9 Dízimos e Ofertas
9 Dízimos e Ofertas
9 Dízimos e Ofertas
1. Dízimos
O assunto principal que quero abordar é a base bíblica das ofertas, não pretenderia,
portanto, me alongar no tratamento do dízimo. Sinto-me, entretanto, na obrigação de colocar
algumas poucas e objetivas palavras sobre a questão do dízimo.
Não é minha intenção dar uma exposição detalhada de que o dízimo é uma determinação
procedente de Deus, que precedeu a lei cerimonial e judicial da nação de Israel (incorporando-se
posteriormente a essas), sendo portanto válido para todas as épocas e situações.
Não é, também, minha intenção partir para uma exposição da seriedade com a qual Deus
apresentou e tratava essa questão do dízimo. Não vou, portanto, examinar as severas
advertências àqueles que desprezavam suas determinações. Tudo isso já foi dito e exposto por
outros de uma forma bem melhor e mais completa do que eu poderia aqui fazer.
Gostaria apenas de reforçar dois princípios bíblicos sobre o dízimo, extraídos do Novo
Testamento. Por isso os classificaremos como princípios neotestamentários, que devem regular a
nossa contribuição sistemática:
2. Ofertas
a. Velho Testamento:
(1) Êxodo 25 e 36
Este trecho nos fala da construção do tabernáculo. Foi uma construção ordenada por
Deus. Aquela construção atenderia a necessidade de providenciar um local de adoração ao povo
que peregrinava pelo deserto. Dizia respeito, portanto, ao acondicionamento físico do povo e
dos instrumentos litúrgicos. Muitas das coisas determinadas aqui possuem o simbolismo
característico do Velho Testamento e eram destinadas a demonstrar a majestade da presença de
Deus, a Sua Santidade e a apontar para o redentor prometido.
Deus, com todo o Seu poder, poderia ter produzido do nada uma casa de adoração. Quis
Ele que tudo fosse feito com os recursos do povo, entrelaçando a construção com o dia-a-dia de
Israel. Para a construção e para os ornamentos havia a necessidade de muitos objetos de valor,
utensílios, ouro, prata, cobre. Nenhum estudioso sério da palavra de Deus questionaria que o
dízimo estava em vigor, nesta ocasião (no máximo temos os que questionam a sua validade no
novo testamento, mas quanto à isso, já nos posicionamos).
Porque Deus não utilizou os dízimos de seu povo para esta necessidade?
A razão é bem direta: porque os dízimos, sendo a contribuição sistemática, já tinham a
sua aplicação normal: serviam ao sustento dos levitas, dos líderes religiosos, e serviriam à
manutenção dos atos de adoração, mas não poderiam fazer face à necessidade específica,
esporádica e extra-normal que agora era colocada por Deus perante seu povo.
Deus os chama, consequentemente, a contribuir com ofertas alçadas, extras.
O princípio básico está colocado no versículo 2: “Fala aos filhos de Israel que me tragam
uma oferta alçada; de todo homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a
minha oferta alçada”.
A versão Atualizada, diz apenas “oferta”. O original (hebr.: T’Rumáh - oferta alçada, da
raiz Rum - oferta), entretanto, traz “oferta alçada”. Isso não quer dizer nada com relação ao valor
– se seria pouco ou muito.
Representa algo (um bem, metal precioso, ou dinheiro) extraído do meio do povo que é
levantado (alçado) e apresentado ao Senhor como uma dádiva especial, de forma voluntária.
Os rituais levíticos posteriores tinham as ofertas alçadas, que eram levantadas perante o
altar apenas uma vez, pelo sacerdote, e a oferta “abanada”, que era levantada ou movida várias
vezes perante o altar, representando a consagração da dádiva.
Tal oferta não era, nem poderia ser, compulsória. Ela era voluntária.
O texto diz com muita clareza: todo o homem cujo coração se mover voluntariamente.
Esses eram os contribuintes. Eles deveriam trazer ofertas especiais, de gratidão e
reconhecimento, coisas de valor a serem utilizadas nas necessidades físicas da adoração
espiritual que é devida somente a Deus.
Os próximos seis capítulos de Êxodo (até o 31) registram em detalhes o que Deus queria
que fosse feito em sua casa de adoração.
No capítulo 35, Moisés chama o povo e começa a passar a ele as instruções recebidas de
Deus.
No versículo 5 ele diz: “Tomai de entre vós uma oferta para o Senhor; cada um cujo
coração é voluntariamente disposto, a trará por oferta alçada ao Senhor: ouro, prata e bronze…”
Mais uma vez, o caráter voluntário da oferta é ressaltado. Nos versículos 21 e 22, temos o
registro da ocorrência das ofertas.
Recapitulando: primeiro Deus ordena a Moisés, depois Moisés ordena ao povo e agora,
temos o fato real.
Mais uma vez o registro da voluntariedade é ressaltado. Diz o trecho:
(21) E veio todo homem cujo coração o moveu, e todo aquele cujo espírito o estimulava,
e trouxeram a oferta alçada do Senhor para a obra da tenda da revelação, e para todo o serviço
dela, e para as vestes sagradas.
(22) Vieram, tanto homens como mulheres, todos quantos eram bem dispostos de
coração, trazendo broches, pendentes, anéis e braceletes, sendo todos estes jóias de ouro; assim
veio todo aquele que queria fazer oferta de ouro ao Senhor.
O versículo 29 reforça ainda mais o princípio:
(29) Trouxe uma oferta todo homem e mulher cujo coração voluntariamente se moveu a
trazer alguma coisa para toda a obra que o senhor ordenara se fizesse por intermédio de Moisés;
assim trouxeram os filhos de Israel uma oferta voluntária ao Senhor.
Perante essa evidência não podemos, meus irmãos, dizer que o dízimo é a única forma de
contribuição encontrada na Palavra de Deus.
Ofertas voluntárias têm o seu lugar e são apropriadas em casos específicos, como o que
Deus colocou à nossa frente.
Uma segunda coisa que aprendemos nesse trecho, é que a voluntariedade da oferta não
significava que seja aleatoria. Ou seja, por ser voluntária não significava que não podia ser
planejada.
Na realidade lemos, no capítulo 36, vs. 3, o seguinte: “…e receberam de Moisés toda a
oferta alçada, que os filhos de Israel tinham do para a obra do serviço do santuário, para fazê-la;
e ainda eles lhe traziam cada manhã ofertas voluntárias”.
Ou seja, enquanto durou a construção, as ofertas eram trazidas sistematicamente,
repetidamente, a cada manhã.
Não vamos pensar, portanto, que o planejamento e sistematização tiram a espiritualidade
da oferta planejada e dada de coração.
Essa sistematização muito deve ter auxiliado aqueles que necessitavam dar andamento à
construção.
b. Novo Testamento.
Paulo estava na prisão quando escreveu a carta aos Filipenses. É uma carta de amor e
gratidão, na qual ele expressa a possibilidade do crente exercitar essa alegria em Cristo
independentemente das circunstâncias pelas quais está passando.
Pensemos na situação de Paulo. Ela era dura e amarga. Estava afastado do convívio dos
seus amigos, em uma prisão e certamente tinha várias necessidades.
A igreja de Filipo, consciente das necessidades de Paulo, levantou e enviou uma oferta
específica para ele. No capítulo 4 (10-19) temos o registro e alguns detalhes da ocorrência.
Lemos ali:
(10) Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado
para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade.
(11) Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as
circunstâncias em que me encontre.
(12) Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas
estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância,
como em padecer necessidade.
(13) Posso todas as coisas naquele que me fortalece.
(14) Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição.
(15) Também vós sabeis, ó Filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da
Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós
somente;
(16) porque estando eu ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas, mandastes
suprir-me as necessidades.
(17) Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta.
(18) Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância; cheio estou, depois que recebi de
Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro suave, como sacrifício aceitável e
aprazível a Deus.
(19) Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória
em Cristo Jesus.
Vemos que é o agradecimento de ofertas, remetidas duas vezes e com toda probabilidade
em dinheiro, pois no verso 16 lemos: “não somente uma vez, mas duas, mandastes o bastante
para as minhas necessidades”. Essas ofertas foram levadas à Paulo por Epafrodito, como nos fala
o verso 18, e é exatamente para este versículo que eu gostaria de dirigir a nossa atenção, pois
dele extraímos quatro lições sobre ofertas.
Aprendemos que a oferta voluntária:
1. É um ato desejável por Deus (“aroma suave”). A oferta é comparada a um aroma
suave, a um perfume não agressivo, mas suave. Aquele cheiro que permanece e que nos traz
memórias e lembranças, que nos faz desejar estar de novo sentindo ele. Nesse sentido, é um
privilégio poder contribuir, poder fazer algo que é desejável por Deus.
Veja no versículo 10 que Paulo diz que “..vos faltava oportunidade”. Isso significa que
devemos ver as situações de necessidade de contribuição que Deus coloca à nossa frente, como
grandes oportunidades a serem aproveitadas.
2. É um ato aceitável por Deus (“Sacrifício aceitável”). Não podemos, portanto, dizer que
ofertas não sejam aceitas por Deus, pois Paulo nos ensina o contrário.
3. É um ato agradável a Deus (“aprazível”). O texto diz que ela é aprazível, ou seja, traz
prazer a Deus.
4. É um ato direcionado a Deus (“a Deus”, traz o final do verso). Se vamos contribuir com
outro propósito em mente: prosperidade, barganha com Deus, para agradar o Conselho, para
agradar o pastor, até para termos mais orgulho da Igreja, tudo isso foge ao propósito principal: a
oferta correta é direcionada a Deus e somente a Ele. Nesse sentido é que acompanha o dízimo
como um ato de gratidão e de louvor.
4. A importância do planejamento.
Em 9:3, Paulo escreve que o fato das igrejas da Acáia (Grécia) estarem preparadas desde
o ano anterior, para tal contribuição era uma prova do “zelo” deles e representava “um
estímulo” para muitos.
Não existia, portanto, nada não espiritual no planejar.
Na realidade, Paulo informa que mandou um mensageiro de ante-mão, para que a
reputação dos irmãos não fosse abalada (9:3) e eles estivessem preparados com a oferta que
estavam a coletar.
Paulo recomenda, portanto que “preparem de antemão a vossa dádiva”, chamando-a de
“expressão de generosidade e não de avareza.”
Muitas vezes somos chamados a planejar nossas ofertas porque isso pode auxiliar os que
dela precisam e pode servir também de estímulo aos demais que, vendo a fidelidade da Igreja, se
animam a contribuir.
Em Marcos 12:41-44 e Lucas 21:1-4 temos o registro de uma oferta trazida por uma viúva
pobre ao templo. Lemos nesses trechos:
Marcos 12
(41) E sentando-se Jesus defronte do gazofilácio (caixas ou arcas das ofertas), observava
como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos ricos depositavam grandes quantias.
(42) Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas correspondentes a
um quadrante.
(43) E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre
viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no gazofilácio;
(44) porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu
tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento.
Lucas 21
(1) Jesus, levantando os olhos, viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre;
(2) viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;
(3) e disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos;
(4) porque todos aqueles deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu
tudo o que tinha para o seu sustento.
3. Conclusão
(0xx51) 9319-1695
* Ministro do Evangelho no Ministério Bíblico Palavra Viva, São Leopoldo/RS. Pós-Graduando Especialização Aconselhamento
Pastoral pela Faculdade Teológica Batista do Paraná. Bacharel em Teologia pela Universidade Luterana do Brasil. Membro
Associado Conselheiro Bíblico pela ABCB - Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos. Membro Certificado Conselheiro Cristão
Pastoral pela IACCP - International Association of Christian Counseling Professionals.