Tese Sofia - Versão Final
Tese Sofia - Versão Final
Tese Sofia - Versão Final
SÃO PAULO
2018
Sofia Maria de Araújo Ruiz
SÃO PAULO
2018
Ruiz, Sofia Maria de Araújo.
CDU 658
UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO
PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICAS
BRASILEIRAS
POR
Profa. Dra. Cristina Dai Prá Martens – orientadora - Universidade Nove de Julho – UNINOVE
Prof. Dra. Priscila Rezende da Costa – coorientadora - Universidade Nove de Julho – UNINOVE
Prof. Dra. Patrícia Viveiros de Castro Krakauer – membro - Centro Universitário Campo Limpo
Paulista - UNIFACCAMP
Prof. Dra. Luciana Massaro Onusic – membro - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
Prof. Dra. Heidy Rodriguez Ramos – membro - Universidade Nove de Julho – UNINOVE
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................6
1.1. PROBLEMÁTICA DO ESTUDO...................................................................................9
1.2. OBJETIVO....................................................................................................................16
1.2.1. Geral:..............................................................................................................................16
1.2.2. Específicos:....................................................................................................................16
1.3. JUSTIFICATIVA..........................................................................................................16
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO..................................................................................19
2. REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................20
2.1. O EMPREENDEDORISMO.........................................................................................20
2.1.1. Visão histórica dos estudos sobre empreendedorismo...................................................20
2.1.2. A definição de empreendedorismo................................................................................22
2.1.3. Ecossistema empreendedor e o sistema nacional de empreendedorismo......................24
2.1.4. O empreendedorismo como criação de valor.................................................................27
2.1.5. O empreendedorismo e as organizações........................................................................31
2.2. A UNIVERSIDADE: SUA CONSTITUIÇÃO E SUA MISSÃO.................................32
2.2.1. A Educação Superior no Brasil......................................................................................35
2.2.2. A missão da Educação Superior brasileira: ensino, pesquisa, extensão e inovação......36
2.3. AS UNIVERSIDADES EMPREENDEDORAS...........................................................41
2.3.1. O conceito de Universidade Empreendedora.................................................................42
2.3.2. O processo de transformação ao empreendedorismo.....................................................45
2.3.3. Os elementos das universidades empreendedoras.........................................................52
2.3.4. Modelo teórico-conceitual de universidade empreendedora.........................................62
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................203
6.1. CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO..............................................................................204
6.2. PERSPECTIVAS FUTURAS DE PESQUISA...........................................................206
6.3. LIMITAÇÕES DA PESQUISA..................................................................................207
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................208
1. INTRODUÇÃO
financiamento – visando engajar-se em um sistema social com um futuro promissor. Para esse
autor, a universidade empreendedora busca ser inovadora e torna-se mais proativa, flexível e
dinâmica na gestão de suas relações com a economia e com a sociedade, mesmo correndo riscos.
Dentro desse contexto, o empreendedorismo é visto como processo, e não apenas como resultado
e as universidades tornam-se stand-up (Clark, 1998). Isso significa que as universidades são
atores relevantes por si mesmos.
A ideia inicial do conceito de universidade empreendedora enfatiza a adaptação
organizacional, a discrição institucional e um processo de mudança incremental (Yokoyama
(2006). Os precursores (Clark, 1998; Sporn, 2006) analisaram a transformação das universidades,
utilizando o conceito de universidades adaptativas, embora seu foco seja a adaptabilidade das
universidades, dando atenção à resposta das universidades ao ambiente em mudança para o
ensino superior, como recursos restritos, pressões de mercado, a tecnologia da informação e
regulamentações governamentais.
Etzkowitz – também um dos precursores dos estudos sobre o empreendedorismo na
educação superior – defende que as instituições acadêmicas devem promover o desenvolvimento
econômico e social (Etzkowitz & Leydesdorff 2000), por meio da inclusão da terceira missão, a
qual vai além da pesquisa e do ensino.
Desde então, ele desenvolveu um modelo de relações universidade-indústria-governo - a
‘Hélice Tríplice’, no qual o conhecimento é transferido das universidades de pesquisa para a
indústria, e depois, por intermédio do governo, para a sociedade (Etzkowitz, 2002). Essa
atividade poderia incluir consultoria de professores, comercialização de tecnologia desenvolvida
pela universidade, desempenho do trabalho, muitas vezes em contratos governamentais para a
indústria ou promoção de novas empresas (Etzkowitz, 2004).
Em extensão à Hélice Tríplice, Carayannis e Campbell (2009) propuseram a Hélice
Quádrupla com a adição de um quarto elemento: o público baseado na mídia e na cultura, tendo
em vista a influência da mídia, da indústria criativa, da cultura, dos valores e do estilo de vida. A
Hélice Quádrupla, nesse contexto, significa adicionar "público baseado na mídia e na cultura”,
bem como a “sociedade civil" (Carayannis & Campbell, 2009, p.206-207; 2012, p.13). Uma vez
que o público usa e aplica conhecimento, pois o conhecimento flui em todas as esferas da
sociedade.
Já em uma pesquisa mais recente, Carayannis e Rakhmatullin (2014) sugeriram a Hélice
Quíntupla, adicionando assim, a noção de ambientes naturais da sociedade. Enquanto a Hélice
8
ampliação de suas funções. Dentre seus vários papeis, está o de apoiar e impulsionar o
desenvolvimento regional, social e comunitário (OECD, 2012).
Dessa forma, as universidades devem ser protagonistas ativas, ligadas ao seu ambiente
externo, com forte presença na comunidade (Isenberg, 2011). Isso pode incluir, por exemplo, o
fornecimento de instalações a outras pessoas de fora da instituição, a participação em clusters
regionais, o apoio a atividades culturais e artísticas locais, oferecendo oportunidades para
empresas emergentes regionais ou empresas estabelecidas e assumindo um papel ativo na
determinação da direção estratégica do desenvolvimento local (OECD, 2012).
O empreendedorismo nas universidades não deve ser visto apenas como sinônimo de
comercialização de pesquisas (Clark, 2004), uma vez que o papel social das universidades
transcende à formação de profissionais qualificados ou às demandas industriais. A universidade
promove constantes e inéditas concepções de ciência, de ensino, de prestação de serviços, assim
como novas formas de se organizar para atender a uma enorme abrangência de novas demandas
advindas da sociedade.
A revisão da literatura (Ruiz & Martens, 2016) demonstrou que a universidade está
associada à palavra ‘empresa’, apenas aos negócios e à comercialização da propriedade
intelectual da universidade (particularmente nos campos da ciência e da engenharia) e, portanto,
está vinculada à inovação no contexto do trabalho dos escritórios de transferência de tecnologia,
incubadoras e parques científicos/tecnológicos. Esse ponto de vista é fortalecido
substancialmente pelas perspectivas governamentais e até internacionais que percebem as
universidades como fontes de inovação tecnológica e motores de desenvolvimento (Ruiz &
Martens, 2016).
No entanto, o empreendedorismo pode ser desenvolvido em qualquer contexto (social,
laboral, de lazer, etc.) e consequentemente, em qualquer área do conhecimento. O conceito de
empreendedorismo centra-se na aplicação dessas habilidades, atributos e mentalidades pessoais
empreendedoras ao contexto de criação de um novo empreendimento ou iniciativa de qualquer
tipo (Frank, 2005).
Assim, concordando com Guaranys (2010) e Moroz (2012), emerge a necessidade de
expandir o conceito de universidade empreendedora para que possa impulsionar o
empreendedorismo, à medida que são identificados os ambientes e as oportunidades de
desenvolvimento sustentável da sociedade do conhecimento e de sua democracia (Carayannis et
al., 2012)
1
desenvolve, usa e precisa para diminuir seu custo de produção e, se for possível, deslocar outras
empresas do mercado, acrescenta esse autor.
Nesse sentido, a universidade não apenas forma recursos humanos para o mercado ou
comercializa suas pesquisas. Ela deve fazer parte de um ecossistema empreendedor (Isenberg,
2011), no qual as parcerias estabelecidas propiciem a aplicação de novos conhecimentos na busca
de um ambiente com condições favoráveis ao aumento da produção e do emprego, tanto à
indústria quanto ao comércio; com condições favoráveis para a disseminação da cultura; para a
potencialização de melhor uso dos recursos naturais, entre outras ações de relevância social. Em
outras palavras, a universidade exerce o papel de protagonista social, juntamente com o governo
e demais entidades, na busca da estabilidade econômica, da eficiência do Estado e de uma maior
integração entre os agentes de desenvolvimento social, entre outras ações.
Considerando o cenário delineado, sabe-se que a missão da universidade tem sofrido
alterações, devido às pressões externas para que ela esteja voltada mais para a comunidade na
qual está inserida que, por meio do conhecimento, ela deva ser a precursora de novos produtos e
serviços que agreguem valores não só econômicos, mas sociais, culturais e ambientais (Fayolle &
Redford, 2015; Etzkowitz & Leydesdorff, 1996; OECD, 2012). Trata-se de criar valor em muitas
áreas da sociedade, e para isso, a universidade deve conscientizar todas os estudantes e
funcionários em todas as áreas da universidade (OECD, 2012).
Tendo em vista que as Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) privadas foram
reconhecidas e incorporadas recentemente no novo Código de Ciência, Tecnologia e Inovação
(C,T&I) (Brasil, 2016) e somente as ICTs públicas (universidades e institutos de pesquisa
públicos) que eram regulamentadas em suas atividades de pesquisa e inovação (Rauen, 2016),
esta pesquisa foca sobre a temática do empreendedorismo nas universidades públicas brasileiras,
principalmente sobre práticas integradoras desenvolvidas em relação ao ensino, pesquisa,
extensão e inovação, considerando o empreendedorismo como criação de valor.
O foco deste estudo está voltado para os elementos que caracterizam e constituem uma
universidade empreendedora, a partir das lacunas identificadas na revisão da literatura (Ruiz &
Martens, 2016), a qual, num primeiro momento, realizou um mapeamento sistematizado da
produção bibliográfica divulgada em artigos científicos sobre universidades empreendedoras.
Para tal mapeamento, foi utilizada a base de dados Scopus, com a busca pelo termo
"entrepreneur* universit*" - em língua inglesa - em títulos de artigos, resumos e palavras-chave,
1
contemplando os estudos até julho de 2016, resultando em 254 artigos. Também foram
considerados neste levantamento dois livros sobre a temática, totalizando 289 estudos. Além
disso, concomitantemente com as leituras do levantamento bibliográfico, houve uma busca por
outras publicações que pudessem contribuir com esta pesquisa, a partir do referencial teórico dos
289 estudos identificados anteriormente, conforme apresentado no Apêndice B.
A análise de conteúdo da revisão de literatura evidenciou que as pesquisas enfatizam
ainda a transferência e comercialização de tecnologia, configurando a universidade
empreendedora como aquela que explora cientificamente as possibilidades de aplicações das
pesquisas nas indústrias, a fim de que essas tenham acesso às novas tecnologias (Etzkowitz,
1983; 2013). Dessa forma, os cursos que não desenvolvem pesquisas para a indústria, ficam à
margem desse processo e não integram o ecossistema empreendedor (Isenberg, 2011).
Revelaram também que os estudos não acompanharam a expansão do construto
empreendedorismo como geração de valores, fato que converge com a função social da
universidade como protagonista do desenvolvimento pleno da sociedade. Os gaps são
apresentados a seguir:
O perfil empreendedor das universidades não engloba as diferentes áreas do
conhecimento, pois não garante que as ações sejam alicerçadas pela criação de
valor público com diferentes formas dos recursos (Stevenson et al., 2007),
buscando, na maioria das vezes, apenas as oportunidades de comercialização do
conhecimento.
O conceito de universidade empreendedora está atrelado à exploração científica
para aplicações industriais, a fim de que as indústrias tenham acesso às novas
tecnologias (Etzkowitz, 1983; 2013). No entanto, não foram identificados estudos
sobre as universidades em relação às atividades voltadas ao empreendedorismo
social ou cultural, cujas pesquisas possam atingir todas as demandas da sociedade.
Também não foram evidenciados estudos com ações integradas entre ensino,
pesquisa, extensão e inovação, uma vez que o modelo predominante de
universidade empreendedora é caracterizado pelo estreitamento de parcerias entre
o governo- universidade-indústria (hélice tríplice) e a transferência de tecnologia
(Etzkowitz & Leydesdorff, 2000; Etzkowitz, 2004; Siegel, Veugelers & Wright
2007), ou seja, pesquisa e inovação. No entanto, os sistemas acadêmicos de
conhecimento continuam bastante desconectados dos sistemas de negócios em
relação à aplicação
1
para medir as universidades empreendedoras, baseados nas três missões simultaneamente: ensino
(ex.: graduados que criam empregos ou empresários), pesquisa (ex.: geração de conhecimento e
transferência de tecnologia) e o empreendedorismo (ex.: infraestrutura empreendedora, cultura
empreendedora, alianças, cooperação e redes).
Além disso, a maioria dos estudos são focados na análise das universidades
empreendedoras dos Estados Unidos e determinados países da Europa e que estão localizadas em
regiões competitivas, que atraíram a atenção de pesquisadores acadêmicos e que apresentam as
estratégias adotadas por elas para transferência de tecnologia para a indústria (MacKenzie &
Zhang, 2015).
Isso significa que, na prática, algumas universidades consideradas empreendedoras não
acompanharam a ampliação do conceito de empreendedorismo, ou seja, desenvolvem pesquisas
apenas para comercialização junto às indústrias, a fim de gerar diferentes valores para a
sociedade. Assim, o empreendedorismo social, por exemplo, fica em desvantagem em relação ao
empreendedorismo comercial nas universidades, bem como a economia solidária, enfraquecendo
a missão social que deve caracterizar as universidades.
As pesquisas universitárias causam diferentes efeitos sobre a sociedade e podem ser
difíceis de medir, uma vez que um atraso temporal deve ser permitido para ver o impacto, por
exemplo, na dinâmica dos sistemas de inovação (Berrgren, 2011). Atualmente a comercialização
das pesquisas é medida pela criação de empresas, patentes e licenças das universidades. No
entanto, o efeito de outros canais por meio dos quais as universidades contribuem para a inovação
e o desenvolvimento socioeconômico sustentável é mais difícil de medir.
Após a apresentação do cenário atual em que se inserem as universidades e as lacunas
teóricas identificadas na revisão de literatura, emerge-se como a problemática desta pesquisa a
necessidade de identificar elementos que caracterizam as universidades empreendedoras públicas
brasileiras, não só ações empreendedoras comerciais, mas principalmente ações empreendedoras
sociais que englobem diferentes áreas do conhecimento e estejam integradas nos processos de
ensino, pesquisa, extensão e inovação.
Considerando o empreendedorismo como criação de valor (econômico, comercial, social,
cultural, ambiental, dentre outros), apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: Como
transformar universidades tradicionais públicas brasileiras em empreendedoras?
1
1.2. OBJETIVO
1.2.1. GERAL:
1.2.2. ESPECÍFICOS:
especialmente para aquelas que poderão refletir e melhor aproveitar as experiências que serão
relatadas neste estudo e potencializar o processo de transformação.
Como contribuição teórica, este estudo relaciona as características das universidades
empreendedoras e integra essas características em dimensões para compreensão das diferenças
entre as universidades tradicionais e as empreendedoras. O modelo pode servir de ponto de
partida para outros estudos empíricos, contribuindo com a ampliação do conceito de universidade
empreendedora e dos elementos que a caracterizam.
O ineditismo da presente pesquisa prende-se à exploração do conceito de universidade
empreendedora, cuja comunidade acadêmica esteja inserida num ecossistema que desenvolva a
sociedade por meio de práticas integradoras entre ensino, pesquisa, extensão e inovação,
agregando o empreendedorismo como criação de valor (comercial, econômico, social, cultural,
ambiental, dentre outros) para a sociedade. A Figura 2 apresenta o framework inicial da pesquisa,
construído a partir da revisão da literatura (Ruiz & Martens, 2016).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. O EMPREENDEDORISMO
(1940/1970) e a Era Estudos de Gestão (1970/atual). Esses autores afirmam que até a década de
80 as pesquisas sobre empreendedorismo eram conduzidas por um pequeno grupo de
pesquisadores. No entanto, a evolução do campo foi reforçada pela destruição criativa em direção
ao foco da dinâmica industrial e do empreendedorismo, e como resultado, o empreendedorismo
tornou-se foco central nos debates políticos em muitos países.
A partir da década de 90, o empreendedorismo cresceu significativamente e em 2000 a
busca pela maturação dentro do campo pode ser identificada, incluindo: (1) um intenso debate do
domínio da pesquisa sobre empreendedorismo, (2) a divisão da comunidade pesquisadora e (3)
um crescente interesse pelo desenvolvimento teórico (Landström & Benner, 2010).
Um dos precursores no campo do empreendedorismo foi Richard Cantillon (prox. 1680-
1734), pois suas contribuições descrevem que os empreendedores estavam envolvidos em trocas
de mercadorias direcionadas ao lucro e decisões empresariais tomadas em face às incertezas. A
partir das características de análise sobre o risco e as incertezas, Cantillon criou a visão de como a
economia do capitalismo funciona e deu ao empreendedor um papel fundamental – como árbitro
responsável por todo o intercâmbio na economia e que, por sua vez, traz o equilíbrio entre oferta
e demanda (Landström & Benner, 2010).
Na Era Econômica (1870-1940), o interesse pelo empreendedorismo por parte dos
economistas perdeu força com o crescimento da escola neoclássica dos economistas e a maioria
deles trabalhavam com a tradição do equilíbrio, baseados na ideia de Knight, Schumpeter e a
escola de pensamento Austríaca (Landström & Benner, 2010). Schumpeter (1992) consolidou o
conceito e associou o empreendedorismo à inovação.
Por outro lado, a Era das Ciências Sociais (1940-1970) foi um período marcado pela
entrada dos estudiosos das áreas de psicologia e ciências sociais, que direcionaram seus interesses
no empreendedor como um indivíduo e começaram a investigar suas obras e traços de
personalidade. A ênfase do empreendedor no processo de mudança econômica tornou-se o objeto
de estudo por parte dos sociólogos e um dos estudiosos foi Max Weber (1864-1920) que liderou
o caminho para explorar o papel do empreendedor na sociedade em mudança. No entanto, as
pesquisas sobre empreendedorismo não atraíram um número significativo de pesquisadores nas
ciências sociais, fazendo com que o empreendedorismo não ganhasse força nessa área do
conhecimento (Landström & Benner, 2010).
2
A Era dos Estudos de Gestão (1970-) foi e está sendo caracterizada por grandes mudanças
políticas e econômicas. Nesse contexto, a dinâmica do empreendedorismo torna-se um tema
dominante na sociedade. Landström e Benner (2010) destacam que muitos estudiosos de
diferentes áreas se interessam pelo tema empreendedorismo e que com isso, o campo cresceu
consideravelmente. Porém, esse aumento de pesquisa não significa um consenso, apenas reforça a
necessidade de pesquisas sistemáticas direcionadas a uma melhor compreensão do fenômeno.
recursos para explorar uma oportunidade”. Dess (1998) completa a definição afirmando que os
empreendedores mobilizam os recursos dos outros para alcançar seus objetivos.
Além das oportunidades (Shane & Venkataraman, 2000; Morris et al., 2011) que foram
incluídas nas pesquisas sobre o empreendedorismo, outros fatores também foram incorporados e
reconhecidos como importantes nesse processo, tais como: a cultura, as equipes, as redes, os
recursos e condições ambientais. Assim, o empreendedorismo é visto como um processo
complexo, onde o resultado é apenas parcialmente dependente das características do
empreendedor, que é considerado o elemento central, seja como único empreendedor, parte de
uma equipe ou apenas durante uma parte do processo (Rasmussen & Sørheim, 2006).
De acordo com Stevenson e Jarillo (1990), foi Cantillon, que inventou a palavra
empreendedor, e disse que o empreendedorismo comporta o risco de comprar a certos preços e
vender a preços incertos e foi Jean Baptiste Say que ampliou a definição para incluir o conceito
de reunir os fatores de produção. Assim, o empreendedor é identificado como protagonista
da atividade econômica em geral.
Em um estudo posterior, Stevenson et al. (2007) definem o empreendedorismo como um
processo pelo qual os indivíduos - por si próprios ou dentro das organizações - perseguem
oportunidades sem considerar os recursos que atualmente controlam. A oportunidade é definida
por eles como uma situação futura que é considerada desejável e viável, que variam entre os
indivíduos e para os indivíduos ao longo do tempo.
Dees (1998, p.3) diferencia o empreendedor social do administrador, afirmando que a
missão social é o foco central dos empreendedores sociais, “não a criação de riqueza. A riqueza é
apenas um meio para um fim para os empreendedores sociais”. Já para os administradores a
criação de riqueza é uma forma de medir valor, uma vez que os administradores deixam que os
recursos disponíveis limitem as suas perspectivas e as suas ações.
Ao longo das últimas décadas, surgiram outras palavras frequentemente usadas como
substitutas para o empreendedorismo, incluindo empreendimentos, inovação, pequenas empresas,
empresas de crescimento, e assim por diante. Para capturar e compreender plenamente o
fenômeno do empreendedorismo, torna-se necessária uma visão ampla e inclusiva para englobar
importantes componentes e tendências nesse movimento em rápido crescimento (Volkmann et
al., 2009). Além disso, existem muitas formas e significados da palavra empreendedorismo
(Figura 3).
2
Empreendedor Indivíduo
Empreendedorismo Processo
Perfil empreendedor atitudes, habilidades, comportamento
Ecossistema Empreendedor papel da sociedade
Em oposição ao Sistema Nacional de Inovação (SNI), datado dos anos 90, cuja teoria foi
consolidada e incluiu os primeiros esforços na busca da compreensão de quais fatores afetam o
surgimento e difusão de inovações e como gerenciar esse processo, o Sistema Nacional do
Empreendedorismo (SNE), idealizado por Ács, Szerb e Autio (2014), enfatiza a interação entre a
ação empreendedora e o contexto institucional. Eles argumentam que, na ausência de iniciativa
individual, o contexto institucional não poderá influenciar a criação de uma pequena ou média
2
contextual
3
desfavorável para o empreendedorismo comercial baseado no mercado pode ser visto como uma
oportunidade para um empreendedor social com o objetivo de atender às necessidades sociais
decorrentes do fracasso do mercado (Austin et al., 2012).
Seguindo a abordagem dos sistemas sociais, o empreendedorismo social, assim como a
inovação social, tem sido utilizado como estratégia de gestão governamental ou intervenção
social em muitos países nos últimos anos (Hulgard & Ferrarini, 2010).
Esse cenário expressa a preocupação com “o bem-estar social, protagonizados por
empresas e por empreendimentos de economia social e solidária”, pois surgem da integração
entre os vários indivíduos e organizações engajadas na mudança social. Por meio de fomentar
parcerias que criam um ambiente propício e sustentável para o empreendedorismo e a inovação
social (Hulgard & Ferrarini, 2010, p.257).
Garcia (2014, p.270) sugere uma rede de tecnologia social que possa promover ações
orientadas “para a mudança das condições de vida dos setores sociais dominados e,
consequentemente, para a transformação do modo de vida da sociedade industrial”, reunindo
diversos tipos de agentes, inseridos em instituições governamentais, civis e científicas.
Shattock (2008) defendeu em seu estudo que o empreendedorismo em universidades
ultrapassa o desenvolvimento econômico e alcança o social e comunitário. Gibb [2013] coloca
grande ênfase ao destacar as crescentes pressões para ampliar a aprendizagem experiencial dos
estudantes durante o início do século 21, particularmente com as pressões para o crescimento do
setor de pequenas e médias empresas da economia, incluindo empresas sociais ou comunitárias.
A economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo
industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego no início do século XIX. Assim, surgem as
cooperativas com o propósito de recuperar o trabalho e a autonomia econômica e são vistas como
uma possibilidade de superar o padrão de subordinação e de vulnerabilidade das formas típicas de
economia dos setores populares, como a informalidade, as ocupações por conta própria, as
microempresas e a agricultura familiar (Singer, 2002).
3
Nesse cenário de mudanças, em que as organizações precisam entregar valor mais rápido,
é que surgem as oportunidades empreendedoras. Como tal, essas oportunidades criam novos
produtos, serviços, matérias-primas e métodos organizacionais (McMullen et al., 2007).
Empreendedorismo nas organizações, ou empreendedorismo corporativo é um termo
utilizado para descrever o comportamento empreendedor dentro de organizações de médio e
grande porte. Outros termos populares ou relacionados incluem ‘empreendedorismo
organizacional’, ‘intraempreendedorismo’ e ‘Corporate Venturing’ (Morris et al., 2011, p.11).
3
comportamentos parecem indicar que nem todos tenham se adaptado a essa realidade” (Mora,
2006, p.131).
O início da universidade ocorrido no continente europeu há quase nove séculos, foi
marcado pelo domínio dos saberes dispostos em livros, tidos como verdades absolutas, em
detrimento da busca do conhecimento crítico e inovador. O ensino era dirigido muito mais para o
domínio do poder dos discursos formais, especialmente argumentação, ao invés da aquisição de
conhecimento ou à busca da verdade no sentido mais amplo (Monroe, 1979).
Seu reposicionamento social ocorreu a partir do século XIX, com o advento do modelo
napoleônico, que visava à formação de nova elite intelectual que preservasse a ideia de
universalidade e de difusão do saber constituído, criou-se regulamentações profissionais, cerceou
a autonomia da universidade e instituiu a proteção do Estado (Almeida, 2012). Já o modelo
humboldtiano, formado pela elite alemã, desvinculou a universidade do Estado, assegurando-lhe
a autonomia e a pesquisa como suas marcas distintas (Almeida, 2012).
A partir dos modelos napoleônico e humboldtiano, a universidade abriu-se a outras
culturas, o que permitiu alterações tanto em sua orientação quanto em sua organização, buscando
atender aos anseios da sociedade no que tange à necessidade de refletir sobre o mundo que
desejamos ter. Houve um aumento rápido e simultâneo do número de estudantes, fato que
resultou em fortes reivindicações sobre a capacidade de ensino das universidades, tornando difícil
apoiar a importância da pesquisa básica nas universidades, que dispunham de poucos recursos
(Wasser, 1990).
Uma vez que o ideal durante séculos de universidades que se respeitam foi integrar ensino
e pesquisa, as universidades evoluíram desde a educação de uma pequena minoria até instituições
sócio-políticas que educam uma força de trabalho de dimensões em massa. Durante esse mesmo
período, a pesquisa passou da atividade exclusiva de alguns indivíduos dotados em uma indústria
para a produção sistemática de conhecimento e para uma nova relação entre pesquisa
fundamental e aplicada nas universidades, criada por necessidade econômica, senão pelo
progresso conceitual (Wasser, 1990).
3
O Censo da Educação Superior de 2017 (Inep, 2018) demonstra que a educação superior
brasileira caracteriza-se por uma dualidade ou superposição do modelo napoleônico (escolas
superiores de formação profissional) e do modelo neo-humboldtiano (ensino-pesquisa-extensão),
principalmente nas grandes universidades. Essa dualidade teria permitido a diferenciação e a
diversificação de instituições, sintetizando o discurso dos organismos multilaterais que ecoaram
no Brasil na década de 1990 em defesa de reformas no ensino superior dos países em
desenvolvimento (Sguissardi, 2004).
Já o modelo humboldtiano, continua esse autor, por ser considerado caro demais e incapaz
de absorver a demanda proveniente do Ensino Médio, contribuiu para a formação das
universidades, centros universitários, faculdades integradas e as instituições apenas de ensino
(faculdades isoladas, escolas e institutos superiores).
Diante do exposto, pode-se presumir que as universidades brasileiras foram construídas,
visando aos modelos europeus e sua missão inicial era proporcionar mão de obra técnica para
atender as necessidades brasileiras. Ao longo das décadas, elas apresentaram traços de algum
modelo ideal ou idealizado dentre os modelos predominantes no exterior, sem jamais constituir
um modelo típico de universidade brasileira (Sguissardi, 2004).
De acordo com o art. 43 da LDB n° 9.394/96, a educação superior tem por finalidade
estimular a criação cultural, o espírito científico e o pensamento reflexivo; formar diplomados
nas diferentes áreas de conhecimento para o mercado e para o desenvolvimento da sociedade;
incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica; promover a divulgação de
conhecimentos; estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente e promover a
extensão do conhecimento (Brasil, 1996).
Assim, essa Lei assegura, dentre as diversas finalidades, uma colaboração maior das IES
como sociedade, quer pela prestação de serviço à comunidade, ou pela promoção da extensão
com a participação da população, visando cumprir o papel social que elas têm.
Desde a reforma universitária de 1968, a qual defendia o modelo de ‘universidade social’
comprometida com o estudo e a busca de soluções para os problemas que afetam a maioria de
nossa população, a universidade exigia qualidade para os produtos que gerava; era manter
padrões
3
elevados, mas a pesquisa universitária deveria ser orientada para a solução de problemas sociais
(Dagnino & Velho, 1998).
A criação de fundos e agências especiais de pesquisa foi um mecanismo especialmente
projetado para forçar as universidades a seguir a rota pretendida: uma vez que os orçamentos das
universidades foram drasticamente cortados pelo governo, os pesquisadores foram estimulados a
solicitar fundos do governo. Desde a época da reforma, que equipava as universidades para
realizar pesquisas, isso era feito não a partir de seus próprios orçamentos, mas com fundos
extramuros obtidos de agências governamentais de pesquisa (Dagnino & Velho, 1998).
A Constituição Federal de 1988 afirma que “as universidades [...] obedecerão ao princípio
da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (Brasil, 1988, art.207). Isso significa que
o tripé formado pelo ensino, pela pesquisa e pela extensão constituem os eixos fundamentais da
universidade brasileira e não pode ser compartimentado e “essas funções básicas merecem
igualdade em tratamento por parte das instituições de ensino superior, que, do contrário, violarão
o preceito legal” (Moita & Andrade, 2009, p.269).
Como forma de atender/neutralizar reivindicações dos operários-populares (Paula, 2013),
a extensão foi a última a surgir nas universidades brasileiras e o primeiro registro que a define
(Nogueira, 2000) consta no Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931 e diz que “a extensão
universitária destina-se à difusão de conhecimentos filosóficos, artísticos, literários e científicos,
em benefício do aperfeiçoamento individual e coletivo” (Brasil, 1931, art. 109). No entanto, a
extensão universitária é o que permanente e sistematicamente convoca a universidade para o
aprofundamento de seu papel como instituição comprometida com a transformação social (Paula,
2013).
A universidade, na visão de Gibb (2005), deve atender aos objetivos mais amplos da
sociedade de três formas:
Por meio do reforço da sua capacidade de comercializar e tornar mais acessível a
sua propriedade intelectual;
Contribuindo mais substancialmente para os processos de desenvolvimento
econômico e social regional e local e, em geral, reforçando os seus laços com um
leque mais amplo de intervenientes na sociedade; e
Procurando equipar os seus alunos para um mundo de aprendizagem contínua,
cheio de incertezas e complexidade, que envolve: mudanças frequentes no
emprego; na
3
federal; a
4
preocupação com o desempenho e a qualidade dos cursos, bem como a integração da pesquisa
desenvolvida na universidade com o setor produtivo, visando ao desenvolvimento nacional
(Brasil, 2010).
A inovação em um contexto de desenvolvimento universitário empreendedor é visto por
Gibb et al. (2013) como nova organização e iniciativas de desenvolvimento de liderança;
experimentos em pedagogia, organização do conhecimento e desenvolvimento de programas;
envolvimento das partes interessadas interna e externa; atividade transdisciplinar; e novas
pesquisas exploradas, métodos e aplicações para a prática. Esse autor complementa que, para
uma inovação bem-sucedida, são condições necessárias, suficientes apenas quando combinadas
com uma cultura organizacional e um ambiente mais amplo que seja propício e favorável ao
empreendedorismo (Gibb et al., 2013).
A Lei da Inovação (Brasil, 2004) e posteriormente o Código Nacional de Ciência e
Tecnologia (Brasil, 2016) - os principais marcos regulatórios de incentivo à inovação no Brasil,
basearam-se na necessidade do estabelecimento de dispositivos legais eficientes que contribuam
com a criação de um cenário favorável ao desenvolvimento científico, tecnológico e ao incentivo
à inovação. O Código divide-se em três eixos: 1) constituição de ambiente propício às parcerias
estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas; 2) estímulo à participação
de instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação; e 3) incentivo à inovação na
empresa (Almeida et al., 2016, p.41).
No entanto, Garcia (2014) critica as atuais políticas científicas e tecnológicas de incentivo
à inovação que propõem a reestruturação geral dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia
para a produção de conhecimento comercial, uma vez que elas baseiam-se no diagnóstico da
emergência de uma nova fase do sistema econômico, na qual a capacidade de obter e usar
conhecimento - de investir em ativos de conhecimento, sejam aportes científicos, tecnológicos ou
inovações de variados tipos - define um novo padrão de competição das trocas econômicas entre
regiões, países, empresas e indivíduos.
Em regiões mais fracas que não possuem um sistema denso de infraestrutura de pesquisa
fora do setor universitário, os governos muitas vezes reforçam suas expectativas nas
universidades, sobrecarregando as universidades com a intensidade de demandas por pesquisa.
Isso deve, portanto, ser uma consideração importante na compreensão do papel que as
universidades desempenham no desenvolvimento econômico regional (Zhang et al., 2016)
A universidade pública, como já visto anteriormente, é a instituição que mais desenvolve
pesquisas e desempenha um papel de importância científica na produção e cooperação com o
setor privado, para promover a inovação. Como parte de uma realidade concreta, desempenha
suas funções sempre pensando e trabalhando para atender às exigências da sociedade, num
mundo em constantes mudanças e crises.
Essa assertiva revela o problema das relações entre universidade e sociedade. Embora a
universidade seja vista externamente como algo sólido e pouco variável, ela alterou sua
orientação e projeção social. Contudo, essa dinâmica de adaptação constante às circunstâncias e
às demandas da sociedade, acelerou-se tanto nesse último século, que é impossível um ajuste
adequado sem uma transformação profunda das próprias estruturas internas universitárias,
pondera Zabalza (2004).
A discussão sobre a indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão vem sendo fortemente
reavivada no circuito acadêmico por ocasião da obrigatoriedade da extensionalização do
currículo, denominada curricularização da extensão, cuja proposta é que os cursos de graduação
das universidades brasileiras terão que destinar no mínimo 10% de sua estrutura curricular às
atividades de extensão até 2020. Essa exigência foi estabelecida pelo Plano Nacional de
Educação (Lei 13.005/2014), na estratégia 12.7.
Isso significa que os programas e projetos de extensão com abrangência social desafiam
as universidades a rever suas concepções e práticas extensionistas e efetivamente vem para
promover um repensar sobre o currículo, a formação dos estudantes, as concepções sobre a
extensão e o próprio projeto de universidade.
À luz desta breve revisão histórica de suas funções, pode-se inferir que a universidade é
um organismo muito adaptável e que demonstra ser capaz de evoluir e expandir em um ambiente
de mudança, e cada vez mais atenda aos anseios da sociedade de um modo geral com o
conhecimento produzido por ela.
4
Barnes et al. A universidade empreendedora é uma entidade que oferece oportunidades, práticas,
(2002) culturas e ambientes favoráveis que incentivam e abraçam ativamente o
empreendedorismo, o qual faz parte da própria medula óssea dessas instituições.
Etzkowitz (2003) A universidade empreendedora é uma incubadora natural, fornecendo estruturas de apoio
para professores e estudantes para iniciar novos empreendimentos.
Jacob et al. Uma universidade empreendedora engloba tanto a comercialização (por exemplo, cursos
(2003) de educação complementar feitos sob medida, serviços de consultoria, atividades de
extensão) como a mercantilização (por exemplo, patentes, licenciamentos, faculdades ou
empreendimentos próprios)
Rodrigues (2006) É aquela que, de forma proativa, analisa as mudanças no seu contexto específico de
atuação, identificando alterações de comportamento dos seus segmentos-alvo (alunos do
ensino médio, alunos de graduação, alunos de pós-graduação) e oportunidades em novos
segmentos de mercado (educação continuada, educação corporativa, educação a
distância) e monitora os movimentos da concorrência, buscando filtrar potenciais
oportunidades em eventos com conteúdo de ameaça.
Guenther e Uma universidade empreendedora consiste em desenvolver mecanismos direto e indireto
Wagner (2008) para vincular a academia aos negócios, tais como transferência de tecnologia e escritórios
para isso, incubadoras e parques científicos, além do ensino ao empreendedorismo para
proporcionar habilidades e competências para atividades empreendedoras.
Guerrero e As universidades empreendedoras tornam-se importantes catalisadores do
Urbano (2011) desenvolvimento regional, econômico e social.
Guerrero e As universidades empreendedoras desempenham um papel importante como produtoras
Urbano (2012a) de conhecimento e instituições de divulgação desse conhecimento, uma vez que a
universidade gera ideias e recursos humanos qualificados, enquanto a indústria tem os
recursos econômicos para transformar ideias em produtos economicamente úteis.
Guerrero e Uma universidade empreendedora é definida como uma organização adaptável a
Urbano (2012b) ambientes competitivos com uma estratégia comum para ser a melhor em todas as suas
atividades (por exemplo, têm boas finanças, seleciona bons alunos e professores, produz
pesquisa de alta qualidade). Desta forma, são mais produtivas e criativas em estabelecer
laços entre o ensino e pesquisa.
Sam & van der Uma universidade empreendedora identifica e explora ativamente as oportunidades de
Sijde (2014) melhorar a si mesma (em relação à educação e à pesquisa) e ao meio ambiente (terceira
tarefa: transferência de conhecimento) e é capaz de gerenciar a dependência e o impacto
mútuo das três tarefas universitárias. Assim, ela é capaz de assumir vários papéis na
sociedade e no sistema de inovação (ecossistema), ligada a redes complexas de atores,
como indústrias privadas, financiadores e agências governamentais que estão ligadas
entre
si, na busca de objetivos tecnológicos comuns e / ou ganhos econômicos mútuos.
Mets (2015) A universidade empreendedora cria e implementa novos conhecimentos transferíveis e o
comportamento dos atores nesse processo (financiamento de P&D, propriedade
intelectual, etc.) é empreendedor. O patenteamento por si só não é a prova do
comportamento empreendedor da universidade, mas essa é uma das primeiras etapas
direcionadas para implementar novos conhecimentos criados em negócios reais.
Figura 9. Definições de universidade empreendedora apontadas na revisão da literatura
Fonte: elaborado pela autora (2017)
das abordagens empreendedoras tomadas pelas universidades é uma das características mais
importantes do conceito (Fayolle & Redford, 2015).
Os principais escritores deste tema (Clark 1998, 2006; Etzkowitz, 1998, 2003; 2013;
Guerrero & Urbano, 2012) concentraram seus estudos em como redesenhar as instituições de
forma empreendedora, mas sem uma exploração completa do conceito de universidade
empreendedora. A revisão da literatura também sugere que o conceito universidade
empreendedora não está claramente definido. É vagamente sinônimo de comercialização do
resultado da pesquisa, mas não abrange todos os aspectos que devem ser considerados ao
contemplar toda a gama de atividades e significados que possam ser razoavelmente adotados ao
considerar o empreendedorismo no contexto universitário.
A universidade empreendedora, numa visão ampla, procura gerar resultados inovadores
de um dos quatro domínios inter-relacionados: (1) sistemas de comercialização, (2) sistemas de
educação para o empreendedorismo, (3) ensino e sistemas de pesquisa e (4) sistemas
administrativos. Uma universidade empreendedora, numa visão estreita, é uma que possui uma
sistema de comercialização de conhecimento (Moroz, 2012).
Baseando-se nos conceitos apresentados na Figura 9, pode-se inferir que uma
universidade empreendedora é um conjunto de características institucionais adaptadas e
orientadas para um comportamento empreendedor (Clark, 1998).
Diferentemente da universidade tradicional que se preocupa apenas com ensino e pesquisa
para si mesma (Etzkowitz, 2003), a universidade empreendedora é uma instituição integrada em
um ecossistema empreendedor e inovador (Isenberg, 2011), capaz de mudar, de inovar,
reconhecer e criar oportunidades (Kirby, 2002; Guerrero et al., 2006). Sua comunidade
acadêmica (gestores, docentes, estudantes) é proativa, está disposta a assumir riscos e responder
aos desafios (Subotzky, 1999, Bratianu e Stanciu, 2010), visando ao desenvolvimento interno e
externo (Chrisman et al., 1995, Röpke, 1998, Etzkowitz et al., 2000, Jacob et al., 2003, Guenther
& Wagner, 2008) e criando diferentes valores (econômicos, sociais, culturais, ambientais, dentre
outros), por meio do conhecimento gerado por ela (OECD, 2012).
As mudanças acima descritas oferecem oportunidades, bem como ameaças que levam à
busca de parcerias nacionais e internacionais na construção de redes mais amplas de
relacionamentos para aprovisionamento e aplicação de conhecimentos e para busca de recursos
financeiros (Moroz & Hindle, 2012).
4
Fazem parte dos fatores informais, de acordo com Guerrero et al. (2006) as intenções e as
atitudes empreendedoras da comunidade acadêmica, as metodologias utilizadas para a educação
ao empreendedorismo e a aprendizagem com reais empreendedores.
Isso significa que a transformação empreendedora nas universidades acontece interna e
externamente. Os fatores externos incluem também mudanças no financiamento, a globalização,
a internacionalização, o crescimento de uma economia baseada no conhecimento e as demandas
para que as instituições sejam mais sensíveis às necessidades societárias. Os fatores internos
incluem o impulso para a autonomia, a necessidade de novas fontes de receita, ineficiências
institucionais (um movimento para a gestão da qualidade total), mudança de dados demográficos
dos professores e uma crescente convicção de que as parcerias comunidade / indústria podem ser
mutuamente benéficas (Moroz, 2012)
Clark (2006) já alertava que para cumprir essa missão, as universidades deveriam
promover uma reforma adaptadora, no sentido de se reorganizem e reposicionem para a prestação
de serviço à sociedade, alterando sua infraestrutura; criando serviços de consultoria; oferecendo
serviços de apoio às incubadoras, às startups e às spin-offs; instalando unidades de pesquisa em
parques de ciência; bem como os escritórios de proteção intelectual e transferência de tecnologia
que facilitam a difusão de tecnologia, cujo objetivo é formar um ambiente propício à inovação
(Audy, 2006).
Em um estudo posterior, Clark apontou que dentre as dinâmicas para a mudança
(Figura11), é necessário um “impulso perpétuo” voltado para o futuro e uma “volição
institucionalizada” que se traduz numa vontade coletiva, estimula e orienta uma força
autossustentada e auto selecionável em resposta às demandas sociais. “Em um caso após outro,
encontramos uma ‘burocracia de mudança’, na qual funcionários estejam mais orientados para o
futuro que para o tradicional ‘administrativo’. Assim, a mudança torna-se um hábito, um estado
institucionalizado” (Clark, 2005, p.2).
Dinâmica Definição
Reforço da interação A mudança é realizada em várias frentes, que resultam em uma infraestrutura
combinada, na qual as alterações substanciais estão interconectadas e mutuamente
dependentes.
Momentum perpétuo A instituição adquire um momentum estável que não necessita de um ponto
específico de parada. Esse momentum é obtido por meio da realização cumulativa
de pequenos passos.
Ambiciosa volição do Uma universidade autoconfiante é construída e apoiada por blocos de vontades
colegiado institucionais que refletem uma ambição assertiva, formando uma universidade
melhor.
Figura 11. Dinâmicas de mudança das universidades empreendedoras
Fonte: Adaptado de Clark (2006)
5
Para seguir nesse percurso, Clark (2006) argumenta que serão necessários dois milagres: o
primeiro é iniciar o processo, uma vez que muitas universidades não encaram o medo de
fracassar; o segundo milagre é dar continuidade a um círculo de realizações bem-sucedidas e
resistir à grande tendência conservadora das instituições. A vontade está no âmago de cada
milagre, aponta Clark (2006).
As universidades estudadas por Clark tornaram-se empreendedoras, à medida que
desenvolveram ambientes de inovação em uma cultura organizacional caracterizada por um
trabalho coletivo em que o empreendedorismo é facilitado e apoiado, incluindo a tolerância para
assumir riscos, pois o risco é um fenômeno normal na implantação de novas práticas e o espírito
empreendedor é muitas vezes percebido pelas práticas inovadoras que visam à exploração do
lucro (Clark, 1998).
Levando-se em consideração o ranking da Times Higher Education 2018-2019, no qual a
primeira universidade brasileira a aparecer é a Universidade de São Paulo (USP) – no grupo entre
as 251 a 400 melhores, pode-se inferir que as universidades brasileiras não se destacam nos
rankings universitários internacionais e, de acordo com Kirby (2006), existem inúmeras razões
para isso, em grande parte, relativas à natureza inerente de grandes organizações, em particular: a
natureza impessoal das relações; a estrutura hierárquica e muitos níveis de aprovação; a
necessidade de controle e a adesão resultante de regras e procedimentos; o conservadorismo da
cultura corporativa; a dimensão do tempo e a necessidade de resultados imediatos; a falta de
talento empresarial; métodos de compensação inadequados.
Devido à diminuição dos recursos financeiros públicos nas universidades internacionais,
os estudos sobre a universidade empreendedora e a ‘comercialização’ do conhecimento têm
se expandido em todo o mundo. Slaughter e Leslie (1997) constataram que os governos
gradualmente dão mais prioridade aos investimentos mais comercialmente viáveis e que os
investimentos em educação pública estão continuamente decrescentes. Em consequência, as
universidades precisam encontrar alternativas de fontes de financiamento, a fim de sobreviverem,
concluem esses autores.
Por outro lado, o número crescente de atividades orientadas para o mercado é estimulado
pelo crescimento das estruturas de apoio, como centros de tecnologia, que são capazes de criar
novas fontes de rendimento, mas ao mesmo tempo, contribuir para a “mudança na base dos
campos do conhecimento, da estrutura das disciplinas e de alocação de recursos institucionais”
(Slaughter & Leslie, 1997, p. 176).
5
Nos países mais avançados das economias industriais, especialmente nos países chamados
de orientados para a missão, como o Reino Unido e os EUA (Brown & Mason, 2014), foram
criadas políticas públicas que apoiam as inciativas da terceira missão, a fim de impulsionar a
inovação e promover os ecossistemas empreendedores.
A capacidade empreendedora, atrelada ao seu papel social, garante que as ações das
universidades empreendedoras sejam alicerçadas pela criação de valor a qual utiliza formas
diferentes dos recursos (Stevenson et al., 2007), buscando não apenas as oportunidades de
comercialização do conhecimento.
Assim, torna-se necessário abandonar a tradicional distinção entre o valor econômico e
social. Em primeiro lugar, toda criação de valor é inerentemente social no sentido que ações que
criem valor econômico também melhoraram a sociedade. Segundo, existe a crença que o valor
econômico é mais estreito que valor social e só se aplica aos benefícios que podem ser medidos
monetariamente, enquanto valor social inclui benefícios intangíveis que desafiam a medição
(Santos, 2012).
De forma geral, as universidades empreendedoras cumprem seu papel social à medida em
que criam riquezas, aproveitam melhor os recursos disponíveis e contribuem para o
desenvolvimento de seu entorno e, consequentemente, criam novas frentes de trabalho, ou seja,
criam mudanças por meio de ajustes, adaptações e modificações na forma de agir das pessoas que
levarão à identificação de diferentes oportunidades (Morris & Kuratko, 2002).
Na visão de Etzkowitz (2013), a universidade empreendedora envolve a criação de ideias
à atividade prática, capitalizando o conhecimento, organizando novas entidades e gerenciando
riscos à inovação industrial. Esse autor destaca que existem três etapas e fases para o
desenvolvimento da universidade empreendedora (Figura 12):
FASE AÇÃO
01 Adota uma visão estratégica e ganha alguma habilidade para definir suas próprias prioridades, como,
por exemplo, aumentando seus próprios recursos (doações, negociações com fornecedores, etc.)
02 Comercializa sua propriedade intelectual resultante das atividades do seu corpo docente, pessoal e
estudantes.
03 Colabora com a indústria e os atores governamentais e, consequentemente, com a melhoria do seu
ambiente regional. Nessa fase, acontece a transição de uma região industrial em declínio para a
indústria baseada no conhecimento.
Figura 12. Fases da universidade empreendedora
Fonte: Adaptado de Etzkowitz (2013).
5
Uma vez que cada universidade é única em combinar elementos comuns com
características particulares, operando em ambientes complexos diferentes, elas desenvolvem
respostas complexas
5
Esses cinco elementos de transformação só são possíveis se houver uma interação entre
eles, pois cada um deles, isoladamente, não poderá causar mudança significativa (Clark, 2006).
Sporn (2001) apresentou um estudo transnacional de estruturas universitárias adaptativas
em relação a um ambiente socioeconômico em mudança. Com base nisso, são introduzidas novas
formas organizacionais para universidades tornarem-se empreendedoras (Figura 14).
Elementos
As demandas ambientais podem ser definidas como crise ou oportunidade pela instituição
Uma cultura empreendedora
Uma estrutura diferenciada
A gestão profissionalizada
As universidades precisam desenvolver declaração de missão e objetivos claros.
Governança compartilhada
A liderança comprometida.
Figura 14. Elementos das universidades empreendedoras identificados por Sporn.
Fonte: Adaptado de Sporn (2001)
Incentivo e Suporte rígido (laboratórios, pré-incubadoras, incubadoras, parques científicos, salas, suporte
apoio informático, de escritório e financiamento). Suporte suave (capacitação, orientação e
aconselhamento, sinalização de fontes de suporte externo, suporte técnico e gerencial)
Reconhecimento Participação em ações, promoções, etc.
e recompensa
Organização Grupos de ensino e pesquisa interdisciplinares, parcerias educativas, multidisciplinar
Centro de Empreendedorismo.
Promoção Competições de planos de negócios, empreendimentos ''salões da fama'', casos, etc.
Figura 15. Elementos das universidades empreendedoras identificados por Kirby.
Fonte: Adaptado de Kirby (2006)
Ainda nesse estudo, o autor afirma que uma universidade empreendedora também pode
ser baseada no ensino, introduzindo a formação empresarial no currículo. As universidades
europeias estabeleceram programas de formação em empreendedorismo, concebidos para criar
empresas. Nesse modelo, desenvolvido na Suécia, espera-se que os alunos desempenhem o papel
de empreendedor em levar a pesquisa para fora da universidade e transformá-la em empresas.
Conforme a Figura 8, a qual apresenta os conceitos de universidades empreendedoras,
Etzkowitz (1983) cunhou a expressão universidades empreendedoras para descrever instituições
acadêmicas que promovem o desenvolvimento econômico. Desde então, ele desenvolveu um
modelo de relações universidade-indústria-governo - a ‘Hélice Tríplice’, no qual o conhecimento
é transferido das universidades de pesquisa para a indústria, e depois (por intermédio do governo)
para a sociedade (Etzkowitz, 2002).
5
Explicando a Figura 16, Etzkowitz justifica que os princípios 1 e 2 “também podem ser
princípios institucionais de pesquisa e de ensino, mas é a confluência de todos os quatro que faz
uma universidade empreendedora plena” (Etzkowitz, 2013, p.492).
Salamzadeh et al. (2011) propõem um framework para universidades empreendedoras
(Figura 18), baseado em um sistema dinâmico, com insumos especiais, processos, resultados e
visa mobilizar recursos, habilidades e capacidades para cumprir a terceira missão.
5
Elementos
Entradas Recursos (humanos, financeiros, físicos); regras/regulamentos; estrutura; missão; capacidades
empreendedoras; expectativas da sociedade, da indústria, do governo e do mercado.
Processos Ensino; pesquisa; gestão; logística; comercialização; seleção (estudantes, professores, equipe);
financeiros; parcerias; interação multilateral; inovação, pesquisa e desenvolvimento (I, P&D)
Saídas Recursos humanos empreendedores (estudantes, professores, equipe); pesquisas efetivas atendendo
às demandas da sociedade; inovação/invenção; Redes e Centro de empreendedores (incubadoras,
parques tecnológicos, etc.)
Resultados Terceira Missão
Figura 18. Framework sistemático para universidade empreendedora baseado no modelo IPOO
Fonte: Adaptado de Salamzadeh et al. (2011).
Moroz (2012) também enfatiza que os fatores externos e internos são responsáveis pelas
universidades assumirem uma “mudança empreendedora” (Moroz, 2012, p. 35). Em um nível
funcional, esse autor apresenta os elementos necessários para essa mudança (Figura 19).
Elementos
Comercialização de conhecimento derivado de pesquisas realizado pela própria universidade
Reforma das funções tradicionais de ensino, pesquisa e serviço comunitário, para atender às sociedade
Reformulação de políticas, incentivos e estruturas de governança, eliminando barreiras e encorajando
comportamentos à inovação do conhecimento
O ensino do empreendedorismo na universidade
Figura 19. Elementos das universidades empreendedoras identificados por Moroz
Fonte: Adaptado de Moroz (2012).
Gibb et al. (2013) afirmam que no mundo das corporações globais e da tecnologia da
informação, a universidade já não pode pretender ser a única, ou possivelmente a principal fonte
de propriedade intelectual. Para manter seu status, também são necessárias parcerias com outras
partes interessadas da sociedade (Figura 21). Baseando-se na experiência americana, asiática e
europeia, esses autores apresentam as características da universidade empreendedora.
Elementos
Possui autonomia financeira (aceitando cada vez menos os recursos do estado)
Integra e partilha o conhecimentos e aprendizagem com a comunidade.
Comercializa suas ideias para criar valor público na sociedade e isso não ameaça os valores acadêmicos.
Organiza-se internamente para dar um impulso central mais forte ao empreendedorismo.
Envolve-se ativamente com a comunidade.
Promove a criação de parques científicos, incubadoras, escritórios de transferência de tecnologia e mecanismos
de proteção intelectual, para abrir e integrar as relações universitárias
Incentiva atividades interdisciplinares (criação de departamentos interdisciplinares e centros de P & D)
Aceita a responsabilidade pelo desenvolvimento pessoal dos estudantes e do pessoal, em especial no que diz
respeito às futuras experiências sociais, de carreira e de aprendizagem ao longo da vida
Recruta pessoal e nomeia líderes empreendedores como agentes de mudança
Cria sistemas de recompensas (ensino, pesquisa, publicação, etc.)
Expande o conceito de educação para o empreendedorismo em todas as faculdades.
Figura 21. Elementos das universidades empreendedoras identificados por Gibb et al.
Fonte: Adaptado de Gibb et al. (2013).
6
Figura 22. Framework das melhores práticas e conceitos apresentados por Gibb et al.
Fonte: Adaptado de Gibb et al. (2013).
demandas das indústrias, ou com seus parques tecnológicos. Porém, não são relatados como
foram reorganizados os currículos, se existem programas interdisciplinares que englobem o
ensino- pesquisa-extensão, ou que integrem e promovam a interação entre diferentes cursos e
seus diferentes níveis (graduação, pós-graduação).
Após o levantamento bibliográfico realizado nesta pesquisa, são apresentados os
elementos extraídos da literatura e que são sintetizados na Figura 24:
Autores Conceito Elementos da UE
Realiza mudanças Cultura organizacional empreendedora; Núcleo de direção com gestão
(1998;
2006)
2004;
Clark
em sua estrutura e dinâmica; Inova currículos e programas; Renda diversificada (outras fontes
em sua cultura de financiamento); Centros de pesquisa não departamentais; Centros
organizacional acadêmicos.
Adapta-se a um Demandas ambientes (crise ou oportunidade); missão e objetivos claros;
(2001)
Sporn
(2004,
2013)
Universidade Irã Desenvolve e comercializa Criação de Escritório de planejamento e controle de pesquisa Guerrero et al.,
de Teerã pesquisas (anteriormente conhecido como escritório de ligação com a indústria; 2015.
Implantação de Centro de Empreendedorismo; Construção de Parque de
Ciência e Tecnologia, no qual está localizado a Incubadora Tecnológica);
Faculdade de Empreendedorismo, na qual está o escritório iraniano do
GEM (Global Entrepreneurship Monitor); Centros de Propriedade
Intelectual e Comercialização; Centro de Transferência de tecnologia; e o
Centro de Consultoria para a Indústria e Empreendedorismo; Centro de
educação de Empreendedorismo a distância; Reconhecimento dos alunos
empreendedores.
Sharif Irã Criada para desenvolver Criação do Escritório de ligação com a indústria; Implantação do Centro Guerrero et al.,
pesquisas tecnológicas para a de Empreendedorismo; Construção do Parque Tecnológico Pardis (PTP); 2015.
indústria. Incubadora Sharif de Tecnologia Avançada (SATI); Escritório de assuntos
tecnológicos; Fundo Sharif para pesquisa e exportação de tecnologia.
Figura 25. Síntese dos modelos de universidades empreendedoras
Fonte: elaborado pela autora (2007)
68
Parcerias externas (Universidade x empresas) Sam & van der Sijde (2014), Isenberg
(2011); Etzkowitz (2004); Moroz (2012);
Etzkowitz (2013)
Parcerias externas (Universidade x outras IES) Sam & van der Sijde (2014), Isenberg
(2011); Moroz (2012)
Figura 26. Síntese das dimensões e seus elementos propostos para o modelo conceitual de universidade
empreendedora
Fonte: elaborado pela autora (2017)
Finalizando a análise da Figura 26, não foi identificado na revisão da literatura um modelo
com todos os elementos, bem como com as práticas integradoras entre ensino, pesquisa, extensão
e inovação e cujas ações contemplassem empreendedorismo comercial e o social para a
71
comunidade. Dessa maneira, e a partir das dimensões estratificadas da literatura, este modelo
teórico-conceitual foi utilizado como base para o modelo empírico.
72
Este capítulo apresenta o método de pesquisa utilizado para este estudo, a partir de seus
itens relevantes que devem ser considerados na pesquisa são: perspectiva filosófica, métodos,
técnicas de coleta de dados e modos de análise e interpretação dos dados Creswell (2010).
[...] a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas
ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes,
o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO,
1995, p.21- 22)
Best Global
Universities
Green Metric RUF (Folha) Rankings ARWU QS BRICS Times HE
2017 2018 2018 2018 2019 2019
Posição
Posição
Posição
Posição
Posição
Posição
IES IES IES IES IES IES
151- 251-
USP 28 USP 1 USP 153 USP 200 USP 118 USP 300
301- 401-
UFLA 35 UFRJ 2 UFRJ 338 UFRJ 400 UNICAMP 204 UNICAMP 500
301- 501-
UFV 187 UFMG 3 UNICAMP 344 UNESP 400 UFRJ 331 UFMG 600
301- 601-
UEL 354 UNICAMP 4 UFRGS 471 UNICAMP 401 UNIFESP 464 UFRJ 800
401-
UFMG 500
401- 601-
UFRGS 357 UFRGS 5 UFMG 497 UFRGS 500 UNESP 491 UFRGS 800
Figura 28: Síntese das cinco melhores universidades públicas brasileiras nos rankings universitários.
Fonte: Elaborado pela autora (2018)
O Academic Ranking Word Universities (ARWU) foi publicado pela primeira vez em
2003 pela Universidade de Jiao Tong de Xangai, na China. O ARWU usa seis indicadores,
incluindo o número de ex-alunos vencedores do Prêmio Nobel e Medalha Field e membro do
corpo docente que obtiverem tais prêmios, o número de pesquisadores altamente citados
selecionados pela Thomson Reuters, o número de artigos publicados na revista Nature e na
Science, o número de artigos indexados no Science Citation Index - Expanded e Social Sciences
Citation Index, e desempenho docente per capita da universidade. Mais de 1.200 universidades
são realmente classificadas por ARWU cada ano e as 500 melhores são publicadas (Shanghai
University, 2018).
76
Por fim, o Times Higher Education – fundado em 2004 – conta com uma equipe de
especialistas em dados que avalia as universidades de classe mundial em 13 indicadores de
desempenho separados, cobrindo as cinco áreas: ensino (o ambiente de aprendizagem), a
pesquisa (volume, renda e reputação), citações (influência da pesquisa), perspectivas
internacionais (pessoal, estudantes e pesquisa) e rendimento do setor com a transferência do
conhecimento (Times, 2018).
Após a consolidação das cinco melhores universidades públicas brasileiras, a Figura 29
revelou que a Universidade de São Paulo (USP) destaca-se como primeira da categoria analisada
em todos os rankings; a Universidade de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) cinco vezes; já a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aparece quatro vezes nos respectivos rankings. A
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) consta duas vezes como as cinco melhores nos
rankings.
Após a análise das pontuações nos rankings, optou-se por selecionar como caso a
Universidade de Campinas (Unicamp), uma vez que essa Universidade é um exemplo
particularmente apropriado ao empreendedorismo e foi concebida, diferentemente das existentes,
como uma universidade de pesquisa que poderia antecipar as demandas tecnológicas da indústria.
Em segundo lugar, foi criada em um momento em que os planos do governo enfatizavam o
objetivo geral da autonomia tecnológica, e as perspectivas favoreciam o potencial do Brasil como
um participante significativo na arena internacional. Finalmente, a Unicamp está inserida num
ecossistema tecnológico mais desenvolvido e industrializado do país com melhor capacidade de
pesquisas científicas inovadoras, contando com diferentes parques tecnológicos, diferentes
instituições de pesquisa e indústrias de alta tecnologia (Dagnino e Velho, 1998).
A pesquisa foi realizada na Unicamp, em suas unidades, no período de abril a
setembro/2018. Existem 24 unidades de ensino e pesquisa, que são divididas em 10 institutos e
14 faculdades. Nelas são ministrados cursos de nível superior de graduação e pós-graduação.
Para compor a amostra, as unidades de análise (Figura 29) foram selecionadas no site,
tendo em vista às dimensões do modelo teórico e a temática da pesquisa. Após, foram
categorizadas em: Núcleo de Inovação Tecnológico, Gestão Superior (reitoria, pró-reitorias e
diretoria); unidades acadêmicas (representando cada área do conhecimento) e Ecossistema
(startups, representante das indústrias).
78
A análise documental também constitui como uma técnica para coleta de dados
qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando
aspectos novos de um tema ou problema e caracteriza-se pelo uso de documentos como fontes de
dados, informações e evidências (Ludke & André, 1986).
São considerados documentos "quaisquer materiais escritos que possam ser usados como
fonte de informação sobre o comportamento humano" (Phillips, 1974, p. 187), que podem ser
desde leis, regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, etc. Não são apenas uma fonte
de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações
sobre esse mesmo contexto (Ludke & André, 1986).
O levantamento documental, primeira etapa da pesquisa de campo, iniciou em abril de
2018. Inicialmente foram pesquisados documentos on-line do site da universidade selecionada,
identificando se existem programas de extensão ou similares que evidenciem o
empreendedorismo. Foram analisados o Plano de Desenvolvimento Institucional e o Plano de
Gestão, projetos interdisciplinares, resoluções, dentre outros. Concomitante o levantamento
documental, também foram selecionados e coletados dados dos possíveis participantes das
entrevistas.
Numa segunda etapa de coleta de dados documentais, concomitante com as entrevistas,
foram solicitados aos participantes (Figuras 31 a 34) documentos administrativos e/ou didático-
pedagógicos que:
a) Descreviam as ações empreendedoras, tais como programas ou projetos
empreendedores;
81
Após a seleção dos documentos, foi realizada a análise de conteúdo. Para tanto, foi
constituído um diário de bordo, levando-se em consideração as dimensões propostas no modelo
teórico.
GESTÃO
Gestão estratégica e adoção da cultura empreendedora.
Gestão superior
Gestão Acadêmica
INFRAESTRUTURA
Escritórios de transferência de tecnologia e propriedade intelectual
Parques tecnológicos
Incubadoras /Aceleradoras
Centros de pesquisa modernos e interdisciplinares
82
CAPITAL FINANCEIRO
Orçamento (autonomia financeira)
Captação de recursos externos
INTERNACIONALIZAÇÃO
Intercâmbio entre estudantes e docentes
Publicação das pesquisas em periódicos internacionais
Convênios e acordos de cooperação internacionais
COMUNIDADE ACADÊMICA
Trabalho docente coletivo e colaborativo
Educação empreendedora
Capacitação docente para uma prática empreendedora.
Consultoria para docentes e estudantes
Reconhecimento/premiação a docentes e estudantes.
ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR E PARCERIAS
Parcerias internas entre faculdades e institutos
Parcerias externas com empresas
Parcerias externas com governo
Parcerias externas com outras IES
A terceira etapa das entrevistas foi focada nas unidades acadêmicas, as quais foram
selecionadas para representar as áreas do conhecimento. Dos 24 institutos e faculdades, foram
selecionados 05 para representar as áreas de Ciências Aplicadas, Ciências da Saúde, Ciências
Agrárias e Ciências Humanas.
Ao final das entrevistas, foram ouvidos alguns representantes do ecossistema (Figura 34),
com vínculo com a Agência de Inovação - Inova: duas empresas-filha, uma startup e uma
empresa incubada. Para tanto, foram encaminhados vinte e três e-mails para diferentes empresas
(empresas- filhas, pré-incubadas e startups) desse ecossistema e, após algumas insistências, foram
coletados os dados das que primeiro dispuseram-se a participar.
Além dessas empresas, um dos Diretores da FIESP, responsável pela parceria
universidade- empresa também aceitou participar da entrevista. Foi encaminhado e-mails também
e a entrevista foi realizada na sede da FIESP em São Paulo.
Para preservar a identidade dos entrevistados, eles foram codificados de acordo com a
ocupação ou unidade de análise. Assim, Gestão Superior (GS), Gestão Acadêmica (GA), docente
(DO), estudante (ES) e ecossistema (EC), o código foi acrescido de um número para representar a
ordem que ocorreu a entrevista. Por exemplo: o primeiro entrevistado da Gestão Superior recebeu
o código GS1 para a transcrição.
De acordo com Creswell (2010), a coleta e a análise de dados devem ser processos
simultâneos na pesquisa qualitativa e esse autor completa que a análise de dados qualitativos
implica primariamente classificar coisas, pessoas e eventos e as propriedades que os
caracterizam. A análise e interpretação dos resultados coletados nos documentos e nas entrevistas
em profundidade foram conduzidas pela técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2011), a qual
permitiu identificar nos documentos e nas falas dos entrevistados, os fatores relacionados às
dimensões e seus elementos que compõe as universidades empreendedoras. Para tanto, foi
elaborado um roteiro (Apêndice D) com abordagem linear, hierárquica que contempla a
codificação dos dados (Creswell,
2010, p. 218) de acordo com os elementos identificados no modelo conceitual.
A exploração do material consiste numa etapa importante, porque vai possibilitar ou não a
riqueza das interpretações e inferências. Esta é a fase da descrição analítica, a qual diz respeito ao
corpus (qualquer material textual coletado) submetido a um estudo aprofundado, orientado pelos
referenciais teóricos (Bardin, 2011). Assim, os dados foram organizados por categorias, revisados
e analisados. As entrevistas foram gravadas e transcritas. Notas de campo e anotações diárias
foram revisadas regularmente.
Foi realizada a triangulação dos dados obtidos no levantamento bibliografico, nos
documentos da instituição analisada, bem como o diário de bordo, para que, ao final, apresente-se
e discuta o modelo de universidade empreendedora.
Primeiramente, foi revisitada a literatura, principalmente os estudos que apresentavam o
modelo teórico, evidenciando os pontos destacados pelos autores, bem como a busca por estudos
mais recentes. A seguir, foram consultados os dados primários, constituídos pelas anotações dos
diários de bordo e as transcrições das entrevistas, buscando sustentação para cada dimensão
analisada. A fim de esgotar as análises, vale ressaltar que para todas as dimensões e seus
elementos foram considerados todos os entrevistados.
Logo após, foram analisados os dados secundários extraídos dos documentos levantados
que sustentassem os dados coletados durante as entrevistas e/ou a análise da literatura. Ao final,
foram elaboradas as sínteses das dimensões e seus elementos.
A fim de atender ao objetivo geral proposto por esta pesquisa, a Matriz de Amarração
(Figura 35) apresenta os procedimentos e os instrumentos utilizados para coleta de dados e para
tratamento dos dados.
89
Este capítulo apresenta a análise dos resultados deste estudo. Para melhor entendimento
do cenário, no qual a pesquisa foi realizada, a seção 4.1 apresenta uma breve caracterização sobre
a Unicamp e a Região Metropolitana de Campinas.
Na seção 4.2 são apresentados os resultados da análise realizada em campo de acordo com
o modelo proposto de universidade empreendedora, tendo como base o modelo teórico
anteriormente exibido na Figura 26, seção 2.3.4.
social entre academia e sociedade pelo qual o apoio do governo à pesquisa acadêmica será
mantido enquanto a pesquisa desempenhar um papel-chave na nova economia (Dagnino &
Velho, 1998).
De lá para cá, Campinas tornou-se sede de um dos maiores polos de ciência e tecnologia
do mundo e engloba 20 municípios, na qual vivem 3 milhões de pessoas (Campinas, 2014) e são
responsáveis entre 8 e 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de São Paulo devido ao seu
complexo industrial, comercial e de prestação de serviços (Unicamp, 2015).
...a Unicamp embora não seja a primeira instituição de pesquisa, porque havia
instituições de pesquisa antes. O Instituto Agronômico de Campinas (Imperial
Estação Agronômica de Campinas), por exemplo, uma instituição de pesquisa
mais antiga do Brasil – data do século XIX (1988) - foi fundada pelo imperador
D. Pedro II – também tinha o ITAL que é um Instituto de Tecnologia de
Alimentos (de 1963). [...] com a Unicamp a coisa mudou completamente de cara
em termos de pesquisa de Campinas, com isso, passou a atrair uma série de
empreendimentos de pesquisa. (GS 3)
epistemologia, cooperassem com o físico, o matemático, o químico e o biólogo, para que todos
abandonassem suas estreitas perspectivas (Dagnino & Velho, 1998).
Para tanto, conta com uma infraestrutura, que inicialmente foi concentrada na Cidade
Universitária “Prof. Zeferino Vaz”, em Campinas (Distrito de Barão Geraldo), e hoje estendem-
se aos municípios vizinhos de Piracicaba, sede da Faculdade de Odontologia (FOP), e Limeira,
sede das Faculdades de Ciências Aplicadas (FCA) e de Tecnologia (FT).
A Unicamp tem ligações com a sociedade por meio de suas atividades de extensão e, em
particular, de sua área de saúde. Quatro grandes unidades hospitalares, situadas em seu câmpus
de Campinas e fora dele, fazem da Unicamp o maior centro de atendimento médico e hospitalar
do interior do Estado de São Paulo, cobrindo uma população de cinco milhões de pessoas numa
região de quase uma centena de municípios.
A Instituição pesquisada também mantém e coordena dois colégios técnicos: o Cotil
(Colégio Técnico de Limeira), com aulas de ensino médio e técnico em áreas como edificações,
enfermagem, informática e mecânica; e o Cotuca (Colégio Técnico de Campinas), com formação
técnica em alimentos, eletroeletrônica e telecomunicações, entre outras opções, além de cursos de
especialização técnica como automação industrial e equipamentos biomédicos (Unicamp, 2015).
A Unicamp responde por 8% da pesquisa acadêmica no Brasil, 12% da pós-graduação
nacional e mantém a liderança entre as universidades brasileiras no que diz respeito a patentes e
ao número de artigos per capita publicados anualmente em revistas indexadas na base de dados
ISI/WoS. A Universidade conta com aproximadamente 34 mil alunos matriculados em 66 cursos
de graduação e 153 programas de pós-graduação (AEPLAN/Unicamp, 2018).
A média anual de teses e dissertações defendidas é de 2,1 mil e 99% de seus professores
possuem título de doutor, liderando o ranking nacional per capita de publicações científicas nas
revistas internacionais catalogadas e considerada a mais produtiva universidade brasileira.
A Região Metropolitana de Campinas possui uma infraestrutura diferenciada em relação à
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). De uma economia baseada na agricultura, como a
maioria das cidades fundadas no Estado de São Paulo, Campinas foi consolidando-se no decorrer
de sua trajetória, como polo tecnológico devido às instalações
93
Figura 36. Dimensões e elementos propostos no modelo teórico e suas respectivas seções
Fonte: Elaborada pela autora
4.2.1. A GESTÃO
como uma organização com uma cultura empreendedora, as atividades devem ser estabelecidas
na estratégia (OECD, 2012).
Assim, a universidade deve ter uma declaração de missão de trabalho com uma visão
empreendedora para o futuro da instituição. Além disso, a estratégia poderia ter objetivos
específicos ao empreendedorismo com indicadores de desempenho associados, tais como: o
desenvolvimento de competências e habilidades empreendedoras para a comunidade acadêmica;
apoio aos empreendimentos empresariais, por meio da comercialização de resultados de
pesquisas e de transferências de tecnologia e criação de empresas, que geram receitas para a
instituição e fortalece a cooperação entre a instituição e empresas locais (OECD, 2012).
O Planejamento Estratégico da Unicamp – PLANES – vigência 2016-2020 – foi
elaborado na gestão anterior. Alguns entrevistados da Gestão Superior e da Acadêmica
confirmaram que participaram da elaboração desse planejamento que está organizado em 4 áreas
estratégicas: Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão, as quais se desdobram em Estratégias
Corporativas, implementadas para promover as mudanças necessárias e atingir aos objetivos
institucionais. O PLANES está disponível para consultas no site institucional.
Para cada uma dessas áreas, foram formuladas estratégias, programas e linhas de ação,
com vários níveis de aprofundamento e detalhamento, conforme apresentado na Figura 37.
(Unicamp, 2016).
Figura 37. Inter-relação dos elementos do Planes 2016-2020, para o alcance da visão de futuro proposta
Fonte: Planes (2016)
96
Em seus estudos seminais, Clark (1998, p.7) já defendia que uma cultura institucional
forte está enraizada em práticas fortes e torna-se um conjunto de crenças que, se difundidas,
tornam uma cultura universitária. “À medida que ideias e práticas interagem, o lado cultural ou
simbólico da universidade torna-se particularmente importante no cultivo da identidade
institucional e da reputação distintiva”.
Uma cultura empreendedora é orientada para novas oportunidades. Para tanto, os gestores
devem refletir coletivamente sobre qual estratégia tomar e comprometerem-se para obter as
aprovações necessárias. Esse processo produz evolução em vez de revolução (Stevenson e
Gumpert, 1985).
No Planejamento, a identidade organizacional é definida pela missão, princípios, valores e
visão de futuro. A partir dessa identidade se definem as áreas estratégicas, as estratégias
corporativas e os programas a serem desenvolvidos, para que a instituição cumpra sua missão e
atinja o futuro planejado (Costa, 2007). A Figura 38 apresenta a declaração de missão, visão e os
princípios da universidade pesquisada.
para atender à sociedade (Serra et al. 2009). Para Sporn (2001), uma missão clara e
compartilhada, com metas subsequentes orientam a tomada de decisões, o planejamento e a
orientação de todos os membros da comunidade universitária, gerando integração em uma
organização acadêmica tradicionalmente descentralizada.
Entende-se que a missão declarada no Planes (2016) está atrelada às diretrizes da
educação superior, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (Brasil, 1996), ou seja, são
utilizados os léxicos similares que indicam criação, geração, disseminação, promoção do
conhecimento (científicos, tecnológicos e culturais e artísticos), por meio do ensino, pesquisa e
extensão com vistas ao exercício pleno da cidadania, os quais atendem aos preceitos da legislação
atual.
Nos programas de Gestão, a Unicamp visa viabilizar canais de discussão, criando
condições para que a instituição possa executar sua missão. Esse processo deve ser dinâmico e
participativo (Unicamp, 2016).
Nas entrevistas, foi perguntado aos gestores superiores sobre a missão da Unicamp e
todos concordam que ela exerce um papel importante no desenvolvimento local, regional e
nacional.
A Unicamp tem uma diferença que é crucial que é a missão dela... um projeto
muito mais moderno, um projeto que tem muita abertura, muito incentivo à
pesquisa e a inovação. Uma característica muito forte que é a interação com a
sociedade, em todos os níveis, tanto nos projetos sociais, como também nos
projetos de inovação, de formação de novas empresas, tem um trabalho de
extensão universitária muito forte (GS 5).
[...] quase mais da metade dos alunos da Unicamp estão na pós-graduação [...] a
formação desses pesquisadores docentes é muito impactante no cenário
acadêmico nacional do país (GS 5).
Cultura) que tem alguma iniciativa mais organizada para apoio a iniciativa de empreendedorismo
[...]”.
[...] justamente porque a palavra empreendedorismo traz uma conotação da coisa
mais comercial e que não é o foco da Unicamp e que a comunidade da Unicamp
rejeita se você utilizar uma nomenclatura que dê uma conotação comercial [...]
(GS2)
[...]eu acho que tem abuso da palavra empreendedorismo, ela não define
exatamente uma postura e uma atitude, ela é meio genérica demais (GA1).
Um dos primeiros e mais importantes passos para uma universidade tradicional tornar-se
empreendedora, é a articulação de uma estratégia que definiria o que o conceito de ‘universidade
empreendedora’ significa especificamente (Gibb et al, 2013). Esses autores concluem que é
necessário haver clareza sobre o conceito, embora isso possa emergir ao longo do tempo por
meio de um processo de engajamento. Isso parece fundamental para a questão da incorporação do
empreendedorismo em toda a universidade.
No entanto, não foi identificada uma ação estratégica no Planes ou no Programa de Gestão
para integrar essas definições, e nem unicidade nas respostas dos gestores entrevistas sobre a
definição de empreendedorismo.
Alguns gestores entrevistados apontaram a proximidade entre inovação e
empreendedorismo, outros remetem à modificação de alguma coisa, a necessidade da criatividade
para a mudança, e outros ainda têm a definição reducionista de que empreendedorismo está
atrelado à criação de negócio.
[...] Empreendedorismo e inovação vão muito próximos. Empreendedor é aquela
pessoa que faz, ele modifica o mundo [...] Ele modifica alguma coisa,
transforma, ele tem essa energia. [...] Junto com a inovação, a inovação, em
geral, é uma
10
resposta inteligente de alguma necessidade que existe, pode ser social, pode ser
uma questão econômica, que seja, e ele acha uma resposta, mas não fica só
como resposta, vira uma ação. O empreendedor é aquele agente que torna as
modificações do mundo em realidade. (GS1)
Empreendedorismo é criatividade, é mover para frente, é mudar, é avançar e,
com isso, há um desenvolvimento. Esse desenvolvimento pode ser humano ou
pode ser financeiro, mas para mim, sempre com o desenvolvimento humano
dentro (GS2).
[...] quando eu ouço falar, muitas vezes está se falando de empresa, e não de uma
atitude empreendedora. [...] Como eu acho que é meio genérico, igual a
Unicamp não usa esse termos, ela usa inovação, [...] é difícil você ver em
documentos da Unicamp empreendedorismo (GA1).
Uma abordagem que enfatiza a identificação de oportunidades para contribuir com a sociedade,
que envolvam ações interdisciplinarares e comunitárias tem um apelo intelectual mais amplo,
particularmente quando combinadas com noções de desenvolvimento das capacidades pessoais dos
estudantes - acrescentando habilidades que ultrapassam as disciplinas, somando a visão sobre a vida futura
e possibilidades de carreira para si próprios, concluem Gibb et al (2013)
A gestão atual, durante a candidatura em 2016, elaborou um Programa de Gestão que
contemplou um capítulo sobre Empreendedorismo, com a proposta das seguintes ações: apoiar a
criação do Conselho do Unicamp Ventures; consolidar o Conselho de startups e abrigá-las com
projetos de pesquisa em parceria; criar uma área de atuação na Inova voltada para o
desenvolvimento e a implantação de projetos culturais; criar o Fundo Patrimonial de
Empreendedorismo; manter o apoio e estimular, na revisão curricular, a oferta de disciplinas de
empreendedorismo na Unicamp; criar grupo de estudos multidisciplinar/interinstitucional para
entender o modelo brasileiro de negócio; estimular a academia a empreender; discutir a criação
de uma área de atuação na Inova voltada para o desenvolvimento e a implantação de projetos
culturais; identificar desafios no setor produtivo trazendo para laboratórios e salas de aula os
problemas reais. Durante a entrevista, o reitor foi questionado sobre o andamento das ações de
empreendedorismo contempladas no Programa de Gestão e se elas já haviam sido executadas. O
reitor disse que não se lembrava das ações. A pesquisadora insistiu e mostrou-lhe a cópia do
capítulo. Ele respondeu que talvez as duas primeiras já haviam sido feitas, referindo-se a apoiar a
criação do Conselho Unicamp Ventures e consolidar o Conselho de startups.
[...] Esse também já foi feito ‘abrigar startups com projetos de pesquisa e
parcerias’. Criar o Fundo Patrimonial ainda não, mas é uma das prioridades. É
que na verdade, nós colocamos ações bem genéricas, todas de uma maneira ou
outra vão sendo feitas, é que a gente coloca aumentar, estimular, melhorar, mas
eu acho que é isso, estamos trabalhando nisso. Estamos discutindo fortemente a
Lei de Inovação no país, que tem implicações para nós. Estamos tentando
entender e implementar e também a criação do Fundo Patrimonial (de
Empreendedorismo) (GS6).
10
enfrenta duas crises: uma financeira e outra política. Ao reconhecer a existência destas crises, a
gestão propõe defender a universidade pública, com autonomia, gratuita, de qualidade e com uma
inserção que atenda às atuais exigências das transformações acadêmicas, científicas, tecnológicas,
sociais e culturais.
Os estudantes entrevistados acreditam que o reitor e demais pró-reitorias não se envolvem
nas ações empreendedoras, uma das justificativas apontadas é que a “gestão do novo reitor é bem
recente, foi trocado no meio do ano passado e não vimos grandes casos de apoio ao
empreendedorismo” (ES1). Outro relato apontado é que a gestão superior poderia apoiar
efetivamente as ações empreendedoras, que o apoio fica apenas no discurso.
Apoiam, mas não apoiam na prática em oferecer recursos, oferecer uma base,
[...] quando a gente está fazendo um evento sempre aparece o pessoal da reitoria
[...], mas na hora de aplicar alguma coisa, de dar recursos ou um apoio mais
efetivo, falta um pouco. (ES2)
Sobre a tomada de decisão de alto escalão, embora o reitor tenha a tomada de decisão
limitada, uma vez que no Conselho Universitário são discutidos e aprovados os assuntos
importantes. Percebe-se que há uma participação positiva no processo de tomada de decisão.
… a gente acabou de passar uma regra que qualquer gasto de caráter perene na
Universidade tem que ser aprovado no Conselho Universitário (GS6)
Então, acredito que é uma questão que busco muito diálogo, muita participação
institucionalmente, os caminhos que a gente tem tradicionalmente, com muitas
comissões, muitos grupos de trabalho, muitas discussões para chegar realmente a
realidade, com ações novas ou decisões que afetam a Universidade como um
todo (GS6).
[...] Hoje, nós, os pró-reitores, com o reitor – nós somos muito alinhados. Então
temos todo o suporte. [...] todos estão trabalhando juntos, dentro dessas
limitações. Esse alinhamento é muito forte. Eu acho que é um momento bastante
bom, inclusive. Quem escolhe, quem indica o Diretor [...] os pró-reitores é o
reitor. [...] A tendência é sim... ter uma administração central, mas há muito
respeito nas decisões de cada unidade. Lógico que dentro de uma regra geral
(GS1).
Foi questionado aos docentes sobre a percepção deles em relação a atuação da gestão
superior e o seu perfil empreendedor.
Eu não vejo a Universidade com um esforço, digamos assim, radical de criar
uma permeabilidade afetiva entre o que ocorre na Educação fora da
Universidade e como que a gente poderia se apropriar desses, enfim, isso que
está acontecendo nas próprias escolas pra lidar nos estágios, talvez eu esteja
querendo um gestor empreendedor [...] muito radical. É que eu entendo que a
Universidade poderia sim favorecer com um conjunto de trabalho [...] (DO2)
fluida com outros agentes no ecossistema empreendedor da região para permitir a interação e a
definição de políticas e práticas para alcançar suas missões.
Outro aspecto que vale ressaltar é que a governança da Unicamp é compartilhada e a
autonomia dos institutos e faculdades é preservada. Isso induz inferir que a liderança é
comprometida à medida que é requisitada, no intuito de garantir a autonomia da gestão
acadêmica, próxima subseção a ser discutida.
[...] tem assembleias que reúnem professores, estudantes para fazer avaliação do
curso, mas além disso os cursos de graduação nossos tem a comissão de
graduação
11
A autonomia do docente é cerceada, uma vez que os cursos de graduação têm que seguir o
que preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). As DCNs do Curso de Graduação
em Ciências Econômicas (Brasil, 2007), por exemplo, indicam os componentes curriculares,
abrangendo o perfil do formando, as competências e habilidades, os conteúdos curriculares e a
duração do curso, o regime de oferta, as atividades complementares, o sistema de avaliação, o
estágio curricular supervisionado, em caráter opcional e o Trabalho de Curso, como componente
obrigatório da Instituição. Uma das saídas propostas por uma docente entrevistada seria as
atividades de extensão que podem flexibilizar as atividades de sala de aula.
[...] nós temos o curso de economia muito bem definidos e tem que seguir, aí
isso significa uma discussão até. É claro que existe dentro dessas diretrizes uma
vertente ali, talvez até abrisse um espaço para ser flexível para por em função
coisas com menos sala de aula, né, porque é isso você de alguma forma tem que
abrir essas possibilidades na hora que você olha a extensão, eu acho que isso de
alguma forma tem que trazer para os cursos, aqui no Instituto nós ainda não
estamos [...] (GA2)
O docente da Faculdade de Educação também disse que não sabia das discussões sobre a
curricularização da Extensão.
Não, que eu me lembre não, pode ter sido e eu não estar lá, mas não me lembro,
mas fico super feliz de que isso tenha acontecido, entendeu? Mas eu não estou
sabendo disso [...] Nem mesmo nas discussões curriculares recentemente eu não
me lembro de ter visto isso. (DO2).
Extensão. Para propor ou alterar currículos dos cursos de graduação, os diretores podem designar
comissões e, após, aprovado pela Congregação do curso.
A Faculdade de Ciências Médicas, outra unidade acadêmica analisada, comentou que cada
curso tem uma comissão de ensino que realiza reuniões mensais para discutir, além do currículo,
outras questões relacionadas ao ensino.
Tem o currículo de graduação de medicina e tem o currículo de graduação de
fonoaudiologia e cada um tem sua comissão de ensino [...] está sempre
discutindo, não só o currículo, mas as ênfases, as deficiências, da aplicação do
plano pedagógico a grade curricular é uma coisa e o plano é outra coisa, então
isso tudo é feito. Na área de pós-graduação tem mais autonomia, os programas
estão muito mais vinculados as directrizes de Capes e CNPq [...] (GA1)
Na gestão universitária, conforme opinião de Souza (2008), é preciso um clima propício
para a criatividade: pessoas com atitudes pró-ativas, comprometidas e abertas a novas ideias, ao
diálogo; pessoas capazes de reformular valores, estratégias e relações sociais de trabalho; pessoas
que trabalham em equipe e com novas tecnologias, dotados de pensamento crítico, postura ética e
espírito empreendedor. Fato que não foi evidenciado na pesquisa de campo, em relação ao perfil
da gestão e nem dos docentes.
No relatório de gestão 2014-2018 de uma das unidades de análise – Faculdade de
Engenharia de Alimentos - consta que a gestão buscou envolver todos os estudantes nos
processos daquela unidade (representantes discentes e dos grupos estudantis), em reuniões de
avaliação de curso, em processos decisórios, em contatos com empresas, na reformulação
curricular, fato que aumentou a motivação dos estudantes e facilitou a comunicação aberta entre
grupos.
Nas entrevistas dos estudantes e docentes, os gestores acadêmicos estão sempre
disponíveis e abertos para colaborar com novas ideias, nas ações propostas. Esses gestores
dividem-se entre as atividades administrativas, que são consolidadas pelas regras internas, e as
atividades da docência (ensino, pesquisa e extensão), uma vez que todos os docentes são
avaliados anualmente pelo seu desempenho.
perfil dessa equipe (Gibb et al. 2013; Sporn, 2001; Kirby, 2006) e, por fim, a Gestão Acadêmica,
focando na autonomia didático-pedagógica e na curricularização dos cursos (Moroz, 2013).
Analisando o desempenho da Unicamp nos últimos dois anos, foi comparado o Ranking
das Universidades Folha (RUF) – entre 2017 e 2018 – a Unicamp caiu de 2ª para a 4ª colocação.
Em relação à Pesquisa (2ª colocada) e ao Mercado (11ª colocada), sua posição foi mantida. Ela
perdeu uma colocação nos indicadores de Ensino, Internacionalização e Inovação, ficando em
2018 em 4º, 11º e 3º lugar, respectivamente. No entanto, na nota que mede o desempenho das
instituições de ensino superior do país pelo Ministério da Educação - o Índice Geral de Cursos
(IGC) – seu conceito subiu de 4 para 5.
Para manter ou melhorar o desempenho institucional, a Gestão Superior da Unicamp deve
reavaliar suas estratégias coletivamente, a fim de buscar um comportamento institucional,
incluindo de seus membros para atitudes mais empreendedoras
Para destacar os achados da pesquisa, a Figura 39 sintetiza o que a literatura ressalta e o
que o pesquisa de campo identificou sobre a dimensão e seus elementos:
4.2.2. A INFRAESTRUTURA
Leydesdoff, 2000; Etzkowitz et al., 2000; Etzkowitz, 2003; 2004; Guerrero et al., 2006; Gibb,
2013; dentre outros). No entanto, não foram identificados estudos que discutissem a
infraestrutura necessária para atender ao desenvolvimento de diferentes ações empreendedoras
que englobassem as hélices quádrupla e quíntupla.
As universidades normalmente apoiam a transferência de tecnologia e promovem novas
empresas (Grandi & Grimaldi, 2005). Centros de pequenas empresas, centros de pesquisa,
escritórios de transferência de tecnologia e incubadoras são exemplos de adaptação de
infraestrutura para o desenvolvimento dessas ações (Link & Scott, 2005).
A infraestrutura de ensino, pesquisa e extensão da Unicamp é composta por seis campi,
distribuídos por Campinas e cidades vizinhas, e compreende de duas dezenas de faculdades e
institutos. Além disso, a instituição possui um complexo médico-hospitalar, centros e núcleos
interdisciplinares, dois colégios técnicos e várias unidades de apoio às atividades acadêmicas, em
um universo de aproximadamente 40 mil pessoas (Unicamp, 2015). A figura 40 apresenta, de
forma sintetizada, a infraestrutura da Unicamp.
DADOS DA INFRAESTRUTURA
Câmpus 06
Unidades de ensino e pesquisa 24
Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa 21
Hospitais 03
Colégios técnicos 02
Bibliotecas 27
Agência de Inovação 01
Parque tecnológico 01
Incubadora 02
A Unicamp foi uma das primeiras instituições de ensino superior no Brasil a estruturar
arranjos voltados à gestão da propriedade intelectual e à transferência de tecnologia,
anteriormente à Lei de Inovação nº 10.973 de 2004, ela já mobilizava suas ações de interface
entre universidade
– empresa. O órgão pioneiro para definição e regulamentação de uma política de proteção à
pesquisa foi a Comissão Permanente de Propriedade Intelectual (CPPI) criada em 1984 e, após 6
anos, foi criado o Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT). Esse escritório, de maneira
complementar à CPPI, visava sistematizar o relacionamento da Unicamp com o setor empresarial
(Nascimento, 2016).
Esses fatores fizeram que a Unicamp seja reconhecida como uma das universidades
brasileiras com maior participação na aplicação de resultados de pesquisas e depósitos de
patentes, ou seja, 1.225 patentes depositadas até novembro/2018 no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial. Esse comportamento foi influenciado pelos esforços da Agência de
Inovação – Inova, criada em 2003 com o objetivo de estabelecer uma rede de relacionamentos da
Unicamp com a sociedade para incrementar as atividades de pesquisa, ensino e avanço do
conhecimento.
Essa criação representou a consolidação da preocupação da Unicamp com a inovação
(Dias, 2012). Atualmente, a Inova Unicamp constitui-se como benchmarking nacional entre os
NITs e continuou a ser procurada para compartilhar sua experiência com NITs em formação e
NITs estruturados (Nascimento, 2016).
11
Compete aos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), de acordo com a Lei da Inovação
(Brasil, 2004), zelar pela manutenção da política institucional de proteção, licenciamento,
inovação e outras formas de transferência de tecnologia; avaliar e classificar os resultados
decorrentes de atividades e projetos de pesquisa; opinar pela conveniência e promover a proteção
das criações desenvolvidas na instituição; acompanhar e proteger a propriedade intelectual da
instituição; desenvolver estudos de prospecção tecnológica e de inteligência competitiva no
campo da propriedade intelectual; desenvolver estudos e estratégias para a transferência de
inovação gerada pela ICT; promover e acompanhar o relacionamento da Instituição com
empresas; negociar e gerir os acordos de transferência de tecnologia.
Em consonância a Lei, as ações da Inova visam à integração entre o ambiente empresarial
e a universidade, atuando na intersecção de ambos os segmentos. Assim, a Inova passou a adotar
o conceito norte-americano de one stop shop, que possibilita ao interessado encontrar todas as
informações necessárias e agilizar os procedimentos num único local. Desse modo, a estratégia
de cooperação é realizada num só lugar, mesmo que a parceria envolva diferentes órgãos da
Universidade, pois cabe a Agência a função de promover a conexão entre os setores envolvidos
(Nascimento, 2016).
A esse respeito, o diretor da Inova declarou que a adoção desse conceito ainda não é uma
realidade na Unicamp.
a gente quer ter one stop shop [...]. Porque a interlocução com um cara que é
aluno, ex-aluno é fácil... uma interlocução com uma pessoa que está passando
aqui... nós temos que ter claramente essa... como a gente está aberto para isso?
Como as pessoas chegam aqui?
A Inova dispõe de um portfólio com mais de 1.120 patentes de base tecnológica. A Inova
busca parcerias para “explorar comercialmente e dar royaltes para a Universidade” (GS1). Por
12
exemplo, em 2017, por causa das parcerias com tecnologias a Unicamp teve uma entrada na
ordem de R$ 1,4 milhão em royaltes pelo uso das patentes (Figura 42).
O apoio dado ao empreendedorismo é o de base tecnológica, que se configura-se pelo
desenvolvimento de novas empresas de base tecnológica (Figura 42), por meio da oferta de
infraestrutura e de capacitação tecnológica e gerencial para novos empreendedores.
Sobre o papel dos docentes inventores, o gestor da Inova foi questionado se havia casos
de negociação direta entre o pesquisador e a indústria. Ele respondeu que houve esforços
diferentes ao longo dos quinze anos de existência da Agência e organizaram-se juridicamente
para que isso não ocorra:
Hoje nós temos um trabalho de conscientização - gente chama de evangelização,
de educação - talvez a palavra correta - de mostrar para as pessoas que [...] o
pesquisador trabalha dentro da Universidade. Ele trabalha para uma universidade
pública e tudo que ele produz é um bem público, não pode ser cedido assim
(GS1).
Quando algum docente quer fazer um convênio ou trabalhar com uma empresa “ele tem
que ir primeiro ao Núcleo de Inovação Tecnológica - na Inova- o ponto um. Depois daqui, nós
vamos dizer o que você tem que fazer. E aqui nós já vamos cuidar da questão da propriedade
intelectual”, explica o diretor da Inova.
Um dos gestores comentou que o papel da Inova é identificar potenciais inovações e já é
uma prática do docente procurar a Agência de Inovação para orientações.
12
Foi perguntado como era a gestão financeira da Inova e o diretor respondeu que “uma
parte do orçamento da Unicamp que vem como custeio, uma parte dos royaltes: 1/3 dos royaltes
vão para o inventor, 1/3 vai para a unidade do inventor e 1/3 para a reitoria, que vem para a
Inova”.
Na área de empreendedorismo, destacam-se as competições de modelos de negócios -
Desafio Unicamp, Inova Jovem e Software Experience, e a rede de empresas-filhas da Unicamp,
que serão tratadas na subseção 4.2.4. Comunidade Acadêmica.
Com a finalidade de fomentar um ambiente empreendedor dentro da Universidade, a
Inova organiza disciplinas específicas sobre o tema e programas como o Líder em Inovação, que
capacita profissionais dos diversos Institutos da Unicamp a estimular uma atitude empreendedora
entre seus estudantes. Afirma o gestor da Inova “damos treinamento para gente que está no
Ensino Médio, treinamento para alunos que estão aqui dentro” (GS1).
Como resultado da experiência acumulada, a Inova foi contratada pela Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP) em 2007 para ministrar capacitação aos NITs de outras universidades
e institutos de pesquisa. Foram oferecidos 49 cursos para 965 participantes, oriundos de 312
instituições (Nascimento, 2016)
O diretor da Inova acrescentou que as demandas de base tecnológica chegam à Agência.
“Já a questão social, de empoderamento, ela não vem, porque tem setores da sociedade que estão
tão suprimidos, que estão tão alheios a um certo nível de cidadania. Eles nem veem no horizonte
as coisas que a gente vê como opção [...]”
Sobre o empreendedorismo social ou cultural, o diretor justificou que existem alguns
movimentos estudantis, como, por exemplo, a Enactus - uma organização internacional sem fins
lucrativos que está em 36 países e é formada por uma rede de estudantes, que criam projetos de
desenvolvimento comunitário. A Inova pretende atuar nessa área, pois “o caminho é esse: entrar
nessa outra área que é Artes e Humanidades, mais forte, esse é o objetivo da gente [...] Nós
fazemos ainda muito pouco disso[...]” (GS1).
12
Essa falta de atuação nas ações que estimulam o empreendedorismo que agregam outros
tipos de valores (social, cultural, ambiental, etc.) também foi confirmada pelos estudantes
participantes das entrevistas. O presidente da Enactus de Campinas, por exemplo, mencionou que
embora a Unicamp conheça o trabalho deles “ainda não tem nada oficializado, nem documento
oficializando [...] e a gente não está atrelado a nenhum instituto, nem uma faculdade (ES2).
Na entrevista, o diretor esclareceu que as empresas juniores da Unicamp não têm relação
com a Inova e que o vínculo delas é com as unidades acadêmicas. Todavia, um dos estudantes
entrevistados afirmou que sabe que a Inova existe e acredita que a Unicamp poderia ser mais
empreendedora se criasse um link entre os estudantes e o empreendedorismo.
[...] eu acho que ela é muito passiva nessa questão. O aluno que quer
empreender ele precisa buscar de uma maneira bem difícil mesmo os contatos
pra conseguir onde conseguir fomento, onde conseguir saber fazer… saber
empreender, né, porque existe técnica não é só você querer empreender, você
tem que ter uma base de um knowledge, um conhecimento para você conseguir
gerir uma organização e fazer aquilo é… não dar prejuízo, ser algo saudável e eu
vejo que falta muito esse incentivo na Unicamp [...] (ES3)
Foi perguntado a uma estudante quem ela procuraria caso tivesse uma ideia e quisesse
transformar isso numa startup, por exemplo, e ela respondeu “realmente não sei onde procuraria”
(ES4)
Para o futuro, a Inova tem o desafio de estruturar-se de acordo com o novo Marco Legal
(Brasil, 2016), o qual prevê que os Núcleos de Inovação Tecnológica poderão ter uma
personalidade jurídica e independente.
Alguns vão escolher virar uma organização social, outros vão escolher ser uma
fundação, outros não. [...] Outra questão é estar junto à universidade [...] Porque
tem mais coisas ainda: tem a questão de participação acionária, tem o fundo de
investimento (GS1)
como áreas já construídas ocupadas ou que estão sendo ocupadas. A Figura 43 apresenta uma
ilustração dos prédios existentes atualmente (Nascimento, 2016).
O prédio denominado Vértice, foi inaugurado em meados de 2017, e está sendo ocupado
por diversos tipos de empresas, principalmente Startups. O prédio denominado Núcleo está
ocupado pelas empresas Samsung, IBM, MC1, Eldorado, Lenovo e Motorola, além de abrigar
uma área da Incamp em um dos pisos. Nesse prédio está sendo incubada também a Incubadora do
Parque Tecnológico de Paulínia-SP, a partir de um convênio entre Unicamp e Prefeitura de
Paulínia-SP (Inova/Unicamp, 2018).
Outro prédio cuja infraestrutura está em fase final de instalação é o Laboratório de
Inovação em Biocombustíveis (LIB). O PCTec conta ainda com uma verba pré-aprovada da
Finep para a construção de um novo prédio. Esse processo está atualmente em licitação
(Inova/Unicamp, 2018). A Inova é responsável pela administração dos prédios que compõem o
PCTec, pelo encaminhamento e formalização dos convênios com empresas e Startups a se
instalar na área, pela manutenção de infraestrutura incluindo parte de redes e telefonia dos
prédios. De acordo com o
Diretor da Inova, existe um novo projeto de instalação startups no Parque tecnológico:
Esta questão das startups é muito nova pra gente [...] Elas entraram aqui em
janeiro [...] essas treze[...] Elas estão perto das outras empresas incubadas, de
12
fato, não perto dessas dezenove que estão aqui, uma delas já foi incubada aqui
e passaram para startup. [...] O que a gente quer? Que essas startups estejam
perto daquelas 16 que a gente vai incubar e das 19 que a gente já tem, 16 vão
estar fisicamente perto [...] perto de grandes empresas e perto da academia.
Essa é a ideia do Parque Científico Tecnológico (GS1)
Outro problema levantado pelo dirigente é a falta de mão de obra qualificada para auxiliar
nas atividades do PCTec, além das dificuldades financeiras enfrentadas por toda a Unicamp.
12
No Relatório de Gestão 2017 da Inova, não há dados sobre os indicadores do PCTec, tais
como: número de empregos gerados, faturamento das empresas instaladas, valor investido em
P&D por parte das empresas instaladas, dentre outros.
Os Parques Tecnológicos constituem-se no ambiente propicío para o desenvolvimento de
atividades inovadoras e são capazes de promover um ecossistema de inovação, competitividade,
cooperação e capacitação empresarial com alta transferência de conhecimento e tecnologia entre
os atores, uma vez que facilitam o fluxo de bens materiais e imateriais, possibilitam a geração de
empregos, a cultura empreendedora, a inovação e aumentam a competitividade da cidade e região
em que estão localizados (Baldoni & Furtado, 2013).
Em relação ao PCTec, esse ambiente propício ainda está em construção, uma vez que a
infraestrutura ainda está em construção e faltam recursos financeiros e pessoal para alavancar as
atividades.
plataformas virtuais de tecnologia digital. Já as incubadoras em rede têm como objetivo principal
conectar empreendedores, investidores, voluntários, consultores, educadores e prestadores de
serviços empresariais e incentivá-los a fornecerem serviços de valor agregado entre os integrantes
da rede, em vez de a incubadora prestar diretamente esses serviços (Limeira, 2014)
Na Unicamp, existem duas Incubadoras. A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica
da Unicamp (Incamp) – localizada no Parque Tecnológico da Unicamp e administrada pela Inova
e a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/Unicamp) que é um programa de
Extensão da Unicamp e que passava por reformulações durante a pesquisa de campo.
[...] uma incubadora de empresas, né de tecnologia e é muito ativa, que tem o
edital de incubação, a empresa apresenta o projeto e pode ficar aqui por dois
anos com todo a infraestrutura e suporte técnico e tal. E do outro lado nós temos
uma incubadora de cooperativas populares. E eu posso dizer, sem errar, que
empurrou todas as cooperativas de reciclagem que nós temos hoje na área
pública de Campinas, cooperativas associadas ao programa. (GA1)
A Incamp foi concebida em 2001 com o objetivo com os objetivos, entre outros, de
fomentar o espírito empreendedor e a manifestação criativa na forma de desenvolvimento,
produção e comercialização de novos produtos e/ou serviços de base tecnológica; apoiar a criação
de novas micro e pequenas empresas; e valorizar e fortalecer a cultura de interação universidade-
empresa.
Nas entrevistas, os gestores apontaram o modus operandi da Incamp:
nós temos uma incubadora de empresas... um professor, um aluno, mesmo gente
de fora que começa uma empresa, nós temos condição de ajudá-los: a fazer o
plano de negócios, pra criar a famosa startup e se sai da Universidade, uma
spinoff. Então essa é uma outra área que nós temos aqui... (GS1)
Na incubadora, a empresa que está sendo criada [...] tem todas as instruções de
como ela vai criar o modelo de negócio. A Inova ajuda a explorar o mercado, a
fazer estudos de mercado, dá orientações. Ai ela passa a criar a sua pequena
empresa e ela funciona dentro da Universidade, às vezes pagando bolsistas,
pagando um pequeno aluguel, mas ela está num ambiente produtivo para isso e
às vezes ela floresce, explode e sai desse contexto. (GS4)
13
Também foram incubados grupos de artesanato, construção civil, profissionais do sexo, costura,
finanças solidárias, etc.
A metodologia da ITCP/Unicamp está fundamentada na ação de equipes de incubação,
que são formadas por 4 a 6 educadores(as). A incubação é o período durante o qual as equipes de
educadores(as) acompanham os grupos que querem se tornar cooperativas, associações etc,
deslocando-se aos locais de funcionamento desses grupos.
O processo de incubação dessa incubadora é subdivido em três etapas: pré-incubação,
incubação e desincubação. Na primeira etapa, acontece o estudo da realidade do grupo a ser
incubado à luz de diagnósticos e questões específicas de cada uma das sete áreas de
conhecimento da Incubadora. Esse diagnóstico é direcionado pelos Grupos de Estudo e Pesquisa
em Economia Solidária (GEPES) e elaborado a partir da observação dos(as) educadores(as), e
também de oficinas e debates com os grupos, buscando levantar os problemas, necessidades,
pontos fortes e temas geradores para o trabalho com o grupo.
A partir desse estudo, é projetado, em conjunto com os(as) trabalhadores(as), um Plano de
Incubação para cada grupo popular. A elaboração desse Plano demanda um planejamento prévio
da equipe, o qual deve ser feito com todos(a) os(as) integrantes desta, a partir dos problemas
anteriormente levantados e das metas a serem atingidas. O planejamento organiza o trabalho da
equipe com os grupos populares, mas também contempla outras atividades que a equipe realiza,
relacionadas à extensão universitária e à organização interna da ITCP/Unicamp.
É um dos pilares da atuação da ITCP/Unicamp a construção de uma relação de
cooperação coletiva do conhecimento com os grupos, não transformando o conhecimento
acadêmico e tecnocrático em um instrumento de poder, opressão e por fim hierarquização frente
as cooperativas, grupos populares e movimentos sociais que apoia e busca cooperar. Por fim, a
ITCP/Unicamp tenta incentivar a autogestão como prática social de organização interna dos
grupos, como experiência organizativa e emancipadora.
A incubação de grupos populares é um processo educativo. Para fundamentar esta prática
pedagógica, a ITCP/Unicamp utiliza autores e metodologias que têm uma proposta educativa
baseada em teorias que trabalham com os princípios da auto-organização dos educandos, com o
princípio da dialogicidade, da decisão coletiva. A Educação Popular é a principal referência para
a ação com os grupos associativos e cooperativas.
13
CENTRO FUNÇÃO
Centro de Biologia Molecular e Engenharia Atua nas áreas da Bioquímica, Genética e suas aplicações
Genética – CBMEG tecnológicas.
Centro de Componentes Semicondutores e É um centro com ênfase em nanoeletrônica, microeletrônica e
Nanotecnologias (CCS Nano) - CCS Nano nanofotônica.
Centro de Engenharia Biomédica – CEB Desenvolve pesquisa quantitativa, básica e aplicada, envolvendo
fenômenos e sistemas biológicos. Presta assessoria na área de
tecnologia aplicada à saúde.
Centro Multidisciplinar para Investigação Forma recursos humanos e desenvolve tecnologias na área de
Biológica na Área da Ciência de Animais Bioterismo.
de Laboratório – CEMIB
Centro de Pesquisas Meteorológicas e Presta serviços de utilidade pública de previsão do tempo,
Climáticas Aplicadas à Agricultura – atendimento a agricultores e ao público em geral. Pesquisa
CEPAGRI processamento de imagens de satélites e de recursos naturais,
planejamento agrícola, zoneamento ecológico e climático,
mapeamento de fenômenos extremos e modelos para potencial de
incêndios em matas.
Centro de Estudos do Petróleo - CEPETRO Apoia cursos e projetos na área de Ciências e Engenharia de
Petróleo, contemplando áreas de exploração petrolífera e
geoengenharia de reservatórios petrolíferos, atendendo às atividades
de geologia, engenharia de reservatórios, perfuração e
completação de poços,
produção petrolífera e gestão de recursos petrolíferos.
Centro de Estudos de Opinião Pública – Trabalha com captação de dados e pesquisas de opinião, atuando na
CESOP área de metodologia e análise quantitativa em Ciências Sociais.
Centro de Integração, Documentação e Fusão do Núcleo de Integração e Difusão Cultural (NIDIC) e do
Difusão Cultural – CIDDIC Centro de Documentação de Música Contemporânea (CDMC), seu
objetivo é a documentação, divulgação e promoção da música
contemporânea de vanguarda.
Centro de Lógica, Epistemologia e História Constitui referência nacional e internacional. Mantém acervos
da Ciência – CLE bibliográficos de documentação e um precioso Arquivo de História
13
A Unicamp tem esse lado mais interdisciplinar e acho que é uma Universidade
interessante por este lado, que experimentou algumas tentativas de fazer um
modelo organizacional que previa um pouco essas instâncias que eu diria mais
horizontais, que juntam... porque, na realidade, no núcleo você tem gente de
vários departamentos, de várias unidades, que colaboram para romper um pouco
essas barreiras (GS3)
A maior parte dos entrevistados pontuaram que participam ou já participaram de algum
núcleo, cujas pesquisas são sempre em parcerias com outros professores de outras
faculdades/institutos, pois essa prática está na cultura da Unicamp. Essas parcerias serão
exploradas na seção Ecossistema Empreendedor.
Eu vejo um laboratório que tem uma parceria entre a Engenharia Elétrica e a
Engenharia Química nesse laboratório (ES3).
Atualmente, os centros contam com 1.043 projetos em execução, desenvolvidos por 224
docentes, 419 pesquisadores, 386 doutorandos, 99 pós-doutorandos, 530 pós-graduandos e 693
bolsistas (AEPLAN/Unicamp, 2018).
que, atualmente, são limitadas pela capacidade financeira que impede a adesão de novos
empreendimentos.
Outra infraestrutura que vale destacar é o conjunto de Centro de Pesquisas
multidisciplinares e o volume de projetos em execução, bem como o número de pesquisadores
envolvidos.
Não foi identificada uma aceleradora de empresas na Unicamp. Outra limitação
identificado foi que os espaços oferecidos pela Unicamp são restritos à comunidade acadêmica da
Unicamp (professores ou alunos, por exemplo).
Deve-se atentar que a infraestrutura de uma universidade empreendedora não deve ser
desenvolvida explicitamente para comercializar e mercantilizar o conhecimento, sem levar em
consideração a necessidade de criação de outros valores proporcionados pelo desenvolvimento do
conhecimento em diferentes áreas.
Para destacar os achados da pesquisa, a Figura 46 sintetiza o que a literatura ressalta e o
que a pesquisa de campo identificou sobre esta dimensão e seus elementos:
inovadoras (Lahorgue, 2004; Brasil, não tem empresas incubadas, nem edital em
2004). aberto.
Não existe a metodologia de aceleração na
Unicamp.
Centros de Pesquisa Uma gama variada de centros de A Unicamp possui 21 centro de pesquisa
pesquisa autônomos, multi ou multidisciplinares, ligados a uma
transdisciplinares, ligados ao núcleo de coordenação central da Unicamp. Esses
direção e aos departamentos centrais e centros correspondem aos modelos
operam de maneira semelhante a propostos de universidade empreendedora,
instituições mediadoras situadas entre a uma vez que suas equipes
universidade e organizações externas multidisciplinares operam em parcerias
(Clark, 1998, internas e externas.
2006; Shattock, 2008; Gibb, 2013).
Figura 46. Síntese da dimensão Infraestrutura e seus
elementos Fonte: Elaborada pela autora (2018)
É crucial que a universidade invista em suas atividades emprendedoras por meio de uma
estratégia financeira sustentável, mas não é bom depender de fontes limitadas de financiamento
público (OECD, 2012). As universidades são empreendedoras quando não têm medo de
maximizar seu potencial, ou de diversificar as fontes de financiamento, ou de reduzir sua
dependência do financiamento estatal / público (Etzkowitz, 2013). Como estratégia, elas podem
usar a receita gerada por atividades de empreendedorismo para reinvestir (OECD, 2012).
Esse portfólio de fontes de recursos estendesse-se a empresas/industriais, governos locais,
fundações filantrópicas, receitas de royalties provenientes de propriedade intelectual, renda de
serviços estudantis, taxas estudantis e arrecadação de fundos.
É notória a diminuição da ajuda financeira às instituições de ensino superior subsidiada
pelos governos, tanto nacionais quanto internacionais. No Brasil, por exemplo, as dotações da
educação superior federal em 2017 somaram R$ 13,9 bilhões, redução de R$ 1,2 bilhão (- 8,0%)
em relação ao exercício de 2016 (Tanno, 2017). Dentre as principais reduções, destacam-se as
concessões de bolsas de estudo no ensino superior (R$ 620,2 milhões, - 16,3%) e a reestruturação
e modernização dos hospitais universitários (R$ 262,3 milhões, - 71,4%), exemplifica esse autor.
No caso da Unicamp - uma autarquia, autônoma em política educacional, mas
subordinada ao Governo Estadual no que se refere a subsídios para a sua operação, os recursos
financeiros são obtidos principalmente do Governo do Estado de São Paulo e de instituições
nacionais e internacionais de fomento.
13
O atual reitor e demais gestores enfatizaram que a falta de recursos financeiros causa
entraves no desenvolvimento de projetos de ensino, de pesquisa e de extensão. Quando
perguntado ao atual reitor como a gestão superior da Unicamp contribuía para o desenvolvimento
regional, ele respondeu que suas ações estão voltadas quase que exclusivamente para a
recuperação financeira da Universidade.
Meu papel é retomar o equilíbrio financeiro, o equilíbrio orçamentário da
Universidade que já por si só não é um papel muito fácil. A gente tem trabalhado
um pouco mais nos bastidores, melhorando os processos, melhorando a maneira
com que a gente trabalha na Universidade, minimizando custos e atraindo mais
investimentos. É uma gestão de crise. Espero pelo menos manter a Universidade
viva, saudável para que dure muitos e muitos anos para as próximas gerações
(GS6).
Discurso confirmado por outro gestor entrevistado, durante o qual nota-se a preocupação
de buscar novos recursos financeiros para aquela Instituição.
[...] nós estamos passando por uma crise financeira muito séria... e é
fundamental a gente se reinventar. Buscar alternativas, buscar novas formas de
trazer recursos, de nos expor, de aumentar a nossa capilaridade na sociedade,
contatos com agências do Governo, com o Governo, com as Secretarias de
Energia, de Educação, com grandes empresas na busca de grandes projetos
(GS4)
Os alunos também comentaram sobre a falta de apoio financeiro por parte da gestão nas
ações empreendedoras, por não oferecerem uma base e por conta da burocracia. No entendimento
deles, a gestão superior apoia as ações quando comparecem aos eventos promovidos pelos
estudantes:
[...] a gente tem bastante apoio para as entidades que trabalham nesse ponto
(empreendedorismo), principalmente com o movimento de empresas juniores, a
gente tem o apoio da Reitoria... a gente consegue fazer nossos projetos sem
muitos entraves... [...] (ES1)
[...] eles (gestão) não dão tanto apoio com recursos. A gente não tem nenhuma
sede, comecei um contato maior quando começou minha gestão no ano passado
e tinha uma conversa de eles estarem fazendo um projeto pra liberar uma sede
pra gente, só que ficou na conversa durante um ano inteiro [...] Então é uma
coisa que
13
a gente de uns tempos nem “ta tentando alguma coisa que é muito burocracia”
[...] (ES2)
Sobre a autonomia financeira da Unicamp, o reitor comentou que é uma realidade muito
distante e impossível de ser concretizada, uma vez que não existe nenhuma universidade no
mundo que tenha essa autonomia financeira ou que seja autossuficiente. Acrescentou que o
governo tem que dar aporte. Ele acredita que alguns setores, como a Inova, podem ser
autossuficientes, mas a Universidade, como um todo, não.
Nas próximas subseções, serão apresentados o orçamento da Unicamp e como são
realizadas as captações de recursos externos.
4.2.3.1. ORÇAMENTO
Antes da aprovação, a aplicação dos recursos é discutida dentro das unidades por
professores e funcionários da área da Pró- reitoria de Desenvolvimento Universitário
E aí a gente também tem a nossa organização aqui, nós temos a comissão de
orçamento que assessora a congregação, então essa comissão é chamada
juntamente com os funcionários que são específicos da área de financiamento
aqui e a gente vai discutir a aplicação desse recurso dentro daquilo que a gente
pode mexer, porque existem algumas rubricas que não competem, e aí a gente
passa a administrar esse orçamento, fora isso a gente tem os projetos especiais,
esse convênios e essas parcerias que trazem um recurso extraorçamentários [...]
(GA3).
Na opinião de Etzkowitz (2013), cada vez mais, as universidades precisam equilibrar duas
metas conflitantes: o recebimento de fundos para apoiar a universidade em uma era de restrição
de apoio externo e, ao mesmo tempo, uma meta de longo prazo de crescimento da base
econômica regional. Esses objetivos inter-relacionados fornecem uma tipologia de universidades
orientadas para o desenvolvimento econômico. Sobre a captação de recursos externos será
explorada na próxima subseção.
gerada pela universidade, por exemplo, arrecadação de fundos para ex-alunos, obtenção de
contratos de pesquisa, lucros de patentes.
Desde sua criação, o investimento de fundos de pesquisa do governo na Unicamp e em
outras universidades foi considerado como um passo à autonomia tecnológica. Nessa fase, esses
recursos extraorçamentários seriam provenientes de empresas estatais que operam em setores no
qual a infraestrutura requer tecnologia intensiva, por exemplo, telecomunicações, produção de
petróleo e fornecimento de energia. À medida que essas empresas amadurecessem, as
capacidades desenvolvidas nas universidades seriam transferidas para ajudá-las a estabelecer seus
próprios departamentos de pesquisa e desenvolvimento (Dagnino & Velho, 1998).
Ao longo desses últimos três anos, essa realidade de investimento de fundos de pesquisa
do governo não se configura mais na Unicamp. É possível constatar que cerca de 20% dos
recursos financeiros são provenientes de diferentes fontes de recursos. Ao longo dos três anos,
esses recursos têm diminuído, conforme Figura 48.
faculdade vai aprovar, e o hospital vai aprovar e ai vai pro nível central da
administração. Sempre que tem recurso envolvido tem taxação da universidade
porque a pesquisa vai ocorrer aqui, então tem o recurso que fica, assim como os
financiadores também dão auxílio bancada, se assim for aprovado, tem recurso
que vai para a pesquisa e tem outro que vai para a infraestrutura da faculdade.
(GA1)
tem muito dinheiro na Educação? Não tem né. Então nossa parceria é sempre
mais modesta nesse sentido do que é repassado para a unidade, por que existe
menos recurso normalmente nessa área, então as parcerias com as prefeituras
elas trazem um dinheiro extra pra faculdade, é importante mas sem duvida é um
recurso muito tímido diante do que deve ser uma parceria com uma grande
empresa multinacional ou uma empresa pública de grande porte (GA3)
Uma das coisas que a gente tem como meta é criar um fundo patrimonial...
buscar parcerias, buscar alternativas que permitam o fomento das nossas
atividades com a melhor qualidade. Não é para pagar funcionários, não é pra
pagar professor, mas sabe... laboratórios, que ajude no financiamento da própria
Universidade [...] (GS1)
No Brasil, os endowments são mais comuns entre ONGs, mas podem ser aplicados a
outros tipos de organizações, como hospitais, igrejas ou universidades. Nos EUA, a prática é
responsável por grande parte do financiamento das maiores universidades do país, como
Harvard e Yale, por exemplo. No contexto americano, uma boa parte do dinheiro dos fundos
universitários vem de ex- alunos. Empresas que buscam investir na educação, milionários
filantropos ou qualquer pessoa que tenha a vontade de contribuir com o desenvolvimento do
ensino superior também podem fazer doações (Levisky, 2016). A Unicamp percebe a
necessidade de diversificar suas fontes de recursos: [...] a gente precisa diversificar um pouco mais
nossas fontes de recursos… temos
discutido a questão do endowment, temos discutido outras fontes de recursos,
mas a gente, naturalmente, somos muito dependentes do repasse do governo do
Estado e isso no momento de crise acaba fragilizando. Se a gente tivesse
possibilidade como outras universidades… tem… por exemplo, o equivalente a
nossa Inova… até mesmo a universidade de Buenos Aires que é pública é uma
sociedade anônima, é uma empresa… tem uma flexibilidade e um dinamismo
completamente diferente que permite também financiar outras atividades da
universidade. (GS6)
Institutos 10
Faculdades 14
Docentes 1.894
Cursos de Graduação 66
Estudantes de Graduação 19.869
Cursos de Pós-graduação 158
Estudantes de Pós-Graduação 18.000
15
Cursos Técnicos 36
Estudantes de Cursos Técnicos 3.800
INSTITUTOS FACULDADES
Artes Ciências Aplicadas
Biologia Ciências Farmacêuticas
Computação Enfermagem
Economia Engenharia de Alimentos
Estudos de Linguagem Engenharia Agrícola
Filosofia e Ciências Humanas Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
Física Engenharia Elétrica e de Computação
Geociências Engenharia Mecânica
Matemática, Estatística e Computação Científica Engenharia Química
Química Ciências Médicas
Educação Física
Odontologia
15
Educação
Tecnologia
Sobre o perfil empreendedor dos docentes, alguns estudantes caracterizaram que são
poucos docentes empreendedores
[...] o ensino de Economia é bem voltado para a área acadêmica, então é cheio de
professores nível pesquisadores, agora empreendedores a gente não sabe
dizer...contar nos dedos assim [...] Até nas aulas isso é impensável (referindo-se
ao ensino voltado à prática), não existe nenhuma aula que é nesse modelo, é bem
teórico [...] quando a gente vai propor com eles alguma ajuda com algum
projeto, eles sempre passam uma base, parte mais teórica. Mas essa vivência
fora, bem prática, não existe. (ES6)
Alguns eu diria que sim, mas como eu faço Engenharia e eu tenho matérias
muito, realmente teóricas e realmente pesadas de conteúdo [...] exemplo
termodinâmica I [ ] não é uma matéria que você diria que é empreendedora que
eu aprendo que
todo mundo sempre aprendeu e vão continuar aprendendo tipo, eu não sei muito
de empreendedorismo em matérias básicas de engenharia (ES4)
O professor chega na sala, fala que matéria vai ser. Vamos supor, a matéria vai
ser sobre motores elétricos, a matéria está no livro 100 e se vocês quiserem se
aperfeiçoar mais tá em outro livro e eu vou disponibilizar os slides para vocês
estudarem e as listas de exercícios e começa a dar aula [ ] A maioria das coisas
que a gente aprende está no livro, e o livro foi escrito a 50, 100 anos atrás. (ES3)
São bem poucos, eu posso falar que tem um professor meu que trabalha nessa
causa e tá começando mais a desenvolver esse lado de empreendedorismo, esse
lado de sustentabilidade [...] por causa da pesquisa e do desenvolvimento
15
O reitor comentou que concorda com a percepção dos estudantes quando eles afirmam
que os docentes não são empreendedores e que acredita que com o ingresso de novos docentes
essa tendência possa mudar.
Boa parte dos professores não é empreendedora não, principalmente por causa
de amarras e dificuldades. A gente não tem a cultura estabelecida, mesmo sendo
uma das universidades mais empreendedora. Não é parte da cultura universitária.
Então, eles têm razão… em geral, temos professores com dedicação exclusiva,
fazem pesquisa muito forte. Então, temos uma cultura mais de pesquisa básica e
aplicada que de empreendedorismo, mas é uma coisa que está mudando… tem
uma nova geração entrando de docentes, e eu acho que é uma tendência que vai
mudar (GS6).
Muitos professores estão engajados em promover ações de extensão, a maioria delas
consideradas como empreendedoras, à medida que cumprem seu papel social, criam valor,
aproveitam melhor os recursos disponíveis e contribuem para o desenvolvimento de seu entorno
e, consequentemente, criam novas frentes de trabalho, ou seja, criam mudanças. Na percepção
desses docentes, percebe-se uma motivação para de “empreender o mundo” (GA2).
[...] um curso que nós temos, que é uma professora aqui do Instituto de
Economia que já faz um ou dois, três anos, é um projeto de extensão para trazer,
[...] uma amostra de cinema que se chama “Ecofalante”, uma amostra de cinema
de São Paulo e passa muito mais documentário, uns filmes não comerciais e aí
ela tem esse curso que ela traz para a universidade e daí são durante um período,
há tanto diretores por exemplo que fez o filme, as pessoas envolvidas que
participam de debates, professores são convidados para debater também e aí não
há… é livre mesmo [...] Muito dos filmes discutem um aspecto social-
econômico, são documentários que, por exemplo, pode estar envolvendo
questões do trabalho infantil. (GA2)
Outra ação extensionista que utiliza o cinema como ferramenta para reflexão coletiva é o
projeto desenvolvido pela Faculdade de Educação, realizado com a parceria da Prefeitura
Municipal de Campinas. O Programa Cinema e Educação tem o intuito de promover debates
15
Além de promover a inclusão social, acredita-se que esse programa tenha um viés ao
empreendedorismo cultural, uma vez que incentiva o desenvolvimento, bem como a divulgação,
de estratégias pedagógicas que estimulem a formação de atitudes, posturas e valores que
contribuam para uma vida em sociedade na qual todos possam se reconhecer e reproduzir a
cultura nacional.
Em relação aos estudantes, foram identificados diferentes movimentos estudantis com
características empreendedoras. Um dos movimentos é o empreendedorismo júnior, que se
caracteriza pela constituição de empresas juniores.
[...] o movimento empresa júnior é grande dentro da Unicamp. Só que tem um
pouco de desistência em alguns cursos [...] algumas pessoas consideram ruim ter
as EJ’s aqui dentro [...] tem todas essas ideias de terceirização e tudo mais.
Algumas pessoas não entendem direito o papel das EJ’s. Muitas EJ’s focam em
pequenos e microempreendedores que não tem dinheiro, que não iriam conseguir
abrir aqueles negócios se não fosse as EJ’s. Eu acho que a Unicamp é
empreendedora, mas não para todo mundo, só se você busca isso (ES6).
Sobre o apoio ao movimento empreendedorismo júnior, o Núcleo das EJs relata que a
maior parte dos institutos apoia esse movimento.
15
A maior parte dos nossos institutos apoiam sim, não temos problemas... eu não
sei citar o caso de algum instituto que não apoia diretamente, mas eu sei de
alguns que às vezes surgem alguns problemas. Tem um Ej que perdeu a sede e
foi alocada numa sala bem menor que ela tinha antes e ela não conseguiu a partir
daí uma estrutura melhor... só que eles não vão proibir ela de continuar
operando. Alguns institutos não apoiam tão fortemente assim, mas também não
tem nenhuma coisa barrando a gente (ES1).
A Enactus é uma organização estudantil sem fins lucrativos, com caráter mundial, cujo
objetivo é trabalhar com projetos sociais, por meio de ações empreendedoras
[...] então a gente realiza projetos com comunidades que passam por situação de
vulnerabilidade e a gente trabalha em conjunto com essas pessoas para
desenvolver algum produto, algum serviço que envolvam os três pontos da
sustentabilidade né, a financeira, a ambiental e a social. (ES2)
Foi solicitado que o entrevistado relatasse como aconteciam as ações de
empreendedorismo social desenvolvidas pela Enactus de Campinas.
[...] Um é no alto da comunidade do Campo dos Amarais, que a gente
desenvolve um aplicativo pra serviço de limpeza que liga as moças da
comunidade que prestam serviços de limpeza com os alunos de modo geral da
Unicamp que precisa de alguma faxina em casa, república, kitnet, então esse
aplicativo ele é como se
15
Foi realizada a mesma pergunta aos docentes e, assim como na gestão superior, não houve
unicidade sobre a definição de empreendedorismo.
[...] empreendedorismo pode ser muita coisa, mas empreendedorismo que eu
pesquiso e estou interessado em comentar é o empreendedorismo tecnológico de
alto impacto, fruto de inovações tecnológicas, grande maioria delas realizadas na
universidade ou em parceria com a universidade (DO1)
Para que ocorra a mudança de valor em direção a uma cultura mais empreendedora dentro
das universidades, exige-se uma reeducação do corpo docente e dos estudantes.
[...] e vamos nos adaptando, estamos agora num processo de adaptação também
por que está mudando o perfil dos alunos, adotamos ano passado, já vínhamos
fazendo, mas finalmente adotamos um esquema de inclusão concessão de vagas,
então vamos agora dar certas preferências para alunos de escolas públicas, enfim
também questão de minorias étnicas, raciais (GS7)
No entanto, um dos estudantes entrevistados relatou que acredita que existam ações
empreendedoras desenvolvidas em colaboração entre ensino, pesquisa e extensão, mas não são
muito divulgados na Instituição.
[...] não é todo mundo que tem acesso a esse tipo de informação e a esse tipo de
projeto. Eu vejo, por exemplo, o sistema integrado de bibliotecas da Unicamp –
que é o SBU – eles têm muito apoio de pesquisa, eles tentam trazer coisas
inovadoras e estimular isso na comunidade acadêmica, mas não são bem
divulgados... não é todo mundo que tem acesso a isso e acabam ficando com um
grupo só de pessoas. Por essa ótica, a gente pode dizer que é uma coisa bem
pontual que acaba acontecendo e poderiam atingir toda a comunidade
acadêmica, mas não são bem divulgadas (ES1).
O trabalho coletivo e colaborativo também não foi identificado por outros docentes de
outros institutos e faculdades:
[...] nós docentes e alunos também de querer tudo no plano individual, a gente
tem muito pouco trabalho coletivo, a gente tem muito esforço individual de
16
publicação
16
e reconhecimento. E isso pra mostrar pra você que eu não acho uma coisa
simples da universidade se abrir se ouvir mais, tem uma parte da Unicamp que
eu conheço pouco que talvez ouça mais não porque queira, mas por obra da sua
própria dimensão que é a área médica [...] Nós da educação também somos um
pouco, por que a gente tem tido, tem os estágios tem uma permeabilidade com a
sociedade bastante grande, mas que poderia ser muito maior no meu ver [...]
(DO2)
A gestão acadêmica da Faculdade de Ciências Médicas comentou que alguns pesquisas
são realizadas de forma coletiva outras não, reforçando a cultura de que cada pesquisador tem
que ter seu próprio laboratório, fato que gera o aumento no número de laborátios e,
consequentemente, o acompanhamento das pesquisas que são desenvolvidas neles.
A maior parte dos laboratórios da faculdade são de pesquisa de bancada,
alguns são multiusuários, outros não, mas tem tudo que é tipo de laboratório,
nós temos cadastrados na comissão de pesquisa mais de 100 laboratórios, e é
bem mais que isso é muito laboratório…. Mas isso vem de uma tradição que
cada docente tem que montar o seu laboratório, né …então tem laboratório de
todo tipo, tudo que é tipo de pesquisa com rato, com gente, fazemos de tudo e
pondo na área da sociologia da ética, da gestão (GA1)
Essas unidades oferecem transferência de conhecimento, educação continuada, captação
de recursos, dentre outros. Em outra forma maior e mais básica, são centros de pesquisa
interdisciplinares orientados para projetos agrupados pelo o trabalho acadêmico coletivo.
A Unicamp tem o número de horas que cada pessoa pode participar né, isso na
Unicamp tem uma Câmara na Unicamp que se chama, CPDI, na verdade ela
analisa a demanda de professores, olham o regime de horas de dedicação
integral, né então por exemplo, eu quero … a sua universidade me convida para
participar do curso de pós graduação, não vou receber nada é uma colaboração
minha, eu tenho que de alguma forma informar a universidade (GA2).
O regime de trabalho foi explicado por outra docente entrevistada, que também salientou
que são elaborados relatórios para prestação de contas das atividades docentes, as quais ter um
equilíbrio entre ensino, pesquisa e extensão.
Somos contratados em regime de 40 horas de dedicação exclusiva, o que nós
temos que fazer em 40 horas é exatamente ensino, pesquisa extensão, na
graduação e na pós; fazer pesquisa e atuar na extensão [...] por muito tempo os
16
pareceristas sempre olhavam muito para pesquisa, para ensino e nada para
extensão, ultimamente os pareceristas tem olhado para tudo [...] (GA3)
acho isso um característica que a gente deveria perseverar e por outro lado eu
fico preocupado que estamos perdendo isso (GS7)
Todos os estudantes entrevistados não concordam que haja uma educação empreendedora.
do impacto da Unicamp no empreendedorismo eu acho que ainda hoje é muito
fraco. O empreendedorismo na Unicamp hoje se dá por meio das organizações
estudantis e das empresas juniores, eu não vejo uma mobilização da
universidade em pról de fazer com que os estudantes estejam preparados para o
empreendedorismo que está sendo empregado hoje no mercado de trabalho. E
assim, a gente não tem disciplina de empreendedorismo na graduação, e assim, a
gente vê uma matéria ou outra que a gente fica sabendo por um ou por outro que
não é tão divulgado assim, sobre empreendedorismo, sobre pessoas que estão
empreendendo hoje. Mas não é… a gente não vê que tem uma força da
universidade para inovar nesse sentido. (ES3)
meu professor que é mais atualizado, ele está tentando implementar algumas
mudanças no curso. Ele está mais ligado nessas atualizações curriculares, ele que
está dando os primeiros passos nesse ponto de colocar uma disciplina diferente e
mais atual (ES2)
16
Diferentemente dos cursos de graduação com viés tecnológico, não existe uma
preocupação da Unicamp em incluir os cursos de licenciatura nas ações empreendedoras. Quando
questionados sobre esta inclusão, os gestores superiores concordam que a Universidade precisa
desenvolver estratégias para isso:
Quando eu digo que temos muito espaço para crescer, eu falo especialmente da
área de humanas. Existem alguns projetos, mas que na minha opinião são muito
isolados. Nossos grupos de pesquisa geram muito conhecimento, mas os
resultados não são vistos porque 90% ainda estão num meio acadêmico muito
fechado, e não criam possibilidades para os alunos já crescerem fazendo isso
(GS5)
16
Uma universidade empreendedora prioriza uma prática pedagógica que tenha uma visão
ampla do empreendedorismo e proporcione o desenvolvimento de competências e atributos
empreendedores em diversos contextos (Gibb et al., 2013). O empreendedorismo, portanto,
torna- se quase um conceito intradisciplinar intrínseco ao desenvolvimento de todos os alunos e
docentes, completam esses autores.
As instituições devem proporcionar aos docentes condições para desenvolver uma prática
pedagógica que envolva os estudantes na resolução de problemas em situações do mundo real,
possivelmente em equipes (para desenvolver o raciocínio intuitivo e racional, para reconhecer a
natureza multifacetada da solução do comando e para incentivar a comunicação e a cooperação.
(Kirby e Ibrahim, 2012)
A Pró-reitoria de Graduação, por meio do Espaço de Apoio Ensino e Aprendizagem
(EA2) oferece cursos de capacitação docente, mas de uma maneira passiva. Esses cursos
abordam questões como “tratar o aluno em sala de aula, sobre didática. Os docentes interessados
procuram” (GA2). No entanto, não realização um levantamento sobre a necessidade de
aperfeiçoamento de novos modelos e métodos de ensino e de aprendizagem in loco, ou seja, nos
institutos e faculdades.
A gente sente necessidade de desenvolver com mais consistência a capacitação
docente como uma coisa permanente, e à começar pelo ingresso do docente na
faculdade, mas isso não é uma coisa fácil de fazer, por que nunca foi feito, assim
do ponto de vista… você durante a formação da área, ela é hoje de pesquisa,
mestrado e doutorado que não capacita para a docência, isso é um “pé de barro”
para a pós-graduação que deveria capacitar para a docência, como a pós-
graduação foi focando cada vez mais na pesquisa e na publicação tirou todo o
resto que atrapalhava, formação pedagógica, didática e tudo que se refere a
desenvolvimento de carreira, carreira não de pesquisador, uma carreira docente.
Isso foi desembestado para não atrapalhar, então tem que por de volta na UNP.
(GA1)
A gente conversa muito aqui, [...] tenta encontrar abordagens pedagógicas certas
para levar o ensino, conhecimento da ciência as escolas. Precisamos inovar,
precisamos ser empreendedores por isso, não vai dar dinheiro, mas vai dar bem-
estar isso é empreender (GS7).
17
Como não existe um programa específico para docentes e estudantes, as consultorias são
restritas às empresas incubadas e as startups.
17
O Programa Inova Jovem foi criado para levar capacitação na área de empreendedorismo
e inovação para alunos do Cotuca (Colégio Técnico de Campinas) e Cotil (Colégio Técnico
de Limeira) e, assim, criar oportunidades para que esses alunos transformem suas ideias em
negócios. Sua primeira edição aconteceu no segundo semestre de 2014 e o programa objetiva
difundir o empreendedorismo como opção de carreira para alunos ainda no ensino médio e
capacitar os participantes na metodologia de elaboração de modelos de negócio (Business Model
Generation). A Software Experience (SWXP) consiste em uma feira de software que visa reunir
os desenvolvedores de programas de computador registrados em nome da Unicamp com
investidores e representantes de empresas da área de Tecnologia da Informação (TI). O
evento conta com palestras relacionadas e é palco da competição de pitch entre os
desenvolvedores da Unicamp. Os
17
4.2.5. A INTERNACIONALIZAÇÃO
Nos últimos anos, tem aumento gradativamente os estudos sobre a internacionalização das
Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras e é um tema recorrente no âmbito das discussões
17
sobre educação superior (Miranda & Stallivieri, 2017). Este tema tem sido conduzido por
algumas universidades brasileiras e o governo, no esforço de buscar projetos de colaboração em
pesquisa e intercâmbio de estudantes com outros países, porém de forma nem sempre articulada,
complementam esses autores.
Um exemplo brasileiro resultante da parceria entre o governo, universidade e empresas
patrocinadoras foi o programa Ciência sem Fronteiras (CsF), lançado em 2011 com o objetivo de
expandir e internacionalizar a ciência, a tecnologia e a inovação, além de promover a
competitividade brasileira a partir do intercâmbio. Nos primeiros anos, o CsF ofereceu bolsas de
estudo para iniciação científica em universidades fora do país (Brasil, 2011).
Uma universidade empreendedora cria oportunidades para exportar e importar produtos
educacionais, incluindo a mobilidade de estudantes e docentes internacionais, colaborações de
pesquisa, contratos envolvendo outros países (Green & Baer, 2000) e a transferência de
conhecimento não-comerciável, por meio das publicação internacionais (Moroz, 2012).
Gibb et al. (2013) acrescentam que as universidade empreendedoras criam valor por meio
dos acordos institucionais e suas redes de colaboração para o desenvolvimento de projetos em
parceria. O processo de internacionalização de uma universidade empreendedora está alicerçado
no comprometimento com a internacionalização do conhecimento, por meio das atividades de
ensino, pesquisa e de extensão, as quais envolvem elementos de tomada de risco e escolha
estratégica para que todos os envolvidos alcancem os resultados almejados (Gibb et al, 2013).
À medida que as instituições se envolvem mais profundamente com iniciativas globais
empreendedoras, é provável que elas sejam levadas a pensar de maneira diferente sobre o
currículo, sobre preparação e recompensas do corpo docente e sobre aprendizado do aluno. No
entanto, é necessário ter clareza sobre seus propósitos ao se engajar em atividades internacionais,
concluem Green & Bear (2000).
A internacionalização é considerada um processo natural e inerente à história da Unicamp,
uma vez que, desde sua fundação, o quadro de docentes da Unicamp foi formado por centenas de
docentes estrangeiros e é considerada uma universidade com visibilidade no exterior, devido a
suas parcerias com diversas instituições de ensino e pesquisas mundiais (Unicamp, 2015). Antes
mesmo de instalada, a Unicamp já havia atraído para seus quadros mais de 200 professores
estrangeiros das diferentes áreas do conhecimento.
17
[...] vieram diversos pesquisadores de fora que o Prof. Zeferino Vaz trouxe –
vários vieram dos Estados Unidos – ela foi criada, nasceu com esse espírito mais
arrojado em termos da pesquisa (GS4).
A Unicamp, para manter e firmar parcerias internacionais, possui em sua estrutura
administrativa uma Diretoria de Relações Internacionais (DRI), vinculada à Reitoria.
[...] a Unicamp tem uma forte ênfase... uma pressão enorme para a
internacionalização da graduação, da pesquisa e da pós-graduação. Ela criou
uma Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e tem sido muito útil. [...] Eles
têm vários editais ao longo do ano, dos mais variados propósitos: como para
você viajar para estabelecer um primeiro contato com vistas a um projeto futuro,
para você aperfeiçoar a língua, para trazer professor visitante de fora, para levar
professor da Unicamp (DO1)
[...] eu sei que tem editais duas vezes ao ano eu acho e em duas épocas, em dois
semestres e os editais eles selecionam certo tipos de alunos, um aluno que o
coeficiente de rendimento dele tem que estar acima da turma dele, [...] e ele tem
que ter o limite de créditos e de DP ou tem uns requisitos para fazer essa
internacionalização, o que eu saiba é isso, por que eu dei uma lida nos editais,
mas nunca pude participar (ES4).
Somos incentivados desde o começo do curso assim falando que a gente teria
sim oportunidade, mas isso podia depender das notas dos primeiros anos, como
que a gente ia na faculdade. E o que é bastante forte é o contato com o pessoal
da França que muitos amigos meus da minha turma estão fazendo intercâmbio
de um ano e outros fazem curso para ir a França, e isso eu acho que é bem
incentivado. (ES2)
[...] todo mundo sabe porque é um programa muito bom, e ele é muito
concorrido sim. Assim, você tem várias exigências, você não pode ter pego
nenhuma dependência, você tem que ter nota acima de 7, da média, e vamos
supor eu fui pra França e o convénio que as faculdades tem aqui maior é para
França. Você precisa ter um nível de francês bom [...] são vagas reduzidas
(ES3).
os alunos nossos das engenharias, faz parte do curso lá e volta com duplo diploma,
engenheiro na França e engenheiro na Unicamp. (GS7)
As fontes de recursos são bem variadas, mas não são inesgotáveis, alertou o diretor da
DRI durante a entrevista, e o grande desafio para eles é encontrar uma maneira de maximizar os
recursos.
[...] ideia de estabelecer parcerias mais estruturadas e prolongadas, mais densas,
é que isso nos vai permitir ter acesso a outras fontes de financiamento, nós
queremos trazer recursos de empresas para financiar mobilidade de alunos
também, assim, como Santander tem uma iniciativa que ele tem no mundo
inteiro, nós queremos sensibilizar empresas estrangeiras que atuam no Brasil e
brasileiras que atuam no exterior para necessidade e conveniência, por que eu
sempre digo a eles que pra ter engenheiros e pesquisadores de todas as áreas
com experiencia internacional essa é a nossa aposta. (GS7)
Muitas universidades internacionais têm como objetivo associar o nome delas ao nome da
Unicamp “e isso tem muito a ver com a posição da Unicamp nos rankings internacionais como a
18
melhor universidade da América Latina, como a melhor dos BRICS” (GS7). Além do marketing,
“as vezes é parceria mais intensa na parte de pesquisa e outras vezes é mobilidade, intercâmbio
de alunos”, completa o entrevistado.
Embora a Unicamp tenha cerca de 540 acordos com universidades de 58 países, o diretor
da DRI pontuou que a Unicamp está mais seletiva e busca qualidade nas parcerias. Um dos
gestores acadêmicos disse que os convênios devem criar retorno para ambas as partes:
Não adianta nós da Unicamp falarmos que temos um acordo se não há partes
envolvidas que estejam interessadas em algum tema em comum, por que fazer
esse convênio, aquilo não vai gerar retorno [...] É você ter as colaborações por
que existe um projeto em comum, com pesquisa que vai envolver alunos, pode
gerar um resultado pra sociedade e agir a partir dai e isso fortalece as
colaborações se não acho que morre. (GA2).
A questão principal é até que ponto a atividade internacional contribui para o
entendimento global da instituição, aprimora o aprendizado de alunos e funcionários e permite
que ela realmente entenda, seja sensível e trabalhe com diferentes culturas (Green e Baer, 2000).
O ponto central é, sem dúvida, o resultado estratégico mais importante, ou seja, o grau em que a
instituição agrega valor à sua própria aprendizagem como resultado das atividades listadas e do
grau em que ela recompensa tal aprendizado.
No geral, em termos de avaliação de resultados, haverá a necessidade de medir o grau em
que a atividade traz recompensas de status e materiais (renda e outros recursos) que sejam
sustentáveis (Gibb et al, 2013). Fato que não foi identificado na pesquisa de campo.
Na visão de um dos docentes entrevistados, embora a Unicamp tenha como estratégia
corporativa à Internacionalização, ainda deixa a desejar nos projetos de extensão que impactam
diretamente a comunidade local/regional.
Uma que é a ciência pensada a partir da internacionalização, [...] a Unicamp
nesse momento por exemplo, tem vários programas de internacionalização e
muita fragilidade nos projetos de extensão, bom não que ela tem dito isso, mas
ela tem muito mais intenção na internacionalização do que na extensão (DO2)
18
Embora grande parte das universidades embasem suas estratégias no modelo da Hélice
Tríplice e estão focadas na transferência de conhecimento, as universidades têm sido cada vez
mais atraídas para um papel regional mais forte de desenvolvimento social e econômico de
muitas outras maneiras (Arbo e Benneworth, 2008). Assim, as universidades podem assumir o
papel de protagonista nesse ecossistema para focar questões de desenvolvimento regional,
proporcionando a discussão e concentrando esforços em questões importantes para a sociedade e
o futuro e atuar como uma importante fonte de aprendizado para as partes interessadas regionais.
O ecossistema de empreendedorismo de uma universidade, na visão de Lemos (2012), é
formado por uma ampla variedade de componentes, internos e externos à Universidade. Esses
componentes são as pessoas, as empresas, as organizações, o governo e os processos com os
quais a universidade integra e interage. Nesse sentido, esta dimensão, além de delinear o
ecossistema empreendedor no qual a Unicamp está inserida, também apresentada algumas
parcerias realizadas por ela.
Sobre o ecossistema empreendedor, o Mapeamento do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI) analisou políticas de inovação, infraestrutura, instituições com destacada
produção científica, qualidade de vida e desenvolvimento econômico e apontou Campinas como
a cidade do interior do Brasil com maior potencial inovador (Nascimento, 2016). Campinas
também foi eleita a sétima cidade mais empreendedora do país (Figura 50), no ranking do
Instituto Endeavor, o qual avaliou o ambiente regulatório, acesso a capital, mercado, inovação,
infraestrutura, capital humano e cultura empreendedora (Endeavor, 2017).
18
De acordo com Inácio Jr. et al. (2016), alguns pesquisadores concordam que os
ecossistemas de empreendedorismo se assemelham a uma rede de serviços especializados
(universidades, laboratórios de P & D, capitalistas de risco, agências governamentais e políticas,
bem como serviços especializados, como assessoria comercial, jurídica e fornecedores), nos quais
a cooperação entre agentes e atores determina o sucesso e o desempenho de todo o trabalho.
18
O ecossistema pode ser considerado uma unidade de referência, uma unidade de análise e
uma forma organizacional adequadas para o entendimento e a prática da gestão estratégica do
empreendedorismo nas universidades, uma vez que elas utilizam suas estruturas de gestão para
criação de startups com valor agregado, por meio da integração e interação, que permitem que a
universidade possa extrair e gerar benefícios a partir de uma infraestrutura mais ampla de suporte
e fortalecimento às startups (Lemos, 2012).
No entanto, um dos entrevistados apontou que pelo tamanho e expressividade de atuação
da Unicamp no ecossistema, isso pode causar um certo constrangimento por parte de outros
atores do ecossistema.
A Unicamp é grande demais, ela é importante em nível internacional, então é
natural que exista [...] um certo constrangimento de atores com menos
orçamento, com menos expressão, com focos especificos perante a Unicamp [...]
(G8)
[...] então qual a vantagem dessa entidade: ela equaliza, ela faz com que as
pessoas fiquem a vontade, ela faz com que as pessoas respeitem, mas se sintam
parte de um processo único, trabalha com algo que é fundamental, que é o
sentimento de pertence, “também faço parte, é meu também”, [...] há um
equilibrio e as pessoas se sentem a vontade no processo e isso acaba resultando
numa ação sinérgica, numa ação coordenada que a gente vem fazendo [...] (GS8)
O ecossistema da Unicamp (Figura 56), na visão de Lemos (2012), pode ser visto como
um extenso conjunto de componentes (internos e externos), que tem o potencial de ser mais útil
que uma simples infraestrutura de suporte de criação de startups e atuar como um conjunto de
recursos e capacitações ativados pelo processo de gestão do empreendedorismo, constituído por
pessoas, empresas, organizações, dentre outros.
18
Também foi perguntado aos docentes e demais gestores como eram recebidas as
demandas externas por parcerias.
Passa pela direção, pelas coordenações de cursos. A Universidade é bastante
permeável nesse sentido, sistematicamente eu tenho visto, inclusive com mais
frequência no último ano as reuniões agendadas pelas direções da faculdade ou
pela Pró-reitoria da Graduação ou pela comissão de formação de professores. A
Unicamp tem uma, como é que ela chama, é uma coordenação central de
formação de professores e ela também convida os professores pra fazer
conversas com
19
pessoas [...] Então a universidade é bastante permeável nesse sentido, mas [...]
queria transformar isso numa prática curricular (DO2).
No entanto, é notável que a Unicamp precisa estreitar as relações com as entidades para
promoção de outros valores que impactam na sociedade.
As empresas da região vêm para Faculdade para propor um problema que eles
não encontraram as soluções e dai os alunos se dividem em grupos e cada grupo
escolhe um desses problemas e o TCC é a resolução dessa situação. Então, eu
diria que sim, a gente tem essa aproximação, mas ainda é muito pequena (ES5).
[...] ainda falta é se abrir muito mais pra escutar o que vem da sociedade de
modo a pensar com os grupos sociais o que ela poderia contribuir de modo que
ela pudesse contribuir nos caminhos que esses grupos sociais apontam não só
naquilo que a universidade entende como melhor e isso significa sem dúvida
alguma dizer que no meu entender a melhor forma de uma universidade
contribuir com qualquer tipo de desenvolvimento em uma comunidade é ela ser
mais democrática, ser mais aberta. [...] A Unicamp tem muitas parcerias com as
empresas, muitas, e eu diria que ela não tem a mesma quantidade de parcerias
com os grupos sociais. (DO2)
19
Outras parcerias internas, ocorrem nos laboratórios de pesquisa, por exemplo, no Centro
de Componentes de Semicondutores - um laboratório de Nanotecnologia – tem parcerias dentro
da própria Unicamp, parcerias da Unicamp com outras instituições de ensino e com o setor
privado também.
Ali é muito amplo... os pilares principais é Física, Química e Engenharia
Elétrica, mas há pessoas da Engenharia Mecânica, da Medicina... ou seja, é um
laboratório multiusuário. Um outro... foi criado no Instituto de Física, que é o
laboratório multiusuário. Em vez de ficar fazendo um laboratório aqui, outro
ali... com coisas repetidas [...] (GS1)
Em seus relatos, os entrevistados citam que a Unicamp é uma marca muito forte e atrai
muitas empresas que buscam parcerias, além de muitos empresários e seus funcionários
buscarem cursos de atualização de conhecimento.
O Instituto de Economia, por exemplo, é considerado uma das primeiras unidades
acadêmicas a oferecer cursos de extensão para empresas quando era ainda o Departamento de
Ciências Humanas.
19
projeto e esse projeto vai ser financiado pela CPFL tem que ser um projeto
relacionado a distribuição de energia e vocês tem esses temas para vocês
desenvolverem e dai os estudantes desenvolveriam um projeto [...] (ES3).
Outra iniciativa da Unicamp, por meio da Inova, foi criar em 2006 a rede alumni de
relacionamento Unicamp Ventures. A proposta de unir as ‘filhas da Unicamp’visava
potencializar a sinergia entre as diversas empresas na busca por inovação tecnológica, resultante
da contribuição da Unicamp. No entanto, a empresa-filha criada por uma ex-docente da
Faculdade de Engenharia de Alimentos, destacou que não tem interesse em participar dessa Rede.
Em entrevista com outra CEO da empresa-filha ganhadora do prêmio internacional Cartier
Women's Initiative Awards, que criou um dispositivo que alerta pacientes e responsáveis sobre
um ataque epiléptico, foi questionado se havia participação da Unicamp na conquista do prêmio,
uma vez que a matéria estava publicada no site da Unicamp. A entrevistada respondeu que não e
atualmente essa empresa estava incubada em outro Núcleo de Inovação Tecnológico.
No entanto, “a Unicamp tem muitas parcerias com as empresas, muitas, muitas mesmo e
eu diria que ela não tem a mesma quantidade de parcerias com os grupos sociais” (DO2). Esse
docente conclui que isso é causado por “uma universidade que não escuta a sociedade [...] ela
está preocupada com outras coisas”.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) também mantem relações de
parceria com a Unicamp, uma vez que a Unicamp indica algumas empresas para aquela
Federação.
O programa da Unicamp é bem desenvolvido e atende aos interesses da própria
universidade que são, em parte, interesses mercadológicos e, em parte interesses
meramente acadêmicos [...] Aqui a gente tem uma vertente mais business, por
isso que alguns projeos acabam vindo para cá e outros não. Alguns projetos de
biotecnologia acabam vindo, de manufatura rápido, de indústria 4.0. (EC4)
No ponto de vista desse entrevistado, “a Inova coloca-se como fator adversivo nesse
ecossistema de inovação, quando na verdade ela deveria estar ajudando os pesquisadores a
custear esse processo e colocar a pesquisa na bancada”. Esse entrevistado conclui que a
experiência não foi boa, uma vez que “esse pedaço que eles estão tirando, acaba desmotivando as
startups a participar desse arranjo” (EC3).
19
especialização em Educação Infantil para a Rede Pública. “Então, assim, o nosso forte, o nosso
olhar está para o setor público buscar firmar esse tipo de relação e fortalecer esse tipo de relação”
(GA3).
Durante a coleta de dados, foram relatados alguns exemplos de parcerias com outras
instituições de ensino, como, por exemplo, as parcerias proporcionadas pela RedEmpreendia,
com o apoio do Banco Santander.
Nós fazemos parte de uma RedEmpreendia – financiado pelo Banco Santander e
dentro da RedEmpreendia tem uma spin-off chamado SOLA (Spin Off Lean
Aceleration) que é um programa Erasmus Mundi para a Europa que tem quatro
universidades da Europa... quatro universidades da América Latina e nós
fazemos parte desse programa.[...] e nossa participação lá vai se mostrar a
criação de uma plataforma das nossas empresas filhas e fazer isso para capacitar
todos os NITs , tanto da América Latina que fazem parte da Rede. (GS1)
Porém, o diretor da Inova completa que, dentre as diversas parcerias “é importante estar
bem formalizado, desde parcerias do ponto de vista de intenção de colaborar, dupla diplomação,
até parcerias de pesquisas (GS1).
Nós temos muita colaboração com unidades além da Unicamp, outros institutos,
tanto institutos de pesquisa, por exemplo o IPEA, quanto a UFRJ, assim como
colaboração com institutos fora do Brasil, então existe essa colaboração aqui
dentro da Unicamp, eu tenho com a engenharia civil por exemplo tem
professores que eu já participei em coisas de pesquisas, então difícil eu falar dos
meus colegas, mas assim, eles tem alguns que sim como o IFCH, com Filosofia,
com Ciências Socias, História tem também (GA2)
Outra parceria relevante de longo prazo foi a firmada entre a Unicamp e Cambridge
Enterprise no Reino Unido, que vigorou de 2011 a 2013, visando estabelecer parcerias em ciência
e inovação no Brasil. Esses projetos têm como foco estimular a comercialização de propriedade
intelectual no Brasil e a disseminação de novas práticas de educação para o empreendedorismo,
bem como de programas para estimular a interação universidade-empresa (Nascimento, 2016).
19
Dessa parceria, surgiram outras inspiradas por essas interações. A Unicamp implementou novos
programas que mudaram a forma como a organização pratica a transferência de tecnologia e a
pesquisa patrocinada pela indústria (Cambridge, 2018).
Durante a entrevista, o diretor da Inova comentou que é intenção da Unicamp firmar
parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares para criação de um núcleo de empreendedores
negros, “porque isso também dá um empoderamento”, conclui o diretor. Além dessa parceria, a
Unicamp também é parceira na Virada da Consciência, realizada pela Faculdade Zumbi dos
Palmares, de São Paulo, durante a Semana da Consciência Negra. O objetivo da iniciativa é
utilizar manifestações acadêmicas, artísticas, esportivas e culturais para transmitir à sociedade a
importância do combate ao racismo e à intolerância.
Dimensão Elementos
Gestão Transição para gestão estratégica e cultura empreendedora, em que as oportunidades
sejam em direção à função econômica e social, orientadas para a criação valores públicos,
independente dos recursos financeiros.
Liderança empreendedora, participativa, profissionalizada, comprometida, dinâmica e
reforçada
Renovação de currículos e programas.
Governança empreendedora e compartilhada.
Infraestrutura Núcleo de empreendedorismo e inovação e não apenas de transferência de tecnologia e
propriedade intelectual
Centros de atendimento às demandas da sociedade, incluindo indústrias.
Incubadoras/aceleradoras de tecnologia social
Incubadoras/aceleradoras de base tecnológica
Parques tecnológicos
Este estudo também elencou algumas diretrizes para iniciar a jornada de transformação
(Figura 59), com o propósito de indicar possibilidades para a adoção de ações empreendedoras no
contexto acadêmico. Estas diretrizes são propostas a partir das evidências do campo, alinhadas
com as dimensões e elementos observados no estudo de caso.
Dimensão Diretrizes
Gestão Incorporar o conceito de universidade empreendedora e o que isso significa
efetivamente;
Implantar a gestão estratégica orientada para a atender as demandas da
sociedade;
Mapear o perfil da gestão e desenvolver competências de liderança
empreendedora, participativa, profissionalizada, comprometida, dinâmica e
reforçada;
Inserir a tomada de decisão coletiva, para que todos sintam o pertencimento, e
direcionem as ações para a missão da universidade e, como resultado, possam
criar diferentes valores para a sociedade;
Renovar os programas e os currículos que vislumbrem ações de ensino,
pesquisa, extensão e inovação e que elas sejam integradas e não dissociadas
umas das outras.
Infraestrutura Atentar que a infraestrutura de uma universidade empreendedora não deve ser
desenvolvida explicitamente para comercializar e mercantilizar o
conhecimento, sem levar em consideração a necessidade de criação de outros
valores proporcionados pelo desenvolvimento do conhecimento em diferentes
áreas;
Ampliar a atuação dos escritórios de transferência de tecnologia, para que
também incorporem ações para o desenvolvimento do empreendedorismo
(comercial, social, cultural, dentre outros) na universidade e no seu
ecossistema;
Mapear grupos de pesquisas para o que possa ser identificado o patrimônio
intangível da instituição;
Promover a integração entre os grupos de pesquisa, para que possa concentrar
a infraestrutura dos laboratórios e potencializar as pesquisas.
Possibilitar a desbrurocratização e autonomia dos parques tecnológicos e criá-
los com o olhar para potencializar o ecossistema e não com fins
mercadológicos;
Criar incubação e aceleração para novos negócios (comerciais, sociais e
culturas) com auxílio do ecossistema;
Criar um espaço que acolha as demandas advindas da sociedade para que
essas solicitações possam ser direcionadas.
Comunidade Acadêmica Implantar o trabalho coletivo e colaborativo entre os cursos e entre outras
instituições de ensino (compartilhamento de práticas e de pesquisas);
20
Nesse sentido, este estudo também propõe uma integração conceitual sobre a definição de
uma universidade empreendedora. Assim, reafirma-se o conceito de universidade empreendedora
como uma instituição integrada em um ecossistema empreendedor e inovador, capaz de mudar,
de inovar, reconhecer e criar oportunidades. Sua comunidade acadêmica (gestores, docentes,
estudantes) é proativa, está disposta a assumir riscos e responder aos desafios, visando ao
desenvolvimento interno e externo e criando diferentes valores (econômicos, sociais, culturais,
ambientais, dentre outros), por meio do conhecimento gerado por ela.
20
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A universidade é uma organização pluralista que incorpora, não apenas uma variedade de
disciplinas acadêmicas, mas também diferentes valores, culturas e modos de ensino, de
aprendizagem, de pesquisa e de atividades de extensão. É importante ressaltar que também
existem diferenças distintas na natureza e no impulso das relações com o ambiente interno e
externo. Essas constatações foram reforçadas no estudo desenvolvido nas diferentes unidades
analisadas.
Outra constatação, é que essa pluralidade de conhecimento fortalece a universalização do
conhecimento – função social da universidade. Nesse ciclo de empoderamento, todos os
conhecimentos, incluindo as Ciências Humanas, são considerados como potencializadores no
desenvolvimento da sociedade, uma vez que seus diferentes olhares sempre estão conectados com
a sociedade.
As Ciências Humanas, por exemplo, não reconhecem que suas ações são empreendedoras
por conectarem empreendedorismo à ideia de custo x benefício. Eles identificam-se como agentes
de mudança. No entanto, são guiados pelo compromisso social com o país, com a sociedade
brasileira e principalmente com os menos favorecidos. A partir desse compromisso, articulam-se
com governos, criam oportunidades para melhorar as políticas públicas e desenvolvem projetos
para criação de valor social que empoderam grupos menos favorecidos.
A importância da universidade em sua função social também é reforçada pela atuação das
Ciências Médicas, outra unidade analisada. Os profissionais e estudantes daquela unidade
consideram-se protagonistas, não empreendedores, e atuam em programas e projetos de
assistência à saúde do âmbito público. O modelo assistencial das unidades básicas de saúde
desenvolvido por eles pode ser considerado como tecnologia social, pois é desenvolvido na
interação com a comunidade e representa efetivas soluções de transformação social na área da
saúde pública, além de ser copiado por outros países, mas as pessoas não enxergam isso como
tecnologia, conforme o depoimento de um dos entrevistados.
Infere-se que devido ao termo empreendedorismo atrelar-se inicialmente à negócios para
criação de valor comercial, ainda aparenta um resistência conceitual e não é discutido
institucionalmente. É fato que o modelo de Hélice Tríplice proposto por Etzkowitz (2000), com
sua ênfase dominante nos negócios, tem dificuldade em obter ampla aceitação no ensino superior,
principalmente nas universidades públicas. Muitos entendem que esse modelo de ‘vender as
20
Por fim, este estudo abre o debate sobre a desvinculação da visão reducionista de que
universidade empreendedora está associada à palavra ‘empresa’, que gera negócios com fins
lucrativos e que comercializa propriedade intelectual e, portanto, configura-se apenas nos cursos
com viés tecnológico (por exemplo, engenharias) e propõe a incorporação da temática em outras
áreas do conhecimento. Em síntese, os dados coletados demonstraram que as ações
empreendedoras agregam diferentes valores e é um tema transversal a todas as áreas do
conhecimento.
O que se entrega com este estudo é uma visão do todo de uma universidade pública
brasileira, que partindo de estudos anteriores, principalmente os internacionais, foi a campo
buscar evidências do processo transformacional de uma universidades públicas brasileiras em
empreendedoras, organizando essas características em dimensões e seus elementos, bem como
propondo diretrizes que vislumbram essa possibilidade.
Para pesquisas futuras, os estudiosos do tema poderão investigar e criticar se este modelo
proposto pode ser acrescido de outras dimensões e/ou elementos. Para tanto, sugere-se outras
explorações científicas que possam expandir este estudo de caso, comparando-o com outras
instituições públicas e até mesmo privadas, em diferentes contextos, uma vez que no ranking das
universidades públicas brasileiras, as com melhor desempenho localizam-se nas Regiões Sul e
Sudeste brasileiras.
Recomenda-se também a proposição de indicadores que possam medir metas traçadas
para esse processo de transformação, bem como realização de pesquisas quantitativas futuras a
partir da criação desses indicadores. A partir da criação desses indicadores, será possível
dimensionar o empreendedorismo na educação superior, uma vez que não existe ranking que
contemple especificamente o empreendedorismo e que possa avaliar universidades
empreendedoras.
Vale destacar que o presente estudo está focado nas universidades públicas brasileiras,
caracterizadas pelo modelo neo-humboldtiano (ensino-pesquisa-extensão). No entanto, a rede de
educação superior brasileira é constituída por uma diversidade de instituições, tais como as
faculdades e institutos federais, que predominam o modelo napoleônico (escolas superiores de
21
formação profissional). Estudos futuros também poderiam abranger e explorar essa dualidade no
que tange as características empreendedoras.
Vale ressaltar que o modelo apresentado neste estudo, com suas dimensões e elementos,
não pode ser considerado único. Nem as dimensões e seus elementos propostos são obrigatórios
para a transformação de uma universidade tradicional em empreendedora.
Esta pesquisa concentrou o olhar na busca de quais elementos eram necessários para
compor um processo de transformação de universidades tradicionais públicas brasileiras em
empreendedoras, por meio de práticas integradoras entre ensino, pesquisa, extensão e inovação.
Como a amostra escolhida foi uma universidade pública estadual localizada em um polo
industrial desenvolvido, o contexto pode ter camuflado evidências que poderiam ser identificadas
em outras regiões brasileiras, como talvez nas regiões Norte ou Centro-Oeste, cujas
características contextuais são diferentes da Região Sudeste.
Além disso, a falta de unicidade conceitual leva a diferentes caminhos para identificar as
características de uma universidade empreendedora. Um deles esbarra nos diferentes papeis
exercidos pelas universidades, agravados pelos conflitos ideológicos sobre esses papéis dentro
das universidades que eclipsam o entendimento sobre a função social que deve ser exercida pelas
universidades nos dias atuais.
21
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22
Economia Solidária O trabalho e capital estão fundidos entre os trabalhadores que também
são proprietários da empresa. Essas empresas são, em geral,
administradas por sócios eleitos para a função e sua finalidade básica não
visa ao lucro, mas
a quantidade e a qualidade do trabalho (Singer, 2002).
Ecossistema Sistema formado por diferentes stakeholders, em que são estabelecidas
empreendedor parcerias que propiciem a aplicação de novos conhecimentos na busca de
um ambiente com condições favoráveis ao aumento da produção e do
emprego, tanto à indústria quanto ao comércio; com condições
favoráveis para a disseminação da cultura; para a potencialização de
melhor uso dos
recursos naturais, entre outras ações de relevância social (Isenberg, 2011)
Empreendedorismo O processo de avaliar, comprometer-se e alcançar, sob restrições
contextuais, a criação de novo valor a partir de novos conhecimentos
para
o benefício das partes interessadas definidas. (Hindle, 2010)
Empreendedorismo Criação de operações rentáveis, resultando em ganhos (Austin et al.,
Comercial 2012)
Empreendedorismo Criação de valor social inovadora que pode ocorrer dentro dos setores sem
Social fins lucrativos, empresariais ou governamentais (Austin et al. 2012)
Empreendedorismo Criação de valor cultural com novas combinações que expressam algo
Cultural novo e valorizado no setor da cultura, uma vez que os empreendedores
culturais são indivíduos que atuam em ambientes plurais e não apenas
nos econômicos (Swedberg, 2006),
Hélice Tríplice Parceria entre as universidades, o governo e as empresas/indústrias, no
qual o conhecimento é transferido das universidades de pesquisa para a
indústria, e depois (por intermédio do governo) para a sociedade
(Etzkowitz, 2002)
Hélice Quádrupla Adição à Hélice Tríplice do "público baseado na mídia e na cultura”,
bem como a “sociedade civil" (Carayannis & Campbell, 2009, p.206-
207; 2012, p.13). Uma vez que o público usa e aplica conhecimento,
pois o
conhecimento flui em todas as esferas da sociedade
Hélice Quíntupla Adição à Hélice Quádrupla do ambiente e enfatiza a transição
socioecológica necessária da sociedade e da economia no século XXI;
cujos ambientes naturais da sociedade e da economia também devem ser
vistos como motores da produção e inovação do conhecimento, criando
oportunidades para a economia do conhecimento (Carayannis et al.,
2012).
Sistema Nacional A interação entre a ação empreendedora e o contexto institucional (Ács,
de Szerb e Autio, 2014)
Empreendedorismo
Spin-off Novas empresas que evoluem das universidades como resultado do
processo de transferência de tecnologia de pesquisa para a
comercialização de novos produtos ou serviços (Iacobucci et al., 2011),
também denominadas neste estudo de empresas-filha.
22
Resumo
Abstract
1. Introdução
Para que o Brasil possa tornar-se um país competitivo, precisa instaurar nova estratégia de
desenvolvimento alicerçada no conhecimento transformador e capaz de gerar uma economia
sólida, democratizante e sustentável, ou seja, além das preocupações com o meio ambiente,
também incorpore as questões sociais, econômicas, culturais, de gestão participativa e ética.
Um dos atores desse desenvolvimento é a universidade, protagonista fundamental desse
processo, pois ela é tanto fonte de conhecimento como espaço propício para o desenvolvimento
da sociedade. Além do ensino e pesquisa, a "terceira missão" da universidade é entendida como a
valorização econômica e social do conhecimento produzido pelos pesquisadores, criando a
necessidade de estratégias, estruturas e mecanismos dentro das universidades que facilitam e
intensificam a transferência de conhecimentos (Fayolle & Redford, 2014; Etzkowitz &
Leydesdorff, 1998). Esta missão faz com que as universidades se reorganizem e reposicionem na
sociedade, alterando sua infraestrutura e criando serviços de consultoria. Surgem assim, serviços
de apoio às incubadoras, às startups e às spin-offs; instalação de unidades de pesquisa em parques
de ciência; bem como os escritórios de proteção intelectual e transferência de tecnologia que
facilitam a difusão de tecnologia.
No entanto, as universidades, na maioria das vezes, ainda são estruturas burocráticas
fechadas e voltadas apenas para o ensino e pesquisa. Consequentemente, a sua
habilidade/capacidade de mudar e adotar novos comportamentos é pouco significativa ainda. As
universidades também precisam desenvolver uma orientação voltada para o mercado e
pesquisadores universitários precisam tornar-se cada vez mais empreendedores (Etzkowitz &
Leydesdorff, 1998). Assim, surgem as universidades empreendedoras que são capazes de
desenhar e seguir uma direção estratégica, formulando com clareza seus objetivos acadêmicos a
fim de gerar valor para a sociedade por meio do conhecimento produzido por elas.
O objetivo deste estudo, assim, é o de avaliar o corpo de literatura resultante nas últimas
décadas sobre universidades empreendedoras, pretende-se também identificar como tem sido
desenvolvido o conceito de universidade empreendedora e, consequentemente, contribuir com a
evolução desta temática.
Optou-se pela análise descritiva, lexical e de conteúdo, a fim de realizar uma análise da
literatura mais abrangente sobre o tema, de modo a orientar futuras pesquisas e apresentadar as
respostas às questões norteadoras, identificando os principais temas e abordagens tratados sobre
universidade empreendedora e as principais lacunas identificadas na literatura analisada. Para
tanto, optou-se pelo estudo bibliográfico.
Assim, o presente estudo está estruturado inicialmente com esta introdução, seguindo da
abordagem do conceito de universidade empreendedora, explorando historicamente a revisão de
literatura com seus precursores. Após, é apresentada a metodologia empregada neste estudo,
cujos resultados posteriormente são analisados empiricamente e discutidos ao final.
2. Universidades Empreendedoras
A educação superior tem o papel social de promover a formação cidadã e deve buscar
uma maior integração das ciências com as políticas de Ciência, Tecnologia & Inovação (C,T&I),
principalmente no cenário atual - nominado de sociedade do conhecimento, mundo da
informação e era da globalização - que apresenta desafios que impactam no modo de ser das
universidades, na sua estrutura administrativa, no currículo dos cursos, na gestão financeira, na na
qualidade das pesquisas, rompendo fronteiras para a disseminação do conhecimento.
23
Como se pode observar nos estudos de Etzkowitz e Klofsten (2005), a maneira em que
universidades se transformam em empreendedoras é evidenciada pela ação coletiva, observada
pela transformação que ocorre quando um número de vários indivíduos se unem e visualizam
uma nova possibilidade. A universidade empreendedora segue um modelo interativo de inovação
endógena e exógena que reforça a transferência de conhecimento e tecnologia (Etzkowitz &
Leydesdorff, 1998), movendo-se dos laboratórios de pesquisa para o local de utilização do novo
conhecimento. Portanto, ela tem capacidade de estabelecer alianças estratégicas para gerar
conhecimento para o mercado por meio da transferência da propriedade intelectual protegida à
tecnologia incorporada em uma organização. Além disso, também desempenham um papel
inverso ao abrir suas portas para os problemas externos, tais como os problemas sociais,
ambientais e econômicos, cumprindo sua função de protagonista do desenvolvimento da
sociedade.
Kirby (2006) defende que a maior parte das universidades não são empreendedoras.
Existem inúmeras razões para isso, em grande parte, relativas à natureza inerente de grandes
organizações, em particular: a natureza impessoal das relações; a estrutura hierárquica e muitos
níveis de aprovação; a necessidade de controle e a adesão resultante de regras e procedimentos; o
conservadorismo da cultura corporativa; a dimensão do tempo e a necessidade de resultados
imediatos; a falta de talento empresarial; métodos de compensação inadequados.
Por não terem características empreendedoras, as universidades enfrentam várias barreiras
por sua tradição, pois a maioria nunca foi empreendedora e muitos acreditam que ser
empreendedor ''irá conduzir as suas outras qualidades universitárias mais fundamentais, tais como
a integridade intelectual, investigação crítica e compromisso com a aprendizagem e compreensão
'' (Williams, 2002, p.19). Daí a expressão torre de marfim, proposta no título deste estudo e que
designa um mundo ou atmosfera onde intelectuais se envolvem em questionamentos
desvinculados das preocupações práticas do dia-a-dia.
Devido à diminuição dos recursos financeiros públicos nos últimos anos, os estudos sobre
a universidade empreendedora e a “comercialização” do conhecimento têm se expandido em todo
o mundo. Slaughter e Leslie (1997) constataram que os governos gradualmente dão mais
prioridade aos investimentos mais comercialmente viáveis e que os investimentos em educação
pública estão continuamente decrescentes. Em consequência, as universidades precisam encontrar
alternativas de fontes de financiamento, a fim de sobreviverem, concluem esses autores.
Por outro lado, o número crescente de atividades orientadas para o mercado é estimulado
pelo crescimento das estruturas de apoio, como centros de tecnologia, que são capazes de criar
novas fontes de rendimento, mas ao mesmo tempo, contribuir para a "mudança na base dos
campos do conhecimento, da estrutura das disciplinas e de alocação de recursos institucionais"
(Slaughter & Leslie, 1997, p. 176).
Nesse contexto, emergem as universidades empreendedoras, as quais visam à inovação
como ferramenta específica ao empreendedorismo, o meio pelo qual se explora a mudança como
uma oportunidade não apenas para um negócio diferente, mas também para serviços diferentes
(Drucker, 1985). O desafio é como ingressar e posicionar-se neste mundo de aprendizagem
internacional e competitivo.
O perfil empreendedor, atrelado ao seu papel social, garante que as ações das
universidades empreendedoras sejam alicerçadas pela criação de valor a qual utiliza formas
diferentes dos
23
3. Metodologia
Visando atingir o objetivo proposto, foi necessário adotar alguns critérios relativos à
busca bibliográfica, seleção de artigos, definição de dimensões analíticas e enquadramento dos
trabalhos de acordo com tais dimensões. De acordo com Levy e Ellis (2006), as revisões
sistemáticas são utilizadas quando os pesquisadores possuem objetivos específicos, dentre eles a
consolidação dos resultados dos estudos em um campo de conhecimento de interesse, a
identificação das lacunas do conhecimento, a evolução de um tema e seu posicionamento atual e
o desenvolvimento de novos estudos por meio da geração de agendas de pesquisas.
Para o levantamento bibliográfico, em princípio, foi consultada a base Scopus, por ser a
maior base de dados de resumos e citações da literatura e que contempla a produção de pesquisa
do mundo nas áreas de ciência, tecnologia, medicina, ciências sociais e artes e humanidades,
atualizada diariamente, e fornece uma análise estatística que facilita uma avaliação inicial dos
artigos identificados (Elsevier, 2015).
A busca foi feita pela seleção do termo “entrepreneur* universit*” (entre aspas), que se
concentrou nos estudos até julho/2016 com este termo no título, no resumo ou nas palavras-chave
ao longo do período, identificando 370 itens. Logo após, foi realizado o refinamento, optando-se
por apenas artigos e retirando os que continham duplicidades, restando 254 artigos. Além isso,
foram inclusos dois ebooks correspondentes a reflexões e estudos sobre a temática universidade
empreendedora: “Handbook on the entrepreneurial university” (Fayolle & Redford, 2014) e
“Inovação e empreendedorismo na universidade” (Audy & Morosini, 2006), acrescentando-se,
assim, 35 estudos à pesquisa. Dessa maneira, totalizou-se 289 trabalhos analisados.
Os títulos, autores, periódicos e anos dos textos foram digitados em planilha Excel e a
seguir inseridos no software Sphinx® Survey versão 5.1.0.4, para contagem de palavras e análise
de conteúdo. Optou-se pela utilização do recurso Análise Lexical para identificação das palavras
mais utilizadas e redução do volume a ser trabalhado. Foram excluídas as palavras
conectivas e consideradas não relevantes à pesquisa (preposições, conjunções, artigos, numerais,
pronomes e verbos de ligação). Também se utilizou o recurso de reagrupamento, unindo as
palavras com a
23
mesma raiz automaticamente pelo software, que utiliza um dicionário do próprio sistema (Freitas
et al., 2009).
Após a redução acima descrita, iniciou-se a fase de tratamento dos dados por meio da
técnica de análise de conteúdo, a qual tem como objetivo identificar o crescimento quantitativo e
a diversificação qualitativa dos estudos empíricos (Bardin, 2011). Foram marcadas e extraídas
dos títulos as palavras relevantes, relacionando-as com as variáveis da pesquisa. Além disso,
foram lidos os abstracts dos artigos, a fim de melhor analisar os conteúdos.
A figura 1 ilustra os procedimentos utilizados desde a escolha do termo do estudo às
considerações finais sobre os dados revelados nesta pesquisa.
4. Resultados e Discussão
Observando as áreas das publicações (Figura 3), constata-se que as áreas de Ciências
Sociais (47,9%) e de Gestão/Negócios (44,4%) foram as que mais tiveram publicações, seguidas
por Economia com 20,7%. A temática universidade empreendedora é um assunto
multidisciplinar, uma vez que está ligada a todos os campos do conhecimento.
Embora nos estudos mais citados seja dada ênfase ao papel da universidade como
protagonista do desenvolvimento econômico, não fica evidenciada a preocupação com a criação
de valor que agregue a geração de riquezas para os membros da sociedade e a melhoria do
aproveitamento dos recursos disponíveis, por exemplo. Isso indica que há um maior interesse nas
pesquisas realizadas sobre a transferência e comercialização de tecnologia, a propriedade
intelectual, o registro de patentes, as relações entre universidade-governo-indústria.
Intern. Journal of
A Gibb, P Entrepreneurship
459 Hannon Towards the entrepreneurial university 2006 Education
B Godin, Y The place of universities in the system of knowledge
423 Gingras production 2000 Research policy
Encouraging university entrepreneurship? The effect Journal of
of the Bayh-Dole Act on university patenting in the Business
412 S Shane United States 2004 Venturing
H Etzkowitz, M The innovating region: toward a theory of
401 Klofsten knowledge‐based regional development 2005 R&D Management
M Perkmann, V
Tartari, M Academic engagement and commercialisation: A
McKelvey, E review of the literature on university–industry
370 Auti relations 2013 Research Policy
A Bramwell, Universities and regional economic development:
357 DA Wolfe The entrepreneurial University of Waterloo 2008 Research Policy
The Journal of
P D'este, M Why do academics engage with industry? The Technology
344 Perkmann entrepreneurial university and individual motivations 2011 Transfer
EG Carayannis, 'Mode 3'and'Quadruple Helix': toward a 21st century International
343 DFJ Campbell fractal innovation ecosystem 2009 Journal of …
Building an innovation hub: A case study of the
J Youtie, P transformation of university roles in regional
336 Shapira technological and economic development 2008 Research policy
Figura 6: Artigos mais citados
Fonte: Dados da pesquisa
(Scopus)
A análise lexical, cujo objetivo foi identificar a frequência das palavras em relação aos
temas e abordagens emergentes de universidade empreendedora, foi realizada a partir dos títulos,
excluindo as palavras conectivas e não representativas para este estudo. Das 351 palavras (Figura
7) identificadas, 06 delas aparecem com frequência superior a 20 repetições: A primeira delas – a
palavra caso (case - 28 repetições) – demonstra que muitas publicações apresentam modelos de
universidades empreendedoras em diferentes países. As palavras conhecimento (knowledge) e
pesquisa (research) retratam a preocupação dos pesquisadores na aplicação da produção das
universidades, na maioria das vezes, essa produção destinada à indústria (industry – 10
repetições). Já a palavra tecnologia (technology - 17 vezes como locução adjetiva para a palavra
transferência)
– enfatiza a necessidade de aplicar essa produção acadêmica para as indústrias (industry – 10
repetições). Isso reforça os resultados identificados na análise das produções mais citadas.
As palavras academia (academic) e desenvolvimento (development), utilizadas 24 e 23
vezes respectivamente, pretendem apresentar estudos sobre universidade empreendedoras que
desenvolvem o conhecimento e habilidades para incentivar as atividades empreendedoras como
um mecanismo de apoio indireto entre os empreendimentos e a universidades. Os estudos
revelaram que a educação para o empreendedorismo tem sido amplamente estabelecida nas
universidades europeias, uma vez que desempenham um papel fundamental na criação de startups
e spin-offs acadêmicas. As universidades também podem promover a criação de novos
empreendimentos pelos estudantes após a graduação deles, bem como apoiá-los na sua carreira,
desenvolvendo uma orientação empreendedora dentro de seus empreendimentos e empresas
(Kuratko, 2005).
Os cursos de bacharelado são mais destacados e relacionados ao desenvolvimento
tecnológico, tais como os das Engenharias, Ciência da Computação e Química, por exemplo.
Observa-se que não são contemplados os cursos de licenciatura nos estudos analisados.
23
A análise de conteúdo foi realizada a partir dos títulos e dos abstracts (Figura 8). O
conteúdo mais apresentado nos estudos foi “transferência de tecnologia”. A palavra modelo
também aparece 42 vezes, agregadas a elas as palavras “construção”, “desenho”, “arquitetura” e
“anatomia”, reforçam as reflexões já apresentadas sobre o esforço dos pesquisadores em
disseminar estudos sobre a necessidade de expandir o conceito de universidade empreendedora,
demonstrando quais fatores institucionais e quais processos impactam nessa transformação, quais
caminhos a serem percorridos nessa mudança de paradigma de instituição fechada para si (“ivory
tower”) para uma universidade que atenda as demandas da sociedade.
Constatou-se que a literatura sobre as contribuições das universidades para o
desenvolvimento regional é ampla e diversificada. Um entendimento preciso de como as regiões
podem tirar vantagens das várias atividades da universidade e o papel delas na promoção dessas
atividades ainda não está delineado, pois faltam estudos que demonstrem as contribuições das
universidades para o desenvolvimento em contextos que ainda não têm desenvolvimento
tecnológico.
23
Figura 8: Análise de conteúdo de títulos e abstracts: temas mais frequentes nos estudos
Fonte: Dados da pesquisa (Sphinx)
5. Considerações finais
Uma das limitações deste estudo é que ele se baseia apenas na Scopus e em dois ebooks
que estão disponíveis para consulta, mostrando uma visão fragmentada sobre o tema da pesquisa.
Sugere-se que estudos futuros devam considerar outros bancos de dados de pesquisa. Outra
limitação da pesquisa foi a busca pela expressão "universidade empreendedora", a qual pode ter
deixado de contemplar publicações que englobem essa temática, tal como “universidade
inovadora”. Reforça-se também a necessidade de apresentar um mapeamento mais detalhado dos
contextos nos quais foram colhidas as amostras apresentadas nos estudos analisados.
Finalmente, recomenda-se a realização de mais estudos para avaliar qualitativamente a
literatura científica produzida sobre universidade empreendedora, a fim de apresentar e validar
modelos de universidades empreendedoras.
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The Society for Research into Higher Education and Open University Press
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1. AS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
estimular à atividade inovadora em diferentes esferas. Essa Lei de Inovação, também com como
um arcabouço jurídico-institucional – visava ao fortalecimento das áreas de pesquisa e da
produção de conhecimento no Brasil, em especial da promoção de ambientes cooperativos para a
produção científica, tecnológica e da inovação no país (Rauen, 2016).
Em 2016, foi aprovada a Lei Federal nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016, que instituiu o
Código de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de alterar a Lei de Inovação anterior, a nova Lei
de Inovação dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento científico à pesquisa, à capacitação
científica e tecnológica e à inovação. Rauen (2016) enfatiza que o novo Código é resultado de um
processo de cerca de cinco anos de discussões entre atores do Sistema Nacional de Inovação
(SNI) nos âmbitos das Comissões de Ciência e Tecnologia da Câmara e do Senado, as quais
tinham como ponto de partida o reconhecimento e a necessidade de alterar pontos na Lei de
Inovação e em outras nove leis relacionadas ao tema, de modo a reduzir obstáculos legais e
burocráticos e conferir maior flexibilidade às instituições atuantes nesse sistema.
O Código, segundo Rauen (2016), avança em diversos pontos na promoção de um
ambiente regulatório mais seguro e estimulante para a inovação no Brasil, destacando-se: a
formalização das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) privadas, pois na Lei de 2004, só era
considerada ICT “órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional,
entre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou
tecnológico” (Brasil, 2004, art.2, inciso V).
Nos último anos, alguns pesquisadores importaram mecanismos de transferência de
tecnologia de outros países e adaptaram às circunstâncias brasileiras. Inicialmente, esses projetos
foram isolados, de pequena escala e não oficiais, mas logo alcançaram apoio de fora das
universidades, especialmente dos municípios. Apesar da oposição nas universidades, os
iniciadores desses projetos ganharam força por meio da formação de redes que atravessaram as
instituições (Etzkowitz e Mello, 2004).
Os únicos estudos identificados sobre as universidades empreendedoras brasileiras foram
em relação à Unicamp e às católicas PUC-Rio e PUC-RS, todas localizadas nas regiões Sudeste e
Sul.
A Unicamp – fundada em 1966 – “foi concebida como uma universidade de pesquisa que
poderia antecipar as demandas tecnológicas da indústria” (Dagnino & Velho, 1998, p. 230),
diferentemente das demais universidades brasileiras existentes, e enfatizando os planos
governamentais de promover a autonomia tecnológica. Além disso, a Unicamp, por estar
localizada na região mais desenvolvida e industrializada do país, poderia contribuir com os
planos governamentais que enfatizavam a autonomia tecnológica e a participação do Brasil na
arena internacional, com pesquisas em áreas estratégicas como energia e telecomunicações, com
pesquisa em fibra ótica, lasers e exploração de petróleo, que seriam então absorvidas pelas
grandes empresas estatais brasileiras (Dagnino & Velho, 1998).
De acordo com o Inglez et al. (2016), o histórico dessa instituição está embasado em
ações voltadas à pesquisa, inovação e empreendedorismo. Em 1984, a Unicamp criou a CPPI –
Comissão Permanente de Propriedade Industrial, para atender especificamente a produção dos
professores inventores da Unicamp. Nos anos 1990 foi criado o ETT – Escritório de
Transferência de Tecnologia, para sistematizar as relações com a indústria, que se transformou
no EDISTEC – Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos, em 1998.
Em 2003, foi criada a Agência de Inovação da Unicamp, Inova Unicamp, com o objetivo
principal de estabelecer uma rede de relacionamentos da Unicamp com a sociedade para
incrementar as atividades de pesquisa, ensino e avanço do conhecimento. Atualmente, sua missão
consiste em identificar oportunidades e promover atividades de estímulo à inovação e ao
empreendedorismo, ampliando o impacto do ensino, da pesquisa e da extensão em favor do
desenvolvimento socioeconômico sustentado (Inglez et al., 2016).
Em relação ao empreendedorismo, a Inova Unicamp tem como atribuição estimular a
criação e desenvolvimento de novas empresas de base tecnológica, por meio da oferta de
infraestrutura e de capacitação tecnológica e gerencial para novos empreendedores (INCAMP);
fomentar o ambiente empreendedor dentro da Universidade, por meio da organização de
disciplinas específicas sobre o tema e programas como o Líder em Inovação, que capacita
profissionais dos diversos Institutos da UNICAMP; e estimular uma atitude empreendedora entre
seus alunos. (www.inova.Unicamp.br).
Ainda destacam-se as competições de modelos de negócios – Desafio Unicamp, Inova
Jovem e Software Experience, as disciplinas de empreendedorismo e a rede de empresas-filhas da
Unicamp. Ao longo de três meses, o Desafio Unicamp realiza workshops, palestras e mentorias
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Outra ação fundamental para o ciclo de inovação e complementar às ações já descritas foi
a criação da Gávea Angels, uma rede de investidores anjos e um fundo de capital semente para
apoio às empresas egressas dos grupos de pesquisa e/ou incubadas e graduadas das incubadoras
(Guaranys, 2010).
O grupo de pesquisa TeCGraf pode ser considerado um exemplo de “quase firma”,
conceito utilizado por Etzkowitz (2003). É um grupo com quase 200 pessoas permanentes que
desenvolvem projetos para empresas – que tem como seu parceiro principal a Petrobrás, além da
atividade de manutenção dos produtos já entregues aos clientes.
O diferencial da PUC–Rio, como universidade privada, é sua transformação de
universidade de pesquisa em uma universidade empreendedora, sobretudo pela inclusão da
formação de empreendedores e de empresas em seus objetivos. Fato que ocorreu por meio da
evolução dos grupos de pesquisa tradicionais para grupos de pesquisa empreendedores.
(Guaranys, 2010).
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2. AS UNIVERSIDADES AMERICANAS
Nos Estados Unidos, vários fatores facilitaram a inovação aberta, os quais incluem, entre
outros, o aumento do capital de risco, a aprovação da Lei Bayh-Dole (incentivo para que as
universidades realizem avanços científicos com financiamento federal), e importantes avanços
tecnológicos em computação (microprocessador), biotecnologia (engenharia genética) e, mais
recentemente, nanotecnologia (Rothaermel et al., 2007; Carayannis et al., 2016). Como resultado,
desde o início da década de 1980, as universidades americanas aumentaram consideravelmente
suas patentes e licenciamentos, criando incubadoras, parques científicos e spin-outs universitários
e investindo equidade em startups, entre outros indicadores (Mowery et al., 2004; Siegel, 2006).
À medida que a economia dos EUA mudou da agricultura para a indústria, houve uma
mudança correspondente na ênfase do foco das instituições acadêmicas na relevância prática. A
Universidade de Stanford foi fundada para auxiliar o desenvolvimento econômico daquela região
e fez isso por meio da aplicação de tecnologia elétrica, via startups (Lécuyer, 2005).
Esses desenvolvimentos expandiram o modelo de uma universidade voltada para apoiar as
indústrias existentes para uma universidade envolvida na criação de novas indústrias com base
em tecnologias existentes e, em seguida, novas indústrias baseadas em novas tecnologias
originadas na universidade (Etzkowitz, 2013).
Carayannis et al. (2016) afirmam que a infraestrutura física, bem como as abordagens
para a comercialização de tecnologia nas universidades dos EUA é extremamente flexível. A
Figura 12 apresenta o processo idealizado de comercialização de tecnologia nas instituições de
ensino superior.
A P&D bem sucedida inicia o processo de comercialização. Se resultar em uma invenção,
a invenção é conhecida pelo escritório de transferência de tecnologia da universidade por meio de
um formulário de informação preenchido. Um especialista desse escritório, que coordena o
trabalho sobre a invenção, é nomeado e a tecnologia é avaliada. Se a avaliação considerar que a
invenção não é comercialmente viável, a invenção é enviada de volta ao processo de P&D para
refinamento (se não for abandonada). Caso a invenção seja julgada comercialmente viável, a
avaliação determina o tipo de proteção de propriedade intelectual será buscada e se uma patente
deve ser aplicada, bem como estabelecer o modelo apropriado de comercialização tecnológica,
explicam Carayannis et al. (2016).
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Nos Estados Unidos, de acordo com Carayannis et al. (2014), existem dois modelos
básicos de comercialização de tecnologia: o contrato de licença com uma empresa existente que
está interessada em uma nova tecnologia; e a startup que utiliza a propriedade intelectual da
universidade (a universidade pode licenciar com uma empresa existente ou com uma nova
empresa iniciada com uma licença de tecnologia).
A seguir, são apresentados os casos identificados na revisão sistemática da literatura sobre
as universidades americanas empreendedoras:
3. AS UNIVERSIDADES CANADENSES
abraçar desafios e ampliar o espírito empreendedor, ao mesmo tempo que lhes proporciona as
bases críticas para começar um negócio (www.haskayne.ucalgary.ca/hunter-centre).
4. AS UNIVERSIDADES EUROPEIAS
As universidades europeias, que anteriormente recebiam quase todo o seu rendimento das
subvenções governamentais, passam pelo processo de diversificação de fontes de recursos,
formando associações de ex-alunos para se conectar com seus graduados e estabeleceram
escritórios para captação de fundos (Etzkowitz, 2013)
Na universidade empreendedora europeia educa-se e gradua-se, tanto a organizações
quanto a indivíduos. O foco em educar empresários e formar grupos de estudantes como
empresas pode explicar o rápido aumento da formação de empresas na Suécia, um país
anteriormente conhecido por seu complexo de grandes empresas de tecnologia vinculadas a um
abrangente sistema de previdência social (Etzkowitz, 2013), que desde o início da década de
1990, a Suécia vem transformando sua política nacional de pesquisa em política de inovação.
Uma das respostas de baixo para cima dessa iniciativa de alto nível tem sido uma tentativa, por
parte de algumas universidades suecas, de transformar-se em instituições empreendedoras (Jacob
et al., 2003)
Para que as universidades suecas pudessem satisfazer a demanda por uma maior interação
com o resto da sociedade, teriam de ser auxiliados por várias instituições facilitadoras. Os dois
principais argumentos que motivaram esta posição foram: (a) a divisão cultural entre a
universidade e o resto da sociedade para que a ciência deixasse de ser conduzida por imperativos
internalistas em vez de demandas da sociedade e (b) sentiu-se que as universidades não tinham
muita das competências e recursos que seriam necessários para prosseguir com sucesso um
envolvimento mais ativo com o resto da sociedade. Foi neste contexto que o estado sueco
introduziu uma nova classe de instituições conhecidas como as bases da ponte tecnológica (Jacob
et. Al., 2003).
Tradicionalmente, os esforços para criar mais universidades empreendedoras no Reino
Unido nos últimos anos concentraram-se na oferta de incentivos fiscais, tais como: Fundo de
Inovação do Ensino Superior (HEIF), o qual pretende incentivar as universidades a construir
vínculos com a comunidade empresarial e formar parcerias para desenvolver centros de inovação,
por exemplo; Fundo de Desafio da Ciência Empreendedora destinado a incentivar o ensino do
empreendedorismo para estudantes de ciências e engenharia e o Fundo de Desafio Universitário
destinado a fornecer aos funcionários da universidade, a fim de auxiliar a transformação bem-
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sucedida de boa pesquisa em boas práticas (Kirby, 2006). No entanto, de acordo com esse autor,
nem todas as universidades britânicas são agraciadas com esses fundos, o que torna duvidosa a
eficácia desses investimentos a longo prazo e a sua capacidade de transformar a atuação dessas
universidades daquele país.
Na Espanha, um exemplo é a reforma espanhola no ensino superior em 2006, que visa
melhorar o empreendedorismo por meio de programas, bolsas e contratos de formação e
educação continuada. Ao mesmo tempo, foram implementadas estratégias para estreitar a relação
universidade-empresa (Guerrero & Urbano, 2011).
Essas estratégias adotadas baseiam-se na transferência de conhecimento e tecnologia das
universidades espanholas. Em seus estudos, Guerrero e Urbano (2012b) destacam algumas
universidades em Madri (Universidade Autônoma de Madri e Universidade Politécnica de
Madri); em Valência (Universidade Miguel Hernández de Elche e Universidade Politécnica de
Valência); e, da região da Catalunha (Universidade Autônoma de Barcelona). Esses estudos
apontam que as melhores estratégias são as firmadas entre a universidade, governo e indústria,
tais como a implantação de políticas e bolsas de estudo para pesquisa, acordos para educação e
formação continuada e criação de parques de pesquisa e incubadoras.
De acordo com Guerreiro et al. (2012), os modelos iniciais da Universidade Autônoma de
Barcelona e da Universidade Politécnica da Catalunha eram focados na promoção do espírito
empreendedor, mas foram sendo alterados para a identificação e a exploração de oportunidades
empresariais. Neste contexto, as universidades espanholas desenvolveram várias estratégias
(programas de criação de negócios ou transferência de tecnologia). A seguir serão apresentados
os estudos sobre a Universidade Autônoma de Barcelona.
A UAB está inserida num ecossistema empreendedor, pois o design organizacional está
baseado em parcerias e colaboração com diferentes agentes sociais (públicos e privados), e
especialmente com a parte empresarial. Desde 1999, a UAB implementou vários programas por
meio do seu escritório de transferência de tecnologia (OTT), dentre esses programas o de
incubadoras (biotecnologia em 2005), o de ajuda financeira (Uniba Network em 2005), o edifício
Eureka para pesquisa de inovação (2006) e a Esfera UAB (2007) foram os mais importantes
mecanismos de apoio implementados nos últimos anos. Até 2007, a UAB contava com mais de
27 spin-offs tecnológicas e biotecnológicas que geraram mais de 90 empregos e produziram
vários trabalhos nesses campos científicos. Estes resultados ilustram o intercâmbio cooperativo
realizado por empresários, universidades, indústria e sociedade desenvolvidos por incubadoras
(Guerrero et al., 2011).
Nos cursos de graduação, os estudantes matriculados em economia comercial podem criar
empresas e os alunos de pós-graduação podem estudar alguns assuntos relacionados ao
empreendedorismo e ao desenvolvimento econômico e regional. Além disso, a UAB está
tentando ampliar a educação para empreendedorismo para todas as disciplinas (Guerrero et al.,
2011).
uma das maiores intensidades de I & D per capita na Europa. Esse contexto foi uma das
principais razões pelas quais, em 1994, o governo escolheu Chalmers como a única universidade
técnica sueca a ser transformada de uma universidade estadual em uma fundação. (Fogelberg &
Lundqvist, 2012).
Na década de 1970, introduziu-se uma série de iniciativas destinadas a facilitar o
surgimento de startups. Juntas, essas iniciativas representam um sistema de estruturas
ligeiramente conectadas, todas voltadas para a comercialização de novas tecnologias, que podem
ser divididas em capital de risco e instalações de propriedade intelectual (Chalmersinvest,
Innovationskapital, Research Patents West, Inc.), 6 incubadoras, um parque de pesquisa,
educação para empreendedorismo (Chalmers School of Entrepreneurship) e programas de
consultoria e educação complementar (Chalmers Advanced Management Programs-Champs)
(Jacob et al., 2003).
Além dos campus de Johanneberg e o de Lindholmen, Chalmers tem ainda um
observatório astronômico em Onsala (Onsala Rymdobservatorium), um instituto de produtos
alimentares e de biotécnica em Delsjön (Institutet för Livsmedel och Bioteknik) e um
departamento de biotecnologia molecular no Laboratório Lundberg (Lundbergslaboratoriet)
(www.wikepedia.com) A Chalmers Industrial Technology (CIT) é uma base que oferece serviços
à indústria e há
25 anos é uma entidade autofinanciada, ligando a indústria e a academia, fazendo com que as
habilidades e pesquisas de Chalmers estejam disponíveis para empreendimentos comerciais na
Suécia e no exterior. Sete subsidiárias foram formadas em áreas com uma demanda permanente
dos clientes (Berrgren, 2011).
Chalmers é conhecida por sua longa tradição de cooperação com a indústria e a sociedade
e por suas atividades empreendedoras, como a Chalmers School of Entrepreneurship (CSE),
como sendo a linha de frente na Suécia. Chalmers tem uma longa história de pesquisa tecnológica
distinta, que oferece boas oportunidades de comercialização (Berrgren, 2011). A CSE, desde o
início em 1997, educou cerca de 200 alunos e deu origem a 40 empresas Não só ideias
empreendedoras avançadas da pesquisa universitária são correspondentes a equipes de estudantes
de empreendedorismo, mas também a uma rede internacional exclusiva da indústria envolvida
para suporte. Existem quatro escolas em conexão (CSE, GIBBS, ICM e Educação para o
Empreendedorismo na Universidade de Gotemburgo), a fim de manter as pequenas entidades
capazes de fazer alianças possíveis (Berrgren, 2011).
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Chalmers Innovation é uma incubadora que iniciou suas atividades em 1999, apoiou mais
de 90 startup. Essa incubadora avalia mais de 100 ideias por ano, baseadas em tecnologia inicial,
principalmente da pesquisa universitária, mas também da indústria ou inovadores externos
privados.
A Chalmersinvest é uma fonte comum para encontrar financiamento, considerado como
uma atividade principal, juntamente com a competência de recrutamento e modelagem de
negócios. O inovador / pesquisador está sempre envolvido e os alunos são usados para assumir o
papel empreendedor, especialmente na fase inicial, quando apenas são oferecidos riscos. Às
vezes, eles crescem, escutam, aprendem e gerenciam a continuação, caso contrário, a
competência adicional será recrutada mais tarde. O envolvimento da Chalmers Innovation
gradualmente diminui com o aumento da competência nas startups, quando as empresas
iniciantes têm negócios internacionais e repetitivos, um fluxo de caixa positivo e um forte
financiamento (Berrgren, 2011).
O sucesso da Chalmers foi estabelecido por alguns pioneiros que interagiram com a
sociedade e formaram a base para o desenvolvimento inicial de uma universidade
empreendedora. A longa tradição de cooperação contribuiu para que Chalmers estivesse
preparada para a mudança do papel das universidades com a “terceira missão”. Outros fatores
contribuintes para a transformação precoce de Chalmers em uma universidade empresarial são
uma abordagem pragmática geral, como sendo uma universidade de engenharia, além de ser uma
universidade privada, criou espaço de ação (Berrgren, 2011).
5. AS UNIVERSIDADES ASIÁTICAS
Na Ásia, as atividades empreendedoras nas universidades são moldadas por vários fatores
(Reyes, 2016). O estudo de Zhou e Peng (2008), conforme cita Reyes (2016) que abrange as
universidades chinesas, descobriu que fatores internos como a pesquisa, a transferência de
tecnologia e as capacidades empresariais são importantes durante a transição para o modelo
universidade empreendedora. O aumento do número de empresas estabelecidas nas universidades
ocorreu devido às fortes políticas promulgadas pelo governo e ao apoio financeiro de capitalistas
de risco.
No estudo de Hu (2009) discutiu que a cultura empreendedora em universidades
taiwanesas e a importância das fontes de financiamento pública e privada para auxiliar a
construção de universidades empreendedoras, pois o financiamento privado da pesquisa é um
guia para preencher
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6. AS UNIVERSIDADES AFRICANAS
PARTICIPANTES DA PESQUISA
Nome: Idade:
Função atual:
Tempo na função:
Cargo:
ANEXO 1*
Segunda, 05 Março 2018 09:32
SOBRE O EMPREENDEDORISMO NO CURRÍCULO DA UFMT - MAELISON
NEVES
O congelamento dos gastos públicos foi uma imposição do governo para “acalmar” o mercado, sendo um dos principais
responsáveis pelo estrangulamento das políticas de educação, seguro social, assistência social e saúde. As reformas da previdência
e trabalhista são demandas do mercado e estão em dissonância com as necessidades da população brasileira, sobretudo aqueles a
quem são impostas condições indignas de vida. Assim, esse discurso de universidade pública como parceira do mercado é muito
perigoso, pois ela deve servir ao povo brasileiro, cujas necessidades muitas vezes são antagônicas às de geração de lucro
empresarial, sobretudo no que diz respeito aos bancos, latifundiários e multinacionais, os mimados investidores, cujos nervos tem
sigo obsessão dos governos lacaios acalmar.
Além disso, o empreendedorismo, nos moldes do mercado, tem sido utilizado como discurso ideológico que disfarça o notável
privilégio das grandes corporações no acesso ao crédito, concessão de baixas taxas de juros e perdão de dívidas e multas,
enquanto o pequeno empreendedor sofre com maior taxação proporcional de impostos (nosso sistema é regressivo: quem ganha
menos paga mais), maior dificuldade de acesso ao crédito ou, ao menos, em condições menos favoráveis que as grandes
corporações, além de não ter sido beneficiado nas recentes anistias concedidas pelo congresso para o Itaú e agricultores-
empresários-corporativos, por exemplo. Vide as diferenças de crédito para latifundiários, Eike Batista e agricultores familiares.
Partindo do princípio de defesa de uma sociabilidade igualitária, nota-se que o empreendedorismo (nos moldes capitalistas) não é
a saída para nossos estudantes nem para a universidade. Implantar a lógica do mercado na produção/aplicação do conhecimento
(razão implícita desse curso que a universidade nos oferece - qual o custo disso?) não vai resolver a crise estrutural da
universidade pública, que tem nos cortes de financiamento público e desresponsabilização do Estado sua expressão mais palpável.
O momento requer a ousadia de não se dobrar, não se isolar do povo, não ceder aos ditames neoliberais, mas fortalecer os laços da
universidade pública com os movimentos sociais e populares, intensificar a luta por uma sociedade mais justa, igualitária e livre
de explorações e opressões.
*Extraído de http://www.adufmat.org.br em 10/março/2018