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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O Câncer (CA) de Colo de Útero é o quarto tipo câncer mais frequente entre as
mulheres em todo mundo e possui o rastreamento e a detecção precoce como principal
ferramenta no seu combate. O objetivo do estudo é analisar informações contidas nos
resultados dos exames citopatológicos de colo uterino colhidos em uma unidade de
saúde da família no município de Maceió–AL, no período entre 2016 e 2019. Sendo
este, um estudo longitudinal retrospectivo, de natureza quantitativa. As variáveis
analisadas foram: faixa etária das pacientes avaliadas, microbiologia e descrição do
diagnóstico descritivo das alterações celulares presentes nas amostras. A faixa etária
predominante foi entre 21 a 29 anos, 277 mulheres (28,15%) das coletas entre 2016 e
2019, de um total de coletas de 984 mulheres. Os organismos encontrados mais
comuns foram: lactobacilos (40,8%), cocos (39,7%) e outros bacilos (32,9%). Quanto
ao diagnóstico descritivo das amostras os resultados denotam apenas 3% (35 amostras)
dentro da normalidade, sem quaisquer alterações. Os demais 96% (949 amostras)
apresentaram alterações, benignas ou atipias celulares. No montante de 984 amostras,
1% (15 amostras) continham achados celulares atípicos, dos quais: 8 resultados de
lesão intraepitelial de baixo grau – LSIL (0,81%); 3 resultados de Lesão intraepitelial
de alto grau - HSIL (compreendendo NIC graus II e III) (0,3%); e, 4 resultados de
Células atípicas de significado indeterminado (0,4%).
ABSTRACT
Cervical Cancer (CA) is the fourth most common cancer among women worldwide
and has screening and early detection as the main tool in its fight. The aim of the study
is to analyze information contained in the results of cervical cytopathological exams
collected at a family health unit in the city of Maceió – AL, in the period between 2016
and 2019. This being a longitudinal retrospective study, of a quantitative nature. The
variables analyzed were: age range of the patients evaluated, microbiology and
description of the descriptive diagnosis of cellular changes present in the samples. The
predominant age group was between 21 and 29 years old, 277 women (28.15%) of the
collections between 2016 and 2019, out of a total collection of 984 women. The most
common organisms found were: lactobacilli (40.8%), coconuts (39.7%) and other
bacilli (32.9%). As for the descriptive diagnosis of the samples, the results show only
3% (35 samples) within the normal range, without any changes. The remaining 96%
(949 samples) presented alterations, benign or atypical cells. In the amount of 984
samples, 1% (15 samples) contained atypical cell findings, of which: 8 results of low-
grade intraepithelial lesion - LSIL (0.81%); 3 results of high-grade intraepithelial
lesion - HSIL (comprising CIN grades II and III) (0.3%); and, 4 results from atypical
cells of undetermined significance (0.4%).
1 INTRODUÇÃO
O Câncer (CA) de Colo de Útero foi indicado como o quarto tipo câncer mais
frequente entre as mulheres em todo mundo, representando 3,2% entre todos tumores
malignos. No Brasil existem diferentes incidências regionais. Com base nos dados
fornecidos pela Estimativa 2020 do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes
da Silva (INCA), na região Nordeste ele é o segundo mais incidente em mulheres. (1)
O CA de Colo de útero é causado pela infecção não tratada e evolutiva do
Papilomavírus humano (HPV), que infecta cerca de 80% das mulheres e homens
sexualmente ativos em algum período da vida, com pico de prevalência entre os 15 e
25 anos de idade. (2)
Esta pesquisa teve como objetivo analisar informações relativas aos resultados
dos exames citopatológicos de colo uterino colhidos em uma unidade de saúde da
família no município de Maceió–AL, no período entre 2016 e 2019. Para que se possa
identificar e estratificar a porcentagem das patologias reveladas ao exame; determinar
a distribuição das mulheres por faixa etária das coletas do exame Papanicolau e
quantificar as anormalidades em células epiteliais. E, por conseguinte, adicionar à
literatura informações sobre o comportamento feminino diante do rastreamento, dos
resultados e da continuidade do cuidado numa população usuária do Sistema Único de
Saúde.
2 MÉTODOS
Trata-se de um estudo longitudinal, de natureza quantitativa, no qual foram
avaliados os resultados de exames citopatológicos de colo uterino em mulheres
assistidas na Unidade de Saúde da Família. O estudo foi realizado na Unidade Docente
Assistencial (UDA) Dr. José Lages Filho, no período entre 2016 e 2019.
A unidade é composta por uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF)
atua com uma população de 4.119 habitantes (E-SUS, 2020), e é composta por 7
microáreas. A população alvo de mulheres que estão na faixa etária de 25 a 64 anos é
de 1.248, no universo de 1730 mulheres cadastradas a partir de 15 a 70 anos (E-SUS,
2020).
Foram avaliados resultados dos exames citopatológicos de colo uterino,
coletados entre 2016 e 2019, de mulheres em faixas etárias distintas, a serem
determinadas a partir da análise das informações. A coleta de dados se deu através da
avaliação das informações contidas no livro de registro dos resultados dos exames
citopatológicos da unidade, onde, através do mesmo pode-se traçar o perfil em estudo,
estratificando os achados.
O projeto é composto de uma pesquisa com embasamento descritivo,
discriminados por predominâncias: apresentação e limites de normalidade, faixa etária,
microbiologia e anormalidades epiteliais.
Foram selecionadas as variáveis referentes à idade, adequabilidade do material
coletado, microbiologia e alterações celulares. As idades foram categorizadas em
faixas etárias pré-estabelecidas (15-20; 21-29; 30-39; 40-49; 50-59; 60-69; e 70 ou
mais anos). A adequabilidade do material foi classificada como satisfatória ou não. Os
agentes microbiológicos, alterações celulares benignas e atipias celulares.
3 RESULTADOS
Observou-se amostras convencionais de 984 mulheres, a partir de exames
citopatológicos cervicais colhidos em uma USF do Município de Maceió - AL, entre
os anos de 2016 e 2019, as informações descritas seguem o Manual de Nomenclatura
Brasileira para Laudos Citopatológicos Cervicais. Seguiu-se os critérios apresentados
anteriormente de modo a excluir amostras insatisfatórias em decorrência de causas
alheias ao laboratório e leitura prejudicada.
Figura 1. Distribuição das mulheres de acordo com a faixa etária das coletas de exame citopatológico
de colo uterino realizados entre 2016 e 2019 em uma USF de um município de AL.
28,15%
FAIXA ETÁRIA
22,25%
21,44%
16,66%
5,60%
4,87%
predominante foi entre 40 a 49 anos, com um total de 219 mulheres (22,25%) das
coletas entre 2016 e 2019, de um total de coletas de 984 mulheres. A menor faixa etária
abordada concentrou-se na população acima de 60 anos contabilizando 57 mulheres
(5,79%). A maioria dos exames era de mulheres com idade entre 21 a 69 anos.
Figura 2. Resultados da microbiologia presente nos exames citopatológicos de colo uterino em USF
entre os anos de 2016 e 2019.
40,80%
39,70% M ICRO B IO LO G IA
32,90%
9,10%
8,50%
1,30%
0,10%
Figura 3 – Resultados dos exames citopatológicos de colo uterino, relativos ao diagnóstico descritivo
das alterações encontradas, entre os anos de 2016 e 2019.
DIAGNÓSTICO DESCRITIVO
95%
4% 96%
1%
NORMALIDADE ALTERAÇÕES
ALTERAÇÕES BENIGNAS ALTERAÇÕES - ATIPIAS
Fonte: Autoras (2021).
4 DISCUSSÃO
A atenção primária à saúde tem o rastreamento como ferramenta principal no
combate do Câncer de colo uterino, desta forma, os profissionais que atuam nesse nível
de atenção devem conhecer o método, a periodicidade e a população-alvo
recomendada, com intuito de orientar e encaminhar para tratamento as mulheres de
acordo com as alterações dos exames e garantir a continuidade da assistência.
O fator de risco de grande relevância são as Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST’s), pois elas aumentam o risco de exposição ao vírus papiloma
humano (HPV), cujas pesquisas apontam correlação no desenvolvimento da neoplasia
das células cervicais e na sua transformação em células cancerígenas. O HPV está
presente em 99% dos casos de câncer de colo de útero, a faixa etária de maior
incidência a de 35-49 anos de idade, entre as mulheres que nunca realizaram o exame
de rastreamento. (5)
No entanto, a triagem do câncer do colo do útero no Brasil, preconizado pelo
Ministério da Saúde (MS), é o exame padrão entre as mulheres de 25 a 64 anos na
Atenção Primária. Nesta circunstância, a recomendação é repetir a citologia cervical a
cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo
de um ano. A efetividade do programa de controle do câncer do colo do útero é atingida
com a garantia da organização, da integralidade e da qualidade dos serviços, bem como
a resolutividade dos casos alterados. (1)
Apesar das recomendações do MS, o presente estudo revelou um expressivo
percentual de realização do exame citopatológico fora da faixa etária preconizada
(11,47%), o que sugere um número significativo de procedimentos diagnósticos e
terapêuticos desnecessários. O método utilizado no Brasil é oportunístico, ou seja, as
pacientes realizam o exame de Papanicolau quando procuram a Estratégia de Saúde da
Família.
Por consequência, 20% a 25% das coletas têm sido realizados fora do grupo
etário recomendado e aproximadamente metade delas com intervalo de um ano ou
menos, quando o preconizado são três anos. Assim, há um contingente de mulheres
superrastreadas e outro contingente sem qualquer exame. (6)
A distribuição homogênea em colunas das faixas etárias do estudo apresentou
pico de incidência na segunda e quarta década de vida, diferentes a outros estudos que
relataram na terceira e quarta década. (7) Observou-se que 56 exames citopatológicos
foram realizados por mulheres com idade inferior aos 20 anos, sendo grande parte
menores de 14 anos, apontando para o início precoce das relações sexuais, o que
aumenta o risco do câncer cervical.
Sabe-se que a zona de transformação do epitélio cervical é mais proliferativa
durante a puberdade, sendo este período mais vulnerável a alterações causadas pelas
IST`s. No que tange à faixa etária, há inúmeros indícios que, direta ou indiretamente,
a triagem em mulheres com menos de 25 anos não tem impacto na redução da
incidência ou mortalidade por câncer do colo do útero. (8) Faz-se necessário fomentar
programas de atenção voltados para as adolescentes.
A realização periódica da citologia cervical é a ferramenta de rotina praticada
na Atenção Primária à Saúde para rastrear o câncer do colo do útero. Alcançar alta
cobertura da população alvo é fundamental na Atenção Primária à Saúde para diminuir
a incidência e a mortalidade por esse câncer. Observa-se que países com cobertura
superior a 50% do exame cervical realizado a cada três a cinco anos apresentam taxas
inferiores a três mortes por 100 mil mulheres por ano e, para aqueles com cobertura
superior a 70%, essa taxa é igual ou menor a duas mortes por 100 mil mulheres por
ano. (9)
Percebe-se que os exames de rastreamento são utilizados secundariamente na
detecção de microorganismos. Sabe-se que a microbiota vaginal em grande parte é
composta por Lactobacillus sp., assim como por outros microorganismos com achados
normais, como cocos e outros bacilos. (10)
Neste estudo, a microbiota detectada nos laudos dos exames Papanicolau foi
representada pela elevada prevalência de Lactobacillos sp., seguida por Cocos e Outros
bacilos. Os bacilos supracitoplasmáticos sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus, o
fungo Candida sp., o protozoário Trichomonas vaginalis e a bactéria sugestiva de
Chlamydia sp. podem ter sido responsáveis pelas inflamações. Observou-se em estudo
em uma Unidade Básica de Saúde no Ceará apresentou Cocos como maior ocorrência
(49,2%), além de agentes infecciosos, como Gardnerella vaginalis (65%), Candida sp.
(23,7%) e Trichomonas vaginalis (5,6%). (11)
Os estudos apresentados por Campos et al. (12) demonstraram resultados
congruentes a pesquisa em questão, considerando a classificações dos agentes mais
frequentes nos resultados citológicos das amostras cérvico-vaginais coletadas em um
município do Maranhão identificaram frequências aproximadas: bacilos 56,8%, cocos
42,2% e lactobacilos 35,2%. Observa-se que devido à presença de grande variedade
de bactérias no conteúdo cérvico-vaginal, estes agentes são normalmente detectados
em mulheres assintomáticas, formando uma flora mista composta de cocos e bacilos,
além dos lactobacilos.
Em 2020, o combate ao câncer de colo uterino foi reforçado com o lançamento
da “Global strategy to accelerate the elimination of cervical cancer” (Estratégia Global
da OMS para Acelerar a Eliminação do Câncer de Colo do Útero) (12), que se baseia
em três principais vertentes: vacinação, rastreamento e tratamento. A Estratégia
enfatiza os compromissos essenciais para com o combate ao Câncer de colo uterino,
dentre eles a detecção precoce.
Ao analisar 4 anos consecutivos de amostras citopatológicas cervicais do
público adscrito, obtendo 984 registros de amostras convencionais, excluindo-se
materiais insatisfatórios, os resultados denotam apenas 4% (35 amostras) dentro da
Família em realidades onde a epidemiologia regional seja afetada pelo baixo nível
socioeducacional.
Ao que concerne à nomenclatura dos achados histológicos, a adoção do
Sistema Bethesda adaptado ao Brasil, facilita o comparativo de resultados nacionais
com as demais publicações a nível internacional. Os registros obtidos em livro da USF
em questão, não continham informações adaptadas ao Sistema Bethesda; foram
gerados com base na Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos Cervicais,
estabelecida pelo Inca e o Ministério da Saúde. (15)
Dessa forma, o estudo conclui a equivalência e manutenção dos dados descritos
em literatura nacional. Observa-se a faixa etária entre 20 e 29 anos a mais prevalente,
assim como, lactobacilos, cocos e outros bacilos, os agentes microbiológicos mais
encontrados nas amostras citopatológicas. As alterações citopatológicas mais
preponderantes em mulheres que realizaram o exame de Papanicolau pelo SUS, em
sua maioria, foram alterações celulares benignas, com maior prevalência de
inflamação. As lesões precursoras do câncer cervical mais encontradas foram LSIL e
HSIL.
REFERÊNCIAS
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(INCA). Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. – Rio de Janeiro: INCA,
2019. Disponível em:
<https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-
2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf>. Acesso em: 25 de março de 2020.
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