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UNIVERSIDADE LÚRIO

Faculdade de Ciências Agrárias

USO DE DIFERENTES SUBSTRATOS PARA PRODUÇÃO DE


MUDAS DE CAJU (Anacardium occidentale, L.)

Relatório final da Licenciatura em Engenharia em Desenvolvimento Rural

Estudante: Dércio Sérgio Neves

Supervisor: Eng.ºValério Pedro

Unango, Outubro de 2021


UNIVERSIDADE LÚRIO

Faculdade de Ciências Agrárias

Unango, Outubro de 2021

USO DE DIFERENTES SUBSTRATOS PARA PRODUÇÃO DE


MUDAS DE CAJU (Anacardium occidentale, L.)

Trabalho de Conclusão de curso para obtenção do título de licenciado em Engenharia em


Desenvolvimento Rural

Autor: Dércio Sérgio Neves

Supervisor: Eng.º Valério Pedro

Faculdade de Ciências Agrárias Campus de Unango

Junho a Setembro de 2021

ii
DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Dércio Sérgio Neves, declaro por minha honra que este trabalho nunca foi apresentado em
nenhuma outra instituição académica, para obtenção de qualquer grau académico. Este relatório,
constitui o fruto de trabalho de campo e de pesquisa bibliográfica, estando as fontes utilizadas
registadas no texto e nas referências bibliográficas.

Unango, 13 de Outubro de 2021

______________________________

Dércio Sérgio Neves

iii
EPÍGRAFE

«Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma».

Antoine Lavoisier

iv
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, principalmente a minha mãe, as minhas irmãs e a todos
aqueles que apoiaram-me directa ou indirectamente

v
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus pelo dom da vida e pela saúde, agradecer aos meus
pais, principalmente a minha mãe por acreditar em mim e pelo apoio que tem me dado por todo
esse tempo, e também as minhas irmãs que vem me apoiando directa ou indirectamente.

À Universidade Lúrio, pela oportunidade do ensino de qualidade, o que possibilitou um valioso


aprendizado e aperfeiçoamento na área das ciências agrárias.

A todos que me ajudaram de alguma forma, directa ou indirectamente, e contribuíram para a


elaboração desse trabalho e conclusão dessa etapa na minha vida académica. Muito obrigado.

vi
ÍNDICE
DECLARAÇÃO DE HONRA ..................................................................................................................... iii
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................................... v
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................. vi
LISTA DE ACRÓNIMOS, SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS .................................................. ix
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................................. x
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................. xi
LISTA DE ANEXOS .................................................................................................................................. xii
RESUMO ................................................................................................................................................... xiii
CAPITULO I ................................................................................................................................................. 1
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1
1.1. Problema ....................................................................................................................................... 2
1.2. Justificativa da Escolha do Tema .................................................................................................. 2
1.3. Objectivos ..................................................................................................................................... 2
1.3.1. Geral ............................................................................................................................................ 2
1.3.2. Específicos .................................................................................................................................. 2
1.4. Hipóteses ....................................................................................................................................... 3
CAPITULO II ............................................................................................................................................... 4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 4
2.1. A cultura do Cajueiro ......................................................................................................................... 4
2.2. Substrato............................................................................................................................................. 6
2.2.1. Compostagem .................................................................................................................................. 7
2.2.2. Coco verde ...................................................................................................................................... 7
2.2.3. Lodo de esgoto ................................................................................................................................ 8
2.2.4. Esterco de galinha ......................................................................................................................... 10
2.3. Sistema de produção de mudas de cajueiro ...................................................................................... 11
CAPITULO III ............................................................................................................................................ 13
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................................... 13
3.1. Localização e caracterização da área experimental .......................................................................... 13
3.2. Delineamento experimental.............................................................................................................. 13
3.3. Material vegetal utilizado, tratamentos e condução do experimento ............................................... 14
3.4. Análises realizadas ........................................................................................................................... 16
3.4.1. Análises nas mudas ....................................................................................................................... 16
3.4.2. Análises dos substratos.................................................................................................................. 17
vii
3.4.3. Análises de dados estatísticos ....................................................................................................... 19
CAPITULO IV ............................................................................................................................................ 20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................ 20
CAPITULO V ............................................................................................................................................. 23
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 23
5.1. Conclusões ....................................................................................................................................... 23
5.2. Recomendações ................................................................................................................................ 23
CAPITULO V.I ........................................................................................................................................... 24
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 24
ANEXOS..................................................................................................................................................... 25

viii
LISTA DE ACRÓNIMOS, SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

• DAS – Dias Após Sementeira


• CE – Condutividade Eléctrica
• DC – Diâmetro do Caule
• NF – Número de Folhas
• DIC – DelineamentoInteiramente Casual
• Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
• Zn – Zinco
• N – Nitrogénio
• K – Potássio
• % – Percentagem
• Nº – Número
• Km – Quilómetros

ix
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Densidade obtida para os diferentes substratos…………………….…………..……. 18

x
LISTA DE FIGURAS

Figura1: Mapa de localização da área de produção……………………………..……………… 12

Figura 2: Substratos utilizados no experimento. Lodo de Esgoto (A); Coco verde (B); Substrato
Comercial (C) ………………………………………………………………………………. … 13
Figura 3: Eliminação de ervas daninha…………………………………………………………. 14

Figura 4: Mudas enxertadas em viveiro telhado com sombra a 50%.......................................... 15

Figura 5: Diferentes estágios de germinação. Plantais não germinadas (A); plantas em início de
germinação (B); e plantais germinadas (C) ……………………………………………. ……. 15
Figura 6: Método da densidade. Preenchimento da proveta com substrato (A); Pesagem em
balança de precisão (B); proveta caindo de uma altura de 10 cm com auxílio de suporte (C);
nivelamento da quantidade de substrato compactado (D) …………………………………… 16

Figura 7: Representação gráfica da taxa de germinação das sementes de caju conforme o


tratamento utilizado, em função dos dias após a sementeira…………………………………… 18

xi
LISTA DE ANEXOS

Anexo 1: Imagem de Propâgulos de cajueiro anão-precoce usados como garfos na


enxertia…………………………..……………………………………………………………… 25

xii
RESUMO

A cultura do cajueiro é preponderante para o desenvolvimento económico de Moçambique.


Desta forma, qualquer prática ou método que venha contribuir para a optimização na produção
de caju deve ser testado e avaliado, a fim de ser utilizado nos processos produtivos dessa cultura.
Diante disso, objectivou-se com o presente trabalho avaliar o uso de quatro substratos para
produção de mudas de cajueiro-anão-precoce. O experimento foi realizado no Campus de
Unango, pertencente à Universidade Lúrio. O delineamento estatístico utilizado foi o
inteiramente casual (DIC), composto por 5 tratamentos (compostos orgânicos), e 4 repetições,
formando 20 unidades experimentais, sendo cada unidade composta por 20 mudas de cajueiro,
totalizando 400 mudas. Foram realizadas 3 avaliações quanto à taxa de germinação; 2 avaliações
biométricas, medindo altura da muda, diâmetro do colo e o número de folhas crescidas; e 1
avaliação referente à percentagem de pegamento da enxertia nas mudas. No que diz respeito aos
resultados observou-se que a altura e a percentagem de pega da enxertia das mudas foram
influenciadas pelos tratamentos. Enquanto que o diâmetro, o número de folhas e taxa de
germinação não diferiram estatisticamente. A taxa de germinação final foi semelhante em todos
os tratamentos, enquanto que a altura apresentou maiores valores nos tratamentos coco verde. Os
menores valores para altura e percentagem de pega foram observados na combinação lodo de
esgoto + coco verde, mostrando que este tratamento interfere negativamente no desenvolvimento
das mudas de cajueiro-anão-precoce.

Palavras-chave: Cultura. Compostagem. Lodo de esgoto. Coco verde. Esterco de galinha

xiii
CAPITULO I

1. INTRODUÇÃO

O Caju Pertencente à família botânica Anacardiaceae, o cajueiro apresenta de 60 a 74 géneros

(BEZERRA et al., 2007), dentre eles o género Anacardium que contém 22 espécies e apenas uma
única é cultivada comercialmente no mundo: a Anacardium occidentale L, que compreende os
tipos comum (ou gigante) e anão-precoce.

Além da importância na economia, a agroindústria do caju possui um aspecto social bem


relevante, gerando emprego na zona rural e urbana seja de forma direta ou indireta. Apesar desse
cenário, observa-se que ainda existem áreas produtoras de caju que não possuem sequer uma
tecnologia mínima para melhorar a cadeia produtiva, reflectindo em pequenas produtividades
médias (BARROS et al., 1993).

A utilização de mudas de boa qualidade é imprescindível para a condução adequada do pomar, e


dentre os factores que devemos levar em consideração está o substrato utilizado. A escolha desse
insumo é uma etapa muito importante, visto que este é o meio que a planta irá se desenvolver até
atingir o porte ideal, sendo, portanto, não somente fonte de nutrição, como também de sucesso
para a obtenção da muda (LIMA et al., 2001). Nos últimos anos, a preocupação por um mundo
mais sustentável vem ganhando cada vez mais relevância e com isso várias práticas alternativas
ao que é tradicional estão sendo implantadas nos mais diversos sectores de produção. Uma
dessas novas práticas é o uso e resíduos agroindustriais para a formação de substratos na
agricultura, visando não somente a economia com os gastos e a qualidade do material para o
plantio, como também a minimização dos impactos ambientais causados pelo descarte incorrecto
e inconsciente desses resíduos (VIEIRA et al., 2014).

O uso de substratos é uma técnica amplamente difundida e que apresenta algumas vantagens,
dentre elas podemos citar as económicas, como o baixo custo, as vantagens do ponto de vista
agronómico, como a melhor capacidade de retenção de água, desejável teor de nutrientes e
aeração, além de ser capaz de favorecer a actividade fisiológica das raízes (Gonçalves et al.,
2000).

1
1.1. Problema

Nos últimos anos, a preocupação por um mundo mais sustentável vem ganhando cada vez mais
relevância e com isso várias práticas alternativas ao que é tradicional estão sendo implantadas
nos mais diversos sectores de produção. Uma dessas novas práticas é o uso de resíduos agro-
industriais para a formação de substratos na agricultura, visando não somente a economia com os
gastos e a qualidade do material para o plantio, como também a minimização dos impactos
ambientais causados pelo descarte incorrecto e inconsciente desses resíduos (VIEIRA et al.,
2014).

Mas tem um problema, encontrar matérias-primas disponíveis de forma abundante.

1.2. Justificativa da Escolha do Tema

O tema que escolhi é relevante porque o sector do caju em Moçambique tem uma importância
estratégica para o desenvolvimento económico do país. A produção de caju gera renda para mais
de um milhão de famílias rurais podendo representar até 70% da receita monetária para essas
famílias, o processamento de castanha assegura emprego para milhares de trabalhadores, em
particular nas zonas rurais do Norte e sul do país. Dada a importância da actividade cajuícola
para Moçambique, qualquer estudo ou prática que possa contribuir para a produção de caju é de
grande importância para os produtores desta cultura. Esse estudo também poderá trazer alguns
benefícios tais como:

➢ A produção de mudas em substratos é mais económica


➢ Os resultados positivos podem ser usados para a produção do caju.

1.3. Objectivos

1.3.1. Geral

O objectivo geral da presente pesquisa é avaliar o uso de diferentes substratos para a produção de
mudas de cajueiro.

1.3.2. Específicos

Para o cumprimento do objectivo geral da presente pesquisa, foram traçados os seguintes


objectivos específicos:

➢ Identificar os tipos de substratos para produção mudas de caju


2
➢ Caracterizar os tipos de substratos para a produção de mudas
➢ Descrever a análise nas mudas

1.4. Hipóteses

H0: O uso de diferentes substratos para a produção de mudas de caju não é mais económico e a
as matérias-primas não são encontradas com facilidade em qualquer região.

H1: O uso de diferentes substratos para a produção de mudas de caju é mais económico e as
matérias-primas são encontradas com facilidade em qualquer região.

3
CAPITULO II

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A cultura do Cajueiro


Encontrado disperso em larga faixa do mundo tropical, o cajueiro, cientificamente designado por
anacardium occidentale L., é uma planta perene originária do Norte e Nordeste do Brasil, ao
longo do corredor litoral entre o equador e os10º de latitude Sul2. Esta planta foi importada para
Moçambique do Brasil a partir de meados do século XVI, no contexto da expansão mercantil
portuguesa. Durante séculos, os comerciantes portugueses plantaram o cajueiro amplamente no
continente asiático, especialmente, em Sri Lanka, 5 Índia, Indonésia e Filipinas, e na costa da
África Oriental, particularmente, em Madagáscar, Tanzânia (Zanzibar), Quénia e Moçambique
para explorar a produção de castanha. Deste então, o cajueiro se foi progressivamente
disseminando por quase toda a faixa do litoral moçambicano, com maior incidência nas regiões
norte e sul do país. Nampula e Cabo Delgado, ao Norte, Zambézia, ao Centro e Gaza e
Inhambane, ao Sul, são as províncias mais representativas em quantidades de castanha produzida
e que apresentam maior potencial de crescimento.

O Caju Pertencente à família botânica Anacardiaceae, o cajueiro apresenta de 60 a 74 géneros


(BEZERRA et al., 2007), dentre eles o género Anacardium que contém 22 espécies e apenas uma
única é cultivada comercialmente no mundo: a Anacardium occidentale L, que compreende os
tipos comum (ou gigante) e anão-precoce.

Dentre as características botânicas, podemos citar o cajueiro como uma planta perene,
apresentando porte variado e pouca ramificação. O cajueiro do tipo comum apresenta porte alto,
podendo alcançar 20 metros de altura, mas normalmente atinge uma altura de 12 a 14 metros
com 5 a 8 metros de envergadura. Já o cajueiro anão-precoce caracteriza-se pelo porte baixo,
alcançando em média 4 metros de altura com 8 m de envergadura (EMBRAPA, 2015). O sistema
radicular é representado por uma raiz pivotante (bifurcada), com raízes laterais bem distribuídas
horizontalmente ao seu redor, além de apresentar raízes verticais ao longo de todo o perfil do
solo. Suas folhas são simples, alternas, inteiras, com aspecto subcoriáceo, ovadas, obtusas,
pecioladas, possuindo um comprimento de 10 a 20 centímetros com largura de 6 a 12
centímetros. Sua coloração quando novas é roxo avermelhada e quando maduras é verde-
amarelada, ocorrendo a senescência após atingir a total maturação (VIDAL NETO et al., 2013).
Sendo uma planta andromonoica, apresenta tantoflores masculinas (estaminadas) como
4
hermafroditas em uma Inflorescência do tipo panícula, em que as flores, que são pequenas e
curto-pediceladas, ficam alojadas em proporções variadas. O pseudofruto gerado é bem
característico, de coloração que varia do amarelo ao vermelho, sendo o pedúnculo bem carnudo e
de tamanho maior, por isso geralmente é confundido como sendo o fruto verdadeiro, no caso a
castanha, totalmente diferente, um aquênio de cor marrom acidentada com aparência de um rim
humano de tamanho reduzido (SERRANO & OLIVEIRA, 2013).

Para Lopes et al. (2012), o pedúnculo do caju é carnoso e suculento, além de ser nutritivo, pois é
rico em ferro e vitamina C. Sua amêndoa é rica em fibras, proteínas, minerais, complexo B e
vários aminoácidos importantes para a alimentação humana. O pedúnculo corresponde a 90% do
peso total, os outros 10% correspondem ao peso da castanha, entretanto, essa relação varia entre
os clones existentes (Oliveira, 2002). Pelo grande valor nutritivo, o pseudofruto é largamente
utilizado na indústria para a produção dos mais variados produtos, que são elaborados em nível
artesanal ou em pequenas e médias empresas. Dentre os produtos fabricados a partir do
beneficiamento do caju, estão os sucos, polpas, compotas, doces, geleias, tortas, néctares,
bebidas não alcoólicas, como por exemplo, a cajuína, dentre outros, sempre com a preocupação
de agregar valor ao subproduto. A reprodução do cajueiro ocorre predominantemente por
alogamia, o que significa que a polinização é cruzada, ou seja, há transferência de pólen entre
plantas diferentes. Porém, pelo fato de uma mesma planta e panícula possuir tanto flores
masculinas como hermafroditas, a abertura ao mesmo tempo das duas flores pode facilitar a
ocorrência da auto polinização e com isso favorecer a endogamia dentro da espécie (EMBRAPA,
2015). A aptidão agrícola para o plantio do cajueiro referente ao solo, de acordo com BARROS
et al. é a seguinte:

[...] um solo para ser considerado bom para o cajueiro deve ser profundo, ou seja, o substrato
rochoso ou outro impedimento qualquer situa-se abaixo de 200 cm. Solos com impedimento a
uma profundidade de até 150 cm não são recomendados ou têm indicação de uso restrito. [...]
sendo considerados aptos os solos bem drenados e acentuadamente drenados; e inadequados ou
de uso restrito aqueles excessivamente ou imperfeitamente drenados. [...] Com relação à
fertilidade, os solos mais adequados são aqueles com boa reserva de nutrientes e que não
apresentem toxidez por alumínio, outros elementos prejudiciais ou mesmo sais solúveis, devendo
apresentar um valor mínimo de 25% para a saturação de bases (V) e capacidade de troca de
catiões (T) maior do que 8 mE /100g de solo. (EMBRAPA - CNPAT, 1993, p.11,12)

5
Em relação ao índice pluviométrico, o ideal para a cultura é um valor próximo a 800 mm por
ano, já a temperatura do ar deve estar entre a faixa de 15 º C a 40 º C, além da humidade do ar
estar situada em torno de 65% a 85%, não sendo adequada uma condição muito seca para o
cultivo (EMBRAPA, 2015). A cultura do cajueiro é encontrada em diversas partes do mundo
devido à ampla dispersão realizada desde os colonizadores no século XVI, portanto, a planta é
cultivada nos mais diversos locais com diferentes condições climáticas e ecológicas, o que
evidencia a grande capacidade adaptativa do cajueiro (FROTA; PARENTE, 1995).

2.2. Substrato

Para Vence (2008) qualquer material de natureza porosa, que proporcione níveis adequados de
humidade e oxigenação para o desenvolvimento das plantas, podendo ser usado de forma pura ou
em combinação com outros materiais, é considerado substrato. Segundo Blanc (1987), o termo
substrato é definido ainda, como todo material, natural ou artificial, que permita a fixação e
desenvolvimento radicular e sirva como meio de suporte de sustentação às plantas. Um factor
que é indispensável para o sistema radicular é a areação, devido ao suprimento de energia
necessária ao absorver os nutrientes do meio (SALSAC et al., 1997). Um substrato que possui
um teor adequado de água e oxigénio em torno das raízes promove um melhor desempenho das
actividades fisiológicas, e ao mesmo tempo minimiza os riscos de aparecimento de doenças
radiculares, principalmente as podridões causadas por fungos e bactérias (Andriolo et al., 1999).

Quando se utiliza substratos ao invés de solo em um sistema produtivo, vemos inúmeras


vantagens, dentre elas estão: o menor desperdício de água, uma melhor drenagem no meio,
menor risco de salinização, possibilidade de fornecimento de nutrientes, dependendo do material
utilizado como substrato, e menos ocorrência de problemas fitossanitários (Blanc, 1987; FAO,
1990b).

Além dessas vantagens, o uso de substratos permite um melhor planeamento do sistema de


produção, diminuindo as possíveis perdas, no actual mercado competitivo. Em contrapartida, a
possível desvantagem que podemos encontrar ao optar pelo uso de substrato está na d ependência
de encontrar matérias-primas disponíveis de forma abundante e com preço acessível que
apresentem potencial de uso para esse insumo agrícola (Andriolo et al., 1999).

A minimização dos impactos ambientais no solo também é observada frente ao aumento do uso
de materiais com alta potencialidade para função de substrato na produção de plantas. Isso se
deve ao fato do solo não sofrer mais o processo de degradação, causado pelas constantes
6
retiradas das camadas superficiais de 0-20 cm do perfil de solo, aplicação intensiva de
fertilizantes e manejo incorrecto da irrigação.

2.2.1. Compostagem

Segundo Kiehl (1998), o termo composto se refere ao fertilizante oriundo da decomposição de


resíduos de origem animal e vegetal, e o processo realizado denomina-se compostagem. A
compostagem acontece de forma espontânea no meio ambiente, sendo considerada como a
própria degradação da matéria orgânica, mas com a observação humana, houve um incremento
de técnicas que acelerassem essa decomposição, produzindo compostos orgânicos de forma mais
rápida e que atendessem a demanda do sector agrícola. O produto originado desse processo,
sendo estabilizado e sofrendo uma higienização, se torna benéfico para a agricultura (ZUCCONI
& BERTOLDI, 1987).

Na actual sociedade, existe uma grande preocupação quanto à produção e ao destino correcto dos
mais diversos resíduos orgânicos que são fabricados em larga escala. Muitas práticas ainda são
responsáveis pela poluição e degradação do meio ambiente, como por exemplo, tratamentos de
esgoto inadequados, lixos a céu aberto e o descarte irregular desses resíduos.

Nesse contexto, a compostagem vem sendo apontada como uma das soluções eficientes para
minimizar impactos ambientais. Esse processo de tratamento de resíduos sejam eles de origem
urbana, industrial ou agrícola, possui baixo custo e vem passando por aprimoramentos, se
tornando mais acessível à sociedade, garantindo não somente material para a produção vegetal,
como também a reestruturação do solo, promovendo a sustentabilidade do meio.

2.2.2. Coco verde

As plantas de coqueiro (Cocos nucifera) em Moçambique abrangem uma área de 160.000


hectares distribuídos por 4 províncias, (Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e Inhambane). O
subproduto do uso e da industrialização do fruto do coqueiro, a casca, é geralmente descartado
em lixos, ou seja, não possui um destino ambientalmente correcto. Sendo um material de
decomposição demorada, a utilização da fibra da casca do coco como substrato, mostra sua
importância do ponto de vista económico, social e ambiental.

A fibra de coco (desfibrada ou prensada), e o pó de coco são considerados os substratos


alternativos mais promissores. Esse material já está sendo empregado como substrato agrícola na
produção de mudas de hortaliças (SILVEIRA et al., 2002).
7
Para ser utilizada no sector agrícola, o coco verde deve se submeter a inúmeras operações como
desfibramento, trituração, lavagem e se necessário, necessita ser decomposta, fazendo uso da
compostagem (CARRIJO et al., 2002). Para Carrijo et al. (2002), devido à ampliação na
produção da cultura do coqueiro nos últimos anos, há uma segurança quanto à disponibilidade do
coco verde para o uso como substrato, além da facilidade de produção e o baixo custo da
matéria-prima.

Sanches (1999) mostra através de vários estudos com diversos autores, que as propriedades
físico-químicas da matéria-prima do coco, diversificam em decorrência da origem e do
processamento. Segundo Noguera et al. (1998), as percentagens de lignina (35- 45%), celulose
(23-43%) e hemicelulose (3-12%) encontradas na fibra de coco, dificultam a degradação e
resultam em uma característica de durabilidade, sendo o seu uso indicado para culturas de ciclos
longos, como ornamentais.

O substrato proveniente somente da fibra de coco não possui nutrientes necessários para o
desenvolvimento da planta, por isso é indispensável fornecer nutrientes por meio de adubo ou
usando da fertilização para atender as necessidades da cultura produzida (CARRIJO et al., 2002).

Após o processo de compostagem, ocorre o aumento da capacidade de retenção de água e


consequentemente da humidade do substrato devido à diminuição do tamanho das fibras,
conferindo características de um insumo agrícola de boa qualidade. Somando-se a isso, temos a
qualidade de inerte e de alta porosidade que o material apresenta, mostrando que é viável a
utilização do coco verde furado e triturado como substrato para produção vegetal.

2.2.3. Lodo de esgoto

A maior parte de resíduos proveniente das actividades industriais como, por exemplo, o lodo de
esgoto, é destinada para aterros sanitários ou é directamente descartada na natureza sem antes
passar sequer por algum tratamento, causando impactos ambientais significativos.

Para Metcalf-eddy (1991) o lodo é, entre todos os subprodutos do esgoto, o mais volumoso e
cujo tratamento é provavelmente, um dos mais complexos desafios para os profissionais que
actuam no processamento da água residual, pois sem a destinação correcta desse resíduo, as
vantagens do saneamento são comprometidas.

8
O valor das operações para o tratamento do lodo de esgoto pode chegar a 60% dos custos das
estações e por esse motivo não deve haver falta de comprometimento por parte de todos os
envolvidos nesse processo (WEBBER & SHAMES, 1984).

O principal objectivo ao se produzir o subproduto do esgoto durante o seu tratamento na estação,


é concentrar todas as impurezas nele encontradas, incluindo desde nutrientes e matéria orgânica
até metais pesados e alguns organismos que podem ser patogénicos ou não. Dessa forma, esse
material pode oferecer risco ao meio ambiente, caso seja descartado de maneira inadequada e
não controlada (ANDREOLI et al., 1999).

O lodo de esgoto somente poderá ser liberado para uso na agricultura quando apresentar depois
do tratamento, composição química e características sanitárias adequadas, que proporcionem
uma melhoria nas propriedades do solo e possa contribuir para a produtividade, sem colocar em
risco a segurança do produtor, consumidor e o ambiente. Para avaliar o potencial desse material
com finalidade no sector agrícola, os seguintes factores são avaliados: quantificação de metais
pesados, descrição das características sanitárias, valor agronómico, teor de humidade e
consistência, além da estabilidade do resíduo (ANDREOLI et al., 1999).

O uso do lodo de esgoto no sector agrícola é uma alternativa bem promissora, promovendo o
regresso de nutrientes ao solo, principalmente em regiões onde necessitam de recuperação
devido o intemperismo, além de ser de baixo custo, tornando sua produção economicamente
viável para matéria-prima, seja de um substrato para plantas ou mesmo de um condicionador de
solo (ANDREOLI et al., 1999).

Segundo Bettiol & Camargo (2006), a composição do esgoto varia conforme a origem, tipos de
resíduos, época do ano, entre outros factores. Por esse motivo, apesar de apresentar muitas
vantagens, o subproduto também pode apresentar toxidade e patogenicidade ao homem.

Para Fernandes & Silva (1999) a aplicação do lodo no solo sem passar por um tratamento
adequado pode colocar a saúde pública em perigo. Uma solução mais consciente e menos
poluente para o tratamento seria a compostagem, uma vez que a alta temperatura promove a
desinfecção do resíduo, resultando em um material com características agronómicas bastante
eficazes e desejadas na agricultura.

Segundo Bettiol & Camargo (2006) a aplicação do lodo de esgoto nos solos agrícolas favorece a
incorporação tanto de macro nutrientes (nitrogénio e fósforo) como de micro nutrientes (ferro,

9
cobre, zinco, manganês e molibdénio). Além disso, influencia na retenção e no aumento
considerável de carbono orgânico e CTC do solo (MELO E MARQUES, 2000; MELO,
MARQUES E SANTIAGO, 1993).

Dessa forma, a reutilização de resíduos de esgoto contribui indirectamente para a diminuição da


poluição de rios e do próprio solo, uma vez que nesse material podem-se encontrar alguns metais
pesados e agentes patogénicos, sendo importantíssima do ponto de vista económico, ambiental e
social. Porém, é preciso conhecer a composição desse material, a fim de determinar a quantidade
a ser incorporado no solo, para não correr o perigo de intoxicar as plantas, os animais e o próprio
homem, além de não poluir o meio ambiente (CETESB, 1999).

2.2.4. Esterco de galinha

Para Burés (1997), o esterco é composto por excretas dos animais e camas, podendo estar
misturadas a alguns materiais, como folhas secas, serragem, casca de arroz e até mesmo o solo.
Possui um pH básico e uma densidade que varia de acordo com seu estado de decomposição.

A avicultura, de forma geral, produz grandes quantidades de resíduos orgânicos, provocando


impactos negativos no ambiente quando não recebe o devido tratamento ou descarte apropriado.
Um desses resíduos é o esterco, que quando incorporado ao substrato, promove uma boa
capacidade de retenção e absorção de água, melhora as condições de aeração das raízes, além de
ser considerado leve e se destacar pela facilidade de manejo. (MAZZUCHELLI et al., 2014).

Por possuir uma alta concentração de nutrientes, o esterco de galinha acaba interferindo
directamente no vigor e qualidade das plantas mesmo em pequenas porções, comparando-o ao
esterco de gado, por exemplo, sendo considerada uma excelente fonte de nutrientes para o solo,
tornando-se uma prática economicamente viável ao produtor. (MAZZUCHELLI et al., 2014).

Devido aos custos elevados da adubação química, a utilização de resíduos orgânicos na


agricultura, como o esterco de galinha, tem crescido bastante nos últimos anos. Porém, ao usar
directamente no sector agrícola, sem nenhum tratamento adequado, esse material pode gerar
alguns problemas no ambiente, contaminando a atmosfera, fontes hídricas e o solo.

A sua capacidade de poluir é determinada pela quantidade de contaminantes pelo qual é


constituído, os quais podem agir de forma individual ou combinada tornando-se uma fonte
potencial de contaminação (SCHAEFFER, 2009).

10
Segundo Schaeffer (2009), a compostagem é uma das alternativas mais comuns e indicadas para
transformar o esterco, em um material estabilizado ou em um fertilizante orgânico. E mesmo
sendo muito empregada, a compostagem do esterco de aves em geral, não é muito estudada, por
isso os efeitos dessa técnica como, por exemplo, a perda de nitrogênio durante o processo de
estabilização do composto, não são conhecidos (SCHAEFFER, 2009).

Para Weinartner et al. (2006), o esterco de aves é um material que depois de curtido, se torna
bem farelado, escuro e frio, sendo abundante em nitrogênio e matéria orgânica, essas
características explicam sua elevada utilização na agricultura. No entanto, é recomendado o uso
dos componentes do substrato em forma de mistura, pois se usados isoladamente podem
apresentar características indesejáveis as plantas (CALDEIRA et al., 2011a; WENDLING et al.,
2006).

2.3. Sistema de produção de mudas de cajueiro

Um pomar formado por cajueiros oriundos de sementes não garante uma homogeneidade das
plantas, devido a sua espécie ser heterozigótica, não possibilitando um melhor aproveitamento
comercial, principalmente pela ausência de sincronia entre os estádios de desenvolvimento das
plantas (CAVALCANTI JÚNIOR et al., 2001). O melhoramento vegetal possibilitou a clonagem
de plantas e posteriormente a propagação vegetativa conhecida como “clone copa”,
intensificando a produção de plantas que apresentavam características desejáveis
agronomicamente, como a precocidade, produtividade e o pequeno porte, além de aperfeiçoar
atributos como tamanho, cor e sabor do pedúnculo e da castanha, gerando satisfação tanto para
os produtores como para os consumidores (CAVALCANTI JÚNIOR et al., 2001). Diante desse
quadro, a primeira atitude a ser tomada quando se pretende obter um pomar com alta
produtividade e frutos de qualidade é optar pela produção de mudas. Mas, para isso uma série de
quesitos deve ser assegurada, como a utilização de material propagativo de alto padrão genético,
segurança fitossanitária e a garantia de insumos agrícolas indispensáveis ao cultivo.

Para a formação de mudas de cajueiros, os métodos de propagação assexuada são os mais


indicados, sendo que apenas dois são os mais empregados: a enxertia por borbulhia em placa e a
enxertia por garfagem lateral ou em fenda cheia, por ser mais viável tecnicamente e
economicamente (CALVACANTE JÚNIOR, 2013). Segundo Cavalcanti Júnior et al. (2001),
entre as maiores preocupações dos produtores de caju estão: reduzir a entressafra até eliminá-la,
variar a disponibilidade de produto para castanha e pedúnculo, gerar excedentes com a finalidade

11
de exportação, além de uma produtividade maior e com padrão de qualidade, o que poderá ser
alcançado se for empregado técnicas de propagação adequadas. Sendo assim, para não gerar
pomares improdutivos, com pouca ou nenhuma qualidade fitossanitária, devem ser atendidas, no
mínimo, as necessidades básicas para a formação de mudas, tais como, material de propagação
de origem confiável, substratos desinfestados e adequados, fonte hídrica segura e de qualidade,
além de viveiros com instalações apropriadas para a actividade. Um factor importante na
produção de mudas e que maximiza a potencialidade do viveiro é a selecção de porta-enxertos e
enxertos compatíveis para a técnica da enxertia, pois estes podem possibilitar uma maior taxa de
pegamento e de sucesso na formação de novas mudas enxertadas de cajueiro (CALVACANTE
JÚNIOR, 2013; SERRANO et al., 2013a). Os propágulos utilizados na produção de mudas
devem ser preferencialmente oriundos de jardins clonais e os mesmos devem ser escolhidos em
função das condições dos porta-enxertos, uma vez que ambos devem ter o mesmo diâmetro e a
mesma consistência de tecidos, permitindo que as áreas cambiais se ajustem na nova planta. Na
formação dos porta-enxertos, os clones são os mais usados em função das características que
expressam: porte reduzido, precocidade e alta taxa de germinação (<80%), além de apresentar
boa compatibilidade com a maioria dos clones utilizados para enxerto (VIDAL NETO et al.,
2013). A segurança sobre a qualidade da muda produzida é tão importante quanto às outras
variáveis que são analisadas na tomada de decisão antes do plantio, por esse motivo envolve os
mais diversos conhecimentos, necessitando de uma infinidade de profissionais, como por
exemplo, o agrónomo.

12
CAPITULO III

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Localização e caracterização da área experimental

O experimento foi realizado no campo experimental da Faculdade de Ciências Agrárias da


Universidade Lúrio, na província do Niassa, no distrito de Sanga, no posto administrativo de
Unango. Segundo Mae (2014), o distrito de Sanga localiza-se na parte Norte da Província de
Niassa a 60Km da capital provincial – Lichinga, dista a 12km da sede do distrito (Malulu), ao
norte faz fronteira com posto administrativo de Macaloge, ao sul com distrito de Lichinga, e à
este limita-se com o distrito de Muembe através do rio Luchiringo, a oeste com o posto
Administrativo de Lussimbisse, conforme ilustra a figura.

Figura1: Mapa de localização da área de produção. Fonte: Mae (2014).

3.2. Delineamento experimental

O delineamento experimental utilizado no experimento foi o inteiramente casualizado (DIC),


composto por 4 tratamentos (compostos orgânicos), e 4 repetições, formando 20 unidades
experimentais, sendo cada unidade composta por 20 mudas de cajueiro, totalizando 400 mudas.

13
3.3. Material vegetal utilizado, tratamentos e condução do experimento

Para a produção das mudas foram seleccionadas sementes de clones de cajueiro-anão-precoce,


produzidas na safra de 2017, utilizados para a produção dos porta-enxertos, enquanto os enxertos
foram provenientes de garfos de clones de cajueiro-anão-precoce. Para a escolha do material
vegetativo, levou-se em consideração aspectos fitossanitários para obtenção de mudas saudáveis
e isentas de pragas e/ou doenças.

No que diz respeito aos tratamentos, foram utilizados quatro substratos diferentes: lodo de esgoto
+ esterco de galinha; coco verde + esterco de galinha; coco verde + lodo de esgoto + esterco de
galinha; substrato comercial da Embrapa (Figura 2), nas proporções volumétricas de 3:1, excepto
o tratamento do coco verde + lodo de esgoto + esterco de galinha, que foi usado na proporção de
3:1:1.

A B

Figura 2: Substratos utilizados no experimento. Lodo de Esgoto (A); Coco verde (B); Substrato
Comercial (C). Fonte: Autor

Os substratos empregados, com excepção do comercial, foram produzidos a partir do processo de


compostagem com antecedência de aproximadamente 7 meses. Depois de estarem apropriados
para o uso agrícola, os mesmos foram triturados e peneirados para garantir uma maior
uniformidade das partículas, e ensacados para serem transportados ao local do experimento para
14
utilização na produção das mudas de cajueiro. O substrato comercial utilizado pela Embrapa
(Turfa Fértil) é fabricado pela empresa Florestal S.A., tendo como matérias-primas a turfa e a
casca de arroz carbonizada. O experimento teve início no dia 22 de Junho de 2021, em que as
castanhas foram semeadas em tubetes plásticos (volume de 0,288 dm³), preenchidos com os
substratos a serem testados, de acordo com o tratamento. Os tubetes foram distribuídos e
identificados segundo o croqui em grades (0,6 x 0,4 m) com capacidade para 54 tubetes, que
posteriormente foram suspensas em suporte metálico a pleno sol, sendo cobertos por um
sombrite a 50% até a germinação

Os tratos culturais realizados até as plantas estarem aptas a enxertia, foram basicamente a
irrigação manual realizada duas vezes ao dia (às 9h da manhã e às 16h da tarde,
aproximadamente), utilizando água do poço profundo e a eliminação de ervas daninha,
manualmente, que esporadicamente nasciam dentro dos tubitos (Figura 3).

Figura 3: Eliminação de ervas daninha. Fonte: Autor

Aos 55 dias após a sementeira (DAS), os porta-enxertos apresentaram características ideais para
a execução da enxertia em tubetes, com haste única, erecta e médias aproximadas de 16 cm de
altura, 4 mm de diâmetro do caule (distando 5 cm da base), e 8 folhas (Cavalcanti Júnior, 2001).

No dia 15 de Agosto (54 DAS) foi realizada a enxertia por meio do método da garfagem lateral,
utilizando-se garfos, de aproximadamente 10 cm de comprimento e 5 mm de diâmetro,
apresentando gema terminal em início de brotação, conforme Cavalcanti Júnior (2005).
Inicialmente, o porta-enxerto foi decapitado para facilitar o desenvolvimento do enxerto, em
seguida foi realizada uma fenda lateral no mesmo, visando à junção das duas partes vegetais e
promovendo um melhor contacto dos câmbios vasculares, sendo as partes presas por uma fita de
plástico para aumentar a fixação. Os garfos foram envolvidos por sacos plásticos, mantendo a
humidade e diminuindo a transpiração demasiada, além de evitar o ataque de pragas.
15
Ao final da execução desta técnica, os tubetes foram transferidos para o viveiro com telhado de
50% de sombreamento (Figura 4), em que permaneceram por aproximadamente 40 dias (período
em que foi realizada a contagem das mudas pegas na enxertia).

Figura 4: Mudas enxertadas em viveiro telhado com sombra a 50%. Fonte: Autor

3.4. Análises realizadas

Durante a condução do experimento foram realizadas avaliações nas plântulas (taxa de


germinação, medidas biométricas, taxa de pegamento/sucesso da enxertia), bem como dos
compostos orgânicos utilizados como substratos (densidade, teores de nutrientes, condutividade
eléctrica (CE) e pH).

3.4.1. Análises nas mudas

Após a sementeira realizaram-se três levantamentos de dados em diferentes dias (14, 19 e 23


DAS), sendo observado se houve ou não germinação das plantas (Figura 7), a fim de calcular a
taxa de germinação [(nº de castanhas germinadas / nº de castanhas semeadas) × 100].

16
Figura 5: Diferentes estágios de germinação. Plantais não germinadas (A); plantas em início de
germinação (B); e plantais germinadas (C). Fonte: EMBRAPA (2011)

Após 30 dias da sementeira, foram realizadas as análises biométricas, medindo a altura de


plantas, usando uma régua graduada em cm; diâmetro do caule, e foi feita a contagem do número
de folhas, seleccionando desta forma, as mudas que estavam aptas à enxertia e descartando as
que não apresentavam condições apropriadas para o método, como por exemplo, anomalias no
seu desenvolvimento (nanismo e caules retorcidos) ou até mesmo a morte.

Um mês após a enxertia foi avaliado se as mudas pegaram, observando quantas já apresentavam
sucesso em relação ao método empregado. Diante dos dados levantados, foi possível determinar
a taxa de pegamento da enxertia [(nº de plantas com sucesso na enxertia / nº de plantas
enxertadas) x 100].

3.4.2. Análises dos substratos

Foram realizados amostragens de cada um dos cinco substratos, a fim de determinar os teores de
nutrientes minerais encontrados e disponíveis para as mudas, além da densidade de cada
composto orgânico.

Para determinar a densidade de cada material foi realizado o método da densidade através da
auto-compactação. O procedimento, feito em triplicata que consistia em usar uma proveta
graduada de 500 ml, preenchida com o substrato até a marcação de 300 ml, e em seguida deixava
a mesma cair de uma altura de 10 cm, com auxílio de um suporte com barra de ferro, por acção
do seu próprio peso, 10 vezes seguidas.

17
Figura 6: Método da densidade. Preenchimento da proveta com substrato (A); Pesagem em
balança de precisão (B); proveta caindo de uma altura de 10 cm com auxílio de suporte (C);
nivelamento da quantidade de substrato compactado (D). Fonte: Autor

Com os dados obtidos de massa (g) e volume (ml), calculou-se a densidade em kg m-3 dos 5
substratos pela seguinte equação: [(massa (g) / volume (ml)) x 1000]. Os valores de densidade
obtidos pelo método podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1: Densidade obtida para os diferentes substratos.

Substratos Densidade (g/cm³)


Coco verde 0,98
Comercial 0,60
Lodo de esgoto 0,94
Fibra + Lodo 0,92

Os teores de nutrientes foram obtidos pelo método da extracção de nutrientes solúveis em água,
cujo procedimento em duplicata consistia em utilizar uma massa conhecida (calculada
previamente e equivalente a 60 ml de cada substrato, transferir para Erlenmeyer de vidro com
500 ml de capacidade, adicionando 300 ml de água desionizada. Os Erlenmeyers devidamente
fechados foram submetidos à agitação de 40 rpm por 60 minutos.

18
3.4.3. Análises de dados estatísticos

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância ao nível de 5% e 1% de probabilidade


pelo teste F. Posteriormente, quando significativos, foram submetidos ao teste de Tukey para a
comparação das médias, por meio do Software estatístico Assistat ® versão 7.7 Beta.

19
CAPITULO IV

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No que refere-se a taxa de germinação, observou-se, na primeira semana após a sementeira


(DAS), que não ocorreu germinação de nenhuma semente, sendo então, a primeira contagem
realizada apenas aos 14 DAS (5 de Setembro), em que verificou-se que todos os tratamentos
apresentaram germinação entre 50% e 70%, com excepção do substrato comercial, que
apresentou germinação de 38,75%, indicando que a velocidade de emergência das castanhas
semeadas nesse substrato foi menor em relação às apresentadas para os demais tratamentos.
Todavia, aos 23 dias após a sementeira (14 de Setembro), todos os tratamentos apresentaram taxa
de germinação próxima ou igual a 100%, indicando que todos os substratos utilizados no
experimento apresentam óptima capacidade quanto à germinação das sementes de cajueiro-anão-
precoce (Figura 7).

14 DAS 19 DAS 23 DAS


120
PERCENTAGEM DE GERMINACAO

98.75 100 98.75 100 97.5 100


100 95 96.25

80
67.5
58.75 61.25
60
38.75
40

20
0
0
Fibra de Comercial Lodo de Fibra+Lodo
coco esgoto
TRATAMENTOS

Figura 7 – Representação gráfica da taxa de germinação das sementes de caju conforme o


tratamento utilizado, em função dos dias após a sementeira.

Pode-se observar que a taxa de germinação final das castanhas não foi influenciada pelos
tratamentos, mostrando que os substratos alternativos, bem como o comercial possuem
características favoráveis à germinação. Para Farias et al. (2012), um bom substrato deve

20
favorecer o melhor suprimento de água e fornecimento de oxigénio. Esses resultados corroboram
com os encontrados por Bezerra et al. (2009), que ao avaliar a produção de mudas de beringela
com substratos à base de compostos orgânicos, as produzidas com o substrato comercial
(Hortimix solanáceas). A elevada taxa de germinação obtida com as castanhas avaliadas, também
foi apresentada em estudos de Araujo et al. (2009), Carneiro et al. (2002) e Nakagawa (1999),
esse último, afirma que sementes de menor tamanho e menor massa, como as sementes de
cajueiro-anão-precoce, embebem água mais rapidamente e em volumes proporcionais,
favorecendo a germinação e resultando em um alto índice de emergência das plântulas. Quanto a
primeira contagem, foi possível notar que o coco verde furado e triturado apresentou um maior
percentual de plântulas germinadas, mostrando que este material possui uma maior velocidade de
emergência em relação aos demais, concordando com Rosa et al. (2001), que afirmam que
resíduos provenientes do coco são óptimos materiais indicados para substrato. Todavia, ressalta-
se que a contagem final não revela diferenças entre as taxas de germinação dos tratamentos
utilizados. Pode-se verificar que apenas as variáveis altura de plantas e percentagem de pega (%
PEGA) foram influenciadas significativamente pelos tratamentos, a 1 e a 5% de probabilidade
pelo teste F, respectivamente. As demais variáveis não apresentaram respostas significativas, ou
seja, independente dos tratamentos aplicados o diâmetro do caule (DC) e o número de folhas
(NF) apresentaram respostas estatisticamente iguais.

No que diz respeito a variável altura de plantas, o tratamento do coco verde apresentou os
melhores resultados em relação aos demais, e obtendo médias de 16,18 e 17,61 cm de altura,
respectivamente. Ao compará-los com o tratamento de menor resultado (fibra + lodo de esgoto)
que apresentou média de 12,85 cm de altura.

Resultados semelhantes foram observados por Costa et al. (2005), que trabalhando com
diferentes substratos no cultivo de graviola (Annona muricata). Nessa perspectiva, Carrijo et al.
(2002) afirmam que resíduos provenientes do coco apresentam características favoráveis ao
cultivo de hortaliças, devido suas propriedades físicas e baixo custo ao produtor, enquanto que
Correia et al. (2003), indicam o uso na proporção de 20% como um dos componentes de
substrato na produção de mudas em tubetes de cajueiro-anão-precoce, em substituição ao solo
hidromórfico. O desempenho do tratamento Coco verde + Lodo de esgoto contraria o resultado
obtido por Faustino et al. (2005), em que a combinação desses compostos usado como substrato
na produção de mudas de Senna siamea (Cássia-amarela), alcançou o melhor resultado quanto
aos dados de altura e diâmetro do caule, em relação aos demais substratos analisados no estudo.

21
O fato das plantas cultivadas em substrato contendo a mistura de lodo de esgoto e coco verde
apresentarem menor altura pode ser explicado pelo elevado teor de Zn contido nesse substrato,
provavelmente oriundo da própria natureza do resíduo orgânico (coco verde) juntamente com o
resíduo industrial (lodo de esgoto), pois o zinco é um dos micros nutrientes responsáveis pela
síntese e conservação de auxinas, hormônios vegetais envolvidos no crescimento das plantas, e o
seu excesso pode acarretar o comprometimento de suas funções.

No que diz respeito a percentagem de pega da enxertia, os tratamentos 1, 2, 3 (coco verde,


comercial e lodo de esgoto) apresentaram respostas estatisticamente iguais, com médias de
64,49%, 73,27% e 42,52% para a pega da enxertia, respectivamente, porém, apenas o tratamento
3 diferiu estatisticamente do tratamento 4 (fibra + lodo de esgoto), que apresentou média de
32,46%. Ao comparar o tratamento 3 com o tratamento 5, podemos observar uma superioridade
de 55,70% na pega da enxertia para o tratamento com substrato comercial em relação ao
tratamento com fibra + lodo.

Para Asante (2001), o aumento na percentagem de pegamento da enxertia em Anacardiáceas está


relacionado aos diâmetros de dimensões semelhantes dos porta‑enxertos e enxertos, utilizados na
produção de mudas.

No presente estudo, o uso do lodo de esgoto como substrato, tanto empregado sozinho como
associado ao coco verde, não favoreceu o pegamento da enxertia em comparação com os demais
substratos, visto que apresentou os menores índices. Resultados contrários foram observados por
Abreu et al. (2017), onde verificaram que a mistura de lodo de esgoto com coco verde, furado e
triturado, apresentaram resultados superiores ao comercial na produção de mudas de dedaleiro

(Lafoensia pacari), sendo recomendado como substrato para essa espécie.

O resultado positivo apresentado pelo composto coco verde, assemelhando-se ao comercial, pode
ser explicado através do alto teor de Magnésio encontrado nesse substrato. Segundo Oliveira et
al. (2000), esse elemento é o que mais influencia no desenvolvimento do cajueiro, depois do N e
K, pois o mesmo é integrante da molécula de clorofila e activador enzimático, auxiliando assim
nos processos metabólicos das plantas. A matéria-prima para o substrato de coco verde é de
difícil acesso em algumas regiões de Moçambique onde não se produz muito a planta do
coqueiro.

22
CAPITULO V

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões

Chegando ao fim, com base nos experimentos feitos e os dados colectados, foi possível chegar a
seguinte conclusão:

A taxa de germinação final não foi influenciada pelos tratamentos, indicando que o substrato
comercial pode ser substituído por qualquer um dos substratos alternativos avaliados, sem haver
decréscimo na germinação final das sementes de cajueiro-anão-precoce.

A combinação de coco verde + lodo de esgoto não favoreceu a percentagem de pegamento da


enxertia em mudas de cajueiro-anão-precoce.

O uso do lodo de esgoto em combinação com o coco verde furado e triturado, não favoreceu o
desenvolvimento das mudas de cajueiro-anão-precoce, visto que apresentou os menores índices
de crescimento e de sucesso no pegamento da enxertia quando comparado aos demais substratos
testados.

5.2. Recomendações

De acordo com as soluções alcançadas no que se refere ao uso de diferentes substratos para
produção de mudas de caju, importa deixar algumas declarações em forma de recomendações
como:

➢ Os testes de outros substratos que não foram usados no experimento.


➢ Um estudo aprofundado acerca dos substratos que foram usados no experimento para que
esses possam ser aplicados futuramente na cultura do caju.

23
CAPITULO V.I

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, Fernando Jorge. Gestão e desenvolvimento: Moçambique no contexto da África


Subsaariana. Lisboa: Fim de Séculos Edições, 1993.

CHAMBE, Maria Albertina Gomes Chale. Sistemas de produção agrícola do caju e o modo de
vida dos pequenos produtores familiares de Manjacaze. Brasília, (2011), 199 p.
FERRÃO, Virgílio. Compreender Moçambique. Maputo: DINAME, 2002.
INCAJU. Relatório anual. Maputo: INCAJU, 2012.
INE-Moçambique. Censo agro-pecuário 1999-2000: resultados definitivos – Nampula. Maputo:
INE-Moçambique, 2002.
ANDREOLI, C.V. et al. Uso e Manejo do Lodo de Esgoto na Agricultura. Curitiba: Sanepar,
Finep, 1999. 98p.
BETTIOL, W.; CAMARGO, O.A. de (Coord.). Lodo de Esgoto: Impactos Ambientais na
Agricultura. Jaguariúna:Embrapa Meio Ambiente, 2006. 11p.
BOOMAN, J. L. E. Evolução dos substratos usados em horticultura ornamental na Califórnia. In:
KAMPF, A. N.; FERMINO, M. H. (Ed.) Substratos para plantas: a base da produção vegetal em
recipientes. Porto Alegre: Gênesis, 2000. pag. 43-65 Brasil. 2006.
CARRIJO, O.A.; LIZ, R.S.; MAKISHIMA, N. Fibra da casca do coco verde como substrato
agrícola. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 4, p. 533-535, Dezembro, 2002.
COSTA, A. M. G. COSTA, J. T. A.; CAVALCANTI JUNIOR A. T.; CORREIA, D. &
MEDEIROS FILHO, S. Influência de diferentes combinações de substratos na formação de
porta-enxertos de gravioleira (Annona muricata L.). Revista Ciência Agronômica, v. 36, p.299-
305,2005.
FARIAS, W. C. et al., Caracterização física de substratos alternativos para produção de mudas.
Revista Agropecuária Científica no Semiárido, v. 8, p.01-06, 2012.
FERNANDES, S.A.P. SILVA, S.M.C.P. da. Manual Prático para a Compostagem de
Biossólidos. Londrina: Prosab,Finep, 1999. Pag. 84
MAZZUCHELLI, H. L E.; MAZZUCHELLI, C. L. R. DE; BALDOTTO, V. P. Aplicação de
diferentes dosagens de esterco de galinha no substrato para produção de mudas de melão.
ROSA, M. F. et al. Caracterização do pó da casca de coco usado como substrato agrícola.
Fortaleza: Embrapa Agroindustrial Tropical, 2001. Pag. 6. (Comunicado Técnico, 54).

24
ANEXOS

25
Imagem I: Propágulos de cajueiro anão-precoce usados como garfos na enxertia. Fonte: Autor

Imagem II: Método da extracção de nutrientes. Pesagem da massa conhecida de substrato (A);
adição de água desionizada com auxílio de proveta (B); mistura pronta e Erlenmayers fechados
(C); agitação dos Erlenmayers (D). Fonte: Autor

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