DM 11519
DM 11519
DM 11519
PORTO, 2011
Francisca de Mendanha Soares Simões de Carvalho
PORTO, 2011
Francisca de Mendanha Soares Simões de Carvalho
RESUMO
I
ABSTRACT
RESUMEN
II
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
III
AGRADECIMENTOS
À SILICALIA, S. A., pela autorização na recolha dos questionários junto dos seus
colaboradores. Esta autorização constituiu o ponto de partida do estudo e sem ela nada
poderia ter sido investigado.
IV
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
ÍNDICE GERAL
V
3.5.1. ESTUDO DESCRITIVO DAS CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA.......................................... 73
3.5.1.1. CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DA AMOSTRA............................................. 73
3.5.1.2. ANO DE ADMISSÃO, ACTIVIDADE DIÁRIA, SITUAÇÃO LABORAL E HORÁRIOS DE
TRABALHO .................................................................................................................... 74
ACTIVIDADES ................................................................................................................ 76
ANEXOS
ÍNDICE DE GRÁFICOS
VI
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
ÍNDICE DE QUADROS
VII
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE ANEXOS
VIII
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
INTRODUÇÃO GERAL
1
O trabalho que se segue divide-se em duas partes fundamentais: a Parte I destina-
se ao enquadramento teórico do tema e divide-se em 2 Capítulos. A revisão
bibliográfica realizada visou a sustentação científica dos assuntos tratados, procedendo-
se à recolha de teorias, linhas de pensamento e análises que orientem o estudo empírico
realizado na Parte II. O grupo profissional sobre o qual incide o estudo empírico é o de
trabalhadores do sector da indústria transformadora, especificamente no sector de
produção de mármore aglomerado.
2
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
3
Capítulo 1 RETRATO DA SAÚDE OCUPACIONAL
4
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Em 1950, o Comité Misto da OIT / OMS definiu a Saúde Ocupacional como uma
área de conhecimentos multidisciplinares com os seguintes objectivos: i) promover e
manter o mais elevado bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as
profissões; ii) prevenir qualquer prejuízo causado à saúde pelas condições do seu
trabalho; iii) proteger os trabalhadores no seu emprego contra riscos provenientes da
presença de agentes prejudiciais à sua saúde; iiii) colocar e manter o trabalhador num
emprego adaptado às suas aptidões fisiológicas e psicológicas.
5
apreciação da situação global do trabalho, desde a sua concepção, e vieram alterar
profundamente o quadro normativo anterior.
De entre as numerosas inovações introduzidas, uma das mais notáveis é a que diz
respeito à análise e concepção do trabalho, falando-se inclusivamente de “um novo
modelo de prevenção” (Maggi, 2006, pp. 3). Tal como prevê a referida directiva, deve
assegurar-se um nível mais eficaz de protecção da segurança e da saúde dos
trabalhadores, tendo em conta a natureza das actividades.
6
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
7
O PE (Parlamento Europeu) defende que, para alcançar os objectivos pretendidos,
as medidas a considerar, no âmbito da Estratégias a adoptar pelos Estados-membros
devem, entre outras, incluir:
É neste contexto que o plano de actividades da ACT (2008) procura dar resposta a
um dos compromissos assumidos no quadro da conceptualização da Estratégia
Nacional: elaboração de planos de acção anuais, incluindo medidas a adoptar, em
concreto os prazos de execução, as entidades responsáveis, para a sua aprovação e o
respectivo acompanhamento e avaliação de execução.
1
Quarto inquérito da European Foundation for the Improvement of Living and
Working Conditions, realizado no final de 2005 e publicado em 2007, onde cerca de 30
000 trabalhadores de 31 países membros da União Europeia foram entrevistados.
8
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
podem ser úteis para melhor compreender as condições de vida e de trabalho dos
trabalhadores Europeus.
As formas flexíveis de emprego podem ser vistas como ambíguas pois tanto
implicam riscos, como permitem oportunidades; tanto podem trazer vantagens como
desvantagens para os indivíduos nelas envolvidas e para a sociedade em geral (Kovács,
2004). Se por um lado podem implicar riscos, por outro podem comportar
oportunidades. Ou seja, para uns poderá tratar-se de uma situação de falta de
alternativas, considerada menos estável; para outros pode tratar-se de uma situação de
emprego transitória, de um trampolim para encontrar um emprego melhor.
9
do vínculo dos trabalhadores em termos temporários (Gráfico 1). O trabalho temporário
caracteriza-se, nomeadamente, pela existência de uma relação triangular entre empresa
de trabalho temporário (ETT) como empregador, a empresa utilizadora e o trabalhador.
O trabalhador trabalha na empresa utilizadora, mas tem vínculo contratual com a ETT.
40
35
31,2
30
25 21,8
% 20 17,3
15,7
14,1 14,3
15 12 13,1
11,3
8,9 9,9
10 7,6 7,4
5,3 6,1
4,3
5
0
BEL DN ALE GRE ESP FRA IRL ITA LUX HOL AUS POR FIN SUE RU EU 15
10
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
11
1.2.3. Riscos psicossociais, saúde e bem-estar
60
51
50 46
45
40
35
29 30
% 30 27
23 22
20
10
0
P osições P enosas Vibrações Ruído
Cont rato T emporário através de Agências Cont rato Indeterminado Cont rat o a T ermo-fixo
Fonte: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 2002.
12
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
60 51
50
36 38 35 35
40 30 32 31
26 29
%30 25 23
20
10
0
Trabalhar em alta Fazer movimentos Nenhum control sobre o Sem treino
velocidade repetitivos ritmo de trabalho
continuamente continuamente
Fonte: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 2002.
Ainda de acordo com a European Foundation for the Improvement of Living and
Working Conditions (EFILWC), no seu relatório Quality of work and employment in
Europe (2002), os problemas de saúde mais relacionados com o trabalho são os
problemas músculo-esqueléticos e os problemas psicossociais (Gráfico 4).
13
Gráfico 4 Problemas de saúde relacionados com o trabalho
40
35 33
30
30 28 28
25 23 23
20
% 20 15
13 12 13
15
10
5
0
Dores de Fadiga Stress Cefaleias Dores nos Dores nos Dores de
costas membros membros cabeça e
inferiores superiores ombros
1995 2000
Fonte: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 2002.
Fonte: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 2007.
14
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Com esta visão global das condições de trabalho e saúde ocupacional na Europa,
passaremos a um enquadramento nacional.
15
Gráfico 5 Distribuição dos trabalhadores segundo os regimes de horário
27%
Flexível
T urnos
7%
66% Rígido
16
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
30
25
21,8
20,4
20
15,7 15,1
% 15 13,8 13,4 13,1
11,9
10,3
10 8,3
0
1985 1991 1996 2000 2002
EU 15 Portugal
De acordo com o Gráfico 6, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento dos
trabalhadores em regime de trabalho temporário. Especificamente em Portugal, apenas
entre 2000 e 2002 houve um aumento de 1,4% de trabalhadores neste regime.
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
%
17
1.3.2. Riscos profissionais e acidentes de trabalho
Sofrem acidentes de trabalho, pelo menos uma vez na vida profissional, 19,4%
dos trabalhadores, por motivos relacionados com a distracção, as insuficientes
condições de segurança e por falha técnica (Quadro 2).
18
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Acidentes Acidentes
de de
Trabalho trajecto
Três vezes
ou mais 2,7 0,7
2003 2005
Total 237 236 910 312 228 884 228 584 300
222
19
Há que salientar que estes são dados meramente estatísticos, que não têm em
conta as especificidades determinantes (p.e., sectores específicos de actividade) da
relação entre a saúde e o trabalho.
Apesar de 19,6 % dos inquiridos exercerem funções não compatíveis com a sua
formação académica ou profissional, 28,7% frequentou, pelo menos uma vez, cursos da
iniciativa da entidade patronal tendo sido beneficiados, sobretudo, os trabalhadores
permanentes (33, 4%) e licenciados (53,9%).
20
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Doenças
Doenças profissionais Nº Total de
Anos profissionais sem Total
com incapacidade pensionistas
incapacidade
21
as doenças do aparelho respiratório e as doenças provocadas por agentes físicos
(Quadro 5).
Doenças
Doenças do Doenças Doenças
provocadas Doenças Outras
Anos aparelho provocadas por infecciosas e Total
por agentes cutâneas doenças
respiratório agentes físicos parasitárias
químicos
70
60,8
60
50
% 40 29,5
30
20
10 6,1
2,4 1,2
0
Dispõe e utiliza Dispõe e não Não dispõe Não sabe se Não se aplica à
utiliza existem actividade ou
profissão
22
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Este ponto de vista vai de encontro a uma abordagem preventiva. Esta é mais
complexa nas doenças profissionais que nos acidentes de trabalho, que ocorrem num
único momento, pelo que os défices de prevenção, de identificação e controlo dos riscos
profissionais apenas têm consequências a médio e a longo prazo. O relatório da ACT
realça ainda que os riscos profissionais só podem ser correctamente percepcionados pela
intermediação da técnica e exigem uma maior articulação e complementaridade de
todos os sistemas, particularmente da vigilância da saúde e da prevenção dos riscos no
local de trabalho.
Através desta constatação da ACT mais uma vez nos deparamos com a
necessidade de técnicas e instrumentos que possam fornecer uma melhor percepção e
indicadores mais concretos dos riscos profissionais dos diversos sectores empresariais.
23
Capítulo 2 CONDIÇÕES DE TRABALHO E RISCOS
PRODFISSIONAIS
2.1. Enquadramento
24
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
25
competências, responsabilidade, iniciativa, trabalho em equipa, bem como o abandono
do clima de confronto a favor do diálogo e do envolvimento dos trabalhadores”
(Kovács, 2006, p.42).
26
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
27
Desta forma, e para melhor compreender os efeitos do trabalho na saúde e bem-
estar dos trabalhadores, torna-se pertinente a distinção entre o trabalho prescrito e
trabalho real.
28
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
29
Figura 1 Situação de Trabalho
TAREFAS A A EMPRESA
O TRABALHADOR
CUMPRIR/ OS OBJECTIVOS E OS MEIOS
Características Pessoais: TRABALHO
PRESCRITO Tempos:
Sexo
A EMPRESA
O TRABALHADOR
Características físicas TAREFAS A
Duração
OS OBJECTIVOS E OSHorários
MEIOS
Características Pessoais:Idade CUMPRIR /
TRABALHO Tempos:
Sexo Cadencias
Experiencia, formação PRESCRITO
Duração
Normas de produção
Características
Estado físicas
instantâneo:
Horários
Idade Organização do trabalho:
Fadiga
Cadencias
Tipos de aprendizagem
Experiencia, formação
Ritmos biológicos Normas Informações
de produção
Estado instantâneo: ACTIVIDADE DE TRABALHO /
TRABALHO REAL Repartição
Organização de tarefas
do trabalho:
Vida fora do trabalho
Fadiga
(transportes, preocupações, TiposModos operatórios
de aprendizagem
etc.)
Ritmos biológicos Informações
Critérios de qualidade
Repartição de tarefas
Vida fora do trabalho Ferramentas:
(transportes, preocupações, Modos operatórios
Natureza, numero,
etc.) Critérios deregulações
qualidade
SAÚDE PRODUÇÃO Ferramentas:
Documentação
Natureza, numero,
Meios de comunicação
regulações
Meios de comunicação
Programas informáticos
O mundo laboral suporta grandes desafios resultantes não apenas dos riscos mais
convencionais, mas, também, da aceleração na utilização de novas tecnologias, de novas
estruturas de comunicação, da globalização dos mercados, das alterações nas relações
de emprego (trabalho precário, teletrabalho, etc.), do envelhecimento da população, do
30
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
crescimento de subcontratação, entre outros factores (Freitas, s/d). Desta forma, iremos
de seguida abordar os riscos profissionais, nomeadamente os riscos do ambiente físico e
os riscos psicossociais.
31
trabalharem a húmido, não deixam de estar expostos a essa poeira que se dispersa por
todo o ambiente em consequência das práticas de trabalho adoptadas2.
2
Em Portugal a sílica foi agente causal associado a 111 mortes por doença profissional. A ACT
tem em curso desde Agosto de 2008 uma Campanha de âmbito nacional que visa informar e divulgar
boas práticas a adoptar nos locais de trabalho em que há trabalhadores expostos a poeiras que contém
sílica cristalizada. Esta iniciativa insere-se no âmbito do Acordo Europeu assinado em 2006 e põe a tónica
nos aspectos de prevenção, nomeadamente, a necessidade de, nos locais de trabalho: prevenir ou reduzir a
formação de poeiras, controlar a sua disseminação e impedir que os trabalhadores inalem poeiras (ACT,
2008).
32
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Os riscos físicos são aqueles gerados por agentes que actuam por transferência
de energia sobre o organismo. Quanto maior a quantidade e velocidade dessa
transmissão, maiores serão os danos à saúde (Benitez, 2008).
33
O valor de 85 dB (decibéis) é designado como valor do nível de acção na
legislação nacional, a partir do qual existe um risco significativo de surdez
sonotraumática. De acordo com os Institutos Americanos de Saúde, numa declaração
conjunta (NIH, 1990), a surdez sonotraumática define-se como aquela que é provocada
pela exposição a sons de intensidade e duração suficientes para danificar o aparelho
auditivo e originar perdas auditivas temporárias ou permanentes. O efeito da exposição
repetitiva ao ruído é cumulativo não sendo, até aos dias de hoje, tratável (Arezes, 2002).
As perdas auditivas poderão ser ligeiras ou gradualmente profundas e provocar o
aparecimento de acufenos (zumbidos nos ouvidos). Quando a perda é consequente do
ruído no local de trabalho fala-se em surdez profissional mas a exposição a níveis
sonoros breves também elevados pode causar perdas de audição (Freitas, 2005).
Existem outros efeitos da exposição a ruído elevado para além dos auditivos,
chamados efeitos não auditivos ou não traumáticos. São todos os efeitos sobre a saúde e
bem-estar provocados pela exposição ao ruído à excepção dos efeitos sobre o aparelho
auditivo e sobre o masqueamento da informação auditiva (Arezes, 2002).
3
A fadiga é o efeito do trabalho continuado, que provoca uma redução reversível da capacidade do
organismo e uma degradação qualitativa no trabalho. É provocada por um conjunto de factores, cujos
efeitos são comutativos: factores fisiológicos (relacionados com a intensidade e duração do trabalho físico
34
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Ainda no que respeita aos riscos físicos, as vibrações são outros dos riscos mais
vulgarmente presentes na indústria.
e mental), factores psicológicos (falta de autonomia, falta de motivação) e factores ambientais e sociais
(iluminação, ruído, temperatura e relacionamentos interpessoais com chefias e colegas) (Iida, 2005).
35
(ex., vibrações ou choques de ferramentas e máquinas ao nível das mãos) (Freitas,
2005).
36
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
4
O stress ocupacional é um conjunto de reacções emocionais, cognitivas, comportamentais e
fisiológicas relacionados com os aspectos nocivos e adversos do conteúdo, organização e ambiente de
trabalho. O stress no trabalho revela uma dissonância entre as necessidades do indivíduo e a realidade das
37
O dano provocado à saúde psicológica (e/ou fisiológica) do trabalhador
estimulado por um factor de risco psicossocial pode manifestar-se na forma de um
acidente de trabalho, enquanto acontecimento súbito e imprevisto, verificado em tempo
e no local de trabalho (ex.: uma situação de violência física e/ou psicológica súbita,
stress pós-traumático) ou de na forma de uma doença ocupacional, provocada por
acontecimentos lentos e insidiosos, de natureza psicológica ou psicofisiológica,
relacionados como trabalho, que podem revestir a forma de problemas emocionais (ex.:
sentimentos de ansiedade, tristeza, alienação, apatia, etc.), cognitivos (restrição da
percepção, capacidade de concentração, criatividade ou tomada de decisão, etc.),
comportamentais (abuso de álcool, tabaco, drogas, conduta violenta, assunção de riscos
desnecessários, etc.) e fisiológicos (reacções neuroendócrinas) (Coelho, 2008).
De acordo European Agency for Safety and Health at Work (EASHW) (2007), os
riscos psicossociais estão relacionados com a forma como o trabalho é concebido,
organizado e gerido, bem com o seu contexto económico e social, que podem suscitar
um maior nível de stress e originar uma grave deterioração da saúde mental e física. Ou
seja, os riscos psicossociais são frequentemente resultantes de transformações técnicas
ou organizacionais. Também as transformações socioeconómicas, demográficas e
políticas, incluindo o actual fenómeno da globalização, são factores significativos.
Nos últimos anos tem-se assistido a profundas mudanças no que diz respeito aos
riscos psicossociais do trabalho. As principais alterações que se verificam, susceptíveis
de fazer aumentar a carga psicológica do trabalho sobre os indivíduos e organizações,
residem essencialmente (Gouveia & Gaio, 2004):
condições do seu trabalho o que provoca uma forte reacção emocional negativa relativamente às
condições de trabalho (Freitas, s/d).
38
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Nas novas formas de organização do trabalho (NFOT), com o aumento das formas
de trabalho atípicas, no trabalho por turnos e a tempo parcial, no trabalho
domiciliário e trabalho à distância, e com a maior interdependência entre o trabalho
e a aprendizagem contínua, ou seja, da aquisição permanente de conhecimentos,
necessidade sistemática, acompanhada pelo declínio do conceito de carreira e de
trabalho para toda a vida (Aguiar Coelho & Lima Santos, 1996).
39
Estes dez principais factores de riscos psicossociais emergentes podem agrupar-se
em cinco áreas (EASHW, 2007):
40
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
O tempo de trabalho é uma das condições que mais influência directa tem sobre a
actividade laboral, na medida em que o número de horas trabalhadas pode afectar a
qualidade de vida do trabalhador no trabalho e extralaboralmente. A definição dos
horários e a distribuição do tempo de trabalho deve ter em conta o equilíbrio físico,
mental e social da pessoa que trabalha (Freitas, 2005).
O trabalho por turnos pode ser definido como uma forma de organização do
trabalho na qual equipas independentes trabalham sucessivamente para alcançar a
continuidade de uma modalidade de produção ou serviço (Fundação Dublin, citado por
Freitas, 2005).
41
O sono é talvez a maior preocupação dos trabalhadores por turnos (Rutenfranz et
al.; Knauth & Rutenfranz, 1981; Azevedo, Silva & Paz Ferreira, 1988; Åkerstedt, 1990;
Costa, 1997), constituindo a sua perturbação uma razão comum para abandonar esse
regime horário (Åkerstedt, 2003). Diversas revisões da literatura (ex., Mott et al., 1965;
Dunham, 1977; Rutenfranz et al., 1977; Costa, 1996, 1997; Wedderburn, 2000;
Åkerstedt, 2003) têm, consistentemente, apontado o facto do sono diurno dos
trabalhadores por turnos, quando comparado com o sono nocturno, ser mais reduzido e
de menor qualidade. Assim, do ponto de vista da sua qualidade, o sono diurno, quando
comprado com o sono nocturno, tem sido associado a um maior número de queixas (ex.,
menos recuperador, mais fragmentado).
42
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
43
pessoais e sociais, em oposição à noção de saúde como mera ausência de doença, e
evidencia a prioridade da prevenção e promoção da saúde (Maggi, 2006).
Boothroy e Eberle (1990 citado por Ribeiro, 1998) também realçam que na década
de 70 o conceito de saúde passou a considerar a saúde como um todo ao nível da
globalidade do indivíduo, evidenciando simultaneamente todos os factores do meio
ambiente (aspectos físicos e aspectos sociais).
Para Terris (1975 citado por Ribeiro, 1998) a saúde inclui várias dimensões: as
subjectivas, que têm a ver com o sentir-se bem; e as objectivas, relacionadas com a
capacidade funcional. Campbel, Converse & Rodgers (1976 citado por Ribeiro, 1998)
constataram na sua investigação que a saúde é o que melhor explicava a qualidade de
vida dos indivíduos.
44
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
d) os aspectos físico, mental e social estão juntos numa coalescência sistémica que
os torna interdependentes;
45
fundamental, na medida em que aponta para uma nova saúde pública, com a criação de
ambientes favoráveis como elemento essencial (Kickbusch, 1996, citado por Brito,
2004). Por sua vez, Buss (2000, citado por Brito, 2004) associa a promoção da saúde a
um conjunto de valores como a qualidade de vida, saúde, solidariedade, equidade,
democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e parceria.
As relações entre trabalho e saúde são bastante complexas. O ponto de vista mais
acolhido é que o trabalho prejudica a saúde; um outro ponto de vista, menos
disseminado, é que a saúde é necessária para a realização do trabalho. Mas importa
ressalvar que o trabalho pode também ser uma fonte de saúde e de realização pessoal
(Doppler, 2007).
46
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
A dimensão da saúde, mesmo que objectiva, acaba sempre por ser pessoal. Desta
forma, no presente estudo elegeu-se uma abordagem da saúde no trabalho mais
compreensiva, centrada na pessoa. Esta é uma abordagem subjectiva mas também mais
explicativa. Para o efeito, e como será explicado na Parte II do estudo, entre as
metodologias escolhidas é de salientar a aplicação do Inquérito INSAT aos
trabalhadores.
47
A melhoria da saúde através de novas formas de organização do trabalho tem sido
objecto de várias obras publicadas sob a denominação de qualidade de vida no trabalho
(QVT) (Lomongi-França, 2003).
48
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
49
o trabalho. Na segunda parte será apresentado o estudo empírico, onde apresentamos os
resultados obtidos através da aplicação do INSAT a uma amostra de trabalhadores da
indústria transformadora.
50
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
51
Capítulo 3 ESTUDO EMPÍRICO: diagnosticar para intervir
52
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
53
3.2.1. Objectivos específicos
Desta forma, a amostra do presente estudo pode caracterizar-se como uma amostra
não probabilística ou intencional, sequencial de conveniência (Ribeiro, 1999).
Intencional porque a probabilidade relativa de um qualquer elemento ser incluído na
amostra é desconhecida; sequencial de conveniência porque a amostra é escolhida por
54
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
3.3.2. Material
55
Vogel, 1999 adaptado por Barros-Duarte, 2004) (cf. Anexo B), no sentido de análise
dos problemas relativos às condições de trabalho por parte destes actores.
A versão final do INSAT foi antecedida por versões preliminares, com o propósito
de verificar a adequação das perguntas e das respectivas escalas de resposta e o seu
enquadramento face aos objectivos definidos. À medida que foram sendo testadas as
56
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
57
Assim:
58
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
3.3.3. Procedimentos
Numa segunda fase, realizou-se uma visita guiada à fábrica com o técnico de
segurança e higiene. Nesta visita foi explicado e observado todo o processo produtivo,
59
desde a descarga e armazenamento de matérias-primas à linha de polimento das placas
finais. Desta forma, através da técnica de observação, ficou a saber-se como decorre o
processo produtivo e puderam presenciar-se as condições ambientais em que os
trabalhadores exercem as suas funções.
60
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
61
Quadro 7 Síntese dos procedimentos realizados
Reunião com os Recursos Humanos Aproximadamente 1 Requerer a autorização para a realização do estudo na empresa;
hora
(entrevista semiestruturada) Conhecer a constituição da empresa e o seu funcionamento;
Fornecimento de informação útil e esclarecimento de dúvidas;
Entrega do balanço social (base de sondagem) (Ghiglione &Matalon,
2001).
Estudo do Balanço Social da Aproximadamente Conhecer melhor empresa, suas áreas de actividade e processo
empresa duas horas produtivo
(análise documental) Identificar as características dos recursos humanos (níveis etários e
de escolaridade, tempo de trabalho, absentismo e desvinculação, etre
outros)
2ª visita às instalações com um Aproximadamente 1 Análise geral dos postos e riscos de trabalho, condições ambientais
técnico e enfermeira do trabalho hora em que é realizado e averiguação da utilização dos EPI.
(observação assistemática)
62
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
A empresa analisada, a SILICALIA, S.A., começou por ser uma empresa familiar
nascida em Espanha (1975) com a finalidade de oferecer a excelência no fabrico de
revestimentos decorativos de alta qualidade.
Figura 2 Logótipo
63
3.4.1. Os recursos humanos: níveis etários e de escolaridade
33% Silicalia
Adecco
67%
40
35
30
25
20
15
10
5
0
18-20 21-25
26-30
31-40 41-50
51-65
64
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
1%2% 9%
4% 3%
0%
7%
34% 23%
4% 13%
65
Gráfico 12 Distribuição dos colaboradores por secção (2008)
60
50
40
30
20
10
A
P
ão
ao
to
to
M
o
o
D
as
uo
P
te
ad
çã
çã
uç
ec
aç
en
H
em
ém
+
ém
or
ác
lid
en
ec
lim
od
oj
tr
C
V
I
is
st
pr
az
ir
ua
az
ut
pr
in
D
Si
Po
rm
an
rm
Q
e
dm
al
.D
M
A
A
er
A
ab
G
Silicalia Adecco
Granulados Areias de sílica e areias de quartzo, granulados de granito, quartzo, etc., com
uma granulometria de 0,06 mm a 6,0 mm.
66
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
67
• Uma vez cheio, o molde é transferido por meio de um transportador de cinta
automático, ás fases seguintes, onde são realizados os tratamentos da argamassa
em função do aspecto estético final do produto;
• Seguidamente um robot posiciona o molde superior sobre a argamassa;
• A argamassa contida no interior dos moldes é transferida ao interior da prensa,
para a vibrocompressão em vazio, onde se realiza a compactação da argamassa;
• Á saída da prensa a massa contida nos moldes é transferida automaticamente
para um forno, para catálise, onde se realiza o endurecimento da resina presente
na argamassa;
• Os moldes endurecidos são extraídos do forno e transferidos à fase seguinte,
onde um robot remove automaticamente o molde superior transferindo-o para a
linha de retorno, enquanto outro robot procede à extracção da placa do molde
inferior e o transporta á linha de refrigeração na qual é depois descarregada
automaticamente;
• O molde inferior é, ao mesmo tempo, transferido por um robot para a linha de
retorno para ser reintroduzido no ciclo de produção;
• As placas uma vez descarregadas são transferidas por meio de uma grua-ponte
ao local de armazenagem;
• Sobre a superfície dos moldes superior e inferior, uma vez removidos os
eventuais resíduos, é aplicada automaticamente uma película de protecção de
uma solução aquosa;
• Os moldes transitam através de um forno de lâmpadas de infravermelhos onde
se realiza a evaporação da água e a secagem da película protectora;
• Na saída, um robot transfere o molde inferior para o transportador de cinta
automático, e o molde superior sobre uma cinta lateral que alimenta um segundo
robot que o posicionará sobre a argamassa antes da estação da vibro compressão
ao vazio.
Nesta fase iremos salientar duas situações ao nível do polimento das placas: as
placas lisas e as texturadas.
68
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Placas Lisas
Placas Texturadas
69
Gráfico 13 Vinculo à empresa. *
2008
2007
0 20 40 60 80
Efectivos Contratados
1a3 4 a 30 Mais de
Total dias de dias de 30 dias de
baixa baixa baixa
70
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Gráfico 14 Número total de horas extra realizadas, no ano de 2008, por sector
1813,5
2000
1800
1600
1400
1200
1000 706
685,5
800
600
269
400
70 68,5
200
0
Vácuo Polimento Linha de corte Manutenção Arm. Aprov. Dis tribuição
71
Gráfico 15 Valores percentuais de absentismo (2008)
1%
1%
16% 22%
Vácuo
Polimento
Arm. Descargas
7%
Expedições
Manutenção e gab. de proj.
Administrativos
13%
Qualidade
AHS
3% 37%
Para uma melhor visualização relativa aos resultados dividiu-se em três partes. A
primeira parte refere-se ao estudo descritivo das características da amostra; a segunda
parte cinge-se ao estudo descritivo das condições de trabalho e factores de penosidade
sentidos pelos trabalhadores e por último o estudo descritivo do estado de saúde da
presente amostra.
72
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
46,7
50
45
4.º ano
40
6.º ano
35
9.º ano
30
11.º ano
25 20
12.º ano
20
Licenciat ura
15 10 10
6,7 Bacharelat o
10 3,3 3,3
5
0
73
Gráfico 17 Distribuição da amostra em função das classes de idade
Verifica-se também que quase metade dos inquiridos não tem filhos (Quadro
11).
Número de Filhos ƒ %
1 Filho 8 26,7
2 Filhos 6 20,0
Total 30 100,0
74
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
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Total 30 100,0
75
Quadro 13 Distribuição em função do horário de trabalho
Horário de Trabalho ƒ %
Fim-de-semana 10 33,3
5
No estudo descritivo dos principiais factores de penosidade foi realizada a análise também
através de médias. Considerando que a escala (ordinal, formato tipo likert) tem 7 possibilidades de
resposta (Muito incómodo; Bastante incómodo; Incómodo significativo; Nem muito nem pouco
incómodo; Algum incómodo; Pouco incómodo; Nenhum incómodo), para cada indicador, os
trabalhadores inquiridos podem variar o grau de penosidade entre 1 a 7 pontos, sendo que os valores mais
elevados revelam menor penosidade no trabalho. Assim, as médias entre 1 a 3 pontos revelam factores de
penosidade, enquanto as médias entre 4 a 7 pontos estão associadas a um menor incómodo ou
constrangimento no trabalho.
76
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Através da análise feita aos inquéritos administrados, constatou-se que 86,7% dos
colaboradores estão expostos a poeiras, 83,3% estão expostos a agentes químicos e
80,0% estão expostos a ruído nocivo, como observamos no Quadro 14.
Ambiente Físico ƒ %
77
Quadro 15 Distribuição em função dos constrangimentos físicos
Constrangimentos Físicos f %
No meu trabalho sou ou era obrigado a permanecer muito tempo sentado 6 20,0
No meu trabalho sou ou era obrigado a subir e descer com muita frequência 24 80,0
78
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
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Causa-me incómodo trabalhar com muito calor/frio ou mau tempo 22 1 7 3,1 2,1
79
3.5.2.2. Características e constrangimentos organizacionais e
relacionais
Constata-se que 60,0% dos trabalhadores desta empresa têm que se levantar
antes das 5 horas da manhã. Por outro lado, 40,0% deitam-se depois da meia-noite.
40 Horas 17 56,7
45 Horas 3 10,0
50 Horas 5 16,7
Mais de metade dos trabalhadores inquiridos (73,3%) gastam até 120 minutos
por dia em tarefas domésticas e de apoio familiar. No entanto, constata-se que,
praticamente metade dos trabalhadores da amostra, nem sempre consegue conciliar a
vida de trabalho com a vida fora do (Gráfico 18).
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
%
80
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
No meu trabalho estou ou estava exposto a situações de ter que fazer várias
25 83,3
coisas ao mesmo tempo
No meu trabalho estou ou estava exposto a situações de ter que me apressar 22 73,3
No meu trabalho estou ou estava exposto a situações de ter que dormir a horas
22 73,3
pouco usuais por causa do trabalho
81
Os indicadores que mais incomodam o ritmo de trabalho (cf. Quadro 19) são o
transtorno de ser frequentemente interrompido (M=2,8), o ser obrigado a apressar-me
(M=2,9) e o inconveniente de ter que suprimir ou tomar as refeições a horas pouco
usuais ou nem realizar a pausa por causa do trabalho (M=3,4).
82
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
A solicitação constante, tendo que dar resposta a várias coisas ao mesmo tempo,
aliada às exigências de produtividade e ao facto de terem que dormir a horas poucos
usuais, faz desta actividade uma actividade não só com elevadas exigências físicas mas
também com elevadas exigências psicológicas provocando, também, um desgaste
psicológico.
83
Figura 3 Factores intervenientes nas actividades desenvolvidas
No que diz respeito à saúde, numa primeira fase, foi pedido trabalhadores que
assinalassem os problemas de saúde sentidos nos últimos doze meses. Os problemas de
saúde mencionados pelos trabalhadores são diversos, abrangendo o foro físico e
psicológico.
84
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
No que respeita à visão, 16,7% dos trabalhadores usam óculos ou lentes. Quanto
às dificuldades de audição, 13,3% consideram ter pouca dificuldade, 10,0% nem muita
nem pouca, 10,0% alguma dificuldade e 3,3% apresentam bastante dificuldade de
audição.
85
Gráfico 19 Problemas de saúde mais evidentes na amostra (%)
13,40% 13,30%
13,30%
13,30% 36,70%
10%
Ainda no âmbito da saúde, numa segunda fase do questionário, foi solicitado aos
trabalhadores para identificarem os seus problemas de saúde e assinalarem se, na sua
opinião, este problemas foram causados, agravados ou acelerados pelo trabalho ou se
não têm nenhuma relação com o trabalho (Quadro 20).
86
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Quadro 20 Distribuição em função dos problemas de saúde e sua relação com o trabalho
87
Na análise efectuada constatou-se que os problemas mais relacionados com o
trabalho, isto é, que foram causados ou agravados por este, são os problemas de pele,
músculo-esqueléticos, de sono, as dores de estômago, as alergias e a fadiga. Em
contrapartida, os problemas de dores de cabeça, de acordo com os trabalhadores, não
têm qualquer relacionamento com o trabalho. Estes são dados que corroboram com os
dados europeus e nacionais. A EFILWC (2002), no seu relatório europeu, constatou que
os problemas de saúde mais relacionados com o trabalho são precisamente os problemas
músculo-esqueléticos e os problemas psicossociais (dores de costas, fadiga, stress,
cefaleias). Também os dados da ACT, entre 2002 e 2005, apurou que as doenças
profissionais mais frequentes em Portugal foram precisamente as do aparelho
respiratório, as provocadas por agentes físicos, seguindo-se as doenças cutâneas.
No que diz respeito ao facto da saúde e segurança poderem ser afectadas devido
ao trabalho que realizam verifica-se que: 23,3% dos trabalhadores consideram que a sua
saúde e segurança estão ou foram um pouco afectadas devido ao trabalho que realizam e
3,3% consideram que foram ou são bastante afectadas (cf. Gráfico 20).
16,7 Nada
10 Muito pouco
20 Pouco
20 Nem muito nem pouco
23,3
Um pouco
3,3
Bas tante
6,7
Muito
0 5 10 15 20 25
88
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Por outro lado, quase metade dos trabalhadores considera não ter protecção
colectiva no seu local de trabalho e 77% pensa não existir preocupação por parte da
instituição em minimizar os riscos profissionais. A causa mais frequentemente das
doenças profissionais de acordo com o DEFEPT (2000) foram precisamente as
insuficientes condições de segurança.
89
É difícil separarmos todos os resultados obtidos e discuti-los separadamente uma
vez que estes estão estritamente relacionados. O que optamos por fazer foi dividir a
discussão dos resultados em sub-pontos na tentativa de uma melhor compreensão dos
mesmos. Começaremos por nos focalizar nas respectivas contratações dos
trabalhadores, depois no tempo de trabalho, seguindo-se as condições de trabalho, isto
é, os constrangimentos do ambiente físicos e os organizacionais.
90
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
serviços (Aguiar Coelho & Lima Santos, 1996). Por outro lado, é observado na
nossa amostra sintomatologia depressiva, ansiedade e tristeza.
91
para o efeito. A nível psicológico, os trabalhadores por turnos têm uma
avaliação subjectiva da diminuição do bem-estar em geral (Azevedo, 1980;
Åkerstedt & Gillberg, 1981; Zedeck, Jackson & Summers, 1983; Cole et al.,
1990), apresentando maiores índices de irritabilidade, depressão, ansiedade e
stress, aspecto verificado na presente amostra.
92
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
93
• Constrangimentos organizacionais: neste âmbito, o que mais incómoda os
trabalhadores são os constrangimentos do ritmo de trabalho. A maioria dos
trabalhadores inquiridos refere que o que mais incómodo lhes causa são: o facto
de terem que fazer várias coisas ao mesmo tempo (83,3%), terem que se apressar
e terem que dormir a horas pouco usuais (73,3%). Estes dados vão ao encontro
aos referidos pela EASHW (2007) no que diz respeito aos riscos psicossociais
emergentes. Os factores referidos podem manifestar-se na saúde do trabalhador
em forma de problemas emocionais, comportamentais ou na forma de um
acidentes de trabalho (Coelho, 2008). São factores que podem suscitar um maior
nível de stress e originar ma grave deterioração da saúde mental e física dos
trabalhadores (EASHW, 2007). Provavelmente, estes são factores que
contribuem para os sintomas de ansiedade, nervosismo, irritabilidade e stress
que 36,7% dos trabalhadores mencionam padecer (Gráfico 19) e ainda para as
mudanças bruscas de humor (26,7%). Também os acidentes de trabalho (33,3%)
puderam estar relacionados com estes agentes associados aos riscos
psicossociais.
94
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Tendo estes aspectos como fio condutor, iremos reflectir sobre possíveis medidas
a adoptar. De salientar que este estudo procurou apenas ser um ponto de partida, sendo
evidente que determinados aspectos identificados terão que ser estudados de forma mais
profunda. Iremos sugerir possíveis mudanças nos aspectos do ambiente físico, da
organização do trabalho, formação e infra-estruturas. Realçamos ainda um dos dados
apurados no estudo: 77% dos trabalhadores da amostra pensa não existir preocupação
por parte da empresa em minimizar os riscos profissionais. Este é um dado que
necessita ser contrariado desenvolvendo políticas e estratégias fundamentadas e
adequadas à realidade em causa, no âmbito da segurança, saúde e bem-estar do capital
humano.
Visto não ser possível resolver prontamente todos os problemas, a nossa sugestão
de medidas preventivas e de protecção vão de encontro àquilo que se considera
prioritário. Ou seja, os aspectos que foram analisados neste estudos como os problemas
de saúde mais relacionados com o trabalho, tal como aqueles problemas que afectam o
bem-estar dos trabalhadores.
95
No que diz respeito à prevenção dos riscos profissionais, o ruído e as poeiras são
factores que, devido à sua predominância, devem ser alvo de intervenção eminente. A
introdução de equipamentos de protecção colectiva poderá ser uma medida a ser
implementada. Nomeadamente, no que diz respeito ao o ruído, podem ser tomadas
medidas como: o encapsulamento de máquinas, colocando os comandos no exterior; a
insonorização de salas de máquinas, como geradores, compressores, entre outros;
instalação de salas para os técnicos, permitindo a redução do tempo de exposição; ou
ainda a instalação de atenuadores sonoros em condutas ou de painéis absorsores
suspensos (AEP, 2007).
96
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
97
petroquímica decidiu tomar medidas para prevenir o stress no trabalho, concluiu-se que
um dos factores mais geradores de stress foi o dos “detalhes desnecessários”. Este factor
refere-se aos problemas derivados do facto de outras pessoas não especificarem a
quantidade de detalhes técnicos necessários e da escassez de tempo. Consequentemente
os colaboradores trabalhavam muito e longamente para produzir informações técnicas
detalhadas que muitas vezes não chegavam a ser necessárias. Este é um exemplo de
como a forma de organização do trabalho interfere na motivação e bem-estar dos
trabalhadores.
98
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
No que respeita ao trabalho por turnos, ainda nenhum estudo efectuado até à data
conseguiu identificar o sistema de turnos “ideal” (Folkard et al., 1994, citado por
Ribeiro, 2008). No entanto, o sistema de rotação dos turnos tem sido considerado como
um factor de grande importância na determinação da tolerância ao trabalho por turnos,
tendo alguns autores chegado a referir que a intervenção a este nível pode ser uma
forma bastante efectiva de reduzir os problemas vivenciados pelos trabalhadores por
turnos (Comperatore et al., 1990; Folkard, 1992; Knauth, 1998; MacDonald, Turcker,
Smith & Folkard, 1998, citados por Ribeiro, 2008). Desta forma, sugere-se que o
sistema de turnos nocturnos seja permanente, no sentido de maximizar o ajustamento
circadiano (Gomes, 1998; Silva, 1999, citados por Ribeiro, 2008). De acordo com
vários autores (Wilkinson, 1992; Barton & Folkard, 1993; Knauth, 1995, citados por
Ribeiro, 2008), este sistema deve ser implementado porque compreende as seguintes
vantagens: uma menor frequência de queixas, uma maior duração do sono, melhor
desempenho e menores problemas de saúde, maior liberdade de escolha do regime de
trabalho, maior sentimento de independência e maior espírito de camaradagem. Como já
foi referido, ainda não se encontrou um sistemas de turnos óptimo, mas deve haver a
preocupação de planear sistemas de turnos que evitem uma perturbação contínua dos
ritmos circadianos e que propiciem a minimização dos problemas psicológicos, físicos e
sociais a ele associados.
Para que estas medidas sejam concretizáveis é imprescindível que haja um papel
activo por parte da administração da empresa na gestão de projectos de segurança e
saúde no trabalho. Só é possível uma melhoria sustentável se a direcção estiver disposta
a fazer alterações. A gestão dos riscos deve tornar-se um factor primordial na forma de
fazer negócio (AESST, 2003). Também o envolvimento, comprometimento e o
empenho dos trabalhadores e dos gestores de nível médio e superior são cruciais em
medidas de intervenção. Os empresários e trabalhadores devem reflectir sobre formas
de controlar e reduzir os riscos dos seus locais de trabalho, para prevenir acidentes e
proteger a sua segurança e saúde (Barros-Duarte, 2008).
99
100
Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
Conclusão geral
101
e a grande maioria pensa não existir preocupação por parte da instituição em minimizar
os riscos profissionais.
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Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
fácil. Como refere Osório (2005, pp. 5), “sendo o trabalho abordado pela via da
actividade, e sendo a actividade conflito, diálogo e movimento sempre inacabado, é este
o processo transformação permanente que se quer apreender. É nele que se quer
intervir.”
Uma vez que se reconhece que este trabalho apresenta algumas limitações,
considera-se pertinente, em relação a posteriores estudos, mencionar algumas propostas
de melhoria. Um passo que se revela fundamental para a compreensão das relações
entre trabalho e saúde é o acesso ao discurso dos seus actores e às suas verbalizações,
para que melhor se possa entender dimensões às quais não se acede de outra forma.
Com o intuito de aceder aos significados e às representações dos trabalhadores, sugere-
se a realização de entrevistas (semi-estruturadas) como mais um métodos a ser aplicado
no sentido de potenciar a expressão das percepções relativas a aspectos como as
condições de trabalho, relações interpessoais, saúde, organização do trabalho, horários,
tipo de contratações, entre outros.
Apesar das limitações que apresenta, espera-se que este estudo revele um
contributo útil no debate activo sobre o tema, alertando e divulgando as consequências
do trabalho na saúde de forma a contribuir para a melhoria das condições de trabalho
dos profissionais no sentido de uma prevenção primária.
Assim sendo, este trabalho termina com o apelo para que se continuem a
desenvolver mais estudos, de forma a melhorar as condições de trabalho de todos nós.
103
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Condições de trabalho e saúde: diagnosticar para intervir.
Estudo numa Empresa da Industria Transformadora da Região Centro
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Rutenfranz, J. et al. (1981). Shift work research issues. Em L.C. Johnson, D. I. Tepas,
W.P. Colquhuon & M.J. Collingan (Eds.), Biological rhythms, sleep and shift
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Smith, C. et al. (2003). Shiftwork and working hours. Em J.C. Quick & L.E. Tetrick
(Eds.), Handbook of occupational health psychology (pp.163-183) (2 ed.).
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Vasconcelos, R. (2008). O papel do psicólogo do trabalho e a tripolaridade dinâmica
Wedderburn, A. (2000) (Ed.). Shiftwork and health. European studies on time. Dublin:
issue on health-related quality of life: what is it and how should we measure it?
Zedeck, S.; Jackson, S. & Summers, E. (1983). Shift work schedules and their
114
Anexos
Anexo A
Anexo B
Anexo C
INSAT
INQUÉRITO
SAÚDE E TRABALHO 2007
Carla Barros-Duarte Liliana Cunha Marianne Lacomblez
Nível escolaridade
M F
Pública Privada
Ano de admissão na
Tipo de empresa empresa (ano)
Sector de actividade da empresa (por ex. hospital, escola, indústria têxtil, transportes,..)
SITUAÇÃO LABORAL
Efectivo ou contrato sem termo
Contrato a prazo ou contrato a termo
Trabalho temporário
Aprendizagem; formação; estágio ou bolsa
A recibo verde ou factura
HORÁRIO DE TRABALHO
Identifique entre as seguintes opções todas as que caracterizam o seu horário de trabalho actual e passado: Actual Passado
Tempo inteiro
Tempo parcial
Horário fixo
Horário irregular
Fim-de-semana
Trabalho em horário normal
Trabalho em turnos fixos
Trabalho em turnos rotativos
Trabalho com isenção de horário
Turno diurno
Turno nocturno
Turnos mistos (diurno e nocturno)
O meu número total de horas de trabalho reais, em média, por semana é...
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 2
_ vibrações (oscilações ou tremores no corpo, ou nos membros)
_ radiações (material radioactivo, RX)
_ calor ou frio intenso
_ poeiras ou gases
_ agentes biológicos (contacto, manuseamento com bactérias, vírus, fungos ou material de origem
orgânica ou vegetal ou animal)
_ agentes químicos (colas, solventes, pigmentos, corantes, vernizes, diluentes)
CONSTRANGIMENTOS FÍSICOS
Sim, no trabalho Apenas no
No meu trabalho sou (ou era) obrigado a… actual trabalho passado
Nunca
_ gestos repetitivos
_ posturas penosas (posições do corpo dolorosas, custosas, desconfortáveis)
_ esforços físicos intensos (cargas pesadas manuseadas ou movimentadas)
_ permanecer muito tempo de pé na mesma posição
_ permanecer muito tempo de pé com deslocamento
(arrastar, puxar, empurrar, andar muito de pé)
_ permanecer muito tempo sentado
AUTONOMIA E INICIATIVA
Sim, no trabalho Apenas no
No meu trabalho tenho (ou tinha) … actual trabalho passado
Nunca
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 3
RELAÇÕES DE TRABALHO
Sim, no trabalho Apenas no
No meu trabalho é (ou era) … actual trabalho passado
Nunca
3. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO
Sim, no trabalho Apenas no
O meu trabalho é (ou era) um trabalho… actual trabalho passado
Nunca
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 4
III – CONDIÇÕES DE VIDA FORA DO TRABALHO
Estado civil Número de filhos
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 5
_ ser obrigado a resolver situações
ou problemas imprevistos sem ajuda
_ não poder desviar o olhar do
trabalho
_ ter que suprimir ou tomar as refeições
a horas pouco usuais ou nem realizar a
pausa por causa do trabalho
_ter que ultrapassar o horário
normal de trabalho
_ trabalhar só
_ trabalhar na presença dos outros,
sem me poder isolar
_ comunicar de forma quase
permanente com as outras pessoas
_ ter um trabalho muito monótono
_ ter um trabalho muito variado
(estar sempre a aprender coisas novas)
_ ter um trabalho muito complexo
_ ter um trabalho em que estou
constantemente a ser solicitado
_ ter um trabalho que exige longos
períodos de concentração intensa
_ ter um trabalho que não é
reconhecido pelos colegas
_ ter um trabalho que não é
reconhecido pelas chefias
_ ter um trabalho que afecta a
minha dignidade
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 6
_ ter um trabalho que sei que não
poderei realizar quando tiver 60 anos
(pelo desgaste que provoca)
_ ter um trabalho em que me sinto
explorado
_ ter um trabalho em que me sinto
insatisfeito
V – FORMAÇÃO E TRABALHO
Sim Não
1. DOMÍNIO
CARDIO – RESPIRATÓRIA (coração e pulmões) Sim Não
_ Tenho problemas do aparelho cardio-respiratório (falta de ar, dor no peito, cansaço fácil)
Se sim, Sim Não
Sim Não
Sim Não
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 7
DIGESTIVO Sim Não
_ Tenho problemas de ordem digestiva (dores de barriga, azia, enfartamento, prisão de ventre, diarreia)
Se sim, Sim Não
Sim Não
_ Tenho limitação de movimentos ao nível da zona cervical das costas (junto ao pescoço)
Se sim, Sim Não
_ Tenho limitação de movimentos ao nível da zona dorsal das costas (fundo das costas)
Se sim, Sim Não
2. VISÃO
Sim Não
Se sim,
Uso óculos ou lentes desde os meus… (anos)
3. AUDIÇÃO
_ Tenho dificuldades de audição
(por ex. para ouvir um conversa em grupo, para telefonar, para ouvir o som da televisão ou do rádio)
Nem muita
Muita Bastante Alguma Pouca Muito pouca Nenhuma
nem pouca
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 8
VII – SAÚDE NO TRABALHO
1. ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS PROFISSIONAIS
Sim Não
_ Tive já um acidente de trabalho
(por ex. traumatismos graves ou mesmo pequenos ferimentos na realização do seu trabalho)
_ Nos últimos doze meses tive necessidade de faltar mais do que três dias Sim Não
seguidos ao trabalho
_ Considero que a utilização de equipamento de protecção individual dificulta a realização da minha actividade de trabalho
(responda a esta questão apenas se, no seu trabalho, tiver que usar equipamento de protecção individual)
Nem muita nem
Muito Bastante Um pouco Pouco Muito pouco Nada
pouco
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 9
3. SAÚDE E TRABALHO
_ Considero que a minha saúde e segurança estão ou foram afectados devido ao trabalho que realizo
Nem muito
Muito Bastante Um pouco Pouco Muito pouco Nada
nem pouco
PROBLEMAS DE SAÚDE
1ª PARTE DA RESPOSTA 2ª PARTE DA RESPOSTA
_ Problemas de voz
_ Problemas de audição
_ Problemas de pele
_ Problemas respiratórios (pulmões)
_ Problemas músculo-esqueléticos (e articulações)
_ Problemas digestivos
_ Problemas hepáticos (fígado, vesícula)
_ Problemas renais (rins)
_ Problemas associados à menstruação ou Problemas
da próstata
_ Problemas nervosos
_ Problemas de sono (sonolência, insónia)
_ Problemas em engravidar ou na gravidez
_ Problemas cardíacos
_ Dores de costas
_ Dores de cabeça
_ Dores de estômago
_ Dores musculares crónicas
_ Varizes (derrames, aranhas vasculares)
_ Adormecimento frequente dos membros
_ Alergias
_ Stress
_ Depressão
_ Mudanças bruscas do humor ou alterações de comportamento
_ Fadiga geral
_ Ansiedade
_ Irritabilidade
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 10
_ Consumo frequentemente medicamentos Sim Não
Caso pretenda tecer algum comentário relativamente às questões presentes neste inquérito ou a aspectos que não tenham
sido contemplados utilize, por favor, o espaço seguinte para o fazer.
INSAT Inquérito Saúde e Trabalho 2007 Carla Barros-Duarte _ Liliana Cunha _ Marianne Lacomblez 11
Guião para a identificação de problemas de saúde1
Análise da Médica do trabalho dos problemas de saúde no trabalho
Na página seguinte são apresentados alguns problemas de saúde que os indivíduos podem
sentir no seu trabalho.
Empresa: …………………………………………………………………………………
Departamento: ……………………………………………………………………………
Data: ………………………………………………………………………………………
1
Boix & Vogel (1999), adaptado por Barros-Duarte (2004).
Relativamente à seguinte lista de problemas de saúde, indique os problemas existentes na
actividade dos trabalhadores ligados directamente à produção. Indique também se acha que
estão relacionados com o trabalho.
Nas páginas seguintes são apresentados alguns problemas que os indivíduos podem
sentir no seu trabalho.
Leia com atenção estas listas e identifique os problemas, que na sua opinião, são
sentidos por estes trabalhadores.
Empresa: …………………………………………………………………………………
Departamento: ……………………………………………………………………………
Data: ………………………………………………………………………………………
0020c
1
Boix & Vogel (1999), adaptado por Barros-Duarte (2004).
Questionário 1: Locais de trabalho e instalações
Coloque uma cruz na coluna do lado direito se achar que os seguintes problemas se verificam com os trabalhadores.
Se achar que esses mesmos problemas já foram identificados pelos Serviços de Segurança, Higiene e Saúde no
Trabalho e/ou administração, e/ou pelos trabalhadores, assinale-o nas colunas respectivas do lado esquerdo.
De seguida, no quadro que se encontra em baixo, descreva brevemente aqueles problemas que assinalou na coluna
do lado direito.
Identificação dos
problemas: Problemas
Serviços SHST
Trabalhadores
Administração
○ ○ Espaço de trabalho insuficiente – muitas pessoas e/ou equipamentos
○ ○ Desordem ou falta de limpeza
○ ○ Sistemas de armazenamento inadequados e/ou perigosos
○ ○ Segurança insuficiente durante as deslocações a pé (estrados, corredores,
escadas)
○ ○ Segurança insuficiente durante as deslocações mecânicas (veículos,
empilhadores)
○ ○ Possibilidade de quedas devido a protecção inadequada das vias de
circulação e das zonas de trabalho em altura
○ ○ Instalação de gás ou pneumáticos em condições de segurança insuficientes
○ ○ Sistemas de prevenção de incêndios e/ou explosões inadequados
○ ○ Saídas de emergência em número e local inadequadas
○ ○ Ventilação e/ou climatização insuficientes dos locais de trabalho
○ ○ Iluminação inadequada em função do trabalho a executar
○ ○ Barulho ambiente que possa levar a uma redução da atenção necessária para
a execução das tarefas
○ ○ Vestiários e casas de banho insuficientes em quantidade e qualidade
Identificação dos
problemas: Problemas
Serviços SHST
Trabalhadores
Administração
○ ○ Utilização de substâncias químicas, tóxicas e/ou de materiais perigosos
○ ○ Etiquetagem inadequada de conteúdos
○ ○ Informação/formação insuficiente sobre os riscos das substâncias e
materiais
○ ○ Falta de segurança no transporte e/ou armazenamento de substâncias e de
○ ○ materiais
○ ○ Má qualidade do ar (presença de fumos, gás, vapores, poeiras, odores)
○ ○ Riscos resultantes do contacto com os olhos ou com a pele
○ ○ Riscos de inalação
○ ○ Exposição a agentes cancerígenos ou mutagénicos
○ ○ Exposição a agentes alérgicos
○ ○ Exposição a agentes biológicos
○ ○ Instalações de protecção colectiva insuficientes ou inadequados
○ ○ Utilização inadequada dos equipamentos de protecção individual
○ ○ Contaminação externa
Riscos de acidentes ambientais graves (incidentes, fugas, explosões)
Identificação dos
problemas: Problemas
Serviços SHST
Trabalhadores
Administração
○ ○ Concepção inadequada dos postos de trabalho em geral
○ ○ Espaço de trabalho reduzido para a realização da tarefa
○ ○ Distribuição inadequada das pessoas e/ou equipamentos
○ ○ Concepção inadequada do mobiliário, dos equipamentos ou das ferramentas
○ ○ Cadeiras ou assentos reguláveis insuficientes ou inadequados
○ ○ Permanência excessiva numa mesma postura de trabalho
○ ○ Necessidade de adoptar posturas forçadas e fatigantes
○ ○ As tarefas não permitem mudanças de postura frequentes
○ ○ Repetição excessiva de movimentos
○ ○ Manipulação inútil de cargas
○ ○ Manipulação/transporte inadequado de cargas (peso, volume, altura,
deslocação, …)
○ ○ Manutenção prolongada de cargas sem pausas suficientes
○ ○ Armazenagem inadequada impedindo a manipulação/transporte correcta de
cargas
○ ○ Formação insuficiente ou inadequada dos trabalhadores no domínio da
ergonomia
Identificação dos
problemas: Problemas
Serviços SHST
Trabalhadores
Administração
○ ○ Insatisfação sobre a organização geral do trabalho
○ ○ Tarefas cansativas ou monótonas
○ ○ Ritmo ou pressões de trabalho excessivas
○ ○ Meios insuficientes para responder aos objectivos ou prazos fixados
○ ○ Trabalho em equipa ou em colaboração dificultado pelo trabalho
○ ○ Autonomia insuficiente no trabalho
○ ○ Duração inadequada da jornada de trabalho, da organização dos horários,
das equipas de trabalho
○ ○ Dificuldade em conciliar o trabalho e a vida social ou familiar
○ ○ Mobilidades de participação e consulta insuficientes ou inadequadas
○ ○ Poucas possibilidades de formação contínua ou de promoção
○ ○ Relações insatisfatórias com os chefes ou os responsáveis
○ ○ Relações insatisfatórias entre trabalhadores
○ ○ Relações insatisfatórias com os clientes/utilizadores internos
Identificação dos
problemas: Problemas
Serviços SHST
Trabalhadores
Administração
○ ○ Politica inadequada de igualdade de oportunidades no trabalho
○ ○ Discriminação para com as mulheres no trabalho
○ ○ Condições de trabalho diferentes segundo os sexos
○ ○ Divisão do trabalho entre tarefa “para as mulheres” e tarefas “para os
○ ○ homens”
○ ○ Casos de assédio sexual
Discriminação baseada segundo as diferentes étnicas, culturais, linguísticas,
○ ○ etc.
Condições de trabalho diferentes segundo o tipo de emprego
○ ○ (efectivo/contratado/estagiário)
Condições de trabalho diferentes segundo o contrato de trabalho na empresa
○ ○ (subcontratação)
○ ○ Protecção insuficiente dos trabalhadores temporários ou subcontratados
Formação e informação preventiva insuficientes dos trabalhadores
○ ○ temporários/subcontratados
○ ○ Em geral, ausência de solidariedade e de apoio entre colegas
Em geral, ausência de respeito nas relações