Vitimologia
Vitimologia
Vitimologia
TEMA
2. DELIMITAÇÃO
4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo geral
Examinar se um cidadão ao exercer seu direito a liberdade sexual estará ou não ultrapassando
um limite legal ou apenas moral perante a sociedade.
2) Averiguar a motivação das pessoas a escolha do trabalho sexual, assim como, o estereotipo
desse trabalho.
5. JUSTIFICAÇÃO
O tráfico de seres humanos está ligado às vezes com uma relação de “afeto” do
criminoso com a vítima, assim sendo muito importante a abordagem da teoria da vitimologia
que deu origem ao estudo da vítima e tornou foco para a resolução de muitos conflitos,
deixando de ser mera coadjuvante do crime, para ocupar um papel principal, amparado por
análises e estudos voltados a sua conduta.
Assim como será abordado sobre a Síndrome de Estocolmo e sua relação com a
dependência sentimental e psicológica que as vítimas de sequestro, vítimas de violência
doméstica sofrem diariamente.
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Tráfico de Seres Huamanos têm como objeto a “vítima” deriva do latim victima,
está ligado a uma ideia de sacrifício, atualmente o termo “vítima” está muito ligado à lei
criminal.
A expressão "vítima" significa uma pessoa que tenha sofrido um dano, incluindo lesão
física ou mental, sofrimento emocional, não sendo apenas perda econômica, mas qualquer que
viole os direitos humanos, sendo essas violações questões centrais da vitimologia. No estudo
da vitimologia, o conceito “crime” e “violência” estão muitas vezes interligados.
A teoria da vitimologia surgiu em meados dos anos 1940, após a II Guerra Mundial,
quando o mundo testemunhou a ocorrência do Holocausto, e criou muito sofrimento.
Benjamin Mendelssohn, advogado israelita, e Hans Von Hentig, professor alemão, são
considerados como “pais” da vitimologia, apesar dessa teoria começar a surgir no meio da
criminologia, tornou-se uma ciência autónoma nos anos 70.
O termo ‘vitimologia’ foi criado por Mendelsohn, em 1945, nos seus primeiros estudos
feitos sobre o tema, que visou estudar e compreender o impacto dos danos do causados pelo
crime na vítima, verifica-se que o propósito da vitimologia é examinar a origem da
vitimização.
Hans Von Hentig, focou seu estudo em entender o que faria da vítima uma vítima, na
sua obra “The Criminal and his Victim: Studies in the Sociobiology of Crime” (1948) ele
apresentou uma classificação geral das vítimas (the young, the famele, th old, immigrants,
dull normals)1, assim como uma tipologia psicológica das vítimas (the depressed, the
acquisitive, the wanton, the lonesome and the heartbroken, the tormentor, the activating
sufferer)2, e assim criando o conceito da “vítima nata”.
1
Henting, Hans Von. The Criminal and his Victim: Studies in the Sociobiology of Crime. New Haven: Yale
University Press, 1948. pp. 383-385.
2
Henting, Hans Von. The Criminal and his Victim: Studies in the Sociobiology of Crime. New Haven: Yale
University Press, 1948. pp 419-433.
Já Benjamin Mendelsohn foi responsável pelo estudo da relação da vítima e o ofensor,
ele é o único que consegue a pena com a atitude da vítima. Ele sustenta a teoria que há uma
relação inversa entre a culpabilidade do agressor e a do ofendido, a maior culpabilidade de
uma é menor que a culpabilidade do outro, assim nenhuma vítima é totalmente inocente,
Mendelsohn3, desenvolveu 5 tipologias de vítimas:
1. A Vítima Completamente Inocente - esta vítima pode ser uma criança ou uma pessoa
completamente inconsciente, a vítima não tem responsabilidade pela sua vitimização.
2. A Vítima com Culpa Menor - vítima por causa de ações não intencionais, esta vítima
pode ser uma mulher que induz um aborto espontâneo e morre como resultado.
3. A Vítima que é tão culpada quanto o Ofensor - aqueles que são cúmplices do crime
se enquadram nessa categoria, eles realmente ajudaram na sua vitimização
4. A Vítima é Mais Culpada do que o Ofensor - pessoas que provocam outras pessoas
a cometer um crime.
5. A vítima mais culpada - a vítima age de forma agressiva e é morta pelo acusado, que
agiu em legítima defesa.
Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em 3 grandes grupos para
efeitos de aplicação da pena ao infrator:
1.Vitimização Primária - não há provocação nem outra forma de participação no delito, mas
sim puramente ao próprio crime, à própria conduta criminosa, como os danos causados pela
prática da conduta (lesões corporais, psicológicas, etc).
3
NUNES, Laura M. Ana, Sani. Manual de Vitimologia. 2021
3.Vitimização Terciária- é causada pela sociedade que envolve a vítima, a própria sociedade
não acolhe a vítima, e muitas vezes a incentiva a não denunciar o delito às autoridades, de um
modo geral. Ocorre, com maior frequência, nos crimes que provocam efeitos
"estigmatizantes", como o estupro e ocorrendo o que se chama de cifra negra (quantidade de
crimes que não chegam ao conhecimento do Estado).
Assim, estes crimes têm como enfoque a privação da liberdade pessoal, implica na
imposição de alguém com “poder” sobre outrem que é a pessoa que está privada de sua
liberdade, este crime integra o conceito de criminalidade altamente organizada5, assim o
combate ao tráfico humano tornou-se uma prioridade na Comissão Europeia.
O tráfico de pessoas é um crime que vem crescendo cada vez mais, com a dificuldade
para gerar provas suficientes, os criminosos enriquecem com facilidade sem muito risco como
os crimes de roubo onde a incidência de prisão é maior, sendo está a principal causa do tráfico
de pessoas.
O tráfico de pessoas pode ter vários fins, como trabalhos domésticos, casamentos
forçados, canteiros de obra, setor agrícola, trabalhos forçados em fábricas, benefícios de fraude,
troca de órgãos, apesar dessas variáveis a principal forma de exploração é a sexual, sendo
praticamente mais da metade desses crimes.
4
SIMÕES, Euclides Dâmaso, Tráfico da Pessoas – Breve análise da situação de Portugal. Revista Ministério
Público, Nº91, Ano 23 Jul/Set 2002, pp 81-82.
5
GUIA, Maria João "UNIÃO EUROPEIA E O COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS", Debater
a Europa, N.17, jul-dez 2017, pp 7.
6
Segundo consulta ao RELATÓRIO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES, https://eur-
lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A52022SC0429.
tráfico ainda tem um número significativamente elevado, até porque o número real de vítimas
é provavelmente maior do que os dados do relatório, já que essas estatísticas são apenas de
vítimas que se tornam conhecidas por uma das entidades de registo e muitas vítimas
permanecem sem serem detetadas, analisar o tráfico de pessoas não é uma tarefa fácil por toda
as suas características como um fenómeno encoberto, que tem implicações a nível social,
económico, político, criminal.
Contudo, as incidências das vítimas de tráfico de pessoas na União Europeia para fins
de exploração sexual são principalmente de vítimas de sexo feminino, sendo 73% mulheres e
27% meninas7.
O crime de tráfico de pessoas está artigo 160º do Código Penal Português8, onde
inspirou-se em todos os acordos internacionais com o propósito de combater este crime. O
trafico de pessoas não é algo que ocorre unicamente no âmbito internacional, também assumi
outra característica, podemos dizer como um “tráfico nacional”9, assim quando alguém é
traficado de uma cidade para outra, configura-se como tráfico interno, já quando alguém
recruta, transporta, alicia para depois explorar em outro país, configura-se como transnacional.
7
Segundo ao relatório da Comissão do Parlamento Europeu, https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A52022SC0429.
8
Quem realiza a ação de oferecer, entregar, recrutar, aliciar, aceitar, transportar, alojar, acolher pessoa(s), por
meio de violência, rapto, ameaça grave, ardil ou manobra fraudulenta, abuso de autoridade, aproveitamento de
incapacidade psíquica ou especial vulnerabilidade, com o objetivo de exploração, nomeadamente exploração
sexual, exploração laboral, mendicidade forçada, escravidão, extração de órgãos, exploração de outras atividades
criminosas.
9
SIMÕES, Euclides Dâmaso, Tráfico da Pessoas – Breve análise da situação de Portugal. Revista Ministério
Público, Nº91, Ano 23 Jul/Set 2002, pp 83.
6.2 Trabalho Sexual
10
Tendo por objeto de proteção o bem jurídico «liberdade sexual», protegido nos termos dos artigos 25.º e 26.º
da Constituição, o crime de lenocínio encontra-se previsto no artigo 169.º do Código Penal.
11
GUIA, Maria João "UNIÃO EUROPEIA E O COMBATE AO TRÁFICO DE SERES HUMANOS", Debater
a Europa, N.17, jul-dez 2017, pp 14-15.
12
CRUZ, Francisco I. dos Santos, Da Prostituição na cidade de Lisboa de 1841, Lisboa: Publicações Dom
Quixote, coleção Portugal de Perto, N.o5, 1984 p.307.
13
OLIVEIRA, Alexandra. Vitimização, crime ou trabalho? Espacos à margem. pp.88.
14
OLIVEIRA, Alexandra Prostituição Feminina, Feminismo e Diversidade de Trajetórias. Universidade do
Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação, Porto, Portugal. ex equo, nº28, 2013. pp. 24-25.
dependentes de ninguém. Elas têm como equivalentes as free women da África oriental15, assim
ultrapassa o estigma do trabalho sexual e exerce sua plena liberdade sexual.
Em Portugal, as políticas sobre o trabalho sexual foram mudando ao longo dos anos. O
trabalho sexual foi uma atividade regulamentada entre 1853 e 1962, sendo uma atividade legal,
mas tinha uma sujeição a um controle policial, já de 1963 a 1982, a atividade sexual passou a
ser conderada crime, assim gerando uma onda de mulheres presas por seres prostitutas, desde
1983 está atividade foi descriminalizada, estando prevista no Código Penal o crime de
lenocínio para quem favorecer ou facilitar este exercício.
O trabalho sexual hoje não é considerada um crime em Portugal, mas também não é
uma atividade profissional regulamentada.
Além das leis criminais, não há leis laborais ou tributárias, ou quaisquer outras leis,
relativas ao trabalho sexual. No entanto, embora a prática do trabalho sexual não seja crime,
há um crime associado a esta atividade: o crime de lenocínio.
O trabalho sexual não é considerado crime em muitos países da Europa, entretanto pode
ser considerado como um desvio à norma, é um desvio a norma que tem um caracter
moralizante muito negativo, tendo uma desconformidade da forma, em alguns países o trabalho
sexual é ainda considerado crime.
Na França, o trabalho sexual não é crime, mas, pune o cliente das trabalhadoras sexuais,
a Suécia foi o primeiro país a criminalizar o comportamentos dos clientes, em vez do das
pessoas que praticam o trabalho sexual, em 199916, após amplo debate com a sociedade, o
Parlamento da Suécia concluiu que era necessário punir então clientes da prostituição, em nome
de vários princípios que já eram aceitos pela população do país, desde 1970, como a igualdade
entre mulheres e homens, o que é incompatível com a relação do trabalho sexual, assim
caraterizando como um desvio à norma.
15
NICI, Nelson. (1987) “«Selling her kiosk»: Kikuyu notions of sexuality and sex for sale in Mathare Valley,
Kenya”, in: Pat Caplan (org.), The cultural construction of sexuality, pp 217-239. London: Routledge.
16
Prostituição na Europa: enquadramento internacional. Coleção Temas n.o 68. outubro de 2019.
https://ficheiros.parlamento.pt/DILP/Publicacoes/Temas/68.Prostituicao/68.pdf.
O trabalho sexual pode ser considerado crime nos EUA e na China, e uma forma de
vitimização na Suécia e na Noruega.
Essa síndrome recebeu esse nome desde que se refere ao assalto a banco em Estocolmo,
na Suécia, em agosto de 1973, o ladrão sequestrou 4 pessoas (3 mulheres e 1 homem) durante
6 dias, o que equivale exatamente a 131 horas.
Quando os reféns foram libertados, um dos refréns havia estabelecido laços afetivos
com o sequestrador e também apresentavam comportamento diferentes diante dos processos
judiciais que estavam ocorrendo na época, quando os policiais fizeram o procedimento para
libertação das vítimas, as mesmas não aceitaram a ajuda das autoridades e usaram seus próprios
corpos como forma de proteger a integridade física dos assaltantes.
A Síndrome de Estocolmo17 é um termo usado para descrever uma experiência
psicológica paradoxal em que se desenvolve um vínculo afetivo entre reféns e seu abusador.
Está síndrome é uma resposta psicológica que pode acontecer em pessoas que se
encontram em situação de tensão, como no caso de sequestros, prisão domiciliar ou situações
de abuso, por exemplo, fazendo com que a vítima, de forma subconsciente, estabeleça simpatia
ou uma conexão mais pessoal e conexões emocionais de amizade ou de afeto com o agressor,
ao invés de medo ou repulsa, como forma de preservar a vida.
A pessoa afetada pela Síndrome de Estocolmo não tem plena consciência para entender
os atos criminosos cometidos pelo seu agressor ou parceiro, assim essa vítima sempre o
defenderá, pois acreditam que estes atos são no contexto que está acontecendo.
É importante ressaltarmos que, na maioria dos casos, as vítimas não reconhecem o
quadro da Síndrome e não acreditam, como as vítimas de violência doméstica, onde o agressor
e a vítima têm um período juntos considerável, mantem contacto pessoal diariamente e são
tratadas de maneira amável. Nesse sentido, a Síndrome de Estocolmo é muito ligada a violência
doméstica, pela dependência sentimental que existe, devido à relação íntima que tem com o
seu agressor, assim a mulher vulnerável vive um ciclo de agressão, onde a vítima acredita que
o agressor não deve ser punido pelos atos violentos.
Está Síndrome também é muito decorrente nos casos de tráfico de pessoas e lenocínio,
onde o criminoso trata as vítimas de forma carinhosa, fazendo com que estas criem um afeto
17
SASSI, Ana Paula Z. Síndrome de Estocolmo e Violência Doméstica Contra a Mulher- Restrições à
Liberdade Psicológica. Editora Viseu Ltda. 2021.
por esse criminoso, desta forma em casos de intervenção da polícia e finalmente ter sua
liberdade sexual e física de volta, essas vítimas ainda procuram seu agressor/violador.
7. METODOLOGIA
9. SUMÁRIO
1. TEMA
2. DELIMITAÇÃO
4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo geral
4.2. Objetivos específicos
5. JUSTIFICAÇÃO
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6.1 Tráfico de Seres Humanos
6.2 Trabalho Sexual
6.3 Síndrome de Estocolmo
10. REFERÊNCIAS EXPLORATÓRIAS
As fontes serão documentais, como leis e bibliográficas, como manuais, artigos, teses e
dissertações.
ADLER, Laure – A vida nos bordéis de França, 1830-1930. Lisboa: Terramar. 1993.
HENTING, Hans Von – The Criminal and his Victim: Studies in the Sociobiology of
Crime. New Haven: Yale University Press, 1948.
MICHAEL, R. T. Sex in America: A Definitive Survey, Boston: Little, Brown and Company.
1994.
MILLETT, Kate, The Prostitution Papers, Nova Iorque: Avon Books. 1971.
OLIVEIRA, Alexandra – As prostitutas não são coisas que se metam na cama. Subjectividade
e poder em acompanhantes e prostitutas de rua. In A. Dornelas, L. Oliveira, L. Veloso
& M. D. Guerreiro (Orgs.) Portugal invisível. Lisboa: Editora Mundos Socais. 2010.
SALES, Lilia Maia de Morais – Sales Tráfico de seres humanos. Algumas diferenciações
Brasília a. 45 n. 180 out./dez. 2008.
SILVA, Manuel Carlos – “Prostituição feminina: uma primeira abordagem para uma pesquisa”,
Cadernos do Noroeste, vol. 11. pp. 227-244. 1998.