HIPERNASALIDADE
HIPERNASALIDADE
HIPERNASALIDADE
Patricia Felizatti
1
CM-00!20997-1
Felizatti, Pa.tric:ta li
IIF335a Aspectos fonjttco-fonológlcos da d1sartr1all
pOs-traumátlca. um estudo de caso I Patricia !I
Felizatti Campinas, SP Cs n J, 1998 ~
li
11 Orientador Maria Irma Hadler Coudry 11
li Dissertação (mestrado) - Universidade Es- 11
tadual de Camptnas, Instituto de Estudos da 11
Linguagem.
I
Universidade Estadual de Campinas
Patrícia Felizatti
Mestrado em Lingüística
Aspectos Fonético- Fonológicos da
Disartria Pós-Traumática: um estudo de
caso.
Patrícia Felizatti
Campinas
Fevereiro de 1998.
Banca Examinadora:
'
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{PÁGINA }
Aspectos Fonético- Fonológicos da Disartria Pós-
Traumática: um estudo de caso.
Patrícia Felizatti
{PÁGINA I
ASPECTOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS DA DISARTRIA PÓS-
TRAUMÁTICA: UM ESTUDO DE CASO.
Resumo 4
Considerações iniciais 5
Metodologia Geral 7
Notações e Diacriticos 10
{PÁGINA )
2.6. Prótese Elevadora de Palato (PLP- Palatal Uft Prothesis) 71
2.7. Relevância do uso de uma prótese elevadora de palato para
adequação do padrão de hipernasalidade. 73
Bibliografia 117
{PÁGINA I
RESUMO
{PÁGINALj}
No capítulo quatro 1 procedeu-se à análise dos
sinais acústicos de segmentos da produção oral de LC 1 para
estudo de velocidade de fala, de duração e de voz.
No quinto capítulo, apresento os dados referentes
aos padrões atuais do sujeito e as conclusões obtidas
através deste estudo.
{PÁGINAbl
METODOLOGIA GERAL
{PÁGINA Gl
externos captados pelo gravador e também registrados no Kay
Elemetrics Sona-Graph.
Para a descrição dos dados, no capítulo quatro,
utilizou-se o espectrógrafo Kay Eleroetrics Corp. Model
5500r no Laboratório de Fonética Acústica e Pesquisas
Experimentais (LAFAPE), do Instituto de Estudos da
Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Foram feitas as medidas das freqüências
fundamentais das vogais e das freqüências dos formantes
nasais (FNs) das vogais. Relaciono, abaixo 1 a descrição do
setup utilizado nas medições.
Setup # 80
{PÁGINA i-1
DISPLAY SETTINGS Lower Screen Upper Screen
Freq. Divisions 1000 Hz 1000 Hz
dB Divisions 9000 dB
Dynamic Range 42 dB 72 dB
Analysis Atten. 20 dB O dB
dos formantes das transições de IPI para cada uma das vogais
{PÁGINAS')
NOTAÇÕES E DIACRÍTICOS
profundo.
I - investigadora
ms - milissegundos
ê - consoante nasalizada.
- prolongamento de um segmento.
{PÁGINA 9}
Capítulo I
BELL, 1988).
Uma primeira definição, a de GR~L (1957}, propõe
o termo Disartrofonia para descrever a "alteração motora
neurogênica abrangendo respiração 1 ressonância, voz e
articulação/ caracterizada por movimentos lentos, fracos,
imprecisos e/ou incoordenados da musculatura de fala".
{PÁGINA lO)
Uma segunda definição, encontrada no Blakiston' s
Pocket Medical Díctionary, (BLAKISTON,l993), foi a de que
disartria é o comprometimento da articulação da palavra,
causado por qualquer transtorno ou lesão da língua ou dos
músculos da fala.
Veja-se que esta definição é imprecisa por tratar
separadamente língua e músculos da fala, sendo que aquela é
um conjunto de 17 músculos (8 pares e 1 ímpar) fundamentais
para a produção oral, dentre outras funções 1
Por outro lado, o comprometimento fásico, segundo
a mesma fonte de referência, é produzido por lesões
córtico-cerebrais e nas vias de associação no hemisfério
dominante e não por qualquer defeito no mecanismo da
audição ou da fala (id.).
Segundo ScHUELL et al. (1955 a: 361) os processos
motores envolvem integrações complexas entre os vários
níveis anatômicos relacionados ao córtex e ao tronco
cerebral. "Por essa razão, muitos tipos de disartria
ocorrem tanto na presença quanto na ausência de afasia".
Esse ponto, justamente, será discutido no item Alterações
de ordem fásica, práxica e ártrica, onde propõe-se, baseada
em FREITAS (1997), uma formulação teórico-clínica para tais
processos patológicos.
No entanto, neste momento, apresento argumentos
cruciais para a formulação da distinção entre tais
desordens verbais, no que tange à diferença entre
alterações de ordem práxica e alterações de ordem ártrica,
que têm estatutos semiológicos diferentes. A primeira,
frequente em quadros de afasia, tanto decorrentes de lesões
{PÁGINA H}
anteriores quanto posteriores, tem implicações diretas na
produção de processos verbais, nos vários domínios ou
níveis de linguagem (Benveniste, 1966, Jakobson, 1969,
1975), considerando, também, as implicações de um nível
sobre o outro, em relação ao todo da linguagem {Jakobson,
1975, Coudry, 1996, 1997). A segunda, consequência de
lesões de tronco cerebral, de ponte e bulbo, cerebelares e
sub-corticais, configura comprometimentos fonético-
fonológicos decorrentes do enfraquecimento dos músculos
fonatórios, causando lentificação e ininteligibilidade
(velocidade lentificada de fala e hipernasalidade,
disfonia, disprosódia) da produção oral~
{PÁGINA I,Z~
Veja-se que esta definição também é imprecisa: o
déficit fásico causado por lesão focal é diferente do
déficit ártrico causado por lesão traumática. No primeiro,
pode ocorrer, associado ao quadro afásico, uma "apraxia da
fala que é um déficit da programação motora envolvendo a
produção de fala" (OU verbal) [YORKSTON 1 BEUKELMAN & BELL,
1988]. No segundo, de acordo com os mesmos autores,
~'disartria é uma alteração na produção motora envolvendo
padrões anormais de movimento quanto à precisão,
coordenação e força". Assim, para esses, disartria é uma
alteração motora neurogênica de fala, caracterizada por
movimentos lentos, fracos 1 imprecisos e descoordenados da
musculatura fonatória.
As disartrias constituem um grupo de desordens de
fala resultante de distúrbios no controle muscular
fraqueza, lentidão ou incoordenação dos mecanismos de fala
devido a lesões no sistema nervoso central ou periférico ou
em ambos. O termo abrange a co-ocorrência de desordens {ou
afecções) neurogênicas de muitos ou de todos os processos
básicos de fala: respiração, fonação, ressonância 1
articulação e prosódia (YORKSTON et al., 1988). Segundo os
mesmos autores, a apraxia de fala é um distúrbio
articulatório resultante de uma lesão cerebral, que incide
na incapacidade de posicionar os músculos da fala e de
seqüencializar os movimentos musculares para a produção
voluntária dos fonemas. Esse termo é ainda bastante
utilizado na literatura americana atual 1 que engloba na
formulação desordens motoras de fala diferentes tipos de
afasia, apraxia de fala, anartria e, também, diferentes
tipos de disartria.
{PÁGINA 1:\1
Segundo tais autores, tanto a proximidade do
local da lesão quanto a presença de sinais etiológicos
comuns ajudam a explicar a constante ocorrência de apraxia
e afasia, em um mesmo quadro patológico.
DUFIT (1995), representante dessa vertente, define
apraxia de fala como sendo uma "desordem neurogénica de
fala, resultante da diminuição da capacidade em programar
comandos sensório-motores para o posicionamento e a
movimentação dos músculos para a produção volitiva da fala.
Essa apraxia pode ocorrer sem fraqueza significante ou
lentidão neuromuscular e na ausência de distúrbios da
3
consciência (anosognosia) ou da linguagemu •
{PÁGINA 1~}
Vejam-se, para uma revisão crítica da literatura,
outras referências à disartria e à anartria:
Autores como BLUMSTEIN & BAUM (1987) caracterizam a
disartria, a meu ver de modo abrangente e impreciso, como
um distúrbio de implementação articulatória de ordem
superior ou mais abstrato.
Outra imprecisão, em relação à definição de
disartrias, pode ser apontada na formulação de BARBIZET &
articulação ( po.r exemplo, as velocidades dos gestos seqüenciais (SMR) são mais
dificeis do que a velocidade dos gestos alternantes (AMR)).
n) Taxa de erros mais alta para enunciados volitivos/intencionais versus enunciados
automáticos/reativos.
o) Erros inconsistentes; alguns sons não estão sempre errados; os tipos de erros não
sào os mesmos em enunciados especificas.
p) os erros ocorrem tanta nas tarefas de fala espontânea quanto imitativas; os erros
de imitação geralmente não excedem os erros de fala espontânea sobre produções
comparativas.
q) o falante pode, na maioria das vezes, perceber seus erros articulat6rios,
predizê-los e esforçar-se para corrigi-los.
{PÁGINAÍ::Í}
Em relação aos termos afasia e apraxia de fala,
tentarei mostrar, esquematicamente, as relações existentes
entre ambas, por meio do esquema proposto por DuFFY
(1995:283).
{PÁGINA{'!-)
1.1. Apraxia de fala versus Disartria
{PÁGINA I~}
resultante de distúrbios no controle muscular como, por
exemplo, fraqueza, lentidão, ou incoordenação dos
mecanismos da fala em razão de lesão no sistema nervoso
central (SNC), ou periférico (SNP), ou em ambos. As
disartrias também abrangem a ocorrência de alterações
neurogênicas de muitos ou de todos os processos básicos
para a fala, ou seja, respiração, fonação, resson~ncia,
articulação e prosódia".
KENT [1976b, citado em WERTZ 1 R. et al.
(1984/91: 127 distingue apraxia de fala de disartria
mencionando que ambas são neuropatologias que se diferem
quanto à localização da lesão e quanto às manifestações de
ordem motora. Conclui, em seus estudos, que "a lesão que
acarreta a apraxia de fala é usualmente unilateral e
anterior. Por sua vez 1 a lesão que acarreta disartria é
usualmente bilateral se cerebral, mas, é mais típico que
seja subcorticalu.
De acordo com o mesmo autor, a aprax~a de fala
resulta de um distúrbio na programação motora porque estão
envolvidos os sistemas de associação motora. A iniciação,
seleção e seqüencialização dos gestos articulatórios estão
interrompidos 4
Por outro lado 1 tal autor aponta que na disartria
ocorre um distúrbio na execução do movimento devido à
alteração nos sistemas de projeçào motora~ isto é, nas
projeções dos neurônios motores inferior e/ou superior.
o sujeito portador de apraxia de fala (também
referido como apráxico} apresenta, freqüentemente,
hemiplegia à direita e, se a linguagem estiver alterada,
!PÁGINA J9}
manifesta-se uma afasia de Broca, que altera,
proeminentemente, o nível sintático da linguagem.
O sujeito disártrico exibe alterações musculares
do tipo paralisia, fraqueza, ataxia e/ou movimentos
involuntários que repercutem no nível fonético-fonológico
da linguagem. Entretanto, não apresenta alterações em
outros níveis (sintático, semântico e pragmático).
Pacientes apráxicos produzem ressonância normal,
ou melhor, próxima do normal. O equilíbrio da ressonância
no paciente disártrico está comprometido. Raramente
encontramos disfonia em sujeitos apráxicos. Em muitas
disartrias ocorre disfonia. As funções dos nervos cranianos
estão próximas do limite da normalidade na apraxia de fala 1
mas elas estão comprometidas em alguns tipos de disartria.
Quanto à respiração, alguns sujeitos apráxicos
podem apresentar dificuldade no início da expiração natural
e apráxicos severos também podem apresentar força de fluxo
expiratórío reduzida, Dependendo do tipo de disartria 1 o
paciente pode ter respiração reduzida para a fala devido à
fraqueza ou rigidez muscular, coordenação da respiração com
outros processos de fala, reduzindo a intensidade, com
tendência a não variá-la e com mudança inapropriada e
irregular da intensidade {"monoloudness~"~).
De acordo com YORKSTON (1988:61}, a distinção
entre apraxia de fala e disartria se faz por meio da
caracterização do tipo de alteração que engloba cada uma. A
apraxia de fala é um déficit da programação motora que
envolve a produção de fala, mas não atividades automáticas
ou involuntárias como a deglutição e a mastigação.
Disartria, por outro lado, é uma desordem na produção
motora que afeta os padrões de movimento, precisão,
coordenação e força dos órgãos fono-articulatórios.
{PÁGINA;!()}
A descrição da produção verbal de um sujeito
apráxico, feita por DARLEY (in YoRKSTON et al., 1988: 63), é a
seguinte:
{PÁGINAoêb
~-----~0-----
00
0
!
Desordens fonéticas (+ fonêmicas). !Desordens de I "esque-
seleção e i cimen-
seriação ~~to"
Ifonêmicas f~nê-
lr>i-;;::0-
:Ois ,---;,;;;;::;;;:::;----0--,----------,-~ ----~ --- rru C!?_,__
Ruptura
fun"- OI Sistema
no aparato , fonêmico
ção extra-
hipo- ! dis-
cortical ou sociado
téti-
motor
cao
I periférico/
nenhum
j semãn-
i
""
tico ?
I! controle es !
!
o peeifico para i
I
i a linguagem. I
i
i Ruptura na Ruptura !
Ruptura Ruptura ;
i
i
programação no apa- Í no na 1
motora da fala rato ar- ; apara- estabilij
(controle ticulatório! to acús- dada do~
voluntário) sensório- I
tioo/ ar-
motor (feedj ticulat6
back mo- 1 rio
=~s 1~.:
ti.cos
tor afe-
rente) .
! (descone
! -xão das
verbais
(lesão ;
!
1 áreas de no j
1. Wernicke lobo teml
1
! !
i e
poral)
; i Broca)
Clas-
sifi-
'Disartria Afemia
(Broca) :
I
Afasia
motora
i
Afasia
] de
:asia I:asia
cação Anartria
1
pural aferente i condução condu- ! Werni-
(P.Ma.rie); (Luria); · (Gesch- ção ( 1 cke
Desinteqração
fonética I
1Afasia wind) :
simples comi Afasia
Warrinqt! (neolo-
on,
(Alajouanine); alteração i fonemáti Tsvetko-1 para-
[ gismos,
{PÁGINAW
1.2. DISARTRIA VERSUS AFASIA
{PÁGINl!iZ31
na compreensão tanto da linguagem verbal quanto da escrita.
Os afásicos têm dificuldade em reter qualquer tipo de
informação simbólica.
Em seu livro (op. cit.) Clinical Management of
Dysarthric Speakers, a autora diferencia afasia de
disartria por itens semiológicos presentes ou ausentes, ao
dizer, por exemplo, que na disartria a compreensão auditiva
e a habilidade de leitura estão preservadas, por oposição
ao que ocorre na afasia. Pergunta-se: as alterações de
velocidade de fala (tanto lentificação como aceleração)
presentes na disartria não interferem na compreensão do
material Ou a autora refere-se à habilidade de
lido?
leitura relacionada a aspectos mecânicos (como se fosse um
código), indepentendemente da compreensão? Em outras
palavras, as alterações fonético-fonológicas decorrentes da
disartria não interferem em sua habilidade de ler?
Discutirei esse aspecto no capítulo IV, onde mostrarei o
parametro de duração influindo no timing de produção da
leitura.
A localização da lesão e a etiologia também
diferenciam a afasia da disartria. As lesões que produzem
afasia estão circunscritas em determinadas áreas corticais,
e relacionam-se também com conexões subcorticais,
localizadas, para os sujeitos destros, no hemisfério
5
esquerdo •
{PÁGINA Jfi}
1.3. Alterações de ordem fãsica, prãxica e ãrtrica.
(1997).
"A distinção articulatório/fonológico
(identificando-se o articulatório com o fonético) é central
na caracterização dos quadros afásicos com comprometimento
das áreas anteriores do hemisfério esquerdo H, em contraste
com aqueles em que a produção da fala é afetada por
problemas práxicos ou ártricos, que envolvem a execução dos
gestos articulatórios sem afetar o aspecto simbólico da
linguagem (embora o práxico também seja da ordem do
simbólico, no sentido de que toda atividade aprendida é
simbólica") {FREITAS, 1997:44).
A autora (op. cit.) diz que, para uma
caracterização dos problemas de ordem fásica, devemos nos
deparar com a questão da Linguagem Interna (FREITAS,
1997:14). Levando em conta a relação entre linguagem e
pensamento, no estudo da afasia, a mesma autora recorreu ao
conceito de Linguagem Interna descrita por VYGOTSKY {apud.
FREITAS, 1997), FRANçozo, 1987 (Linguagem Interna e Afasia}.
Continuando seu percurso, FREITAS pondera que a Linguagem
Interna deva ser sempre o ponto de referência para
descrevê-la, embora a afasia não seja um problema apenas de
Linguagem Interna, afirmando que, "nestes termos, qualquer
quadro que apresente problemas que envolvam a linguagem,
tanto em sua face interna, quanto na passagem da Linguagem
Interna para a Externa, deve ser considerado um quadro
afásico" (FREITAS, 1997:15). Ela considera o fato de que nas
alterações fásicas ocorrem instabilidades, e de que a
afasia acomete um nível da linguagem mas, em seu
funcionamento, há repercussão em outros, confirmando,
assim, o caráter integrativo dos níveis linguisticos
(Coudry, 1990/93, 1991/96, 1990/93; Coudry e Morato,
1991/93).
Nas afasias existem problemas de compreensão, de
formulação e de expressão da linguagem, isto é, há
dificuldades no processamento das unidades significativas
da lingua (in DARLEY et al. (1975), apud. FREITAS, 1997:461;
há problemas, também, na relação do sistema da língua com
parâmetros ãntropo-culturais.
Quanto às alterações de ordem ártrica,
encontramos (in DARLEY et al. (1975), apud. FREITAS, 1997:53)
os termos anartria e disartria, dizendo respeito a
problemas de fala causados por fraqueza, lentidão,
incoordenação ou perda de tõnus da musculatura da fala e
não a dificuldades na programação da fala {apraxia) . Quanto
à anartria, é considerada por alguns autores (in LESSER,
(1978) apud. FREITAS, 1997: 51 I como um "comprometimento
especificamente lingüístico gue se coloca entre a
verdadeira afasia e a genuína disartria, com sua origem no
estágio entre evocação dos ítens lingüísticos e realização
motora". FREITAS comenta que, se há alterações lingüísticas,
devemos admitir o caráter fásico e que, "o fato de haver
variabilidade nos tipos de "erros" não é suficiente para
não alinhar os problemas da anartria com aqueles das
disartrias. Além disso, os adjetivos "verdadeira~' (aplicado
à afasia) e "genuina 11 (atribuído à disartria) pode levar à
conclusão de que a anartria já estaria sendo considerada
uma falsa afasia ou uma espécie de disartria adulteradau. E
conclui que, lingüisticamente, não existe ganho em se
considerar anartria como um quadro independente da afasia
já que a primeira "não acrescenta elementos capazes de
avançar na compreensão dos fenômenos lingüísticos
{ PÁGINA;(1}
envolvidos nas alterações articulatórias da fala" (op. cit.
p. 52) •
No que diz respeito à performance lingüística do
SUjeito disártrico, SUS.AN HUSKINS (in FREITAS, 1997:39} afirma
que, na disartria, a linguagem está intacta e somente a
produção da fala está perturbada; mas, em alguns casos,
vários dos mecanismos da fala estão envolvidos/
necessitando atenção à atuação respiratória, fonatória,
ressonatória e articulatória, isto é, respiração, voz,
nasalidade e fala.
As alterações de ordem práxica foram introduzidas
por LIEPMANN (1900) com o objetivo de designar a inabilidade
de um paciente cérebro-lesado, que não apresentava déficit
sensório-motor ou problemas na compreensão do que lhe era
requerido, em executar movimentos propositais FREITAS,
1997: 40) •
No trabalho de HUSKINS (1986} (in FREITAS, op.
c i t.) o conceito de apraxia 1 desde sua origem, tem sido
bastante vago e descreve a apraxia buco-facial como sendo
uma forma de apraxia que afeta a habilidade de imitar ou
executar comandos, movimentos faciais e orais. Segundo a
autora, tais movimentos ocorrem mui to normalmente em
situações espontâneas (ex.: o paciente pode sorrir, franzir
as sobrancelhas, mastigar, engolir ou assobiar em situações
contextualizadas}, mas estas mesmas atividades não podem
ser produzidas voluntariamente. Ela afirma ainda que esse
tipo de apraxia é freqüentemente encontrado em pacientes
com afasia de Broca, mas pode também ser encontrado em
pacientes com afasia de Wernicke. HUSKINS (op. CIT.)
{PÁGINA,lt}
Discutindo o termo apraxia de fala Lesser
(1978;152), cujo capitulo oitavo procede a uma revisão de
aspectos fonológicos e prosódicos decorrentes de lesão
cerebral, aponta a questão de que há mais ênfase em se
referir à articulaçào do que ao nível fonológico, em se
tratando de alterações motoras da fala. Esta autora
enfatiza "a natureza motora da programação da alteração e
inclui distorções fonéticas entre suas caracteristicas"(tal
como procederam DARLEY et al.,1975); no entanto, há outra
interpretação na literatura: os fonemas são bem
articulados, mas a dificuldade está na sua seleção e
seriação. Tal apraxia de fala pode dizer respeito a
alterações na programação motora per se ou, também, no
feedback cinestésico (como essencial para a execução dos
planos motores) e, às vezes ainda, no feedback acústico.
Tal fenômeno é também descrito por LuRIA (1976, 1977) que
usa a distinção entre as duas primeiras alterações para
diferenciar as afasias motoras eferente (envolvendo
programação motora ou organização cinética) e aferente
(envolvendo feedback cinestésico).
Para finalizar, as alterações fono-articulatórias
descri tas por FREITAS {1997) complementam e tentam desfazer
as confusões terminológicas existentes na área, no âmbito
da lingüística/ a considerando
importância entre a
integração dos niveis lingüísticos para pleno funcionamento
da linguagem. Também coloca em pauta, a consideração de
que, em se tratando de linguagem, as correlações
estritamente anátomo-clinicas devem ser relativizadas face
à plasticidade cerebral {FREITAS, 1997).
Em sua tese de doutorado, FREITAS {1997) procede a
uma minunciosa revisão conceitual e terminológica das
alterações de ordem fásica decorrentes de lesões cerebrais
que configuram as afasias motoras no que diz respeito aos
níveis lingüísticos implicados, ou seja, o fonético-
fonológico. No contexto dessas afasias, a autora revê a
caracterização do que seja apraxia de fala, apontando sua
inadequação, no que diz respeito à ausência de valor
semiológico, uma vez que associa-se a uma desordem isolada
de fala: "( ... ) a chamada "apraxia da fala" (supondo por um
ato de fé que tal quadro exista, ( ... ) a literatura que o
promove não apresenta dados de urna apraxia da fala sem
afasia, embora afirme que ela exista) seria,
indubitavelmente, um legitimo problema lingüistico, de
nivel fonético, isto é, o termo práxico neste caso, seria
não apenas desnecessário, mas inapropriado"{op. cit. 207).
A partir, pois, do estudo de Freitas (1997), e
tendo a minha pesquisa procedido também à revisão dos
termos anartria, disartria, apraxia de fala, apraxia
verbal, oro-facial, buco-facial, articulatória, as
alterações práxicas relativas ao controle da musculatura
facial, considerando o grau de severidade da lesão, dizem
respeito a:
{PÁGINA~}
proeminentemente o nível fonético-fonológico implicado na
produção verbal. Optamos pela formulação "buco-faringo-
laríngea", como propõem Alajouanine e Lhermitte (1960) para
qualificar os fatos patológicos relacionados a essa
apraxia, devido ao envol virnento das estruturas intra-orais
(lábio, dentes, língua, palato) e, quando for o caso, dos
ciclos vibratórios das pregas vocais, envolvendo faringe e
laringe.
Para exemplificá-la, mostro um trecho (do inicio
do processo de avaliação neurolingüistica) de diálogo entre
a ~nvestigadora (M) e a paciente (GR6 ) , para ilustrar a
apraxia buco-faringo-laríngea. Neste dado, de 16/09/97, a
investigadora pede que GR produza seu nome ['agída].
1)
A- ['a.kLta]
A - [ 'ka]
{ PÁGINA 3.\,)
A- [s::]
M - [da] [da]
A- ['na] ['na]
M- [' da]
A- ['ta]
O nome da paciente
Águida. Ela não faz o
é
vozeamento necessário para produzir os plosivos e
fricativos sonoros, mas sim para a homorgànica nasal. Neste
exemplo, vemos que, frente à extrema dificuldade para gerar
o plosivo sonoro língua-dental [d], GR, ao esforçar-se para
{PÁGINA~~
sua próxima tentativa, na passagem de [d] para [n],
sustentou o ponto de articulação, alterando o modo. Na
seqüência, ela produziu um [ta], não tendo pressão aérea
infra-glótica para fazer com que as pregas vocais vibrassem
em um número maior de ciclos por segundo, suficiente para
produzir o vozeamento, o que a faria produzir um [d], ao
{PÁGINA'33}
1.4. Disartria e Lesão no Hemisfério Direito (HD) e no
Hemisfério Esquerdo (HE)
{ PÁGINA%}
7
temporal. As autoras citam, ainda, o trabalho de Ross &
3)
I - Com quem voce tem que falar ?
LC - Com quem ? Com as moças I lá da 11 Promoção
Social.
4)
I - Aí, nesse día em que você for para Bauru/
você vai sozinho, não vaí? Não tem aquela turma
LC - Quando eu vou em Bauru, eu 11 eu 11 eu 11 eu
{PÁGINA JÕ)
É interessante que LC tenha recorrido a "ir de
ambulância", porque essa expressão traz à tona um
conhecimento partilhado entre LC e seu interlocutor de que
somente urna pessoa o acompanha durante a viagem. "Ir de
P...rnbulância" elimina a possibilidade de ''ir de micro-
ônibus''1 condução que toma para ir a campinas, junto com
várias outras pessoas. As pausas longas, que se seguem ou
antecedem às informações relevantes "em Bauru"' e "de
ambulância#, mostram como lhe é custoso elaborar respostas
nprontamente".
{PÁGINA 3'l f
CAPÍTULO 11
2.1. Histórico
{PÁGINA'-101
feito por uma conhecida da família do sujeito. Nesta época,
tive o primeiro contato com LCJ em Leme (cidade onde
moramos), em meu consultório. De acordo com as informações
da mãe do paciente, LC só estava se submetendo, até então,
aos atendimentos de fisioterapia. Já estava conseguindo
andar sem apoio.
A avaliação de linguagem inicial, a qual procedi,
revelou que as sequelas que se instalaram a partir da lesão
são, de acordo com critérios perceptuais (auditivos), a
hipernasalidade e a velocidade de fala lentificada,
interferindo na fluência oral de LC. O exame de linguagem
preliminar revelou que a repercussão da lesão, na
linguagem 1 foi maior no nível prosódico e no das segmentos
da fala, o que nos faz concluir que o déficit é de natureza
disártrica, como argumenta Lemos (1984:2): "os distúrbios
existentes nas disartrias relacionam-se com a articulação
da palavra, o ritmo, a tonalidade e a regularidade da
expressão". As disartrias, quase sem exceção, estão
associadas a doenças ou condições que são crônicas ou a
longo termo (DE ANGELIS et al 1 1996) . Encontramos, na obra
dos mesmos autores, uma referência ao trabalho de FREY
(1984), que distingüe três condições freqüentemente
associadas às doenças crônicas: alteração, inabilidade e
limi taç.ão. Destas três condições LC apresenta, coma
alteração, uma disartria caracterizada por movimentos
lentos, fracos, imprecisas e/ou incoordenados da
musculatura de fala e, como inabilidade, apresenta redução
da inteligibilidade e da velocidade de fala e padrões
prosódicos alterados YORKSTON, BEUKELMAN & BELL 1 1988). Além
destes, LC também apresenta extrema hipernasalidade como
fator que contribui para o prejuízo da inteligibilidade.
Quanto aos movimentos lentos da musculatura da
fala, e da própria articulação, encontramos, na literatura,
a definição de bradilalia, ou bradiartria, ou bradifasia,
ou bradifemia. 10
Tais termos designam a articulação lenta das
palavras por lesões do neurônio motor superior (que engloba
os tratos corticoespinhal e corticobulbar), do neurônio
motor inferior (que localiza-se nos núcleos do tronco
cerebral e dos cornos anteriores da medula espinhal),
lesões do sistema extrapiramidal (nos gânglios da base dos
núcleos subcorticais) e lesões cerebelares.
A partir da avaliação procedida, fiz o
encaminhamento de LC para o Centro de Convivência de
Afásicos (CCA/IEL/FCM/UNICAMP), a fim de mantê-lo em
contato com outros sujeitos (afásicos ou não), em diversas
situações discursivas e de uso sócio-cultural da linguagem,
objetivos centrais do CCA11
LC está, desde 1992, seguindo as sessões do CCA e
mantendo atendimentos semanais de fonoaudiologia, em meu
consultório particular.
As seque las
quadro linguistico
do que se
estabeleceram após o traumatismo, perduraram por um periodo
aproximado de um ano e três meses, em que o sujeito não
participou de qualquer programa para a recuperação do
sistema motor oral. Esse intervalo de mais de doze meses,
10 Rradi: elemento de composição que designa lentidão, {Do gr. bradys, lento).
n O CCA faz parte da Unidade de Neuropsicologia e Neurolinguistica \tJNNE), do
Departamento de Neurologia, da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e do
Departamento de Linguistica da UNICAMP, onde funciona. O CCA recobre a proposta de
atendimento em grupo da UNNE e da área de Neurolinguistica do IEL e tem como eixo
central o elte:reiclo vivo da. linguagem, em diversos contextos enunciativos, com
alternância de interlocutores; dele participam sujeitos cérebro~lesados e
pesquisadores, vivenciando situaçoes de uso sócio-cultural da linguagem.
Esse trabalho com a linguagem (FRANCHI, 1977; GERALDI, 1990) requer a mobilização de
vários processos cognitivos envolvidos na atividade simbólica de processos de
significação, alterados nos sujeitos cérebro-lesados {linguagem em suas diferentes
configurações textuais, memória, atenção ativa, percepção, raciocinio através de
infex:ências, gestos). Como no atendimento individual, que todo paciente do CCA tem,
o objetivo do atendimento em grupo é tornar visiveis tanto as alterações que ele
apresenta e as tentativas de superá-las, quanto os processos alternativos de
significação de que lança mão para enfrentar as atividades verbais e não verbais às
quais é exposto (CouDRY, 1986/88).
{PÁGINA ~,h)
antes que LC fosse a mim encaminhado, num ambiente onde a
linguagem verbal deixou de fazer parte de rotinas
significativas (ALBANo,1984), contribuiu para uma produção
oral hesitante com "procura da palavra" (sem que se
caracterize um word fínd dífficul ty), o que pode explicar
as dificuldades que LC apresentou nos primeiros exames
neuropsicológicos e neurolinquisticos. Tais dificuldades
foram reinterpretadas ao longo do acompanhamento
longitudinal. A lentificação da velocidade de fala
acrescida de poucas situações de conversa, tanto com
familiares quanto com amigos (pois ficava em casa, sem
fazer nada, com uma mãe idosa e um pai gravemente enfermo,
portador de afasia global), durante um período
considerável, contribuíram, pois, para uma fala hesitante.
Com a intervenção fonoterápica e a participação no CCA,
tais dificuldades foram sendo superadas, permanecendo uma
lentificação no ritmo de sua produção oral. O intervalo
entre o traumatismo crâneo-encefálico (TCE) e o inicio do
programa de intervenção foi significativo para agravar os
sintomas, no sentido de que não foram tratados de imediato.
Os critérios de diferenciação entre déficit
afásico e déficit disártrico, adotados para o
desenvolvimento deste trabalho são:
1) a descrição e acompanhamento dos distúrbios
linguísticos observados durante processo terapêutico;
2) a correlação da natureza da lesão com os danos
linguisticos, e
3) as relações entre hemisfério direito (HD) e
hemisfério esquerdo (HE) no processamento da linguagem.
{PÁGINA~;))
2.2. O papel do cerebelo
{PÁGINA'/~)
De acordo com a divisão filogenética do cerebelo
tem-se que o arquicerebelo é a porção filogeneticamente
mais antiga e que corresponde ao lobo floculonodular e tem
mui tas conexões com o aparelho vestibular; o paleocerebelo
corresponde aos lobos vermis e anterior. Está associado com
a parte sensitiva dos tratos espinocerebelares; e o
neocerebelo corresponde ao lobo posterior.
Filogeneticamente- é o último a surgir. Apresenta conexões
com o córtex cerebral e relaciona-se com o controle
seletivo dos membros (op. cit.).
O cerebelo monitoriza e faz ajustes corretivos
nas atividades motoras eliciadas por outras partes do
cérebro. Ele é especialmente vi tal no controle de
atividades musculares muito rápidas como a de correr,
datilografar, tocar piano e até falar (GuYTON, 1977) • A
perda dessa área do encéfalo pode comprometer cada uma
dessas atividades, embora sua perda não provoque paralisia
de nenhum músculo.
Ele recebe continuamente informações atualizadas
das regiões periféricas do corpo, determinando o estado
instantâneo de cada região corpórea - posição, velocidade
de movimento, forças agindo sobre ela, e assim por diante.
O cerebelo compara o estado físico real de cada região do
corpo com o estado que é pretendido pelo sistema motor. Se
os dois não se ajustam de modo favorável, os estímulos
corretivos adequados são, então, transmitidos
instantâneamente de volta ao sistema motor, aumentando ou
diminuindo os níveis de ativação dos músculos especificas.
Urna vez que o cerebelo deve fazer as principais
correções motoras de modo extremamente rápido durante o
curso dos movimentos motores, um sistema de entrada
cerebelar de ação mui to rápida e mui to extensa é
necessário, proveniente tanto das regiões periféricas do
{PÁGINA~:)}
corpo quanto das regiões motoras cerebrais. Além disso, o
extenso sistema de saída que também alimenta de modo tão
rápido o sistema motor é necessário para fornecer as
correções indispensáveis dos estímulos motores (op. cit.}.
Os distúrbios articulatórios adquiridos que se
observam em pacientes cerebelares não estão obviamente
cor relacionados com os locais da lesão. Para DARLEY et al.
(1975), eles ocorrem mais freqüentemente na presença de
lesões bilaterais ou generalizadas. Em lesões focais, a
área de comprometimento mais provável é o terço médio do
vérmis cerebelar.
Há pesquisas (RODRIGUES, 1992: 83) que apontam para
uma lateralização das funções cerebelares no que diz
respeito aos aspectos articulatórios, com importante
participação do hemisfério cerebelar esquerdo, o qual está
intimamente conectado ao hemisfério cerebral direito!
responsável pelo processamento de melodias. As alterações
de velocidade de fala (observadas em pacientes cerebelares}
revelam alterações nas conexões cerebrocerebelares entre o
hemisfério cerebral direi to e o hemisfério cerebelar
esquerdo {op. cit.).
A tabela abaixo refere-se aos sinais clínicos
mais comuns de doença cerebelar e foi extraída de DUFFY
(1995: 147).
{PÁGINA'(;}
ZONA DA LINHA MEDIA (vermisl ZONA HEMISFERICA LATERAL
lobo floculonodular e núcleo (hemisférios, núcleos
fastígial) denteado,
globoso e emboliforme)
1. desordem postural e do modo 1. hipotonia
de andar
2. tronco titubeante 2. dismetria
3. posições alternadas ou 3. disdiadococinesia
inclinadas da cabeça
4. anormalidades motoras 4 . ataxia
oculares
5. disartria 5. tremor
6. anormalidades motoras
oculares
7. disartria
{PÁGINA 1H!
transmitidos a diferentes regiões do sistema motor,
incluindo o córtex motor, os núcleos da base 1 o núcleo
vermelho, a formação reticular do tronco cerebral e os
núcleos vestibulares ( GUYToN, 1977) .
As afecções cerebelares afetam um número de
movimentos especializados, incluindo os da fala, como
mostram KENT et al. (1997). Esses autores estudaram, através
de métodos acústicos, um tipo de disartria - a atáxica, que
é uma desordem da fala que acompanha a doença cerebelar. Os
dados acústicos derivam das amostras de fala que
confirmaram a hipótese de que desajustes na duração
caracterizam tal desordem ártrica.
As etiologias da disartria atáxica (cerebelar)
foram descri tas e percentualizadas por DuFFY ( 1995; 151) e
estão resumidas no quadro abaixo:
Degenerativas 34 %
vasculares 16%
Desmielinizantes 15%
Indeterminadas 14%
Tóxicas/metabólicas 7%
Traumáticas 6%
Inflamat6rias 5%
Tumor ais 3%
Múltiplas 1%
Outras 1%
{PÁGINA50J
2.3. Dados fonoaudiológicos iniciais:
{PÁGINA'Õj)
LC, esporadicamente 1 nesse período, engasgava ao
beber liquidas. Apresentava tosse sem, no entanto, ocorrer
vômito. A.o comer tanto pão quanto bolacha, ficavam resíduos
de alimento e saliva nas comissuras labiais 1 difíceis de
serem removidos com a ponta da lingua.
Quanto aos aspectos relativos aos órgãos
fonoarticulatórios ficou constatada assimetria facial no
que diz respeito à rima bucal, postura inclinada da cabeça
para o lado direito e como uma disfunção sensorial
1
{PÁGINA 54
do movimento realizado por ela 1 quando lhe pede para que
lateralize a ponta da lingua em direção à comissura do lado
direito ou esquerdo.
LC não apresenta alterações oclusais. Também não
apresenta alterações de palato anterior. Quanto ao
posterior/ relatou ter sentido náusea quando tocado mais
para o lado esquerdo e não conseguiu emiti r qualquer som
devido à sensação nauseante. o lado direito, quando tocado,
não lhe desencadeou a sensação de náusea. Este dado pode
ser indicativo de pares ia do véu palatino à direita, a
ponto de o paciente sustentar a emissão do [>i] sem o
reflexo de vômito.
A paralisia ou paresia de véu palatino acarreta a
hipernasalidade e a regurgitação nasal. Após deglutição há
resíduo de alimento em dorso de língua e palato mole
ICHERNEY, 1994) . "
'~ Nesse momento, para complementar os dados de que dispunha, até então, solicitei
uma consulta com um otorrinolaringologista. Este exame foi realizado em Leme, em
10/04/1992, em clínica particular e conduzido pelo Dr. PAu-LO CtsAA MusUMECI. os
resultados deste exame constam de:
Otoscopia: normal em ambos os ouvidos.
Desvio lingual para o lado direito. Discreta paresia de musculatura de lingua.
Assimetria facial. Paresia facial direita do tipo central.
Mobilidade da asa do nariz: sem alteração
Importante paralisia de palato. Mobilidade do palato diminuida e diminuição do
tônus do palato mole. Sensibilidade preservada.
Úvula: sem movimentação, com diminuição do tônus muscular.
Reflexo corneano ou c6rneo-palpebral presente; indicando que nâo há lesâ.o no
ramo oftálmico do Nervo Trigêmeo (V par craniano).
''Pesquisa-se este reflexo tocando ligeiramente a córnea com mecha de algodão,
o que determina fechamento dos dois olhos por contração bilateral da parte palpebral
do músculo orbicular do olho. O impulso aferente pa.ssa sucessivamente pelo ramo
oftálmico do trigêmeo, gânglio trigeminal e raiz sensitiva do trigêmeo, chegando ao
núcleo sensitivo principal e núcleo do tracto espinhal deste nervo. Fibras cruzadas
e não cruzadas originadas nestes núcleos conduzem os impulsos aos núcleos do facial
dos dois lados, de tal modo que a resposta motora se faz pelos dois nervos faciais,
resultando fechamento dos dois olhos, Entende-se, assim, que a lesão de um dos
nervos trigêmeos abole a resposta reflexa dos dois lados quando se toca a córnea do
lado da lesão, mas não quando se toca a córnea do lado normal. Já a lesão do nervo
facial de um lado abole a resposta reflexa deste lado, qualquer que seja o olho
tocado. O reflexo corneano constitui mecanismo de proteção contra corpos estranhos
que caem no olho, condição em que ocorre também aumento do lacrimejamento. [ ... ) ". A
descrição do reflexo corneano foi extraida da página 189, do livro dê MhcHAoo, A.
{1993).
Laringoscopia indireta: Pregas vocais sem alterações e com mobilidade
presevada. Não apresentou náusea.
Falta de precisã<? no movimento por incoordenação de ação motora. A inércia
para o movimento é muito grande.
{PÁGINA G3}
Tabela 1: Músculos do palato.
(GROHER, 1992 - p. 7)
{PÁGINA 5'jl
Por meio dessa tabela visualiza-se que LC pode
estar tendo comprometimento do nervo Vago (X par craniano)
e do Acessório {XI par craniano), pois apresenta paresia do
palato posterior (músculo Elevador do Véu Palatino) e
alterações fonatórias decorrentes (hipernasalidade e
redução da velocidade) da movimentação apenas parcial do
músculo. O controle da fonação também é feito pelos ramos
do nervo Vago, os quais inervam o pescoço, o tórax superior
e os músculos da laringe.
Quando o músculo elevador do véu palatino se
contrai, a porção medial do palato posterior move-se para
cima e para trás, aumentando a extensão do palato
posterior.
Alguns pesquisadores como PonvrNEC, 1952;
SEDLÁCKOVÁ, 1967 f 1973, c i ta dos em MULDER, J. W. (1976)'
confirmam a dupla inervação do elevador do véu palatino, ou
seja, durante a fala pelo nervo facial (N.VII) e durante a
deglutição pelo nervo vago (N. XI através do plexo
faringeal.
Há, portanto, um componente bulbar no quadro
disártrico de LC, visto que os nervos envolvidos têm seus
núcleos localizados na região do tronco cerebral denominada
bulbo.
As tabelas 2, 3, 4 e 5, adaptadas de DIJFFY
Tabela 2.
NERVOS CRANIANOS RESPIRJ\ÇAO/FONAÇAO
LESÃO: UNILATERAL BILATERAL
v (Trigêmeo} nenhuma alteração nenhuma alteração
VII (Facial) nenhuma alteração nenhuma alteração
X (Vago): acima do Respiração ofegante. Respiração ofegante.
Ramo Faringeal Intensidade reduzi- Afonia. Frases curtas
da. demais.Estridor
17
"Pitch" reduzido. inalatório.Falta
Frases curtas. Rou- fôlego expira tório.
quidão. Diplofonia
H
.
o núcleo ambíguo emite sinais pelos nervos Glossofaringeo (IX), Vago (X) e
Acessório {XI) . Esse núcleo controla os músculos participante::> da deglutição e os
mú.sculos laringeos relacionados à fonação.
17
Bitch: é a sensação psico-fisica relacionada à freqüência fundamental.
n Diplofonia é a emissão simultânea de dois sons {pitch) diferentes, podendo
ocor·rer em casos de paralisia de prega vocal unilateral ou em casos em que as
pregas vocais verdadeiras e falsas estejam vibrando simultaneamente.
{PÁGINA5f;}
Tabela 3:
{PÁGINA 51-}
Tabela 4.
NERVOS CRANIANOS RESSONANCIA
LESÃO: UNILATERAL BILATERAL
v (Trigêmeo) nenhuma alteração nenhuma alteração
VII (Facial) nenhuma alteração nenhuma alteração
X (Vago I : acima do Leve Hipernasalidade
Ramo Faringeal. hipernasalidade moderada com
(emissões nasais} . emissões nasais.
X: abaixo do Ramo nenhuma alteração nenhuma alteração
Faringeal~
Tabela 5:
NERVOS CRANIANOS PROSODIA
{PÁGINA 58!
X: abaixo do Ramo Frases curtas Frases curtas.
Faringeal.
{PÁGINA 51)
um encaminhamento de LC ao Hospital de Pesquisa e
Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais, da Universidade de
São Paulo, em Bauru. Tal encaminhamento será descrito no
item 2~4 deste capítulo.
{PÁGINA W}
2.4. levantamento dos dados dos exames
neuropsicológicos.
e aritméticos.
{PÁGINA (;JJ
Em 11/11/93, outro exame neuropsicológico foi
realizado, cujo resultado transcrevo a seguir:
Melhora da articulação da fala após uso de
prótese bucal. Continuam raras W.F.D. e parafasias.
Percepção,. memória,. praxias e intelecto preservados.
Dificuldade de cálculo.
Em 27/10/1994, LC submeteu-se a outro exame
neuropsicológico; de acordo com as anotações no prontuário
do paciente encontra-se: houve melhora discreta mas
evidente da fala (lenta,. pausada, silabada, com certa "word
find difficulty", com longas narrativas). Estes achados
serão integrados na discussào do próximo item.
{PÁGINAQ}
2.5. Apresentação e análise de dados.
{PÁGINAG1!
5) Leitura de um trecho da fábula
"Para o corv~osl elogios da raposa[ pareciam!
mãos do[ nas mãos da[ astuta raposa, l que logo o] apanhou, I
{ PÁGINA<ô5)
6) Recontagem da fábula
saiu-se
LC bem na recontagem do texto,
conseguindo entender sua moral e referir-se ao nome da
fábula, corrigindo-se {corvo em vez de rato, também um
personagem da história) . Apesar do quadro disártrico, LC
entende o que lê e consegue relatar o material lido,
sobretudo considerando a pouca familiaridade que tem com
textos escritos.
O esforço do interlocutor, para compreender o que
LC diz, decorre, mais uma vez, da lentificação de sua
{ PÁGINA Gí'}
produção verbal, das ocorrências de pausas em lugares
aparentemente inapropriados, mas que condizem com sua
incoordenação pneumo-fono-articulatória, do recurso ao
~'creaky voice", alterando a seqüencialização, interferindo
e comprometendo a plena compreensão do que ele diz.
Apresento um dado de LC, bastante atual (de
05/01/1998), para que se avalie a organização de sua
narrativa oral, compatível com a de qualquer falante do
português brasileiro com seu grau de escolaridade e
variedade de lingua oral.
Neste dado LC refere-se à dificuldade de
encontrar emprego dada sua condição de aposentado, explica
que não recebeu indenização em razão de seu acidente ter
acontecido em período de férias (quando foi ajudar um amigo
a levantar uma caixa d'água}, conta-o detalhadamente,
explicando os motivos de ter sido atendido fora de sua
cidade, em um hospital com mais recursos.
tanta! que eu! nem peço serviço] que não me dão !mesmo.
I - Você já falou com algumas pessoas e não
conseguiu nada. É isso ?
LC - É.
I - o que eles dizem pra você ?
{PÁGINA!Oh
I - Por exemplo, com quem você já foi falar ?
LC - Por enquanto com ninguém.
~
tirei ela mas num vai servir prá nada /se eul me machucar
{PÁGINAG2}
com arame I [r e. õe. ·to Jl e li a vi gota I conforme nós
só.
I - E você já foi direto para a UNICAMP ?
LC - Aí eu fui I pro hospital daqui. Num tinha I
8) CCA
{PÁGINAG'j}
José Amâncio, representando um poeta que
procurava um lugar, no IEL, onde estaria ocorrendo um
encontro de poetas, entrou na sala do CCA (grupo I) • Por
causar ao grupo uma certa estranheza (estava maquiado,
vestido de poeta), uma das pacientes, CF, perguntou-lhe
quem era. o poeta identificou-se e explicou o que
procurava~ Disse uma poesia de Guilherme de Almeida e
perguntou imaginando estar no local adequado, aos
integrantes do grupo, se não eram também poetas; ao que LC
respondeu~ comentando, apropriadamente, a identidade de seu
grupo: Nós somos apenas afásicos!.
{ PÁGINAl<ll
2.6. Prótese elevadora de palato (PLP - palatallift
prothesis)
{PÁGINA fi}
e a se mexer através do estímulo contínuo do uso diário da
prótese.
A prótese elevadora foi o recurso encontrado para
impedir a emissão nasal de ar durante a produção sonora
oral. SILVA (1996) propõe que ~'para um tratamento completo é
necessário que a prótese seja utilizada em conjunto com um
programa de terapia de fala".
Os objetivos a serem atingidos com a utilização
da prótese são reduzir a hipernasalidade e o escape de ar,
reduzir o grau de atrofia por desuso, aumentar a função
velofaríngea por contínua estimulação e aumentar a resposta
neuromuscular por estimulação.
A PLP é utilizada para adequar a fala de sujeitos
com paralisia parcial ou total do véu pala tino. Aplica-se
ao véu palatino parético a fim de fazer com que se eleve
aproximando-o da parede posterior da faringe, diminuindo o
espaço nasofaríngeo e aumentando o potencial do indivíduo
para fazer o fechamento velofaríngeo necessário para a fala
(MARSHALL, 1971 I .
Houve um efeito curativo no palato de LC; a
musculatura (ver tabela 1, p. 54) sustentou-se, passando a
fechar-se por completo e adquirindo maior mobilidade, a
ressonância hipernasal diminuiu e o refluxo nasal cessou.
LC passou a conseguir manter pressão intra-oral,
principalmente, durante as emissões das plosivas e
fricativas orais.
A produção articulatória tornou-se mais
inteligível, de acordo com um padrão aceitável para
qualquer falante do português brasileiro.
A estimulação do palato por meio da prótese
elevadora fez com que LC recuperasse os movimentos do
palato posterior, segundo concluiu PEGORARO-KROOK {ver nota
201 por ocasião da alta ao paciente na data de 7/10/1995. O
{ PÁGINA l:b}
resultado final foi fotografado e pode ser observado na
22
figura 2
21
LC é, também, um dos sujeitos da tese de doutorado de PEGORARO-KRooK (1995). Em seu
trabalho, a autora faz a distribuição em grupo dos pacientes pesquisados levando em
consideraçao a idade, o sexo e as condições do palato. LC é o paciente número 22,
do grupo III - grupo dos portadores de problemas neurológicos - e que contava, na
época, com 20 anos de idade, sexo masculino e com paralisia total de palato.
As fotografias das visões intra-orais e nasoendosc6picas da área velo-faringea {com
e sem a prótese de palato) encontram-se no anexo 4 da tese de doutoramento de
PEGOF'A..'W- KROOK.
!PÁGINA13)
Em sua tese de doutorado, PEGORARO-KRooK (1995} faz
o levantamento, em ordem cronológica, dos escritos sobre
utilização, eficácia, tempo de uso e contra-indicações
quanto ao emprego de uma prótese elevadora de palato. Sendo
assim, prossigo com um resumo sobre a literatura descrita
pela autora. Essa bibliografia não faz parte do conjunto de
citações desta dissertação, mas os autores serão referidos
por constituírem o grupo dos principais pesquisadores na
área de prótese de palato.
Os autores, em ordem cronológica, tal como propõe
a autora {op. cit. p. 6-37) são: Harkins (1951b), Gibbons &
Bloomer (1958), Aram & Subte1ny (1959), Bzoch (1964),
Subtelny, Sakuda & Subtelny (1966), Gonzalez & Aronson
(1970), Blakeley & Porter (1971), Rolnick & Hoops (1971),
Kipfrnueller & Lang {1972), Schneiderrnan & Mann (1078), La
Velle & Hardy (1979), Abadí & Johnson (1982) e Turner &
{PÁGINA til
a musculatura das paredes da faringe; caso contrário,
provocará irritação, hiponasalidade, problemas na tuba
auditiva e deslocamento da prótese. Esta deve acompanhar o
contorno do palato duro para não interferir na rápida
movimentação da língua durante a produção oral; deve,
ainda, ficar bem adaptada lateralmente ao palato posterior
{ou duro) para manter o selamento nesta região.
As vantagens da utilização da prótese de palato
são: ajuste imediato do equilíbrio da ressonância, já no
momento inicial de sua colocação, facilidade de modificação
e acomodação, não apresentação de desconforto em seu uso,
leveza e facilidade de higiene. Além disso, a
inteligibilidade da consoante nasal melhora
significantemente com a prótese, sugerindo que a
hipernasalidade reduz a inteligibilidade das consoantes
nasais.
A prótese de palato de tipo elevadora é também
indicada para pacientes que apresentam pressão intra-oral
insuficiente para articulação dos sons orais, associada à
hemiparesia de língua e lábios, o que provoca a distorção
desses sons, fala hipernasalízada e dificuldade para
deglutir. Pacientes com inadequação velofaríngea congênita
ou adquirida, de origem anatõmica ou neurológica, não
portadores de fissura de palato apresentam, como
característica da produção oral, hipernasalidade, emissão
de ar nasal, falta de pressão intra-oral para produzir as
consoantes, baixa inteligibilidade e defeitos
articulatórios.
Para facilitar a adaptação, os autores aconselham
períodos alternados de utilização e repouso, até que a
prótese possa ser utilizada durante todo o dia. Em alguns
casos, a estimulação da musculatura é tal que, após um
periodo de uso, a prótese se torna desnecessária.
{PÁGINA "Í)
Os autores referidos no estudo de PEGoRARo-KROOK
11995) utilizaram, em muitos casos, a análise
espectrográfica para a realização das medidas e compararam-
na com os julgamentos perceptuais de nasal idade e medidas
de inteligibilidade de fala, com e sem prótese. Eles
concluíram que:
1) a duração dos fonemas plosivos foi maior
quando a análise foi obtida sem a prótese;
2) a nasalidade e a inteligibilidade de fala
foram consideradas piores quando os indivíduos estavam sem
a prótese;
3) a duração dos fonemas oclusivos variou
proporcionalmente à inteligibilidade de fala e no
julgamento da nasalidade na presença de inadequação
velofaringea.
A elevação do palato pode estimular o movimento
das paredes laterais e posterior da faringe, no período
compreendido entre seis e doze meses após a inserção da
prótese. O resultado imediato indica que uma melhora
subseqüente ainda pode ocorrer com o uso contínuo do
aparelho.
Após um período compreendido entre seis meses e
um ano de uso, a prótese pode ser descartada devido à
resposta positiva do tecido à estimulação. A resposta do
paciente em relação ao tempo de uso da prótese depende da
localização da alteração neurológica, segundo MAzAHERI &
MAZAHERI, 1976 (in op. cit. p. 28).
LA VELLE & HARDY 1 1979 (in PEGORARO-KROOK, 1995: 31)
fizeram um estudo longitudinal de sete anos em quarenta
pacientes com incompetência velofaríngea, que usavam
prótese de palato de tipo elevadora, cujos fatores
etiológicos compreendiam: acidentes cérebro-vasculares que
resultaram em disfunção do sistema neuromotor ou dos nervos
{PÁGINA <Çj
cranianos; doenças neuromusculares, como por exemplo, a
esclerose múltipla; tumores no tronco cerebral removidos
cirurgicamente e distúrbios do desenvolvimento ou de tônus
muscular devido à paralisia cerebral. "Os resultados
obtidos com o uso da prótese demonstraram:
a} quatorze pacientes (32%) conseguiram obter o
funcionamento normal do esfíncter velofaríngeo durante a
produção da fala;
b) sete pacientes (16%) conseguiram fechamento
total do esfíncter velofaringeo para a maioria das
emissões;
c)dezenove pacientes (43%) ainda apresentavam
alguma incompetência, apesar de terem obtido uma melhora na
fala com a diminuição do tamanho do espaço velofaringeo; e
d) quatro pacientes (10%1 não obtiveram
resultados satisfatórios; um paciente por apresentar falha
de retençao da prótese por falta de dentes; outro por
apresentar orofaringe profunda, tecido palatal inadequado e
pouco movimento de paredes faringeas; outro por apresentar
severo problema de fala com palato mole imóvel devido a
problema neuromotor congênito e o último por apresentar
rejeição da prótese após algumas horas de uso, já que sua
incompetência velofaringea envolvia a fisiologia da fala
devido à paralisia cerebral".
De acordo com estes autores, a duração deste
estudo demonstrou que a prótese elevadora de palato foi um
tratamento efetivo para melhorar a incompetência
velofaríngea dos pacientes selecionados, apesar da
inconveniência e da existência de outros fatores
associados.
ABADI & JOHNSON 1 1982 { in op. cit p. 33) relataram
que a prótese de palato permite ao paciente o
desenvolvimento de uma fala normal, além de favorecer os
{PÁGINA 't1}
movimentos envolvidos tanto na mastigação quanto na
deglutição, devido à separação das cavidades oral e nasal,
contribuindo, também, para a melhora de aspectos sociais e
psicológicos dos pacientes.
{PÁGINA "f~)
Capítulo 111
Direção da curva: são os movimentos de altura, para cima ou para baixo, no tempo.
Âmbito de altura ou tessitura: é a pauta da voz usada nos contrastes intonacionais:
a gradação entre o limite mais alto e o mais baixo no espectro de altura.
{PÁGINAJ1ll
"De um ponto de vista fonético, traços prosódicos
são efeitos vocais constituídos pela variação ao longo dos
parâmetros de pitch, intensidade, duração e silêncio "
3.1. Fluência
{PÁGINA 80}
língua materna, o que dificulta a produção de enunciados
ininterruptos, com pausas condizentes com o ritmo do
português brasileiro.
Segundo um dos quatro tipos de fluência descritos
por FILLMORE (apud ScARPA, 1995: 166), LC tem comprometida a
"habilidade/capacidade de falar extensamente, com poucas
pausas, de preencher o tempo com fala. Uma pessoa assim
fluente não pára muitas vezes para pensar no que dizer ou
em como dizê-loN.
Há conceituações diversas para fluência. O termo
fluência pode ser interpretado do ponto de vista da
motricidade, do ponto de vista do fluir informativo do
texto oral ou do desempenho no uso da linguagem (FILLMORE 1
op.cít.).
Em relação a LC 1 intonacionalmente, deve ser
notado que há disfluência maior nas partes não nucleares do
tom (ou do grupo tonal) . Nesse estudo de caso a
lentificaçào é exacerbada. Não é uma disfluência extrema. É
uma disfluência especifica, relacionada a aspectos
fonológicos da prosódia.
Veja-se que Massini (1991:181) considera que "a
alteração da velocidade de fala exerce grande infuência
sobre a duração total do enunciado e das suas metadesu.
Uma vez alterada a velocidade de fala, tanto pra mais
(acelerada) quanto pra menos {lentificada), altera-se a
fluência; no caso de extrema lentificaçãot ocorre uso
excessivo de pausas, maior duração silábica, podendo haver
repetições de segmentos; no caso de extrema aceleração,
ocorre fala ebriosa, velocidade muito rápida, imprecisões
articulatórias comprometendo a inteligibilidade das
produções orais do sujeito.
Segundo a reflexão de Scarpa, desde sua tese de
doutorado em 1984, a respeito da análise da prosódia em
{PÁGINA8}}
fases bem precoces da aquisição da linguagem, poderiamos
analisar que, prosodicamente, as partes mais fluentes do
enunciado de LC são aquelas coincidentes com o chamado
\'acento frasalu ou núcleo do grupo entonacional, isto é,
aqueles centros de proeminência prosódica que revelam
sinais de estabilidade formal do enunciado.
O sujeito em estudo perde a fluência por
apresentar fonação disri tmica, redundâncias (repetição de
enunciados de seu interlocutor, ou de parte deles, como
descrevi nos dados 2, 3 e 4) e repetição, devido ao
desajuste na estrutura temporal, de palavras, geralmente
monossilábicas, ou de segmentos (como vimos no exemplo 4:
... eu li eu li eu li eu vou •.. ) .
No próximo exemplo, também se observa a estrutura
alterada da duração, que resulta em seu "ritmo disártrico",
quando LC usa segmentos curtos, produzindo prolongamentos
ou repetições.
LC - ["e:i"ew!utili'zeylaiska'diDa]
I - Você entrou sozinho ?
LC ["e: I lso"ziijw'nB:wl'tevy·uma·mo:sal "kil
"foyko"migw]
I - Uma professora ?
LC ["e"ma:isl l'e:lyfa'low!vo:·se"pe~dyl
"muítw"te:pwll"pra
{ PÁGINAS,l;}
profe: 'so:ra! i ' til :w' e:wl 'nii: 11 'nii: li
'nü: 'fuy'ma:ys'la: ]"
I - Não? 26
25
A notação H significa que LC fez pausa preenchida com estalo de dedos 1 apoio
este de que se utiliza para manter a continuidade intonacional.
{PÁGINA&3}
LC -['ft:B::W:]. Tom ascendente, médio para alto.
--------
__/
( 11 I Fragmentos
de um diálogo entre r
(investigadora) e LC sobre uma das vezes em que ele foi a
um restaurante.
I - Em Pirassununga?
LC- ["ê::)
-~
estreita~
I - Com o Wanderley ?
LC- ('e::]. Ascendente/ descendente, de
tessitura ampla.
I - Seu amigo?
LC- ['8::]. Ascendente/descendente, de tessitura
ampla.
{ PÁGINJoB'/)
(fita cassete n. 7, Lado A, 3/9/1992).
LC - ['i:ll'fi:ü: :fi:s:]
~ __·:::---~
I - Qual ?
LC- ['fi:ü::fi:lill'ê::fi:ü::lfi:li:].
I - Fusca ? Fusca ?
LC- ['e::]. Descendente. Médio para baixo.
I - Você gosta de Fusca ?
LC - ('8::]
I - É ?
LC - ['e::]
{PÁGINA& h
grupos intoacionais. o autor {id.) descreve as pausas em
duas categorias: as pausas preenchidas e as não preenchidas
{silêncio). As pausas ocorrem etn lugares típicos da
enunciado, o que não ocorre na produção oral de LC.
Em relação ao segmento de exemplo (13'), houve um
aumento da intensidade na monossilabo tõnico:['E:: 1 e na
primeira vogal da palavra ['fi:ü: :fi:B:].
{PÁGINA3~}
do acento em português do Brasil poderia ser uma queda
(brusca) da amplitude na(s) silaba(s) pós-t6nica(s).
Como a hipótese acima está for;-mulada em relação
às sílabas pós-tônicas - o correlato acústico seria uma
queda da amplitude média nessas sílabas - , tal fato não
deveria ocorrer nas palavras oxítonas, já que elas não têm
sílabas pós-tônicas"'.
A subida na altura, das oxítonas, coincide tão
somente com o acento de intensidade. O acento de
intensidade, em português brasileiro {PB), como demonstra
MAssrNI(l991), MoRAEs (1987) é função, em ordem decrescente,
dos parâmetros de duração, altura e intensidade.
A análise das medidas das frequências
fundamentais das vogais ('9], [i] e [E], respectivamente,
{PÁGINA89}
investigadora (I) e LC sobre a dificuldade que ele está
tendo para encontrar emprego (dado 7, reapresentado como
7, ) :
I 7' )
I - Mas você está indo procurar ?
LC- Procurar~!/~:ância/~~~~~~as/é tanta
indenizar.
{PÁGINA~Ol
As variações frequentes nas curvas intonacíonais
de LC (dado 7) tornam sua produção oral menos monótona (se
comparada com os dados 12, 13, 14 e 15) e mais aceitável em
relação à estrutura prosódica de narrativas orais.
Vimos que em enunciados longos (como o dado 7) ,
ocorre a nivelação dos tons, ou seja, as variações
intoacionais são muito tênues e, quando ocorrem, coincidem
com os momentos de acento lexical ou de acento principal de
grupo de força. Isto também ocorre durante a leitura em voz
alta de trechos de jornais, revistas ou livros.
Grupo de força ou grupo tonal é definido como uma
unidade rítmica, delimitado por um padrão entoacional
chamado tom. Representa uma "''unidade de informação" que o
locutor quer transmitir (cf. CAGLIARI 1 1981).
Muitas vezes LC finaliza a enunciação com creaky
voice, tal a lentificação (neurológica) do ritmo do
português. Há também correções no parâmetro de altura
falsetto - e na duração.
LC fez uso, algumas vezes, da voz de falsetto
para tornar mais inteligivel suas oralizações. Entretanto,
essa modalidade de voz não ocorre com frequência dentro de
seu padrão habitual de variações nas qualidades de voz.
Transcrevo, a seguir, um texto lido primeiramente
pela investigadora e, em seguida, por LC. O texto
caracteriza-se pelo diálogo entre um garçom e um freguês
havendo/ nas respostas do freguês 1 enunciados cujas
vocábulos constituem aliterações com a fricativa
labiodental não sonora [f] e é um texto suscepti vel à
15)
(Fita cassete n.8, lado A, Ol/10/1992).
{PÁGINA 'Jj}
I.- Você vaí ler agora. Prestou bem atenção do
27
jeito que eu li, não prestou ?
Um homem, entrando no restaurante, é saudado pelo
garçom que lhe diz:
• Bom dia, I como vai ?
• Desejai almoçar ?
• Feijão! e farofa.
• Aceita pão ?
_ _/J
• Faça fatias.
{PÁGINA q<l,l
• E para beber ?
___/"-~
• Frapê de framboesa.
• Fernandópolis.
------
• O que! o senhor faz ?
- ----
____)'> __r--- . _./'
• Fabrico! fechaduras.
• E antes disso ?
• Fui ferreiro.
~ _r---'--
• Faltou ferro.
{PÁGINA'l3}
O garçom serviu o freguês e quando este
terminou perguntou-lhe:
• Como estâ o café ?
• Fino e fraco.
• Aceita! sobremesa ?
• Figo fresco.
---
• O garçom desafia:
pagará a despesa.
{ PÁGINA '1'/ }
O ti tu lo e o início do texto foram omitidos por
LC durante sua leitura. Ele apresenta um padrão de leitura
bastante lentificado, com pouca (ou quase nenhuma) variação
de curva entoacional nas sentenças afirmativas e um pequeno
contorno entoacional nas sílabas finais dos enunciados
interrogativos. Houve, como esperado 1 pausas indevidas com
interrupção abrupta no grupo intoacional, o que interferiu
na velocidade de leitura.
Na repetição com voz salmodiada (dado 16)
verifica-se que LC faz a repetição muito próxima à da
investigadora, ou seja 1 mantendo, conforme o modelo, tons
baixos (graves} ou altos (agudos), em que se nota mais
adequação nas variações de altura.
Nesta ocasião, LC já apresentava padrão
inteligível de fala, uma melhor coordenação pneumo-fono-
articulatória e uma redução considerável da
hipernasalidade.
.I
{PÁGINA 'l5}
I.: -Pelo cam~nho
-~--/ 1-"
LC: - Pelo cam~nho
LC: - De pé desca~ço
~---~~~
{PÁGINA'ltJ
Capítulo IV
{PÁGINA'f3l
Os experimentos que fundamentam este estudo de
caso visam a uma melhor compreensão do dê fiei t da produção
oral de LC, no que concerne à duração e ao traço
linguístico de nasalidade.
A diferença acústica é percebida pela ressonância
nasal que se observa, especialmente, na emissão das
consoantes orais que são, conseqüentemente, substituídas
pelas nasais fm] e [n]. Estas são articuladas com os lábios
ocluidos e a pressão aérea é expelida através do nariz pelo
abaixamento do palato posterior (c f. MILLER & NICELY, 1955,
apud. LEHISTE, 1960).
Nos próximos ítens desta dissertação, abordarei a
nasalidade, os resultados das medidas dos formantes das
vogais {com suas ressonâncias nasais) e de algumas das
medidas das transições das consoantes para as vogais. A
partir destas análises é que pretendo mostrar algumas
conclusões e apontar outras etapas a serem desenvolvidas no
seguimento terapêutico de LC.
Formante segundo FRY (1979)' é o termo
empregado para uma ressonância do sistema em seu contexto.
O termo formante é muito comumente aplicado para a
frequência na qual ocorre o pico no espectrógrafo.
Uma outra definiçã.o, a de KENT & READ {1992}, é a
de que um formante é o modo natural de vibração
(ressonância) do tracto vocal. Teoricamente, há um número
infinito de formantes mas, por praticidade, os três ou
quatro formantes menores são os que apresentam interesse de
análise. Os formantes são identificados por um F maiúsculo
seguido de um número indicativo do primeiro, segundo,
terceiro ou quarto formante.
A nasalização aparece como um formante extra na
região de baixas freqüências, com valores em torno de 250 a
450 Hz (GURLEKIAN et a1., 1996) •
{ PÁGINA'l'j )
FuJIMURA {1962) estudou as consoantes nasais pela
utilização de uma técnica de análise/ síntese descri ta por
BELL et al. (1961). Ele encontrou, em todas as consoantes
nasais, uma tendência a possuírem três propriedades comuns:
a} a ocorrência de mui tos primeiros formantes baixos que
localizam-se em, aproximadamente, 300 Hz e estão bem
separados dos mais altos formantes; b) os fatores de
as sombreamento {~'damping factorsu) dos formantes estão
relativamente mais elevados; e, c) alta densidade dos
formantes no campo de freqüências, além do aparecimento de
anti-ressonâncias.
{ PÁGINAJro}
[ii]:
FNl 360 Hz
Fl 800 Hz
F2 1360 Hz
F3 2240 Hz
FN2 3040 Hz
F4 3760 Hz
{ PÁGINA.lal/
abaixo do primeiro formante, acarretando um aumento na
frequência do primeiro formante.
HATORI, YAMAMOTO & FuJIMUAA (1958) f verificaram que
as principais características do traço de nasalização das
vogais são: uma ressonância extra em torno de 250 Hz; uma
anti-ressonância em, aproximadamente, 500 HZ; e componentes
fracos e difusos entre os formantes das vogais,
particularmente na região de frequências entre 1000 à 2500
[õ l
{ PÁGINA .lOq
FN1 360 Hz
Fl 360 Hz
F2 1040 Hz
F3 2320 Hz
F4 3440 Hz
{ PÁGINA,Ql}
[e I:
Fl 640 Hz
F2 1720 Hz
F3 2640 Hz
FNl 3000 Hz
F4 3760 Hz
[ü]
FO 160 Hz
Fl 320 Hz
F2 960 Hz
FNl 1800 Hz
F3 2400 Hz
F4 3320 Hz
A ressonância de
nasal perceptível
(além
acusticamente) é verificada pelo número de formantes nasais
para cada uma das vogais e expandida para todos os
segmentos orais de LC. Tal expansão é mais um fator que
contribui para a alteração na estrutura da duração,
configurando o que denominamos o "ritmo disártrico" de LC
Em sua caracterização cognitiva geral tem que ser
considerado a lentificação de sua motricidade como um todo:
LC também é mais lento para andar, nadar, gesticular, etc.
Não procedi à diferenciação entre as medidas de
duração entre vogais tônicas, átonas e pré-tônicas.
{PÁGINAM)
Entretanto, apresentarei mais adiante uma amostra da
posição da vogal tônica, tendo como parâmetro o dado n° 14.
Verifica-se 1 pelos
das medidas
dados dos
formantes, que a influência de um formante nasal prevalece
na região do primeiro formante e que há um deslocamento de
Fl nas nasais, ou seja, se compararmos os valores das
vogais orais obtidos com um informante adulto, também do
sexo masculino, com um padrão de voz isento de quaisquer
alterações, constataremos que LC possui valores mais altos
para F2, com exceção da vogal [e], no enunciado "'Digo pe prá
ele" ..
{ PÁGINA.lOí;}
Existem muitas conseqüências acústicas da abertura da
cavidade nasal na produção de urna consoante nasal (LIEBERMAN
& BLUMSTEIN, 1988). A largura de banda das freqüências e a
{PÁGINA !Oi'}
O murmúrio nasal não é o mesmo para as consoantes
nasais que variam no lugar de articulação (FuJIMURA, 1962).
Entretanto, os estudos que exploram as pistas acústicas
para as consoantes nasais têm mostrado que a presença de
uma freqüência baixa no murmúrio de banda larga, em torno
de 250 Hz, precedendo o começo das transições dos
formantes, é suficiente para a percepção de uma consoante
nasal, independentemente do lugar de articulação (CooPER et
al., 1952).
Um exernplo 29 de murmúrio nasal é o que podemos
observar no espectrograma no 1 de LC durante a produção da
palavra: sábia, foneticamente representada por
['fi:§:m:i::B:]. No dado do espectograma n°2, de 22/09/1992,
foram levantadas as medidas de duração e dos valores das
freqüências dos formantes. A partir da emissão da palavra
sábia, nota-se que a duração:
a) de todo o enunciado é de 1,705 seg.
b) do murmúrio final [fi l é de O, 168 seg.
g) de [ i I é de 0,225 seg.
2
~ os dados de LC sobre as medidas da duração do murmúrio nasal são anteriores à
utilização da pr6tese elevadora do palato {PLP).
{ PÁGINAI08)
As vogais tônicas - quando em contextos nulos, ou
seja, na palavra isolada, {cf. DELGADO MARTINS, 1988) e em
contextos de oxítonas - registram duas fases onde observam-
se variações nos valores de FO e nos valores das
frequências dos formantes, como mostra o espectrograma n°
3, referente à expressão "A Tatá"
A Tatá: [ ii: ifi:lí: 1 fi:il::]
silaba.
FO 151 Hz
FN1 280 Hz
Fl 720 Hz
FN2 1440 Hz
F2 2400 Hz
F3 2920 Hz
F4 3760 Hz
FO 138 Hz
FN1 320 Hz
Fl 680 Hz
FN2 1160 Hz
FN3 1440 Hz
F2 2360 Hz
F3 2960
F4 3720 Hz
{PÁGINA 10/1
Segunda fase: mais tônico do que a fase anterior.
FO 152 Hz
FNl 240 Hz
Fl 720 Hz
FN2 1280 Hz
F2 2360 Hz
F3 2960 Hz
F4 3720 Hz
{PÁGINA I lO}
vocal na região alvéolo-palatal) das faríngeas (maior
apertura do conduto vocal na faringe). A forma da cavidade
faringea que se acopla à cavidade bucal 1 para a formação
das vogais, tem um papel determinante na composição dos
timbres vocálicos (op. cit.).
As vogais nasais distingUem-se das orais
correspondentes pelo abaixamento do véu palatino, redução
da cavidade bucal, redução da cavidade faríngea para as
vogais [i], [ ã] e [ õ] e aumento desta cavidade para [fi] e
cit.) .
{PÁGINA! li)
CAPÍTULO V
{ PÁGINAII<.J
compreensão por parte da investigadora. Atualmente, a
velocidade de sua fala é, ainda, lenta. Quando solicitado a
falar forte {aumentando a intensidade e agravando o tom)
percebemos melhora na qualidade de voz e na velocidade de
fala. Também verificam-se mais variações no padrão das
curvas intoacionais.
No que diz respeito ao sistema sensório-motor-
oral, constatamos que LC mantém simetria facial quando em
repouso, falando ou mastigando. Os movimentos solicitados
de distender a comissura labial esquerda para o lado
esquerdo é, ainda, restrito, bem como o de lateralização da
mandibula para o mesmo lado~ Não consegue inflar a bochecha
do lado esquerdo. Mas executa o movimento adequadamente
quando solicitado a inflar as boch-echas direi ta e esquerda
simultaneamente. Persiste a tendência de manter a cabeça
inclinada para o lado direito. Me-lhorou a velocidade com
que realiza as atividades com a língua, ou seja,
lateralizá-la, movimentá-la para cima e para baixo, estalar
e retirar o elástico ortodóntico da ponta.
Neste estudo apresentou-se um modo de formular
lingüisticamente os fen6menos disártricos presentes no
estudo do caso LC. A distinção ártrico/fásico não significa
ausência ou presença da dimensão lingüística. Em relação
ao eixo ártrico, tanto o aspecto fonético da disartria
(hipernasalidade) quanto o fonológico {ritmo) são
interpretados do ponto de vista lingüístico. A lentificação
psicomotora caracteriza o estado cognitivo geral de LC e
obviamente, dada a localização da lesão (têmporo-parietal
direita) e seu efeito "chicote" (em razão de etiologia
traumática), é proeminente em sua produção oral.
Já é uma tradição nos estudos língüísticos de
patologias cerebrais a introdução do conceito, e de seus
desdobramentos, de nível do sistema linguistico, baseada em
{PÁGINA 113)
BENVENISTE (1966) e em Jakobson (1969). Como aponta CoUDRY
(1997), ao argumentar em favor dessa formulação para a
Neurolinguística (em que pesa o termo lingüístico), JAKOBSON
(1975), referindo-se a Benveniste como um dos primeiros a
propor a importância de estudos estritamente linguisticos
sobre as síndromes afásicas 1 coloca a afasia como sendo,
antes de tudo, uma desintegração da linguagem relacionada
ao quadro de um dado nível linguistico, considerando as
relações entre os demais níveis e o todo da linguagem.
O estudo do caso LC, desenvolvido junto a urna
área de Neurolingüistica comprometida
estudo com o
lingüístico de patologias cerebrais, mostrou que seu quadro
disártico corresponde a alterações fonético-fonológicas da
linguagem, mas diferentemente do que ocorre nas afasias
motoras (em que o nivel fonológico também está alterado),
como vimos no capitulo I.
Para estudos como este, apresentam-se como
cruciais as pesquisas em fonética acústica e articulatória 1
na compreensão dos fenômenos lingüisticos que ocorrem em
afecções de natureza ártrica (disartrias, anartria) bem
como naquelas de natureza fásica {afasias/ apraxia de fala
e apraxia verbal).
A disartria de LC compromete sua fluência verbal,
o que diz respeito a aspectos prosódicos e ritrnicos
{velocidade lentificada) da linguagem e, portanto,
fonológicos.
O comprometimento motor da inervação dos
músculos do palato posterior acarretando paralisia do véu
palatino e conseqüente hipernasalidade configura o
aspecto fonético do quadro disártrico de LC, responsável
pela ininteligibilidade de sua produção oral antes da PLP.
A partir da intervenção terapêutica, por meio da PLP,
constata-se uma mudança no quadro disártrico de LC: uma
{PÁGINA ll'j)
importante redução da qualidade hipernasal e a manutenção
de um padrão fonológico alterado, em relação ao ritmo de
sua língua materna.
Uma última observação 1 de quem finaliza um estudo
teórico-clínico: sempre que houver lesão cerebral ou
cerebelar, convém que processos cognitivos e lingüísticos
sejam cuidadosamente analisados a fim de se descrever o
quadro sequelar do lesionado cerebral ou cerebelar. Este
cuidado, tomado nesta dissertação, fez com que aspectos
teórico-metodológicos pertinentes à fonoaudiologia, à
lingüística e neurolingüistica e, ainda, à neuropsicologia
fossem considerados no levantamento e análise dos dados
para a elaboração do diagnóstico e das condutas
terapêuticas.
{PÁGINA 115"}
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[PÁGINA 1<1<}
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ANEXOIT
O CORVO E A RAPOSA.
ANEXO H!
Anexo IV
AVALIAÇÃO FONOARTICULATÓRIA.
NOME: _______________________________________________
RG ';c;--,-e>;c---;--;-,,---------------------------------
SExo: 1 1 M I I F
DN: _ / _ _ / _ IDADE: ANOS MESES.
EXAMINADOR:
DATA: ___ / ___ / ___
FONOTE.RA.PIA: ( ) NUNCA ( ) EM TERAPIA
( ) ALTA CIRCUNSTANCIAL
( ) ALTA DEFINITIVA
( ) INTERROMPEU
RESPONSÁVEL ---------------------------------
LOCAL ,o:c;;;------------------------------
FREQÜÊNCIA
I I INDIVIDUAL
I I GRUPO
I I AMBOS
1. SELAMENTO LABIAL: I I ADEQUADO
I I PREJ. RETR.
I I PREJ. HIPOT.
I I PREJ. MÁ-OCLUSÃO
I I TENSÃO DE MENTALIS
2' MOBILIDADE DE LÁBIOS: I I o I I 1 I I 2
I I 3 I I 4 I I 5 I I 6 I
NÂO OPERADO
3' MOBILIDADE DE LÍNGUA: I o I I 1 I I 2
I I 3 I I 4 I I 5 I I 6
4. FRÊNULO LINGUAL: I I o I I 1 2 I 3
I I 4 I I 5 I I 6
5. ARCADA DENTÁRIA:
28. TOM:
30. DISFLU~NCIA: ) 00
2 9 • INTEN;;:S;;I;;cD;;:AD;;E~,--,---,-_--_-_-_-,--~---,-------,-_-:;_
( 1 ( 2 I I 3
I I 4 I I 5 I I 6 { ) NORMAL PARA A
IDADE.
31. LINGUAGEM: RECEPÇÃO! I o I 1 2
I I 3 I I 4 I I 5 I 6.
EXPRESSÃO: I I o I I 1 2
3 I I 4 I I 5 I 6
32. OUTRAS ANORMALIDADES: ( ) DEGLUTIÇÃO ATÍPICA
I I APRAXIA
I I DISARTRIA
I I OUTRAS:
33. AUDIÇÃO: ( ) NORMAL
( ) ALTERADA
( ) AUDIOMETRIA
A VIDA NA FAZENDA
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