A Casa Do Oleiro

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O 1994 Editora Árvore da Vida

lª edição - fevereiro/1994 - 3.000 exemplares


2ª edição julho/l994 - 3.000 exemplares
3ª edição atualizada - maio/2004 - 3.000 exemplares
Reimpressão março/2009 - 5.000 exemplares

ISBN 978-85-7304'202-3

Proibida a reprodução total ou parcial deste livro sem autorização escrita dos editores.

Todos os direitos reservados à Editora Arvore da Vida

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil
Sumário
PREFÁCIO
Capítulo Um
O OLEIRO
Capítulo Dois
LIDAR COM OS PECADOS
Capítulo Três
LIDAR COM O MUNDO
Capítulo Quatro
SEGUIR A UNÇÃO DO ESPÍRITO
Capítulo Cinco
O MELHOR INVESTIMENTO
PREFÁCIO

Em julho de 1992, no município de Sumaré - SP na Estância Árvore da


Vida, aconteceu uma conferência de jovens, cujo tema foi A casa do oleiro.
A Palavra de Deus foi ministrada para jovens de ensino médio e
universitário. As mensagens liberadas foram tão básicas, sólidas e
esclarecedoras, que precisam alcançar o maior número possível de pessoas.
Com esse intuito é que decidimos publicar essas palavras.
Que este livro continue revelando mais sobre a vontade de Deus para
todos os que o lerem!

São Paulo, fevereiro de 1994


Os Editores.
Capítulo Um

O OLEIRO

Leitura bíblica: Jr 18:1-4; 2 Tm 2:20


Quase todas as pessoas sabem o que é um oleiro. Oleiro é a pessoa que
modela o barro para com ele fazer diversos objetos. Nos tempos antigos os
oleiros trabalhavam o barro com as mãos, dando-lhe as mais diferentes
formas. O barro era colocado sobre uma mesa redonda que era ligada por
um eixo a uma roda menor, quase à altura do chão. O oleiro, com os pés,
girava a roda de baixo que girava a roda de cima, e com as mãos moldava o
barro que rodava. Assim eram feitos, segundo a vontade do oleiro,
utensílios e vasos de barro.
Certa vez Deus enviou o profeta Jeremias à casa do oleiro (Jr 18:1-4).
Quando lemos essa passagem percebemos que o próprio Deus é o oleiro.
Alguma vez você já ouviu dizer que Deus é um oleiro? Já ouvimos dizer
que Deus é todo-poderoso e que está assentado num trono no céu. Sim,
nosso Deus é onipotente e todo-poderoso, porém, Ele também é um oleiro
muito prático que trabalha com as próprias mãos para modelar os Seus
vasos.

A casa do oleiro
Se Deus é o Oleiro, a casa do Oleiro é a casa de Deus. O apóstolo Paulo
nos diz claramente em 1 Timóteo 3:15, que a casa do Deus vivo é a igreja!
Deus não é uma estátua imóvel enfeitando uma prateleira. Ele é vivo, e tem
uma casa igualmente viva! O livro de Efésios revela-nos que a igreja é a
família de Deus, e a habitação de Deus no Espírito (2:19, 22). No livro de
Hebreus lemos que a igreja é a casa de Deus (3:5-6). Portanto, não resta
dúvida nenhuma de que a igreja é a casa de Deus, o oleiro.
Romanos 9:21-23 afirma que, do mesmo barro, o Oleiro pode fazer um
vaso para honra e outro para desonra, conforme a sua vontade. Deus é
soberano, e como o divino oleiro, tem direito sobre a massa, para do mesmo
barro fazer vasos para honra destinados à glória e vasos para desonra
destinados à perdição. Quanto à escolha de Deus, tudo depende da Sua
misericórdia. É unicamente pela Sua misericórdia que hoje somos vasos na
Sua casa, a igreja. Precisamos ficar impressionados com a questão dos
vasos. Quando numa reunião da igreja paramos para observar os irmãos,
qual a característica principal que nos chama a atenção? Será o modo de
vestir dos irmãos? ou o penteado das irmãs? ou será a maneira como cada
um fala? Que vemos numa reunião da igreja? Que esperamos ver na casa do
Oleiro? Na casa de Deus há muitos vasos de misericórdia! Cada irmão é um
vaso, cada irmã é um vaso, e nosso Deus, como um oleiro, está trabalhando
cuidadosamente para moldar os Seus vasos. Aleluia! na igreja, na casa do
Oleiro, os vasos estão sendo preparados para a glória!
A igreja não é apenas um lugar agradável, onde há pessoas sorridentes e
hinos bonitos. Isso é apenas a parte visível; em outras palavras, a igreja, na
realidade, é a casa do Oleiro, onde vasos de misericórdia estão sendo
preparados nas mãos do oleiro divino. Deus está fazendo uma grande obra
nesta terra: Ele nos está conformando à imagem de Seu Filho. Por isso Ele
está trabalhando na igreja, em cada um de Seus filhos. Estamos sobre as
“rodas”, e Deus nos está moldando com Suas mãos, por meio de Sua
Palavra.

“Dispõe-te e desce”
Podemos até pensar que essas palavras não foram dirigidas a nós, mas a
Jeremias, lá no Antigo Testamento; e que nós estamos no Novo Testamento
e não somos servos tão especiais como ele foi. Não nos esqueçamos jamais
que a palavra de Deus é viva, eterna e eficaz, e que foi o próprio Deus quem
nos escolheu (Jo 15:16). Somos filhos de Deus e Seus servos nesta era,
portanto, toda a Palavra de Deus é dirigida a nós. Sim, em Jeremias 18:1
lemos: “Palavra do SENHOR, que veio a Jeremias”, porém, sempre que
tivermos um coração correto, voltado ao Senhor, com intenção e motivação
puras, a palavra do Senhor também virá a cada um de nós; e com intrepidez
poderemos até dizer: Palavra do Senhor, que veio a Jeremias, a José, a
Gustavo, a Marina, a Luzia etc. Para sermos servos úteis e fiéis nas mãos do
nosso Possuidor, precisamos desejar que a palavra do Senhor venha a cada
um de nós.
Que o Senhor falou a Jeremias? “Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá
ouvirás as minhas palavras” (v. 2). Isso é o mesmo que dizer “levanta,
desperta!” indicando que, de nossa parte, deve haver uma disposição ativa
para seguir o Senhor. Precisamos sair de toda e qualquer passividade,
inércia e indiferença. Ser passivo é fácil e cômodo: basta cruzar os braços e
esperar eternamente as coisas acontecerem ou não. Porém, dispor-se é mais
difícil, pois exige ação. E que pode ativar, motivar a nossa disposição? Um
alvo. Quanto mais precioso for o nosso alvo maior deve ser a nossa
disposição para alcançá-lo. Por exemplo, se o seu alvo é um dia ter um
excelente emprego na melhor empresa, você precisa dispor-se para isso.
Você vai querer ser o melhor profissional, e para tanto precisará estudar na
melhor escola, e isso requer esforço.
Na vida espiritual a nossa disposição é especialmente importante. O
nosso alvo é ganhar o próprio Cristo com todas as Suas riquezas
insondáveis. Para alcançar o mais elevado alvo do universo, será que não
vale a pena pagar o preço que for necessário? Que o Senhor tenha
misericórdia de nós e abra mais os nossos olhos espirituais para
enxergarmos mais a Sua amável Pessoa. E quanto mais contemplarmos o
Senhor mais atraídos por Ele seremos, e mais de perto vamos querer segui-
Lo! Há um hino que descreve o desejo que um jovem tem de consagrar-se:

Senhor, eu quero Te seguir,


Por isso da minha vida Te dou A parte mais ativa, mais saborosa,
Mais atraente, cobiçada e preciosa.
Senhor, eu Te dou toda a minha juventude Pra Te seguir...
Pra Te servir...

Realmente, a juventude é a parte da nossa vida que é mais cobiçada pelo


mundo e por Satanás. A quem iremos entregar nossa vida: a Cristo ou a
Satanás? à igreja ou ao mundo? A decisão está em nossas mãos. Nós, que já
conhecemos Cristo e a igreja, já temos meio caminho andado. Agora resta-
nos perseverar, seguindo o Senhor de perto e cooperando com o Seu mover
nesta era em que vivemos.
Ouvir a voz do Senhor é fundamental para quem quer segui-Lo.
Ouçamos a Sua voz: “Dispõe-te!”. Não somos mortos-vivos seguindo o
curso do mundo; somos vasos de misericórdia, criados para Deus. Ainda
hoje precisamos nos posicionar ao lado de Deus, e nos dispor a segui-Lo.
Para os interesses de Deus e Sua vontade, a nossa disposição diz SIM;
para a apatia e a indiferença que nos impedem de seguir o Senhor, dizemos
NÃO! Queremos investir a nossa vida no que tem valor eterno: Cristo e a
igreja!
Depois que o Senhor disse para Jeremias se dispor, Ele acrescentou: “E
desce à casa do oleiro”. Sabemos o que é a casa do Oleiro, e também já
sabemos que todos os que buscam a vontade de Deus, mais cedo ou mais
tarde, devem chegar à casa do Oleiro. No entanto, para chegar lá é preciso
descer. Por que descer? O Antigo Testamento diz que todo o povo de Deus
deveria subir a Jerusalém (porque a cidade ficava num monte) para ali
adorar ao Senhor. E esse subir indica que o único lugar escolhido por Deus
está numa posição elevada, pois está de acordo com a vontade do próprio
Deus. É por isso que o versículo de Jeremias não é uma contradição. A
vontade de Deus, concretizada na terra num único lugar de adoração, é
muito elevada e exige que nós subamos; porém, jamais conseguiremos subir
sem antes descer.
A explicação é simples: Descer significa humilhar-nos diante da vontade
de Deus. Se enquanto lemos estas palavras, nosso pensamento está dizendo:
“Ah! já sei tudo isso. Jeremias 18 não é novidade para mim”, isso indica
que precisamos descer, que precisamos nos humilhar. Todos os que querem
chegar à casa do Oleiro precisam se humilhar. Se enxergarmos que a igreja
é a casa do Oleiro, o lugar onde Deus trabalha e molda Seus vasos, então,
entenderemos claramente quão importante e necessário é descer.
Ao decretar a constituição do reino dos céus, o primeiro requisito que
Jesus declarou foi: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é
o reino dos céus” (Mt 5:3). Quem não se humilha a ponto de reconhecer-se
pobre em seu espírito, quem não se esvazia em seu espírito, não conseguirá
entrar no reino dos céus. Em 1 Pedro 5:6 lemos: “Humilhai-vos, portanto,
sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte”.
Nunca podemos esquecer que somos vasos de misericórdia nas mãos do
oleiro divino. Devemos humilhar-nos sob Sua poderosa mão que está nos
modelando, mediante as mais diversas circunstâncias que nos cercam, seja
em casa, no trabalho, na escola, na rua, nas compras etc. Estejamos bem
esclarecidos nessa questão, para não sermos enganados pelo inimigo: Deus,
dia após dia, momento após momento, está trabalhando por meio de todas
as situações ao nosso redor, com o objetivo de nos conformar à imagem do
Seu Filho.
Quem não reconhece, não aceita nem se humilha diante desse trabalhar
divino; por fim murmurará, e impedirá que Deus toque em certas áreas de
sua vida. Como será possível que uma pessoa que sempre foge das mãos de
Deus seja conformada à Sua vontade? Por isso é tão importante nos
esvaziarmos de tudo o que sabemos e de toda a nossa suficiência, que
geram em nós orgulho e soberba, e nos entregarmos completamente nas
mãos do Oleiro.
O próprio Senhor Jesus nos deixou tal exemplo de humildade. Ao deixar
o trono da glória, Ele se esvaziou, e humilhou-se ao assumir a forma de
servo (Fp 2:5-11). O Criador “desceu” ao tomar a forma da criatura
humana. Por fim, ao submeter-se totalmente à vontade do Pai, Deus O
exaltou como Senhor e Cristo, fazendo Dele o primogênito entre muitos
irmãos. Hoje Deus também espera que desçamos à casa do Oleiro, e ali nos
entreguemos confiantes em Suas mãos para ser trabalhados por Ele.

“Lá ouvirás as minhas palavras”


Todo o que se dispõe e desce à casa do Oleiro, lá ouvirá as palavras do
Senhor! Isso nos mostra um princípio muito importante: para poder ouvir as
palavras do Senhor, primeiramente precisamos ter disposição; em seguida,
temos de descer à casa do Oleiro e ali permanecer, a fim de ouvir o falar de
Deus. Por um lado, todos os filhos de Deus, que vivem em comunhão com
Ele, sabem que o Senhor fala conosco onde quer que estejamos. Por outro
lado, não podemos ignorar que há um falar divino específico que só
conseguimos ouvir na casa do Oleiro. É por essa razão que o Senhor disse a
Jeremias que se dispusesse e descesse à casa do oleiro, porque lá ele ouviria
as Suas palavras.
As palavras do Senhor são muito importantes porque são espírito e são
vida (Jo 6:63). Os que já se dispuseram e desceram à casa do Oleiro, à
igreja, podem testificar sobre a abundância de palavra que ali encontraram.
Portanto, é fácil verificar que quando estamos na casa do Oleiro, a palavra
de Deus é farta. A palavra que está sendo falada na casa de Deus é espírito e
vida. A obra de Deus é feita quando a Sua palavra é falada. Se não há o
falar de Deus, não há a obra de Deus. Por isso a casa do Oleiro é
caracterizada pelo falar de Deus; é por meio do Seu falar que os vasos vão
sendo moldados. Quando não há o falar divino, os vasos permanecem como
são, e ainda correm o risco de endurecer e quebrar, tornando-se, assim,
inúteis.
Como precisamos amar e buscar as palavras do Senhor! Quem tem um
coração assim sedento, certamente um dia o Senhor o levará à Sua casa,
para ali ouvir as Suas palavras. Muitas pessoas estão procurando as ricas
palavras do Senhor, mas tudo o que têm encontrado são palavras
superficiais, que mais parecem capim seco — fazem volume, porém não
alimentam. Somos gratos ao Senhor, que, pela Sua grande misericórdia, nos
trouxe para a igreja. Aqui, os pastos são verdejantes, a água é fresca, e
nunca nos falta suprimento. Desejamos que mais ovelhas do rebanho de
Deus saiam dos apriscos e venham desfrutar da abundância que há na casa
do Oleiro.
O objetivo de Deus ao falar a Sua palavra é justamente fazer de nós
vasos úteis na Sua casa. Quanta riqueza há em cada reunião da igreja! Se
perdemos uma reunião, perdemos muitas palavras de vida. Se não
valorizarmos as palavras que ouvimos, aplicando os ouvidos e coração para
ouvi-las atentamente, estaremos jogando fora a oportunidade de ser
alimentados e santificados pelas palavras de Deus.
Quando abrimos nosso ser para receber o falar divino, as palavras do
Senhor entram em nós, habitam em nós, e passam a trabalhar no nosso
interior, porque “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração” (Hb 4:12). As palavras de Deus são vivas, portanto,
não podemos desprezá-las. Para fazer a Sua obra de criação, Deus
simplesmente falou. “Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a
existir” (Sl 33:9).
O falar do Senhor sempre produz algo. No Antigo Testamento, Deus
falou aos pais pelos profetas; no Novo Testamento, Ele nos falou pelo Filho
(Hb 1:1-2). Ao ler os quatro Evangelhos, vemos simplesmente Deus
falando por intermédio de Seu Filho. Após Sua morte e ressurreição, Jesus
tornou-se o Espírito que dá vida, e já ao entardecer do dia da ressurreição,
Ele apareceu aos discípulos, soprou neles, e disse: “Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20:22). Os discípulos conviveram com Jesus quase três anos e
meio, porém agora eles O recebiam para dentro de si. Satanás sempre
tentou e tenta impedir que o falar de Deus alcance os homens; todavia, na
cruz, Cristo consumou a obra de Deus — Ele morreu, foi ressuscitado,
tornou-se o Espírito que dá vida e ascendeu ao céu. Por isso Ele conseguiu
aparecer e desaparecer diante dos discípulos numa sala fechada, e soprar
neles o Espírito. A partir de então, o próprio Senhor Jesus, como Espírito
que dá vida, falaria dentro dos discípulos. No Pentecostes o Espírito
alcançou milhares de pessoas que creram nas palavras dos discípulos, e
assim a igreja veio à existência. Pela igreja, o falar de Deus foi
intensificado, e a palavra de Deus crescia (At 6:7). Agora, mesmo que
Satanás consiga calar a boca de um filho de Deus, é impossível que ele cale
a boca da igreja. Além disso, com a invenção da imprensa, o falar de Deus
foi além do limite humano, e a Bíblia e os livros que tratam sobre ela
atravessam as barreiras de tempo e lugar. Ninguém mais pode impedir que o
falar divino conquiste os homens! Quando a palavra de Deus é falada, a
obra de Deus começa a ser executada dentro de cada um de nós. Portanto, é
fundamental ouvirmos constantemente o falar divino, seja na comunhão
pessoal com o Senhor, seja na comunhão com os irmãos, seja nas reuniões
da igreja. Enfim, em todo o tempo e lugar devemos estar ansiosos por ouvir
nosso Deus falar.
A experiência diária de cada um de nós comprova quão doce é ter
comunhão a sós com o Senhor, e como precisamos aumentar esses
momentos de desfrute com Ele! E tais momentos podem acontecer em
qualquer lugar, já que o Senhor está sempre presente. Porém não podemos
deixar de admitir que o desfrute dessa amável experiência nem se compara
com o que temos numa reunião da igreja.
A nossa experiência nos permite entender porque o Senhor, em
Deuteronômio 12, insistiu na questão de um único lugar de adoração. Os
filhos de Israel, assim que entrassem na boa terra, deveriam buscar o único
lugar que o Senhor escolheu para ali fazer habitar o Seu nome, e para lá
teriam de levar as suas ofertas e as primícias das colheitas e dos rebanhos.
Esse lugar era Jerusalém, para onde as doze tribos de Israel deveriam subir
três vezes anualmente para adorar a Deus. Sabemos que a cidade de
Jerusalém tipifica a igreja no Novo Testamento, pois o princípio do único
lugar de adoração é imutável, visto que é o testemunho e a base da unidade
do povo de Deus.
Sem dúvida, é nas reuniões da igreja que desfrutamos a melhor porção
da palavra de Deus; e a Palavra é o próprio Senhor, simbolizado pela terra
de Canaã. Em Deuteronômio 8, o Senhor falou a Moisés que a terra
prometida, na qual o povo de Israel entraria e habitaria, era terra muito boa,
que manava leite e mel; nela também havia fontes, ribeiros e mananciais de
águas; havia trigo, cevada, romeiras, videiras, oliveiras e figueiras; nos
montes havia cobre e ferro. Essa terra era cheia de riquezas, cheia de vida!
Em nossa vida cristã, a boa terra é Cristo com Suas riquezas
insondáveis, totalmente disponível para ser desfrutado pelo povo de Deus,
pela igreja! Essas riquezas todas são dispensadas por Deus a nós, mediante
a Sua palavra, o Seu falar divino, tão abundante nas reuniões da igreja.
A obra do oleiro
Embora na igreja o falar divino seja tão rico, Deus aguarda que
obedeçamos às Suas palavras, assim como Jeremias obedeceu. Quando o
Senhor lhe disse: “Dispõe-te, e desce”, Jeremias não argumentou nem
sugeriu nada. Não vemos nele nenhuma resistência, como por exemplo:
“Senhor, para que descer à casa do oleiro, se Tu podes falar aqui mesmo
comigo?” ou, “Hoje não, Senhor; irei quando eu estiver mais disposto”. A
atitude de Jeremias foi outra: “Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava
entregue à sua obra sobre as rodas” (18:3). A prontidão de Jeremias nos faz
recordar as palavras do Senhor Jesus, em Mateus 7:24-27. Todo aquele que
ouve e pratica as palavras do Senhor é como um homem prudente que
edificou a sua casa sobre a rocha, e, por isso, nada conseguiu derrubá-la:
nem ventos, nem chuvas, nem rios. Porém, quem ouve e não pratica é como
um homem insensato que construiu a casa sobre a areia. Resultado: a casa
foi arruinada pelos ventos, pelas chuvas, pelos rios.
Jeremias ouviu e, obediente às palavras do Senhor, desceu à casa do
oleiro. Quando lá chegou, ele teve uma visão: “Eis que ele estava entregue à
sua obra sobre as rodas” (Jr 18:3). A expressão “eis que” denota que
Jeremias viu algo: “ele estava entregue”, isto é, o Oleiro, Deus, estava
entregue à Sua obra. Isso corresponde à experiência que o apóstolo João
teve em Apocalipse. Primeiramente ele ouviu uma grande voz, e voltou-se
para ver quem falava com ele. Foi então que viu o Filho do Homem no
meio dos candeeiros de ouro, que eram as sete igrejas da Ásia (Ap 1:10-13,
20). As palavras de Deus, o falar divino, sempre nos levam a ver mais de
Cristo. Tanto Jeremias como João ouviram as palavras do Senhor, reagiram
ao Seu falar, e ganharam mais visão. Na casa do Oleiro, a igreja, a primeira
coisa que Deus quer mostrar-nos é Cristo.
Jeremias viu que o oleiro estava empenhado em fazer uma obra. Assim
é o nosso Deus. Deus, ao contrário do que muitos pensam, não está
simplesmente descansando em Seu trono celestial, mas está entregue à Sua
obra. No Evangelho de João é citado que alguns judeus também tinham o
conceito de que Deus só descansa, especialmente no sábado. Por causa de
tal conceito, eles perseguiram o Senhor Jesus por curar um paralítico no
sábado, e até mesmo queriam matá-Lo por Ele violar o sábado (5:16-18).
Aqueles judeus não queriam que Jesus curasse no sábado, pois, para eles,
Deus não trabalhava aos sábados. Jesus, então, lhes disse: “Meu Pai
trabalha até agora, e Eu trabalho também”. “Até agora” indica que até
mesmo no sábado Deus estava trabalhando, e Jesus também.
Como precisamos ver o que Jeremias viu — o Oleiro entregue à Sua
obra, Deus trabalhando nos Seus vasos! Muitas vezes ao considerar nossa
rotina diária, nada conseguimos ver além do cansaço do trabalho, da
dificuldade dos estudos, dos problemas familiares, das ansiedades. Isso
demonstra que nos falta visão. Precisamos nos dispor, descer à casa do
oleiro, ouvir Suas palavras, obedecê-las e ganhar uma visão! Que visão
precisamos ganhar? A visão de um oleiro entregue à sua obra. Precisamos
ganhar a visão do que Deus quer fazer, e está fazendo em nós. Somos vasos
de misericórdia, e Deus quer moldar-nos para fazer de nós vasos de honra
na Sua casa. Para isso Ele, que tem o controle de tudo, usa todas as
circunstâncias e pessoas à nossa volta com o objetivo único de nos moldar,
de nos transformar, conforme a Sua vontade. Deus está preocupado com
cada um de nós; por isso, soberanamente, prepara o melhor ambiente para
que sejamos transformados. Embora muitas vezes enfrentemos situações
difíceis, precisamos ver que as mãos do nosso Oleiro estão por trás de todas
elas. Tão logo aquelas situações cumpram a sua finalidade, elas deixarão de
ser vistas como problemas. Portanto, não é necessário murmurarmos diante
das dificuldades, pois Deus sabe que elas cooperam para o nosso bem.
Ainda que os vasos sejam muitos, Deus tem uma única obra. Todos nós
somos Seus vasos, porém, não somos as Suas muitas obras. Não estamos
sendo trabalhados individualmente para um dia ser vendidos e exibidos
como enfeite numa estante. Não. A obra de Deus é coletiva — Ele está
trabalhando em nós coletivamente, para fazer de nós a Sua obra-prima. Em
Efésios 2, o apóstolo Paulo afirma que nós, a igreja, “somos feitura Dele”.
Nessa passagem, “feitura” foi traduzida da palavra grega poiema, indicando
que somos a melhor obra, a obra-prima de Deus.
O artista, durante a sua vida, faz diversas obras; e entre elas sempre há
uma que é especial. É justamente aquele trabalho que levou mais tempo,
que exigiu maior empenho, maior dedicação, mais amor. No final de tal
trabalho o artista consegue apreciar a obra de suas mãos e dizer: “Valeu a
pena!”.
Nosso Senhor, o Deus Criador dos céus e da terra, fez muitas obras
maravilhosas. Basta-nos olhar para a natureza, para engrandecermos a Deus
como o maior artista que jamais existiu ou existirá. Que criação
maravilhosa Deus realizou, enchendo o universo de tantos itens dignos de
admiração: os planetas, as estrelas, os animais, as aves, as plantas, o
homem! Porém dentre todas as obras há uma que Deus considera a Sua
obra-prima. Que obra é essa? Em Efésios 4:11-12 lemos: “E ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas
e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”.
Portanto, a obra à qual Deus está entregue é a edificação do Corpo de
Cristo. Essa é a obra-prima de Deus! Não há nenhuma obra no universo que
possa comparar-se a ela. Deus está moldando pessoas, os membros do
Corpo de Cristo, para com elas edificar o Corpo de Cristo.
Por isso quando perguntamos: “Senhor, por que estou passando por tal
situação?” ou “Por que o Senhor permite aquilo?”, na verdade, é porque não
estamos vendo o que Deus está fazendo. Deus está “caprichando” nos
detalhes da Sua obra, e para tanto precisa usar todos os tipos de
instrumentos. O Senhor até mesmo concedeu à igreja irmãos que já têm
sido aperfeiçoados há mais tempo, para que auxiliem os demais santos a ser
aperfeiçoados. Tais homens foram dados à igreja com vistas ao
aperfeiçoamento de todos os santos para a obra do ministério (v. 12). A obra
do ministério é a obra de Deus, e é nessa obra que Ele está envolvido e nós
também. Precisamos enxergar isso claramente a fim de cooperar com Deus.
Tudo o que se relaciona a nós tem sido “dosado” por Ele, e nada passa
despercebido aos Seus olhos. Nada temos a temer, pois estamos nas mãos
de Deus!
Os vasos de barro
Já vimos que Deus é o Oleiro, que a igreja é a casa de Deus e que a obra
de Deus é a edificação do Corpo de Cristo. Mas o livro de Jeremias nos
revela muito mais. O oleiro está entregue à sua obra, ou seja, está
trabalhando nos vasos. E que está acontecendo com os vasos? Lemos em
Jeremias 18:4: “Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na
mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu.
O povo de Israel foi comparado a um vaso (Jr 19), e no Novo
Testamento nós somos comparados a vasos. Romanos 9:21-23 chama-nos
de vasos de misericórdia; Atos 9:15 mostra que para Deus, Paulo era “um
vaso escolhido” (algumas versões traduziram “instrumento”) para levar Seu
nome a gentios e a reis em muitos lugares. Segunda Timóteo 2:20-21 afirma
que há utensílios, vasos, para honra e para desonra; em 2 Coríntios 4:7 o
apóstolo Paulo declara que dentro de nós, vasos de barro, há um tesouro,
que é Cristo.
Deus criou o homem do barro, como um recipiente para contê-Lo; por
isso o homem é considerado um vaso de barro. O objetivo da existência
desse simples vaso de barro é, nada mais nada menos, que conter o próprio
Deus dentro de si. Jeremias viu um vaso sendo trabalhado pelo oleiro, o
qual, por algum motivo, se lhe estragou nas mãos. No entanto, o oleiro, do
mesmo barro, refez o vaso. Que significa isso na nossa experiência? Deus
tem trabalhado em nós por intermédio da Sua palavra, mas, por algum
motivo, por vezes nos tornamos rebeldes: “Ah! Por que Deus deixou tal
coisa acontecer comigo? Por que Ele não tira esse problema da minha vida?
Já que é assim eu não vou mais para a reunião. E também não quero saber
do Senhor, se Ele não fizer o que eu quero”. Percebemos, então, que o vaso
se estragou. Mas, graças ao Senhor, o barro ainda está nas mãos do Oleiro!
Enquanto estivermos nas mãos de Deus, há esperança, porque Ele pode
fazer de nós outro vaso.
Em Jeremias 19:11 também há um vaso que se estraga, mas não pode
mais ser refeito; o barro endureceu a tal ponto, que ao ser moldado pelo
oleiro, quebrou-se, tornou-se inútil, e seu fim foi ser enterrado em Tofete.
Esse lugar representa as trevas exteriores, o ranger de dentes, que será o
lugar onde os “vasos quebrados” (todos os filhos de Deus que não
permitiram que Ele os moldasse) ficarão durante mil anos para ser
restaurados. Isso não se refere à perdição eterna, pois sabemos que uma vez
salvos, jamais perderemos a salvação. Todavia, os filhos de Deus que não
obedeceram às Suas palavras nem aceitaram a Sua disciplina, serão
disciplinados por mil anos, a fim de poderem entrar na Nova Jerusalém.
Hoje temos oportunidade de escolher que tipo de vaso queremos ser: ou
permitimos que o Senhor trabalhe em nós, moldando-nos conforme a Sua
vontade, ou seremos moldados e refeitos durante mil anos. Vamos renovar
nossa consagração ao Senhor e permanecer nas Suas mãos, a fim de que Ele
trabalhe em nós até sermos totalmente conformados à imagem de Seu Filho.
Coloquemo-nos nas Suas mãos e não endureçamos o nosso coração diante
do querer do Senhor.
Um vaso não pode ser moldado se o barro estiver seco, porque ele
endurece e quebra. Portanto, durante todo o tempo da modelagem, o barro
precisa ser molhado com frequência. Espiritualmente falando também
acontece a mesma coisa, e precisamos ser constantemente regados pela
água viva. O Senhor é o manancial, a fonte de águas vivas, que flui para
saciar nossa sede e para nos amolecer. Se sentimos que nosso coração está
endurecido, precisamos correr imediatamente ao manancial de águas vivas,
pois só então é que ficaremos maleáveis, e não correremos o risco de
quebrar. Na prática, isso acontece sempre que invocamos o nome do
Senhor, sempre que O desfrutamos na Palavra, na comunhão com os
irmãos, na oração. O importante é voluntariamente permanecer nas mãos do
oleiro, porque mesmo que “estraguemos”, podemos arrepender-nos, e,
assim, Ele poderá novamente fazer de nós um vaso de honra na Sua casa.
O desejo de Deus é que sejamos maleáveis nas Suas mãos. A obra de
transformação só pode ser eficazmente realizada pelo próprio Deus; cabe a
nós permanecer flexíveis em Suas mãos, pois como poderá Ele modelar o
barro duro sem quebrá-lo? Não podemos ser pessoas secas; precisamos
estar sempre bebendo das águas vivas, todo momento invocando: Ó Senhor
Jesus! Ó Senhor Jesus! Sempre que estamos em comunhão com o Senhor e
amando as Suas palavras, somos como barro maleável, fácil de ser
modelado. Isso não significa que não mais erraremos, pois enquanto
estivermos vivos estaremos sujeitos a falhas; contudo, quando estamos
amolecidos, mais rapidamente nos arrependemos e voltamos ao Senhor.
Então, quando o Senhor nos apontar um erro, não discutiremos com Ele,
nem argumentaremos: “Mas por que não posso fazer isso, se todo mundo
faz?”; pelo contrário, confessaremos o nosso erro e rebeldia. É dessa
maneira que, ao serem expostas as falhas do vaso, o oleiro pode com total
liberdade desfazê-lo e refazê-lo.

Vasos para honra


Em 2 Timóteo 2:20 está escrito: “Ora, numa grande casa não há somente
utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns,
para honra; outros, porém, para desonra”. A “casa de Deus” em 1 Timóteo
3:15 é a igreja genuína em sua natureza divina. Mas a “grande casa” refere-
se a toda a cristandade. Na cristandade há vasos de ouro, de prata, de
madeira e de barro; alguns são para honra, outros para desonra. Portanto,
aqui não está envolvida a questão de predestinação, como esclarece o
versículo 21: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros,
será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando
preparado para toda boa obra”. “Estes erros” são todas as situações e
condições desonrosas, e purificar-se deles é que determinará se seremos um
vaso de honra ou de desonra. É por isso que se nosso desejo realmente é ser
um vaso de honra, nós aprenderemos a nos purificar de tudo aquilo que é
desonroso.
A palavra de Deus e a comunhão íntima com Ele é que determinam
verdadeiramente o que é honra e desonra. Hoje, os valores estão se
invertendo com grande rapidez. Será que temos percebido isso? Há dez
anos, algumas coisas vergonhosas escandalizavam a todos; porém, hoje,
essas mesmas coisas são consideradas normais, e são considerados
anormais os que não as praticam. O grande perigo está em perdermos a
sensibilidade e o discernimento quanto ao que é normal e anormal aos olhos
de Deus. Se isso acontecer, certamente nos tornaremos vasos de desonra, e
Deus não terá como usar-nos. Precisamos vigiar e ter discernimento, pois as
sutilezas do mundo são atraentes, e tentam envolver-nos por meio do que
ouvimos e vemos, sem que percebamos o que realmente está acontecendo.
É como se usássemos óculos de lentes transparentes que, pouco a pouco,
vão se tornando amarelas, e passamos, então, a enxergar tudo amarelo.
Como ser usado por Deus numa situação dessa?
Por que muitas vezes percebemos que não conseguimos avançar
espiritualmente? Por que há certas coisas que nos amarram? Por que mesmo
depois de irmos a uma rica conferência sobre a Palavra de Deus, o nosso
coração permanece frio e relutante em seguir o Senhor? Por quê?
Precisamos saber e ver o que nos está detendo, para então poder
purificar-nos. Somos advertidos em 1 Tessalonicenses 4:4 que devemos
manter o nosso vaso, isto é, o nosso corpo, em santificação e honra, pois a
vontade de Deus é a nossa santificação, e que estejamos longe da
prostituição. Precisamos conservar o nosso vaso limpo e puro para o
Senhor. Se no passado nos sujamos com certas práticas, hoje Deus nos dá
oportunidade de sermos iluminados e de nos limparmos, arrependendo-nos
e confessando nossos pecados (1 Jo 1:9). O Senhor quer ganhar uma nova
geração, um povo que O ame acima de tudo, que queira satisfazer o Seu
coração obedecendo às Suas palavras. O Senhor quer uma nova geração
santa e pura, cuja pureza e santidade sejam provenientes de um viver em
íntima comunhão com Ele. Dessa maneira nos tornaremos puros no
coração, na mente, no corpo.
Deus quer ganhar muitos vasos para honra, que se apartam da injustiça,
têm um coração puro e são santificados e úteis a Ele, a fim de que Sua obra
seja completada. Se o nosso desejo é ser tal vaso de honra, precisamos nos
dispor, nos humilhar, descer à casa do Oleiro, lá ouvir as Suas palavras e
praticá-las.
Como precisamos ser pessoas autênticas! Tanto em casa, como no
trabalho, na escola, nas reuniões, precisamos ser o que somos. Por um lado,
já temos a vida de Deus dentro de nós, no nosso espírito; por outro,
estejamos cientes de que a semente da vida de Deus em nós precisa crescer,
transbordar do nosso espírito para a nossa alma, saturando-a da pureza e da
santidade do Senhor. Quanto mais temos comunhão com o Senhor,
invocando o Seu nome, louvando-O e meditando em Sua Palavra, quanto
mais temos comunhão com os irmãos, falando palavras de vida uns com os
outros, mais a vida divina crescerá em nós, e espontaneamente
expressaremos o próprio Deus diante dos homens e para o mundo.
Nosso Deus não exige que sejamos o que não somos, e não quer que
vivamos de aparências. Ele simplesmente quer que O busquemos de todo o
nosso coração, que O amemos com todo o nosso ser, e que jamais nos
afastemos Dele. Se, quando estamos numa roda de amigos, os assuntos
mais discutidos são: esporte, carros, festas, namoro, moda etc., por que não
podemos, com a mesma naturalidade, falar das coisas do Senhor? Muitas
vezes, diante dos irmãos, alguns têm uma aparência espiritual, mas longe
deles e das reuniões agem de maneira bem diferente, e como Pedro chegam
a dizer: “Não O conheço” (Lc 22:56-57). Até mesmo entre os casais
podemos encontrar essas dificuldades. Marido e mulher falam sobre filhos,
casa, compras, preços, empregada, comida, férias, mas ao falar sobre o
Senhor ficam constrangidos. Onde está o problema?
Se o centro da nossa vida é o Senhor, tudo o mais deve girar em tomo
Dele. Simplesmente sejamos um canal aberto para a vida espiritual fluir e
“invadir” a vida secular; só assim conseguiremos realmente viver uma vida
cristã normal, livre de qualquer esforço para manter as aparências. Em
primeiro lugar vamos dispor-nos, depois vamos descer, vamos humilhar-nos
e, então, ouvir as palavras do Senhor, purificar-nos das coisas desonrosas,
deixando o Oleiro trabalhar em nós e fazer de nós vasos úteis nas Suas
mãos. Tudo isso só é possível e real na casa do Oleiro.
Capítulo Dois

LIDAR COM OS PECADOS

Leitura bíblica: Mt 5:23-26; 2 Co 7:1; 1 Jo 1:9; Pv 28:13


No capítulo anterior ganhamos uma visão muito importante: o Oleiro é
o nosso Deus, a casa do Oleiro é a igreja, e nós somos os vasos nos quais
Ele está trabalhando. Graças a essa visão percebemos também que Deus
trabalha em nós por intermédio de todas as situações que nos cercam, e que
Ele trabalha continuamente em cada um dos Seus muitos filhos, a fim de
que cada um seja vaso útil na Sua casa.
Nosso Deus é tão prático que se apresenta como um oleiro. Portanto,
todas as revelações que recebemos, também são muito práticas e devem ser
aplicadas em nosso viver. Consideremos, porém, a nossa vida: Que Deus
tem conseguido fazer em nós? Que tipo de vaso somos: um vaso maleável,
fácil de ser moldado, ou um vaso endurecido e que não cede? A intenção de
Deus é trabalhar nos Seus vasos e restaurá-los para que tenham utilidade.
Algumas pessoas dizem que estão na “restauração do Senhor”, mas eu
pergunto: A sua vida tem sido restaurada? Que Deus tem conseguido
restaurar em você? Todos os dias e de todas as maneiras, Deus está
querendo trabalhar em nós, mas será que nós permitimos? Ou será que
muitas vezes Deus precisa dizer: Como é difícil moldar um vaso duro como
esse! Sabemos, no entanto, que quando estamos cheios da água viva,
ficamos maleáveis, e o Oleiro se alegra porque consegue conformar-nos um
pouco mais à imagem de Seu Filho.
Deus está trabalhando em nós, e tem colocado todo o Seu coração nessa
obra. Quanta dedicação do Senhor! Se nós fôssemos o oleiro com certeza já
teríamos desistido dos vasos endurecidos, ou até mesmo lançado alguns
deles no lixo. Portanto, se hoje ainda estamos aqui é porque Deus é um
oleiro cheio de misericórdia, que não desiste facilmente dos Seus vasos. É
verdade que ainda somos um pouco duros, mas quando Ele nos vê assim,
diz: Vou jogar um pouco de água neles e torná-los maleáveis. Só podemos
louvar ao Senhor por toda a Sua misericórdia para conosco.
Quando observamos a juventude deste mundo sendo iludida,
conquistada e usada como vaso nas mãos de Satanás, ficamos mais cientes
da importância de ser parte de uma geração jovem, que permanece nas
mãos de Deus para ser moldada por Ele. Se alguém vier perguntar-nos: Que
é a restauração do Senhor? Vamos responder com firmeza e ousadia: Antes
éramos vasos que estavam sendo usados e destruídos por Satanás, porém
Deus amarrou o valente, saqueou-lhe a casa, libertando-nos do império das
trevas. Agora estamos nas mãos do Oleiro sendo restaurados, dia após dia.
Romanos 9 menciona vasos de ira e vasos de misericórdia. Apesar de
não sermos melhores do que ninguém, sabemos que a misericórdia de Deus
nos alcançou. Poderíamos continuar sendo vasos de ira na casa do valente,
mas Deus teve compaixão de nós, e hoje somos vasos de misericórdia na
casa do Oleiro. Que diferença! Estamos sendo trabalhados por Deus, e Sua
Palavra tem nos regado continuamente. Será que temos o direito de nos
orgulhar? De modo nenhum. Ser um vaso de ira destinado para a perdição
ou um vaso de misericórdia preparado para a glória não depende de nós;
depende unicamente da misericórdia de Deus.
Encontramos também outros tipos de utensílios em 2 Timóteo 2:20:
vasos para honra e vasos para desonra. Qualquer de nós pode pensar: Bem,
nessa grande casa fui destinado para ser um vaso para desonra, e outros
foram escolhidos para ser vasos para honra. Contudo, não é bem isso que a
seguir o versículo 21 diz: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar
destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor,
estando preparado para toda boa obra”. Se, porventura, hoje estamos numa
condição de vasos de desonra, há um caminho! O caminho é purificar-nos
dos erros. Primeiramente precisamos identificá-los, para então poder lidar
com eles. Quanto mais lidarmos com os erros, mais a vida de Deus crescerá
em nós, e mais úteis seremos ao Senhor. Os mais frequentes e evidentes
causadores dos erros que cometemos são os pecados, portanto, precisamos
saber como lidar com eles.

Como lidar com os pecados


Já que o caminho para nos tornarmos vasos de honra é lidar com nossos
pecados, devemos o quanto antes saber quais são eles. A única maneira
realmente eficaz para isso é ter comunhão com Deus, mediante a Sua
Palavra.
Em Mateus 5:23-24 lemos: “Portanto, se estiveres apresentando a tua
oferta no altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra
ti, deixa ali perante o altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu
irmão; e, então, vem apresentar a tua oferta”. Ir ao altar fazer uma oferta a
Deus, significa ter comunhão com Deus. É justamente quando vamos ter
comunhão com Deus que nos tomamos conscientes de nossas ofensas, e
lembramos de pecados cometidos. A partir daí só nos resta acertar a
situação do modo mais esclarecedor possível.
Também em 1 João 1 encontramos uma passagem que diz que na
comunhão com Deus, na Sua luz, vemos nossos pecados e podemos
confessá-los para sermos perdoados (vs. 5-9). A luz de Deus expõe o nosso
interior, e assim ficamos conscientes de que ofendemos a Deus, e dos
pecados com os quais O ofendemos. Arrependidos, podemos confessar ao
Senhor. É então que o sangue de Jesus nos purifica e obtemos o perdão de
Deus.

A comunhão com Deus


Se o nosso desejo é ser um vaso de honra na casa de Deus é
fundamental que pratiquemos viver em comunhão com Ele, que sempre
busquemos a Sua presença. É somente na luz da presença de Deus que
conseguimos ver a nossa real condição, tanto em relação a Deus como em
relação aos homens. Deus é quem determina o padrão do que é ou não
pecado, do que é ou não ofensivo a Ele e aos homens. O padrão de certo ou
errado não pode ser definido por nós mesmos nem por outras pessoas; a
definição e a decisão estão com o próprio Senhor do universo. É por isso
que precisamos aprender a viver em comunhão com Deus. Não poucas
vezes falamos e agimos de tal e tal maneira, e nos sentimos muito bem.
Todavia, quando buscamos a presença de Deus, Sua luz ilumina o nosso
íntimo, e já não nos sentimos tão bem como antes. Pouco a pouco o Senhor
nos faz rever e lembrar certas palavras e ofensas, diante do que nos
arrependemos, confessamos e pedimos perdão. Isso nos faz passar de uma
condição desonrosa para uma condição de honra.
Se considerarmos um pouco, facilmente percebemos que não podemos
depender dos padrões estabelecidos pela sociedade. Algumas coisas que há
dez anos eram condenadas como imorais e vergonhosas, hoje são aprovadas
com muita naturalidade. Sinais dos tempos? Quem mudou: Deus ou o
homem? Deus não muda, e permanece imutável eternamente. O homem,
porém, muda, e não podemos ignorar que, sem Deus e sob a orientação de
Satanás, a sociedade humana tem mudado para pior. Não faz muito tempo
que o pior aluno ou o pior elemento eram companhias a serem evitadas,
mas hoje ser o “bonzinho” é que é o problema. Antigamente dizia-se que
entre muitos sempre havia uma ovelha negra. Hoje, as ovelhas brancas é
que são raras.
Também não podemos depender de nossos próprios padrões, pois nem
sequer estabelecê-los nós conseguimos! Pelo fato de vivermos em tal
sistema tão problemático e incoerente, nossos olhos, sentimentos e
pensamentos vão se alterando. O exterior tenta, aos poucos, influenciar o
nosso interior. De repente nos estranhamos: “Mas se todo mundo faz, por
que não faço também?” Parece lógica a dúvida, não é mesmo? Isso só vem
confirmar que somos facilmente influenciáveis. Não devemos achar que
somos tão fortes e capazes de enfrentar todas e quaisquer influências. A
nossa capacidade de resistir aos apelos do mundo é muito limitada. Em nós
mesmos resistimos até certo ponto, mas por fim acabamos cedendo. Por
isso não é de admirar que o apóstolo Paulo tenha dito ao jovem Timóteo
para fugir das paixões da mocidade (2 Tm 2:22).
É também por tudo isso que precisamos ter comunhão com Deus.
Quando vamos à presença de Deus somos espontaneamente iluminados. Ser
iluminado por Deus é diferente de tentar adivinhar ou lembrar os pecados
cometidos. Vivemos num mundo tenebroso onde as pessoas vivem em
trevas. A única solução para as trevas é a luz. Como bem define 1 João
1:5b: “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma”. Eis o segredo: Precisamos
viver na luz, precisamos viver em comunhão com Deus! E o tanto de
comunhão que temos com Deus é que determinará o quanto seremos
purificados.
Há uma pergunta que precisamos fazer para nós mesmos, e respondê-la
honestamente: “Como tem sido nossa comunhão com Deus?”. Muitas vezes
falamos sobre a utilidade e a doçura da comunhão, todavia, poucas vezes
provamos a comunhão. Ainda que estejamos na restauração do Senhor, se
não tivermos um viver de comunhão com Deus, dificilmente seremos
restaurados. Podemos ouvir e ler muitas palavras espirituais, mas se não
houver intimidade com o Senhor, tudo será de pouco proveito, porque o
nosso interior permanecerá intocável. Somente a luz de Deus consegue
iluminar dentro de nós, para que possamos confessar; e assim as trevas vão
sendo eliminadas de nós. É dessa maneira que a restauração ocorre em nós.

Como ter comunhão com Deus?


Estamos enfatizando tanto que é importante ter comunhão com Deus,
mas, afinal, que é comunhão? como é ter comunhão com Deus? Comunhão
é falar com Deus e ouvi-Lo, atenta e sinceramente.
Muitos de nós costumamos de manhã e à noite buscar a presença do
Senhor, talvez dizendo mais ou menos assim: “Senhor, obrigado por mais
um dia. Perdoa os meus pecados, guarda-me do mal. Tem misericórdia de
mim e proteja-me”, e insistimos em afirmar que temos comunhão com
Deus. Numa comunhão genuína, o Senhor, com certeza, nos pergunta:
“Quais pecados você quer que Eu perdoe?”. Quem sabe respondemos:
“Bem... que será que fiz de errado hoje? Não consigo lembrar...”. Nosso
Deus está sempre disposto a nos perdoar, desde que Lhe confessemos
nossos pecados. Caso contrário é como a história daquele garoto travesso
que logo pela manhã quebrou o vaso da sala, e como castigo estava
proibido de tomar sorvete na sobremesa do jantar. Ele nem ligou, e durante
todo o dia continuou fazendo coisas erradas. Na hora do jantar ele diz para a
mãe: “Mãe, me perdoa”. “Perdoar o quê?”, pergunta a mãe; ele responde:
“Não vou mais bater na minha irmãzinha. Posso tomar sorvete agora?”.
Certa vez um irmão veio falar comigo: “Irmão, eu acho tão difícil pedir
perdão pelos pecados. Como é que vou saber se o que fiz ofendeu a Deus
ou não?”. Eu então sugeri: Vamos fazer o seguinte: Você me conta tudo o
que fez hoje. Mas seja bem minucioso e conte todos os detalhes. Depois que
o irmão terminou, eu lhe perguntei se ele havia escondido algo. Sim,
respondeu ele. Eu lhe disse: Então, o que você não falou para mim, não
deixe de falar para Deus. Sempre que contamos algo para alguém, há alguns
trechos que não mencionamos, justamente porque temos vergonha de expor
que fizemos determinadas coisas, e não queremos que ninguém fique
sabendo. Dos homens podemos esconder, mas de Deus não podemos
ocultar nada. O nosso problema é que muitas vezes, por causa da vergonha,
do medo, nem para Deus falamos o que fizemos, e por isso cada vez mais
nos afastamos Dele.
Quando temos comunhão com Deus, a Sua luz brilha sobre nós,
mostrando-nos a situação em que nos encontramos. É então que a nossa
consciência terá condições de nos defender ou de nos acusar (Rm 2:15). Na
luz da presença de Deus, a nossa consciência será iluminada e nos
justificará, isto é, nos defenderá, caso tenhamos praticado atos retos;
todavia, ela nos acusará e condenará os atos injustos que praticamos.
Quanto mais comunhão com Deus, mais sensível a consciência será; quanto
menos comunhão mais insensível a consciência será. E se não houver
comunhão com Deus, a consciência ficará insensível e endurecida. Numa
situação assim é comum as pessoas dizerem: “Eu sei que está errado, mas
senti paz e por isso fiz”. Tal tipo de paz é proveniente de uma consciência
cauterizada.
Necessitamos de mais comunhão com Deus para que a nossa
consciência seja fortalecida. Por que insistimos tanto na questão de
exercitar o espírito invocando o Senhor? É justamente para termos mais
comunhão com Deus. Como a comunhão e a consciência são partes do
espírito, quanto mais exercitamos a comunhão, mais forte a consciência se
torna. Quanto mais comunhão, mais sensível a consciência; então, diante de
qualquer situação injusta, a consciência imediatamente dirá: Não faça isso,
você errou, cuidado etc. É dessa maneira que por meio da comunhão a luz
de Deus nos expõe, nossa consciência fica iluminada e sensível, e podemos,
então, confessar os pecados e purificar-nos dos erros.

Dificuldades na comunhão com Deus


Alguns jovens (mas sabemos que não são só os jovens) dizem que têm
certas dificuldades em relação à comunhão com Deus. Muitos desejam ter
um viver de comunhão com o Senhor, mas parece que não têm assunto. Às
vezes ouvimos: “Sabe, eu busco a Deus e quero ter comunhão com Ele.
Acontece que depois de algumas palavras, o assunto acaba, e eu não sei
mais o que falar”. Esse tipo de problema é muito comum, e para resolvê-lo,
devemos saber primeiro o que é ter comunhão com Deus. Ter comunhão
com Deus é dialogar com Deus. Falamos algo para o Senhor, em seguida
nós O ouvimos; depois de ouvi-Lo falamos mais um pouco e escutamos o
que Ele tem a nos dizer, e assim por diante. Talvez você pergunte: “Como é
que Deus fala comigo?”. Deus fala conosco por intermédio da Sua palavra,
quer seja pela palavra escrita, pela palavra ministrada nas reuniões, ou pela
comunhão individual. Se lermos a Bíblia com oração, mesmo se for apenas
alguns versículos, precisamos perceber que o que está escrito ali é o que
Deus quer falar conosco naquele momento. Então, o que lemos será o
assunto para falarmos com Ele. Se tivermos o cuidado de ler a Bíblia com
oração, quanta comunhão com Deus isso não produzirá? Você já reparou ou
já sentiu como é desconfortável ficar junto de uma pessoa que não
conhecemos bem? Os dois ficam calados, e, de repente, um arrisca: “É!
Pois é, né?” e o outro diz: “É! Pois é...”. As duas pessoas não têm o que
falar, e manifestam-se com poucas palavras. “Concordo; é isso mesmo...”.
Não podemos dizer que não temos assunto para falar com Deus. Deus
quer falar com você; e você, quer ouvi-Lo? Se você não sabe como começar
uma comunhão com Deus, abra a Bíblia e leia. Ler a Bíblia é como ler a
carta que Deus escreveu para você. Ao ler a Bíblia, você encontrará muitos
assuntos interessantes para ter comunhão com Deus. Mas sem ler a Bíblia,
sem ouvir atentamente o que é falado nas reuniões da igreja, torna-se difícil
ter assunto para falar com Deus. Deus falou, mas você não ouviu; Deus
escreveu, mas você não leu. Então caímos numa situação parecida com a do
povo de Israel na época do profeta Jeremias: não ouviram o Senhor,
tornaram-se insensíveis a Ele, afastaram-se Dele, e como resultado foram
levados cativos para Babilônia.

A importância de lidar com os pecados


Entre todas as dificuldades para se lidar com os pecados, a pior é
quando um jovem cristão não tem nenhuma comunhão com Deus. Sem
comunhão com Deus, nossa consciência se torna insensível. Se estamos
insensíveis ao que Deus nos diz, não lidamos com os pecados e erros
cometidos; não confessamos, não levamos diante de Deus nossa situação e,
por fim, somos também levados “cativos” para bem longe de Deus. Se não
temos comunhão com Deus, nossa consciência será como um barco sem
reparos, cada vez com mais buracos, e pouco a pouco vamos naufragando
na fé (1 Tm 1:19); as coisas espirituais vazam; nossa vida e serviço
espirituais tornam-se anormais; ficamos cheios de acusações, não
conseguimos mais ter um espírito forte, não conseguimos acompanhar os
outros irmãos; paramos e, se não acontecer alguma coisa para mudar essa
situação, certamente naufragamos.
Então eu pergunto: “Você quer fechar os buracos e reparar o ‘barco’?
Você quer ser purificado desses erros e avançar com todos os irmãos?”.
Para isso, você precisa restaurar cada dia sua comunhão com Deus.
Achegue-se a Deus e permita que Ele o ilumine. Não busque seus padrões
para se justificar, tampouco busque os padrões do mundo para apoiar-se.
Busque o padrão de Deus. Deixe sua consciência ser iluminada pelo padrão
de Deus. Dessa maneira, na comunhão com Deus, sob Sua iluminação, se
algum pecado for exposto, e se imediatamente você lidar com ele, o
resultado será vida e paz. Haverá satisfação, força, frescor e vivacidade na
sua vida e serviços espirituais. Você provará desfrute, descanso e segurança;
seu espírito será forte, as orações fluirão livremente e com autoridade, e seu
falar será ousado e poderoso.
Vimos numa conferência de jovens que cursam o ensino fundamental
que quando eles tiraram o que estava escondido no interior deles puderam
ser ajudados. Assim, sem artificialidade e sem a “casca” da espiritualidade,
comum aos jovens cristãos que não estão em comunhão com o Senhor, eles
expuseram a verdadeira situação em que se encontravam. Confessaram que
não liam a Bíblia, que oravam somente à noite, ou apenas quando se
lembravam. Por terem sido bastante abertos com o Senhor, tiveram uma
reação muito boa diante de Deus, dizendo: “Senhor, eu quero mudar. Não
quero estar disfarçado de espiritual nem quero viver uma vida artificial.
Senhor, quero que a minha vida seja restaurada”. Na verdade todos os filhos
de Deus que querem ter um viver cristão genuíno, precisam ter essa mesma
disposição: precisamos “dialogar” sempre com nosso Pai celeste, abrindo-
Lhe o nosso coração e ouvindo o Seu falar.
Nesta questão de lidar com os pecados, o mais importante é intensificar
nossa comunhão com Deus. Por meio da comunhão identificamos os
pecados que cometemos em relação a Deus e em relação aos homens. O
segundo passo é confessar e abandonar aquilo que Deus nos mostrou.
Provérbios 28:13 diz: “O que encobre as suas transgressões jamais
prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. Se
encobrirmos nossas transgressões, podemos lutar, tentar, buscar, porém
nunca iremos prosperar. Todavia, a misericórdia estará ao nosso alcance se
as confessarmos. Portanto, para lidar com nossos pecados, o primeiro item é
ter comunhão com Deus; o segundo é confessar os pecados que foram
expostos na comunhão; e o terceiro é abandoná-los. Não é apenas pedir
perdão a Deus por algo que você não sabe que fez, mas é confessar algo que
foi visto na luz da presença de Deus, para obter o perdão de Deus e a
purificação dos pecados. Você está ciente do que Deus iluminou. Isso é
diferente de simplesmente dizer: “Senhor, perdoa todos os meus pecados”.
Perdoar o quê? O versículo 9 de 1 João 1 mostra claramente que a confissão
é a condição para recebermos a purificação.
Mas também existem certos pecados dos quais não nos tornamos
conscientes pela comunhão com Deus, mas pela leitura da Palavra, pela
comunhão com outros irmãos ou pelo testemunho de alguém que confessou
estar pecando em determinado aspecto. Embora essas situações não sejam
bases suficientes para lidarmos com nossos pecados, pois pode ser que pela
nossa comunhão com Deus não nos sintamos incomodados nem com falta
de paz; no entanto ainda assim é bom irmos diante de Deus e confessar:
“Senhor, eu ouvi o testemunho daquele irmão. Ele confessou que pecou em
determinado assunto, e eu fiz o mesmo, mas não sinto que pequei. Senhor
Jesus, será que não percebi que estava pecando, por estar com a consciência
cauterizada? Senhor, eu quero que Tu me mostres. Se pequei, Senhor, peço-
Te perdão”. Aquilo que nos é mostrado na comunhão com Deus, como um
pecado, confessamos para obter Seu perdão. Os pecados que cometemos e
dos quais nos tornamos conscientes por outros meios, também levamos a
Deus para verificar se realmente pecamos ou se estamos insensíveis à
iluminação da consciência.
O Salmo 19:12 diz: “Quem há que possa discernir as próprias faltas?
Absolve-me das que me são ocultas”. Nesse salmo vemos algo mais: há
pecados que nos são ocultos. São pecados que não conseguimos ver na
comunhão com Deus, e sobre os quais não fomos ainda advertidos, quer
pela Bíblia, quer pela comunhão com outros irmãos. Diante de Deus
devemos pedir perdão por aquilo que não percebemos que fizemos de
errado. Mas devemos fazer isso não como uma mera obrigação, mas com o
sentimento do salmista, que em sua oração mostrou que estava ciente de
que, por ser humano, certamente cometia faltas sem saber. Dessa maneira
podemos orar: “Senhor, sei que há outros pecados. Absolve-me, perdoa-me
desses erros que ainda me são ocultos”.
Sempre que confessarmos nossos pecados, lidando com as impurezas
que há em nós, Deus terá caminho para nos tornar vasos para honra,
santificados e úteis em Suas mãos. Por meio do sangue de Jesus, Seu Filho,
Ele nos purifica de todos os pecados, satisfazendo a exigência da justiça de
Deus. Sempre que confessamos os pecados, diz-nos 1 João 1:9 que “Ele é
fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.
Por ser fiel e justo, quando confessamos os pecados, Deus é obrigado a nos
perdoar. Muitas vezes não confiamos nessa afirmação, por desconhecer o
valor que Deus dá ao sangue de Jesus, Seu Filho. O sangue de Jesus satisfaz
a exigência da justiça de Deus. Para Deus, o sangue do Seu Filho é
suficiente; cabe a nós tão-somente confessar!
Todos podemos ser vasos para honra! Tudo o que precisamos fazer é
lidar com os erros cometidos. Se pecamos contra Deus, e os outros não têm
conhecimento disso, simplesmente confessamos a Ele. Se fizemos algo
contra um irmão, e ele sabe disso, além de confessar a Deus, devemos ir ao
irmão e confessar-lhe, tratando assim com aquilo que era uma barreira entre
nós. Se pecamos de modo a ofender todos os irmãos, e todos estão cientes
do que cometemos, isto é, o nosso pecado foi exposto publicamente, então,
o princípio é o mesmo: devemos confessar a Deus e, de maneira pública,
também confessar a todos os irmãos envolvidos. O importante é lidar com
os pecados e nos purificar dos erros, pois assim nos tornaremos vasos para
honra.

A. A eficácia tripla do sangue de Jesus


Ao pecar, todo cristão é afetado por três problemas básicos: a separação
de Deus (Is 59:1-2); o sentimento de culpa (Hb 9:14), e a acusação de
Satanás (Zc 3:1). Esses problemas, porém, podem ser vencidos com o
sangue de Cristo.
Logo após ter pecado, Adão procurou esconder-se de Deus. Deus então
veio procurá-lo, mas não perguntou: “Adão, que fizeste?”. Deus perguntou
ao homem: “Adão, onde estás?”, indicando que o homem se afastara de
Deus. Isso também acontece conosco quando pecamos: sentimo-nos
separados de Deus, e nossa comunhão com Ele é interrompida. Porém, após
confessarmos, o sangue de Jesus remove aquilo que interrompia nossa
comunhão com Deus e novamente temos paz com Ele.
Ao confessar os pecados, o sangue de Jesus também purifica o
sentimento de culpa em nossa consciência. Quando estamos para pecar,
nossa consciência nos adverte: “Não faça isto!”. Depois de pecar, surge em
nossa consciência o registro daquele erro: “Você errou!”. Mas, após
confessar, Deus nos perdoa e a consciência diz: “Não há mais culpa, o
registro foi eliminado”. Hoje, as grandes lojas, por meio da informatização,
rapidamente informam se o cheque recebido de um cliente tem problema ou
não, se o cartão de crédito tem alguma pendência ou se está vencido.
Sempre que houver qualquer problema o computador da loja acusará. Mas,
uma vez resolvido o problema, aquele registro será apagado, e o cliente
poderá novamente efetuar suas compras. Com a consciência acontece a
mesma coisa. Para todo erro cometido, há um registro na consciência que
poderá somente ser eliminado pelo sangue de Jesus. Nem o tempo, nem
rituais, nem promessas de ser melhor, nem muitas atividades ou penitências,
nada disso pode apagar os pecados. Sempre que pecar e sentir culpa
interiormente, abra seu coração a Deus e ore com toda sinceridade: “Senhor
Jesus, Tu sabes que hoje eu fiz isso. Perdoa-me pelo que fiz. Senhor, Tu
morreste na cruz, derramaste o Teu sangue por mim. Senhor, perdoa os
meus pecados. Peço agora o Teu sangue precioso para limpar minha
consciência de todo sentimento de culpa, a fim de que eu possa Te servir
livremente”.
Quando pecamos, também estamos sujeitos à acusação de Satanás. Ele
primeiramente nos provoca dizendo: “Faz isso... não tem problema...
ninguém vai saber!” Depois que caímos na cilada , ele vem acusar-nos:
“Olha o que você fez... como pode?! ... você não tem jeito”. Ele vai também
diante de Deus acusar-nos: “Deus, olha o que ele fez...”. Apocalipse 12:10
diz que Satanás é o acusador dos nossos irmãos, e ele nos acusa de dia e de
noite diante do nosso Deus. Como vencê-lo? O versículo 11 nos mostra que
o meio de vencê-lo é o sangue do Cordeiro, isto é, o sangue de Cristo. Não
é somente Deus que sabe o valor desse sangue, Satanás também sabe e não
tem poder nenhum diante dele.
Apesar de o sangue de Jesus satisfazer a justiça de Deus, remover a
culpa da consciência, e vencer todas as acusações de Satanás, muitos filhos
de Deus ainda se sentem acusados, mesmo depois de terem confessado
várias vezes, e isso se torna um grande problema em suas experiências.
Satanás lhes diz que, apesar de terem pedido perdão a Deus, talvez não o
tenham feito de maneira adequada, ou que deveriam ter feito a confissão
mais detalhada, ou que não foram tão sinceros. Satanás é muito sutil, pois
mesmo que confessem novamente, atendendo a tudo isso, ele ainda os
acusará por outros motivos. Como resultado, os filhos de Deus se sentem
frustrados e sem forças para responder às acusações; perdem a confiança na
eficácia do sangue de Cristo, pensando que seus pecados são imperdoáveis.
Quando as acusações de Satanás vierem, como poderemos vencê-las?
Apocalipse 12:11 nos diz que, além do sangue, Satanás também é derrotado
pela palavra do testemunho que damos. Temos de dizer a ele: “Satanás,
Deus já me iluminou, e eu já pedi perdão, já confessei meu pecado. Deus é
fiel e justo, e Ele já me perdoou. Portanto, Satanás, pode calar a boca e ir
embora. Não preciso de suas acusações. Olhe para o sangue de Cristo. Ele é
que responde a todas as suas acusações. Vá embora”.

B. A diferença entre a iluminação de Deus na consciência e as acusações


de Satanás
Há algumas coisas que nos ajudam a discernir o que é proveniente da
iluminação de Deus, e o que é acusação de Satanás. Quando somos
iluminados pela luz de Deus, nossa situação é exposta, porém junto com a
exposição sentimo-nos supridos. Vemos erros, mas vemos também o amor,
a graça e a misericórdia de Deus. Após mostrar nosso erro, Deus diz: “Mas,
ainda assim, torna para mim!” (Jr 3:1). Quando o livro de Jeremias foi
escrito, a situação do povo de Israel era terrível. Mesmo assim, Deus
continuamente dizia àquele povo: “Volta, volta para mim!” (Jr 3:1, 12, 22;
4:1). Esse tipo de palavra amorosa indica que Deus sempre nos deixa um
caminho para voltar e ter um novo começo. Como resultado, você deseja
desfazer-se logo daquele pecado, e não mais cair nele novamente. Você
também é encorajado a aplicar o sangue de Jesus e a viver mais na Sua
presença.
As acusações de Satanás, ao contrário, são sempre negativas, dizendo
que não há caminho, que não há mais jeito para você, e que é melhor você
desistir. Por ser o pai da mentira, Satanás também diz: “Mesmo que queira
voltar-se para Deus, Ele não quer mais você”. Quanto mais ouve suas
acusações, menos você deseja orar. Sente-se o pior de todos, vazio e
desencorajado. Entenderam a diferença?
Há outro meio de distinguirmos as acusações de Satanás da iluminação
de Deus. As acusações de Satanás continuam após confessarmos
cabalmente os pecados; todavia, após confessarmos, Deus diz: “Está bom,
você tem o sangue de Jesus”. Por meio de confessarmos, o registro de
pecados em nossa consciência é apagado. Se houver qualquer acusação
adicional, sabemos, então, que só pode ser proveniente de Satanás.
A comunhão com Deus resulta em purificação
Tudo isso nos mostra quanto necessitamos ter comunhão com Deus.
Lidar com os pecados não é uma ordenança, mas uma consequência de
termos comunhão com Deus. A vida de Deus que está em nós deseja que
lidemos com tudo o que bloqueia nossa comunhão com Deus. Se amamos o
Senhor e buscamos mais comunhão com Ele, seremos espontaneamente
iluminados. Se lermos mais Sua Palavra enxergaremos qual é a nossa
verdadeira situação. Quantos já não foram salvos de fazer algo precipitado
ou vergonhoso, simplesmente por terem resolvido passar primeiro na
reunião da igreja? Após ouvir a Palavra de Deus, foram tão fortemente
iluminados, que decidiram: “Oh! eu não devo fazer isso; sim, não quero
mais fazer o que havia planejado. Obrigado, Senhor!” Semelhantemente,
seremos mais purificados dos nossos erros, e nos tornaremos mais úteis nas
mãos de Deus, se tivermos mais comunhão com Ele e buscarmos mais a
Sua Palavra.
Deus sabe qual é a nossa condição, por isso Ele providenciou todos os
meios para não vivermos uma vida longe Dele: temos Sua vida divina em
nós, temos comunhão com Ele, Sua Palavra, e o sangue precioso de Cristo.
Precisamos apenas voltar-nos a Ele, ir à Sua Palavra, e conhecer aquilo que
está no Seu coração. Se permitirmos que Sua luz e Sua Palavra sejam
infundidas em nós, separando todos os pensamentos e propósitos do nosso
coração, confessaremos todas as coisas negativas, e Ele apagará todas as
coisas vergonhosas que ainda há em nós. Se fizermos isso todos os dias,
nossa vida será uma verdadeira restauração!
Efésios 5:26 diz que Cristo está preparando Sua noiva, lavando-a com a
água da palavra, com o propósito de remover a velhice, a morte e as
manchas que temos. Essa é a restauração que Deus está operando em nós.
Todos os dias, por meio da Palavra de Deus, podemos ser lavados, e
amolecidos pelas “águas vivas”. Isso nos mostra que lidar com os pecados
não é uma questão de fazer penitência ou promessas: “De agora em diante
eu não vou mais fazer isso!” Deus conhece as nossas fraquezas. O que
precisamos fazer é arrepender-nos, e confessar a Ele o que Ele mesmo nos
mostra. Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de todos os
erros.
Quanto a nós, tudo o que precisamos é nos dispor: “Se alguém se
purificar”. Deus quer usar-nos, mas depende de querermos ser purificados.
Aleluia! esse caminho está aberto a todos nós! Não pensemos que não há
jeito para nós, por sermos os piores. Os que se acham “bonzinhos”, e que
nem precisam ser purificados de coisa alguma, será que permitiriam que
seus pensamentos fossem expostos a todos? Se tivéssemos uma máquina
que pudesse ler os pensamentos e manifestá-los, será que “os bonzinhos”
deixariam? Quem não tem vergonha de alguma coisa que pensou ou fez?
Não nos enganemos, não há ninguém “bonzinho”.
Deus não quer que escondamos as coisas vergonhosas nem que
fiquemos falando delas aos outros. Ele deseja purificar-nos! Hoje, por
exemplo, na área da tecnologia da informação, existem recursos que nos
permitem apagar dados já gravados. Para se fazer isso, é necessário,
primeiro, decidir apagar e, segundo, utilizar o programa adequado. Irmãos,
vamos apagar os erros que temos cometido! Vamos apagá-los enquanto é
tempo. O Senhor tem o “recurso” capaz de apagar todos os registros dos
pecados. Se nos colocarmos diante Dele e permitirmos que Ele nos
purifique, estaremos livres para servi-Lo.
Já obtivemos misericórdia, agora precisamos avançar. Há um caminho!
Vamos buscar mais o Senhor, vamos voltar-nos mais a Ele, e diariamente
ter mais comunhão com Ele. Também vamos confessar tudo o que Sua luz
nos mostrar. Intensifiquemos mais essa comunhão com a leitura da Bíblia.
Por meio da Palavra ganharemos mais discernimento do que agrada a Deus
e do que O ofende. Nosso coração endurecido ficará mais maleável e Deus
trabalhará mais facilmente em nós. Todos os dias poderemos ter uma
restauração em nossa vida. E assim, “se alguém a si mesmo se purificar
destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor,
estando preparado para toda boa obra” (2 Tm 2:21). Aleluia, podemos ser
um vaso para honra na casa de Deus!
Capítulo Três

LIDAR COM O MUNDO

Leitura bíblica: Tg4:4; Rm 12:12; 1 Jo 2:15-17


Deus quer fazer de nós vasos úteis em Suas mãos. Porém há certas
coisas que impedem que isso se cumpra em nós. Muitas dessas coisas não
são percebidas facilmente. Assim, muitos jovens não entendem por que não
conseguem progredir espiritualmente. Você já se perguntou alguma vez, por
que, muitas vezes, sente-se sem forças para servir a Deus? Uma vez que
você quer servi-Lo, e sabe que Ele quer usá-lo, onde está o problema?
No capítulo anterior vimos que os pecados são uma das barreiras que
impedem o trabalhar de Deus em nós. Os pecados podem ser comparados a
manchas de lama numa roupa branca. Muitas vezes não percebemos que
estamos cheios de manchas de pecados, porque estamos em trevas. Para
isso precisamos da luz de Deus. Portanto, a comunhão com Deus é
fundamental para podermos identificar os pecados. Quando buscamos uma
comunhão íntima com Deus, espontaneamente todo o impedimento entre
nós e Ele será exposto. Por meio dessa comunhão somos capacitados a
identificar toda “sujeira” e limpar-nos dela. Uma vez identificadas as
“manchas”, o melhor meio para removê-las é a confissão dos pecados.
Quando confessamos nossos pecados, mais caminho damos a Deus para
continuar Seu trabalho em nós.
Conhecer o mundo
Para sermos totalmente úteis ao Senhor, como vasos para honra, há
ainda outras coisas das quais temos de nos purificar. Um grande obstáculo
para que muitos jovens se consagrem ao Senhor é sua atração pelo mundo.
Que é o mundo? Por que o mundo atrai tanto os jovens? Como lidar com o
mundo em nossa vida? Por vezes não conseguimos fazer uma distinção
muito clara entre os pecados e o mundo, mas veremos que há implicações
diferentes ao lidarmos com esses dois problemas.

A diferença entre o pecado e o mundo


Tanto o pecado como o mundo, ambos contaminam o homem. Contudo
há diferença entre eles. A contaminação do pecado é mais grosseira, ao
passo que a do mundo é mais refinada. A contaminação do pecado é
semelhante a uma mancha de lama ou de tinta preta numa camisa branca.
Mas a contaminação do mundo é como uma pintura em cores bonitas
estampada na mesma camisa branca. Qualquer pessoa condenaria a camisa
com lama, porém apreciaria a camisa colorida. Mas Deus quer uma pura
camisa branca, sem nenhuma mancha de sujeira nem cores que se desviam
da sua cor branca. Quanto ao dano causado, o pecado contamina o homem,
enquanto o mundo não somente contamina, mas toma posse dele.

Os pecados
Os pecados são apenas o primeiro passo de uma caminhada que leva o
homem para longe de Deus. Os pecados são concebidos na mente (Tg 1:13-
15) e depois de gerados produzem morte. No entanto, o mundo é ainda mais
sutil e prejudicial que os pecados. O mundo não somente contamina e
corrompe o homem, mas principalmente o usurpa e afasta de Deus. O
mundo, não é meramente contra a lei de Deus, como o pecado, mas, pior
ainda, é contra a pessoa de Deus, é contra o próprio Deus.
Quando Adão pecou, ele foi corrompido e contaminado pelo pecado.
Essa contaminação tornou-se como uma doença genética, que se estendeu
por toda a humanidade. Embora Adão tenha cometido tamanho delito, ele
ainda estava sob o alcance de Deus, ainda estava no jardim do Éden, na
esfera do cuidado de Deus. Por isso é que Deus pôde dizer a ele: “Adão,
onde estás?”. Adão estava tentando esconder-se de Deus, mas como ele
ainda estava dentro da esfera do cuidado de Deus, isso não era possível. E
por Adão ainda estar ali, Deus pôde providenciar um meio de restauração,
de redenção para Ele. Deus fez uma vestimenta de peles para Adão e Eva
(Gn 3:21), indicando que houve derramamento de sangue, simbolizando a
redenção.
Mas quando Caim pecou, o resultado foi trágico. Gênesis 4:16 diz:
“Retirou-se Caim da presença do SENHOR”. Aqui vemos uma diferença
crucial. Adão, após pecar, continuou na presença de Deus e pôde, assim, ser
restaurado por Ele. Caim não; ele e seus descendentes saíram da presença
de Deus e estabeleceram uma civilização sem Deus, uma civilização
independente de Deus. É isso que acontece com quem se deixa dominar
pelo mundo. Após sair da presença de Deus, Caim coabitou com sua
mulher, gerou um filho e, por fim, edificou uma cidade... tudo isso sem
Deus!
É por isso que a Bíblia é tão séria ao falar sobre o mundo. Precisamos
perceber a seriedade disso! O mundo não apenas quer estragar, contaminar
e danificar você: o mundo quer tirar você da presença de Deus, quer que
você perca Deus, que se torne inútil para Ele! O mundo se opõe a Deus,
colocando-se no lugar Dele. Não esqueça: enquanto o pecado é contra a lei
de Deus, o mundo é contra o próprio Deus.
Se o mundo é assim, como não o percebemos claramente? É que a sua
ação sobre nós é bastante sutil e imperceptível. Por isso, muitos jovens
cristãos não percebem quando estão sendo atraídos por ele. Exatamente por
não perceberem, a ação do mundo na vida deles é muito mais perigosa que
a do pecado.
Algo que aconteceu em minha casa pode ilustrar bem isso. Costumo
dormir tarde. Então, já era quase uma hora da manhã, e eu estava lendo,
quando comecei a ficar tonto, com dor de cabeça. “Que está acontecendo?”,
perguntei para mim mesmo. Senti que era o gás! Então fui à cozinha
verificar o fogão, e tudo estava fechado, mas o gás continuava saindo. Fui
ao botijão, fechei o registro, mas o gás continuava a sair. Então, descobri
que o botijão estava rachado. Telefonei para a portaria, tiramos o botijão e o
colocamos num terreno baldio próximo ao prédio. Então fui ver minha
esposa e meus filhos. Estavam todos sob o efeito do gás, entorpecidos e
com dor de cabeça. Graças ao Senhor, eu estava acordado, mas e se todos
estivessem dormindo? Assim é o mundo. Ele entra em nosso lar, em nossa
mente, em nossa vida de maneira muito sutil, entorpecendo-nos, matando-
nos aos poucos. Ele vai entrando, entrando, e não percebemos; quando
acordarmos, já será tarde demais: fomos ocupados, usurpados, possuídos
pelo mundo, sem nenhuma oportunidade para Deus agir. Embora atuando
de forma imperceptível, os danos causados pelo mundo podem ser
irreversíveis.

O início do mundo
Antes da queda do homem, todas as suas necessidades básicas eram
atendidas por Deus. Suas necessidades vitais, quer fossem elas biológicas,
psicológicas ou espirituais, tinham em Deus a provisão necessária.
Alimentação, proteção, habitação e prazer eram supridos por Deus para que
o homem vivesse bem na terra. Muitos pensam que Deus criou o homem
para viver como um objeto inanimado, sem sentimento, sem alegria, sem
prazer, sem vida. Mas a Bíblia não revela isso; pelo contrário, após criar o
homem, Deus colocou-o no jardim do Éden, que significa “prazer”. Deus se
preocupava com a satisfação do homem. Naquele lugar aprazível, ele era
atendido por Deus em tudo.
Mas quando o homem se apartou de Deus, a partir de Caim e sua
descendência, que aconteceu? Eles saíram da presença de Deus e,
automaticamente, perderam toda a provisão que vinha da parte de Deus.
Então, houve necessidade de desenvolverem uma civilização sem Deus.
Após sair da presença de Deus, certamente Caim teve medo: “Que será da
minha vida?”, e preocupou-se, pois teria de buscar, por conta própria,
atender suas necessidades básicas. Ele precisava proteger-se, precisava de
alegria e de sustento — tudo o que ele teria se permanecesse na presença de
Deus.
Seus descendentes continuaram essa busca e criaram gado, habitaram
em tendas, tocavam flauta para se alegrar e fizeram para si instrumentos de
ferro e de bronze para defesa (Gn 4:17-22). Vemos que todas essas coisas
foram inventadas para substituir aquilo que poderiam ter sob o cuidado de
Deus; e os homens foram substituindo Deus a ponto de tornarem-se
absolutamente independentes Dele. Isso foi o embrião do que a Bíblia
chama de mundo.

Que é o mundo?
Para manter o homem longe de Deus, Satanás sistematizou, organizou e
planificou todas as atividades humanas e formou o mundo (mundo, em
grego, é kosmos, e significa um sistema ou organização). Essa
sistematização visa ocupar o homem com suas próprias necessidades de tal
modo, que ele venha a não ter tempo nem preocupação com as coisas de
Deus. Isso é muito sutil, pois, por um lado, o homem precisa se preocupar
com alimentação, moradia, prazer, proteção etc., mas, por outro, de tanto
preocupar-se com elas, acaba se tornando um escravo delas. Por fim, ele
consome sua vida com coisas que vão além das suas necessidades. Quando
isso acontece, qualquer coisa é tão importante ou mais importante do que o
próprio Deus. Por isso, Jesus disse àqueles que queriam segui-Lo que se
alguém amasse sua esposa, filhos, casa, mãe, pai etc., mais do que a Ele,
não era digno de ser chamado Seu discípulo. Se alguém quer ser um
discípulo de Cristo, então deve colocá-Lo em primeiro lugar. Portanto,
quando qualquer coisa, atividade ou pessoa toma o lugar de Deus em nós,
isso se torna o mundo para nós.
Essa questão é bastante séria. Quando Satanás consegue afastar alguém
de Deus, ocupando-o com outras coisas, fazendo dessas coisas o seu
mundo, Deus fica como que impossibilitado de agir diretamente naquela
pessoa. Ocorreu algo assim com um conhecido meu. Ele era um rapaz
pobre, mas nós, seus amigos, nos espantávamos pelo fato de ele estar com
as melhores roupas e melhores sapatos. A nossa indagação era: “Como é
que ele consegue tudo isso?”. Não muito tempo depois descobrimos que ele
estava se envolvendo com pessoas imorais que o compravam com
presentes. Infelizmente seu caminho não teve volta, e a última notícia que
tivemos dele é que havia contraído uma doença grave (que talvez fosse aids,
pois essa doença ainda não havia sido identificada naquela época).
Essa história mostra exatamente a ação do mundo numa pessoa. Ele
começou a receber roupas novas, sapatos novos, carros novos e até um
apartamento. Certamente essas coisas foram dadas a ele, pouco a pouco,
com um objetivo bem definido: atraí-lo para “um mundo melhor”, longe de
sua pobreza. Assim é o mundo: ele começa entrando sorrateiramente em
nossa vida, envolvendo-nos sutil e gradualmente, a tal ponto que somos
levados para bem longe de Deus.

Qualquer coisa pode ser um mundo

A. Bebida e carreira profissional


Há jovens que não querem saber de nada. Não querem estudar nem
trabalhar, e preferem ficar num bar, conversando e bebendo. No prédio onde
moro, há um jovem assim. Logo pela manhã, quando acorda, vai direto para
o bar e lá toma o seu café da manhã: cerveja. Na hora do almoço, lá está ele
de novo, tomando cerveja. Para concluir o dia, o seu jantar também é
cerveja. Quando o encontramos no elevador, ele cheira a cerveja. Ele é um
bom garoto-propaganda das indústrias de cerveja. Por estar tão envolvido
com a bebida, é também levado a fazer coisas que contrariam a moral. A
bebida é o mundo dele. Ele é ocupado, usurpado e consumido pela bebida.
Ao contrário desse jovem, cujos vizinhos aconselham suas filhas a não
se aproximarem dele, temos em nosso prédio outro jovem, com o qual
certamente qualquer pai gostaria que sua filha se casasse. Ele é um aluno
aplicado, concluiu o segundo grau com dezessete anos, com vinte e um
terminou a faculdade; com vinte e quatro fez mestrado, e agora com vinte e
cinco já está fazendo doutorado. Certamente ele tem um futuro promissor.
Quando terminar o doutorado, terá várias propostas de multinacionais com
salários elevadíssimos. Comparado com o primeiro jovem, descrito acima,
certamente este aqui é muito melhor. Mas ele também está sendo ocupado,
usurpado e consumido por outro departamento do mundo: carreira
profissional brilhante.
Infelizmente, essa última história descreve a experiência de muitos
jovens cristãos. Logo que se converteram amavam o Senhor Jesus e O
buscavam de todo coração, reuniam-se com outros jovens para estudar a
Bíblia e falavam de Jesus com ousadia. Porém, depois entraram nessa “boa
correnteza” da profissão, de lutar pela sobrevivência e, por fim, também
foram usurpados e se afastaram das coisas de Deus.
Quantos cristãos hoje estão sendo usurpados por seu trabalho,
simplesmente porque receberam uma cadeira de encosto mais alto, que a de
seus colegas, uma mesa maior com uma plaquinha de acrílico sobre ela
escrito “chefe” ou “gerente”? Por causa dessa pequena placa foram
usurpados em relação a Deus, e até mesmo afastados de seus familiares. Por
causa dessa posição, que muitas vezes representa um aumento de apenas
10% sobre o salário anterior, várias pessoas têm “vendido a própria alma”.
Entram às seis horas da manhã e só saem às onze da noite. Trabalham no
sábado, domingo e também nos feriados, só porque agora são chefes. Não
se preocupam mais com a família, e quanto à igreja nem lembram mais que
são cristãos. Agora estão “casados” com a empresa. O seu mundo é a
posição na empresa.
Falo isso porque vi muitos jovens que no passado testemunharam que
viveriam totalmente para o Senhor e para a Sua igreja, mas foram
enganados por Satanás e hoje estão muito longe de Deus. Aquele que
sistematizou o mundo é muito sutil. Por saber que não conseguiria sujar
esses jovens com os pecados, que fez ele? Ele usou coisas boas, inofensivas
e atraentes para envolvê-los. Usou o estudo e a carreira profissional
brilhante para ocupar esses jovens de tal modo que quando vêm às reuniões,
seus pensamentos estão distantes, fixados em seus investimentos ou em
seus estudos. Deus continua falando, mas eles não conseguem mais ouvi-
Lo, pois outros “deuses” falam mais alto em seu coração.

B. Música
Por não se ocupar com as coisas de Deus, muitos jovens têm sido
usurpados pela música mundana a ponto de não conseguir dormir sem ouvi-
las. Eles andam, almoçam, estudam e dormem com fone nos ouvidos,
conhecem todas as letras, todas as bandas e todos os cantores. No entanto,
nas reuniões da igreja, quando cantam parecem múmias: indiferentes, sem
sentimento ou reação à letra dos hinos. São capazes de ficar horas e horas
ouvindo e cantando músicas das quais não sabem o significado, mas são
incapazes de apreciar uma música que fala do amor de Deus. Isso acontece
porque seus lábios e seu coração estão cheios das músicas do mundo. Se
não nos ocuparmos com as coisas de Deus, certamente as coisas do mundo
virão e ocuparão nossa mente.
É verdade que quase todos os jovens gostam de músicas, e também é
verdade que Deus pode usar a música para falar conosco. Assim, por que os
jovens não dedicam o potencial musical que têm para fazer músicas e hinos
para Deus? Ou por que não dedicam seu tempo para apreciar e desfrutar
músicas que possam ajudá-los em sua experiência espiritual?

C. Moda
Outra coisa que tem usurpado os jovens da presença de Deus é a moda.
Li uma reportagem sobre empresas que estão conseguindo lucrar em meio à
presente crise econômica. Entre as empresas mencionadas, as que produzem
moda jovem se destacam. Por quê? Alguns jovens que foram entrevistados
disseram que gastam o salário do mês em roupas. Outros gastam o salário
para comprar um par de tênis. Isso acontece por causa da vida sem sentido
que os jovens vivem, totalmente alienados do propósito de Deus. Eles
gastam todo o salário para não ser diferentes dos outros jovens que, como
eles, vivem uma vida fútil, materialista e consumista. Não há nada de mal
em comprar roupas ou tênis, mas aquilo que excede suas necessidades
diárias torna-se seu mundo, e dar tudo o que tem para adquirir essas coisas
mostra quão vazio você está.
O exemplo da laranja
Assim como uma laranja, você pode estar sendo sugado pelo mundo. O
mundo extrai o seu “suco” tudo o que é precioso em você, que é sua
juventude, sua vitalidade, sua inteligência. Por fim, quando você não tiver
mais vitalidade, ele o joga fora, como um bagaço de laranja, e diz: “Agora
você pode servir a Deus”. Por causa de uma vida estressada, por gastar
dinheiro naquilo que não é essencial, alimentando-se mal, você pode tornar-
se uma pessoa doente, dependente de remédios, de tranquilizantes. Como
servir a Deus assim? É claro que mesmo nessas condições poderemos
receber a salvação de Deus, mas Satanás conseguiu seu objetivo: inutilizar
você quanto ao serviço a Deus.
Se você percebe que sua vida está assim, ou dirigindo-se para isso, não
espere tornar-se um “bagaço” para, então, decidir servir ao Senhor. O Oleiro
quer você agora, no vigor da sua vida. Isso não significa que você não deva
estudar ou trabalhar; você deve fazer isso para ser um vaso útil na mão do
seu Possuidor. Estude e dê o melhor de si, não para ser alguém importante
no mundo, mas para ser útil para Deus. Deus precisa de jovens que sejam
Seus utensílios de honra, jovens que façam diferença onde quer que
estejam, quer nas universidades, quer nas empresas; jovens que tenham
clareza que Deus os colocou ali para ser os vasos escolhidos para levar o
nome do Senhor às pessoas.

O exemplo de Paulo
Paulo estudou aos pés de Gamaliel. Isso seria o mesmo que estudar em
Oxford hoje. Portanto, a formação de Paulo foi a melhor que alguém
poderia receber, só possível às famílias mais nobres e ricas da época. O
próprio apóstolo Pedro reconheceu a sabedoria de Paulo, dizendo: “O nosso
amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada (...)
coisas difíceis de entender” (2 Pe 3:15-16). Além disso, Paulo falava várias
línguas. Em uma ocasião ele falou em aramaico, um dialeto hebraico usado
na Palestina (At 21:40; 22:2 - BJ), logo depois de ter falado em grego
(21:37). Provavelmente falava o latim, pois possuía a cidadania romana
(22:27-28). Mostrou que conhecia a literatura grega ao mencionar frases
dos poetas gregos Arato e Cleanto em seu discurso no Areópago, onde
costumavam reunir-se as pessoas mais cultas de Atenas (17:28, 22). Isso
tudo foi possível, porque Paulo foi preparado pelo Senhor para ser um vaso
útil em Suas mãos (9:15).

Como resolver nossa relação com o mundo?


A. Conhecer a Deus
Muitos não percebem a influência do mundo, simplesmente porque não
conhecem a Deus. Se alguém não conhece a Deus, também não conhecerá o
que se opõe a Deus e, consequentemente, não perceberá o que está
ocupando o lugar de Deus em sua vida. Tiago 4:4 diz: “Infiéis, não
compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois,
que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Vemos aqui
claramente que o mundo se opõe à Pessoa de Deus: ou somos amigos de
Deus ou somos amigos do mundo; não há como ser amigo dos dois ao
mesmo tempo. Se queremos resolver nossa relação com o mundo, primeiro
precisamos conhecer a Deus.
Uma vez que o mundo se opõe a Deus, e as coisas do mundo se opõem à
vontade de Deus, há necessidade de intensificarmos nossa comunhão com
Deus. Muitos filhos não conhecem verdadeiramente seus pais, embora
tenham a vida deles e morem na mesma casa. Assim, podemos ter a vida do
nosso Pai celestial, estar em Sua casa, que é a igreja, mas não conversar
com Ele, e, assim, não conhecê-Lo, tampouco conhecer a Sua vontade.
Se não conhecemos a Deus ficamos totalmente sem padrão pelo qual
guiar-nos, sem referencial. Não há como estabelecer nestas páginas o que é
e o que não é mundo. Algumas coisas podem ser mundo para um, pois toma
o lugar de Deus em sua vida, e pode não ser para outro. Pode ser que dos
exemplos citados anteriormente você não se enquadre em nenhum —será
que você pode afirmar que não está sendo afastado de Deus por alguma
coisa, atividade ou pessoa? A maneira de responder a isso é pela comunhão
com Deus. Pergunte a Ele: “Senhor Jesus, há alguma coisa me afastando de
Ti? Há alguma coisa que tem tomado o Teu lugar em mim?”. Por meio de
uma sincera comunhão com Deus, você receberá luz divina e poderá
perceber como realmente está sua vida com Deus.
Quanto mais tivermos comunhão com Deus, mais sensíveis nos
tornaremos à Sua vida. Quanto mais O conhecermos, mais o amaremos e
mais conheceremos Sua vontade; nossa mente será renovada e capacitada a
identificar quando alguma coisa vier tomar o lugar de Deus em nós ou nos
afastar da sua presença. Por meio da comunhão com Deus, descobriremos o
que é mundo para nós, pois a luz divina logo nos iluminará. Se estivermos
amando o mundo, teremos um claro sentimento interior, sentiremos falta de
desfrute do amor de Deus, porque o mundo se opõe a Ele e se coloca em
Seu lugar.
Para resolver, para lidar com sua relação com o mundo, você precisa
perguntar-se: “Como está meu amor pelo Senhor?”. Se ama a Deus de todo
o seu coração, o mundo não terá lugar em você. Mas como você pode amá-
Lo se não O conhece? E como O conhecerá se não tem comunhão com Ele?
Portanto, o ponto de partida no tratamento com o mundo é a comunhão com
Deus.

B. Não nos conformar a esta era


Precisamos perceber também que o mundo possui uma forma, à qual
deseja conformar-nos. Romanos 12:1 diz: “E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. A palavra
grega traduzida para século aqui é aiom, e poderia ser traduzida para “era”
como uma época, um período, um tempo determinado.
Quando falamos do mundo estamos falando de algo bem geral. Mas
quando falamos de era, estamos nos referindo à seção do mundo na qual
estamos vivendo e pela qual somos afetados diretamente. Podemos
comparar as “eras” do mundo aos vários departamentos de uma grande loja.
Os vários departamentos foram organizados para atender as mais diferentes
pessoas, com seus diferentes gostos e necessidades. Quando alguém vai a
uma loja dessas o seu relacionamento com a loja dar-se-á por meio dos
departamentos com os quais ela se envolver. Uns poderão se dirigir ao
departamento de roupas da moda, ao passo que outros preferirão o
departamento de roupas clássicas e outros ainda, o departamento de
aparelhos eletrônicos. Todos esses departamentos pertencem à loja, e é por
meio deles que a loja alcança seus clientes. Da mesma maneira, o mundo
alcança as pessoas por meio das eras.
Podemos também comparar a era do mundo a trechos da correnteza de
um grande rio. Não há como você se relacionar com o rio todo. Se você
estiver na margem, o trecho do rio que passa por você é que pode ser
chamado de a “era” do rio. O curso do mundo vem desde a era de Caim,
passando pela era de Babel, Sodoma e Gomorra, do Egito, de Babilônia e
assim sucessivamente, até chegar aos dias de hoje. Cada século, cada época,
cada período ou mesmo cada década tem uma era. Essas “eras” foram
sistematizadas e organizadas por Satanás a fim de ditar às pessoas o que
elas devem ou não fazer. Sem perceber, muitos entram nessa “correnteza” e
são carregados por ela. Efésios 2:2 diz que nós também estávamos seguindo
o curso deste mundo. A correnteza deste mundo, que é aquilo que o mundo
determina que devemos ser, pensar, vestir, dizer, comer, ouvir etc., é muito
forte; por isso tome cuidado para não ser influenciado e arrastado por ela.
Para que isso não aconteça, precisamos conhecer a vontade de Deus.
Assim como se alguém conhecer a Deus não irá tornar-se amigo do mundo,
assim também se alguém conhecer a vontade de Deus não se conformará à
presente “era” do mundo.
Paulo advertiu os irmãos em Roma a não se conformarem, a não
tomarem a forma daquela era. Hoje, nesta era, o mundo também tem a sua
forma. Se não fôssemos advertidos, facilmente ofereceríamos nosso corpo
para as coisas “desta era”, e nos acostumaríamos com essas coisas. Por isso,
Paulo mostrou que nossa mente precisa ser renovada, e nós, transformados,
a fim de experimentarmos a vontade de Deus. Se não experimentamos qual
é a vontade de Deus, nossa mente pode ser facilmente conformada às coisas
desta era.
C. Não amar as coisas do mundo
O mundo se opõe a Deus, e as coisas que há no mundo se opõem à
vontade de Deus. Vemos de maneira nítida em 1 João 2:15-17: “Não ameis
o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor
do Pai não está nele; porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai,
mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua
concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece
eternamente”. Quais são as coisas que há no mundo? O apóstolo João
dividiu-as em três categorias: concupiscência da carne, concupiscência dos
olhos e soberba da vida. Essas coisas estão em oposição à vontade de Deus.
Se nos envolvermos com elas e se nos conformarmos a elas, não poderemos
conhecer nem fazer a vontade de Deus. Por isso é que a nossa mente precisa
ser renovada (Rm 12:2), a fim de podermos conhecer a vontade de Deus e
rejeitar as coisas que há no mundo.
Demas, um cooperador do apóstolo Paulo, “amou a presente era”, isto é,
amou o mundo e, como consequência, abandonou Paulo (1 Tm 4:10). Não
lemos aqui que ele tenha cometido um pecado grave, e, sim, que amou a
presente era. Por isso ele foi usurpado pelo mundo, tornando-se inútil para a
obra de Deus. Esse é o objetivo final da ação do mundo na vida de alguém:
torná-lo inútil para Deus! O exemplo de Demas é uma séria advertência
para nós.
D. Rejeitar o mundo
O mundo, diferentemente do pecado, é exterior a nós. Nossa mente é
constantemente bombardeada pelas “atrações” do mundo. Quando
percebemos que algo do mundo, quer seja uma ideia ou uma atividade que
nos afaste de Deus, quer “plantar-se” em nós, devemos rejeitar rapidamente,
antes que caiamos sob sua influência.
Na Bíblia vemos o exemplo de Moisés (Hb 11:24-25). Ele recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, ele não quis usufruir dos prazeres
transitórios do pecado, e abandonou o Egito. Isso mostra que não podemos
ficar “negociando” com o mundo como se ele e Deus pudessem ocupar
lugar em nós ao mesmo tempo. Temos de ter uma posição firme: rejeitar o
mundo. Não faça como muitos jovens que disseram: “Não tem problema, eu
sou forte; você acha que eu vou deixar o Senhor só por causa disso? Não se
preocupe”. Hoje eles são como Demas. Moisés abandonou o Egito, e Paulo
disse para Timóteo fugir das paixões da mocidade (2 Tm 2:22). Seja como
Moisés e Timóteo.
Tendo mais comunhão com Deus e rejeitando o mundo, nosso amor por
Deus crescerá, nossa vida espiritual crescerá e não mais seremos atraídos
pelas coisas do mundo. Assim poderemos ser vasos úteis nas mãos do
Senhor. Aleluia!
Capítulo Quatro

SEGUIR A UNÇÃO DO ESPÍRITO

Leitura bíblica: Jr 31:31, 33, 34; 1 Jo 2:27; 2 Co 4:7


Até agora vimos que para sermos vasos úteis nas mãos do Senhor, para
sermos vasos de honra, primeiramente precisamos lidar com os pecados e
com o mundo. Esse tipo de purificação é necessário para podermos tornar-
nos tais vasos. Porém, o tratamento com coisas negativas não é o alvo final
da obra de Deus em nós. O objetivo de Deus ao nos purificar visa a algo
totalmente positivo: sermos enchidos do Espírito Santo. Se estamos cheios
de pecados e do mundo, como Deus pode encher-nos? Como Deus pode
derramar-se para nós, quando há tantas barreiras entre nós e Ele?
Aleluia! porque aprendemos que todas essas barreiras podem ser
eliminadas. Vimos que a prática essencial e mais importante em nossa vida
cristã para sermos completamente purificados é a comunhão com Deus. Na
comunhão com Deus podemos, por um lado, receber Sua luz, e ver a
verdadeira situação em que nos encontramos, quer em relação aos pecados,
quer em relação ao mundo, e, por outro lado, podemos receber o dispensar
de Deus em nós. Na verdade, temos comunhão com Deus porque O
amamos, e porque queremos estar sempre em Sua presença. Por isso,
qualquer pecado, coisa, pessoa ou atividade que interrompa o desfrute que
temos em Sua presença será exposto pela comunhão.
A nova aliança
É desejo de Deus que o homem tenha comunhão com Ele. Por isso
Jeremias 31:33-34 nos revela algo que permitiu que nós, outrora estranhos a
Deus e às Suas promessas, pudéssemos tornar-nos Seu povo e desfrutar
também a comunhão com Ele: a nova aliança. Esta passagem das Escrituras
diz: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois
daqueles dias, diz o SENHOR. Na mente, lhes imprimirei as minhas leis,
também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu
povo. Não ensinará jamais cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao
SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles,
diz o SENHOR. Pois, perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados
jamais me lembrarei”.
Hoje não mais estamos debaixo da velha aliança, mas estamos numa
nova aliança. Na velha aliança apenas alguns tinham o privilégio de ter
comunhão com Deus. Hoje, na nova aliança, todos podem conhecer ao
Senhor, desde o menor até o maior. Todos podem ter comunhão com Deus.
Na velha aliança os pecados eram apenas encobertos, expiados. Mas na
nova aliança nossos pecados são perdoados. Por meio da comunhão com
Deus, nossos pecados são expostos, e assim podemos confessá-los. Na nova
aliança, o que nos purifica não é o sangue de bodes e de touros, mas o
sangue de Jesus. Na velha aliança, o povo de Israel, embora achando que
pudesse guardar os mandamentos por meio de esforços exteriores, foi
completamente exposto em sua incapacidade de cumpri-los. Na nova
aliança somos capacitados interiormente a agradar a Deus, por meio da lei
da vida impressa em nossa mente e inscrita em nosso coração. A velha
aliança era algo da letra, e a sua glória se desvanecia. Mas a nova aliança é
incomparavelmente superior, não se desvanece jamais, pois é do Espírito, e
a sua glória é permanente.
Diante de toda essa realidade só nos cabe fazer uma pergunta: “Se
vivemos na era da nova aliança, onde está o nosso problema?”. O nosso
problema é que embora estejamos salvos e vivamos na era da nova aliança,
a nossa atitude e postura é de alguém que vive na velha aliança. Embora o
Espírito de Deus habite em nosso espírito, vivemos ainda por meio de
esforços externos para melhorar nosso comportamento. Quando ouvimos a
palavra de Deus ainda a ouvimos apenas com o nosso entendimento.
Dificilmente oramos sobre o que ouvimos e raras vezes tomamos aquela
palavra em nosso espírito. Por isso é comum ouvirmos alguns testemunhos
empolgados: “Eu fui tocado por essa palavra!... essa palavra era exatamente
o que eu precisava!”. Mas depois de alguns dias tudo volta a ser como era.
Por quê? Porque alguns tocam apenas na letra da palavra, mas não no
Espírito. A palavra que ouviram não foi acompanhada pela fé, por um
espírito exercitado, não foi acompanhada por oração, e por isso não foi
absorvida no espírito. Enquanto a “memória” lembrar-se da palavra eles se
esforçarão em cumprir o que ouviram, mas assim que se esquecerem do que
ouviram, logo tudo voltará a ser como era.
O Espírito prometido
Deus sabe que necessitamos do Espírito, por isso Ele prometeu o
Espírito desde Gênesis. O apóstolo Paulo nos mostrou que a bênção
prometida a Abraão se referia ao Espírito (Gl 3:13-14). Como poderiam os
povos ser abençoados com o crente Abraão? Somente pelo Espírito,
recebido por fé pelos que creem, e nunca pelas obras da lei.
Por meio do Espírito é que podemos conhecer o Senhor. Isso é o que foi
falado ao profeta Jeremias: Ninguém precisaria ser ensinado a conhecer o
Senhor, porque todos O conheceriam. Deus também usou algumas figuras
no Antigo Testamento para nos mostrar quão importante é o Espírito! O
óleo sagrado da unção foi uma dessas figuras utilizadas, para que
entendamos principalmente qual é a Sua função e aplicação em nossa vida.
No livro de Êxodo vemos a função do óleo: ungir e consagrar todos os
utensílios do tabernáculo (Êx 30:26-29). Também vemos que era para ungir
o sumo sacerdote, bem como seus filhos (v. 30). Isso indica que tanto Cristo
como toda a igreja foram ungidos.
A composição do óleo da unção era um him de azeite puro, mais quatro
especiarias (vs. 23-24). Espiritualmente falando, essa simples composição
significa muito. Podemos falar dela quanto aos elementos que a compõem,
quanto às quantidades de cada elemento e quanto à maneira como esses
elementos foram agrupados.
O azeite puro na Bíblia representa o Espírito de Deus (Sl 45:7; Is 61:1),
enquanto o número quatro das quatro especiarias representa as criaturas, os
homens (Ez 1; Ap 4). O número um na Bíblia representa o Deus único. O
óleo sagrado da unção era composto da mistura de um mais quatro, e isso
significa que o Deus único, em Jesus e por meio do Espírito, mesclou-se
com o homem. Sem esse mesclar, o homem continuaria debaixo da
frustrante velha aliança, pois sua natureza humana caída jamais conseguiria
cumprir as exigências dela.
As quatro especiarias foram agrupadas em três unidades completas de
quinhentos siclos, sendo que a primeira unidade era composta de
quinhentos siclos de mirra; a segunda era composta de duzentos e cinquenta
siclos de cinamomo e duzentos e cinquenta siclos de cálamo; a terceira
possuía quinhentos siclos de cássia. Em estudos passados vimos que mirra
refere-se à doçura da morte de Cristo, cinamomo, à eficácia da Sua morte,
cálamo, ao poder da ressurreição de Cristo, e cássia refere-se à eficácia
desse poder. O número três representa o Deus Triúno e o fato de a segunda
unidade de quinhentos siclos estar partida em duas de duzentos e cinquenta
já indicava que o segundo da Trindade precisava ser partido para o Espírito
vir (Jo 16:7).
Quando juntamos o azeite puro com as quatro especiarias, então temos a
fragrância. O azeite puro tem um cheiro muito leve, mas quando as
especiarias são acrescentadas, que perfume! Paulo, em 2 Coríntios 2:14-16
nos diz que somos para com Deus o bom perfume de Cristo. Como
podemos exalar tal perfume? O bom perfume de Cristo é obtido pelo
conhecimento de Cristo. Quanto mais de Cristo conhecermos, mais
ganharemos do Seu Espírito. Por meio do Espírito, tanto a divindade como
a humanidade de Cristo podem ser aplicadas a nós. No Espírito temos tanto
o “azeite” como as “especiarias”. O que sai de nosso ser natural somente
desagrada às pessoas, exatamente como um mau cheiro. Porém, por termos
comunhão com o Senhor, o “mau cheiro” é subjugado pelos elementos que
compõem o Espírito, e o que é então exalado de nós é o bom perfume de
Cristo.

O processo do Espírito
Essa composição toda do óleo sagrado da unção representa o processo
pelo qual o Espírito de Deus passou até se tomar disponível a todos nós. Em
Gênesis 1:2 havia o Espírito de Deus; depois, ainda no Antigo Testamento,
encontramos várias vezes o título Espírito do Senhor. Quando chegamos ao
Novo Testamento vemos o Espírito Santo. Em Atos e nas epístolas
encontramos outros títulos tais como o Espírito de Jesus (At 16:7), o
Espírito de Cristo (Rm 8:9); o Espírito de Jesus Cristo (Fp 1:19) e o Espírito
(Ap 22:17). Será que há vários Espíritos? Certamente, não! Como, então,
podemos explicar os diversos títulos dados ao Espírito?
Pelo óleo sagrado da unção podemos entender essa questão. No
princípio vemos apenas o Espírito de Deus, representado pelo him de azeite.
Ao Espírito de Deus foram adicionados outros elementos tais como a
encarnação de Cristo, Seu viver humano, Sua morte e Sua ressurreição. Não
encontramos esses elementos no Espírito de Deus em Gênesis. Por isso em
João 7:39 lemos: “Isso, porém, disse Ele com respeito ao Espírito que
haviam de receber os que Nele cressem; pois ainda não havia o Espírito ,
porque Jesus não havia sido ainda glorificado”. Por meio da Sua morte e
ressurreição, Jesus foi glorificado (Lc 24:26). Na Sua ressurreição Ele se
tornou o Espírito que dá vida (1 Co 15:45). Por isso 2 Coríntios 3:17 diz:
“Ora, o Senhor é o Espírito”.
Você já havia percebido que no Espírito há tudo o que necessitamos para
uma vida cristã normal? Porém, muito mais do que conhecer os
significados, Deus deseja que você saiba aplicar o Espírito em sua vida. Por
exemplo, você sabe que não deveria amar as coisas do mundo, mas ama.
Porém, em vez de usar o Espírito que habita em você, o qual possui a cruz
de Cristo, por meio da qual você já foi crucificado para o mundo e o mundo
para você (G1 6:14), que você faz? Muitos ficam em seus pensamentos:
“Eu não quero amar o mundo, não quero...”, e, assim, fazem um esforço
terrível para não amar o mundo, todavia são derrotados e se frustram. Qual
é a saída?
Em Zacarias 4:6 o Senhor disse: “Não por força nem por poder, mas
pelo meu Espírito”. Hoje, na nova aliança, pelo Espírito que nos foi dado,
podemos agradar a Deus. Se o Espírito já passou por todo um processo e é
composto do próprio Deus que se tornou carne, teve um viver humano, e
nele passou por vários sofrimentos, foi crucificado, morreu, foi sepultado,
ressuscitou, ascendeu e foi glorificado, então, por que ainda vivemos às
vezes tão “secos”? A resposta é simples: É porque não aplicamos tal
Espírito todo-inclusivo. Suponha que você esteja com a pele muito seca,
rachando. O que você precisa fazer é passar um creme, não é mesmo?
Assim deveria ser com respeito ao Espírito — tudo o que precisamos fazer
é aplicá-Lo. Aleluia! o Espírito é o melhor unguento que existe!

A aplicação do Espírito
Embora tenha tal “unguento”, o Espírito, a pergunta é: Você sabe aplicá-
lo? Você tem aplicado o Espírito? Quando vemos alguns jovens cristãos
parados, inertes, sem reação à palavra de Deus, aos testemunhos, aos hinos,
perguntamos: Se esse jovem tem o Espírito de Deus, por que não O usa?
Por isso, quando falamos sobre a aplicação do Espírito percebemos que
há uma batalha espiritual acontecendo. Você pode ir à reunião da igreja,
ouvir as palavras que são compartilhadas, porém não toca no Espírito que
há na Palavra de Deus. Por que isso acontece? É porque você não usou ou
não sabe usar o seu espírito. Portanto, primeiramente você precisa perceber
que o Espírito de Deus está em você, no seu espírito (Rm 8:9, 16). Tudo o
que Deus é, tem, fez e pode fazer está dentro de você. Mas você precisa
exercitar o seu espírito para tocar no Espírito que há na Palavra.
O que acontece em geral é que você chega na reunião, senta no lugar de
costume e começa a usar seus pensamentos: “Este hino não é legal... não
quero orar... este irmão não sabe falar... esta mensagem eu já sei...”. Assim,
não é de admirar que você saia exatamente como entrou: seco
espiritualmente e sem vida.
Se não usamos o nosso espírito quando buscamos a Deus, parecerá que
Deus está muito distante de nós. Se não aplicamos o Espírito que Ele já nos
deu, seremos Seus devedores. Não foi fácil para Deus entrar na
humanidade. Não foi fácil para Ele viver trinta e três anos de sofrimentos e
restrições, sendo Ele o ilimitado e infinito Deus. Não foi fácil morrer numa
cruz. Ele, porém, passou por tudo isso, ressuscitou, ascendeu ao céu e foi
glorificado para poder vir morar em nós. Agora, Ele, como o Espírito da
realidade de tudo isso, está em nosso espírito. Se não O usamos nem O
aplicamos, seremos como um filho cujo pai viajou deixando-lhe dinheiro
suficiente para comprar tudo o que necessitasse, mas ele não usou o que lhe
foi dado. Quando o pai voltou, encontrou-o esquelético, sujo e maltrapilho.
Quão triste e preocupado esse pai não ficou! Igualmente entristecemos o
Senhor todas as vezes que não usamos o Espírito, a herança inesgotável que
Ele nos deixou.
O Espírito deve ser aplicado também na questão de amar o mundo, que
é um problema para a maioria dos jovens cristãos. Na verdade o maior
problema que um jovem cristão possui é não usar o Espírito. Em seu
espírito há o Espírito de Deus, e no Espírito de Deus há o poder para vencer
o mundo. Se você é alguém que em vez de deixar de amar o mundo procura
encher-se do Espírito, espontaneamente o mundo perderá sua atração. No
Espírito há a realidade da cruz, que faz morrer o amor pelas coisas do
mundo. Para experimentar a cruz de Cristo, você não precisa voltar dois mil
anos, nem precisa ir para a Palestina; você só precisa voltar ao seu espírito e
dizer ao Senhor: “Senhor Jesus! Senhor, o mundo tem sido tão atraente para
mim, mas eu me volto a Ti. Senhor Jesus, o meu desejo é ser enchido com
Teu Espírito. Senhor, satura-me de Ti”.
Outra coisa comum entre os jovens é a falta de motivação.
Principalmente na segunda-feira, muitos jovens estão “pra baixo”. Quando
você conversa com eles, eles dizem: “Ah! Estou mal, estou desanimado”.
Você já esteve nessa situação? Como sair dela? Você não quer estar assim,
mas não tem forças para sair desse estado de desânimo. Nessa situação é
hora de exercitar seu espírito, pois nele há o Espírito que dá vida, que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Quando você volta ao seu espírito e
diz: “Senhor Jesus! Aleluia pela Tua ressurreição. Senhor, por meio dela Tu
venceste a morte. Por meio do Teu Espírito que em mim habita, também
posso sair dessa esfera de morte. No Teu Espírito há poder suficiente para
me libertar de todo o desânimo. Senhor Jesus, vem encher-me agora com o
Teu Espírito!”.
Quantas vezes você já se sentiu acusado por Satanás? Quantas vezes
você não sabia o que fazer? Lembre-se: um dos componentes do óleo
sagrado da unção era a cássia, uma especiaria que era utilizada como
repelente de serpente. Isso também está no Espírito que habita em você.
Como a luz repele as trevas, o Espírito repele as acusações de Satanás. Você
pode dizer a Satanás: “Satanás, vá embora. Em mim não há lugar para você
e para suas acusações. Não preciso de você, tampouco preciso das suas
acusações. Tudo o que eu preciso é voltar ao meu espírito e tocar no
Espírito de Deus. Em meu espírito há o Espírito da verdade. Por isso,
Satanás, vá embora, e leve junto todas as suas acusações”.
Pode ser também que você se encontre numa situação sem saída. Você
olha para todos os lados, para todas as pessoas, e não vê como sair de certa
dificuldade. Aparentemente essa dificuldade ou problema que você está
enfrentando é intransponível aos seus olhos. Nessa hora você precisa
exercitar o seu espírito para tocar no elemento da ascensão que está em
você. Ore ao Senhor: “Senhor Jesus, quantas coisas nesta terra não tentaram
prender-Te? Porém Tu superaste todas elas. Senhor, na situação que estou
passando não vejo saída, mas quero experimentar a Tua ascensão agora.
Não me importo que os problemas continuem, tão-somente quero
transcendê-los. Senhor Jesus, mais uma vez enche-me com o Teu Espírito.
Quero estar no lugar em que Tu me puseste, quero estar Contigo nos lugares
celestiais”.

Exercitar o espírito
Tudo o que precisamos é exercitar o nosso espírito. Como todo
exercício, no início pode parecer estranho: talvez você sinta certo
desconforto, mas não deve parar. Em 1 Timóteo 4:7-8 é dito que se deve
exercitar a piedade. Piedade refere-se às coisas relacionadas com Deus.
Para exercitar-se nas coisas relacionadas com Deus, você precisa usar o
“órgão” certo. Se você quer ser um corredor, você precisa exercitar os
músculos da perna e do abdômen. Se você quer ser alguém que se exercita
nas coisas relacionadas com Deus, então precisa usar seu espírito.
Hoje, no mundo, há uma geração que verdadeiramente cultua o corpo,
fazendo ginástica rítmica, aeróbica, musculação etc. Como é dito em 1
Timóteo 4, o exercício físico tem pouco proveito, por isso não precisamos
dar muita atenção a isso. Mas o que queremos enfatizar é: quem hoje está
exercitando o espírito? Muito poucos têm se preocupado com isso, mas o
exercício da piedade é que tem a promessa da vida que agora é, e da que há
de ser.
Portanto esperamos que vocês, jovens, exercitem o espírito. Pelo fato de
não termos usado o espírito durante muito tempo, este órgão em nós está
atrofiado. O espírito está lá, porém não conseguimos levá-lo a funcionar
normalmente. Quando um braço ou uma perna é engessado por muito
tempo, ao se tirar o gesso não se consegue, imediatamente, usá-lo como
antes. Há necessidade de se fazer fisioterapia. A fisioterapia consiste em
fazer exercícios específicos, frequentes e progressivos até que o membro
outrora engessado possa voltar às suas funções normais. Da mesma
maneira, nosso espírito precisa de uma “espiritoterapia” ou
“pneumoterapia”. Nosso espírito tem ficado “atrofiado” pelo fato de só
usarmos nosso corpo e nossa psique, nossa alma. Pouca atenção temos dado
ao espírito. Agora é hora de começarmos a exercitá-lo de maneira frequente
e progressiva.
Meios de exercitar o espírito
Quando oramos, estamos exercitando a comunhão com Deus e isso é
exercitar o espírito. Quando sua consciência é tocada, e você imediatamente
trata com o que nela foi apontado como contrário a Deus, isso também é
exercitar o espírito. Por exemplo, quando você está entre amigos falando
palavras fúteis, interiormente você começa a sentir algo: há um “alarme”
interior indicando que você deve parar. Se ouve o “alarme” e não obedece,
você está deixando de exercitar seu espírito. Na próxima vez será mais
difícil ainda. Mas, se ao ouvir o “alarme” da sua consciência você obedece,
então estará exercitando seu espírito. Na próxima vez, você será mais
sensível quando estiver falando o que não deve, e será mais rápido em
parar. Por quê? Porque seu espírito estará mais forte.
Outro meio para exercitar continuamente nosso espírito é invocar o
nome de Jesus. É claro que invocar o Senhor não deve ser feito usando
apenas a boca. Romanos 10:9 mostra que confessamos com a boca e cremos
com o coração. Portanto, quando invocamos o nome do Senhor Jesus,
devemos também usar o nosso espírito. Invocar o nome de Jesus é algo
muito simples e prático, porém pouco invocamos. O motivo de não
praticarmos é que Satanás quer calar-nos; ele quer calar a boca de todos os
cristãos. Em Gênesis 4 vemos um contraste entre a descendência de Caim e
a descendência de Sete. Enquanto Caim e sua descendência estavam
procurando algo para substituir Deus, Sete e sua descendência estavam
dependendo do Senhor, pois viram que eram frágeis (Enos, o nome do filho
de Sete, significa frágil) e, assim, começaram a invocar o nome do Senhor
(v. 26).
Precisamos ver que como vasos de barro somos frágeis, mas pelo fato
de termos o Espírito em nós, temos um tesouro dentro de nós (2 Co 4:7).
Deus sabe que somos frágeis, mas Ele já nos deu o Seu Espírito. Por meio
do Espírito que hoje habita em nosso espírito somos fortalecidos. Este
Espírito é o mesmo que habitava nos cristãos na época de Atos. Embora
fossem perseguidos por causa do Senhor, eles não desanimavam. Naquela
época eles nem tinham o Novo Testamento escrito. Talvez tivessem
algumas partes do Antigo Testamento. Não tinham os recursos nem as
facilidades que temos hoje, porém a vida deles era bastante vitoriosa. Que
faziam? Será que eles eram melhores que nós? Será que a carne deles era
melhor que a nossa? Não, eles simplesmente usavam o espírito e invocavam
o nome do Senhor em todo lugar (1 Co 1:2). Vemos isso claramente na
experiência de Estêvão (At 7:54-60). Debaixo de uma perseguição furiosa,
ele estava cheio do Espírito Santo, orando e invocando o nome do Senhor.
Como ele poderia suportar aquele apedrejamento? As pedras que recebeu
não o abalaram, mas a sua atitude, as suas palavras, a sua oração certamente
abalaram aqueles perseguidores. A Bíblia diz que Estêvão naquela hora
estava invocando: “Senhor Jesus”. Embora ele tenha adormecido no corpo,
ele foi vitorioso em seu espírito. Certamente o testemunho dele deve ter
impressionado Paulo. Mais tarde, o próprio Paulo tornou-se alguém que
invocava o nome de Jesus (22:16), e até mesmo aconselhou seu jovem
cooperador Timóteo a estar junto com todos aqueles que invocam o nome
do Senhor (2 Tm 2:22).
O Senhor sempre foi tão rico para com todos os que O invocavam. Será
que Ele mudou? Se o Senhor é tão maravilhoso, poderoso, atuante e
disponível, por que ainda vivermos uma vida tão miserável, fraca, seca,
faminta e desesperada? O Senhor é o Espírito, e hoje Ele está em nós.
Precisamos conhecer Seu trabalhar em nosso interior. Quanto mais tivermos
comunhão com Ele, mais cheios do Espírito Santo seremos. Quanto mais
comunhão com Ele, mais seremos enriquecidos com Seus elementos.
Experimentaremos vida, vigor, frescor e novidade interior.
Seguir a unção
Pelo fato de habitar em nós, o Espírito Santo está se movendo em nosso
interior. A esse mover interior do Espírito em nós chamamos de unção. No
Antigo Testamento vimos que a unção estava relacionada com a obra de
Deus. Tudo o que era ungido era separado, santificado e consagrado a Deus.
Qualquer coisa, objeto ou pessoa ungida, não era mais comum. Por isso,
sacerdotes, reis e profetas foram ungidos para servir a Deus.
O propósito de Deus ao ungir alguém é capacitar essa pessoa para servi-
Lo. Em 2 Coríntios 3:5 lemos que a suficiência dos apóstolos vinha de
Deus. Eles reconheciam que sem Deus nada podiam fazer na obra de Deus.
E você? Será que tem tentado fazer algo para Deus sem ter Ele próprio
como o conteúdo da Sua obra? Ou tem tentado usar toda a sua força para
fazer aquilo que Deus não quer que você faça? A obra de Deus não é por
força nem por poder, mas pelo Seu Espírito.
Na obra de Deus em nossa vida diária, precisamos aprender a seguir a
unção interior. Em 1 João 2:27 está escrito: “Quanto a vós outros, a unção
que Dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que
alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as
coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos
ensinou”. Vemos aqui que a unção nos ensina a respeito de todas as coisas.
Se somos carentes quanto a esse tipo de experiência, é porque não temos
procurado ter comunhão com Deus em todas as questões; não temos
exercitado nosso espírito.
Normalmente só buscamos a orientação de Deus quando não temos mais
saída. Só quando nos encontramos em uma situação muito difícil é que
recorremos a Deus, orando de maneira desesperada: “Ó Senhor, preciso
tanto de Sua orientação...”. Nas situações comuns achamos que não
precisamos buscar a Deus, nem seguir o sentimento interior que Ele nos dá.
Por exemplo, quando vamos comprar roupas, tudo o que nos interessa é se
temos dinheiro e se gostamos da roupa que queremos comprar. Satisfeitas
essas duas exigências, logo compramos o que queremos. Semelhantemente,
ao escolher o curso que vai fazer, você pode estar apenas pensando naqueles
que estão na moda, que levam o tempo mínimo para concluir ou nos que os
outros desejam que você faça. Isso se aplica a outras situações tipo: Onde
passar férias? Que devo fazer neste final de semana? etc. Muitos jovens
perdem a oportunidade de ter a rica experiência de ouvir o próprio Deus
falando com eles, ensinando-lhes que caminho seguir, porque tão logo surge
uma dúvida quanto ao que fazer, logo buscam a resposta de alguém:
“Irmão, que devo fazer?... que curso devo fazer?... que você acha disso?”.
Não há nada contra consultar alguém mais experiente, mas o que você
não pode perder é a experiência de ouvir o que Deus acha, o que Deus
pensa sobre tal assunto. Quero ajudá-los a consultar Deus em tudo o que
vocês forem fazer. Temos o Espírito em nós, só que não O usamos. Quantas
experiências ricas teríamos se tão-somente seguíssemos o ensinamento da
unção em nosso interior. Se a cada atitude procurássemos ver ou perceber o
que a unção quer ensinar-nos, quão cheios de vida seriamos! Se você, ao
sair para fazer compras, orasse assim: “Senhor Jesus, que tal se sairmos
juntos para fazer algumas compras?”. Você também poderia dizer-lhe:
“Senhor, essa cor está bem?”. A mesma coisa quanto ao fazer um curso ou
uma viagem: “Senhor Jesus, o que Tu achas desse curso, devo fazê-lo ou
não?”. “Senhor, onde ir nas minhas férias? Quantos dias devo permanecer
lá?”.
Aleluia! Hoje já possuímos a unção que vem do Santo (1 Jo 2:20).
Possuímos tal Espírito maravilhoso em nós. Deus tão-somente espera que
usemos tudo aquilo que Ele já nos deu. Se desprezamos ou não usamos esse
sentimento interior que se move em nós, somos devedores ao que Deus
investiu em nós. Além disso nossa vida parecerá um deserto: rotineira e sem
valor. Deus nos deu um espírito para usarmos. Sem usá-lo como podemos
ouvir a Sua voz? Se ficamos apenas arrazoando em nossa mente sobre o que
se deve fazer ou sobre aonde ir, perderemos a doçura de ter o falar de Deus,
a orientação de Deus, o guiar de Deus e o ungir de Deus. Quando você usa
seu espírito e segue o sentimento da unção interior desfrutará paz e força
interiores. Você saberá exatamente quando Deus está falando com você e
descobrirá o que Lhe agrada e qual é a Sua vontade.
Seguir a unção do Espírito pode parecer algo difícil para você. Alguns
podem até pensar: “Como vou saber que foi Deus que falou comigo?”. Não
fique preocupado, apenas exercite. Você perceberá quando Deus estiver
falando com você, e isso o encherá de alegria e paz interior. Colossenses
3:15 ensina que a paz de Cristo é o árbitro em nosso coração. Se toda esta
geração de jovens exercitar o espírito, uma “usina nuclear” será acionada:
“Saia da frente..., porque ninguém segura”. Vocês estarão experimentando a
glória permanente, que não se desvanece. Serão enchidos de Deus e da Sua
plenitude. Serão saturados do Espírito Santo. Quando alguém tocar em
vocês, será como quem toca em “tinta fresca”. As pessoas perceberão que
vocês não são mais comuns. Portanto, quanto mais seguirmos o
ensinamento da unção nas coisas mínimas do viver diário, como
vestimenta, corte de cabelo, atitudes, palavras etc., mais desenvolveremos
essa sensibilidade de vida e mais conheceremos o próprio Deus. Louvado
seja o Senhor!
Capítulo Cinco

O MELHOR INVESTIMENTO

Leitura bíblica: Jr 32:8b-9, 15, 25; 2 Tm 2:21-22; 4:7; 2 Co 4:7-8


Damos graças a Deus por Seu trabalhar em nós por meio de Sua
Palavra. Em todo o universo, o que de mais importante Deus está fazendo é
trabalhar-se em nós, conformando-nos à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo,
saturando-nos do Espírito Santo, fazendo de nós vasos úteis para a Sua
glória! Tendo Deus como oleiro e a igreja como a casa do Oleiro, estamos
sendo trabalhados, estamos sobre a roda, estamos no mover de Deus, a fim
de nos tornar vasos de honra, santificados e úteis nas mãos do nosso
Possuidor.
Por isso, precisamos agradecer ao Senhor por sermos o objeto dessa
obra. Não olhe para si mesmo nem para outros irmãos como um caso sem
esperança. Jeremias 18 diz-nos que Deus está entregue à Sua obra. Ele não
está parado, observando-nos indiferente, mas está trabalhando, e com
determinação, em você e em todos os Seus filhos. Para que Ele complete a
Sua obra, tudo o que precisamos fazer é dispor-nos e humilhar-nos;
precisamos apenas permitir, aceitar e receber o Seu trabalhar em nós. Você
está disposto?
Para sermos purificados da condição de desonra em que possamos
encontrar-nos, precisamos permitir que Deus trabalhe em nós. Para isso
devemos primeiramente resolver o problema de nossos pecados. Como já
vimos, a maneira de lidar com os pecados é confessá-los à medida que eles
são expostos pela comunhão que temos com Deus. Sejamos sinceros e
transparentes em nossa confissão, nada escondendo. É proveitoso confessar
os pecados audivelmente, mesmo que seja apenas para você ouvir. Fazendo
isso, será mais difícil cair novamente nos mesmos pecados. Além disso, por
meio dessa confissão, sua consciência se tornará mais sensível e, ao mesmo
tempo, mais forte. Quando Satanás vier acusá-lo, dizendo que você não é
digno de Deus, e que, por isso, não pode ir às reuniões, não aceite. A
intenção de Satanás com isso é cortar o suprimento espiritual que você pode
receber, quer nas reuniões, quer na comunhão com os irmãos. Declare ao
acusador que, embora tenha cometido algum pecado, você já o confessou e
o sangue de Jesus purificou-o do pecado. Não se afaste do Senhor, das
reuniões nem dos irmãos, pois esse é o objetivo de Satanás ao acusar você.
Lembre-se: você não deve satisfações a ele. Simplesmente volte-se ao
Senhor e lide com os pecados, confessando-os. Nossa confissão e
declaração não estão baseadas em nossa justiça, mas na justiça de Deus, a
qual Ele exerceu em Cristo, que derramou o Seu sangue para limpar-nos
totalmente.
Também precisamos nos purificar da influência do mundo. Muitos
cristãos não têm consciência da influência que recebem. Permitem que o
mundo entre em sua vida pouco a pouco, e não percebem que isso
interrompe sua comunhão com Deus; se não formos vigilantes, a própria
vida da igreja pode ser influenciada pelo mundo. Hoje, por exemplo, ao
contrário de alguns anos atrás, o homossexualismo tem sido encarado como
algo normal, e algumas pessoas são admiradas e até mesmo aceitas como
tais pelos cristãos. Muitos já aceitam isso como normal.
O padrão que nós, cristãos, devemos seguir, não é o dos anos 60, nem o
dos anos 70, 80 ou 90, pois o padrão muda de acordo com a “era” do
mundo. O padrão que devemos seguir, e que pode ser aplicado em qualquer
período e lugar, é o padrão da Palavra de Deus. Segundo o padrão da Bíblia,
quem é normal? Nós somos! Você precisa ver isso! Não aceite a influência
do mundo, que diz que você é um “careta” ou que “está por fora”. Eles é
que estão literalmente “por fora” da realidade. A aparência deste mundo irá
passar, porém, a Palavra de Deus permanecerá para sempre. Quando
tocamos em Deus, parece que tocamos um botão que tira o colorido do
mundo, e torna-o preto e branco, sem graça, sem atrativos. O mundo, com
toda a sua falsidade e aparência enganosa, perde sua atração quando
desfrutamos o amor sincero e verdadeiro que há somente em Jesus.
Isso pode ser visto na vida de Moisés e de Paulo. Eles eram muito cultos
e altamente capacitados; no entanto, a capacitação que receberam só foi
utilizada por Deus depois que eles passaram por um processo de morte e
ressurreição. Moisés recusou ser chamado filho da filha de Faraó; estar
junto com o povo de Deus foi a sua escolha. Ele recusou ser príncipe do
Egito, que simboliza o mundo do sustento, porque preferiu ser participante
do opróbrio de Cristo, e viu que isso era uma riqueza muito maior do que os
tesouros do Egito. Ele se tornou um grande instrumento nas mãos de Deus
em relação a Israel (Hb 11:24-27). Paulo, alguém com um currículo
invejável entre os religiosos e líderes da época, considerou tudo o que
possuía como refugo, como coisa sem valor, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus (Fp 3:4-8). Por isso, sua vida e ministério
foram grandemente usados por Deus em favor da edificação da igreja.
Porque tiveram uma experiência forte, porque tiveram um encontro com o
Senhor, o “futuro brilhante” que o mundo ofereceu a esses dois homens
perdeu o sabor.
Para ser útil nas mãos do Senhor, como eles foram, você deve não
somente esforçar-se em se preparar humanamente, como deve também ter
um coração voltado para Deus: “Senhor, eu quero estudar, não de qualquer
maneira, mas da melhor maneira possível. Desejo ser um dos melhores
naquilo que faço. Porém não quero isso por causa de mim. Senhor Jesus,
quero entregar os meus estudos, minha profissão e principalmente a mim
mesmo para Ti. Senhor, usa tudo isso de acordo com a Tua vontade e
guarda-me para que nada usurpe Teu lugar em mim”. Por isso é
fundamental que saibamos qual é nosso objetivo de vida. Muitos jovens se
tornaram inúteis para o Senhor porque estabeleceram como alvo para si
seus estudos e sua realização profissional. Uma vez que você coloque o
Senhor e a igreja como seu maior objetivo, Deus terá como usar você, quer
nos estudos, quer nas grandes empresas. Jamais permita que outras coisas
desviem você desse alvo.
Para que Deus nos use, precisamos ser trabalhados interiormente.
Primeiramente somos purificados de todos os erros. Para podermos ser
enchidos com o Espírito Santo precisamos ser esvaziados de tudo o que é
contrário a Deus. A purificação interior tão-somente prepara o caminho
para que o Espírito Santo nos encha. Como um vaso na casa do Oleiro,
nossa principal função é ser enchidos pelo próprio Deus. Efésios 5:18 diz:
“Não vos embriagueis com vinho” — o vinho do mundo — “no qual há
dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. Quanto mais cheios do Espírito,
mais transbordaremos o Espírito. Quanto mais do Espírito tivermos, mais
ungidos seremos. Qualquer pessoa com quem falarmos, seja ao pregar o
evangelho, seja numa conversa informal, se sentirá confortavelmente
“ungida” pelo que falarmos. Isso é o transbordar do Espírito. Por meio do
encher interior do Espírito Santo, tudo o que Jesus realizou poderá ser
experimentado por nós. Quando desobedecemos ao ensinamento da unção,
sentimos desconforto interior. O ensinamento da unção tem como objetivo
dar-nos mais da vida de Deus. Muitas vezes não temos uma resposta
definida do que devemos fazer. Porém, a unção nos dá uma doce indicação
interior do que agrada a Deus e do que não Lhe agrada. Sua função é levar-
nos a conhecer mais a Deus e Seu coração; também visa gerar mais
intimidade com Deus. Devemos ser sensíveis à unção do Espírito Santo
dentro de nós.

Jeremias reconhecia o falar de Deus


No capítulo 32 do livro de Jeremias vemos algo interessante. Os fatos
ali narrados aconteceram na época de Zedequias, último rei de Judá, no
final do seu reinado. O exército de Babilônia cercava Jerusalém (v. 1) e
Jeremias estava encarcerado por causa da sua fidelidade em profetizar as
palavras do Senhor (infelizmente as pessoas gostam de ouvir apenas o que
lhes agrada, mesmo que seja mentira, e não gostam de ouvir a verdade).
Quando Nabucodonosor estava pronto para invadir Jerusalém, veio a
palavra do Senhor a Jeremias dizendo que Hananel, filho de seu tio, viria a
ele para que comprasse um campo em Anatote (vs. 6-7). Isso de fato
aconteceu; o filho de seu tio foi a ele e disse-lhe exatamente isso. Lendo
cuidadosamente, veremos que o Senhor disse a Jeremias apenas que
Hananel iria a ele e lhe faria uma proposta, porém, não disse se Jeremias
deveria ou não comprar. Mas Jeremias, embora encarcerado numa cidade
cercada por inimigos, entendeu que isso era a palavra do Senhor (v. 8).
Podemos usar essa situação como ilustração para o ensinamento da
unção, citado em 1 João 2:27. Gostamos de ter respostas claras e definidas
quanto ao que devemos cursar ou à pessoa com quem devemos nos casar.
Mas a unção não funciona assim: “Você deve cursar medicina” ou “você
deve casar-se com Maria”. Como, então, decifrar o que a unção diz? A
unção exige que você conheça a Deus, que tenha comunhão com Ele. Ela
nos dá apenas uma leve indicação, e cabe a nós desenvolver a sensibilidade
à unção. Isso só é possível se a cada “movimento” da unção em nosso
interior buscarmos mais o Senhor: “Senhor, é essa a Tua vontade? Senhor, é
com essa pessoa que devo casar-me?”. Nós gostamos muito de conselhos,
gostamos que as pessoas nos digam o que fazer. Mas Deus quer que
conheçamos mais o que Lhe agrada, que sejamos mais íntimos Dele, que
busquemos somente Nele a orientação para nossa vida.
O direito de resgate
Na mensagem de Hananel a Jeremias havia algumas indicações de que
era a vontade de Deus que o profeta comprasse o campo. Foi dito a ele:
“Teu é o direito de posse e de resgate”. O direito de resgate é mencionado
em Levítico 25:25. Ocorria quando alguém houvesse ficado pobre, sem
posses, por algum problema ou porque a pessoa teve preguiça de trabalhar a
terra. Inicialmente essa pessoa vendeu sua casa, depois seus outros bens e,
por fim, foi obrigada a vender a terra. Caberia, então, ao parente mais
próximo o direito de resgatar o que fora vendido para restituir ao que
empobrecera. Que significa isso para nós?
Essa palavra serve-nos como uma advertência. Se vivermos a vida da
igreja de maneira relaxada, sem ter comunhão com o Senhor, sem ler a
Bíblia, deixando de ir às reuniões simplesmente por estarmos indispostos, o
resultado será o empobrecimento espiritual. O que ganhamos ao longo do
tempo “vendemos” por não ter como conservar. Uma vez que você vendeu
seu direito de desfrutar Cristo e está pobre espiritualmente, a maneira de
Deus resgatá-lo é usando algum irmão próximo a você, que seja rico no
desfrute de Cristo. A comunhão com esse irmão e suas orações por você lhe
devolverão o seu desfrute do Senhor. Isso é ser um resgatador.
Por outro lado, podemos aplicar essa situação a todos os homens. Todos
os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus; foram criados
com o mais nobre direito: receber Deus em seu espírito como seu conteúdo
e vida; foram criados para cumprir a vontade de Deus. Por causa do pecado
de Adão, os homens foram vendidos ao pecado, ao mundo, às impurezas e à
rebelião. Os homens, desde então, têm-se tornado cada vez mais pobres.
Olhe os jornais, os noticiários e seus colegas de escola ou trabalho. Essas
pessoas são ricas interiormente? A vida que elas levam as satisfaz, apesar
de terem bens materiais? Quanto mais se afastam de Deus, mais pobres se
tornam. Quem será usado para resgatar o direito das pessoas de desfrutar
Deus? Aplicando o princípio estabelecido em Levítico, o resgatador do que
empobreceu é a pessoa mais próxima a ele e que tem experiência com
Deus. Em outras palavras, as pessoas que estão em contato diário conosco e
que ainda não receberam o Senhor Jesus precisam que falemos Dele a elas e
lhes apresentemos o plano de Deus, para que sejam resgatadas.
Também podemos aplicar essa palavra de Levítico a todos os filhos de
Deus que empobreceram espiritualmente. Também é nosso dever resgatá-
los. Não devemos criticá-los, condená-los ou ser indiferentes à sua situação
de pobreza espiritual. Deus nos deu a palavra da reconciliação (2 Co 5:18),
e não a da condenação. Se você desfruta Cristo, desfruta as riquezas da
Palavra de Deus, você pode ajudar quem se empobreceu e se afastou de
Deus.
Olhe para os que estão ao seu lado, na escola, na vizinhança, seus
amigos — quantos não estão pobres espiritualmente? Que fazer? Lembre-se
de que se eles não se converterem serão vasos destinados à ira. Lembre-se
de que se os filhos de Deus que empobreceram não forem resgatados, eles
sofrerão a disciplina durante o milênio. Então, disponha-se para ser um
resgatador. Caso não se sinta capacitado, permita que o Oleiro molde você
sobre as rodas. Certamente você se tornará um vaso de honra.

Não se deixe influenciar pelas circunstâncias exteriores


Jeremias foi uma pessoa assim. Imagine a situação em que ele se
encontrava: Jerusalém cercada pelo exército dos caldeus, guerra, mortos,
espadas, a cidade sem comida e sem água, famílias desesperadas... que
situação! Pois foi justamente em meio a tudo isso que Jeremias comprou o
campo de Anatote. Se estivesse naquela situação tão conturbada, você faria
o mesmo? Você investiria em algo que estivesse aparentemente prestes a
sucumbir? Embora todas as evidências exteriores fossem contrárias,
Jeremias foi firme em obedecer à palavra do Senhor, e comprou a terra.
Usando a expressão de 1 João, ele foi fiel ao ensinamento da unção.
Essa compra foi feita com escritura, selo, testemunhas e dinheiro
conferido numa balança. A escritura foi colocada num vaso de barro para se
conservar por muitos dias (Jr 32:9-11, 14). Jeremias fez tudo exatamente
como o Senhor lhe indicara. Só depois de tudo feito é que ele foi ao Senhor
e perguntou: “Senhor, a cidade está prestes a ser tomada e entregue aos
caldeus, e Tu me mandas comprar este campo? Por que fizeste isso?” (vs.
24-25). O Senhor então lhe respondeu dizendo que Ele iria congregar os
israelitas de todas as terras para onde foram dispersos, e os faria habitar
seguramente naquele lugar. Então no final do capítulo trinta e dois e no
capítulo trinta e três vemos apenas boas novas e promessas de restauração.
É como se o Senhor dissesse a Jeremias: “Jeremias, não atente para o que
você está vendo. Tudo está sob Meu controle. Todos estão pensando que
este lugar não tem mais valor, que sua glória acabou e que não há mais
esperança. Porém, Eu restaurarei este lugar”.
Também devemos aprender essa lição. Muitos hoje desprezam nossa
vida cristã, e acham um absurdo investirmos nosso tempo e dinheiro na vida
da igreja. Eles não entendem por que nas férias vamos a uma conferência de
jovens para falar sobre a Bíblia! Que é isso? Para a maioria de seus colegas,
você está comprando um terreno numa cidade destinada à destruição: “Em
pleno século 20, você vai desperdiçar suas férias para estudar a Bíblia?!”.
Não se intimide com esse tipo de zombaria, pois “o que é para eles prova
evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de
Deus” (Fp 1:28). Não dê atenção a isso, mas esteja atento à Palavra de
Deus. Se Deus nos diz para investirmos nossa vida na igreja, então
podemos fazê-lo, pois Ele mesmo é a garantia do nosso investimento.
Amado leitor, em que você está investindo seu futuro? Por que poucos
jovens são trazidos para a igreja? Será que o Senhor não comissionou você?
Ou será que Ele o fez, mas você não ligou? Onde estão seus colegas? Será
que eles são ricos interior e espiritualmente? Seja ousado em seguir a ordem
de Deus — resgate seus colegas, traga os jovens que você conhece para a
igreja, para a casa do Oleiro. Se você investir sua vida em resgatar as
pessoas, sem se importar com as dificuldades, certamente haverá uma
colheita farta para o Senhor. Oramos para que este livro seja usado por
Deus para despertar muitos jovens, a fim de se tornarem úteis nas mãos do
Senhor. Pratique a purificação dos pecados, do mundo, e viva pela unção.
Invista o melhor momento de sua vida naquilo que não é passageiro, invista
o melhor da sua energia nas coisas do Senhor. Que você se disponha para
servir o Senhor! Que você invista sua vida em “comprar o campo em
Anatote”.

Josias investiu sua juventude em Deus


A história do rei Josias, registrada em 2 Crônicas 34, traz-nos um bom
exemplo e muito encorajamento. Josias começou a reinar em Jerusalém
com oito anos. A partir de então, fez ele o que era reto perante o Senhor e
andou conforme o caminho de Davi, um homem segundo o coração de
Deus. Que exemplo! Um menino de oito anos normalmente está
preocupado em brincar, correr, brigar. Nos nossos dias, meninos dessa idade
só pensam em videogame, heróis em lutas marciais, revistas em quadrinhos
etc. Mas aqui vemos um jovem que não desprezou a sua mocidade ao
decidir andar nos caminhos do Senhor.
Quando atingiu a idade de dezesseis anos, ele começou a buscar o Deus
de Davi, seu pai. Digamos que “aos oito anos” corresponda à experiência de
regeneração de alguém, ao receber Jesus como seu Salvador e Senhor.
Embora salvo, somente depois de algum tempo é que acontece algo nele.
Isso seria “aos dezesseis anos”. Nesse momento é que ele é despertado para
viver para Deus. É quando dá um “estalo” em sua vida, e ele começa a
buscar de fato o Deus a quem havia se entregado anos antes. A partir de
então essa pessoa começa a buscar suas próprias experiências com Deus.
Antes, ele apenas pertencia a Deus, mas agora essa pessoa relaciona-se
pessoalmente com seu Deus. Primeiro Deus veio buscá-la; agora ela é quem
busca a Deus.
E você? Você já teve esse “estalo”, esse despertar? Que você está
buscando hoje? Qual é a sua idade espiritual, comparando com a
experiência de Josias? Será que você tomou a decisão que Josias tomou?
Quando você ora ao Senhor? Só quando está em aperto na escola? Ou busca
o Senhor de todo o coração, por amá-Lo? Da experiência de Josias vemos
que deve haver um dia em que precisamos começar a buscar a Deus,
independentemente de outros estarem buscando ou não.
Após buscar o Senhor durante quatro anos, e ter comunhão com Ele,
Josias, aos vinte anos, começou a purificar Judá e Jerusalém (34:3b-7). Ele
descobriu que havia muitos ídolos, muitas coisas que substituem Deus.
Portanto, ele fez uma limpeza total e drástica, não somente em sua vida
como em todo o povo. Aqui vemos uma experiência progressiva e normal
na vida de alguém que se entrega ao Senhor. Ele foi salvo, começou a
buscar a Deus, e, como resultado dessa busca, começou a purificar-se de
todos os erros e ajudou outros a se purificar.
Então, aos vinte e seis anos, Josias alcançou o clímax de sua
experiência: ele viu a necessidade de ser restaurada a casa do Senhor. Não
basta estarmos preocupados apenas com nossa espiritualidade. Uma
experiência forte com Deus nos levará a buscar o que está em Seu coração.
No Antigo Testamento o coração de Deus estava em ter um lugar de
descanso. Davi viu isso e por esse motivo foi chamado de homem segundo
o coração de Deus. Para que Deus tivesse esse lugar de descanso, foi-Lhe
edificado o templo. Por meio do templo em Jerusalém, Deus tinha uma
expressão na terra. Hoje a habitação de Deus é a igreja. Depois de buscar
muito o Senhor e de purificar-se de todos os ídolos, Josias viu que o templo
precisava ser restaurado. Do mesmo modo, precisamos ser os “Josias” de
hoje, que se preocupam em restaurar a vida adequada da igreja, a unidade
do Corpo de Cristo, para que Deus tenha Sua expressão e Seu testemunho
entre os homens, e assim Sua glória se manifeste!
Quando se começou a restaurar a casa do Senhor, o sacerdote Hilquias
achou o livro da lei (vs. 14-18), e leu para o rei o que nele estava escrito. O
rei, ouvindo as palavras que Deus falava a Moisés, rasgou suas vestes, ao
ver que seus pais não guardaram as palavras do Senhor (vs. 19-21). Com a
restauração da vida adequada da igreja, algo espontaneamente surge: a
revelação da Palavra de Deus. Vimos quão clara é a Sua Palavra sobre a
vida da igreja, sobre a unidade dos filhos de Deus, sobre a expressão prática
da igreja em cada cidade etc. Também vemos quantos desvios das verdades
bíblicas há hoje entre os cristãos.
Por causa da atitude de Josias, o castigo sobre Jerusalém foi retardado
(vs. 27-28). Josias também mandou reunir todo o povo e leu as palavras do
livro da aliança; fez aliança ante o Senhor e obrigou todos a servir ao
Senhor; celebrou a Páscoa como nunca houve desde os dias de Samuel,
estabeleceu sacerdotes e os animou a servir ao Senhor. Como resultado do
viver de Josias, assim está escrito: “Enquanto ele viveu, não se desviaram
de seguir o SENHOR, Deus de seus pais” (v. 33). Se todos os jovens
cristãos tiverem essa experiência progressiva e investirem sua juventude no
Senhor e na igreja, quão forte será o testemunho do Senhor em sua cidade!
O exemplo negativo de Jeoaquim, filho de Josias
Jeremias 22:14 nos mostra o contraste entre a vida de Jeoaquim e a de
seu pai. Jeoaquim dizia: “Edificarei para mim casa espaçosa e largos
aposentos, e lhe abre janelas, forra-a de cedros e a pinta de vermelhão”.
Jeoaquim só se preocupava consigo mesmo, planejando sua vida. E você,
qual é o seu alvo? Você também tem planos voltados unicamente para si
mesmo?
Esse filho de Josias não seguiu o exemplo do pai. Ele não só se
preocupou em ter para si uma boa casa, como também havia nele uma
preocupação em competir com outro rei, rivalizando com ele na quantidade
de cedros que punham nas suas casas. Não havia nenhuma preocupação
com as coisas de Deus, como tivera seu pai. Isso é exatamente como nos
dias de hoje, onde as pessoas são movidas por competição e rivalidade. Na
verdade, as pessoas são escravizadas pela ganância de querer ter algo
melhor do que o vizinho ou o colega de trabalho. Muitos trocam de carro ou
compram eletrodomésticos eletrônicos, não por necessidade, mas apenas
para não ficar por baixo, para ter o que os outros têm. Devemos cuidar para
não cair nessa competição, pois ela custa caro demais. Para manter as
aparências, muitos no mundo vendem o tempo do almoço, de descanso, do
convívio com a família, e a própria saúde para ter um salário que consiga
custear essa competição. Por que se submetem a isso? Por causa da inveja e
da rivalidade.
Em Jeremias 22:15-16, o Senhor lembrou a Jeoaquim que seu pai,
Josias, embora não tivesse buscado essas extravagâncias, viveu muito bem,
tendo o que comer e beber, ajudou o aflito e o necessitado, e tudo lhe ia
muito bem. O Senhor certamente cuidou das necessidades de Josias. Ele era
alguém que buscava o reino de Deus em primeiro lugar. Ele conhecia o
Senhor. Tudo o que tinha era para o Senhor, e o Senhor lhe acrescentou
muito por causa disso.
Mas os olhos e o coração de Jeoaquim só atentavam para a ganância (v.
17b). Por causa da ganância não praticava a justiça, mas a violência e a
extorsão. O Senhor ainda tentou falar com ele na sua prosperidade, mas ele
recusou-se ouvi-Lo (v. 21). Realmente, os momentos em que menos
ouvimos a voz do Senhor são os de prosperidade. Quando estamos em
dificuldades, espontaneamente buscamos o Senhor, mas quando tudo está
bem, esquecemo-nos Dele. “Falei contigo na tua prosperidade, mas tu
disseste: Não ouvirei. Tem sido este o teu caminho, desde a tua mocidade,
pois nunca deste ouvidos à minha voz” — disse o Senhor a Jeoaquim.
Por que Jeoaquim tornou-se assim? Isso aconteceu porque esse foi o seu
caminho desde a sua mocidade, não dando ouvidos à voz do Senhor. O
Senhor sempre falou com ele, porém ele não O ouviu. Não ouviu porque
seu coração e seus olhos foram colocados em seus próprios planos,
rivalidade e ganância pelas coisas aqui da terra. O Senhor lhe falou várias
vezes, porém ele não quis ouvir. Como resultado, o seu fim foi como o de
um animal que é arrastado e jogado para fora das portas da cidade: triste,
lamentável (22:18-19).
Esperamos que todos que estão lendo este livro possam seguir os
exemplos positivos de Jeremias e de Josias. Devemos investir o melhor que
temos no plano de Deus: resgatar as pessoas que empobreceram, trazê-las
de volta ao Senhor. Não nos contentemos em ser um cristão passivo, mas
almejemos ser um cristão ativo, que busca o Senhor, que tem intensa e
íntima comunhão com Ele. Elimine tudo o que substitui Deus em sua vida,
entregue-se para a restauração da casa de Deus, busque a comunhão com os
irmãos, participe ativamente de todas as reuniões, sirva ao Senhor e leve
outros a servi-Lo. Jovem, receba o chamamento de Deus, purifique-se dos
erros, e se torne, assim, um vaso para honra, santificado e útil na casa do
Oleiro.

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