a outro dos postulados da mecânica
quântica: se uma medida de uma grandeza qualquer B revela o valor b_n, então o sistema
*é perturbado pela medida*, e passa para o autoestado

correspondente a

Então, suponha que dois operadores A e B não possuem os mesmos autoestados. Se


efetuarmos em um sistema qualquer a medida da grandeza A, e encontrarmos um certo
valor, o sistema se torna um autoestado de A, com um valor bem definido de A e uma
incerteza no valor de B. Se, após isso, efetuarmos uma medida no valor de B, então
lançamos o sistema num autoestado de B, com um valor bem definido de B e uma incerteza
no valor de A. Com isso, dizemos que é impossível saber simultaneamente o valor da
grandeza A e da grandeza B.

A incerteza entre a posição e o momento proposta por Heisenberg é, então, uma


consequência dos postulados da mecânica quântica, e não um postulado por si só.

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