Mirian Viana Alves
Mirian Viana Alves
Mirian Viana Alves
Aprovado em:
Comissão Examinadora
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Rodrigues Gajanigo (Doutor em Ciências Sociais/UERJ)
Universidade Federal Fluminense/Campos
___________________________________________________________________
Prof.ª. Drª. Renata Maldonado da Silva (Doutora em Educação/UFF)
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Antônio Pedlowski (Doutor EnvironmentalDesignandPlanning/Virginia Tech,
EUA)
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
___________________________________________________________________
Prof.ª. Drª. Simonne Teixeira (Doutora em Filosofia e Letras – História/UAB, Espanha)
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - (Orientadora)
AGRADECIMENTO
A minha segunda mãe, Maria da Gloria Alves e a minha eterna orientadora, não
só da academia, mas da vida, Simonne Teixeira pela paciência, carinho e atenção. Aos
colegas que fiz no decorrer do Programa de Pós-graduação em Políticas Sociais, às
pessoas, aos funcionários e aos entrevistados que contribuíram para o desenvolvimento
desta dissertação.
i
ABSTRACT
Being the cultural heritage a comprehensive field, formed from values and symbolism
which is the identity of the man, this paper seeks to reflect on the relationship between
cultural policies and cultural heritage. The intention is to discuss the actions in favor of
the preservation of cultural heritage at the local level, identifying interventions and
public policies adopted to strengthen the local culture. Search how is the interaction
between people and cultural goods both locally and state and federal level. As
background for this discussion, we chose the city of São João da Barra located in the
Norte Fluminense region of the State of Rio de Janeiro, which experience an accelerated
development process with the construction of Port Açu complex. The selected time
frame stretches from the years 2004 to 2014, at which time the actions for the cultural
preservation of the field began to stand out in the city, making it more effective and
notable preservationists discussions of cultural heritage. For this research, it was
necessary to take stock of the wealth of concepts, policies, cultural and political cult
preservation, as well as the development of a mapping of the cultural heritage of the
municipality in question anda survey of cultural policies that focus on existing cultural
property. From this point, we try to understand how "sanjoaneses" see and own cultural
heritage, and how the local population assimilates the sense of belonging towards their
cultural heritage.
ii
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO............................................................................ 09
1.1 Contextualização 10
1.2 Estrutura do Trabalho 16
II CONCEITOS E REFERÊNCIAS.................................................. 18
2.1 Definição de Patrimônio 19
2.2 Conceito de Patrimônio Cultural 22
2.3 O Uso Sociológico do Patrimônio Cultural 24
2.4 Políticas Culturais e a Preservação do Patrimônio Cultural 27
IV METODOLOGIA ......................................................................... 46
4.1 Área de Estudo 47
4.2 Procedimentos Metodológicos 51
V DISCURSO E PRÁTICAS............................................................ 53
5.1 A Cidade de São João da Barra 54
4.2 O Patrimônio Cultural de São João da Barra 57
4.3 Políticas Públicas e Ações Preservacionistas de São João da 76
Barra
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................... 87
ANEXOS........................................................................................ 93
I Anexos I 94
II Anexos II 96
iii
ÍNDICE DE TABELAS
iv
ÍNDICE DE FIGURAS
v
ÍNDICE DE FOTOS
Foto 03 30
Estação das Artes Derly Machado
Foto 05 Fórum 52
vi
ÍNDICE DE SIGLAS
vii
viii
I – INTRODUÇÃO
Foto 01: Igreja Matriz de São João Batista – A igreja encontra-se entre os jardins e
no centro da praça de mesmo nome. A edificação foi construída no mesmo lugar em
que foi erguida a pequena capela de madeira em 1630 em louvor a São João Batista.
A igreja foi o ponto de origem do povoado e hoje município de São João da Barra.
9
1.1– CONTEXTUALIZAÇÃO
10
O patrimônio cultural são símbolos, legados do passado que são vivenciado no
presente e transmitido para o futuro (GEERTZ, 2004). Isto é, ele é vivo, dinâmico e
adaptávei-las necessidades culturais, sociais, políticas e históricas do tempo. Porém,
cada sociedade pode manifestar sua cultural e seus bens culturais de forma distintas,
mas para aproveitar o máximo os benefícios desde conceito algumas entidades
internacionais com interesses no assunto organização varias reunião e discussões sobre
o tema.
Como fruto deste movimento global, pois tais reuniões aconteceram em todos os
continentes do mundo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – UNESCO em 1972definiu o patrimônio cultural como um conjunto de bens
culturais e naturais de um povo, que poder ser entendido como:
Deste modo, o ICOMOS interpretar que o patrimônio cultural na sua forma mais
ampla pode ser considerado como:
1
Carta Patrimonial: Carta de Paris do ano 1972. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina
/detalhes/226. Acesso em: 03/05/2015
11
fundamentais do ser humano, os sistemas de valores, as tradições e as
crenças (ICOMOS2 - MÉXICO, 1985, p.1).
Para fortalecer cada vez mais as bases imateriais do patrimônio cultural e para
aproveitar mais as influencias das esferas social, econômica e política, a UNESCO em
1989 redigi uma nova Carta de Recomendação de Paris e integrar a tradição oral e os
aspectos históricos como parte específica do patrimônio cultural. Desta forma, ficou
decidido que, a "salvaguarda das manifestações orais, ou o folclore" também deve ser
objeto de preservação dos Estados Nacionais (IPHAN – PARIS de 1989, p. 1). A
recomendação sugere que:
2
Cartas patrimoniais: Declaração do México do ano 1985. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/226. Acesso em: 03/05/2015.
12
Medidas legislativas ou de outra índole que sejam necessárias, de
acordo com as práticas constitucionais de cada Estado, assim como
também a criação de serviços ou órgãos que tenham competência para
tratar dos problemas referentes à salvaguarda da cultura tradicional e
popular (UNESCO3 – PARIS 1989, p. 2).
Vale ressaltar que o campo do patrimônio cultural é muito vasto, e como forma
de pontuar melhor nossa pesquisa, selecionamos a categoria de bens culturais materiais
como objeto da pesquisa. A parte material do patrimônio foi uma das primeiras a ser
preservado e consequentemente as primeiras a conta com as políticas culturais e por
essa situação também foi à escolhida.
O estudo, no entanto, toca num ponto crucial para qualquer trabalho que venha
abordar o tema; a seleção dos bens que formam o conjunto patrimonial de uma Nação,
de uma comunidade ou de um grupo social. Tais escolhas vão ao encontro dos
interesses políticos, econômicos e sociais das sociedades.
Embora exista um padrão cultural único que reger as nações, os governos locais
com o tempo adquiriram o poder e a responsabilidade de proteger sua história, sua
3
Carta Patrimonial: Carta de Paris do ano 1989. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/226. Acesso em: 07/05/2015.
13
origem, mas sem perder o elo com a nacionalidade. Pois, o patrimônio cultura só existe
por que há uma cumplicidade entre os poderes e os interesses locais, regionais e
nacionais.
No entanto, o poder político em si, não pode ser entendido como um bem
comum para a sociedade, visto que suas ações são limitadas a um grupo e não abrange
todos os grupos sociais. Isto é, ele beneficia uma parte especifica, e as demais partes são
atendidas conforme a conveniência dos beneficiados. Bobbio (2000) ressalta que, o
poder político detém a força, a manipulação e os meios de coação, e a cultura é um
destes recursos. Porém, ressalta Bosi (1972), falar em cultura não é uma tarefa fácil,
visto que, sua definição é muito ampla e complexa. No debate cultural sempre haverá
algo a ser acrescentado e discutido, pois o homem é um ser mutável e a cultura
acompanha estas mutações.
14
deliberado dos recursos humanos e dos materiais disponíveis em
uma sociedade (UNESCO4 – CULTURAL POLICY, 1969, p.8).
Isto é, as políticas culturais, a partir desta perspectiva seriam uma ação que
fortaleceriam as dinâmicas culturais já existentes. As políticas culturais priorizam a
preservação dos símbolos que caracterizam o poder nacional e depois hierarquicamente
os demais poderes da população, mantendo assim, por um lado o consenso e a ordem
sociocultural, e por outro o controle social da população (COELHO, 1999).
4
Cultural Policy a Preliminary Study. Paris 1969. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/
0000/000011/001173eo.pdf.
15
Na busca por bens que representassem a cultura brasileira, o tombamento
segundo Fonseca (1997) privilegiou as edificações residenciais da população mais
abastada, igrejas e capelas católicas e prédios públicos com função administrativas,
jurídicas, militares entre outros. Tais construções foram, por muito tempo, consideradas
os principais representantes da cultura nacional, mas a partir dos anos 1970, os bens
relacionados à diversidade cultural começaram serem valorizados pelo SPHAN, mas a
importância dos bens materiais favoreceu a que estes não perdessem valor.
São João da Barra, neste sentido, abriga significativos bens culturais materiais
referente não apenas ao patrimônio cultual nacional, mas estadual e local. Porém, os
demais bens culturais do município, não são protegidos, apenas dois contam com
tombamento do poder federal e do poder estadual, mas nenhum sobre a tutela do
município. Mas, nem por isso o patrimônio cultural de São João da Barra está
completamente abandonado.
Por isso, por causa de tais condições atípicas, que consideramos importante
conhece o patrimônio cultural material de São João da Barra, os critérios de seleção,
seus processos, seus valores e significados ajudaram a entender o quadro político
cultural do município e aponta melhoria para tal realidade.
16
Durante a pesquisa fez-se necessário entender o processo de construção das
políticas culturais de preservação no Brasil e identificar os órgãos responsáveis pela
conservação dos bens culturais e as práticas adotadas por estes. Neste sentido destacou-
se o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Instituto
Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). Para tanto, fizemos uso ainda de outros
autores, como Rubino (1996), Fonseca (1997), Micelli (1987), Peixoto (1990) entre
outros.
Desta forma, foi necessário fazer uso dos recursos metodológicos da história oral
e de entrevista semi-estruturada. A aplicação de questionários na coleta de dados e
comparação das informações levantadas foi de suma importância para nossa reflexão. A
partir da análise dos questionários procedemos à sistematização do conhecimento que a
população sanjoanense tinha em relação a seu patrimônio e quais eram os fatores que
determinavam a preservação do mesmo no município.
Outra etapa da pesquisa foi o levantamento de campo. Para completar essa etapa,
foram realizadas visitas ao município, tanto para observar os bens culturais e fazer
registro fotográfico, quanto para coletar as informações através das entrevistas e
questionários. Tais procedimentos como já mencionados acima, tiveram uma
contribuição fundamental para o resultado final do estudo.
Por fim, a conclusão do trabalho deu-se com a organização dos dados adquiridos
com o levantamento bibliográfico e com o levantamento de campos. A reunião destas
duas práticas ajudou a entender e traçar os passos do patrimônio cultural do município,
assim como também as políticas públicas culturais adotadas para salvaguarda tais bens
culturais.
17
II – CONCEITOS E REFERÊNCIAS
Foto 2: O centro Cultural era antigo mercado municipal de São João da Barra.
Localizado às margens do Rio Paraíba do Sul, a construção se desenvolve em torno de
uma pequena praça que tem acesso tanto para o rio quanto para a rua e a Praça São João
Batista. Atualmente este espaço encontra-se fechado, mas ainda matem as mesmas
características do antigo mercada.
18
2.1 – DEFINIÇÃO DE PATRIMÔNIO
Nota-se que a transmissão do patrimônio de uma geração para outra, seja relativo a
uma família ou a um grupo, era e ainda é de vital importância para a continuidade das
sociedades. No entanto, Choay (2001) ressalta que, mais importante que os objetos que
davam forma ao patrimônio, são os processos de transmissão que o envolvem. Este
movimento é o que garante a ligação do passado com o presente, e assim, o patrimônio
torna-se um importante instrumento para a história e a memória, primeiro das famílias e
depois dos povos.
Ainda que, hoje, possa-se observar que este vínculo do patrimônio com o passado
existe, e seja a razão da ampliação do conceito – que assume um caráter mais
antropológico e sociológico – a ideia de algo comum, coletivo, tradicional prevalece
(CHOAY, 2001). É esta relação que interessa aqui ressaltar.
19
Por outro lado, Gonçalves (2002), afirma que o valor de um bem cultural está mais
em seu uso cotidiano do que em sua origem. Assim, quanto mais se interage com os
bens, mais se institui sentido e importância ao mesmo. Desta forma, o patrimônio pode
ser considerado como uma categoria de pensamento, que possui caráter milenar, não
apenas por sua materialidade, mas por seu discurso e pela ideologia. Gonçalves (2002)
coloca ainda que, embora o patrimônio sempre se apresente como algo material, o
discurso que gira entorno da sua designação era, ou ainda é, o que se constitui como
herança.
Choay (2001), afirma que a noção de patrimônio tem uma história, uma trajetória e
seu iniciou junto às primeiras civilizações. Quando o homem decidiu assenta-se e
constituir casas, famílias, viver em sociedade, ali também começou o desejo de
acumular, guarda bens que representava algo não só para a geração vigente, mas para
todas as demais gerações posteriores.
Preservar tais bens tornou-se uma maneira de garantir a permanência dos valores,
das ideias, dos símbolos de um grupo, de uma família de uma comunidade. O
patrimônio é um bem que porta valor (GONÇALVES, 2002). Uma categoria de
pensamento, polissêmica que envolve vários sentidos e símbolos assumindo assim
inúmeras formas e discursos. O patrimônio é um potente instrumento analítico para
entender a vida social e cultural das sociedades contemporâneas, por isso, sua
preservação e transmissão ainda nos dias atuais é tão importante.
20
2.2 – CONCEITO DEPATRIMÔNIO CULTURAL
A partir desde momento o patrimônio passa a ser reconhecido não mais como algo
individual, referente às famílias ou a pequenos clãs, mas como algo de todos que
pertencia à nação. O patrimônio agora é coletivo e recebe a nomenclatura de patrimônio
histórico ou como mais conhecido patrimônio cultura (CHOAY, 2001; GONÇALVES,
2007).
No entendo, vale ressaltar que os valores atrelados aos bens tutelados pelo Estado,
estavam intimamente ligados aos interesses da elite, na manutenção do poder e da
influencia que tal classe social apresentava. Em outras palavras “o valor cultural não
está nas coisas, mas é produzido no jogo concreto das relações sociais” (MENEZES,
1999, p.93). Isto é, as coisas não têm valor em si mesmo, mas são os homens e seus
discursos que atribuem valores a elas.
21
Menezes (1999) argumenta que, o patrimônio cultural é definido a partir da
identidade e valoração que um determinado bem (objeto) tem para seu grupo social. A
definição de valor aos bens culturais, portanto, está ligada à transmissão da histórica dos
valores de cada sociedade. Em resumo, Menezes diz que: “para se compreender o
patrimônio cultural, é preciso atentar para as relações existentes entre os 'bens
patrimoniais' e a sociedade que os produziu” (MENEZES, 1999, p.94).
Canclini (2003) define, neste sentido, que o patrimônio cultural é como um “espaço
de disputa”. Onde a solidariedade e o compartilhamento dos bens é uma prática
constante entre os indivíduos do grupo. Mas os objetos tem sentido e valores diferentes
dentre este universo que hora uni e hora afasta tais membros. Para Canclini (2003), os
bens culturais não são uma construção coletiva, mas sim, uma reprodução coletiva, onde
a sociedade toma como seu algo que pouco ou nada o representam, mas que
apresentavam importantes traços da sua realidade ou, como Gonçalves (2005) assinalou,
possuíam os principais fatos oficiais que constitui a vida dos homens.
A preservação dos bens culturais está, em geral, ligada a narrativas que revigore o
Estado Nacional e que crie nos indivíduos um sentimento de pertencimento, onde o
22
maior interesse não é o bem-esta do povo, mas o do Estado e seus governantes
(CANCLINI, 2003).
De acordo com Torrico (2012), tal situação pode-se se entendida como uma
dominação. Mas esta dominação só acontece por que os próprios atores sociais
permitem. Torrico vê o ator social como o responsável pela legitimação ou não do seu
patrimônio cultural. Isto é, os bens culturais são resultados de um processo complexo
onde o ator social é o elemento fundamental, pois sem ele a acumulação e transmissão
dos bens culturais não existiriam.
Torrico (2012) considera ainda que, o patrimônio cultural diz respeito às referências
que formam uma comunidade, sejam elas culturais, políticas, sociais, econômicas ou
religiosas. Visto deste modo, os bens culturais abrangem uma diversidade de
testemunhos que contam a trajetória dos povos, refletindo em cada um dos grupos
sociais sua importância e sua memória, que ao final, resume-se na construção das
manifestações coletivas da sociedade. Neste sentido, Torrico salienta que,
23
2.3 – O USO SOCIOLÓGICO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Bourdieu (2003) argumenta que para se entender este campo de força é preciso
considerar a cultura com um campo. Segundo a teoria bourdiana, um campo pode ser
entendido como um espaço de posições, onde atores sociais estão em constante disputa.
O campo também pode ser considerado uma rede ou uma configuração de relações entre
arranjos de poder, ou ainda um ambiente social onde se desenvolvem todos os tipos de
disputas e de negociações sociais que regularizam um povo.
6
Nesta linha de argumentação, Bourdieu infere que o “campo patrimonial”
corresponde a uma legitimação. Uma assimilação de valores e sentidos, que tem em sua
composição um sistema simbólico que produz códigos e que torna dinâmico o campo.
Ou seja, “todo ato de produção cultural implica na afirmação de pretensão a
5
Nômade é um vocábulo que indica algo, ou alguém que não tem uma habitação fixa, o que é vago,
volante, que vive permanentemente mudando. Termo usado para os povos do tipo caçadores, coletores
e/ou pastores, nômade, é a prática que este grupo usa para buscar novas fontes de alimentos, água e
pastagens. Quando o espaço se esgota ou torna-se pequeno, os nômades mudam em busca de melhores e
novas condições. Associando o termo, nômades ao conceito de patrimônio cultural Choay (2001) chama
atenção para a capacidade que o patrimônio tem de ampliar-se sem se perder. Embora não tenha uma
definição fixa e determinada, vive numa constante mudança. O patrimônio tem uma historia contínua e
clara, assim como os povos nômades. Ou seja, mudança não é sinal de perda, mas de renovação, e para
haver renovação é preciso antes uma nova experiência.
6
Neste trabalho utilizamos a expressão “campo patrimonial” para nos referir ao “patrimônio cultural”
como campo de produção, reprodução e manipulação de uma verdade.
24
legitimidade cultural” (BOURDIEU, 2005 p. 108). A legitimação da cultura antecede do
discurso nacional, que por sua vez adicionou valor simbólico nas obras, nas práticas,
nos produtos culturais ao registrar e protegê-los como herança cultural coletiva.
Deste modo, quando se fala em seleção dos bens do patrimônio cultural, admite-se
um espaço de dominação, onde as relações são desiguais, do ponto de vista político e,
notoriamente histórico (BOURDIEU, 2005). Neste espaço, o campo patrimonial torna-
se uma arena, em que os atores sociais disputam entre si a legitimidade do seu poder.
Porém, existem aqueles que detêm o monopólio da luta, pela violência propriamente
dita ou pela violência simbólica, que constrói, reproduz e manipula a verdade e a impõe
a seu favor. Desta forma, Bourdieu afirma que:
O patrimônio cultural, mas uma vez, pode ser entendido como algo subjetivo, com
apreensões e percepções imbuídas de juízos e de valores nada naturais. Bourdieu
ressaltou, neste sentido, que “a classe (ou o povo, ou a nação, ou qualquer outra
realidade social de outro modo inapreensível) existe se existirem pessoas que possam
dizer que elas existem” (Bourdieu, 2005, p. 168). O patrimônio cultural existe pelas
mesmas condições, por que os indivíduos atribuem valores a eles e transmite esses
valores de geração a geração.
25
hierárquico que poucos conhecem ou conseguem ver. Desta forma, é preciso entender
que o conceito de patrimônio cultural foi se consolidando entre os espaços de poder dos
povos, primeiro na esfera familiar, depois nos grupos, nos clãs, nas aldeias, nos reinos e
por últimos nas nações. O patrimônio cultural tradicionalmente contribuiu para a
legitimidade do poder dentre os atores sociais que compõem as sociedades
(BOURDIEU, 2005; CANCLINI, 2003; CHOAY, 2001).
O ator social é responsável por legitimar ou não o seu patrimônio cultural. Embora
nascido em uma realidade de conflito, o campo (o patrimônio cultural) surge com a
função de autenticar e/ou estimular um modelo de ação, seja ela individual ou coletiva.
Ou seja, os bens culturais são resultados de um processo complexo onde o ator social é
fundamental, pois sem o mesmo a acumulação dos bens culturais não existiria. Assim,
dentro das disputas vividas por todos os grupos sociais, alguns sentidos são
particularizados, mas outros são compartilhados consistindo em uma construção social,
onde os princípios baseiam-se em um conjunto de valores coletivos, comuns a todos os
membros, porém não pertencentes a todos.
7
Com ênfase do autor, Bourdieu (2003) coloca o sujeito e indivíduo em posições distintas. Onde o
indivíduo não pode jamais ser definido apenas de um ponto de vista estritamente estático, isto é,
como posição relativa (“superior, “média” ou inferior”) numa dada estrutura e num dado momento.
A posição da trajetória de um indivíduo contém sempre o sentido do fluxo social. Já o sujeito traz
em seu histórico a submissão, a falta de posição. Sempre está sujeito a alguma coisa subordinado a
alguém.
26
Ao ampliar o conceito o patrimônio cultural, se estabelecem relações precisas e
coerentes equivalências entre todos os grupos sociais que compõem a sociedade,
permitindo ainda, lidar ao mesmo tempo com as estruturas materiais e as sociais da
sociedade. Percebe-se que o modo como funcionam as interseções e os antagonismos
relativos ao patrimônio cultural permitem, sobretudo, identificar novos âmbitos e
processos que adquirem cada vez mais importância para os bens culturais da sociedade.
Por outro lado, Canclini (1999) destaca que as transformações vividas pelas
sociedades contemporâneas exigiram que os Estados Nacionais mudassem a forma de
atuar em relação à preservação do patrimônio cultural. Canclini argumento que uma
maior participação do Estado junto aos bens culturais, pois as tecnologias e a
globalização tem dominado o espaço cultual, diminuindo assim cada vez mais, a relação
da população com a sua cultura. Para Canclini (1999), na modernidade, com o
desenvolvimento rápido e avançado da sociedade, emerge uma espécie de “cultura a
domicílio”, em que os indivíduos, buscam cada vez mais, adquirir bens que os fizessem
sentir-se parte do mundo globalizado e atual, distanciando-se assim dos seus respectivos
Estado-Nação. Na tentativa de corrigir esta situação, o Estado vê-se obrigado a
organizar uma política que abranja outros aspectos do patrimônio cultural.
As políticas culturais ou, como prefere Coelho (1999), políticas culturais são a
maneira de se promover um melhor o acesso à produção, á divulgação e ao uso do
patrimônio cultural. Ou seja, a preservação do patrimônio cultural e seu ordenamento é
uma responsabilidade do Estado, mas as políticas culturais funcionariam como táticas
especiais desta obrigação.
28
(1999), a preservação do patrimônio cultural de uma nação é uma política que
proporciona uma maior aproximação da população com os bens culturais selecionados
como coletivos, mas também, é uma forma de fortalecer a identidade nacional tornando,
o individuo tão responsável pela salvaguardo do patrimônio cultural quando o Estado.
29
III – HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL BRASILEIRO
30
3.1 –PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL
Neste sentido, o patrimônio cultural brasileiro foi forjado não apenas para
preservar a cultura do país, mas estava, sobretudo, voltada para o fortalecimento do
Estado Nacional. A ideia ao constituir os bens culturais nacionais era equipara a
população brasileira ignorando todas as diferenças sociais, econômicas, políticas,
culturais existentes (FONSECA, 1997; VIEIRA, 2003).
Calabre (2007) ressalta que o patrimônio cultural do Brasil foi formado durante
um golpe de Estado, ou seja, a necessidade de unificar e fortalecer as bases políticas do
país era muito forte. Para as políticas públicas brasileiras, o primeiro mantado de
Getúlio Vargas (1930-1945) foi muito importante, pois, foi durante este período que
várias secretarias foram criadas e implementada as primeiras políticas públicas em
31
diversas áreas do Brasil. Podemos mencionar, como exemplo, os Ministérios do
Trabalho e da Educação8, em que as políticas públicas concentravam-se no
fortalecimento da nacionalidade e no maior controle social da sociedade.
8
Além da preocupação com a institucionalização com a instrução pública, o Ministério da Educação
trouxe consigo uma forte preocupação com a Cultura, expressando a necessidade de se criar uma politica
de Estado para o setor.
9
Não totalmente, pois neste período, o samba e o carnaval, passam a ser vistos como símbolos nacionais,
saindo da condição de marginalidade até então imposta pela cultura erudita (CALABRE 2007).
32
consolidando as ações de preservação no país, dando-lhe importantes destaques e
eternizando dentre a história social da nação (CALABRE 2007). Os bens tombados nas
primeiras décadas de atuação do SPHAN são até os dias de hoje, amplamente
reconhecidos como parte do patrimônio cultural nacional, expressando a penetração e o
enraizamento destas ações.
33
identidade seja forjada sobre uma ótica branca, católica e aristocrata sob forte
influencias de uma ditadura, foi o patrimônio cultural que hoje representa o país.
34
instituição foi o de conhecer todo o território brasileiro e inventariar os bens
patrimoniais passíveis de preservação (tombamento), em todo o território nacional.
Neste contexto, Santos (2012) argumenta que a preservação dos bens culturais
destinava-se a um campo muito restrito, fiel às tradições francesas, incluía-se a arte, a
arquitetura, a literatura e a arqueologia entre suas preocupações.
35
É imprescindível ir além e questionar o processo de produção desse
universo que constitui um patrimônio, os critérios que regem a seleção
de bens e justificam sua proteção; identificar os atores envolvidos
nesse processo e os objetivos que alegam para legitimar seu trabalho
(FONSECA, 1996, p. 36).
36
como o tempo, transformou a instituição em uma espécie de refugio da cultura oficial.
Desta forma, Micelli conclui que todas as realizações do SPHAN não passavam de uma
forma de “documentação museificada cuja fruição estava apenas ao alcance de elites
sofisticadas” (MICELLI, 1987, p. 46).
37
Rubino (1996), também aponta queo próprio Rodrigo Melo Franco de Andrade,
dirigente da primeira fase do SPHAN (1937 – 1967), reconhecia que o Brasil estava
muito além do que o patrimônio cultural tombado conseguia mostrar, destacando ainda
o fato do país não ser: “constituído apenas de sua configuração no mapa do hemisfério
Sul”, mas também das “obras de civilização realizada no país: a produção material e
espiritual que herdamos” (RUBINO, 1996, p. 97).
Em seu estudo, Rubino (1996) propõe uma analise do mapa do Brasil a partir os
tombamentos realizados pelo SPHAN. A autora almejava comparar os traços entre o
mapa político-cultural e o mapa político para então buscar entender a dimensão do
vanguardismo aplicado na proteção do patrimônio cultural brasileiro. O ponto de
partida será o ano de 1938, o primeiro ano de atividades do SPHAN. Somente neste
período foram realizados 215 tombamentos por todo o território nacional, sendo, no
entanto que sua distribuição foi muito desigual pelo território brasileiro, por exemplo, o
Rio de Janeiro teve o maior número de bens tombados, seguido da Bahia, Minas Gerais,
Pernambuco entre outros conforme demonstra a Figura 1.
38
Rubino (1996) também chama atenção para a geografia estabelecida na
composição deste mapa político cultural e observa que os Estados em destaque
correspondem a menos da metade do território nacional, mas neles estão localizados os
primeiros ciclos econômicos e as primeiras capitais do país. Levando em conta as
questões políticas da formação da nação brasileira, Rubino ler no mapa o seguinte:
quanto mais se destaca a participação do Estado na consolidação (política e econômica)
do país, maiores são os números de bens tombados.
Mas as observações não param aqui, Rubino (1996) cita outro aspecto,
relacionado aos estilos arquitetônicos que compunham os conjuntos urbanos. Para a
autora, havia ainda uma hierarquia dentre as escolhas dos bens culturais tombados, onde
as construções religiosas, militares, residências, ruínas antigas e sítios arqueológicos
integravam as principais posições da política de preservação que destaca na Figura 2.
39
razão de haver um elevado número de bens culturais tombados referentes ao período
colonial.
Desta forma, Rubino (1996), afirma que até o ano 1970 o mapa político cultural
do Brasil havia tomado os mesmos limites do mapa político brasileiro. Claro que os
números e a chave para se entender o tombamento no país, ainda apareciam
desfigurados, mas o SPHAN se dava por satisfeito, pois tinha contemplado sua missão
E apresentavam em todos os Estados pelo menos um bem tombado como mostra a
figura 3.
A partir dos anos 70, uma nova fase começa se impor no campo das políticas
culturais de preservação do SPHAN. A secretaria de Educação e Cultura aproxima-se
das políticas culturais internacionais, principalmente das organizadas pela a UNESCO, e
redefine suas prioridades em relação às políticas públicas culturais e à preservação do
patrimônio cultural.
Fonseca (1997) avalia que a década de 1970 possibilitou uma abertura maior da
cultura em relação à participação da população, no sentido de valorizar, preservar e
escolher os símbolos de sua cultura, que até então era tarefa e privilégio dos técnicos e
especialistas. A partir da criação de instituições estaduais responsáveis pela preservação
41
do patrimônio cultural e da ação destes órgãos junto á população e das modificações na
legislação de âmbito nacional e estadual, amplia a preocupação pública no sentido de se
valorizar e salvaguardar um patrimônio cultural tão plural como era a cultural brasileira.
Esta é a razão pela qual dei ênfase em descrever e pontuar, com mais detalhes a
primeira e não a segunda fase do IPHAN. Mas lembrando, que os trabalhos realizados
pela instituição com Magalhães a frente também foram importante para a constituição
do patrimônio cultural nacional, principalmente para o reconhecimento ou
conhecimento do patrimônio cultural imaterial que compõe a cultura brasileira.
42
3.3 – FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
43
Em 1975 ocorreu a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e o da Guanabara em
apenas um, o atual Estado do Rio de Janeiro. Em meio a esta união, o DPHAERJ se
estabeleceu como, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de
Janeiro – INEPAC e assume definitivamente o paradigma distinto que o diferenciava do
IPHAN. O INEPAC propunha uma ampla e abrangente política preservacionista onde a
noção histórica não era o único critério, mas um dos critérios para a interpretação dos
bens culturais de uma sociedade (PEIXOTO, 1990).
Segundo Teixeira (2008), durante este processo ocorria uma acirrada disputa
simbólica entre a identidade do Estado e suas regiões. Porém, o núcleo central das lutas
dava-se sobre a conservação de um patrimônio que destacasse o Rio de Janeiro dentro o
cenário nacional. Desta maneira, a principal preocupação do INEPAC era preservar os
bens, entendidos como “rejeitados” pelo órgão federal, estruturando ainda suas ações
para atender todas as diferenças que o patrimônio estadual apresentasse.
44
capital. Pois, este patrimônio cultural desrespeitava mais a cultural estatual, alvo do
estado e não da Nação.
45
IV – metodologia
Foto 4: Sede da Sociedade Beneficente dos Artistas (SBA), foi construí 1906 para ser o
ponto doa artistas da cidade. Na década de 1980 passou a abrigar não só o teatro, mas
também o cinema. Ficou por muitos anos funcionando precariamente ate ser restaurado
(2005) e devolvido à sociedade sanjoanense.
46
4.1 – ÁREA DE ESTUDO
47
Fugira 4: Mapa de Localização do Município de São João da Barra\RJ
Com um total de 17.450 domicílios, 44% das residências são de turistas que
frequentam a cidade ocasionalmente apenas no verão, feriados e fim de semana. Estas
casas encontram-se em sua maioria nos distritos de Atafona e Grussaí. Os domicílios da
população fixa ficam agrupados em sua maioria, no Distrito sede de São João e nos
distritos de Pipeiras, Cajueiros e Barcelos, área rural de São João da Barra (TCE 2014).
Porém, com a chegada do Complexo Portuário do Açu instalado no 5º distrito, a
realidade rural esta sendo mudada gradativamente.
48
A oferta cultural no município não é muito variada, e a maioria dos
equipamentos culturais em funcionamento identificados nesta pesquisa situa-se na sede.
Tais equipamentos estão enumerando no Mapa de Cultura do Estado, projeto realizado
pela Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, para preencher a lacuna existente
sobre os indicadores culturais no Estado (Figura 5),são eles: Centro Cultural João Oscar
do Amaral Pinto – A antiga Câmara Municipal e Cadeia; Centro Cultural Narcisa
Amália – Antigo Conjunto arquitetônico do Mercado Municipal; Estação das Artes
Derly Machado – Prédio da antiga estação de trem da cidade; Palácio Cultural Carlos
Martins – Edificação típica da região que abrigou o Grupo Escolar Alberto Torres;
Biblioteca Pública Municipal Professor Aluízio de Castro Faria – estalada no Palácio
Cultural Carlos Martins; Auditório Municipal – no terceiro andar da antiga casa do
barão de Barcelos.
O Sesc de Grussaí e o Espaço da ciência são os únicos pontos fora dos limites da
Sede, localizado no Balneário de São João da Barra. Os dois lugares citados são
importantes pontos de referências para os turistas do município, sendo o Sesc o primeiro
lugar de referência cultural que extrapolou os limites municipais atraindo turistas de
vários lugares do país. (TCE, 2014; SITE PREFEITURA DE SÃO JOÃO DA BARRA,
2014).
49
Fugira 5: Mapa de Localização dos equipamentos culturais do Mapa de Cultura do
Estado /RJ
50
4.2 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
51
de questionários respondidos foi de 65 10 (LAKATOS E MARCONI, 2007), estes foram
distribuídos conforme mostra a tabela 1.
A sede do município, São João teve a maior participação na amostra, em virtude de, ser
o distrito mais populoso e onde se encontra os principais comércios do município como;
supermercados, lojas e agências bancárias, além das repartições públicas, hospitais,
correios e os principais bens culturais materiais.
10
De acordo com o método proposto por Lakatos e Marconi (2007), determinamos que 65 questionários
era o tamanho mínimo permitido para uma amostra válida. Para se calcular uma amostra válida é
necessário considerar a população real que se deseja estudar e o nível de confiabilidade que se pretende
atingir, as variedades que possam influenciar seu resultado e uma margem de erro. Após a analise e o
calculo destas variáveis o resultado obtido é o número mínimo de questionário que valida a pesquisa.
52
V – DISCURSOS E PRÁTICAS
Foto 5: O prédio foi construído para ser a residência do Comendador André Gonçalves
da Graça e sua esposa. Gonçalves era um dos mais ricos traficantes de escravos, e esta
construção era considerada a mais elegante do inicio do século XX.
53
5.1 – A CONSTRUÇÃO DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BARRA
A Vila de São João da Praia, atual São João da Barra, teve inicio com a
colonização da foz do Rio Paraíba do Sul. Anteriormente essas terras eram habitadas
por vários índios, principalmente os da etnia goitacá que estabeleciam moradias nas
planícies alagadas resultado da transposição do Paraíba do Sul (OSCAR 1976). Os
índigos goitacás foram um dos mais hostis dando muito trabalho para os colonizadores
que tiveram a missão de colonizar esse território.
Pero de Góis donatário responsável pela Capitania São Tome, onde a vila São
João da Praia pertencia, tentou por duas vezes dominar essas terras. Por um tempo
consegui até manter a Vila da Rainha funcionando com um dos primeiros engenhos da
região, mas, logo os goitacás o fizeram desistir de sua conquista. São Tomé só foi
definitivamente colonizado com a chegada dos Sete Capitães, enviado da Capitania do
Rio de Janeiro pela coroa Portuguesas a fim de acabar com os conflitos e conquistar a
região (OSCAR, 1976; FEYDIT, 1900).
54
de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, atual cidade de Campos dos Goytacazes
que eram transportados para a Corte do Rio de Janeiro e para Portugal (FEYDIT, 1900;
OSCAR 1976).
Neste sentido São João da Barra vivia nesta época, a dialética de ser um simples
povoado que estava por se tornar um dos portos mais importantes da colônia. (FEYDIT,
1900; CARVALHO, 1988). Tal passagem renderia profundas transformações tanto
econômica e política como também cultural e social onde o legado pode-se identificar
dias atuais.
Para Carvalho (1988) São João da Barra viveu seu auge entre os anos de 1740 a
1860. O desenvolvimento poderia ser visto por toda a vila, que coincide com o período
em que o urbanismo se desenvolveu na região, com a abertura e pavimentação de ruas e
a construção de praças, igrejas e prédios públicos. Ribeiro (2010) ressalta que muitos
momentos do apogeu de São João da Barra foram descritos no Almanaque Laemmert–
Almanak administrativo, mercantil, e industrial do Rio de Janeiro editado no Estado
pelos irmãos Eduard e Heinrich Laemmert entre os anos de 1844 a 1889.
55
arenoso e enxuto...” (ALMANAQUE, 1844-1889, apud
RIBEIRO 2010, p. 39).
Embora a situação de abandono dos portos tenha sido uma condição vivida em
todo o Brasil, São João da Barra sofreu mais com tal rompimento, uma vez que
dependia exclusivamente das práticas portuárias (OSCAR, 1976). A decadência do
município correspondeu, portanto, à desvalorização do porto da região em decorrência
da criação da Estrada de Ferro da Leopoldina, construída para fazer o transporte da
produção açucareira do interior para a capital. Somam-se a isso as crises na produção do
açúcar no século XX, base da economia regional que movia o porto (PAULA, 2000).
56
A situação de abandono apresentado pelo patrimônio cultural material é uma
realidade nacional e não apenas local de São João da Barra, Gonçalves (2002) justifica
tal situação a falta de contato entre os bens culturais e sua população. Segundo o autor, a
importância e o valor que se atribui aos bens vem do relacionamento cotidiano entre o
homem e a sua cultura. Os objetos só se tornam símbolos se fizerem parte cotidiana da
vida dos indivíduos.
Para Gonçalves (2002), a ausência desta relação faz com que a proteção e a
conservação do patrimônio cultural material sejam prejudicadas e caia no estado de
desvalorização, como pode ser observado em São João da Barra. Devido à crise
econômica ao longo dos séculos XIX e XX, o município renunciou as ações que
favoreciam ao fortalecimento das práticas culturais, inclusive aquelas relacionadas à
preservação dos bens culturais, que perdem a legitimidade e relevância para a vida
social coletiva dos sanjoanense.
57
Embora hoje, em sua maioria os bens materiais de São João da Barra apresentem
em um bom estado de conservação, vale salientar que, tal situação subsiste muito mais
pelas iniciativas cívicas, por partes das irmandades religiosas, dos grupos de artistas e
de artesões do município do que por iniciativa do poder público da cidade. São João da
Barra não conta com nenhum tipo de legislação municipal para a preservação dos seus
bens culturais materiais, todos os bens tombados no município são frutos de órgão
externo como o IPHAN responsável pela preservação do patrimônio nacional e o
INEPAC encarregado de identificar e proteger os bens culturais característicos do
Estado do Rio de Janeiro.
São João da Barra tem em seu acervo patrimonial apenas dois bens tombados e
mais dezoitos bens culturais que identificamos nesta pesquisa, totalizando assim, um
conjunto de vinte bens edificados característicos não só da cultural local mais também
parte da história e da memória estadual e nacional.
A Casa de Câmara e Cadeira de São João da Barra foi o primeiro prédio a ser
tombado no município. Em 1965, em reconhecimento da importância do imóvel para o
patrimônio nacional o governo federal, através do IPHAN, tomba o prédio. Essa foi à
primeira iniciativa pública em defesa dos bens culturais materiais no município
(OSCAR 1976).
58
“risco” só foi entregue em 1794 e suas obras concluídas no ano de 1797 pelos mestres
de obras Manoel Francisco da Encarnação, e Manoel Barreto (INEPAC II, 2004).
Foto6: Casa de Câmara e Cadeia de São João da Barra Foto 7: Casa de Câmara e Cadeia de São João da Barra
ano de 2015. Fonte: Arquivo da Autora ano de 1940. Fonte: João Oscar
59
(OSCAR, 1976). O segundo pavimento destas construções eram onde se encontravam
os poderes jurídico, administrativo e militar da vila ou cidade, dividido em várias salas e
quando a ocasião pedia se reuniam no plenário de julgamentos (CASTRIOLA. 2012).
60
Tabela 2 – Lista das Casas de Câmara e Cadeia no Brasil
Estado \ Municípios Ano de Ano de
Construção Tombamento
BA\ Cachoeira 1712 1941
BA\ Porto Seguro 1756 1968
BA\ Rio de Contas 1835 #
BA\Santo Amaro 1836 1941
BA\ Santa Cruz Cabrália 1835 1979
BA\ Salvador 1660 1952
CE\ Aquiraz 1877 #
CE\ Aracati 1779 1973
CE\Caucaia 1781 1939
CE\ Icó 1744 1962
CE\ Quixeramobim 1818 1964
GO \ Goiás 1761 1942
GO \ Pirenópolis 1727 #
MG\ Mariana 1795 1938
MG\ Ouro Preto 1795 1938
MG\ Pitangui 1715 #
PE\ Brejo da Madre de Deus 1833 1987
PB\ Pilar 1877 1941
PR\ Lapa 1866 1938
RJ\ São João da Barra 1794 1965
RN\ Acari 1855 1964
RN\ Vila Flor 1860 1962
SP\ Atibaia 1836 #
SP\ Santa Bárbara do Oeste 1896 1962
SP\Santo 1835 1936
Fonte: Lista de Bens Tombados e Processos em andamento (1938 – 2015), IPHAN, 2015
61
políticas, trazendo assim, novas exigências para o Estado brasileiro onde o
reconhecimento da nacionalidade passou a ser essencial para a afirmação do regime.
Com um intervalo de mais de dez anos, o segundo bem beneficiado pela política
preservacionista em São João da Barra, foi o prédio do Grupo Escolar Alberto Torres,
no final da década de 1970 (INEPAC II, 2004). Embora, o órgão responsável por este
tombamento fosse diferente do primeiro, INEPAC e não IPHAN pode-se observar que,
o contexto histórico e cultural que ocorreu às ações era o mesmo, a ditadura militar. A
política rígida, censurada e muita vez violenta dos militares, ainda estava em vigor no
ano em que o bem cultural material foi tombado (1969), ou seja, tal ação ainda
representava um meio de coesão social (SCHWARZ 2005).
62
Foto 8: Palácio Cultural – Antigo Grupo Escolar Alberto Foto 9: Palácio Cultural – Antigo Grupo Escolar
Torres ano de 2015. Fonte: Arquivo da Autora Alberto Torres ano de 1940. Fonte: João Oscar
O sobrado estilo chalé romântico do século XIX é um imóvel urbano que foi
construído para ser a residência de um dos mais ricos armadores da vila na época
(OSCAR 1976). Localizado na parte central da cidade, na confluência das ruas dos
Passos e Coronel Teixeira, a casa fica próximo à Praça São João Batista e a duas
quadras do antigo porto. A fachada principal do sobrado conta com oito janelas e quatro
sacadas corridas em serralharia no andar superior. Nas fachadas laterais, somam-se
vinte e quatro janelas, e todas do segundo piso com sacada (INEPAC II, 2004).
63
Vale ressaltar, que o prédio não foi tombado apenas por sua arquitetura, mas,
pela função social que exerceu durante anos no município (INEPAC II, 2004). Um dos
maiores símbolo do poderio da região Norte Fluminense e mesmo do Estado do Rio de
Janeiro no século XIX, eram as casas, solares e palacetes fruto do intenso urbanismo
trazido pelo boom econômico da cana de açúcar. Tais residências tinham a necessidade
de abrigar as famílias em uma estrutura ampla, confortável e muito mais luxuosa que as
rústicas casas das fazendas (INEPAC I, 2004).
64
Tabela 3 – Sinóptica Bens Inventariados do Projeto Inventário de Bens Culturais
Imóveis do Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis; Desenvolvimento Territorial dos Caminhos
Singulares do Estado do Rio de Janeiro, INEPAC, 2004.
Nota-se, mais uma vez que, a iniciativa de resguardar os bens culturais locais é
tomada por órgãos externos. Ou seja, quem faz as considerações do que é importante ou
não, para se perpetuar nas gerações futuras da cidade não é o poder municipal,
atendendo as necessidades locais, mas o poder estadual. Torrico (2012) salienta que,
junto aos registros dos bens culturais vêm agregados valores e conceitos que visam às
particularidades do lugar. Em São João da Barra, como pode-se observar, estas
peculiaridades são determinadas pelo Estado, e com isso, importantes características
locais são ignoradas, passando despercebidas.
65
INEPAC no ano de 2003 para consolidar os bens que a população de São João da Barra
identificava como seu patrimônio cultual. Pode-se observar que, em sua maioria os bens
listados são igrejas, estabelecimentos comercias e industriais, casas e paisagens que
representam muito mais a memória da formação político, econômica e cultural da
comunidade local da queda região.
66
Figura 6: Mapa de Localização dos Bens Culturais do Projeto de Inventário do INEPAC
em São João da Barra
67
ferro; unidade de tratamento de petróleo, e deposito de armazenamento de produtos
(KURY; REZENDE; PEDLOWSKI, 2010). O distrito de Piperas, hoje perdeu a maior
parte do seu território para o completo portuário, e mais uma vez, a cultura local é
sacrificada em nome do progresso e desenvolvimento, e o poder municipal apóia
deixando suas tradições, seus valores, sua população a mercê de projetos externos ao
município. Mesmo que neste distrito não tenham nenhum registrado de bem material
relevante para a história e cultura do município, consideramos que os impactos gerados
pela construção do porto atingirão todo o município, sobretudo o distrito que sede do
porto - Piperas. E não havendo um programa político definido de atuação na área da
cultura e da preservação dos bens culturais, certamente estarão mais vulneráveis aos
projetos urbanos modernizadores que não levam em conta este patrimônio.
11
De acordo com o método proposto por LAKATOS, e MARCONI (2007), determinamos que 65
questionários era o tamanho mínimo para uma amostra válida, tendo em conta a população total do
município. Para se calcular uma amostra válida é necessário considerar a população real que se deseja
estudar e o nível de confiabilidade que se pretende atingir, as variáveis que possam influenciar seu
resultado e uma margem de erro. Após a análise e o calculo destas variáveis o resultado é o número de
questionário que validará sua pesquisa.
12
Esta área foi tombada como parte do processo de tombamento (E-18/300.459/1985), que corresponde ao
Litoral Fluminense e se estendem por mais de um município.
68
Posteriormente, oito bens foram identificados por mim durante a leitura
bibliográfica sobre o município e embora não constassem em nenhum inventário e
foram incluídos na pesquisa; são eles: Cine-Teatro; Indústria Thoquino; Estação das
Artes Derly Machado; Igreja de Santo Amaro em Grussaí; Igreja Nossa Senhora da
Penha em Atafona; SESC Mineiro em Grussaí; Fazenda Santa Maria e Balneário de
Atafona (Tabela 4). Alguns destes bens culturais selecionados para esta pesquisa no
município, tais como, o Cine Teatro, datado do final do século XVIII, a indústria
Thoquino, de 1908, a Estação das Artes, antiga estação ferroviário erguida em 1897
(SITE DE SÃO JOÃO DA BARRA, 2014; FEYDIT, 1900), representam a memória
local, as particularidades de São João da Barra e quiçá, por esta razão, não foram
incluídos no estudo realizado pelo Estado, porém, para o nosso estudo eles eram
fundamentais.
Nº BENS
1 Casa de Câmara de Cadeia
2 Palácio Cultual Carlos Martins
3 Centro de Cultural Nacisa Amália
4 Cine Teatro
5 Estação das Artes Derly Machado
6 Solar do Barão de Barcelos
7 Fórum Municipal
8 Usina de Barcelos
9 Indústria Thoquinos
10 Igreja Nª Sª Boa Morte
11 Igreja Matriz de São João da Barra
12 Igreja São Benedito
13 Igreja Nª Sª da Penha
14 Igreja São Pedro
15 Igreja Santo Amaro
16 Sesc Mineiro de Grussaí
17 Balneário de Atafona
18 Fazenda Santa Maria
Fonte: Pesquisa da Autora, 2015.
69
Os bens culturais listados eram conhecidos pela população que respondeu o
questionário. Na verdade, foram poucos menos de 26% dos entrevistados que não
conheciam mais de dez bens cultuais do questionário (Tabela 5). Vale ressaltar que, o
termo conhecer nesta pergunta, significava saber qualquer informação sobre o imóvel,
como sua origem, ano de construção, função antiga ou atual.
70
Tabela 6 - Atividades praticadas pela população de São João da Barra
Atividades Participantes
Esportiva 47%
Cultural 80%
Religiosa 82%
Festiva /Recreativa 60%
Ligada a Natureza 28%
Todas as atividades 05%
Fonte: Pesquisa da Autora, 2015.
Tabela 8 – Você conhecer algum Patrimônio Cultural aqui em São João da Barra?
Entrevistado Sim Não Não Sei
82% x
10% x
08% x
Fonte: Pesquisa da Autora, 2015.
71
A idade dos entrevistados foi um ponto que não influenciou sobre o
conhecimento apresentavam sobre o tema. Tantos os mais jovens quantos os mais
idosos, todos demonstravam o mesmo tipo e nível de informação sobre o patrimônio
cultural local. Se observarmos a idade da população amostral da presente pesquisa, varia
entre 15 anos e 53 anos como demonstra a tabela 9 abaixo. Mas, as experiências
adquiridas ao longo da vida não contribuíram muito para que a população mais idosa de
São João da Barra obtivesse um conhecimento diferenciado. Tanto a nova quando a
antiga geração apresenta as mesmas noções em relação aos bens culturais.
Outro ponto que também não apresentou muito diferenças nos dados obtidos na
pesquisa foi à escolaridade dos entrevistados. Embora, 67% (tabela 10) dos
entrevistados não tinham o Ensino Médio completo, o conhecimento referente ao
patrimônio cultural apresentado pela população era linear. Ou seja, o conhecimento
sobre os bens culturais e sua preservação, tanto para os que tinham ensino superior
quantos para os que tinham ensino fundamental ou médio, era o mesmo. Pois, o
município não fornecia programas ou políticas culturais que auxiliassem as gerações
sobre a importância do seu patrimônio cultural.
72
projetos socioeducativo, principalmente os desenvolvidos pela secretaria de Meio
Ambiente que utilizar a barca da ciência para passar a importância de ser protege os
bens naturais da região.
73
Tabelas 11 – Tabelas de Bens Culturais Materiais de São João da Barra
74
Figura 7: Mapa de Localização dos Bens Culturais da Pesquisa em São João da Barra
75
5.3 – POLITICA PÚBLICAS E AÇÕES DE PRESEVAÇÃO EM SÃO JOÃO DA
BARRA
No entanto, de acordo com os dados levantados pela presente pesquisa, São João
da Barra numa possuiu leis municipais de cultura, e sequer leis destinadas à proteção e
conservação dos bens culturais. Na verdade, as ações preservacionistas encontradas no
município não correspondem às acepções que definem as políticas públicas de cultura,
mas, refere-se a um ato aleatório, cujo objetivo é a conservação do “poder simbólico”
(BOURDIEU, 2003), considerando que os bens culturais exercem influência sobre as
conjunturas políticas e culturais locais.
76
voltadas para a preservação dos bens culturais são parte de acordos e de negociações
entre os grupos sociais que formam dada comunidade. A falta de tais políticas reflete a
posição escolhido pelo poder público, pois a ausência de interesse pelo setor cultural (de
preservação) indica que o poder local optou por estimular outros setores da sociedade
como, por exemplo, a econômica, as influencia político entre outros.
Mas, como ressalta Laraia (2001), se tratando de cultura é preciso analisar com
cautela e flexibilidade todos os casos, pois, “toda a cultura depende de símbolos. Todo
77
comportamento humano se origina no uso de símbolos.” (LARAIA 2001, p. 56). Ou
seja, os símbolos são fundamentais para a cultura. A própria definição de patrimônio
cultural prioriza os objetos, os monumentos, as edificações que caracterizam a
versatilidade dos símbolos e as políticas que buscam salvaguarda esses bens, precisam
pensar de maneira mutável e flexível como ele é.
No caso de São João da Barra, o preocupante é que nenhuma das ações tuteladas
foi realizada pelo município, todas partem de um órgão federal ou estadual. A falta de
órgãos municipais responsáveis pela preservação dos bens culturais da cidade, assim
como a ausência de programas culturais, projetos de preservação e incentivos
econômicos, chamam a atenção.
Assim, a ideia que compõe os bens culturais, o que preservar e como proteger,
surge das discussões dos conselhos de cultura; das conferências municipais, estaduais e
nacionais; das comissões de cultura, que traçam as melhores estratégias para
salvaguarda o legado cultural de uma comunidade. Sem a participação nestas
organizações, a comunidade ou o grupo social limita seu conhecimento em relação ao
que pode ser ou não, patrimônio e acaba legitimando qualquer coisa, ou elemento que
não corresponde a suas tradições. E assim, vivem a sombra dos interesses político-
culturais das sociedades contemporâneas (GONÇALVES, 2007; SEMENSATO, 2010).
78
Os espaços de debates criados pelos conselhos e comissões, refletem à
cooperação popular, onde os interesses locais são colocados em destaque e as
referências culturais são debatidas, estruturadas, votadas e selecionadas. Este tipo de
atividade fortalece não apenas as políticas públicas culturais do município, mas também
contribui para as políticas culturais estaduais e nacionais (SEMENSATO, 2010).
O deportado A.F. que também nos concedeu entrevista, afirma que hoje é a
câmera municipal que tem realizado algumas ações em função da proteção do
patrimônio cultural de São João da Barra. Mas, A.F. também reconhece que muito ainda
preciso ser realizado, principalmente em função da nova geração e a manutenção das
tradições locais.
79
aqui no município, pelo menos a meu ver, quem tem feito este trabalho são as igrejas, as
irmandades, na verdade. Elas cuidam das igrejas e passa essa tradição de pais para filho,
mãe pra filha, pra neta e assim vai”(A.F. Entrevistado em 2015).
80
desenvolvimento, principalmente econômico do lugar. E os sanjoanenses têm
conhecimento disso, como mostra a fala de um dos entrevistados, onde ressalta que a
preservação dos bens culturais:
Com a ausência das politicas culturais em São João da Barra, a população local
acostumou-se com a falta de tais referências e assim jugam satisfatórios a realidade
atual dos bens culturais do município conforme a tabela 14. Porém, tal fato passa longe
de ser o ideal dentre as atribuições das políticas culturais.
10% X
81
No entanto, vale ressaltar que a política cultural é muito mais que conservar a
arquitetura dos bens culturais, ela também é a manutenção da memória, do uso e da
referência do patrimônio cultural. Fazer com que a população entenda a relevância dos
seus bens, a peculiaridade que esses têm na dinâmica social local, regional e nacional é
o ponto chave da discussão, por isso é importante manter um canal de incentivo à
cultura aberta para todos os grupos sociais de uma sociedade (TORRICO, 2012;
CHOAY, 2001).
Os bens culturais são álibi utilizado pela política, pela economia, são meio para
atingir fins. Ao cuidar da parte material dos bens culturais a prefeitura de São João da
Barra, atendeu aos seus próprios interesses, ao mesmo tempo supre as expectativas de
82
parte da população. O que os olhos ver estão arrumados, conservado e para o poder
municipal é suficiente, isso atrai turistas, fortalece a economia, a história, a cultura, a
tradição são passada pelos próprios grupos sociais por que investir nisso se de um modo
ou de outro os valores são passado de geração a geração e sempre vai ser passado.
83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foto 10: Antigo cais do porto no Rio Paraíba do Sul. Um dos lugares onde pode-se
observar um dos mais lindo por do sol de São João da Barra. No lugar também é
possível encontrar vestígios do antigo cais.
84
Considerando os objetivos propostos inicialmente para esta pesquisa, ou seja,
identificar os bens culturais existentes em São João da Barra e as políticas públicas de
cultura relacionadas à preservação do patrimônio cultural local, pode-se afirmar que os
resultados obtidos foram satisfatórios, e contribuíram para esclarecer os
questionamentos iniciais.
Em São João da Barra, a falta de incentivos do poder municipal faz com que os
bens culturais percam seu papel de contribuir para a formação cidadã dos munícipes. O
patrimônio cultural pode contribuir enormemente no processo educacional, reforçando o
interesse pelo lugar origem e pela historia local, fortalecendo a coesão social. As
lacunas deixadas pelos gestores municipais, são parcialmente preenchidas pelos órgãos
responsáveis pela preservação do patrimônio em âmbito estadual e nacional.
85
humano, político e cultural da comunidade, faltam-lhe posicionamento, ações que
recuperem a importância da cultura, favorecendo o relacionamento entre a população
sanjoanense e seu patrimônio cultural.
Por fim, esta pesquisa aponta que novos caminhos precisam ser traçados para o
patrimônio cultural, sobretudo nos municípios do interior. Os bens culturais
primeiramente precisam ter valor em sua localidade, depois nas regiões e estados e, por
último, associam aos símbolos nacionais. Sem tal processo, os bens patrimoniais não
exercem o papel que lhes são de direito e passam a serem apenas edifícios, ou imóveis
como outros existentes na paisagem do cotidiano.
86
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
87
_____________. Los Usos socieales Del patrimônio cultural. Em Aguilar Criado,
Encarnacíon. Património Etnológico. Nuevas perspectivas de estudioConsejería de
Cultura. Junta de Andalucía. Paginas: 16-33. 1999.
FEYDIT, Julio. Subsidios para a História dos Campos dos Goytacazes – Desde os
tempos coloniaes até a Proclamação da Republica. Campos: Typographia de J.
Alvarenga &Comp, 1900.
88
___________. Antropologia dos objetos: coleções, museus e patrimônios. Rio de
Janeiro: IPHAN/Departamento de Museus e Centros Culturais, 2007.
KURY, Karla Aguiar; REZENDE, Carlos Eduardo de; PEDLOWSKI, Marcos Antonio.
O Entendimento da População de São João da Barra sobre a Influência do Mega-
empreendimento do Complexo Portuário e Industrial do Açu em seu Cotidiano. In:
ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS, V., 2010, Florianópolis. Anais. Florianópolis
- Sc: Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade.,
2010. p. 1 - 17. Disponível em: . Acesso em: maio de 2015.
OSCAR, João. Apontamentos para a História de São João Da Barra. Rio de Janeiro,
1974.
PRADO, Caio Junior. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia. 12. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1972.
SANTOS, Cecília Rodrigues dos. A noção de patrimônio e a origem das ideias e das
práticas da preservação no Brasil. Arquetextos – Vitruvius. Outubro 2012.
www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.149/4528.
91
TEIXEIRA, Simonne. Um olhar sobre o Papel do Instituto Estadual do Patrimônio
Cultural - INEPAC na Construção da Identidade no Estado do Rio de Janeiro. IV
Simpósio Nacional de História Cultual. Outubro 2008. Goiânia, Goiás.
92
ANEXOS
93
Questionário Para População
DP.1 – Qual sua Idade? _____
DP. 2 – Sexo? ( ) Masculino ( ) Feminino
DP. 3 – Cor?1( ) Branco 2( ) Negro 3( ) Pardo 4( ) Amarelo 5( ) Indígena
DP. 4 – Qual é o seu grau de escolaridade?
1. Fundamental Incompleto( ) 5. Superior Incompleto ( )
2. Fundamental Completo ( ) 6. Superior Completo ( )
3. Médio Incompleto ( ) 7. Pós-Graduação Incompleto( )
4. Médio Completo ( ) 8. Pós-GraduaçãoCompleto ( )
P.C.5 – Quais destes lugares você considera patrimônio cultural de São João da Barra?
94
Estação das Artes - Derly Machado ( ) Igreja São Benedito ( )
Solar Barão Barcelos ( ) Igreja Nª Sª da Penha ( )
Fórum ( ) Igreja São Pedro ( )
Indústria Thoquino ( ) Igreja Santo Amaro ( )
Usina de Barcelos ( ) Fazenda Santa Maria ( )
P.C.6 – Dos bens culturais que você disse conhecer, quais deles vocês já visitou?
1. Todos( ) 2. Mais de dez(10) ( ) 3. Menos de dez (10)( )
4. Menos ou cinco (5)( ) 5. Nenhum( )
P.C.7 – O que você conhece sobre estes bens?
1. História do prédio ( ) 2. História dos moradores ou freqüentadores ( )
3. Origem da Construção ( ) 4. Apenas conhece de ouvir falar( )
P.C.8 – Você acha importante cuidar destes bens culturais?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.9 – Em sua opinião quem deve cuidar dos bens culturais?
1. Poder Federal( ) 2. Poder Estadual( ) 3. Poder Municipal( )
4. A Sociedade( ) 5. O Proprietário
P.C.10 – Vocêesta satisfeito com a preservação do patrimônio cultural de São João da
Barra?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C. 11 – Você se lembra de alguma obra em algum destes bens culturais?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.12 –Numa escala de tempo, isso foi a:
1. Dez (10) anos( ) 2. Cinco (5) anos( ) 3. Dois (2) anos
4. Um (1) ano5. Não se lembrar( )
P.C.13 – Em sua opinião preservar o patrimônio cultural contribui de alguma forma
para a valorização da cidade?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.14 – O que esta preservação significa para quem mora aqui em São João da Barra?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
95
Questionário para Gestores Públicas
P.C.5 – Quais destes lugares você considera patrimônio cultural de São João da Barra?
96
Casa de Câmara e Cadeia ( ) Sesc Mineiro de Grussaí ( )
Palácio da Cultura - Carlos Martins ( ) Balneário de Atafona ( )
Centro de Cultura - Nacisa Amália ( ) Igreja Nª Sªda Boa Morte ( )
Cine - Teatro ( ) Igreja Martins São João Batista ( )
Estação das Artes - Derly Machado ( ) Igreja São Benedito ( )
Solar Barão Barcelos ( ) Igreja Nª Sª da Penha ( )
Fórum ( ) Igreja São Pedro ( )
Indústria Thoquino ( ) Igreja Santo Amaro ( )
Usina de Barcelos ( ) Fazenda Santa Maria ( )
P.C.6 – Dos bens culturais que você disse conhecer, quais deles vocês já visitou?
1. Todos( ) 2. Mais de dez(10) ( ) 3. Menos de dez (10)( )
4. Menos ou cinco (5)( ) 5. Nem um( )
P.C.7 – O que você conhece sobres estes bens?
1. História do prédio ( ) 2. História dos moradores ou freqüentadores ( )
3. Origem da Construção ( ) 4. Apenas conhecer de ouvir falar ( )
P.C.8 – Você acha importante cuidar destes bens culturais?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.9 – Em sua opinião quem deve cuidar dos bens culturais?
1. Poder Federal( ) 2. Poder Estadual( ) 3. Poder Municipal( )
4. A Sociedade( ) 5. O Proprietário
P.C.10 – Vocêesta satisfeito com a preservação do patrimônio cultural de São João da
Barra?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C. 11 – Você se lembra de alguma obra em algum destes bens culturais?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.12 –Numa escala de tempo, isso foi a:
1. Dez (10) anos( ) 2. Cinco (5) anos( ) 3. Dois (2) anos
4. Um (1) ano5. Não se lembrar( )
P.C.13 – Em sua opinião preservar o patrimônio cultural contribui de alguma forma
para a valorização da cidade?
1. Sim( ) 2. Não( )
P.C.14 – O que esta preservação significa para quem mora aqui em São João da Barra?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
P.C.15 – O que você, enquanto representante do poder legislativo, tem feito pelo
patrimônio cultural de São João da Barra?
97
Leis (quais)______________________; Encontro (nome) ______________________;
P.C.16 – Você conhece alguma lei de proteção do patrimônio cultural de São João da
Barra?
98